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Resenha: Tora! Tora! Tora! (1970)

 

Imagem: MUBI

Tora! Tora! Tora! retrata os eventos que culminaram no ataque japonês a Pearl Harbor, cobrindo os meses anteriores e o dia do ataque, 7 de dezembro de 1941. A narrativa é dividida entre as perspectivas americana e japonesa, mostrando as falhas de comunicação e os erros estratégicos que levaram ao desastre. Do lado americano, o filme segue oficiais como o Almirante Husband Kimmel (Martin Balsam) e o General Walter Short (Jason Robards), que subestimam a ameaça japonesa, e o oficial de inteligência Edwin Layton (Joseph Cotten), que tenta alertar sobre os planos inimigos. Do lado japonês, o Almirante Isoroku Yamamoto (Sō Yamamura) planeja o ataque surpresa, enquanto diplomatas em Washington enfrentam dificuldades para declarar guerra formalmente antes do bombardeio.

A trama é estruturada como uma crônica histórica, alternando entre reuniões estratégicas, preparações militares e o ataque em si, com foco nas duas ondas de bombardeios que devastaram a frota americana. O título, “Tora! Tora! Tora!”, é o código japonês para o sucesso do ataque surpresa. A narrativa evita protagonistas individuais, priorizando o evento coletivo, com personagens servindo como peças de um quebra-cabeça maior. O filme culmina na destruição de Pearl Harbor e na famosa citação de Yamamoto, “Temo que tudo o que fizemos foi despertar um gigante adormecido”, refletindo o impacto estratégico do ataque.

O enredo, baseado em livros como Tora! Tora! Tora! de Gordon W. Prange e The Broken Seal de Ladislas Farago, é meticulosamente factual, sacrificando desenvolvimento emocional para enfatizar a precisão. A colaboração entre diretores americanos (Fleischer) e japoneses (Fukasaku e Masuda) garante uma visão equilibrada, mostrando ambos os lados sem vilanizar ou glorificar.

A direção tripla de Richard Fleischer, Kinji Fukasaku e Toshio Masuda cria uma narrativa coesa, com Fleischer lidando com as cenas americanas e Fukasaku e Masuda dirigindo as japonesas. Filmado em locações no Havaí e no Japão, o filme recria Pearl Harbor com detalhes impressionantes, usando navios reais, réplicas de aviões (como o A6M Zero) e efeitos práticos para as sequências de bombardeio. A cinematografia de Charles F. Wheeler, Osamu Furuya e outros é funcional, com planos amplos que capturam a escala do ataque e closes que mostram a confusão nos navios e bases.

A trilha sonora de Jerry Goldsmith é discreta, com temas marciais que reforçam a tensão, mas cedem espaço ao som das batalhas — explosões, motores de aviões, sirenes. A edição de James E. Newcom, Pembroke J. Herring e Inoue Chikaya mantém um ritmo metódico, alternando entre as preparações dos dois lados e o caos do ataque, com uma duração de 144 minutos que reflete a complexidade do evento.

A produção, com um orçamento de 25 milhões de dólares, foi uma das mais ambiciosas da época, enfrentando desafios como a reconstrução de Pearl Harbor e a coordenação de equipes internacionais. A 20th Century Fox investiu pesadamente, mas o filme sofreu com a saída do diretor original, Akira Kurosawa, devido a divergências criativas. Consultores históricos, incluindo veteranos de ambos os lados, garantiram autenticidade, desde os uniformes até as táticas militares.

O elenco estelar é composto por atores veteranos, mas nenhum personagem domina, refletindo a abordagem coletiva. Martin Balsam, como Kimmel, traz gravidade a um almirante sobrecarregado, enquanto Jason Robards, como Short, captura a frustração de um líder mal preparado. Joseph Cotten, como Layton, oferece uma atuação contida, destacando a importância da inteligência. Sō Yamamura, como Yamamoto, é o destaque, retratando o almirante com uma mistura de visão estratégica e relutância, refletindo sua oposição inicial ao ataque.

Outros atores, como E.G. Marshall (Coronel Rufus Bratton), George Macready (Cordell Hull) e Takahiro Tamura (Tenente-Comandante Mitsuo Fuchida), adicionam autenticidade, com performances que priorizam o realismo sobre o drama. A ausência de estrelas dominantes, como em epics modernos, reforça o foco nos eventos, mas pode limitar a conexão emocional. A escalação de atores japoneses para papéis nipônicos, falando em japonês com legendas, é um toque de autenticidade raro para a época.

Tora! Tora! Tora! é um dos filmes mais precisos sobre Pearl Harbor, recriando o ataque com base em registros históricos, relatórios militares e testemunhos. O filme captura falhas cruciais, como a subestimação americana da ameaça japonesa, a falha na decodificação de mensagens e a falta de coordenação em Washington. A preparação japonesa, liderada por Yamamoto, é fiel, incluindo detalhes como o uso de torpedos adaptados para águas rasas. A representação das duas ondas de ataque, com 353 aviões japoneses destruindo navios como o USS Arizona, é meticulosa, com perdas de 2.403 americanos e 64 japoneses refletidas com precisão.

Foto: GOOGLE Play Filmes

Algumas simplificações ocorrem, como a condensação de eventos diplomáticos e a omissão de perspectivas civis havaianas. A citação de Yamamoto, embora icônica, é debatida por historiadores, possivelmente apócrifa. A ausência de contexto mais amplo, como a campanha do Pacífico ou o impacto nos EUA, reflete o foco no evento específico. A colaboração americano-japonesa evita estereótipos, mostrando os japoneses como estrategistas competentes, não vilões caricatos.

Lançado em 23 de setembro de 1970, Tora! Tora! Tora! reflete o contexto do final dos anos 1960, quando o interesse pela Segunda Guerra Mundial permanecia forte, mas o público buscava narrativas mais realistas, influenciado pela Guerra do Vietnã e pelo ceticismo com narrativas heroicas. O filme também marca uma reconciliação simbólica entre EUA e Japão, aliados na Guerra Fria, ao oferecer uma visão equilibrada.

O impacto narrativo de Tora! Tora! Tora! reside em sua abordagem quase documental, que recria o ataque com uma precisão que imerge o público no evento. A ausência de um protagonista central e de melodramas pessoais enfatiza a escala histórica, com a tensão construída através da contagem regressiva para o ataque. Sequências como o bombardeio do USS Arizona e a confusão nas bases americanas são visualmente impactantes, capturando o choque do ataque surpresa.

Os temas centrais — falhas humanas, estratégia militar, o custo da guerra e a imprevisibilidade do conflito — são explorados com sobriedade. O filme critica a complacência americana, como na ignorância de sinais de radar, e a pressão sobre os japoneses, forçados a agir por sanções econômicas. A ausência de vilanização explícita reflete uma visão matizada, mostrando ambos os lados como produtos de suas circunstâncias. A narrativa não glorifica a guerra, mas destaca a tragédia de erros que escalaram o conflito.

Cenas como a decolagem dos aviões japoneses, o pânico em Pearl Harbor e a entrega tardia da declaração de guerra japonesa são emocionalmente envolventes, mesmo sem personagens profundos. A escolha de terminar com a citação de Yamamoto sublinha a ironia do ataque, que, embora bem-sucedido, selou a derrota japonesa.

Tora! Tora! Tora! teve recepção mista, arrecadando 37 milhões de dólares contra um alto orçamento, mas foi elogiado por sua autenticidade, ganhando um Oscar de Melhores Efeitos Visuais em 1971 e quatro outras indicações. A crítica, como o New York Times, elogiou sua precisão, mas criticou a falta de emoção, comparando-o desfavoravelmente a epics mais dramáticos. No Japão, o filme foi bem recebido por sua imparcialidade.

O legado do filme é duradouro. Ele estabeleceu um padrão para reconstruções históricas, influenciando filmes como Midway (2019) e Pearl Harbor (2001), embora este último tenha sido criticado por romantizar o evento. Sua abordagem documental inspirou séries como The World at War (1973). Em 2024, postagens no X durante o aniversário do ataque a Pearl Harbor (7 de dezembro) destacaram o filme como uma referência histórica, com historiadores elogiando sua fidelidade.

No Brasil, Tora! Tora! Tora! é usado em aulas de história para discutir Pearl Harbor e em estudos de cinema para analisar o gênero bélico. A teoria da história de Jörn Rüsen, discutida no país, enfatiza a relevância de narrativas como esta, que conectam o passado às reflexões sobre estratégia e responsabilidade.

Tora! Tora! Tora! é historicamente preciso em sua recriação do ataque, com detalhes baseados em extensas pesquisas. A representação das falhas americanas e da estratégia japonesa é fiel, mas a ausência de perspectivas civis e o foco exclusivo no evento limitam o contexto. A visão equilibrada evita estereótipos, mas pode minimizar o impacto do militarismo japonês em outros teatros, como a China.

Críticos modernos elogiam o filme por sua autenticidade, mas observam que sua abordagem fria pode alienar públicos acostumados a narrativas emocionais. A falta de diversidade, como a omissão de havaianos nativos, reflete as limitações da época. Ainda assim, sua capacidade de recriar um momento histórico com imparcialidade o torna uma referência, especialmente em um mundo onde a memória da Segunda Guerra Mundial ressoa em debates sobre diplomacia e conflito.

Conclusão

Tora! Tora! Tora! é um épico de guerra que recria o ataque a Pearl Harbor com uma precisão e imparcialidade notáveis. A direção colaborativa, o elenco sólido e uma narrativa que prioriza os fatos fazem do filme um marco do gênero bélico. Como uma reflexão sobre a Segunda Guerra Mundial, ele destaca as falhas humanas e o impacto de decisões históricas, oferecendo lições sobre preparação, comunicação e o custo da guerra.

