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CRÍTICA: Um lugar bem longe daqui

Imagem: Prime vídeo

Um Lugar Bem Longe Daqui é uma obra que entrelaça drama, suspense, romance e crítica social em uma narrativa que pulsa com tensão, tanto emocional quanto narrativa. Ambientado nos pântanos da Carolina do Norte, o filme acompanha a vida de Kya Clark, a “Menina do Brejo”, uma jovem marginalizada que se torna suspeita de um assassinato. A trama, que alterna entre passado e presente, constrói um suspense psicológico que prende o espectador ao explorar temas como abandono, preconceito, resiliência e a complexidade da natureza humana. A tensão do enredo não reside apenas no mistério criminal, mas na jornada de Kya, uma protagonista que enfrenta um mundo hostil com uma mistura de vulnerabilidade e força. Esta análise mergulha nos elementos que tornam o enredo tão cativante, examinando sua estrutura, personagens, temas e impacto emocional, enquanto destaca as camadas de suspense que permeiam a história.

O enredo de Um Lugar Bem Longe Daqui é estruturado em duas linhas temporais que se entrelaçam de forma não linear, criando uma tensão constante ao revelar gradualmente os segredos de Kya e os eventos que culminam no crime central. A narrativa começa em 1969, com a descoberta do corpo de Chase Andrews, um jovem popular de Barkley Cove, encontrado morto sob uma torre de observação no pântano. Kya Clark (Daisy Edgar-Jones), conhecida como a “Menina do Brejo”, é imediatamente apontada como a principal suspeita, apesar da ausência de provas concretas. Essa acusação inicial estabelece o tom de urgência e injustiça que permeia o filme, enquanto a narrativa retrocede para a infância de Kya, nos anos 1950, para contextualizar sua vida e os preconceitos que a cercam.

A alternância entre o julgamento de Kya no presente e os flashbacks de sua vida passada é um dos principais mecanismos de tensão. Cada salto temporal revela uma peça do quebra-cabeça, mas também intensifica a angústia do espectador, que se vê dividido entre o desejo de compreender o crime e a empatia pela trajetória trágica de Kya. A infância da protagonista, marcada por abusos e abandonos, é retratada com uma crueza que contrasta com a beleza poética do pântano. Sua mãe, incapaz de suportar a violência do marido alcoólatra, abandona a família, seguida pelos irmãos de Kya. O pai, uma figura brutal, também a deixa, forçando-a a sobreviver sozinha aos seis anos. Essas cenas são carregadas de uma tensão visceral, pois o espectador teme constantemente pelo destino de uma criança tão vulnerável em um ambiente hostil.

A estrutura não linear, embora eficaz em manter o suspense, às vezes sacrifica a profundidade emocional em prol da exposição. A adaptação cinematográfica, ao condensar a narrativa detalhada do livro, opta por uma abordagem mais visual e menos introspectiva, o que pode diluir a complexidade de certos momentos. Ainda assim, a montagem habilidosa garante que o ritmo permaneça envolvente, com cada flashback adicionando camadas ao mistério do assassinato e à psique de Kya. A tensão narrativa é amplificada pelo contraste entre a serenidade do pântano, onde Kya encontra refúgio, e a hostilidade da sociedade de Barkley Cove, que a julga sem piedade.

No centro do enredo está Kya Clark, uma personagem que encarna tanto a fragilidade quanto a resiliência. Daisy Edgar-Jones entrega uma atuação poderosa, transmitindo a dualidade de Kya: uma mulher que é ao mesmo tempo vítima de um sistema opressivo e uma sobrevivente que encontra força na natureza. A tensão em torno de Kya deriva de sua posição como uma outsider, constantemente julgada e incompreendida. Apelidada de “Menina do Brejo”, ela é vista como selvagem e perigosa pelos moradores de Barkley Cove, um preconceito que culmina em sua acusação pelo assassinato de Chase.

A infância de Kya é um dos pilares emocionais do filme, e a tensão dessas cenas reside na precariedade de sua existência. Sozinha em um barracão precário, ela aprende a cozinhar, pescar e negociar para sobreviver, contando apenas com a ajuda esporádica de Pulinho e Mabel, um casal negro que administra um mercadinho local. Esses momentos são angustiantes, pois o espectador se pergunta como uma criança tão jovem pode enfrentar tamanhas adversidades sem sucumbir. A relação de Kya com o pântano, no entanto, oferece um contraponto de esperança. O ambiente natural, com sua fauna e flora vibrantes, torna-se sua família, sua professora e seu santuário. A fotografia do filme, com paisagens bucólicas e cores saturadas, reforça essa conexão, mas também sublinha o isolamento de Kya, criando uma tensão entre a beleza do cenário e a solidão que ele representa.

À medida que Kya cresce, sua interação com dois jovens da cidade — Tate Walker (Taylor John Smith) e Chase Andrews (Harris Dickinson) — introduz novas camadas de tensão. Tate, um jovem gentil que compartilha o amor de Kya pela natureza, ensina-a a ler e desperta nela a possibilidade de conexão humana. O romance entre eles é marcado por uma ternura hesitante, mas também por uma constante ameaça de abandono, já que Tate planeja deixar a cidade para estudar. Chase, por outro lado, é uma figura mais ambígua. Inicialmente charmoso, ele revela traços de manipulação e violência, especialmente em sua relação com Kya. A tensão nesses relacionamentos não está apenas no potencial romântico, mas no risco que eles representam para a protagonista, que aprendeu a proteger seu coração após anos de rejeição.

A acusação de assassinato eleva a tensão em torno de Kya a um novo patamar. O julgamento, conduzido pelo advogado Tom Milton (David Strathairn), expõe o preconceito da comunidade, que condena Kya com base em estereótipos, sem evidências sólidas. Cada depoimento e cada revelação no tribunal aumentam a sensação de injustiça, enquanto os flashbacks sugerem que Kya pode ter tido motivos para querer Chase morto. A ambiguidade sobre sua culpa mantém o espectador em suspense, questionando se ela é uma vítima inocente ou uma mulher capaz de um ato extremo para proteger sua liberdade.

Imagem: Prime Vídeo

Temas e Conflitos

O enredo de Um Lugar Bem Longe Daqui é profundamente temático, abordando questões como abandono, preconceito, violência de gênero e a relação entre o ser humano e a natureza. Esses temas não são apenas pano de fundo, mas fontes de tensão que impulsionam a narrativa e dão profundidade aos conflitos.

Abandono e Solidão: A história de Kya é, em essência, uma narrativa de abandono. Cada deserção — da mãe, dos irmãos, do pai — deixa cicatrizes que moldam sua visão de mundo. A tensão psicológica reside na luta interna de Kya entre o desejo de conexão e o medo de ser novamente rejeitada. Essa dualidade é particularmente evidente em seus relacionamentos com Tate e Chase, onde a esperança de amor é constantemente minada pela possibilidade de traição. O filme sugere que a solidão de Kya é tanto uma escolha quanto uma imposição, criando um conflito interno que reverbera em cada decisão que ela toma.

Preconceito e Marginalização: A sociedade de Barkley Cove é um microcosmo de intolerância, onde Kya é estigmatizada por sua pobreza, seu isolamento e sua independência. A tensão social é palpável nas cenas em que ela é ridicularizada na cidade ou perseguida por autoridades que a veem como uma ameaça. O julgamento amplifica esse conflito, expondo como o preconceito pode distorcer a justiça. A presença de personagens negros, como Pulinho e Mabel, também destaca o racismo estrutural da época, embora o filme trate esse tema de forma menos aprofundada do que o livro. A marginalização de Kya é uma fonte constante de suspense, pois o espectador teme que ela nunca escape do julgamento coletivo.

Violência de Gênero: A violência, tanto física quanto psicológica, é um fio condutor do enredo. O abuso do pai de Kya destrói sua família, enquanto a relação com Chase revela as dinâmicas de poder em relacionamentos desiguais. Uma cena particularmente tensa mostra Chase tentando estuprar Kya, um momento que cristaliza sua transformação de vítima em alguém disposto a lutar por sua sobrevivência. Essa violência subjacente alimenta o mistério do assassinato, levantando a questão de até onde Kya iria para se proteger. A tensão aqui é dupla: o medo do que Chase pode fazer a Kya e a possibilidade de que ela tenha cruzado um limite moral em resposta.

Natureza como Refúgio e Espelho: O pântano é mais do que um cenário; é um personagem em si, com sua beleza e seus perigos. Kya, que estuda a fauna e a flora com rigor científico, vê na natureza um reflexo de sua própria existência: selvagem, resiliente e incompreendida. A tensão surge do contraste entre a paz que o pântano oferece e as ameaças externas que invadem esse espaço, como a violência de Chase ou a perseguição da polícia. A metáfora do título — “um lugar bem longe daqui”, uma expressão da mãe de Kya sobre um refúgio onde a natureza permanece intocada — sublinha o desejo de escapar das amarras sociais, mas também a impossibilidade de fazê-lo completamente.

O assassinato de Chase Andrews é o eixo em torno do qual o enredo gira, funcionando como um catalisador para explorar a vida de Kya e os preconceitos da comunidade. A tensão do mistério é construída de forma gradual, com pistas que são reveladas tanto no tribunal quanto nos flashbacks. A ausência de evidências concretas contra Kya — como impressões digitais ou testemunhas — contrasta com a certeza da comunidade de sua culpa, criando uma atmosfera de injustiça que mantém o espectador engajado.

Imagem: Prime Vídeo

O filme sugere várias possibilidades sobre a morte de Chase: um acidente, um ato de vingança ou até mesmo o envolvimento de outra pessoa. A relação de Kya com Chase, marcada por manipulação e violência, fornece um motivo plausível para que ela quisesse sua morte, especialmente após o ataque que sofre. No entanto, sua natureza reservada e sua conexão com o pântano também sugerem que ela poderia ter planejado um crime meticuloso, sem deixar rastros. A ambiguidade é reforçada pela atuação de Daisy Edgar-Jones, cujo olhar melancólico e esquivo mantém o espectador em dúvida sobre suas intenções.

