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Revisão atualizada e instigante do pensamento de Bakhtin: Uma leitura necessária.

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Mikhail Mikhailovitch Bakhtin (1895-1975) é um renomado teórico da linguagem que, apesar das dificuldades enfrentadas, deixou uma importante contribuição para as Ciências Humanas. Suas teorias têm sido amplamente estudadas e difundidas desde a publicação de um estudo de Julia Kristeva em 1967. Bakhtin desenvolveu uma teoria inovadora, abordando temas como literatura, cultura, povo e produção cultural, mantendo a centralidade da linguagem em sua obra interdisciplinar. Ele acreditava que a compreensão de um texto implica uma resposta ativa do leitor, que pode concordar, adaptar, acrescentar, retirar informações ou exaltar o texto lido. José Luiz Fiorin, professor da USP, busca uma compreensão responsiva ativa dos conceitos de Bakhtin em seu livro Introdução ao pensamento de Bakhtin.


A obra de Fiorin se desdobra em seis capítulos e numa breve introdução, onde o autor expõe seus objetivos e justifica a seleção dos conceitos presentes. Destaca-se a importância de Bakhtin como estudioso da linguagem, cujas concepções muitas vezes são citadas, mas nem sempre compreendidas. Para facilitar a compreensão, Fiorin destaca apenas os termos mais utilizados, deixando de lado ideias como ideologia, arquitetônica, evento estético, tema e significação. Além disso, não aprofunda nas concepções filosóficas e éticas da obra bakhtiniana.


Foto: divulgação / contexto


Fiorin ressalta a complexidade do trabalho de Bakhtin, que não elaborou uma teoria ou metodologia prontas, resultando em obras diversificadas e inacabadas. A polêmica em torno da autoria de alguns livros assinados por outros nomes também é abordada, gerando discussões até os dias atuais. As diferentes posições sobre a autoria são apresentadas, com Fiorin simpatizando com a ideia de co-autoria entre Bakhtin e outros autores.


Vida e obra, apresentando aspectos biográficos do filósofo Bakhtin, nascido ao sul de Moscou. Concluiu seus estudos em São Petersburgo, formando-se em Letras, História e Filologia, e cercando-se de amigos intelectuais, formando o Círculo de Bakhtin. Preso em 1929 por ligações filosófico-religiosas banidas na União Soviética, cumpriu exílio em Kustanai. Apresentou sua tese de doutorado em 1940, defendida em 1946, mas teve o título de doutor negado em 1952. Faleceu em Moscou em 1975. No segundo capítulo, destaca-se o Dialogismo como princípio central em sua obra, onde Bakhtin analisou as diversas vozes presentes em um discurso e sua historicidade.


Fiorin ressalta a importância dos diferentes significados que o conceito de enunciado pode assumir: a) aquele não expresso no próprio enunciado, mas construído em oposição a outro. Ou seja, todo enunciado é uma resposta a outro, originando-se a partir dele. Sempre se ouvem, pelo menos, duas vozes, mesmo que não se manifestem explicitamente no discurso; b) aquele que se manifesta pela incorporação de vozes de outros enunciados, podendo ser citado abertamente e separado do discurso citante ou de forma mais sutil, chamado bivocal; c) aquele relacionado ao indivíduo e à sua ação, ou seja, a resposta que cada pessoa dá às diversas vozes presentes na realidade em que está inserida


Os gêneros do discurso são discutidos no terceiro capítulo, onde Fiorin destaca que Bakhtin não se interessa pelas propriedades normativas dos gêneros, mas sim por como estes se constituem, sua conexão e interação com as atividades humanas, ou seja, seu processo de produção. Isso significa que os gêneros estabelecem uma interligação da linguagem com a vida social.


No quarto capítulo, intitulado Prosa e Poesia, são abordados os conceitos de polifonia e monologia. Bakhtin enfatiza que no romance está presente a pluralidade de vozes, caracterizando-se pela descentralização e interação com discursos alheios, ao contrário da poesia, que é monológica. Fiorin destaca as discordâncias em relação à interpretação da concepção bakhtiniana, mencionando autores como Cristóvão Tezza e Boris Schnaiderman.


A carnavalização é o foco do quinto capítulo, onde se explora a apropriação, pela literatura, das expressões da cultura popular. Essas ações são não oficiais e, segundo Bakhtin, representam uma segunda vida do povo, onde hierarquias são suspensas e o mundo real é transformado de forma invertida. A perspectiva carnavalesca permite uma familiaridade entre elementos diversos, possibilitando a expressão do reprimido através de uma linguagem obscena, sem as restrições da etiqueta, com atos e palavras excêntricos e profanos.

Neste capítulo, Fiorin discorre sobre a origem da literatura carnavalesca, que vem se renovando e ressignificando ao longo da evolução literária. Ele aborda de forma resumida o período helenístico, o diálogo socrático, a sátira menipéia e o carnaval na Idade Média.


O capítulo seguinte, intitulado "O romance", explora a teoria de Bakhtin sobre este gênero literário. O romance é considerado a expressão máxima do dialogismo, incorporando todos os outros gêneros, mesclando estilos e não respeitando os limites impostos pelo sistema literário. Bakhtin estudou sua natureza e evolução a partir de dois parâmetros: percepção da linguagem e representação de espaço e tempo. Para ele, o romance não está restrito à sociedade burguesa, mas permeia toda a história da literatura.


O livro se encerra com uma bibliografia comentada das obras de Bakhtin e de outros estudiosos nacionais com os quais Fiorin dialogou. Porém, é importante ressaltar que o autor poderia ter feito referência a outras obras, nacionais e estrangeiras, que contribuíram para a compreensão da obra de Bakhtin, como exemplificado com alguns títulos no final desta resenha.