Mais de 50 anos após sua estreia, Tora! Tora! Tora! permanece uma referência histórica e cinematográfica, lembrando-nos do peso de eventos que moldaram o século XX. Que seu legado inspire a reflexão sobre a responsabilidade coletiva e a busca por um futuro de paz.


Fontes:

  • Prange, Gordon W. Tora! Tora! Tora!, 1963.

  • Enciclopédia Britânica, “Tora! Tora! Tora!”, 2025.

  • Brasil Escola, “Segunda Guerra Mundial”, 2025.

  • Postagens no X sobre o aniversário de Pearl Harbor, 2024.

  • Rüsen, Jörn. História e Narrativa, 2006.

Nota: Esta resenha foi escrita com o objetivo de oferecer uma análise detalhada e fiel de Tora! Tora! Tora!, respeitando seu contexto histórico e impacto cultural.

A Hora do Mal: Uma Ambição Desmedida que Cede à Simplicidade e ao Vazio


"A Hora do Mal", o novo épico de terror de Zach Cregger, chegou aos cinemas envolto em um burburinho colossal, prometendo ser o novo divisor de águas do gênero. No entanto, ao contrário de seu aclamado trabalho anterior, este filme se revela uma experiência frustrante: uma produção que mira nas estrelas da narrativa complexa, mas tropeça feio, entregando um enredo que é, no final das contas, simples e insatisfatório, mascarado por uma estrutura pretensiosa.

A Questão da Estrutura: Enrolação Disfarçada de Arte

O filme adota uma abordagem fragmentada, dividida em capítulos, cada um focado no ponto de vista de um personagem diferente. A intenção, claramente, é criar um quebra-cabeça angustiante e multifacetado, evocando a grandiosidade de épicos como Magnólia, como o próprio diretor mencionou.

No entanto, essa escolha narrativa se torna o calcanhar de Aquiles do filme. Em vez de aprofundar a trama ou os personagens, a repetição de eventos sob diferentes ângulos soa como uma manobra para alongar uma história que, em sua essência, é bastante rasteira. Críticos apontaram que o mistério poderia ter sido resolvido de forma muito mais direta, e as voltas e reviravoltas acabam sendo redundantes, retardando a progressão em vez de enriquecê-la. O que começa como um recurso engenhoso rapidamente se transforma em enrolação (na falta de palavra melhor), esvaziando a tensão em momentos cruciais.

Enredo e Resolução: O Vazio por Trás do Hype

A premissa é excelente: 17 crianças de uma mesma turma desaparecem misteriosamente no meio da noite, deixando para trás o pânico em uma pacata cidade suburbana. O clima de terror e suspense é construído com habilidade na primeira metade. Contudo, quando o filme finalmente decide revelar suas cartas, a decepção é palpável.

A explicação para o desaparecimento é simplória para um épico de duas horas de duração. O que se desenha é um misto de folclore barato e clichês de possessão, que poderia ter sido resolvido em um curta-metragem. O suspense se dilui, e a trama, que parecia prometer profundidade psicológica ou um comentário social afiado, recua para uma solução preguiçosa. A grandiosidade prometida no início é substituída por uma conclusão que muitos consideraram "forçada" e "carente de substância", aquém do que a expectativa gerada.

Com um elenco de peso, incluindo Julia Garner e Josh Brolin, a expectativa era de performances complexas. No entanto, o formato de capítulos, ironicamente, prejudica o desenvolvimento dos personagens. Muitos deles servem apenas como veículos narrativos para nos guiar por um pedaço da história, sem aprofundamento psicológico real.

A professora Justine Gandy, por exemplo, apesar do histórico complicado e do vício em álcool, acaba sendo um estereótipo funcional. O espectador tem dificuldade em se conectar ou se importar profundamente com o destino desses indivíduos, que parecem mais caricaturas inseridas para cumprir uma função do que seres humanos tridimensionais. A falta de um protagonista claro, com quem o público possa se envolver, é outro fator que dilui o impacto emocional.

Em termos cinematográficos, Cregger demonstra competência técnica, mantendo uma atmosfera tensa e claustrofóbica no início. Há momentos de estranheza visual que, de fato, geram desconforto.

O problema reside na inconsistência tonal. O filme flerta com o terror psicológico, o thriller investigativo e, em vários momentos, com a comédia. Essa mistura, que em Barbarian funcionou bem, aqui parece desorganizada. Muitas cenas, especialmente no clímax, são descritas por parte do público como "hilárias" ou "caricatas", quebrando completamente a imersão. O que deveria ser um espetáculo brutal de horror se transforma em uma sequência de gore exagerado com um toque de humor negro que, para muitos, apenas reforça a falta de seriedade na resolução da trama.

Veredito Final: Um Lixo Bem Maquiado?


"A Hora do Mal" é o perfeito exemplo de ambição sem sustentação. É um filme que se esforça para parecer inventivo e épico, mas que, sob a maquiagem de uma estrutura engenhosa e uma atmosfera bem construída, esconde um vazio de enredo e personagens superficiais. O buzz em torno da produção e a promessa de ser o "melhor terror do ano" se revelam um exagero. No final das contas, o filme deixa um gosto amargo: uma tentativa de horror épico que se perde na própria pretensão, entregando apenas um desfecho simplório e insatisfatório.

A falha de Invocação do Mal 4 - Últimos Ritos

O enredo de Invocação do Mal 4: Últimos Ritos reutiliza fórmulas desgastadas da série, centrando-se nos investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren em um caso final envolvendo possessões demoníacas. No entanto, a trama se perde em subtramas caóticas, como a família atormentada pelos espíritos, que parecem mais um pretexto para cenas de drama doméstico do que para terror autêntico. Críticos destacam que os riscos parecem menores do que nunca, apesar da promessa de um "grand finale", resultando em uma história linear e previsível que não justifica sua duração inchada.

Os efeitos visuais, particularmente as entidades demoníacas renderizadas em CGI, são criticados por sua falta de impacto, aparecendo como caricaturas digitais sem peso ou ameaça real. Os jumpscares, outrora uma marca da franquia, agora são preguiçosos e telegráficos, dependentes de sons altos e falsos alarmes que irritam mais do que assustam. A direção de Michael Chaves falha em criar atmosfera, com uma cinematografia que prioriza close-ups sentimentais sobre sequências de tensão prolongada, tornando o filme mais uma novela sobrenatural do que um horror visceral.

Embora Vera Farmiga e Patrick Wilson entreguem performances competentes, seus personagens estão subdesenvolvidos, reduzidos a arquétipos conservadores que enfatizam valores familiares e religiosos de forma pesada e didática. Isso gera controvérsia, com alguns vendo o filme como propagando ideais retrógrados, o que compromete sua neutralidade. Elementos como flashbacks para filmes anteriores parecem forçados, servindo mais como fan service do que como contribuição orgânica à narrativa.

Afranquia que outrora redefiniu o horror sobrenatural contemporâneo chega a um fim patético, arrastando-se como um espírito relutante que perdeu toda a sua essência aterrorizante. Dirigido por Michael Chaves, o filme promete um encerramento épico para Ed e Lorraine Warren (interpretados por Patrick Wilson e Vera Farmiga), mas entrega uma bagunça reciclada, inchada e desprovida de inovação, que mais parece uma obrigação contratual do que uma visão criativa. Com uma duração de 2 horas e 15 minutos, o ritmo é agonizantemente lento, como se o roteiro de David Leslie Johnson-McGoldrick estivesse preso em um limbo narrativo, desperdiçando tempo em subtramas familiares caóticas que diluem o terror em um drama excêntrico e piegas. Os riscos, supostamente elevados para um "caso final", parecem minúsculos e lineares, com a trama seguindo trilhos previsíveis que ignoram qualquer oportunidade de surpresa ou profundidade, resultando em um filme que se sente menor e mais derivativo do que seus predecessores.

Os sustos, o cerne da série Invocação do Mal, são escassos e ineficazes, dependendo de jumpscares preguiçosos que se resumem a explosões sonoras abruptas e falsos alarmes telegráficos, sem construir tensão atmosférica genuína. Críticos profissionais, como os do New York Times, descrevem-no como "mais um drama familiar excêntrico do que um chiller real", destacando como o foco em dinâmicas domésticas sobrecarregadas por tropos de horror – possessões, objetos amaldiçoados e entidades sombrias – cria uma narrativa overstuffed e incoerente, onde nada se conecta de forma orgânica. No AV Club, a resenha vai além, afirmando que "ambas as linhas narrativas são mais caóticas do que coerentes", com a casa lotada da família Smurl servindo como um depósito de clichês horroríficos que sufocam qualquer potencial de medo autêntico.

Os elementos visuais agravam o problema: as entidades demoníacas, renderizadas em CGI datado, não inspiram terror algum, aparecendo como caricaturas digitais sem peso físico ou psicológico, incapazes de evocar o pavor primal dos primeiros filmes. Um usuário no X (antigo Twitter) resume cruamente: "fraco, decepcionante, lento, com jumpscares preguiçosos e as entidades de CGI não assustam nem um pouco", ecoando o consenso de que o design dos fantasmas é risível, mais adequado a um videogame de baixo orçamento do que a um blockbuster de horror. A cinematografia, em vez de explorar sombras e espaços claustrofóbicos, opta por close-ups sentimentais que priorizam o romance entre os Warrens, transformando o que deveria ser um confronto com o mal em uma novela sobrenatural conservadora, carregada de temas religiosos didáticos que beiram o propagandístico. Como apontado no Bulwark, o filme "faz todo o stuff de jumpscare de forma perfeitamente adequada", mas em intervalos tão espaçados que o tédio se instala, questionando se o diretor estava mais interessado em fan service do que em assustar o público.