Spoiler Alert: Para evitar revelar o desfecho, direi apenas que a resolução do mistério é surpreendente, mas não completamente inesperada. O filme opta por uma abordagem mais clara do que o livro, que deixa o final em aberto, mas ainda preserva um elemento de dúvida que convida à reflexão. A tensão culmina em uma revelação que recontextualiza a jornada de Kya, levantando questões sobre justiça, moralidade e sobrevivência. Essa reviravolta é eficaz porque não apenas resolve o mistério, mas também reforça os temas centrais do filme, como a resiliência de Kya e sua recusa em se submeter às expectativas sociais.

O enredo de Um Lugar Bem Longe Daqui brilha em sua capacidade de equilibrar múltiplos gêneros — drama, suspense, romance — sem perder o foco na jornada de Kya. A atuação de Daisy Edgar-Jones é um destaque, pois ela carrega a complexidade emocional da protagonista com autenticidade. A fotografia, com suas imagens vibrantes do pântano, cria uma atmosfera que é ao mesmo tempo encantadora e opressiva, amplificando a tensão narrativa. A trilha sonora, incluindo a canção original “Carolina” de Taylor Swift, adiciona uma camada de melancolia que complementa o tom do filme.

No entanto, o enredo tem limitações. A adaptação cinematográfica, ao tentar condensar o romance de Delia Owens, perde parte da profundidade psicológica do livro. A narração em off, que expressa os pensamentos de Kya, às vezes é redundante, explicando emoções que a atuação de Edgar-Jones já transmite. Além disso, o filme é criticado por sua abordagem superficial de temas como racismo e desigualdade social, que são tratados de forma secundária em comparação com o drama pessoal de Kya. A verossimilhança também é questionada: a ideia de uma criança sobrevivendo sozinha no pântano, sem intervenção externa, exige uma suspensão de descrença que nem todos os espectadores estão dispostos a aceitar.

Outra crítica recai sobre o uso de clichês. Como apontado em algumas análises, o filme abraça elementos típicos de best-sellers, como o romance de verão e o drama de tribunal, sem sempre inovar. A tensão, embora eficaz, pode parecer manipulada em momentos que priorizam o impacto emocional sobre a lógica narrativa. Ainda assim, esses clichês são executados com competência, e o filme sabe exatamente quem é seu público, entregando uma experiência que é emocionalmente satisfatória para muitos.

A força de Um Lugar Bem Longe Daqui está em sua capacidade de evocar empatia por Kya, uma personagem que representa a luta universal contra a adversidade. A tensão do enredo não é apenas sobre quem matou Chase, mas sobre se Kya conseguirá encontrar um lugar no mundo que a rejeita. O filme nos força a confrontar questões desconfortáveis: até que ponto o preconceito molda a justiça? O que significa ser livre em uma sociedade que impõe amarras? E, acima de tudo, o que uma pessoa é capaz de fazer para proteger sua própria existência?

A jornada de Kya é dolorosa, mas também inspiradora. Sua resiliência, sua inteligência e seu amor pela natureza a tornam uma protagonista memorável, cuja história ressoa muito além do pântano da Carolina do Norte. A tensão do enredo, alimentada por sua luta contra o abandono, a violência e o julgamento social, culmina em um desfecho que é ao mesmo tempo catártico e provocador. O filme não oferece respostas fáceis, mas convida o espectador a refletir sobre a complexidade da condição humana.

Imagem: Primevideo

Conclusão

Um Lugar Bem Longe Daqui é um filme que utiliza a tensão narrativa com maestria, entrelaçando suspense, drama e romance em uma história que é tão comovente quanto intrigante. A estrutura não linear, a atuação poderosa de Daisy Edgar-Jones e os temas profundos — abandono, preconceito, violência e a conexão com a natureza — criam uma experiência cinematográfica que prende e emociona. Apesar de suas limitações, como a superficialidade de alguns temas e o uso de clichês, o enredo entrega uma narrativa envolvente que celebra a resiliência de sua protagonista enquanto questiona as injustiças de um mundo que a marginaliza.

A tensão do filme não está apenas no mistério do assassinato, mas na jornada de Kya, uma mulher que encontra na natureza a força para sobreviver, mesmo quando tudo conspira contra ela. É uma história que nos lembra da beleza e da brutalidade do mundo, e da coragem necessária para encontrar um lugar bem longe daqui — um refúgio onde possamos ser verdadeiramente livres.

CRÍTICA: Vingança (2025)

Imagem: Reprodução

"Vingança" (Revenge, no título original), lançado em 25 de abril de 2025 no Prime Video, é um thriller de ação dirigido pela aclamada cineasta francesa Coralie Fargeat, conhecida por seu trabalho visceral em "A Substância" (2024). Estrelado por Matilda Lutz, Kevin Janssens, Vincent Colombe e Guillaume Bouchède, o filme é uma reimaginação do clássico de exploitation de 2017, mas com uma abordagem renovada que intensifica o feminismo feroz e a estética estilizada de Fargeat. A trama segue Jen, uma jovem que acompanha seu amante casado em uma caçada anual no deserto, apenas para ser traída, violentada e abandonada para morrer. Sua jornada de sobrevivência e retaliação forma o cerne de um filme que combina violência gráfica, comentário social e uma narrativa de empoderamento. A estreia no Prime Video, após exibições em festivais como o SXSW 2025, gerou buzz significativo, com posts no X, como o de @CINEMA505, celebrando sua chegada ao streaming. Esta crítica analítica examina o enredo, os personagens, a direção, os temas e o impacto cultural de "Vingança", com base em avaliações críticas e uma análise detalhada de seus elementos cinematográficos.

"Vingança" começa com Jen (Matilda Lutz), uma jovem carismática e aparentemente ingênua, chegando a uma luxuosa casa no deserto com Richard (Kevin Janssens), seu amante casado e rico empresário. O cenário, isolado e árido, estabelece um tom de vulnerabilidade. Richard planeja uma caçada anual com seus amigos Stan (Vincent Colombe) e Dimitri (Guillaume Bouchède), mas a presença de Jen desperta tensões. Após uma noite de festa, Stan a violenta, e Dimitri, cúmplice por omissão, não intervém. Richard, em vez de protegê-la, tenta encobrir o crime e, ao perceber que Jen pode denunciá-los, a empurra de um penhasco, deixando-a para morrer. Contra todas as probabilidades, Jen sobrevive, e o restante do filme acompanha sua transformação de vítima em predadora, enquanto caça os homens que a traíram em um deserto implacável.

A narrativa é estruturada em três atos distintos: a introdução, que apresenta Jen como um objeto de desejo; o ponto de virada, marcado pela violência e traição; e a caçada, onde Jen assume o controle. Fargeat mantém um ritmo intenso, com sequências de ação que alternam entre momentos de tensão sufocante e explosões de violência. A trama é deliberadamente minimalista, com diálogos escassos, permitindo que a ação e a linguagem visual contem a história. Como apontado pelo Observatório do Cinema, o filme é "um exercício de narrativa visual", onde cada quadro é cuidadosamente composto para refletir a jornada emocional de Jen.

Imagem: Reprodução

Apesar de sua simplicidade, o enredo é eficaz em manter o espectador engajado. As reviravoltas, como a sobrevivência quase milagrosa de Jen, são esticadas ao limite da plausibilidade, mas servem ao tom hiperestilizado do filme. A crítica do Arroba Nerd elogia a capacidade de Fargeat de transformar "clichês do gênero exploitation em algo fresco", mas aponta que a falta de backstory para os personagens secundários pode limitar o impacto emocional. A resolução, uma confrontação sangrenta entre Jen e Richard, é catártica, mas, como observado pelo AdoroCinema, pode parecer previsível para quem está familiarizado com o gênero de vingança. Ainda assim, a jornada de Jen é poderosa, transformando uma premissa básica em um comentário visceral sobre resiliência e justiça.

Jen é o coração pulsante de "Vingança", e Matilda Lutz entrega uma performance física e emocionalmente crua. Inicialmente apresentada como uma figura estereotipada — sensual, confiante, mas vulnerável —, Jen evolui para uma sobrevivente implacável. Lutz brilha nas sequências de ação, transmitindo dor, raiva e determinação com uma intensidade que transcende o diálogo. Sua transformação, marcada por cicatrizes e sangue, é tanto literal quanto metafórica, como destacado pelo IMDb, que descreve sua atuação como "um tour de force físico". A ausência de um passado detalhado para Jen é intencional, permitindo que ela represente uma mulher comum confrontada por circunstâncias extraordinárias.

O arco de Jen é o ponto alto do filme, mas sua caracterização inicial como uma "femme fatale ingênua" pode alienar alguns espectadores. A crítica do Cineplayers sugere que Fargeat "flerta com a objetificação antes de subvertê-la", o que pode gerar desconforto até que a narrativa revele suas intenções feministas. Ainda assim, a jornada de Jen, de vítima a vingadora, é profundamente satisfatória, especialmente em cenas como sua improvisação de armas a partir de objetos do deserto.

Os antagonistas são arquétipos do machismo tóxico: Richard, o líder carismático, mas covarde; Stan, o predador impulsivo; e Dimitri, o cúmplice passivo. Kevin Janssens imbui Richard com um charme superficial que mascara sua crueldade, tornando-o um vilão detestável, mas crível. Vincent Colombe e Guillaume Bouchède, embora menos desenvolvidos, são eficazes em retratar a banalidade do mal. A crítica do Omelete observa que os homens são "caricaturas intencionais", projetadas para destacar a crítica de Fargeat às estruturas patriarcais. No entanto, a falta de profundidade desses personagens, como apontado pelo Arroba Nerd, pode reduzir a complexidade do conflito, tornando-os alvos unidimensionais para a vingança de Jen.

"Vingança" é um filme focado em poucos personagens, com praticamente nenhum elenco de apoio. Essa escolha reforça o isolamento da narrativa, mas limita as oportunidades de explorar o mundo além do deserto. A ausência de figuras secundárias, como aliados ou testemunhas, intensifica a sensação de desespero, mas, como sugerido pelo AdoroCinema, pode fazer o filme parecer claustrofóbico em excesso.

