O MUBI, serviço de streaming cultuado por cinéfilos por sua curadoria de filmes de arte e independentes, tem enfrentado um período de intensa turbulência, oscilando entre um crescimento agressivo no mercado de distribuição e fortes polêmicas sobre seus investidores. A chegada de grandes títulos, como o aclamado filme de terror "A Substância", ilustra a expansão da plataforma, ao mesmo tempo que levanta questões sobre sua identidade original e suas decisões financeiras.
O Impacto do Investimento Polêmico
A maior crise de imagem da MUBI foi desencadeada pela revelação de um aporte de US$ 100 milhões recebido da venture capital Sequoia Capital. O investimento, que catapultou a empresa para um valor de mercado de US$ 1 bilhão, veio acompanhado de uma série de críticas globais devido às ligações da Sequoia.
A Raiz da Controvérsia: A Sequoia Capital mantém laços financeiros com a Kela, uma startup israelense de tecnologia militar que desenvolve sistemas operacionais para uso em campos de batalha.
O Chamado ao Boicote: Em um contexto de conflito e crise humanitária, a conexão entre o financiador da MUBI e uma empresa ligada à tecnologia militar de Israel gerou uma onda de indignação na comunidade de cinema e entre os assinantes. Muitos exigiram que a MUBI recusasse o investimento e iniciaram campanhas de boicote nas redes sociais, considerando a parceria um conflito ético grave para uma plataforma que se posiciona como um espaço de arte e cultura.
A Resposta da MUBI: A MUBI defendeu a decisão, afirmando que a parceria com a Sequoia e seus líderes é estratégica para expandir a missão de levar um "ótimo cinema" a mais pessoas. A empresa reforçou seu compromisso com a independência editorial, mas a explicação não foi suficiente para aplacar as críticas de parte de sua base de usuários mais engajada.
"A Substância": O Trunfo de Distribuição e a Questão da HBO Max
Em meio às polêmicas financeiras, a MUBI consolidou sua ascensão como uma distribuidora global de peso com a aquisição de "A Substância" (The Substance), um body horror estrelado por Demi Moore e Margaret Qualley, dirigido por Coralie Fargeat.
Vitória em Hollywood: O filme, que foi rejeitado pela Universal Pictures, foi adquirido pela MUBI e se tornou um enorme sucesso de crítica, vencendo o prêmio de Melhor Roteiro em Cannes e recebendo indicações importantes (incluindo o Oscar em 2025, de acordo com as fontes). A aquisição foi um marco que "catapultou a MUBI para um verdadeiro player em Hollywood pela primeira vez", segundo o CEO Efe Cakarel, provando a ambição da plataforma para além do nicho.
O Caminho Duplo: MUBI e HBO Max: O aspecto mais intrigante da distribuição de "A Substância" no streaming é o seu duplo catálogo. Embora o MUBI tenha sido a distribuidora responsável pela estreia do filme no streaming (disponibilizando-o a partir de 31 de Outubro, em data próxima ao seu lançamento no Brasil), o filme também está ou esteve disponível na plataforma HBO Max (agora Max) em algumas regiões.
A Conexão do Streaming
O fato de um dos maiores sucessos de distribuição da MUBI aparecer em uma plataforma mainstream como a HBO Max (ou ser licenciado para ela) está diretamente ligado à nova estratégia da empresa:
Monetização do Conteúdo: Para justificar grandes investimentos em aquisições globais e produção original — financiados em parte pelo aporte controverso da Sequoia —, a MUBI precisa maximizar o retorno financeiro. Licenciar o filme para um serviço de maior alcance como a HBO Max/Max em territórios específicos (ou após uma janela de exclusividade) é uma prática de mercado comum e necessária para bancar os custos de produção e distribuição.
Identidade Diluída: Esse movimento, embora financeiramente sólido, reforça a percepção de alguns usuários de que a MUBI está abandonando sua essência "cult" e se transformando em um "canal MUBI" focado em seus próprios lançamentos (ou licenciamentos), em detrimento da curadoria de filmes menos conhecidos.
Em suma, "A Substância" representa o sucesso e a nova ambição da MUBI no mercado de entretenimento, mas a necessidade de monetizar esse sucesso – que pode incluir licenciar para concorrentes – expõe as tensões geradas pelo alto investimento e as críticas éticas sobre a origem desse capital. A plataforma, hoje, tenta equilibrar a alta arte com as realidades financeiras de um grande player global.
🗞️ MUBI: O Cult de Cinema em Meio a Crises Éticas e Expansão Agressiva
O serviço de streaming MUBI, reverenciado por sua curadoria refinada no universo do cinema de arte e independente, encontra-se num momento de intensa contradição. Enquanto se consolida como um player global na distribuição de filmes de prestígio, enfrenta um boicote ético de parte de seu público e uma crise de identidade editorial.