As atuações, embora competentes, não salvam o naufrágio. Farmiga brilha com sua habilidade impecável, mas está presa a um papel subescrito que a reduz a uma figura maternal espiritualizada, enquanto Wilson parece desconfortável com as limitações físicas de Ed, impostas por problemas cardíacos que servem mais como plot device preguiçoso do que como desenvolvimento real. Críticos no Roger Ebert notam que "Farmiga é a principal atração", mas mesmo ela não consegue elevar um roteiro que transforma os Warrens em touchstones reconfortantes para um público que prefere horror "não muito bagunçado", ignorando a necessidade de evolução. Essa ênfase em valores conservadores gera controvérsia, com resenhas no Rotten Tomatoes criticando como o filme "se inclina demais para ideais conservadores", diluindo o horror em sentimentalismo que aliena espectadores em busca de algo mais ousado.

Comparado aos antecessores, Últimos Ritos é o nadir da franquia principal. Onde o primeiro filme construiu tensão mestremente e o segundo expandiu o universo com criatividade, este quarto capítulo recicla elementos como a boneca Annabelle em sequências forçadas, que parecem ticks de caixa em vez de inovações. No Collider, é descrito como "relativamente lento e comparativamente leve em sustos" em comparação aos dois primeiros, com uma promessa de abertura falsa que não se sustenta. No Reddit, usuários vão direto ao ponto: "de longe o pior filme da franquia Conjuring", superando até o terceiro em decepção, com qualidade equivalente a "áudio" – presumivelmente uma referência a algo mal produzido. Outros no X lamentam: "Conjuring 4 foi decepcionante, mas ainda não ruim", ou mais duramente, "bakwaas bani hai" (uma bobagem), destacando a falta de surpresas e o fim insatisfatório.

Em termos de controvérsias temáticas, o filme é acusado de se prender ao fan service, marcando caixas da série sem adicionar nada novo, como flashbacks nostálgicos que interrompem o fluxo em vez de enriquecer. No Mashable, nota-se que "apesar de sustos sólidos, o filme se sente um tanto preso em fan service", enquanto no Vulture, é visto como "bordeando o camp", questionando se é uma piada às custas dos sujeitos. A violência, mais sangrenta do que o usual, parece gratuita, com resenhas no Plugged In focando no "spewing blood, slash-bash violence e demonic creepiness" que não compensa a falta de coerência.

Para ilustrar as falhas comparativas, considere esta tabela de elementos criticados versus filmes anteriores:

ElementoInvocação do Mal (2013)Invocação do Mal 2 (2016)Invocação do Mal 3 (2021)Invocação do Mal 4 (2025)
SustosIntensos e bem construídosCriativos e atmosféricosModerados, mas efetivosEscassos, preguiçosos e ineficazes
RitmoÁgil e tensoEquilibrado com dramaLento em partesInchado e arrastado (2h15min)
OriginalidadeInovadora no gêneroExpande o universoReciclada, mas funcionalTotalmente derivativa e caótica
CGI/EntidadesPrático e aterrorizanteMistura eficazAceitávelDatado e não assustador
Foco NarrativoHorror puroHorror com emoçãoDrama com horrorDrama familiar sobre horror
Consenso CríticoAltamente elogiadoBem recebidoMisto, decepcionantePredominantemente negativo, pior da série

Essa tabela destaca como Últimos Ritos falha em manter os padrões, com resenhas no Hindustan Times afirmando que é "bastante monótono e falta sustos", potencialmente "o mais fraco da franquia". No IMDb, usuários chamam-no de "limp, recycled mess", um final que parece mais um spin-off ruim do que um adeus digno. Até espectadores casuais no X ecoam: "não assustador o suficiente, mas fofo e engraçado", invertendo involuntariamente o gênero para comédia involuntária.

Em suma, Invocação do Mal 4 é uma decepção crua, um encerramento que enterra a franquia em tédio e clichês, deixando fãs questionando se o mal maior foi a decisão de prolongá-la. Como diz o AV Club: "Graças a Deus acabou".

CRÍTICA: Um lugar bem longe daqui

Imagem: Prime vídeo

Um Lugar Bem Longe Daqui é uma obra que entrelaça drama, suspense, romance e crítica social em uma narrativa que pulsa com tensão, tanto emocional quanto narrativa. Ambientado nos pântanos da Carolina do Norte, o filme acompanha a vida de Kya Clark, a “Menina do Brejo”, uma jovem marginalizada que se torna suspeita de um assassinato. A trama, que alterna entre passado e presente, constrói um suspense psicológico que prende o espectador ao explorar temas como abandono, preconceito, resiliência e a complexidade da natureza humana. A tensão do enredo não reside apenas no mistério criminal, mas na jornada de Kya, uma protagonista que enfrenta um mundo hostil com uma mistura de vulnerabilidade e força. Esta análise mergulha nos elementos que tornam o enredo tão cativante, examinando sua estrutura, personagens, temas e impacto emocional, enquanto destaca as camadas de suspense que permeiam a história.

O enredo de Um Lugar Bem Longe Daqui é estruturado em duas linhas temporais que se entrelaçam de forma não linear, criando uma tensão constante ao revelar gradualmente os segredos de Kya e os eventos que culminam no crime central. A narrativa começa em 1969, com a descoberta do corpo de Chase Andrews, um jovem popular de Barkley Cove, encontrado morto sob uma torre de observação no pântano. Kya Clark (Daisy Edgar-Jones), conhecida como a “Menina do Brejo”, é imediatamente apontada como a principal suspeita, apesar da ausência de provas concretas. Essa acusação inicial estabelece o tom de urgência e injustiça que permeia o filme, enquanto a narrativa retrocede para a infância de Kya, nos anos 1950, para contextualizar sua vida e os preconceitos que a cercam.

A alternância entre o julgamento de Kya no presente e os flashbacks de sua vida passada é um dos principais mecanismos de tensão. Cada salto temporal revela uma peça do quebra-cabeça, mas também intensifica a angústia do espectador, que se vê dividido entre o desejo de compreender o crime e a empatia pela trajetória trágica de Kya. A infância da protagonista, marcada por abusos e abandonos, é retratada com uma crueza que contrasta com a beleza poética do pântano. Sua mãe, incapaz de suportar a violência do marido alcoólatra, abandona a família, seguida pelos irmãos de Kya. O pai, uma figura brutal, também a deixa, forçando-a a sobreviver sozinha aos seis anos. Essas cenas são carregadas de uma tensão visceral, pois o espectador teme constantemente pelo destino de uma criança tão vulnerável em um ambiente hostil.

A estrutura não linear, embora eficaz em manter o suspense, às vezes sacrifica a profundidade emocional em prol da exposição. A adaptação cinematográfica, ao condensar a narrativa detalhada do livro, opta por uma abordagem mais visual e menos introspectiva, o que pode diluir a complexidade de certos momentos. Ainda assim, a montagem habilidosa garante que o ritmo permaneça envolvente, com cada flashback adicionando camadas ao mistério do assassinato e à psique de Kya. A tensão narrativa é amplificada pelo contraste entre a serenidade do pântano, onde Kya encontra refúgio, e a hostilidade da sociedade de Barkley Cove, que a julga sem piedade.

No centro do enredo está Kya Clark, uma personagem que encarna tanto a fragilidade quanto a resiliência. Daisy Edgar-Jones entrega uma atuação poderosa, transmitindo a dualidade de Kya: uma mulher que é ao mesmo tempo vítima de um sistema opressivo e uma sobrevivente que encontra força na natureza. A tensão em torno de Kya deriva de sua posição como uma outsider, constantemente julgada e incompreendida. Apelidada de “Menina do Brejo”, ela é vista como selvagem e perigosa pelos moradores de Barkley Cove, um preconceito que culmina em sua acusação pelo assassinato de Chase.

A infância de Kya é um dos pilares emocionais do filme, e a tensão dessas cenas reside na precariedade de sua existência. Sozinha em um barracão precário, ela aprende a cozinhar, pescar e negociar para sobreviver, contando apenas com a ajuda esporádica de Pulinho e Mabel, um casal negro que administra um mercadinho local. Esses momentos são angustiantes, pois o espectador se pergunta como uma criança tão jovem pode enfrentar tamanhas adversidades sem sucumbir. A relação de Kya com o pântano, no entanto, oferece um contraponto de esperança. O ambiente natural, com sua fauna e flora vibrantes, torna-se sua família, sua professora e seu santuário. A fotografia do filme, com paisagens bucólicas e cores saturadas, reforça essa conexão, mas também sublinha o isolamento de Kya, criando uma tensão entre a beleza do cenário e a solidão que ele representa.

À medida que Kya cresce, sua interação com dois jovens da cidade — Tate Walker (Taylor John Smith) e Chase Andrews (Harris Dickinson) — introduz novas camadas de tensão. Tate, um jovem gentil que compartilha o amor de Kya pela natureza, ensina-a a ler e desperta nela a possibilidade de conexão humana. O romance entre eles é marcado por uma ternura hesitante, mas também por uma constante ameaça de abandono, já que Tate planeja deixar a cidade para estudar. Chase, por outro lado, é uma figura mais ambígua. Inicialmente charmoso, ele revela traços de manipulação e violência, especialmente em sua relação com Kya. A tensão nesses relacionamentos não está apenas no potencial romântico, mas no risco que eles representam para a protagonista, que aprendeu a proteger seu coração após anos de rejeição.

A acusação de assassinato eleva a tensão em torno de Kya a um novo patamar. O julgamento, conduzido pelo advogado Tom Milton (David Strathairn), expõe o preconceito da comunidade, que condena Kya com base em estereótipos, sem evidências sólidas. Cada depoimento e cada revelação no tribunal aumentam a sensação de injustiça, enquanto os flashbacks sugerem que Kya pode ter tido motivos para querer Chase morto. A ambiguidade sobre sua culpa mantém o espectador em suspense, questionando se ela é uma vítima inocente ou uma mulher capaz de um ato extremo para proteger sua liberdade.

