"A Hora do Mal", o novo épico de terror de Zach Cregger, chegou aos cinemas envolto em um burburinho colossal, prometendo ser o novo divisor de águas do gênero. No entanto, ao contrário de seu aclamado trabalho anterior, este filme se revela uma experiência frustrante: uma produção que mira nas estrelas da narrativa complexa, mas tropeça feio, entregando um enredo que é, no final das contas, simples e insatisfatório, mascarado por uma estrutura pretensiosa.
A Questão da Estrutura: Enrolação Disfarçada de Arte
O filme adota uma abordagem fragmentada, dividida em capítulos, cada um focado no ponto de vista de um personagem diferente. A intenção, claramente, é criar um quebra-cabeça angustiante e multifacetado, evocando a grandiosidade de épicos como Magnólia, como o próprio diretor mencionou.
No entanto, essa escolha narrativa se torna o calcanhar de Aquiles do filme. Em vez de aprofundar a trama ou os personagens, a repetição de eventos sob diferentes ângulos soa como uma manobra para alongar uma história que, em sua essência, é bastante rasteira. Críticos apontaram que o mistério poderia ter sido resolvido de forma muito mais direta, e as voltas e reviravoltas acabam sendo redundantes, retardando a progressão em vez de enriquecê-la. O que começa como um recurso engenhoso rapidamente se transforma em enrolação (na falta de palavra melhor), esvaziando a tensão em momentos cruciais.
Enredo e Resolução: O Vazio por Trás do Hype
A premissa é excelente: 17 crianças de uma mesma turma desaparecem misteriosamente no meio da noite, deixando para trás o pânico em uma pacata cidade suburbana. O clima de terror e suspense é construído com habilidade na primeira metade. Contudo, quando o filme finalmente decide revelar suas cartas, a decepção é palpável.
A explicação para o desaparecimento é simplória para um épico de duas horas de duração. O que se desenha é um misto de folclore barato e clichês de possessão, que poderia ter sido resolvido em um curta-metragem. O suspense se dilui, e a trama, que parecia prometer profundidade psicológica ou um comentário social afiado, recua para uma solução preguiçosa. A grandiosidade prometida no início é substituída por uma conclusão que muitos consideraram "forçada" e "carente de substância", aquém do que a expectativa gerada.
Com um elenco de peso, incluindo Julia Garner e Josh Brolin, a expectativa era de performances complexas. No entanto, o formato de capítulos, ironicamente, prejudica o desenvolvimento dos personagens. Muitos deles servem apenas como veículos narrativos para nos guiar por um pedaço da história, sem aprofundamento psicológico real.
A professora Justine Gandy, por exemplo, apesar do histórico complicado e do vício em álcool, acaba sendo um estereótipo funcional. O espectador tem dificuldade em se conectar ou se importar profundamente com o destino desses indivíduos, que parecem mais caricaturas inseridas para cumprir uma função do que seres humanos tridimensionais. A falta de um protagonista claro, com quem o público possa se envolver, é outro fator que dilui o impacto emocional.
Em termos cinematográficos, Cregger demonstra competência técnica, mantendo uma atmosfera tensa e claustrofóbica no início. Há momentos de estranheza visual que, de fato, geram desconforto.
O problema reside na inconsistência tonal. O filme flerta com o terror psicológico, o thriller investigativo e, em vários momentos, com a comédia. Essa mistura, que em Barbarian funcionou bem, aqui parece desorganizada. Muitas cenas, especialmente no clímax, são descritas por parte do público como "hilárias" ou "caricatas", quebrando completamente a imersão. O que deveria ser um espetáculo brutal de horror se transforma em uma sequência de gore exagerado com um toque de humor negro que, para muitos, apenas reforça a falta de seriedade na resolução da trama.
Veredito Final: Um Lixo Bem Maquiado?
"A Hora do Mal" é o perfeito exemplo de ambição sem sustentação. É um filme que se esforça para parecer inventivo e épico, mas que, sob a maquiagem de uma estrutura engenhosa e uma atmosfera bem construída, esconde um vazio de enredo e personagens superficiais. O buzz em torno da produção e a promessa de ser o "melhor terror do ano" se revelam um exagero. No final das contas, o filme deixa um gosto amargo: uma tentativa de horror épico que se perde na própria pretensão, entregando apenas um desfecho simplório e insatisfatório.



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