Coralie Fargeat estabelece-se como uma voz autoral distinta em "Vingança", combinando estética ousada com narrativa implacável. Sua direção é marcada por uma confiança visual que transforma o deserto em um personagem vivo, com dunas escaldantes e céus saturados que refletem o caos interno de Jen. A fotografia, assinada por Robrecht Heyvaert, utiliza cores vibrantes — vermelhos intensos, azuis neon — para criar um contraste surreal entre a beleza do cenário e a brutalidade da história. A trilha sonora eletrônica, composta por Jim Williams, pulsa com energia, amplificando a tensão e a catarse, como elogiado pelo Observatório do Cinema.

Imagem: Reprodução

Fargeat emprega uma linguagem visual que mistura exploitation com arthouse, usando ângulos exagerados e close-ups para destacar a fisicalidade da violência. Cenas como a extração de estilhaços por Jen são filmadas com um realismo gráfico que, segundo o IMDb, "desafia o espectador a desviar o olhar". A direção também subverte tropos do gênero: enquanto muitos filmes de vingança objetificam suas protagonistas, Fargeat usa a câmera para empoderar Jen, focando em sua força e resiliência. No entanto, a crítica do Cineplayers aponta que o exagero estilístico às vezes "sacrifica a sutileza", especialmente em sequências que beiram o caricatural.

A edição é precisa, mantendo um ritmo que equilibra momentos de contemplação com explosões de ação. Fargeat utiliza montagens rápidas para intensificar as sequências de perseguição, enquanto pausas deliberadas, como Jen encarando o horizonte, permitem que o espectador processe sua transformação. O figurino, minimalista, mas impactante, reforça a narrativa: o biquíni rosa de Jen, inicialmente um símbolo de sua vulnerabilidade, torna-se uma armadura manchada de sangue, simbolizando sua reinvenção.

"Vingança" é, em sua essência, um manifesto feminista que aborda violência de gênero, resiliência e a desconstrução de estereótipos. A jornada de Jen é uma metáfora para a luta das mulheres contra o patriarcado, como apontado pelo Arroba Nerd, que descreve o filme como "uma ode à raiva feminina". Fargeat usa a violência extrema não apenas para chocar, mas para ilustrar a brutalidade das dinâmicas de poder que Jen enfrenta. A transformação de Jen de objeto de desejo em agente de sua própria justiça desafia a narrativa tradicional de vítima, oferecendo uma visão empoderadora, ainda que controversa.

O filme também critica a cumplicidade masculina. Cada antagonista representa uma faceta do machismo: a traição calculada de Richard, a agressividade de Stan e a passividade de Dimitri. Essa abordagem, como observado pelo AdoroCinema, "expõe a banalidade do mal em contextos cotidianos". No entanto, a crítica do Omelete sugere que a caricatura dos vilões pode simplificar demais a crítica, reduzindo a complexidade das questões de gênero.

Outro tema é a sobrevivência em um mundo hostil. O deserto, com sua vastidão e perigos, reflete os obstáculos que Jen enfrenta, tanto físicos quanto emocionais. A escolha de Fargeat de minimizar o diálogo enfatiza a universalidade da história, permitindo que a experiência de Jen ressoe com diferentes públicos. No entanto, a violência gráfica, embora justificada narrativamente, pode alienar espectadores sensíveis, como alertado pelo IMDb.

Impacto Cultural 

"Vingança" estreou no Prime Video em meio a grande expectativa, impulsionada pelo sucesso de "A Substância" e pela reputação de Fargeat como uma cineasta provocadora. Posts no X, como os de @thiagobarata87 e @oxentepipoca, destacam o entusiasmo do público, descrevendo o filme como "diferente, mas igual" ao original de 2017, com uma abordagem mais ousada. No Rotten Tomatoes, o filme alcançou 92% de aprovação com base em críticas iniciais, com elogios à direção de Fargeat e à performance de Lutz. O Observatório do Cinema classificou-o como "um dos thrillers mais brutais do Prime Video", enquanto o Arroba Nerd destacou sua "estética hipnótica".

A recepção, no entanto, não é unânime. Alguns críticos, como o Cineplayers, argumentam que a violência excessiva e a falta de profundidade nos antagonistas limitam o impacto emocional, comparando-o desfavoravelmente a thrillers mais nuançados como "Kill Bill". A controvérsia em torno da violência gráfica também gerou debates, com alguns espectadores no X elogiando sua catarse e outros questionando sua necessidade. Apesar disso, o filme ressoa em 2025, um ano marcado por discussões sobre empoderamento feminino e justiça, tornando-se um ponto de conversa em plataformas como o Letterboxd.

O lançamento direto no streaming reflete a crescente influência do Prime Video em produções ousadas, como observado pelo Oficina da Net. A acessibilidade do filme permitiu que alcançasse um público global, especialmente fãs de thrillers feministas como "Promising Young Woman" (2020). Sua estética visual e mensagem provocadora garantem que permaneça relevante em debates sobre gênero e cinema.

"Vingança" ecoa o filme original de 2017, mas amplifica sua estética e mensagem feminista, beneficiando-se da experiência de Fargeat após "A Substância". Comparado a outros thrillers de vingança, como "Kill Bill" de Quentin Tarantino, "Vingança" é menos estilizado em termos de diálogo, mas igualmente impactante em sua violência coreografada. A crítica do AdoroCinema compara sua energia a "Mad Max: Estrada da Fúria" (2015), mas com um foco mais íntimo na experiência feminina. Diferentemente de "Você Nunca Esteve Realmente Aqui" (2018), que explora a psicologia de seu protagonista, "Vingança" prioriza a visceralidade, o que o torna mais acessível, mas menos introspectivo.

A abordagem de Fargeat também dialoga com o cinema exploitation dos anos 70, como "I Spit on Your Grave", mas com uma sensibilidade moderna que evita a gratuidade. Comparado ao trabalho anterior de Fargeat, "Vingança" é mais direto, mas igualmente ambicioso, consolidando sua voz como uma das mais provocadoras do cinema contemporâneo.

Conclusão

"Vingança" é um thriller de ação que transcende seu gênero, oferecendo uma experiência visualmente deslumbrante e emocionalmente carregada. Coralie Fargeat transforma uma premissa familiar em um manifesto feminista, usando a violência como uma ferramenta para explorar resiliência e justiça. Matilda Lutz entrega uma performance inesquecível, enquanto a direção de Fargeat, com sua estética hipnótica e ritmo implacável, eleva o filme a um patamar raro no streaming. Apesar de suas limitações — como a falta de profundidade nos antagonistas e a violência que pode alienar alguns —, "Vingança" é uma obra poderosa que desafia convenções e celebra a força feminina.

No contexto de 2025, o filme ressoa com audiências que buscam narrativas de empoderamento e catarse, especialmente em um mundo onde questões de gênero permanecem urgentes. Sua estreia no Prime Video garante acessibilidade, enquanto sua ousadia visual e temática o torna um marco no gênero de vingança. Para quem aprecia thrillers intensos e mensagens provocadoras, "Vingança" é uma experiência inesquecível, um lembrete de que, nas mãos certas, a raiva pode ser uma força transformadora. Como Jen, o filme é feroz, implacável e impossível de ignorar.

CRÍTICA: Um pequeno favor (2018)


"Um Pequeno Favor" (A Simple Favor), lançado em 2018, é um thriller cômico dirigido por Paul Feig, conhecido por sua habilidade em mesclar humor e narrativa envolvente em filmes como "Missão Madrinha de Casamento" (2011). Baseado no romance homônimo de Darcey Bell, com roteiro adaptado por Jessica Sharzer, o filme combina suspense, comédia e drama, centrado na improvável amizade entre duas mulheres: Stephanie Smothers (Anna Kendrick), uma mãe solteira e vlogueira, e Emily Nelson (Blake Lively), uma sofisticada relações-públicas com uma vida aparentemente perfeita. A trama, que começa com um misterioso desaparecimento, desdobra-se em um jogo de manipulações, segredos e reviravoltas, conquistando tanto críticos quanto público por sua originalidade. Com um elenco de apoio que inclui Henry Golding e Andrew Rannells, o filme se destaca pela química entre suas protagonistas e por um tom que oscila entre o sarcástico e o absurdo. Esta crítica analítica explora o enredo, os personagens, a direção, os temas abordados e o impacto cultural de "Um Pequeno Favor", com base em avaliações de fontes confiáveis e uma análise detalhada de seus elementos cinematográficos.

A história de "Um Pequeno Favor" é ambientada em uma cidade suburbana de Connecticut, onde Stephanie Smothers, uma mãe viúva e excessivamente dedicada, mantém um vlog de culinária e dicas para mães. Sua vida certinha muda quando ela conhece Emily Nelson, mãe de um colega de escola de seu filho, que exsuda glamour e mistério. Apesar de suas diferenças — Stephanie é ingênua e organizada, enquanto Emily é cínica e desleixada —, as duas desenvolvem uma amizade improvável, marcada por martínis à tarde e confidências. A trama dá uma guinada quando Emily pede a Stephanie um "pequeno favor": buscar seu filho na escola. Após isso, Emily desaparece sem deixar rastros, desencadeando uma investigação que revela camadas de mentiras, traições e segredos sombrios.

O enredo segue uma estrutura de thriller, com Stephanie assumindo o papel de detetive amadora para desvendar o paradeiro de Emily. A narrativa é impulsionada por flashbacks, pistas falsas e revelações que mantêm o espectador intrigado. A busca de Stephanie a leva a confrontar Sean (Henry Golding), o marido de Emily, e a descobrir detalhes perturbadores sobre o passado da amiga, incluindo fraudes, assassinatos e identidades falsas. A história é pontuada por momentos de humor, como as interações desajeitadas de Stephanie com outros pais da escola, e por um tom que flerta com o exagero, reminiscente de novelas ou filmes noir clássicos. O desfecho, repleto de reviravoltas, resolve o mistério de forma satisfatória, embora alguns críticos, como o Omelete, tenham apontado que o excesso de reviravoltas pode parecer forçado.