Imagem: Prime Vídeo

Temas e Conflitos

O enredo de Um Lugar Bem Longe Daqui é profundamente temático, abordando questões como abandono, preconceito, violência de gênero e a relação entre o ser humano e a natureza. Esses temas não são apenas pano de fundo, mas fontes de tensão que impulsionam a narrativa e dão profundidade aos conflitos.

Abandono e Solidão: A história de Kya é, em essência, uma narrativa de abandono. Cada deserção — da mãe, dos irmãos, do pai — deixa cicatrizes que moldam sua visão de mundo. A tensão psicológica reside na luta interna de Kya entre o desejo de conexão e o medo de ser novamente rejeitada. Essa dualidade é particularmente evidente em seus relacionamentos com Tate e Chase, onde a esperança de amor é constantemente minada pela possibilidade de traição. O filme sugere que a solidão de Kya é tanto uma escolha quanto uma imposição, criando um conflito interno que reverbera em cada decisão que ela toma.

Preconceito e Marginalização: A sociedade de Barkley Cove é um microcosmo de intolerância, onde Kya é estigmatizada por sua pobreza, seu isolamento e sua independência. A tensão social é palpável nas cenas em que ela é ridicularizada na cidade ou perseguida por autoridades que a veem como uma ameaça. O julgamento amplifica esse conflito, expondo como o preconceito pode distorcer a justiça. A presença de personagens negros, como Pulinho e Mabel, também destaca o racismo estrutural da época, embora o filme trate esse tema de forma menos aprofundada do que o livro. A marginalização de Kya é uma fonte constante de suspense, pois o espectador teme que ela nunca escape do julgamento coletivo.

Violência de Gênero: A violência, tanto física quanto psicológica, é um fio condutor do enredo. O abuso do pai de Kya destrói sua família, enquanto a relação com Chase revela as dinâmicas de poder em relacionamentos desiguais. Uma cena particularmente tensa mostra Chase tentando estuprar Kya, um momento que cristaliza sua transformação de vítima em alguém disposto a lutar por sua sobrevivência. Essa violência subjacente alimenta o mistério do assassinato, levantando a questão de até onde Kya iria para se proteger. A tensão aqui é dupla: o medo do que Chase pode fazer a Kya e a possibilidade de que ela tenha cruzado um limite moral em resposta.

Natureza como Refúgio e Espelho: O pântano é mais do que um cenário; é um personagem em si, com sua beleza e seus perigos. Kya, que estuda a fauna e a flora com rigor científico, vê na natureza um reflexo de sua própria existência: selvagem, resiliente e incompreendida. A tensão surge do contraste entre a paz que o pântano oferece e as ameaças externas que invadem esse espaço, como a violência de Chase ou a perseguição da polícia. A metáfora do título — “um lugar bem longe daqui”, uma expressão da mãe de Kya sobre um refúgio onde a natureza permanece intocada — sublinha o desejo de escapar das amarras sociais, mas também a impossibilidade de fazê-lo completamente.

O assassinato de Chase Andrews é o eixo em torno do qual o enredo gira, funcionando como um catalisador para explorar a vida de Kya e os preconceitos da comunidade. A tensão do mistério é construída de forma gradual, com pistas que são reveladas tanto no tribunal quanto nos flashbacks. A ausência de evidências concretas contra Kya — como impressões digitais ou testemunhas — contrasta com a certeza da comunidade de sua culpa, criando uma atmosfera de injustiça que mantém o espectador engajado.

Imagem: Prime Vídeo

O filme sugere várias possibilidades sobre a morte de Chase: um acidente, um ato de vingança ou até mesmo o envolvimento de outra pessoa. A relação de Kya com Chase, marcada por manipulação e violência, fornece um motivo plausível para que ela quisesse sua morte, especialmente após o ataque que sofre. No entanto, sua natureza reservada e sua conexão com o pântano também sugerem que ela poderia ter planejado um crime meticuloso, sem deixar rastros. A ambiguidade é reforçada pela atuação de Daisy Edgar-Jones, cujo olhar melancólico e esquivo mantém o espectador em dúvida sobre suas intenções.

Spoiler Alert: Para evitar revelar o desfecho, direi apenas que a resolução do mistério é surpreendente, mas não completamente inesperada. O filme opta por uma abordagem mais clara do que o livro, que deixa o final em aberto, mas ainda preserva um elemento de dúvida que convida à reflexão. A tensão culmina em uma revelação que recontextualiza a jornada de Kya, levantando questões sobre justiça, moralidade e sobrevivência. Essa reviravolta é eficaz porque não apenas resolve o mistério, mas também reforça os temas centrais do filme, como a resiliência de Kya e sua recusa em se submeter às expectativas sociais.

O enredo de Um Lugar Bem Longe Daqui brilha em sua capacidade de equilibrar múltiplos gêneros — drama, suspense, romance — sem perder o foco na jornada de Kya. A atuação de Daisy Edgar-Jones é um destaque, pois ela carrega a complexidade emocional da protagonista com autenticidade. A fotografia, com suas imagens vibrantes do pântano, cria uma atmosfera que é ao mesmo tempo encantadora e opressiva, amplificando a tensão narrativa. A trilha sonora, incluindo a canção original “Carolina” de Taylor Swift, adiciona uma camada de melancolia que complementa o tom do filme.

No entanto, o enredo tem limitações. A adaptação cinematográfica, ao tentar condensar o romance de Delia Owens, perde parte da profundidade psicológica do livro. A narração em off, que expressa os pensamentos de Kya, às vezes é redundante, explicando emoções que a atuação de Edgar-Jones já transmite. Além disso, o filme é criticado por sua abordagem superficial de temas como racismo e desigualdade social, que são tratados de forma secundária em comparação com o drama pessoal de Kya. A verossimilhança também é questionada: a ideia de uma criança sobrevivendo sozinha no pântano, sem intervenção externa, exige uma suspensão de descrença que nem todos os espectadores estão dispostos a aceitar.

Outra crítica recai sobre o uso de clichês. Como apontado em algumas análises, o filme abraça elementos típicos de best-sellers, como o romance de verão e o drama de tribunal, sem sempre inovar. A tensão, embora eficaz, pode parecer manipulada em momentos que priorizam o impacto emocional sobre a lógica narrativa. Ainda assim, esses clichês são executados com competência, e o filme sabe exatamente quem é seu público, entregando uma experiência que é emocionalmente satisfatória para muitos.

A força de Um Lugar Bem Longe Daqui está em sua capacidade de evocar empatia por Kya, uma personagem que representa a luta universal contra a adversidade. A tensão do enredo não é apenas sobre quem matou Chase, mas sobre se Kya conseguirá encontrar um lugar no mundo que a rejeita. O filme nos força a confrontar questões desconfortáveis: até que ponto o preconceito molda a justiça? O que significa ser livre em uma sociedade que impõe amarras? E, acima de tudo, o que uma pessoa é capaz de fazer para proteger sua própria existência?

A jornada de Kya é dolorosa, mas também inspiradora. Sua resiliência, sua inteligência e seu amor pela natureza a tornam uma protagonista memorável, cuja história ressoa muito além do pântano da Carolina do Norte. A tensão do enredo, alimentada por sua luta contra o abandono, a violência e o julgamento social, culmina em um desfecho que é ao mesmo tempo catártico e provocador. O filme não oferece respostas fáceis, mas convida o espectador a refletir sobre a complexidade da condição humana.

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Conclusão

Um Lugar Bem Longe Daqui é um filme que utiliza a tensão narrativa com maestria, entrelaçando suspense, drama e romance em uma história que é tão comovente quanto intrigante. A estrutura não linear, a atuação poderosa de Daisy Edgar-Jones e os temas profundos — abandono, preconceito, violência e a conexão com a natureza — criam uma experiência cinematográfica que prende e emociona. Apesar de suas limitações, como a superficialidade de alguns temas e o uso de clichês, o enredo entrega uma narrativa envolvente que celebra a resiliência de sua protagonista enquanto questiona as injustiças de um mundo que a marginaliza.

A tensão do filme não está apenas no mistério do assassinato, mas na jornada de Kya, uma mulher que encontra na natureza a força para sobreviver, mesmo quando tudo conspira contra ela. É uma história que nos lembra da beleza e da brutalidade do mundo, e da coragem necessária para encontrar um lugar bem longe daqui — um refúgio onde possamos ser verdadeiramente livres.

CRÍTICA: Vingança (2025)

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"Vingança" (Revenge, no título original), lançado em 25 de abril de 2025 no Prime Video, é um thriller de ação dirigido pela aclamada cineasta francesa Coralie Fargeat, conhecida por seu trabalho visceral em "A Substância" (2024). Estrelado por Matilda Lutz, Kevin Janssens, Vincent Colombe e Guillaume Bouchède, o filme é uma reimaginação do clássico de exploitation de 2017, mas com uma abordagem renovada que intensifica o feminismo feroz e a estética estilizada de Fargeat. A trama segue Jen, uma jovem que acompanha seu amante casado em uma caçada anual no deserto, apenas para ser traída, violentada e abandonada para morrer. Sua jornada de sobrevivência e retaliação forma o cerne de um filme que combina violência gráfica, comentário social e uma narrativa de empoderamento. A estreia no Prime Video, após exibições em festivais como o SXSW 2025, gerou buzz significativo, com posts no X, como o de @CINEMA505, celebrando sua chegada ao streaming. Esta crítica analítica examina o enredo, os personagens, a direção, os temas e o impacto cultural de "Vingança", com base em avaliações críticas e uma análise detalhada de seus elementos cinematográficos.

