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[RESENHA #700] A abadia de Northanger, de Jane Austen

Catherine Morland, dezessete anos, coração puro, é uma mocinha ingênua, viciada em livros repletos de desventuras horripilantes e amores trágicos. Sabendo sobre a vida apenas o que leu nos romances, ela sai de seu obscuro vilarejo natal para passar uma temporada em Bath, estação balneária frequentada pela aristocracia inglesa, onde conhece bailes excitantes, uma amiga amabilíssima, um cavalheiro encantador e outro insuportável. E sai de Bath para ser hóspede, como num sonho, de uma abadia. A antiga construção, porém, revelará sinais misteriosos, indícios de que foi cenário, no passado, de um crime medonho. Exatamente como ela lera nos livros.

RESENHA 

“Abadia de Northanger” é o primeiro romance concluído por Jane Austen, embora não tenha sido publicado durante sua vida. É notavelmente mais curto do que seus outros trabalhos e pode surpreender os leitores com seus elementos únicos. O livro é uma combinação de uma história de amadurecimento e uma sátira da obsessão pelos romances góticos, o que pode fazer com que “Abadia de Northanger” pareça um conto de advertência para os tempos modernos.

A protagonista, Catherine Morland, é a quarta de dez filhos do Sr. Morland, um clérigo rural. Na infância, Catherine era uma espécie de moleca, preferindo o críquete a atividades mais femininas. Ela não era menos inteligente, mas faltava-lhe a concentração e a persistência para se destacar. Apesar disso, ela tinha um bom coração e não era teimosa nem briguenta.

Quando chegou à adolescência, Catherine começou a se interessar por coisas consideradas apropriadas para as mulheres, uma mudança que não passou despercebida. No entanto, vivendo em Wiltshire, na aldeia de Fullerton, ela estava privada da vida social que uma jovem de sua idade deveria desfrutar. Uma oportunidade inesperada surge quando o Sr. Allen, um amigo da família, precisa ir a Bath para tratar de sua gota. Os Allen se oferecem para levar Catherine com eles.

Embora Bath prometa ser movimentada durante a alta temporada, com bailes diários, Catherine passa a maior parte do tempo acompanhando a Sra. Allen nas compras, já que não conhecem ninguém na cidade.

Após alguns dias, eles conhecem o Sr. Tilney, um jovem que inicialmente parece um pouco peculiar para Catherine, mas possui um charme que conquista os Allen e garante a sua companhia. Catherine logo se encontra ansiosa para encontrá-lo em cada baile, mas assim que ela começa a sentir isso, Tilney está ausente do próximo evento. Felizmente, a Sra. Allen reencontra uma antiga amiga, a Sra. Thorpe, que está em Bath com alguns de seus filhos.

Isabella Thorpe rapidamente se torna uma amiga próxima de Catherine. Quatro anos mais velha e um pouco mais experiente, Isabella se conecta com Catherine através de seu amor mútuo por romances góticos. Elas também passam tempo juntas discutindo sobre homens; suas falhas e como lidar com elas. O irmão de Isabella, John, que está estudando em Oxford com o irmão de Catherine, James, também está em Bath.

Da vida anteriormente tranquila e protegida, Catherine é subitamente lançada em uma cena social bastante movimentada entre os Allen, os Tilney e os Thorpes. Há muitas oportunidades para diversão e antagonismo, para mal-entendidos e travessuras, para amor e ressentimento.

Como mencionado anteriormente, “Abadia de Northanger” é um dos dois romances de Jane Austen, juntamente com “Persuasão”, que não foram publicados durante sua vida. É também o primeiro que ela completou e o mais curto. Foi o último dos seus seis romances principais que li e, na minha opinião, parece bastante diferente dos outros.

A primeira coisa que chama a atenção é a voz única do narrador. Em outras obras, a narração de Austen parece neutra e imparcial, mas aqui ela é obstinada e envolvida. E o humor é diferente do que se esperaria de Austen – é sarcástico, até irônico.

A Sra. Allen pertence àquela vasta classe de mulheres que, para a sociedade, só conseguem provocar surpresa pelo fato de existirem homens no mundo que possam gostar delas o suficiente para se casar. Ela não possuía beleza, talento, realizações ou maneiras. A postura de uma dama, um temperamento calmo e inativo e uma mentalidade insignificante eram tudo o que poderia justificar sua escolha por um homem sensato e inteligente como o Sr. Allen.