A força do enredo está em sua capacidade de equilibrar suspense e comédia sem perder o ritmo. A crítica do AdoroCinema elogia a trama por sua "ousadia em abraçar o absurdo", enquanto o Rotten Tomatoes, com 84% de aprovação, destaca sua habilidade de manter o público adivinhando. No entanto, a narrativa não está isenta de falhas. Algumas reviravoltas, como as relacionadas ao passado de Emily, dependem de coincidências improváveis, e a resolução final, embora divertida, sacrifica certa plausibilidade em favor do impacto dramático. Ainda assim, a história cativa por sua energia e pela maneira como subverte expectativas, transformando um thriller doméstico em uma sátira elegante.

Stephanie é o ponto de entrada do espectador, uma personagem que começa como um estereótipo de mãe suburbana — organizada, ansiosa por aprovação e ligeiramente ridícula em sua dedicação ao vlog. Anna Kendrick entrega uma performance brilhante, equilibrando humor autodepreciativo e vulnerabilidade. À medida que a trama avança, Stephanie revela camadas de resiliência e astúcia, transformando-se de uma figura passiva em uma investigadora determinada. Sua evolução é um dos pontos altos do filme, como destacado pelo IMDb, que elogia Kendrick por tornar Stephanie "adoravelmente desajeitada, mas surpreendentemente corajosa".

O arco de Stephanie é convincente porque reflete sua luta para superar a insegurança e encontrar sua própria força. No entanto, sua ingenuidade inicial, como aceitar cegamente os favores de Emily, pode parecer exagerada, especialmente considerando as consequências. A crítica do Cineplayers observa que Stephanie "funciona como um espelho para o público", mas sua transformação às vezes é apressada, com poucas cenas explorando o impacto emocional de suas descobertas. Ainda assim, Kendrick carrega a narrativa com carisma, tornando Stephanie uma protagonista memorável.

Imagem: Primevideo/Reprodução

Emily é a alma enigmática do filme, uma femme fatale moderna que combina charme, perigo e sarcasmo. Blake Lively está magnética no papel, usando sua presença física e entrega afiada para criar uma personagem que é ao mesmo tempo sedutora e aterrorizante. Emily é introduzida como uma mulher de carreira bem-sucedida, com um apartamento chique e um guarda-roupa de tirar o fôlego — cortesia da figurinista Renee Ehrlich Kalfus, que mistura ternos masculinos com toques de alta costura. À medida que a trama se desenrola, o público descobre que Emily é uma mestra da manipulação, com um passado repleto de crimes e segredos.

A força de Emily está em sua ambiguidade. O filme nunca esclarece completamente suas motivações, o que a torna fascinante, mas também frustrante. A crítica do Arroba Nerd aponta que Lively "rouba a cena com uma performance que equilibra humor e ameaça", mas o roteiro não aprofunda suficientemente sua psicologia, deixando-a como uma vilã carismática em vez de uma figura tridimensional. Sua relação com Stephanie, marcada por uma mistura de admiração e manipulação, é o cerne emocional do filme, e a química entre as duas atrizes eleva até mesmo as cenas mais implausíveis.

O elenco de apoio inclui Henry Golding como Sean, o marido de Emily, e Andrew Rannells como Darren, um pai da escola. Golding, em um de seus primeiros papéis após "Podres de Ricos", traz charme e ambiguidade a Sean, mas seu personagem é subdesenvolvido, funcionando mais como uma peça do quebra-cabeça do que como uma figura com profundidade própria. Rannells oferece alívio cômico como parte do grupo de pais fofoqueiros, mas seu papel é limitado. Outros personagens, como a chefe de Emily (Linda Cardellini), aparecem brevemente, mas deixam impacto com atuações sólidas. A crítica do Observatorio do Cinema observa que o elenco de apoio "acrescenta textura ao mundo do filme", mas a narrativa foca tanto nas protagonistas que os secundários raramente têm chance de brilhar.

Paul Feig demonstra domínio ao criar um thriller que é ao mesmo tempo elegante e acessível. Sua direção em "Um Pequeno Favor" é marcada por uma estética vibrante, com uma paleta de cores que contrasta o mundo pastel de Stephanie com o glamour sombrio de Emily. A fotografia, assinada por John Schwartzman, utiliza enquadramentos amplos para destacar o isolamento dos subúrbios e close-ups para capturar as nuances das performances. A trilha sonora, com canções francesas dos anos 60, como "Une Histoire de Plage" de Brigitte Bardot, adiciona um toque retro que reforça o tom irônico, como elogiado pelo AdoroCinema.

Feig equilibra habilmente o suspense e a comédia, usando o humor para aliviar a tensão sem comprometer o mistério. Cenas como as conversas de Stephanie e Emily regadas a martínis são exemplos perfeitos de sua habilidade em criar diálogos afiados que revelam tanto quanto escondem. No entanto, a crítica do Omelete aponta que o filme "escorrega para o exagero" no terço final, com reviravoltas que priorizam o choque em detrimento da lógica. A edição é ágil, mas algumas transições entre flashbacks e o presente podem confundir, especialmente quando a narrativa introduz múltiplas linhas temporais.

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O figurino é um elemento central, funcionando quase como um personagem. Os looks de Emily, que misturam alfaiataria masculina com acessórios luxuosos, refletem sua personalidade dominante, enquanto as roupas práticas de Stephanie, como cardigãs e saias rodadas, sublinham sua ingenuidade inicial. A crítica do IMDb destaca que o figurino "amplifica a narrativa", criando um contraste visual que reforça a dinâmica entre as protagonistas.

"Um Pequeno Favor" explora temas como amizade, manipulação, identidade e as fachadas que construímos. A relação entre Stephanie e Emily é o núcleo temático do filme, representando uma dança entre admiração e desconfiança. Stephanie vê em Emily uma figura aspiracional, enquanto Emily usa a ingenuidade de Stephanie para seus próprios fins. Essa dinâmica, como apontado pelo Arroba Nerd, reflete a complexidade das amizades femininas, especialmente quando marcadas por inveja e poder.

O filme também satiriza a cultura suburbana e a obsessão por aparências. O vlog de Stephanie, com suas receitas e dicas banais, é uma crítica às redes sociais e à busca por validação online, enquanto a vida aparentemente perfeita de Emily revela as rachaduras por trás do glamour. A crítica do Observatorio do Cinema observa que o filme "zomba das convenções sociais sem ser didático", usando o humor para questionar normas de gênero e classe.

Outro tema importante é a reinvenção. Tanto Stephanie quanto Emily, de maneiras diferentes, tentam escapar de suas limitações — Stephanie, de sua vida monótona, e Emily, de seu passado criminoso. O filme sugere que a identidade é fluida, mas também perigosa, especialmente quando usada para manipular. No entanto, essas ideias são exploradas de forma mais superficial do que poderiam, com o foco nas reviravoltas diminuindo o espaço para reflexões mais profundas.

"Um Pequeno Favor" foi um sucesso moderado nas bilheterias, arrecadando cerca de US$97 milhões globalmente com um orçamento de US$20 milhões. Sua verdadeira consagração veio no streaming, especialmente na Netflix, onde se tornou um fenômeno cult, como relatado pelo AdoroCinema. No Rotten Tomatoes, o filme mantém 84% de aprovação, com críticos elogiando sua originalidade e as atuações de Kendrick e Lively. O Omelete deu 4/5, destacando sua "energia única", enquanto o Cineplayers reconheceu sua habilidade de entreter, mesmo com falhas narrativas.

A recepção do público foi igualmente entusiástica, com posts no X, como os de @CineLover, celebrando a química das protagonistas e o tom irreverente. O filme ganhou popularidade por sua estética visual e diálogos memoráveis, tornando-se referência em discussões sobre thrillers femininos. Sua influência é evidente na sequência, "Outro Pequeno Favor" (2025), que capitalizou o status cult do original.

O impacto cultural de "Um Pequeno Favor" também se reflete em sua abordagem às dinâmicas femininas. Ao contrário de muitos thrillers, que opõem mulheres como rivais, o filme celebra a complexidade de sua amizade, mesmo que tóxica. Em 2018, essa representação ressoou com audiências que buscavam narrativas centradas em mulheres multifacetadas, contribuindo para o sucesso duradouro do filme.

"Um Pequeno Favor" pode ser comparado a outros thrillers com protagonistas femininas, como "Garota Exemplar" (2014), que também explora manipulação e segredos, mas com um tom mais sombrio. A comédia do filme o aproxima de "Entre Facas e Segredos" (2019), embora com uma abordagem mais estilizada. Sua estética noir e humor sarcástico evocam clássicos como "Pacto Sinistro" (1951), mas adaptados a um contexto moderno. Comparado a outros trabalhos de Feig, como "As Bem-Armadas" (2013), "Um Pequeno Favor" é mais ambicioso em sua narrativa, mas menos consistente em sua execução.

A adaptação do romance de Darcey Bell também diferencia o filme, que toma liberdades criativas para amplificar o humor e o glamour. Enquanto o livro é mais introspectivo, o filme opta por uma abordagem exagerada, o que, segundo o IMDb, foi essencial para seu apelo visual e comercial.

"Um Pequeno Favor" é um thriller cômico que se destaca por sua originalidade, atuações cativantes e estética vibrante. Anna Kendrick e Blake Lively entregam performances que elevam o material, transformando uma história de mistério em uma celebração da complexidade feminina. A direção de Paul Feig, com seu equilíbrio de suspense e humor, cria uma experiência envolvente, mesmo que o excesso de reviravoltas e a falta de profundidade emocional sejam limitações. A trama, com sua mistura de noir e sátira, oferece uma crítica inteligente às aparências e à cultura digital, enquanto mantém o espectador entretido com diálogos afiados e uma narrativa cheia de surpresas.

O sucesso do filme, tanto nas bilheterias quanto no streaming, reflete sua capacidade de ressoar com audiências que buscam entretenimento inteligente e visualmente atraente. Como um marco no gênero de thrillers femininos, "Um Pequeno Favor" abriu portas para narrativas que celebram mulheres imperfeitas e suas relações complicadas. Sua influência é evidente no culto que inspirou e na sequência que gerou, consolidando seu lugar como uma joia moderna do cinema. Para quem busca um mistério com estilo, humor e coração, "Um Pequeno Favor" é, sem dúvida, um grande prazer.