Um segundo ponto a ser destacado é a fragilidade do argumento de Fiorin em relação à polêmica sobre a autoria das obras de Bakhtin. Ao defender a co-autoria dos textos, mesmo sendo simpatizante da ideia de que o teórico russo seja o único autor dos escritos em seu nome, Fiorin levanta a questão de por que não defende seu ponto de vista em vez de seguir a tradição.


Apesar desses problemas, os conceitos abordados por Fiorin são revisados de forma atual, analisando textos de diferentes gêneros e autores como Machado de Assis, José de Alencar, Gregório de Matos, entre outros. O livro desperta no leitor o interesse em aprofundar suas leituras, buscando outros autores e obras de Bakhtin. A grandiosidade dos escritos bakhtinianos, com conceitos se apoiando uns nos outros, sua heterogeneidade e contínuo inacabamento, demanda a consulta de outras publicações especializadas para compreender como esses conceitos foram construídos. Esta é a expectativa proposta pelo autor na introdução de seu livro.


Introdução ao Pensamento de Bakhtin é uma obra valiosa para estudantes, professores e pesquisadores que desejam compreender a obra de um dos mais importantes pensadores do século XX. A leitura do livro é um convite para mergulhar no universo do dialogismo e da polifonia, abrindo novas perspectivas para a análise da linguagem e da literatura.

[RESENHA #1019] Os perigos de fumar na cama, de Mariana Enriquez

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Em seu novo e aclamado livro de contos, Mariana Enriquez nos leva a explorar diferentes aspectos do terror, fazendo uso de recursos narrativos inspirados nos clássicos do gênero. Desde uma menina que descobre ossos no quintal até um homem marginalizado causando desgraça em um bairro rico, as histórias mergulham no sinistro do cotidiano, exibindo um erotismo obscuro e poderosas imagens que deixam sua marca inegável.

Sinopse da obra: Uma menina descobre ossos no quintal, e não são de um animal. Uma cena bucólica de verão, garotas se banhando no lago de uma pedreira, transforma-se num inferno motivado por ciúme e inveja. Um homem marginalizado semeia desgraças em um bairro rico após ser maltratado. Barcelona se transforma em um cenário perturbador, marcado pela culpa e do qual é impossível escapar. Uma presença fantasmagórica busca um sacrifício em um balneário. Uma garota que tem fetiche por homens com doenças cardíacas. Uma estrela do rock vítima de uma morte horrível é homenageada por fãs de um jeito inimaginável. Um sujeito que filma clandestinamente casais transando e mulheres de salto alto andando pelas ruas recebe uma proposta que mudará sua vida.

Com uma voz radicalmente contemporânea, a autora renova o terror e permite aos leitores adentrarem em um universo repleto de fantasmas, bruxas e mortos que voltam à vida. Suas narrativas fazem eco aos grandes mestres da literatura, como Shirley Jackson, Thomas Ligotti e Julio Cortázar, revelando os abismos sombrios da alma humana, as correntes ocultas da sexualidade e da obsessão.

A voz argentina na literatura de Enriquez nos presenteia mais uma vez com sua genialidade e originalidade em contos meticulosamente desenvolvidos sobre a ótica e perspectiva do terror e do suspense. O primeiro conto, o desenterro da anjinha, somos apresentados a uma história inusitada de uma garota que acaba encontrando em seu quintal os ossos de uma garotinha chamada de anjinha, uma das irmãs falecidas de sua avó, que passa a persegui-la diariamente em sua casa após o esquecimento de partes do seu corpo no quintal da antiga casa da família que fora vendida.


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Já no conto, a virgem da pedreira, somos apresentados a uma locução extremamente visceral acerca do passeio de um grupo de amigos a uma pedreira para um banho, enquanto encontra ao que pensam, a estátua de uma virgem, a partir dai, a narrativa ganha forma e se desenvolve os perigos escondidos na inveja de três garotas em relação ao relacionamento de Silvia e Diego.

Talvez, se visse o corpo feio dela, as pernas bem grossas, que Silvia dizia que era porque tinha jogado hóquei quando criança, mas metade de nós havia jogado hóquei e nenhuma tinha aqueles pernis; a bunda chata e os quadris largos, que a deixavam tão mal de calça jeans; se visse esses defeitos (além dos pelos que ela nunca depilava direito, talvez não conseguisse arrancar pela raiz, era muito morena), talvez Diego deixasse de gostar de Silvia e finalmente prestasse atenção em nós. (p.16)

Já no conto, o carrinho, conheceremos a história de Juancho, um morador de rua marginalizado em um bairro rico em busca de vingança. Após ser socorrido e ajudado por uma moradora de classe alta após os ataques de Horácio. A partir dai, o bairro começa a sofrer com o desemprego, fome e ausência de perspectiva. Um conto magistral elencado nos enredos mais estruturados acerca da feitiçaria e marginalização.

Naquela noite, sentimos cheiro de carne queimada. Mamãe estava na cozinha; nós nos aproximamos para repreendê-la, tinha ficado maluca, fritar um bife àquela hora, eles iam perceber. Mas mamãe tremia ao lado da bancada. — Isso não é carne comum — disse. Mal abrimos a persiana e olhamos para cima. Vimos que a fumaça chegava da varanda da casa da frente. E era preta, e não cheirava como nenhuma outra fumaça conhecida. — Que velho favelado filho da puta — disse mamãe, e começou a chorar. (p.34)

No conto, o poço, conheceremos sobre a memória de Josefina, uma mulher que se lembra de uma viagem de sua infância em que sua família parecia sempre viver com medo. Sua mãe e avó eram superprotetoras, sempre com medo de que algo ruim acontecesse às meninas. Durante a viagem a Corrientes, Josefina visita a casa de uma senhora misteriosa, onde ela se sente atraída pelo poço que há no jardim e pela figura do São Morte. A experiência na casa da senhora a deixa intrigada e um pouco assustada. Ao voltar para casa, Josefina começa a sentir um medo que nunca havia sentido antes, o que a faz questionar o que realmente aconteceu na casa da senhora e o que aquilo significou para ela.