"Vingança" começa com Jen (Matilda Lutz), uma jovem carismática e aparentemente ingênua, chegando a uma luxuosa casa no deserto com Richard (Kevin Janssens), seu amante casado e rico empresário. O cenário, isolado e árido, estabelece um tom de vulnerabilidade. Richard planeja uma caçada anual com seus amigos Stan (Vincent Colombe) e Dimitri (Guillaume Bouchède), mas a presença de Jen desperta tensões. Após uma noite de festa, Stan a violenta, e Dimitri, cúmplice por omissão, não intervém. Richard, em vez de protegê-la, tenta encobrir o crime e, ao perceber que Jen pode denunciá-los, a empurra de um penhasco, deixando-a para morrer. Contra todas as probabilidades, Jen sobrevive, e o restante do filme acompanha sua transformação de vítima em predadora, enquanto caça os homens que a traíram em um deserto implacável.

A narrativa é estruturada em três atos distintos: a introdução, que apresenta Jen como um objeto de desejo; o ponto de virada, marcado pela violência e traição; e a caçada, onde Jen assume o controle. Fargeat mantém um ritmo intenso, com sequências de ação que alternam entre momentos de tensão sufocante e explosões de violência. A trama é deliberadamente minimalista, com diálogos escassos, permitindo que a ação e a linguagem visual contem a história. Como apontado pelo Observatório do Cinema, o filme é "um exercício de narrativa visual", onde cada quadro é cuidadosamente composto para refletir a jornada emocional de Jen.

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Apesar de sua simplicidade, o enredo é eficaz em manter o espectador engajado. As reviravoltas, como a sobrevivência quase milagrosa de Jen, são esticadas ao limite da plausibilidade, mas servem ao tom hiperestilizado do filme. A crítica do Arroba Nerd elogia a capacidade de Fargeat de transformar "clichês do gênero exploitation em algo fresco", mas aponta que a falta de backstory para os personagens secundários pode limitar o impacto emocional. A resolução, uma confrontação sangrenta entre Jen e Richard, é catártica, mas, como observado pelo AdoroCinema, pode parecer previsível para quem está familiarizado com o gênero de vingança. Ainda assim, a jornada de Jen é poderosa, transformando uma premissa básica em um comentário visceral sobre resiliência e justiça.

Jen é o coração pulsante de "Vingança", e Matilda Lutz entrega uma performance física e emocionalmente crua. Inicialmente apresentada como uma figura estereotipada — sensual, confiante, mas vulnerável —, Jen evolui para uma sobrevivente implacável. Lutz brilha nas sequências de ação, transmitindo dor, raiva e determinação com uma intensidade que transcende o diálogo. Sua transformação, marcada por cicatrizes e sangue, é tanto literal quanto metafórica, como destacado pelo IMDb, que descreve sua atuação como "um tour de force físico". A ausência de um passado detalhado para Jen é intencional, permitindo que ela represente uma mulher comum confrontada por circunstâncias extraordinárias.

O arco de Jen é o ponto alto do filme, mas sua caracterização inicial como uma "femme fatale ingênua" pode alienar alguns espectadores. A crítica do Cineplayers sugere que Fargeat "flerta com a objetificação antes de subvertê-la", o que pode gerar desconforto até que a narrativa revele suas intenções feministas. Ainda assim, a jornada de Jen, de vítima a vingadora, é profundamente satisfatória, especialmente em cenas como sua improvisação de armas a partir de objetos do deserto.

Os antagonistas são arquétipos do machismo tóxico: Richard, o líder carismático, mas covarde; Stan, o predador impulsivo; e Dimitri, o cúmplice passivo. Kevin Janssens imbui Richard com um charme superficial que mascara sua crueldade, tornando-o um vilão detestável, mas crível. Vincent Colombe e Guillaume Bouchède, embora menos desenvolvidos, são eficazes em retratar a banalidade do mal. A crítica do Omelete observa que os homens são "caricaturas intencionais", projetadas para destacar a crítica de Fargeat às estruturas patriarcais. No entanto, a falta de profundidade desses personagens, como apontado pelo Arroba Nerd, pode reduzir a complexidade do conflito, tornando-os alvos unidimensionais para a vingança de Jen.

"Vingança" é um filme focado em poucos personagens, com praticamente nenhum elenco de apoio. Essa escolha reforça o isolamento da narrativa, mas limita as oportunidades de explorar o mundo além do deserto. A ausência de figuras secundárias, como aliados ou testemunhas, intensifica a sensação de desespero, mas, como sugerido pelo AdoroCinema, pode fazer o filme parecer claustrofóbico em excesso.

Coralie Fargeat estabelece-se como uma voz autoral distinta em "Vingança", combinando estética ousada com narrativa implacável. Sua direção é marcada por uma confiança visual que transforma o deserto em um personagem vivo, com dunas escaldantes e céus saturados que refletem o caos interno de Jen. A fotografia, assinada por Robrecht Heyvaert, utiliza cores vibrantes — vermelhos intensos, azuis neon — para criar um contraste surreal entre a beleza do cenário e a brutalidade da história. A trilha sonora eletrônica, composta por Jim Williams, pulsa com energia, amplificando a tensão e a catarse, como elogiado pelo Observatório do Cinema.

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Fargeat emprega uma linguagem visual que mistura exploitation com arthouse, usando ângulos exagerados e close-ups para destacar a fisicalidade da violência. Cenas como a extração de estilhaços por Jen são filmadas com um realismo gráfico que, segundo o IMDb, "desafia o espectador a desviar o olhar". A direção também subverte tropos do gênero: enquanto muitos filmes de vingança objetificam suas protagonistas, Fargeat usa a câmera para empoderar Jen, focando em sua força e resiliência. No entanto, a crítica do Cineplayers aponta que o exagero estilístico às vezes "sacrifica a sutileza", especialmente em sequências que beiram o caricatural.

A edição é precisa, mantendo um ritmo que equilibra momentos de contemplação com explosões de ação. Fargeat utiliza montagens rápidas para intensificar as sequências de perseguição, enquanto pausas deliberadas, como Jen encarando o horizonte, permitem que o espectador processe sua transformação. O figurino, minimalista, mas impactante, reforça a narrativa: o biquíni rosa de Jen, inicialmente um símbolo de sua vulnerabilidade, torna-se uma armadura manchada de sangue, simbolizando sua reinvenção.

"Vingança" é, em sua essência, um manifesto feminista que aborda violência de gênero, resiliência e a desconstrução de estereótipos. A jornada de Jen é uma metáfora para a luta das mulheres contra o patriarcado, como apontado pelo Arroba Nerd, que descreve o filme como "uma ode à raiva feminina". Fargeat usa a violência extrema não apenas para chocar, mas para ilustrar a brutalidade das dinâmicas de poder que Jen enfrenta. A transformação de Jen de objeto de desejo em agente de sua própria justiça desafia a narrativa tradicional de vítima, oferecendo uma visão empoderadora, ainda que controversa.

O filme também critica a cumplicidade masculina. Cada antagonista representa uma faceta do machismo: a traição calculada de Richard, a agressividade de Stan e a passividade de Dimitri. Essa abordagem, como observado pelo AdoroCinema, "expõe a banalidade do mal em contextos cotidianos". No entanto, a crítica do Omelete sugere que a caricatura dos vilões pode simplificar demais a crítica, reduzindo a complexidade das questões de gênero.

Outro tema é a sobrevivência em um mundo hostil. O deserto, com sua vastidão e perigos, reflete os obstáculos que Jen enfrenta, tanto físicos quanto emocionais. A escolha de Fargeat de minimizar o diálogo enfatiza a universalidade da história, permitindo que a experiência de Jen ressoe com diferentes públicos. No entanto, a violência gráfica, embora justificada narrativamente, pode alienar espectadores sensíveis, como alertado pelo IMDb.

Impacto Cultural 

"Vingança" estreou no Prime Video em meio a grande expectativa, impulsionada pelo sucesso de "A Substância" e pela reputação de Fargeat como uma cineasta provocadora. Posts no X, como os de @thiagobarata87 e @oxentepipoca, destacam o entusiasmo do público, descrevendo o filme como "diferente, mas igual" ao original de 2017, com uma abordagem mais ousada. No Rotten Tomatoes, o filme alcançou 92% de aprovação com base em críticas iniciais, com elogios à direção de Fargeat e à performance de Lutz. O Observatório do Cinema classificou-o como "um dos thrillers mais brutais do Prime Video", enquanto o Arroba Nerd destacou sua "estética hipnótica".

A recepção, no entanto, não é unânime. Alguns críticos, como o Cineplayers, argumentam que a violência excessiva e a falta de profundidade nos antagonistas limitam o impacto emocional, comparando-o desfavoravelmente a thrillers mais nuançados como "Kill Bill". A controvérsia em torno da violência gráfica também gerou debates, com alguns espectadores no X elogiando sua catarse e outros questionando sua necessidade. Apesar disso, o filme ressoa em 2025, um ano marcado por discussões sobre empoderamento feminino e justiça, tornando-se um ponto de conversa em plataformas como o Letterboxd.

O lançamento direto no streaming reflete a crescente influência do Prime Video em produções ousadas, como observado pelo Oficina da Net. A acessibilidade do filme permitiu que alcançasse um público global, especialmente fãs de thrillers feministas como "Promising Young Woman" (2020). Sua estética visual e mensagem provocadora garantem que permaneça relevante em debates sobre gênero e cinema.

"Vingança" ecoa o filme original de 2017, mas amplifica sua estética e mensagem feminista, beneficiando-se da experiência de Fargeat após "A Substância". Comparado a outros thrillers de vingança, como "Kill Bill" de Quentin Tarantino, "Vingança" é menos estilizado em termos de diálogo, mas igualmente impactante em sua violência coreografada. A crítica do AdoroCinema compara sua energia a "Mad Max: Estrada da Fúria" (2015), mas com um foco mais íntimo na experiência feminina. Diferentemente de "Você Nunca Esteve Realmente Aqui" (2018), que explora a psicologia de seu protagonista, "Vingança" prioriza a visceralidade, o que o torna mais acessível, mas menos introspectivo.