CRÍTICA: Outro pequeno favor (2025)

Imagem: Primevideo/Reprodução

"Outro Pequeno Favor" (Another Simple Favor), lançado em 1º de maio de 2025 diretamente no Amazon Prime Video, é a aguardada sequência do thriller cômico de 2018, "Um Pequeno Favor". Dirigido novamente por Paul Feig e com roteiro de Jessica Sharzer, baseado nos personagens criados por Darcey Bell, o filme reúne Anna Kendrick e Blake Lively reprisando seus papéis como Stephanie Smothers e Emily Nelson. Ambientado na glamourosa ilha de Capri, na Itália, a trama envolve um casamento extravagante, um assassinato e uma série de reviravoltas que tentam recapturar a energia excêntrica do original. Com um elenco estelar que inclui Henry Golding, Andrew Rannells e novos rostos como Allison Janney, o filme aposta na química entre suas protagonistas e em um tom exagerado para entreter. No entanto, apesar de momentos divertidos, "Outro Pequeno Favor" luta para superar as limitações de sua trama sobrecarregada e a sombra do sucesso cult do primeiro filme. Esta crítica analítica explora o enredo, os personagens, a direção, os temas e o impacto cultural da sequência, com base em avaliações críticas e uma análise detalhada de seus elementos cinematográficos.

A trama de "Outro Pequeno Favor" começa alguns anos após os eventos do primeiro filme. Stephanie Smothers (Anna Kendrick), agora uma vlogueira de sucesso e investigadora amadora, está prestes a lançar um livro sobre suas experiências com Emily Nelson (Blake Lively), a "Mulher Loira Sem Rosto". Emily, recém-libertada após cumprir uma pena de prisão por seus crimes no filme original, reaparece na vida de Stephanie com um novo "pequeno favor": ser madrinha de seu casamento com Dario Esposito (Michele Morrone), um rico empresário italiano, na ilha de Capri. O que começa como uma proposta aparentemente inofensiva — uma chance para Stephanie impulsionar sua imagem pública e as vendas de seu livro — rapidamente se transforma em um labirinto de traições, chantagens e um assassinato que sacode o idílico cenário italiano.

A narrativa segue a mesma fórmula do primeiro filme, com uma mistura de suspense, comédia e drama, mas eleva o tom novelesco a novos patamares. Após Stephanie aceitar o convite, acompanhada de amigos como Sean (Henry Golding) e Dennis (Andrew Rannells), ela se vê envolvida em um esquema que inclui ameaças de processos judiciais, segredos do passado de Emily e um misterioso assassinato durante as festividades do casamento. A trama é pontuada por flashbacks que revelam as manipulações de Emily, enquanto Stephanie tenta desvendar o que está acontecendo, usando suas habilidades de investigação adquiridas no primeiro filme. O desfecho, repleto de reviravoltas, inclui revelações sobre identidades falsas, motivações financeiras e uma resolução que, como descrito pelo Arroba Nerd, lembra "um Poderoso Chefão fashionista".

Imagem: Reprodução

Embora a premissa de um casamento italiano ofereça um cenário visualmente atraente, a trama sofre com um excesso de reviravoltas, muitas das quais carecem de originalidade ou lógica, como apontado na crítica do Observatório do Cinema. O filme tenta equilibrar o humor sarcástico com momentos de tensão, mas o ritmo irregular e a falta de um clímax satisfatório prejudicam sua coesão. A decisão de resolver o mistério central de forma abrupta, semelhante ao que foi criticado no primeiro filme pelo Omelete, diminui o impacto emocional das revelações. Além disso, a narrativa depende fortemente da nostalgia do original, reciclando dinâmicas como a amizade improvável entre Stephanie e Emily, sem adicionar camadas significativas à sua relação. Apesar disso, a trama mantém o espectador entretido com seu ritmo acelerado e diálogos afiados, especialmente nas interações entre as protagonistas.

Stephanie, interpretada por Anna Kendrick, continua sendo o coração da narrativa. No primeiro filme, ela evoluiu de uma mãe tímida e certinha para uma investigadora confiante, e em "Outro Pequeno Favor", essa transformação é consolidada. Agora uma figura pública com um canal de vlogs bem-sucedido e um livro em andamento, Stephanie é mais assertiva, mas mantém sua essência ingênua e ansiosa por aprovação. Kendrick brilha ao equilibrar o humor autodepreciativo com momentos de coragem, especialmente nas cenas em que confronta Emily. Sua performance é um dos pontos altos do filme, como destacado pelo IMDb, que elogia sua habilidade de transmitir vulnerabilidade e astúcia.

No entanto, o desenvolvimento de Stephanie é limitado pelo roteiro. Sua decisão de aceitar o convite de Emily, apesar de conhecer suas manipulações, é justificada por chantagem emocional, mas parece inconsistente com sua suposta inteligência. A crítica do AdoroCinema observa que Stephanie "permanece refém da fascinação por Emily", o que impede uma evolução mais profunda. Suas ações, como investigar o assassinato em Capri, são envolventes, mas muitas vezes servem apenas para avançar a trama, sem explorar suas motivações internas ou conflitos psicológicos.

Emily, vivida por Blake Lively, é novamente a força magnética do filme. Após sair da prisão, ela retorna com o mesmo charme enigmático e uma aura de femme fatale, agora adaptada ao glamour italiano. Lively se diverte no papel, entregando falas sarcásticas e olhares maliciosos com facilidade, como descrito pelo Arroba Nerd. Sua personagem é descrita como uma vigarista incorrigível, cuja nova identidade como noiva de um magnata esconde segredos ainda mais sombrios. A figurinista Renee Ehrlich Kalfus, que já havia se destacado no primeiro filme, cria para Emily um guarda-roupa de alta costura que reflete sua personalidade dominante, com ternos elegantes e vestidos que contrastam com as roupas mais práticas de Stephanie.

Image: Primevideo

Apesar do carisma de Lively, Emily sofre com a repetição de sua dinâmica do primeiro filme. Suas manipulações, embora divertidas, não surpreendem tanto quanto antes, e o filme não explora suficientemente seu passado ou as consequências de sua prisão. A crítica do Observatório do Cinema aponta que Emily "permanece uma caricatura", sem nuances que poderiam enriquecer sua jornada. Sua relação com Stephanie, embora central, é menos complexa do que no original, reduzida a um jogo de gato e rato que privilegia o espetáculo em detrimento da profundidade.

O elenco de apoio inclui nomes como Henry Golding (Sean), Andrew Rannells (Dennis), Allison Janney (como uma figura misteriosa ligada ao passado de Emily) e Michele Morrone (Dario). Sean, o ex-marido de Emily, agora professor universitário, tem um papel reduzido, servindo mais como apoio emocional para Stephanie do que como um personagem ativo. Rannells entrega momentos cômicos como Dennis, mas sua presença é subaproveitada, funcionando como alívio cômico genérico. Janney, uma adição bem-vinda, traz gravidade a suas cenas, mas sua personagem é introduzida tardiamente e não tem tempo suficiente para impactar a narrativa. Morrone, conhecido por "365 Dias", adiciona charme como Dario, mas seu papel é mais decorativo do que essencial. A falta de desenvolvimento desses personagens, como apontado pelo AdoroCinema, reforça a dependência do filme na dupla principal.

Paul Feig, conhecido por comédias como "Missão Madrinha de Casamento" e pelo primeiro "Um Pequeno Favor", retorna com sua assinatura estilística: uma mistura de humor ácido, estética vibrante e um toque de exagero. Em "Outro Pequeno Favor", ele abraça o cenário italiano com entusiasmo, usando a beleza de Capri — suas falésias, vilas luxuosas e mares cristalinos — como pano de fundo para a trama caótica. A fotografia, com cores saturadas e enquadramentos que destacam o glamour, cria uma atmosfera que, segundo o Arroba Nerd, evoca um "noir fashionista". A trilha sonora, repleta de pop italiano e canções francesas reminiscentes do primeiro filme, reforça o tom brincalhão, mas às vezes parece deslocada em momentos de maior tensão.

Feig demonstra amadurecimento ao equilibrar suspense e comédia, mas, como no original, o filme desliza para o pastelão no terço final, o que pode frustrar quem espera um thriller mais sério. A crítica do IMDb observa que a direção "prioriza o entretenimento em detrimento da coerência", especialmente nas sequências de ação, como uma perseguição improvisada em Capri, que parece mais cômica do que tensa. A edição é ágil, mas as transições entre flashbacks e o presente nem sempre são fluidas, criando momentos de confusão narrativa. Apesar disso, Feig acerta ao extrair o melhor de Kendrick e Lively, cujas interações são o verdadeiro motor do filme.

"Outro Pequeno Favor" explora temas como manipulação, amizade tóxica, poder feminino e a busca por reinvenção. A relação entre Stephanie e Emily continua sendo o cerne da narrativa, refletindo a tensão entre admiração e desconfiança. O filme sugere que ambas, apesar de suas diferenças, são movidas por ambições semelhantes: Stephanie quer fama e validação, enquanto Emily busca controle e riqueza. Essa dualidade, como apontado pelo Observatório do Cinema, é o que torna sua dinâmica tão cativante, mesmo que menos profunda do que no primeiro filme.

A sequência também aborda a ideia de segundas chances, com Emily tentando reconstruir sua vida após a prisão e Stephanie enfrentando o desafio de manter sua relevância como influenciadora. No entanto, essas reflexões são tratadas de forma superficial, com o filme optando por reviravoltas sensacionalistas em vez de explorar as consequências emocionais de suas escolhas. A crítica do AdoroCinema destaca que o filme "celebra o caos sem questioná-lo", o que pode ser visto como uma força ou uma limitação, dependendo do espectador.

Outro tema presente é a sátira ao mundo da fama e das redes sociais. Stephanie, agora uma figura pública, enfrenta pressões para manter sua imagem, enquanto Emily usa sua persona para manipular aqueles ao seu redor. O filme toca em questões como a construção de narrativas pessoais e a superficialidade da cultura digital, mas não aprofunda essas ideias, usando-as mais como pano de fundo para o humor.