Josefina se levantou com o resto do ar que sobrava em seus pulmões, com a nova força que endurecia suas pernas. Não duraria muito, tinha certeza, mas, por favor, que fosse o suficiente, o suficiente para correr até o poço e se jogar na água da chuva, e tomara que não tenha fundo, afogar-se ali com a foto e a traição. A Senhora e Mariela não a seguiram, e Josefina correu o máximo que pôde, mas quando alcançou as bordas do poço suas mãos molhadas escorregaram, os joelhos se dobraram e ela não conseguiu, não conseguiu subir, e mal pôde ver o reflexo de seu rosto na água antes de cair sentada na grama alta, chorando, aflita, porque tinha muito muito medo de pular (p.47)

Os fãs de obras como "As coisas que perdemos no fogo" e "Nossa parte de noite" terão agora a chance de se deliciar mais uma vez com a mente fantástica de Mariana Enriquez, uma autora que desafia as convenções do gênero e nos convida a enfrentar o desconhecido, o inquietante e o perturbador.

Diferenças geracionais: Sobre Minha Filha - Um Romance Comovente de Kim Hye-jin

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APRESENTAÇÃO

O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil, de Darcy Ribeiro

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APRESENTAÇÃO

Obra magistral de Darcy Ribeiro, um dos maiores antropólogos brasileiros, "O Povo Brasileiro" é uma tentativa de compreender quem somos, o que somos e a importância do nosso país. Este clássico retrata o inconformismo pela desigualdade social e percorre a história da formação da civilização brasileira.

RESENHA

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No livro, Darcy Ribeiro apresenta sua interpretação da formação do povo brasileiro a partir de três matrizes básicas: os índios nativos, os colonizadores europeus (portugueses) e os africanos escravizados. Ele destaca a miscigenação e diversidade cultural que resultaram nesses encontros, formando um povo e uma sociedade singular. O livro analisa a diversidade étnica e cultural do povo brasileiro, desde os povos indígenas até os dias de hoje. Ribeiro demonstra como a mistura de índios, europeus e africanos resultou em uma cultura única no Brasil, marcada pela diversidade e pela miscigenação. O autor ressalta a importância dos povos indígenas na formação da cultura brasileira e critica o tratamento dado a eles ao longo da história, além de abordar a influência da escravidão africana na cultura do país.

Darcy explora a origem do nome "Brasil" e como ele foi associado à nova terra, bem como o papel das três principais culturas na formação da identidade nacional. Ele destaca a resistência e as lutas dos povos indígenas, africanos e brasilíndios na construção da identidade brasileira.

O autor também aborda a introdução do trabalhador europeu nas fazendas de café e a formação de diferentes culturas regionais no Brasil, como a caipira, a camponesa, a crioula, a cabocla e a sertaneja.

Em seu livro, Darcy Ribeiro aborda diversos temas relacionados à identidade brasileira e destaca a importância de valorizar as raízes culturais do país. Ele defende uma visão positiva da miscigenação e da diversidade cultural como aspectos essenciais da identidade nacional. No entanto, também questiona a trajetória do Brasil e busca compreender as razões por trás de seus desafios. O autor analisa a complexa interação de diferentes grupos étnicos e as consequências de processos históricos violentos, como a escravidão. Ele destaca a influência da cultura africana na formação da identidade brasileira, ressaltando sua importância em diversos aspectos da sociedade. Ribeiro também introduz o conceito de "ninguendade" para descrever a experiência de grupos mistos na busca por uma identidade própria em meio a diversas influências culturais.

Ao contrário de Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro não acredita que a mestiçagem tenha possibilitado uma democracia racial no Brasil. Para ele, o país necessita antes de tudo de uma democracia social, já que a desigualdade entre classes sociais é evidente na história brasileira, com concentração de riqueza para uns e miséria para outros. Apesar das críticas por sua abordagem romântica da mestiçagem e falta de referências contemporâneas, o livro "O Povo Brasileiro", lançado em 1995, é uma contribuição importante para a compreensão dos diferentes "brasis" que compõem o país.

Fruto de três décadas de pesquisas e reflexões, o livro se divide em cinco partes que abordam questões étnicas, culturais e históricas do Brasil. A obra de Darcy Ribeiro é considerada um clássico e traz reflexões sobre as diferentes realidades e estruturas sociais do país. Mesmo com suas falhas, é uma leitura essencial para quem deseja entender a complexidade da identidade brasileira.

Em suma, "O Povo Brasileiro" de Darcy Ribeiro é uma obra fundamental que destaca a diversidade e riqueza cultural do Brasil, enfatizando a importância da valorização das raízes e identidades que formam a sociedade brasileira. Apesar das críticas, o livro proporciona uma visão profunda e reflexiva sobre a complexidade e a pluralidade do povo brasileiro, contribuindo para uma maior compreensão da identidade nacional.

A formação do Brasil em Casa grande e senzala, de Gilberto Freyre

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APRESENTAÇÃO

Em 1933, após exaustiva pesquisa, Gilberto Freyre publica "Casa-grande & Senzala", livro que revoluciona os estudos no Brasil, tanto pela novidade dos conceitos quanto pela qualidade literária. É considerado o livro capital da cultura brasileira. Passados 80 anos, continua sendo um clássico da nossa literatura, mostrando, com beleza e vigor, a formação do povo brasileiro pela mistura de raças e culturas. A atual edição possui introdução de Fernando Henrique Cardoso.


