Resenha do filme ❝Meu nome é Rádio❞

Em uma cidade racialmente dividida dos Estados Unidos nos anos 1970, o treinador Jones encontra um estudante com dificuldades de aprendizagem chamado Rádio e acaba fazendo amizade com ele. Logo, Rádio se torna seu fiel assistente, e o diretor Daniels observa que a autoconfiança do jovem aumentou. Porém, as coisas começam a piorar quando Jones recebe reclamações dos torcedores, que sentem que a sua devoção por Rádio está atrapalhando a sua busca por uma vitória no campeonato.

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O filme aborda um tema ainda muito presente nos dias de hoje, que é a inclusão social de pessoas com algum grau de deficiência. Apesar de existirem, atualmente, vários programas de inclusão social, a realidade do país nos mostra que nem a metade das crianças que necessitam fazer parte dessa inclusão são atendidas, e quando chegam a ser, nem de longe são como deveriam ser.

O filme nos mostra e ensina como é importante o comprometimento de todos, e não só de profissionais da educação. Durante o filme percebemos como ocorreu a evolução do personagem James, conhecido como Rádio, que todo o tempo andava com um rádio pelas ruas do bairro, sempre observando as outras pessoas, que nunca davam importância alguma a ele. Percebe-se claramente a indiferença de todos a ele num diálogo entre a diretora e o professor e treinador, quando ela diz que o rapaz nunca mexeu com ninguém e ninguém com ele, e que seria bom que continuasse do mesmo jeito. Com isso evidenciou-se mais uma vez que ninguém do bairro nunca fez nada para tentar incluir o rapaz em alguma atividade, pois nunca deram a mínima para ele.

Aparentemente James apresenta ter uma deficiência que nem mesmo a sua própria mãe sabe dizer o que é, e ela mesmo, juntamente com o restante dos personagens, representam a nossa sociedade preconceituosa, completamente despreparada para receber as pessoas “diferentes”, ou seja, que fogem do que seria o padrão normal de cidadão (sem deficiências).

A reação desses personagens nos mostra os obstáculos que os deficientes em geral enfrentam. Até mesmo os diretores e professores, como todo o âmbito escolar, por não estarem aptos a receber pessoas especiais, preferem afastá-lo do convívio dos demais, pois consideram que ele poderá trazer problemas e que não desenvolverá habilidades como todas as demais pessoas desenvolveriam. Isso não deixa de ser uma denúncia em relação ao despreparo das redes de ensino mediante situações como está. Todos têm direito à educação, mas lidar com a realidade do deficiente em qualquer de suas categorias – intelectual, visual, auditivo etc. – requer uma modificação do sistema educacional, e principalmente nos conceitos éticos e morais de cada indivíduo. Rádio é uma pessoa com deficiência, tímido e solitário porque não teve uma oportunidade, mas a partir do momento em que passou a tê-la, grandes transformações aconteceram em sua vida.


Com a ajuda do treinador Harold, o rapaz, que pouco falava, passou a anunciar cardápios e eventos nos alto-falantes da escola e a ajudá-lo com o time. E é esse o ponto que todos que assistem ao filme devem considerar: para que “eles” desenvolvam e cresçam, basta fornecer aquilo que lhes é de direito – inclusão social. Porém, incluir socialmente um indivíduo como o personagem não é tarefa fácil. Embora no filme apenas o treinador tenha lutado contra tudo e todos para integrá-lo, em nossa sociedade esse trabalho requer união de diversos elos, como a família, educadores e a sociedade em geral. A família precisa entender a deficiência de seu filho e buscar meios de defender os direitos e as suas necessidades, agindo de maneira diferente da que a mãe de Rádio agiu. Inicialmente, com medo da reação das pessoas em relação ao seu filho, ela o afastava dos demais, como forma de preservá-lo e protegê-lo. A escola deve atender os direitos previstos em lei e adequar-se de modo que possa receber os alunos com deficiência, ou como prefiro dizer “diferentes de nós em alguns aspectos”. Na escola deve-se dar a eles a oportunidade de conviver com seus semelhantes, potencializar e desenvolver suas habilidades, superar suas limitações. Além disso, é primordial estabelecer programas em que todos, independente de qualquer diferença atuem juntos, de maneira cooperativa e sem demonstrar preconceitos.

Em um trecho do filme fica claro que os próprios pais transmitiam o preconceito que tinham para os filhos, e isso não pode acontecer, pois não se deve ter reações e ações assim, ainda mais quando se está formando e educando um ser humano para enfrentar os obstáculos que a vida nos impõe. Aos educadores caberá a adaptação para lidar com esses indivíduos sem que diferenciem os alunos ou priorizem uns em detrimento de outros.


Dessa forma, o deficiente/diferente/semelhante poderá ser incluído socialmente e ter chances como a que Rádio teve ao final do filme. Hoje, ele é cidadão conhecido e querido na cidade de Anderson, Carolina do Sul, e além disso ganhou a oportunidade de estudar e de ser ajudante do treinador do time de futebol americano. A partir de então Rádio se desenvolveu em vários aspectos, modificando sua vida de forma positiva, além de provocar nas pessoas ao seu redor uma mudança de pensamentos. Ele representa muitas pessoas com deficiências que, com muita luta, tiveram suas vidas transformadas. Cabe agora aos indivíduos de toda a sociedade transformarem seus conceitos e pré-conceitos para aderirem à inclusão social não só dos indivíduos deficientes, diferentes, semelhantes, mas daqueles que enfrentam o preconceito de raça, religião, sexo e desigualdade econômica. Mas a barreira não deve ser quebrada pelo simples fato de existirem leis que protejam essas pessoas, mas pelo fato de sermos todos seres humanos semelhantes e de iguais direitos, devendo ter o exercício pleno e livre de nossa cidadania. Diante disso, nós como educadores temos um papel fundamental como formadores, que é visualizar o diferente e fazer a diferença, até que um dia alcançaremos um estágio em que não serão mais necessárias políticas voltadas para pessoas com deficiência, atendimentos educacionais especializados, profissionais preparados para lidar com esse público e suas especificidades, pois essa realidade já será inerente ao sujeito, parte da sua vida e de suas práticas, aí sim teremos uma sociedade igualitária, que reconhece e recebe com naturalidade todos os cidadãos sem qualquer discriminação
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