A abordagem de Fargeat também dialoga com o cinema exploitation dos anos 70, como "I Spit on Your Grave", mas com uma sensibilidade moderna que evita a gratuidade. Comparado ao trabalho anterior de Fargeat, "Vingança" é mais direto, mas igualmente ambicioso, consolidando sua voz como uma das mais provocadoras do cinema contemporâneo.

Conclusão

"Vingança" é um thriller de ação que transcende seu gênero, oferecendo uma experiência visualmente deslumbrante e emocionalmente carregada. Coralie Fargeat transforma uma premissa familiar em um manifesto feminista, usando a violência como uma ferramenta para explorar resiliência e justiça. Matilda Lutz entrega uma performance inesquecível, enquanto a direção de Fargeat, com sua estética hipnótica e ritmo implacável, eleva o filme a um patamar raro no streaming. Apesar de suas limitações — como a falta de profundidade nos antagonistas e a violência que pode alienar alguns —, "Vingança" é uma obra poderosa que desafia convenções e celebra a força feminina.

No contexto de 2025, o filme ressoa com audiências que buscam narrativas de empoderamento e catarse, especialmente em um mundo onde questões de gênero permanecem urgentes. Sua estreia no Prime Video garante acessibilidade, enquanto sua ousadia visual e temática o torna um marco no gênero de vingança. Para quem aprecia thrillers intensos e mensagens provocadoras, "Vingança" é uma experiência inesquecível, um lembrete de que, nas mãos certas, a raiva pode ser uma força transformadora. Como Jen, o filme é feroz, implacável e impossível de ignorar.

CRÍTICA: Um pequeno favor (2018)


"Um Pequeno Favor" (A Simple Favor), lançado em 2018, é um thriller cômico dirigido por Paul Feig, conhecido por sua habilidade em mesclar humor e narrativa envolvente em filmes como "Missão Madrinha de Casamento" (2011). Baseado no romance homônimo de Darcey Bell, com roteiro adaptado por Jessica Sharzer, o filme combina suspense, comédia e drama, centrado na improvável amizade entre duas mulheres: Stephanie Smothers (Anna Kendrick), uma mãe solteira e vlogueira, e Emily Nelson (Blake Lively), uma sofisticada relações-públicas com uma vida aparentemente perfeita. A trama, que começa com um misterioso desaparecimento, desdobra-se em um jogo de manipulações, segredos e reviravoltas, conquistando tanto críticos quanto público por sua originalidade. Com um elenco de apoio que inclui Henry Golding e Andrew Rannells, o filme se destaca pela química entre suas protagonistas e por um tom que oscila entre o sarcástico e o absurdo. Esta crítica analítica explora o enredo, os personagens, a direção, os temas abordados e o impacto cultural de "Um Pequeno Favor", com base em avaliações de fontes confiáveis e uma análise detalhada de seus elementos cinematográficos.

A história de "Um Pequeno Favor" é ambientada em uma cidade suburbana de Connecticut, onde Stephanie Smothers, uma mãe viúva e excessivamente dedicada, mantém um vlog de culinária e dicas para mães. Sua vida certinha muda quando ela conhece Emily Nelson, mãe de um colega de escola de seu filho, que exsuda glamour e mistério. Apesar de suas diferenças — Stephanie é ingênua e organizada, enquanto Emily é cínica e desleixada —, as duas desenvolvem uma amizade improvável, marcada por martínis à tarde e confidências. A trama dá uma guinada quando Emily pede a Stephanie um "pequeno favor": buscar seu filho na escola. Após isso, Emily desaparece sem deixar rastros, desencadeando uma investigação que revela camadas de mentiras, traições e segredos sombrios.

O enredo segue uma estrutura de thriller, com Stephanie assumindo o papel de detetive amadora para desvendar o paradeiro de Emily. A narrativa é impulsionada por flashbacks, pistas falsas e revelações que mantêm o espectador intrigado. A busca de Stephanie a leva a confrontar Sean (Henry Golding), o marido de Emily, e a descobrir detalhes perturbadores sobre o passado da amiga, incluindo fraudes, assassinatos e identidades falsas. A história é pontuada por momentos de humor, como as interações desajeitadas de Stephanie com outros pais da escola, e por um tom que flerta com o exagero, reminiscente de novelas ou filmes noir clássicos. O desfecho, repleto de reviravoltas, resolve o mistério de forma satisfatória, embora alguns críticos, como o Omelete, tenham apontado que o excesso de reviravoltas pode parecer forçado.

A força do enredo está em sua capacidade de equilibrar suspense e comédia sem perder o ritmo. A crítica do AdoroCinema elogia a trama por sua "ousadia em abraçar o absurdo", enquanto o Rotten Tomatoes, com 84% de aprovação, destaca sua habilidade de manter o público adivinhando. No entanto, a narrativa não está isenta de falhas. Algumas reviravoltas, como as relacionadas ao passado de Emily, dependem de coincidências improváveis, e a resolução final, embora divertida, sacrifica certa plausibilidade em favor do impacto dramático. Ainda assim, a história cativa por sua energia e pela maneira como subverte expectativas, transformando um thriller doméstico em uma sátira elegante.

Stephanie é o ponto de entrada do espectador, uma personagem que começa como um estereótipo de mãe suburbana — organizada, ansiosa por aprovação e ligeiramente ridícula em sua dedicação ao vlog. Anna Kendrick entrega uma performance brilhante, equilibrando humor autodepreciativo e vulnerabilidade. À medida que a trama avança, Stephanie revela camadas de resiliência e astúcia, transformando-se de uma figura passiva em uma investigadora determinada. Sua evolução é um dos pontos altos do filme, como destacado pelo IMDb, que elogia Kendrick por tornar Stephanie "adoravelmente desajeitada, mas surpreendentemente corajosa".

O arco de Stephanie é convincente porque reflete sua luta para superar a insegurança e encontrar sua própria força. No entanto, sua ingenuidade inicial, como aceitar cegamente os favores de Emily, pode parecer exagerada, especialmente considerando as consequências. A crítica do Cineplayers observa que Stephanie "funciona como um espelho para o público", mas sua transformação às vezes é apressada, com poucas cenas explorando o impacto emocional de suas descobertas. Ainda assim, Kendrick carrega a narrativa com carisma, tornando Stephanie uma protagonista memorável.

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Emily é a alma enigmática do filme, uma femme fatale moderna que combina charme, perigo e sarcasmo. Blake Lively está magnética no papel, usando sua presença física e entrega afiada para criar uma personagem que é ao mesmo tempo sedutora e aterrorizante. Emily é introduzida como uma mulher de carreira bem-sucedida, com um apartamento chique e um guarda-roupa de tirar o fôlego — cortesia da figurinista Renee Ehrlich Kalfus, que mistura ternos masculinos com toques de alta costura. À medida que a trama se desenrola, o público descobre que Emily é uma mestra da manipulação, com um passado repleto de crimes e segredos.

A força de Emily está em sua ambiguidade. O filme nunca esclarece completamente suas motivações, o que a torna fascinante, mas também frustrante. A crítica do Arroba Nerd aponta que Lively "rouba a cena com uma performance que equilibra humor e ameaça", mas o roteiro não aprofunda suficientemente sua psicologia, deixando-a como uma vilã carismática em vez de uma figura tridimensional. Sua relação com Stephanie, marcada por uma mistura de admiração e manipulação, é o cerne emocional do filme, e a química entre as duas atrizes eleva até mesmo as cenas mais implausíveis.

O elenco de apoio inclui Henry Golding como Sean, o marido de Emily, e Andrew Rannells como Darren, um pai da escola. Golding, em um de seus primeiros papéis após "Podres de Ricos", traz charme e ambiguidade a Sean, mas seu personagem é subdesenvolvido, funcionando mais como uma peça do quebra-cabeça do que como uma figura com profundidade própria. Rannells oferece alívio cômico como parte do grupo de pais fofoqueiros, mas seu papel é limitado. Outros personagens, como a chefe de Emily (Linda Cardellini), aparecem brevemente, mas deixam impacto com atuações sólidas. A crítica do Observatorio do Cinema observa que o elenco de apoio "acrescenta textura ao mundo do filme", mas a narrativa foca tanto nas protagonistas que os secundários raramente têm chance de brilhar.

Paul Feig demonstra domínio ao criar um thriller que é ao mesmo tempo elegante e acessível. Sua direção em "Um Pequeno Favor" é marcada por uma estética vibrante, com uma paleta de cores que contrasta o mundo pastel de Stephanie com o glamour sombrio de Emily. A fotografia, assinada por John Schwartzman, utiliza enquadramentos amplos para destacar o isolamento dos subúrbios e close-ups para capturar as nuances das performances. A trilha sonora, com canções francesas dos anos 60, como "Une Histoire de Plage" de Brigitte Bardot, adiciona um toque retro que reforça o tom irônico, como elogiado pelo AdoroCinema.

Feig equilibra habilmente o suspense e a comédia, usando o humor para aliviar a tensão sem comprometer o mistério. Cenas como as conversas de Stephanie e Emily regadas a martínis são exemplos perfeitos de sua habilidade em criar diálogos afiados que revelam tanto quanto escondem. No entanto, a crítica do Omelete aponta que o filme "escorrega para o exagero" no terço final, com reviravoltas que priorizam o choque em detrimento da lógica. A edição é ágil, mas algumas transições entre flashbacks e o presente podem confundir, especialmente quando a narrativa introduz múltiplas linhas temporais.