RESENHA

Foto: Divulgação

O clássico obra de Gilberto Freyre, Casa-grande & senzala, analisa a formação do povo brasileiro, destacando suas características positivas e negativas, bem como as peculiaridades de sua origem. O autor ressalta a sociedade patriarcal brasileira, descrevendo aspectos cotidianos na colônia, como a escassez de escolas e a criação das crianças no meio selvagem.

Freyre também compara o estilo de colonização portuguesa com a espanhola e inglesa. Ele investiga a miscigenação no Brasil, que ocorreu intensamente devido à falta de mulheres brancas na colônia. A obra aborda o mito da promiscuidade brasileira, erroneamente atribuída aos indígenas e escravos, assim como a opressão contra as mulheres.

O autor também destaca a influência da igreja católica na colônia, mencionando a proibição de negros e mestiços ao sacerdócio. Casa-grande & senzala é uma análise profunda sobre a sociedade brasileira e suas origens.

O livro aborda a formação do Brasil a partir de dois pilares fundamentais. O primeiro destaca a influência da monocultura latifundiária e do sistema escravocrata na colonização, onde Portugal não se preocupou em distribuir terras de forma equitativa, resultando em uma enorme concentração de propriedades. Devido à resistência dos índios em realizar trabalhos repetitivos, os africanos foram trazidos como escravos para trabalhar nos latifúndios.

Um aspecto interessante do livro é a análise da fusão das culturas africana e indígena, que se mesclaram e influenciaram elementos como vestimentas, culinária, comportamento e crenças. Essa mistura cultural, somada à presença europeia, resultou na formação do povo brasileiro, caracterizado pela diversidade cultural.

O comportamento dos portugueses foi essencial nesse processo, pois, ao contrário de outros europeus, demonstraram ser mais receptivos a influências externas e permitiram a miscigenação de culturas, como já haviam feito anteriormente com a cultura árabe dos mouros. Essa abertura para a diversidade é apontada como um dos motivos que contribuíram para a ausência de conflitos étnicos profundos no Brasil, apesar do passado escravocrata. Embora o racismo ainda persista, a resolução pacífica em comparação com outros países é destacada como uma característica positiva do Brasil. O segundo eixo fundamental do livro, intitulado "Casa-Grande e Senzala", aborda a divisão entre os poderes político, econômico e social na sociedade brasileira. Enquanto a Casa-Grande representava o centro do poder, com todos os privilégios e luxos, a Senzala era o lugar onde os escravos viviam desprovidos de direitos e sujeitos aos abusos dos senhores. Essa divisão criou um contraste entre os aceitos e relegados, deixando marcas profundas na estrutura social do país.

A cultura da Casa-Grande, de mandar e de privilégios, perdurou mesmo após a abolição da escravidão em 1888. O livro Raízes do Brasil destaca que os habitantes da Casa-Grande mantinham essa mentalidade no trato dos cargos públicos, beneficiando apenas amigos e negando oportunidades ao restante da população. Esse sistema de compadrio perpetuou desigualdades e injustiças na sociedade brasileira por muito tempo.

O livro expõe a complexidade do povo brasileiro, tanto em termos culturais quanto de formação. É importante considerar nosso passado para entender as dificuldades atuais do país, especialmente em relação às decisões políticas que parecem beneficiar apenas os governantes. A confusão entre interesses públicos e privados, talvez herança da Casa-grande e do compadrismo de Freyre, é um tema recorrente. A resistência a reformas e a manutenção do status quo também podem ter raízes históricas. A leitura de "Casa grande e senzala" pode ajudar a compreender melhor a realidade brasileira.

No geral, Casa-grande & senzala é uma obra fundamental para compreender a formação e a complexidade da sociedade brasileira. Freyre conseguiu analisar de forma profunda as raízes do Brasil, destacando tanto aspectos positivos quanto negativos. Sua abordagem da miscigenação, das influências culturais e da estrutura social do país é extremamente relevante até os dias de hoje. A obra nos leva a refletir sobre as origens das desigualdades e injustiças presentes na sociedade brasileira, e nos ajuda a compreender melhor os desafios que o país enfrenta atualmente. Em suma, Casa-grande & senzala é um livro que merece ser lido e estudado por todos que desejam compreender a essência do Brasil.

[RESENHA #1015] A arte da guerra, de Sun Tzu

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APRESENTAÇÃO

O que faz de um tratado militar, escrito por volta de 500 a.C., manter-se atual a ponto de ser publicado praticamente no mundo todo até os dias de hoje? Você verá que, em A arte da guerra, as estratégias transmitidas pelo general chinês Sun Tzu carregam um profundo conhecimento da natureza humana. Elas transcendem os limites dos campos de batalha e alcançam o contexto das pequenas ou grandes lutas cotidianas, sejam em ambientes competitivos – como os do mundo corporativo – sejam nos desafios internos, em que temos de encarar nossas próprias dificuldades. Se você não conhece a si mesmo nem o inimigo, sucumbirá a todas as batalhas. Sun Tzu


RESENHA


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A obra "A Arte da Guerra", escrita por Sun Tzu no século V a.C., originalmente concebida como um manual estratégico militar, encontrou diversas aplicações não relacionadas ao campo de batalha. Atualmente, é utilizada em áreas como Negócios, Esportes e até mesmo Relacionamentos. Composto por 13 capítulos distintos, cada um abordando um aspecto específico do planejamento e gestão de conflitos, o livro analisa detalhadamente fatores e variáveis individuais que podem surgir, oferecendo orientações para se preparar para cada situação. Trata-se, portanto, de uma obra abrangente que considera todas as complexidades e cenários possíveis.  O autor explora aspectos como a importância da preparação, do planejamento e da flexibilidade em situações de conflito. Sun Tzu destaca a necessidade de conhecer o inimigo e a si mesmo para alcançar a vitória, além de enfatizar a importância da astúcia e da estratégia sobre a força bruta.