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"Outro Pequeno Favor" estreou no Prime Video em meio a expectativas elevadas, impulsionadas pelo sucesso cult do primeiro filme, que se tornou um fenômeno na Netflix. Com uma aprovação de 80% no Rotten Tomatoes, baseada em críticas iniciais exibidas no festival SXSW 2025, o filme foi bem recebido por sua energia divertida e a química entre Kendrick e Lively. O Arroba Nerd elogiou sua abordagem "fashionista" e comparou sua extravagância a uma versão cômica de "O Poderoso Chefão", enquanto o Observatório do Cinema destacou a capacidade do filme de manter o espectador entretido, apesar de suas falhas narrativas.

No entanto, a recepção não foi unânime. O IMDb aponta que a sequência "não inova tanto quanto o original", reciclando ideias e dependendo demais da nostalgia. A controvérsia envolvendo Blake Lively, devido a uma batalha judicial relacionada a seu filme anterior, "É Assim que Acaba" (2024), também afetou a divulgação, com a Amazon desativando comentários em trailers nas redes sociais, como relatado pelo IMDb. Apesar disso, posts no X, como os de @FilmeFanatic, indicam que fãs do primeiro filme apreciaram a continuação, especialmente pela estética visual e pelo humor.

O lançamento direto no streaming reflete uma tendência crescente de sequências de filmes cult que encontram nova vida em plataformas digitais. O sucesso do primeiro "Um Pequeno Favor" na Netflix, como mencionado pelo Observatório do Cinema, provavelmente justificou a produção da sequência, mesmo sem o mesmo impacto nas bilheterias. Em 2025, o filme ressoa com audiências que buscam entretenimento leve e escapista, mas sua falta de profundidade pode limitar seu impacto a longo prazo.

Comparado ao primeiro "Um Pequeno Favor", a sequência mantém o mesmo tom irreverente, mas perde em originalidade. Enquanto o original se destacou por sua mistura única de suspense e comédia, "Outro Pequeno Favor" amplifica o exagero, às vezes em detrimento da coerência narrativa. A crítica do Omelete, que deu ao primeiro filme 4/5 por sua inovação, sugere que a sequência, embora divertida, não alcança o mesmo nível de frescor. A dinâmica entre Stephanie e Emily, embora ainda cativante, é menos surpreendente, já que o público já conhece suas personalidades.

O filme também pode ser comparado a outros thrillers cômicos, como "Garota Exemplar" (2014), que equilibra melhor suas reviravoltas, ou "Entre Facas e Segredos" (2019), que usa o cenário de um mistério para explorar dinâmicas familiares com mais profundidade. A sequência de "Um Pequeno Favor" se assemelha mais a "Morte no Nilo" (2022), com sua ambientação luxuosa e elenco estelar, mas carece da mesma elegância narrativa. Sua abordagem novelesca, embora intencional, às vezes parece forçada, como apontado pelo AdoroCinema.

"Outro Pequeno Favor" é uma sequência que entrega exatamente o que promete: uma montanha-russa de reviravoltas, humor ácido e a química irresistível entre Anna Kendrick e Blake Lively. Ambientado no cenário deslumbrante de Capri, o filme abraça sua estética glamourosa e seu tom exagerado, oferecendo momentos de pura diversão. No entanto, sua trama sobrecarregada, reviravoltas previsíveis e falta de desenvolvimento emocional impedem que supere o charme inovador do original. Paul Feig demonstra habilidade em extrair o melhor de seu elenco, mas a narrativa carece da sutileza que poderia elevar o filme além do entretenimento passageiro.

Para fãs do primeiro filme, "Outro Pequeno Favor" é uma adição bem-vinda, repleta de referências e piadas que celebram a amizade caótica de Stephanie e Emily. Sua estreia no Prime Video, em um contexto de crescente popularidade de thrillers cômicos no streaming, garante que encontrará um público ávido por escapismo. No entanto, aqueles que buscam uma história mais coesa ou uma exploração mais profunda de seus temas podem se sentir desapontados. Como um "pequeno favor" ao espectador, o filme oferece risadas e glamour, mas, como Emily Nelson, esconde suas falhas sob uma fachada brilhante. Em última análise, é uma continuação que diverte, mas não deixa uma marca tão indelével quanto sua predecessora.

CRÍTICA: Uma vida em sete dias (2002)

Imagem: Prime Video / Divulgação

"Uma Vida em Sete Dias" (Life or Something Like It), dirigido por Stephen Herek e lançado em 2002, é uma comédia romântica com elementos dramáticos que tenta explorar temas profundos como o sentido da vida, a superficialidade e a transformação pessoal. Estrelado por Angelina Jolie, Edward Burns e Tony Shalhoub, o filme apresenta uma premissa intrigante: uma repórter de televisão, Lanie Kerrigan, recebe a profecia de que morrerá em sete dias, o que a leva a reavaliar suas prioridades e escolhas. Apesar de sua proposta ambiciosa, o filme enfrenta dificuldades em equilibrar humor, drama e reflexão, resultando em uma obra que, embora divertida, não alcança o potencial de sua ideia central. Esta crítica analítica examina o enredo, os personagens, a direção, os temas abordados e o impacto cultural do filme, com base em análises de fontes confiáveis e uma interpretação detalhada de seus elementos cinematográficos.

O enredo de "Uma Vida em Sete Dias" gira em torno de Lanie Kerrigan (Angelina Jolie), uma repórter de televisão em Seattle que vive uma vida aparentemente perfeita: um apartamento luxuoso, um emprego de prestígio, um noivo famoso (Christian Kane) e a promessa de uma promoção para um programa nacional. No entanto, sua existência é marcada pela superficialidade, com foco em aparências e ambições profissionais. Durante uma reportagem, Lanie entrevista Jack (Tony Shalhoub), um sem-teto que se autoproclama profeta e prevê que ela morrerá em sete dias. Inicialmente cética, Lanie começa a acreditar na profecia quando outras previsões de Jack se concretizam, como resultados esportivos e eventos climáticos. Esse evento catalisador a força a confrontar a futilidade de sua vida e a buscar mudanças significativas em um curto período.

A narrativa segue uma estrutura clássica de transformação pessoal, com Lanie tentando reparar relacionamentos estremecidos (como com sua irmã e seu pai), abandonar sua obsessão por dietas e aparência, e explorar uma conexão romântica com Pete (Edward Burns), seu cinegrafista. O filme tenta mesclar comédia, romance e drama, mas sua execução frequentemente cai em clichês. A previsibilidade da trama é um dos principais pontos criticados: desde o início, é evidente que Lanie encontrará redenção, e o romance com Pete segue uma fórmula de "amor-ódio" típica de comédias românticas. Além disso, o filme recorre a um flashback inicial que revela o desfecho, diminuindo a tensão narrativa e enfraquecendo o impacto emocional das escolhas de Lanie.

Apesar disso, a premissa de confrontar a mortalidade em um prazo tão curto oferece momentos de reflexão. A ideia de que a vida pode acabar abruptamente força o espectador a considerar o que realmente importa. No entanto, as ações de Lanie em resposta à profecia — como abandonar dietas, reconciliar-se com a família e cantar em público — são tratadas de forma superficial, sem explorar profundamente as complexidades emocionais ou psicológicas de enfrentar a morte iminente. O filme opta por soluções fáceis, como sugeriu o crítico do Omelete, que descreveu a obra como um "caça-níquel de autoajuda" com uma abordagem novelesca.

Lanie é o coração do filme, e Angelina Jolie entrega uma performance que, embora não excepcional, carrega a narrativa com sua presença magnética. A personagem começa como uma figura estereotipada: a profissional ambiciosa e superficial que prioriza a carreira e a aparência acima de tudo. Jolie consegue transmitir a vulnerabilidade de Lanie à medida que ela enfrenta a possibilidade de sua morte, mas a transformação da personagem é limitada pelo roteiro. A crítica do Cineplayers observa que Jolie se destaca mais por sua beleza do que por suas qualidades artísticas, o que reflete a abordagem do filme em explorar sua fotogenia em vez de aprofundar sua jornada emocional.

A evolução de Lanie, de uma mulher fútil a alguém que valoriza os "pequenos atos" da vida, é um dos pontos altos do filme, segundo avaliações de usuários no AdoroCinema. No entanto, suas ações muitas vezes parecem desconexas ou pouco convincentes, como na cena em que, embriagada, lidera um grupo de trabalhadores em greve cantando "Satisfaction" durante uma transmissão ao vivo. Essa sequência, descrita como "embaraçosamente pouco convincente" pelo IMDb, exemplifica como o filme sacrifica a coerência em favor de momentos cômicos exagerados.

O personagem mais interessante do filme é, sem dúvida, Jack, o profeta sem-teto interpretado por Tony Shalhoub. Jack é uma figura trágica e cômica, vivendo na marginalidade, mas com uma sabedoria que desafia as convenções sociais. Shalhoub imbui o personagem com uma mistura de humor, autoridade e indiferença, tornando-o memorável mesmo com tempo limitado em tela. A crítica do Cineplayers destaca que Jack é o verdadeiro destaque do filme, especialmente em cenas como a que Lanie o procura nos becos para confirmar suas habilidades premonitórias. Sua presença serve como um contraponto à superficialidade de Lanie, mas o filme não explora suficientemente sua backstory ou motivações, deixando-o como um dispositivo narrativo em vez de um personagem totalmente desenvolvido.

Pete, o cinegrafista interpretado por Edward Burns, é o interesse romântico de Lanie e representa a voz da razão em sua jornada. A química entre Jolie e Burns é um dos pontos fortes do filme, oferecendo momentos de charme e autenticidade. No entanto, a relação segue uma trajetória previsível, com o clássico arco de tensão inicial seguido por uma aproximação romântica. Pete é um personagem subdesenvolvido, funcionando mais como um apoio para a transformação de Lanie do que como uma figura com profundidade própria. Sua relação com Lanie, embora cativante em momentos, não escapa do clichê de comédias românticas, como apontado pela crítica do IMDb.