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O figurino é um elemento central, funcionando quase como um personagem. Os looks de Emily, que misturam alfaiataria masculina com acessórios luxuosos, refletem sua personalidade dominante, enquanto as roupas práticas de Stephanie, como cardigãs e saias rodadas, sublinham sua ingenuidade inicial. A crítica do IMDb destaca que o figurino "amplifica a narrativa", criando um contraste visual que reforça a dinâmica entre as protagonistas.

"Um Pequeno Favor" explora temas como amizade, manipulação, identidade e as fachadas que construímos. A relação entre Stephanie e Emily é o núcleo temático do filme, representando uma dança entre admiração e desconfiança. Stephanie vê em Emily uma figura aspiracional, enquanto Emily usa a ingenuidade de Stephanie para seus próprios fins. Essa dinâmica, como apontado pelo Arroba Nerd, reflete a complexidade das amizades femininas, especialmente quando marcadas por inveja e poder.

O filme também satiriza a cultura suburbana e a obsessão por aparências. O vlog de Stephanie, com suas receitas e dicas banais, é uma crítica às redes sociais e à busca por validação online, enquanto a vida aparentemente perfeita de Emily revela as rachaduras por trás do glamour. A crítica do Observatorio do Cinema observa que o filme "zomba das convenções sociais sem ser didático", usando o humor para questionar normas de gênero e classe.

Outro tema importante é a reinvenção. Tanto Stephanie quanto Emily, de maneiras diferentes, tentam escapar de suas limitações — Stephanie, de sua vida monótona, e Emily, de seu passado criminoso. O filme sugere que a identidade é fluida, mas também perigosa, especialmente quando usada para manipular. No entanto, essas ideias são exploradas de forma mais superficial do que poderiam, com o foco nas reviravoltas diminuindo o espaço para reflexões mais profundas.

"Um Pequeno Favor" foi um sucesso moderado nas bilheterias, arrecadando cerca de US$97 milhões globalmente com um orçamento de US$20 milhões. Sua verdadeira consagração veio no streaming, especialmente na Netflix, onde se tornou um fenômeno cult, como relatado pelo AdoroCinema. No Rotten Tomatoes, o filme mantém 84% de aprovação, com críticos elogiando sua originalidade e as atuações de Kendrick e Lively. O Omelete deu 4/5, destacando sua "energia única", enquanto o Cineplayers reconheceu sua habilidade de entreter, mesmo com falhas narrativas.

A recepção do público foi igualmente entusiástica, com posts no X, como os de @CineLover, celebrando a química das protagonistas e o tom irreverente. O filme ganhou popularidade por sua estética visual e diálogos memoráveis, tornando-se referência em discussões sobre thrillers femininos. Sua influência é evidente na sequência, "Outro Pequeno Favor" (2025), que capitalizou o status cult do original.

O impacto cultural de "Um Pequeno Favor" também se reflete em sua abordagem às dinâmicas femininas. Ao contrário de muitos thrillers, que opõem mulheres como rivais, o filme celebra a complexidade de sua amizade, mesmo que tóxica. Em 2018, essa representação ressoou com audiências que buscavam narrativas centradas em mulheres multifacetadas, contribuindo para o sucesso duradouro do filme.

"Um Pequeno Favor" pode ser comparado a outros thrillers com protagonistas femininas, como "Garota Exemplar" (2014), que também explora manipulação e segredos, mas com um tom mais sombrio. A comédia do filme o aproxima de "Entre Facas e Segredos" (2019), embora com uma abordagem mais estilizada. Sua estética noir e humor sarcástico evocam clássicos como "Pacto Sinistro" (1951), mas adaptados a um contexto moderno. Comparado a outros trabalhos de Feig, como "As Bem-Armadas" (2013), "Um Pequeno Favor" é mais ambicioso em sua narrativa, mas menos consistente em sua execução.

A adaptação do romance de Darcey Bell também diferencia o filme, que toma liberdades criativas para amplificar o humor e o glamour. Enquanto o livro é mais introspectivo, o filme opta por uma abordagem exagerada, o que, segundo o IMDb, foi essencial para seu apelo visual e comercial.

"Um Pequeno Favor" é um thriller cômico que se destaca por sua originalidade, atuações cativantes e estética vibrante. Anna Kendrick e Blake Lively entregam performances que elevam o material, transformando uma história de mistério em uma celebração da complexidade feminina. A direção de Paul Feig, com seu equilíbrio de suspense e humor, cria uma experiência envolvente, mesmo que o excesso de reviravoltas e a falta de profundidade emocional sejam limitações. A trama, com sua mistura de noir e sátira, oferece uma crítica inteligente às aparências e à cultura digital, enquanto mantém o espectador entretido com diálogos afiados e uma narrativa cheia de surpresas.

O sucesso do filme, tanto nas bilheterias quanto no streaming, reflete sua capacidade de ressoar com audiências que buscam entretenimento inteligente e visualmente atraente. Como um marco no gênero de thrillers femininos, "Um Pequeno Favor" abriu portas para narrativas que celebram mulheres imperfeitas e suas relações complicadas. Sua influência é evidente no culto que inspirou e na sequência que gerou, consolidando seu lugar como uma joia moderna do cinema. Para quem busca um mistério com estilo, humor e coração, "Um Pequeno Favor" é, sem dúvida, um grande prazer.

CRÍTICA: Outro pequeno favor (2025)

Imagem: Primevideo/Reprodução

"Outro Pequeno Favor" (Another Simple Favor), lançado em 1º de maio de 2025 diretamente no Amazon Prime Video, é a aguardada sequência do thriller cômico de 2018, "Um Pequeno Favor". Dirigido novamente por Paul Feig e com roteiro de Jessica Sharzer, baseado nos personagens criados por Darcey Bell, o filme reúne Anna Kendrick e Blake Lively reprisando seus papéis como Stephanie Smothers e Emily Nelson. Ambientado na glamourosa ilha de Capri, na Itália, a trama envolve um casamento extravagante, um assassinato e uma série de reviravoltas que tentam recapturar a energia excêntrica do original. Com um elenco estelar que inclui Henry Golding, Andrew Rannells e novos rostos como Allison Janney, o filme aposta na química entre suas protagonistas e em um tom exagerado para entreter. No entanto, apesar de momentos divertidos, "Outro Pequeno Favor" luta para superar as limitações de sua trama sobrecarregada e a sombra do sucesso cult do primeiro filme. Esta crítica analítica explora o enredo, os personagens, a direção, os temas e o impacto cultural da sequência, com base em avaliações críticas e uma análise detalhada de seus elementos cinematográficos.

A trama de "Outro Pequeno Favor" começa alguns anos após os eventos do primeiro filme. Stephanie Smothers (Anna Kendrick), agora uma vlogueira de sucesso e investigadora amadora, está prestes a lançar um livro sobre suas experiências com Emily Nelson (Blake Lively), a "Mulher Loira Sem Rosto". Emily, recém-libertada após cumprir uma pena de prisão por seus crimes no filme original, reaparece na vida de Stephanie com um novo "pequeno favor": ser madrinha de seu casamento com Dario Esposito (Michele Morrone), um rico empresário italiano, na ilha de Capri. O que começa como uma proposta aparentemente inofensiva — uma chance para Stephanie impulsionar sua imagem pública e as vendas de seu livro — rapidamente se transforma em um labirinto de traições, chantagens e um assassinato que sacode o idílico cenário italiano.

A narrativa segue a mesma fórmula do primeiro filme, com uma mistura de suspense, comédia e drama, mas eleva o tom novelesco a novos patamares. Após Stephanie aceitar o convite, acompanhada de amigos como Sean (Henry Golding) e Dennis (Andrew Rannells), ela se vê envolvida em um esquema que inclui ameaças de processos judiciais, segredos do passado de Emily e um misterioso assassinato durante as festividades do casamento. A trama é pontuada por flashbacks que revelam as manipulações de Emily, enquanto Stephanie tenta desvendar o que está acontecendo, usando suas habilidades de investigação adquiridas no primeiro filme. O desfecho, repleto de reviravoltas, inclui revelações sobre identidades falsas, motivações financeiras e uma resolução que, como descrito pelo Arroba Nerd, lembra "um Poderoso Chefão fashionista".

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Embora a premissa de um casamento italiano ofereça um cenário visualmente atraente, a trama sofre com um excesso de reviravoltas, muitas das quais carecem de originalidade ou lógica, como apontado na crítica do Observatório do Cinema. O filme tenta equilibrar o humor sarcástico com momentos de tensão, mas o ritmo irregular e a falta de um clímax satisfatório prejudicam sua coesão. A decisão de resolver o mistério central de forma abrupta, semelhante ao que foi criticado no primeiro filme pelo Omelete, diminui o impacto emocional das revelações. Além disso, a narrativa depende fortemente da nostalgia do original, reciclando dinâmicas como a amizade improvável entre Stephanie e Emily, sem adicionar camadas significativas à sua relação. Apesar disso, a trama mantém o espectador entretido com seu ritmo acelerado e diálogos afiados, especialmente nas interações entre as protagonistas.

Stephanie, interpretada por Anna Kendrick, continua sendo o coração da narrativa. No primeiro filme, ela evoluiu de uma mãe tímida e certinha para uma investigadora confiante, e em "Outro Pequeno Favor", essa transformação é consolidada. Agora uma figura pública com um canal de vlogs bem-sucedido e um livro em andamento, Stephanie é mais assertiva, mas mantém sua essência ingênua e ansiosa por aprovação. Kendrick brilha ao equilibrar o humor autodepreciativo com momentos de coragem, especialmente nas cenas em que confronta Emily. Sua performance é um dos pontos altos do filme, como destacado pelo IMDb, que elogia sua habilidade de transmitir vulnerabilidade e astúcia.