O livro traz uma detalhada explicação e análise dos militares chineses do século V aC, abordando desde armas, condições ambientais e estratégias até classificação e disciplina. Sun destacou a importância dos agentes de inteligência e espionagem no esforço de guerra, sendo considerado um dos melhores estrategistas e analistas militares da história, cujos ensinamentos e estratégias influenciaram o treinamento militar avançado em todo o mundo.

A obra foi traduzida para o francês e publicada em 1772 pelo jesuíta francês Jean Joseph Marie Amiot, sendo republicada em 1782. Uma tradução parcial para o inglês foi tentada pelo oficial britânico Everard Ferguson Calthrop em 1905 sob o título "A arte da guerra". A primeira tradução comentada para o inglês foi concluída e publicada por Lionel Giles em 1910. Líderes militares e políticos como Mao Zedong, Takeda Shingen, Võ Nguyên Giáp, Douglas MacArthur e Norman Schwarzkopf Jr. são citados como tendo se inspirado no livro.

A obra analisa os cinco princípios essenciais (o Caminho, as estações, o terreno, a liderança e a gestão) e os sete fatores que influenciam os resultados das batalhas militares. Ao refletir, avaliar e comparar esses aspectos, um líder pode prever suas chances de sucesso. Ignorar esses cálculos essenciais certamente resultará em fracasso devido a ações inadequadas. O texto enfatiza a gravidade da guerra para o Estado e adverte que não deve ser declarada sem uma ponderação cuidadosa. Neste texto, é abordado o entendimento da economia da guerra e a importância de conquistar compromissos decisivos de forma rápida para o sucesso nas campanhas militares. É ressaltado que para alcançar o sucesso, é necessário limitar os custos da competição e do conflito.

Definindo a fonte de força é definida como uma unidade, não em tamanho. Os cinco fatores necessários para o sucesso em qualquer guerra são discutidos em ordem de importância: Ataque, Estratégia, Alianças, Exército e Cidades. O livro também defende as posições existentes é crucial até que um comandante seja capaz de avançar com segurança a partir dessas posições. Reconhecer oportunidades estratégicas é fundamental, assim como evitar criar oportunidades para o inimigo.

Esses princípios são essenciais para alcançar a vitória em qualquer confronto, garantindo a maximização da força e minimizando as vulnerabilidades. Explique como as oportunidades de um exército surgem a partir das vulnerabilidades do inimigo e como lidar com as mudanças no campo de batalha. Destaque os perigos do confronto direto e discuta estratégias para vencê-los. Enfatize a importância da flexibilidade nas respostas do exército e a capacidade de se adaptar às mudanças nas circunstâncias. Descreva as diferentes situações enfrentadas por um exército ao avançar em território inimigo e como avaliar as intenções do adversário. Analise as áreas de resistência e os tipos de posições terrestres, destacando suas vantagens e desvantagens.

"A arte da guerra" é uma leitura essencial para aqueles que querem entender as dinâmicas do poder e da competição, ensinando lições valiosas sobre liderança, tomada de decisão e resolução de conflitos. Ao longo dos séculos, o livro continua a ser uma referência para estrategistas e líderes em todo o mundo, demonstrando a atemporalidade e a relevância de seus ensinamentos.

[RESENHA #1014] O showman: Os bastidores da guerra que abalou o mundo e forjou a liderança de Volodymyr Zelensky, de Simon Shuster

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APRESENTAÇÃO

Das coxias dos programas de auditório na Ucrânia às trincheiras da guerra contra a Rússia, Simon Shuster, jornalista correspondente da revista Time, retrata a vida e a liderança em tempos de guerra do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Baseado em quatro anos de reportagem, extensivas viagens ao front com o presidente e dezenas de entrevistas com ele, a esposa, os amigos e inimigos, os conselheiros, os ministros e os comandantes militares, O showman conta a história intimista e reveladora da evolução de um comediante a símbolo de resiliência, e de como ele conseguiu o apoio de tantos Estados democráticos à sua causa.

Realista sobre as falhas iniciais de Zelensky em garantir a paz e sobre sua disposição para silenciar dissidências políticas, o livro faz um retrato complexo de um homem lutando para romper o que considera um ciclo histórico de opressão, iniciado muitas gerações antes da sua. Mesmo com o avanço da guerra, Zelensky não deixa de lado a sua visão para o futuro do combate e, por meio de suas ações, cria estratégias surpreendentes para conter os russos e manter o Ocidente ao seu lado.

Como reportagem, O showman oferece a perspectiva essencial de testemunha ocular da história sobre um dos principais conflitos que definem o nosso tempo. Como estudo de liderança e determinação do ser humano, é um livro atemporal e universal.


RESENHA


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Nove meses após a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia em 2022, o correspondente da revista Time, Simon Shuster, foi convidado a entrar no comboio presidencial, onde poucos jornalistas haviam estado antes. Este acesso não implica que “Showman” seja uma biografia, embora fale abertamente da ascensão de Zelensky ao poder, o início da guerra, os problemas da Ucrânia contra a Rússia e as divergências políticas. Shuster fornece uma visão única dos bastidores da liderança de um país em guerra, com foco em Zelenskyy, que passou de artista satírico a presidente durante um período tumultuado em sua nação. O livro equilibra respeito e simpatia por esse homem corajoso e empático, enfrentando enormes desafios para proteger seu país, com uma visão crítica necessária a qualquer líder com tamanho poder e responsabilidade, que inevitavelmente cometerá erros de consequências duradouras.


A biografia do Showman é mais detalhada e profunda do que a maioria dos jornalistas conseguem obter dos políticos. Shuster é um biógrafo honesto e experiente, nascido em Moscou e criado nos EUA. Ele foi o primeiro repórter estrangeiro a chegar à Crimeia durante a tomada de Putin em 2014 e passou meses na equipe presidencial de Zelenskiy após sua eleição.