💣 A Polêmica Ética e a Sequoia Capital
A turbulência mais grave na MUBI tem origem em seu recente e bem-sucedido crescimento financeiro. A plataforma recebeu um aporte de US$ 100 milhões do influente fundo de venture capital Sequoia Capital, que a elevou à categoria de "unicórnio" (empresa avaliada em mais de US$ 1 bilhão).
O problema: A Sequoia Capital mantém vínculos financeiros com a Kela, uma startup israelense que desenvolve tecnologia para uso militar. Essa ligação desencadeou uma forte reação de boicote por parte de cinéfilos e críticos, especialmente em solidariedade aos civis palestinos afetados pelo conflito.
O Dilema: Para os críticos, uma empresa que se propõe a ser um santuário para a cultura, a diversidade e o cinema autoral não pode aceitar capital ligado, ainda que indiretamente, à indústria bélica e militar.
A Posição da MUBI: A plataforma se defendeu alegando que a Sequoia foi escolhida por apoiar sua missão de levar o cinema a mais pessoas e reiterou sua independência editorial. Contudo, para muitos, o apelo da arte foi superado pela frieza do capital de risco, abalando a confiança na curadoria "opinativa" e humanista da plataforma.
🩸 O Sucesso Controverso de 'A Substância'
O filme "A Substância" (The Substance), um body horror aclamado e distribuído pela MUBI, é o principal símbolo da nova era da empresa, representando tanto seu sucesso inegável quanto as tensões de sua expansão.
O Triunfo e o Terror Corporal
O longa-metragem, escrito e dirigido por Coralie Fargeat e estrelado por Demi Moore (em atuação elogiada) e Margaret Qualley, chacoalhou o Festival de Cannes e se tornou um dos filmes mais comentados do ano, sendo premiado e cotado para o Oscar.
Aclamação da Crítica: A crítica especializada recebeu o filme com entusiasmo extremo, chamando-o de "uma tonelada de dinamite explodindo" e um "clássico instantâneo do horror corporal" (Omelete), destacando a sátira cáustica à vaidade feminina, ao etarismo e à ditadura da beleza na indústria.
Divisão do Público: Em contraste, o público se mostrou profundamente dividido. Muitos consideraram o filme "bizarro," "grosseiro" e "sem noção" (AdoroCinema), com vários espectadores chegando a sair do cinema, provando que o terror explícito e o tom satírico e deliberadamente repulsivo da obra não agradaram a todos.
A Questão da HBO Max e a Venda de Janela
O fato de "A Substância" ter sido um Lançamento MUBI — ou seja, um filme adquirido ou produzido por eles — e, em determinado momento, estar disponível na HBO Max/Max (a depender da região e da janela de lançamento) tem tudo a ver com a polêmica da Sequoia Capital.
Justificativa Financeira: A compra de um filme de grande porte e potencial comercial como "A Substância" exige um investimento significativo. Para recuperar o capital e gerar lucro para seus novos (e controversos) investidores, a MUBI precisa buscar fontes de receita agressivas.
Licenciamento como Necessidade: Licenciar um sucesso de distribuição para uma plataforma mainstream com maior alcance global, como a HBO Max/Max, é uma forma de garantir essa monetização. Embora pareça contraditório que o principal filme de um serviço cultuado apareça no catálogo de um grande competidor, isso demonstra que a MUBI está operando como um estúdio de distribuição em larga escala, precisando ceder parte de suas janelas de exclusividade para financiar sua expansão.
📈 A Expansão Editorial e de Eventos
A MUBI não está apenas investindo em filmes e sofrendo boicotes; ela também se ramifica em novas áreas que reforçam seu status de curadora cultural total.
MUBI Editions: A empresa lançou a MUBI Editions, um novo braço editorial que planeja publicar livros sobre cultura cinematográfica, design e arte, começando por "READ FRAME TYPE FILM" em colaboração com o Centre Pompidou.
MUBI FEST: A plataforma também expandiu a realização do MUBI FEST, levando festivais de cinema, música e bate-papos a cidades como o Rio de Janeiro.
Essas iniciativas, ao lado da chegada de filmes aclamados como "Licorice Pizza" (Paul Thomas Anderson) e coleções dedicadas a cineastas como Lars von Trier ("Dancer in the Dark") e Krzysztof Kieślowski ("Trilogia das Cores"), mostram que a MUBI mantém sua excelência curatorial, mesmo enquanto lida com as complexidades éticas e econômicas de se tornar um player bilionário em Hollywood.
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