No entanto, o desenvolvimento de Stephanie é limitado pelo roteiro. Sua decisão de aceitar o convite de Emily, apesar de conhecer suas manipulações, é justificada por chantagem emocional, mas parece inconsistente com sua suposta inteligência. A crítica do AdoroCinema observa que Stephanie "permanece refém da fascinação por Emily", o que impede uma evolução mais profunda. Suas ações, como investigar o assassinato em Capri, são envolventes, mas muitas vezes servem apenas para avançar a trama, sem explorar suas motivações internas ou conflitos psicológicos.

Emily, vivida por Blake Lively, é novamente a força magnética do filme. Após sair da prisão, ela retorna com o mesmo charme enigmático e uma aura de femme fatale, agora adaptada ao glamour italiano. Lively se diverte no papel, entregando falas sarcásticas e olhares maliciosos com facilidade, como descrito pelo Arroba Nerd. Sua personagem é descrita como uma vigarista incorrigível, cuja nova identidade como noiva de um magnata esconde segredos ainda mais sombrios. A figurinista Renee Ehrlich Kalfus, que já havia se destacado no primeiro filme, cria para Emily um guarda-roupa de alta costura que reflete sua personalidade dominante, com ternos elegantes e vestidos que contrastam com as roupas mais práticas de Stephanie.

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Apesar do carisma de Lively, Emily sofre com a repetição de sua dinâmica do primeiro filme. Suas manipulações, embora divertidas, não surpreendem tanto quanto antes, e o filme não explora suficientemente seu passado ou as consequências de sua prisão. A crítica do Observatório do Cinema aponta que Emily "permanece uma caricatura", sem nuances que poderiam enriquecer sua jornada. Sua relação com Stephanie, embora central, é menos complexa do que no original, reduzida a um jogo de gato e rato que privilegia o espetáculo em detrimento da profundidade.

O elenco de apoio inclui nomes como Henry Golding (Sean), Andrew Rannells (Dennis), Allison Janney (como uma figura misteriosa ligada ao passado de Emily) e Michele Morrone (Dario). Sean, o ex-marido de Emily, agora professor universitário, tem um papel reduzido, servindo mais como apoio emocional para Stephanie do que como um personagem ativo. Rannells entrega momentos cômicos como Dennis, mas sua presença é subaproveitada, funcionando como alívio cômico genérico. Janney, uma adição bem-vinda, traz gravidade a suas cenas, mas sua personagem é introduzida tardiamente e não tem tempo suficiente para impactar a narrativa. Morrone, conhecido por "365 Dias", adiciona charme como Dario, mas seu papel é mais decorativo do que essencial. A falta de desenvolvimento desses personagens, como apontado pelo AdoroCinema, reforça a dependência do filme na dupla principal.

Paul Feig, conhecido por comédias como "Missão Madrinha de Casamento" e pelo primeiro "Um Pequeno Favor", retorna com sua assinatura estilística: uma mistura de humor ácido, estética vibrante e um toque de exagero. Em "Outro Pequeno Favor", ele abraça o cenário italiano com entusiasmo, usando a beleza de Capri — suas falésias, vilas luxuosas e mares cristalinos — como pano de fundo para a trama caótica. A fotografia, com cores saturadas e enquadramentos que destacam o glamour, cria uma atmosfera que, segundo o Arroba Nerd, evoca um "noir fashionista". A trilha sonora, repleta de pop italiano e canções francesas reminiscentes do primeiro filme, reforça o tom brincalhão, mas às vezes parece deslocada em momentos de maior tensão.

Feig demonstra amadurecimento ao equilibrar suspense e comédia, mas, como no original, o filme desliza para o pastelão no terço final, o que pode frustrar quem espera um thriller mais sério. A crítica do IMDb observa que a direção "prioriza o entretenimento em detrimento da coerência", especialmente nas sequências de ação, como uma perseguição improvisada em Capri, que parece mais cômica do que tensa. A edição é ágil, mas as transições entre flashbacks e o presente nem sempre são fluidas, criando momentos de confusão narrativa. Apesar disso, Feig acerta ao extrair o melhor de Kendrick e Lively, cujas interações são o verdadeiro motor do filme.

"Outro Pequeno Favor" explora temas como manipulação, amizade tóxica, poder feminino e a busca por reinvenção. A relação entre Stephanie e Emily continua sendo o cerne da narrativa, refletindo a tensão entre admiração e desconfiança. O filme sugere que ambas, apesar de suas diferenças, são movidas por ambições semelhantes: Stephanie quer fama e validação, enquanto Emily busca controle e riqueza. Essa dualidade, como apontado pelo Observatório do Cinema, é o que torna sua dinâmica tão cativante, mesmo que menos profunda do que no primeiro filme.

A sequência também aborda a ideia de segundas chances, com Emily tentando reconstruir sua vida após a prisão e Stephanie enfrentando o desafio de manter sua relevância como influenciadora. No entanto, essas reflexões são tratadas de forma superficial, com o filme optando por reviravoltas sensacionalistas em vez de explorar as consequências emocionais de suas escolhas. A crítica do AdoroCinema destaca que o filme "celebra o caos sem questioná-lo", o que pode ser visto como uma força ou uma limitação, dependendo do espectador.

Outro tema presente é a sátira ao mundo da fama e das redes sociais. Stephanie, agora uma figura pública, enfrenta pressões para manter sua imagem, enquanto Emily usa sua persona para manipular aqueles ao seu redor. O filme toca em questões como a construção de narrativas pessoais e a superficialidade da cultura digital, mas não aprofunda essas ideias, usando-as mais como pano de fundo para o humor.

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"Outro Pequeno Favor" estreou no Prime Video em meio a expectativas elevadas, impulsionadas pelo sucesso cult do primeiro filme, que se tornou um fenômeno na Netflix. Com uma aprovação de 80% no Rotten Tomatoes, baseada em críticas iniciais exibidas no festival SXSW 2025, o filme foi bem recebido por sua energia divertida e a química entre Kendrick e Lively. O Arroba Nerd elogiou sua abordagem "fashionista" e comparou sua extravagância a uma versão cômica de "O Poderoso Chefão", enquanto o Observatório do Cinema destacou a capacidade do filme de manter o espectador entretido, apesar de suas falhas narrativas.

No entanto, a recepção não foi unânime. O IMDb aponta que a sequência "não inova tanto quanto o original", reciclando ideias e dependendo demais da nostalgia. A controvérsia envolvendo Blake Lively, devido a uma batalha judicial relacionada a seu filme anterior, "É Assim que Acaba" (2024), também afetou a divulgação, com a Amazon desativando comentários em trailers nas redes sociais, como relatado pelo IMDb. Apesar disso, posts no X, como os de @FilmeFanatic, indicam que fãs do primeiro filme apreciaram a continuação, especialmente pela estética visual e pelo humor.

O lançamento direto no streaming reflete uma tendência crescente de sequências de filmes cult que encontram nova vida em plataformas digitais. O sucesso do primeiro "Um Pequeno Favor" na Netflix, como mencionado pelo Observatório do Cinema, provavelmente justificou a produção da sequência, mesmo sem o mesmo impacto nas bilheterias. Em 2025, o filme ressoa com audiências que buscam entretenimento leve e escapista, mas sua falta de profundidade pode limitar seu impacto a longo prazo.

Comparado ao primeiro "Um Pequeno Favor", a sequência mantém o mesmo tom irreverente, mas perde em originalidade. Enquanto o original se destacou por sua mistura única de suspense e comédia, "Outro Pequeno Favor" amplifica o exagero, às vezes em detrimento da coerência narrativa. A crítica do Omelete, que deu ao primeiro filme 4/5 por sua inovação, sugere que a sequência, embora divertida, não alcança o mesmo nível de frescor. A dinâmica entre Stephanie e Emily, embora ainda cativante, é menos surpreendente, já que o público já conhece suas personalidades.

O filme também pode ser comparado a outros thrillers cômicos, como "Garota Exemplar" (2014), que equilibra melhor suas reviravoltas, ou "Entre Facas e Segredos" (2019), que usa o cenário de um mistério para explorar dinâmicas familiares com mais profundidade. A sequência de "Um Pequeno Favor" se assemelha mais a "Morte no Nilo" (2022), com sua ambientação luxuosa e elenco estelar, mas carece da mesma elegância narrativa. Sua abordagem novelesca, embora intencional, às vezes parece forçada, como apontado pelo AdoroCinema.

"Outro Pequeno Favor" é uma sequência que entrega exatamente o que promete: uma montanha-russa de reviravoltas, humor ácido e a química irresistível entre Anna Kendrick e Blake Lively. Ambientado no cenário deslumbrante de Capri, o filme abraça sua estética glamourosa e seu tom exagerado, oferecendo momentos de pura diversão. No entanto, sua trama sobrecarregada, reviravoltas previsíveis e falta de desenvolvimento emocional impedem que supere o charme inovador do original. Paul Feig demonstra habilidade em extrair o melhor de seu elenco, mas a narrativa carece da sutileza que poderia elevar o filme além do entretenimento passageiro.

Para fãs do primeiro filme, "Outro Pequeno Favor" é uma adição bem-vinda, repleta de referências e piadas que celebram a amizade caótica de Stephanie e Emily. Sua estreia no Prime Video, em um contexto de crescente popularidade de thrillers cômicos no streaming, garante que encontrará um público ávido por escapismo. No entanto, aqueles que buscam uma história mais coesa ou uma exploração mais profunda de seus temas podem se sentir desapontados. Como um "pequeno favor" ao espectador, o filme oferece risadas e glamour, mas, como Emily Nelson, esconde suas falhas sob uma fachada brilhante. Em última análise, é uma continuação que diverte, mas não deixa uma marca tão indelével quanto sua predecessora.

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