Apesar de seu relacionamento próximo com Zelenskiy, Shuster mantém sua integridade jornalística, escrevendo sobre os desafios e contradições do presidente. Ele destaca a coragem de Zelenskiy em enfrentar a invasão russa e sua determinação em manter a Ucrânia independente. No entanto, a posição política de Zelenskiy é desafiada pela crescente influência de Putin e pela falta de apoio dos EUA.


Enquanto Zelenskiy continua sua luta pela soberania ucraniana, a narrativa da biografia destaca sua busca por paz e seu desejo de negociar com Putin, mesmo após as atrocidades cometidas pelas forças russas. No entanto, a realidade brutal da guerra sugere que a paz será difícil de alcançar e que a Rússia continuará a representar uma ameaça para a Ucrânia.


Apesar dos desafios e sacrifícios, Zelenskiy permanece determinado em seu objetivo de livrar a Ucrânia da influência russa. Sua coragem e liderança são elogiadas, mas o preço da guerra tem sido alto. Enquanto a União Europeia e a OTAN podem oferecer alguma estabilidade futura, a batalha pela independência continuará a ser árdua e incerta.


O livro "O Showman: Os bastidores da guerra que abalou o mundo e forjou a liderança de Volodymyr Zelensky" de Simon Shuster é uma leitura poderosa e envolvente que nos leva para dentro dos bastidores de um dos momentos mais cruciais da história contemporânea.


A narrativa do livro é instigante e muito bem construída, conseguindo capturar a complexidade dos eventos que levaram à ascensão de Volodymyr Zelensky ao cargo de presidente da Ucrânia. A partir de uma abordagem jornalística minuciosa, Shuster nos apresenta não apenas os fatos, mas também os personagens envolvidos e as nuances políticas e sociais que moldaram esse cenário.


A capacidade do autor de contextualizar os eventos dentro de um panorama mais amplo, abordando a geopolítica e as relações internacionais, enriquece ainda mais a leitura e nos permite compreender a magnitude do impacto que a guerra teve não apenas na Ucrânia, mas em todo o mundo.


Além disso, a escrita de Simon Shuster é fluida e envolvente, tornando a leitura do livro uma experiência realmente cativante. A pesquisa detalhada e a profundidade com a qual ele aborda os temas fazem com que "O Showman" se destaque como uma obra de grande relevância para quem deseja entender melhor os desdobramentos da guerra na Ucrânia e o papel desempenhado por Zelensky.


Em suma, "O Showman: Os bastidores da guerra que abalou o mundo e forjou a liderança de Volodymyr Zelensky" é um livro essencial para aqueles interessados em política internacional, jornalismo investigativo e história contemporânea. Uma leitura que impacta, provoca reflexões e nos faz questionar sobre os desafios da liderança em tempos de crise. Recomendo fortemente a todos que buscam uma leitura instigante e esclarecedora.


[RESENHA #1013] O fabuloso e triste destino de Ivan e Ivana, de Maryse Condé

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APRESENTAÇÃO

Ivan e Ivana são irmãos gêmeos tão parecidos, que um olhar desavisado é capaz de confundi-los. Quando nasceram, em Dos d’Âne, um vilarejo pobre em Guadalupe, a pequena ilha caribenha, trouxeram alegrias infinitas à sua mãe, Simone, já acostumada ao advento de múltiplos em sua família. Inseparáveis, eles desfrutam das delícias do mundo nos primeiros anos de vida: o mar, a areia, a música e os carinhos.

O tempo, porém, deixou marcas muito diferentes em cada um. Ivana logo se revela doce e servil – sonha em ser enfermeira ou policial para ajudar as pessoas. Ivan, por outro lado, se revolta com a condição em que vê a si e aos seus – a miséria e o racismo lhe ferem fundo, e ele não consegue compreender por que o mundo é assim. Apesar da distância que se cria entre eles, o amor dos irmãos é tão forte que assusta e chega até mesmo a levantar suspeitas.

O destino dos dois é desenhado entre o fatal e o arbitrário. Quais os caminhos que uma única alma em dois corpos pode traçar? Quais escolhas delineiam as consequências de nossos atos? E quais fatores fogem do nosso controle? Quantas versões cabem em uma história?

Maryse Condé, a premiada escritora caribenha, alia o maravilhoso e o trágico nestas páginas ao misturar a vida singular a grandes questões globais. A autora trata com lirismo temas como racismo, sexismo, desigualdades sociais e econômicas, migração e terrorismo jihadista. O caos contemporâneo emerge entre dúvida, fé, violência e amor. Um livro fabuloso e triste para ressoar em todos – mesmo muito depois terminadas suas páginas.


RESENHA

Foto: Arte digital

Originalmente publicado em 2017 em francês, A vida maravilhosa e trágica de Ivan e Ivana é um romance picaresco que narra as aventuras transcontinentais dos gêmeos desde sua infância em Guadalupe, passando pelo tempo no Mali com o pai ausente, até chegarem em Paris nos dias de hoje. O livro aborda questões como colonialismo, radicalização, migração e exploração, mostrando como esses temas estão interligados. Com uma estrutura circular, o romance questiona se tudo começa e termina no útero.

Neste romance contemporâneo, a história dos irmãos gêmeos Ivan e Ivana começa com o nascimento em Dos d'Âne, um lugar esquecido por Deus em Guadalupe, que é comparado a um sapo atropelado à beira da estrada. Sua única conexão com a elegância está na cor verde esmeralda da cana-de-açúcar que a mãe deles corta. Guadalupe não é um país, mas sim um departamento ultramarino da França, e é visto por um jihadista como mais um lugar a ser libertado.