Os personagens secundários, como o noivo de Lanie, Cal (Christian Kane), e sua irmã, são pouco explorados e servem apenas como catalisadores para a jornada da protagonista. Cal, um jogador de beisebol famoso, é retratado como superficial e incompatível com Lanie, mas sua saída da narrativa é abrupta e carece de peso emocional. A reconciliação de Lanie com sua irmã e pai é tratada de forma superficial, sem oferecer insights significativos sobre suas dinâmicas familiares. Esses elementos reforçam a crítica de que o filme não aproveita plenamente seu elenco talentoso.

Stephen Herek, conhecido por filmes como "Os 101 Dálmatas" (1996) e "Mr. Holland - Adorável Professor" (1995), não é um diretor associado a obras introspectivas, e isso se reflete em "Uma Vida em Sete Dias". Sua abordagem é funcional, mas carece de ousadia ou profundidade. A crítica do Omelete aponta que Herek não é um "expert em introspecção", e o filme sofre com uma direção que prioriza o entretenimento leve em detrimento de uma exploração mais rica de seus temas.

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A fotografia do filme, que retrata o clima nublado de Seattle e Nova York, contribui para o tom melancólico da narrativa, especialmente nas cenas que mostram Lanie em crise. No entanto, o uso de cores vibrantes em momentos cômicos, como as cenas de Lanie em seu ambiente de trabalho, reforça o contraste entre sua vida superficial e sua busca por significado. A trilha sonora, embora adequada, é genérica e não adiciona camadas significativas à experiência.

Um aspecto problemático da direção é o ritmo irregular. O filme alterna entre momentos de comédia exagerada, drama forçado e romance previsível, o que prejudica sua coesão. A edição, especialmente nas transições entre os dias da semana de Lanie, poderia ter sido mais dinâmica para enfatizar a urgência de sua situação. Em vez disso, o filme frequentemente se arrasta, com cenas que não avançam a narrativa ou aprofundam os personagens.

"Uma Vida em Sete Dias" aborda temas universais, como a busca por propósito, a valorização do tempo e a crítica à superficialidade. A frase promocional do filme, "Destino é o que você faz dele", resume sua mensagem central: a vida ganha significado por meio das escolhas que fazemos e das conexões que cultivamos. A profecia de Jack serve como um catalisador para Lanie reavaliar seus valores, abandonando a obsessão por sucesso e aparência em favor de relações humanas e autenticidade.

No entanto, o filme trata esses temas de forma simplista. A crítica do IMDb observa que as ações de Lanie diante da morte iminente não são "particularmente pensadas ou significativas", o que limita o impacto emocional da narrativa. Por exemplo, sua decisão de abandonar dietas ou reconciliar-se com a família é apresentada como uma solução rápida, sem explorar as complexidades emocionais de tais mudanças. Além disso, o filme endossa uma visão conservadora sobre o papel das mulheres, sugerindo que o sucesso profissional de Lanie é menos importante do que encontrar felicidade no amor e na família — uma perspectiva que, como apontado pelo IMDb, raramente é aplicada a personagens masculinos.

Imagem: Primevideo / Reprodução

Outro tema presente é a crítica ao jornalismo sensacionalista. A vida de Lanie como repórter reflete a pressão por audiência e a superficialidade do meio, mas o filme não desenvolve essa crítica de forma consistente, usando-a mais como pano de fundo do que como um ponto central. A cena em que Lanie lidera os trabalhadores em greve, por exemplo, tenta abordar questões trabalhistas, mas sua execução cômica a torna trivial.

Quando lançado em 2002, "Uma Vida em Sete Dias" foi um fracasso comercial e crítico. Com um orçamento de US$40 milhões, arrecadou apenas US$16,8 milhões, refletindo sua falta de apelo nas bilheterias. No Rotten Tomatoes, o filme tem uma aprovação de apenas 28%, com críticas destacando sua previsibilidade e abordagem melodramática. O Omelete classificou o filme com 1/5, chamando-o de "um conjunto equivocado de peças infelizes", enquanto o Cineplayers reconheceu seu potencial como entretenimento leve, mas criticou sua administração pobre da premissa.

No entanto, o filme ganhou uma nova vida em 2025, quando chegou à Netflix e alcançou o topo das paradas em diversos países, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido. Essa redescoberta sugere que o filme ressoa com audiências contemporâneas, possivelmente devido à sua mensagem sobre aproveitar o tempo e buscar autenticidade em um mundo obcecado por aparências. Comentários no Letterboxd e posts no X, como o de @CamyllaFrigatto, indicam que espectadores modernos apreciam a mistura de humor, romance e reflexão, com muitos elogiando a performance de Jolie.

Essa reavaliação levanta questões sobre o contexto cultural. Em 2002, o filme pode ter sido visto como mais um drama genérico em um mercado saturado de comédias românticas. Em 2025, no entanto, sua mensagem sobre reavaliar prioridades em um mundo acelerado e digital parece mais relevante. Além disso, a presença de Angelina Jolie, uma figura icônica, contribui para o interesse renovado, especialmente entre fãs que valorizam seus papéis menos conhecidos.

"Uma Vida em Sete Dias" pode ser comparado a filmes como "As Confissões de Schmidt" (2002), que aborda temas semelhantes de forma mais sensível e bem-humorada, segundo o Omelete. Outra comparação relevante é com "Íntimo e Pessoal" (1996), que também explora os bastidores do jornalismo, mas com uma abordagem mais romântica e menos dramática. Diferentemente dessas obras, o filme de Herek não consegue equilibrar seus tons, oscilando entre o exagero cômico e o melodrama.

A premissa de confrontar a mortalidade também lembra filmes como "Antes de Partir" (2007), que trata o tema com mais profundidade emocional, e "O Último Feriado" (2006), que combina humor e reflexão de forma mais eficaz. A falta de inovação em "Uma Vida em Sete Dias" o coloca em desvantagem frente a essas obras, mas sua simplicidade pode ser um atrativo para quem busca entretenimento despretensioso.

"Uma Vida em Sete Dias" é um filme que promete mais do que entrega. Sua premissa — uma mulher confrontando a própria mortalidade em sete dias — é rica em potencial, mas a execução sofre com clichês, superficialidade e uma direção que não explora plenamente seus temas. Angelina Jolie e Tony Shalhoub oferecem performances sólidas, e a química com Edward Burns adiciona charme, mas o roteiro previsível e as escolhas narrativas limitadas impedem o filme de alcançar um impacto duradouro. Ainda assim, sua mensagem sobre valorizar o tempo e buscar autenticidade ressoa, especialmente em um contexto contemporâneo onde as pressões por sucesso e aparência permanecem relevantes.

O renascimento do filme na Netflix em 2025 sugere que ele encontrou um novo público, que aprecia sua mistura de comédia, romance e reflexão, mesmo que imperfeita. Como um estudo sobre as escolhas que damos à vida, "Uma Vida em Sete Dias" serve como um lembrete de que, mesmo com falhas, o cinema pode inspirar introspecção e debate. Para aqueles que buscam uma experiência leve com momentos de emoção, o filme cumpre seu papel, mas para quem deseja uma exploração mais profunda da condição humana, ele deixa a desejar. Em última análise, é uma obra que, como sugere seu título original, é "vida, ou algo assim" — imperfeita, mas com lampejos de significado.

CRÍTICA: Platoon (1986)

Imagem: Mubi / Reprodução

Platoon (1986), dirigido por Oliver Stone, é uma obra seminal do cinema de guerra que transcende o gênero ao oferecer uma visão crua, visceral e profundamente pessoal do conflito no Vietnã. Lançado em um momento em que os Estados Unidos ainda lidavam com as cicatrizes psicológicas e culturais da Guerra do Vietnã, o filme se destaca por sua autenticidade, impulsionada pela experiência de Stone como veterano, e por sua abordagem moralmente complexa, que evita glorificar a guerra ou demonizar seus participantes. Estrelado por Charlie Sheen, Willem Dafoe e Tom Berenger, Platoon é tanto um retrato da brutalidade do combate quanto uma meditação sobre a perda da inocência, a divisão moral e o impacto da guerra na psique humana. Esta crítica analisa todos os elementos do filme — narrativa, direção, atuações, fotografia, trilha sonora, design de produção, temas e impacto cultural —, oferecendo uma avaliação detalhada de sua relevância histórica e cinematográfica.

Platoon segue Chris Taylor (Charlie Sheen), um jovem voluntário americano que chega ao Vietnã em 1967, cheio de idealismo e ingenuidade. Integrado a um pelotão de infantaria na selva, Chris enfrenta não apenas o inimigo vietcongue, mas também as tensões internas entre seus companheiros, divididos entre dois sargentos opostos: Elias (Willem Dafoe), um líder compassivo e humanista, e Barnes (Tom Berenger), um comandante endurecido e implacável. À medida que Chris testemunha atrocidades cometidas por ambos os lados, incluindo um massacre em uma vila vietnamita, ele é forçado a confrontar sua própria moralidade e a brutalidade da guerra. O filme culmina em uma batalha devastadora que testa as lealdades do pelotão e marca a transformação de Chris de um novato idealista em um sobrevivente desiludido.

Lançado em 19 de dezembro de 1986, Platoon foi um marco no cinema de guerra, vindo na esteira de filmes como Apocalypse Now (1979) e The Deer Hunter (1978), mas distinguindo-se por sua perspectiva de trincheira, baseada nas experiências reais de Oliver Stone no Vietnã. Produzido com um orçamento modesto de US$ 6 milhões, o filme arrecadou mais de US$ 138 milhões globalmente e venceu quatro Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor. No Brasil, Platoon estreou em 1987, resonando com um público que via paralelos entre a desilusão do Vietnã e os desafios políticos da redemocratização. Sua abordagem realista e crítica consolidou-o como um clássico, influenciando gerações de cineastas e permanecendo relevante em discussões sobre guerra e moralidade.

A narrativa de Platoon é estruturada como uma jornada de amadurecimento, narrada em primeira pessoa por Chris Taylor através de cartas fictícias à sua avó. Essa narração em voz off, embora criticada por alguns como redundante, serve para ancorar o espectador na perspectiva de Chris, cuja ingenuidade inicial é gradualmente destruída pela realidade da guerra. O filme segue uma progressão linear, dividida em três atos: a chegada de Chris ao Vietnã, sua integração no pelotão e a batalha final, que funciona como um clímax moral e físico.