Ivan, o ingênuo, abandona o circo em protesto contra a crueldade com os animais, enquanto Ivana se dedica à leitura. Em uma ilha com altos índices de desemprego e onde recém-nascidos são negligenciados, Ivana mantém seu otimismo e destaca-se na escola. Condé, porém, destaca a necessidade de fechar os olhos para certas realidades a fim de encontrar a felicidade em Guadalupe.

O narrador acompanha a trajetória de Ivan, que se depara com a radicalização devido aos golpes do destino e as injustiças da vida. Ao se juntar ao pai, um músico mandingo no Mali, os gêmeos se veem em um país sob toque de recolher, dominado por gangues islâmicas que proíbem a música e destroem os estúdios de gravação. Ivan é recrutado para o Exército das Sombras, se converte ao Islã e tem seu passaporte roubado.

Resgatado e seduzido para um ménage à trois por um casal de expatriados, Ivan acaba sendo entregue novamente às mãos dos motociclistas traficantes que o roubaram. Depois de enfrentar diversas dificuldades, os gêmeos se estabelecem em um subúrbio sombrio de Paris. Ivana inicia sua formação na academia de polícia, enquanto Ivan se torna professor do Alcorão para jovens árabes franceses.

Quando um amigo morre sob custódia policial, Ivan é atingido por uma série de revezes que culminam em um banho de sangue terrível. No entanto, sua reabilitação é promovida pelos empáticos escritores de um livro chamado "O Terrorista Relutante".

Condé não faz concessões. O tapete é constantemente puxado de debaixo de nossos pés com uma mistura de verdades estranhas e golpes irônicos. Os alvos variam desde um policial aposentado, com ordens para mirar na cabeça e eliminar qualquer ameaça, até ensinamentos distorcidos sobre a escravidão praticada pelos sultões árabes. Sobre um mundo dividido em dois campos, o romance levanta questões sobre a falsa ideia de vitimização e a brutalidade em ambos os lados.

Com milhões de pessoas em movimento, Ulisses, um migrante somali, faz uma escolha desesperada ao optar por se prostituir em vez de ficar preso em um campo de migrantes. A referência cultural perdida para Ivan sobre sua nova morada na Rue Voltaire é apenas uma das muitas ironias presentes na história.

A provocativa diversão de Condé esconde um desafio: será que o Ocidente está realmente buscando de forma sincera as raízes do radicalismo jihadista, ou está, de alguma forma, fechando os olhos para os males evidentes que contribuem para alimentar o seu fascínio? A frase de despedida do romance, "você pode pegar ou largar", nos deixa a reflexão.

[RESENHA #1012] E se os gatos desaparecessem do mundo, de Genki Kawamura

Foto: Arte digital


APRESENTAÇÃO

Com os dias contados, um carteiro jovem e solitário de repente se vê diante de um grande dilema existencial.

Sem contato com a família, morando sozinho e tendo apenas o gato como companhia, ele não estava preparado para receber o diagnóstico de uma doença em fase terminal e a notícia de que teria apenas alguns meses, talvez até semanas, de vida. Entretanto, antes que possa se conformar com a fatalidade do destino, o Diabo aparece em sua casa e lhe faz uma proposta irrecusável: para cada coisa que o homem estiver disposto a fazer desaparecer do mundo, ele ganhará um dia extra de vida. E assim começa uma semana inusitada.

Porém, o que a princípio parecia simples se transforma em tormento. Afinal, como decidir o que faz a vida valer a pena? Como distinguir o que é dispensável daquilo que se ama? Enfrentando essas questões cruciais, o protagonista lida com um Diabo excêntrico e maquiavélico e embarca em uma jornada que o levará ― junto de seu querido gato ― aos limites entre a vida e a morte.

Em Se os gatos desaparecessem do mundo , Genki Kawamura presenteia o público com um romance sensível e fascinante que traz à tona a importância da vida e do mundo que nos cerca, permeado por reflexões primordiais e contundentes.


RESENHA


Foto: Arte digital


Neste romance situado no Japão, o narrador anônimo está contando os seus últimos dias. Trabalhando como carteiro, ele recebe a responsabilidade de cuidar do gato após a morte de sua mãe há quatro anos. À beira da morte, o narrador reflete sobre o propósito da vida. O título assustador de SE OS GATOS DESAPARECEM DO MUNDO esconde uma história emotiva sobre a existência e os sacrifícios que estaríamos dispostos a fazer por apenas mais um dia.


O diabo se apresenta ao narrador, informando-lhe que está nos estágios finais do câncer e tem apenas seis meses de vida restantes. O demoníaco personagem, que ostenta um visual de praia, é o 107º cliente do narrador e está determinado a fazer um acordo. Essa situação levanta questões sobre quais outras coisas desapareceram sem que percebêssemos e o que isso revela sobre a natureza dos objetos criados pelos seres humanos. Até mesmo a noção de tempo é posta em xeque nessa história.


Durante o desenrolar do romance, o narrador anônimo concorda em trocar alguns dias extras pela remoção de certos objetos do mundo. O primeiro item a desaparecer são os telefones celulares. O diabo lhe concede a oportunidade de fazer um último telefonema e, diante da escolha de quem ligar, o narrador entra em reflexão sobre o significado desses objetos para os seres humanos e como a vida poderia ser afetada se fossem tirados para sempre. A narrativa dos desaparecimentos me convenceu e a reflexão do narrador sobre eles pareceu muito pertinente. Ela leva o leitor a refletir sobre a vida sem esses objetos e como as invenções modernas influenciaram a humanidade e moldaram a natureza humana. Por exemplo, o narrador observa: "Quando o ser humano inventou o celular, também inventou a ansiedade de não tê-lo".