Stone utiliza uma abordagem quase documental, com cenas de combate caóticas e uma atenção meticulosa aos detalhes da vida na selva — o calor, os insetos, a exaustão. A narrativa é pontuada por momentos de introspecção, como as conversas noturnas no acampamento, onde os soldados fumam maconha e discutem a guerra, e por sequências de violência gráfica, como o massacre na vila, que ecoa eventos reais como o massacre de My Lai. A tensão entre Elias e Barnes, que representam polos morais opostos, é o cerne do conflito interno do pelotão, transformando Platoon em uma alegoria sobre a luta entre o bem e o mal dentro da humanidade.

O estilo narrativo de Stone é visceral e imersivo, rejeitando a romantização da guerra vista em filmes anteriores, como The Green Berets (1968). A comparação com Apocalypse Now é inevitável, mas enquanto o filme de Coppola adota um tom surreal e filosófico, Platoon é mais direto, focando na experiência cotidiana dos soldados rasos. Algumas críticas apontam que a narração de Chris pode ser excessivamente didática, explicando sentimentos que as imagens já transmitem, mas a força da narrativa reside em sua capacidade de capturar a desorientação e o trauma da guerra sem oferecer respostas fáceis.

Oliver Stone, que serviu no Vietnã em 1967-68, traz uma autenticidade inigualável a Platoon. Sua direção é marcada por uma urgência emocional e um compromisso com a verdade, resultado de sua experiência pessoal e de uma pesquisa rigorosa que incluiu entrevistas com veteranos. Stone exigiu que o elenco, composto principalmente por jovens atores, passasse por um treinamento militar intensivo nas Filipinas, onde o filme foi rodado, para capturar a exaustão e o desespero dos soldados. Essa imersão resultou em performances e cenas de combate que parecem dolorosamente reais.

Imagem: Mubi / Reprodução

A visão artística de Stone é definida por um equilíbrio entre realismo e simbolismo. A selva vietnamita, com sua vegetação densa e luz filtrada, é filmada como um espaço opressivo que engole os soldados, enquanto momentos como a morte de Elias, com os braços abertos em uma pose quase crística, elevam a narrativa a um nível alegórico. Stone também faz uso de contrastes, como a tranquilidade das cenas no acampamento contra a brutalidade das batalhas, para destacar a dualidade da experiência da guerra.

Apesar de sua força, a direção de Stone foi criticada por alguns como excessivamente melodramática, especialmente na trilha sonora e em momentos como a morte de Elias, que pode parecer estilizada demais. Além disso, a representação dos vietnamitas, embora limitada pela perspectiva americana, é às vezes estereotipada, com os civis e soldados inimigos recebendo pouco desenvolvimento. No entanto, essas limitações não diminuem o impacto da direção de Stone, que transforma Platoon em um testemunho poderoso sobre os custos da guerra.

O elenco de Platoon entrega performances memoráveis, com Charlie Sheen, Willem Dafoe e Tom Berenger formando o coração emocional do filme. Sheen, como Chris Taylor, captura a transformação de um jovem idealista em um homem marcado pelo trauma. Sua atuação, embora menos experiente que a de seus colegas, é crível, com momentos de vulnerabilidade que refletem a perda de inocência do personagem. A cena em que Chris confronta Barnes no clímax é um destaque, mostrando sua evolução de passividade para ação.

Willem Dafoe, como Elias, é a alma moral do filme. Sua interpretação combina força e compaixão, com um olhar que transmite empatia mesmo em meio ao caos. A cena de sua morte, icônica e frequentemente referenciada, é elevada pela intensidade de Dafoe, que transforma Elias em um símbolo de resistência à desumanização. Tom Berenger, como Barnes, oferece uma performance igualmente poderosa, retratando um homem endurecido pela guerra, cuja brutalidade é tanto aterrorizante quanto tragicamente humana. O confronto entre Elias e Barnes é um dos pontos altos do filme, com Dafoe e Berenger criando uma tensão palpável.

O elenco de apoio, incluindo Johnny Depp, Forest Whitaker e John C. McGinley, adiciona profundidade ao pelotão, com cada ator trazendo nuances aos seus papéis. A química entre os soldados, forjada durante o treinamento, é evidente nas cenas de camaradagem e conflito, criando a sensação de uma unidade real. A ausência de grandes estrelas na época da produção reforça a autenticidade, com os atores desaparecendo em seus papéis.

A fotografia de Robert Richardson, que mais tarde colaboraria com Stone em JFK e Nascido em 4 de Julho, é um dos pilares de Platoon. Filmado nas Filipinas, o filme utiliza a selva como um cenário opressivo, com uma paleta de verdes escuros e marrons que reflete o isolamento e o perigo. Richardson emprega iluminação natural, com luz filtrada pelas árvores criando sombras que aumentam a sensação de claustrofobia. As cenas de combate são caóticas, com movimentos de câmera rápidos e enquadramentos instáveis que capturam a desorientação da guerra.

O design de produção, liderado por Bruno Rubeo, é minimalista, mas eficaz, com os acampamentos improvisados e as vilas vietnamitas recriadas com atenção aos detalhes históricos. Os uniformes rasgados, as armas sujas e os rostos cobertos de suor dos soldados reforçam o realismo, enquanto objetos como rádios e cigarros evocam a cultura dos anos 60. A vila queimada durante o massacre é um dos cenários mais impactantes, com sua destruição servindo como um símbolo da devastação causada pela guerra.

A trilha sonora de Platoon é dominada pela icônica “Adagio for Strings” de Samuel Barber, que se tornou sinônimo do filme. A composição, usada em momentos-chave como a morte de Elias, adiciona uma camada de tragédia e eleva a narrativa a um nível universal. No entanto, alguns críticos, como Roger Ebert, apontaram que o uso repetitivo do “Adagio” pode ser excessivamente manipulador, embora sua potência emocional seja inegável.

O design de som, supervisionado por Gordon Daniel, é igualmente impressionante, com o rugido de helicópteros, o estalar de tiros e o som da selva — insetos, pássaros, chuva — criando uma imersão total. As explosões e os gritos dos soldados são mixados para refletir a confusão do combate, enquanto os momentos de silêncio, como as pausas entre batalhas, intensificam a tensão. Músicas diegéticas, como “Tracks of My Tears” de Smokey Robinson, tocadas nos rádios do pelotão, adicionam um toque de nostalgia e humanidade.


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Platoon é uma exploração profunda da moralidade em tempos de guerra, com Elias e Barnes representando os dois lados da alma humana. Elias, com sua compaixão e relutância em cometer atrocidades, é um símbolo da humanidade preservada, enquanto Barnes, com sua brutalidade e pragmatismo, encarna a desumanização causada pelo conflito. Chris, como o narrador, é o espectador, preso entre esses dois polos e forçado a escolher seu caminho.

O filme também aborda a perda da inocência, com a jornada de Chris refletindo a desilusão de uma geração que acreditava na guerra como uma causa nobre. A selva, com sua beleza e perigo, é uma metáfora para a guerra, um espaço onde as regras da civilização desaparecem. O massacre na vila vietnamita, inspirado em My Lai, é um dos momentos mais perturbadores, expondo a capacidade dos soldados comuns de cometerem atos monstruosos sob pressão.

A crítica ao imperialismo americano é sutil, mas presente, com o filme questionando a justificativa da intervenção no Vietnã. A diversidade do pelotão, com soldados negros, brancos e latinos, reflete as tensões raciais dos EUA na época, enquanto a camaradagem entre eles sugere uma unidade forjada pela adversidade. A cena final, com Chris refletindo sobre sua experiência, é uma meditação sobre a sobrevivência e a responsabilidade de carregar as lições da guerra.

Platoon foi um sucesso crítico e comercial, com uma aprovação de 88% no Rotten Tomatoes e elogios de críticos como Pauline Kael, que o chamou de “um grito de angústia”. No Brasil, o filme foi recebido com entusiasmo, especialmente por sua relevância em um período de redemocratização, com críticos do Jornal do Brasil destacando sua honestidade brutal. No entanto, alguns veteranos criticaram o filme por exagerar a violência interna do pelotão, enquanto outros o elogiaram por capturar a essência do Vietnã.

O impacto cultural de Platoon foi profundo, influenciando filmes de guerra como Saving Private Ryan (1998) e Black Hawk Down (2001). Sua abordagem realista redefiniu o gênero, afastando-o da glorificação e aproximando-o da crítica social. No Brasil, o filme ressoou com discussões sobre militarismo e violência, especialmente em um contexto de transição política. A cena da morte de Elias tornou-se um ícone cultural, referenciada em filmes, músicas e memes.

Comparado a A Zona de Interesse (2023), Platoon é mais visceral e narrativo, mas ambos exploram a moralidade em contextos extremos. Em relação a Saltburn (2023), que também apresenta Barry Keoghan, Platoon é mais sóbrio, mas compartilha a intensidade emocional. O Mal Não Existe (2023), de Ryûsuke Hamaguchi, oferece um contraponto contemplativo, enquanto Acabe com Eles (2024) ecoa os temas de violência e culpa em um cenário rural.

Platoon é uma obra-prima do cinema de guerra que combina autenticidade, intensidade emocional e uma crítica poderosa ao custo humano do conflito. Oliver Stone, com sua direção visceral, atuações brilhantes de Willem Dafoe, Tom Berenger e Charlie Sheen, e uma fotografia imersiva, cria um filme que é tanto um testemunho histórico quanto uma meditação atemporal sobre a moralidade. Apesar de algumas críticas ao seu tom melodramático, Platoon permanece um marco do cinema, capturando a desilusão de uma geração e desafiando o espectador a confrontar as complexidades da guerra. No Brasil, sua relevância persiste em debates sobre violência e responsabilidade, enquanto seu impacto global o consagra como um clássico indispensável. Platoon não é apenas um filme sobre o Vietnã, mas uma reflexão profunda sobre o que significa ser humano em meio ao caos.

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