E onde entram os gatos nessa história? A mãe do narrador era uma amante de gatos e transmitiu esse amor, juntamente com seu gato, para ele. Quando o primeiro gato da família torna-se parte da vida deles e falece, a mãe entra em depressão - até que chega para fazer companhia. Enquanto enfrenta seus medos de morte iminente e reflete sobre a importância dos objetos que desaparecem para os humanos, ele lembra-se com carinho de sua mãe como a figura que manteve a família unida. Após a morte dela, quatro anos antes do início do romance, ele perde o contato com o pai. Além de tentar reconstruir o relacionamento com o pai, é a mãe quem o ensina a lidar com as adversidades da vida e fornece uma perspectiva única sobre os gatos. Ele sempre recorda de uma frase da mãe sobre os gatos que vivem com humanos: “Podemos pensar que possuímos gatos, mas não é assim. Eles simplesmente nos permitem desfrutar de sua companhia.”


Apesar de se tornar um pouco previsível ao longo da leitura, o desfecho do romance é profundamente comovente e emocionante. A escrita de Kawamura é marcada por uma simplicidade genuína que revela uma apreciação pela vida. O protagonista relutantemente enfrenta a inevitabilidade da morte, mas percebe que é hora de se despedir e resolver questões pendentes. A morte traz a oportunidade de encerrar assuntos inacabados e refletir sobre o que realmente importa na vida. Essa jornada emocionante é acentuada pelo estilo narrativo simples que valoriza cada palavra, tornando a leitura envolvente e rápida.


Se os Gatos Desaparecerem do Mundo é uma sobre a jornada de um jovem para aceitar o fim e fazer as pazes com ele. E, claro, também é sobre Gatos. Recomendo especialmente para os amantes de felinos, fãs de ficção japonesa ou aqueles interessados em escritos especulativos sobre a vida e a morte.

[RESENHA #1011] Pensamento criativo: colocando a imaginação para trabalhar, de Michael Michalko

Foto: Arte gráfica


APRESENTAÇÃO

O especialista em criatividade e autor best-seller Michael Michalko mostra que — em todos os campos de atuação, nos negócios, assim como na ciência e no governo, nas artes e até mesmo na vida cotidiana —, a criatividade natural é limitada pelos preconceitos da lógica e pelas estruturas de categorias e conceitos aceitos.

Com exercícios detalhados, estratégias ilustradas e exemplos inspiradores do mundo real, Pensamento criativo ensina os leitores a liberar o pensamento e literalmente expandir a imaginação, aprendendo a sintetizar assuntos diferentes, a pensar paradoxalmente e a contar com a ajuda da mente subconsciente. Ele ainda revela atitudes e abordagens que diversos gênios têm em comum e que qualquer pessoa pode copiar.

Fascinantes e divertidas, as estratégias de Michalko facilitam o tipo de pensamento súbito que muda a vida para melhor.




Foto: Arte gráfica


RESENHA

Michael Michalko é um dos especialistas em criatividade mais aclamados do mundo. Como oficial do Exército dos EUA, Michael organizou uma equipa de especialistas em inteligência da OTAN e académicos internacionais em Frankfurt, Alemanha, para pesquisar, recolher e categorizar todos os métodos conhecidos de pensamento inventivo. A sua equipa aplicou os métodos a vários problemas militares, políticos e sociais da OTAN e produziu uma variedade de ideias inovadoras e soluções criativas para problemas novos e antigos. Mais tarde, Michael aplicou essas técnicas de pensamento criativo a problemas do mundo corporativo com sucesso notável. As empresas com as quais trabalhou ficaram entusiasmadas com os resultados inovadores alcançados e, desde então, Michael tem trabalhado no desenvolvimento e ensino de workshops e seminários de pensamento criativo para clientes corporativos em todo o mundo.

Foto: Arte gráfica

O livro colocando a imaginação para trabalhar, do autor Michael Michalko trata-se de uma exploração prática da criatividade e de suas aplicações, com o objetivo de estimular o potencial criativo inato em cada indivíduo. O autor Michalko argumenta que a educação tradicional suprime a originalidade ao limitar o pensamento dos alunos à repetição de informações do passado e às ideias de pensadores anteriores. Ele destaca que os verdadeiros "gênios" são aqueles capazes de fazer conexões entre diferentes assuntos para criar novas abordagens e conceitos. A técnica conhecida como "combinação conceitual" pode ser utilizada para estimular um pensamento espontâneo e criativo, o qual é essencial para a inovação tanto no mundo dos negócios quanto na vida em geral.

Cheio de atividades que estimulam a mente a pensar de maneiras diferentes, lidar com contradições e acessar o poder do subconsciente, o livro Pensamento Criativo pode ajudar os leitores a identificar onde sua criatividade está parada - e dar o impulso necessário para voltar a fluir. Michalko compartilha relatos de indivíduos que exploraram a imaginação de forma impactante para gerar ideias inovadoras e revolucionárias em diversos campos, como negócios, artes e inovação.

A primeira parte do livro explora a natureza e a importância do pensamento criativo, incentivando os leitores a desafiarem padrões previsíveis de pensamento e a se tornarem pensadores originais e solucionadores de problemas. Exemplos inspiradores, como o engenheiro elétrico James Crocker, o inventor do Hubble, e Louis Braille, criador do sistema de leitura para cegos, são apresentados como modelos. Da Vinci também é citado como mestre artista e inventor que utilizava elementos simples ao seu redor como fonte de inspiração.

A segunda parte discute as características do pensador criativo, destacando a importância da intenção, dos padrões de fala e do fingimento no processo de desenvolvimento da criatividade. Michalko desafia os leitores a identificarem e superarem obstáculos que possam estar limitando sua criatividade, encorajando-os a assumir riscos, a manter-se em movimento contínuo e a transformar desafios em oportunidades de inspiração.


Compre a obra no site da editora Hábito: https://www.editorahabito.com.br/shop/Pensamento-Criativo-p613304649

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