As opiniões de Austen não são segredo para ninguém. Mesmo que você não soubesse nada sobre este romance antecipadamente, fica claro que Austen está criando uma paródia do romance gótico com um efeito satírico. “Abadia de Northanger” contém vários dos tropos familiares do romance gótico – mistério, medo, escuridão e melodrama. Embora ela provavelmente tenha considerado várias obras góticas ao elaborar esta resposta, ela parece estar particularmente focada em “Os Mistérios de Udolpho”, de Ann Radcliffe.

No entanto, durante grande parte do romance, Austen deixa de lado esse motivo, o narrador retorna ao segundo plano e somos apresentados a uma comédia romântica de boas maneiras, mal-entendidos e falsas presunções que conhecemos de Austen. Isso faz com que o romance pareça um pouco desconexo; composto por dois estilos distintos. Pode parecer que Austen não consegue sustentar sua sátira ou opiniões e deve voltar a ser seu eu natural. Ou talvez, como sugere a introdução desta edição, Austen se apaixonou por seus personagens e não queria vê-los sofrer.

Por outro lado, esses dois aspectos destacam o contraste entre o realismo de Austen e o melodrama gótico. Isso reflete o conflito interno de Catherine. Com apenas dezessete anos no início do romance, Catherine é uma jovem ingênua e impressionável. Embora seu amor pelos romances góticos dê a Isabella e Catherine algo para se conectar, o drama constante de estar na companhia de Isabella e John é algo que Catherine acha mais desafiador. Eles têm uma abordagem presunçosa da vida cotidiana e tendem a expressar suas opiniões sem muita filtragem. Catherine descobre que não pode, em boa consciência, aceitar isso. Devo admitir que fiquei bastante agitado por Catherine, o que é um crédito para Austen.

“Na verdade, você está sendo injusto comigo; eu nunca faria um comentário tão impróprio; e além disso, tenho certeza de que isso nunca teria ocorrido para mim.”

Isabella sorriu com descrença e passou o resto da noite conversando com James.

A influência do que Catherine leu não é tão fácil de superar e quase provoca sua queda quando sua imaginação se torna muito ativa dentro das paredes da casa da família Tilney, a Abadia de Northanger. Austen não é sutil em relação à conexão causal. Ela faz várias referências a como o que Catherine leu a levou por esse caminho, fornecendo razões pelas quais isso é uma rendição ao improvável, em contraste com o realismo do mundo e, por associação, de Austen.

Seus pensamentos ainda estavam presos principalmente no que ela havia sentido e feito com tanto medo sem motivo, ficou rapidamente claro que tudo tinha sido uma ilusão autoimposta e voluntária, cada detalhe insignificante ganhando importância de uma imaginação determinada a se alarmar, e tudo sendo forçado a se adequar a um propósito por uma mente que, antes de entrar na Abadia, estava ansiosa para se assustar. Ela se lembrou dos sentimentos com que se preparou para conhecer Northanger. Ela percebeu que a paixão havia sido criada, a travessura decidida muito antes de ela deixar Bath, e parecia que tudo poderia ser atribuído à influência daquele tipo de leitura que ela ali se entregava.

Sendo jovem e ingênua, os sentimentos conflitantes de Catherine em relação aos seus novos amigos, o choque de suas fantasias góticas com a realidade, servem como meio de seu amadurecimento. Portanto, “Abadia de Northanger” é também um romance sobre a maioridade; alcançando esta jornada familiar através de alguns obstáculos menos familiares.

Eu não sugeriria a leitura da edição Wordsworth Classics que li. Normalmente, eu leio Penguin Classics, mas não queria comprar outro exemplar de “Abadia de Northanger” quando já tinha este na estante. A Penguin tem uma posição forte neste mercado e acho que algumas pessoas a evitam por esse motivo, mas eles merecem. Esta edição mostra porquê. É muito útil para o leitor comum como eu ter notas para palavras e expressões idiomáticas que caíram em desuso. 

Ao terminar “Abadia de Northanger”, completei a leitura dos seis principais romances de Austen. No entanto, ao longo de vários anos, é difícil fazer comparações. Acredito que há um consenso geral de que “Orgulho e Preconceito” é o favorito mais divertido e popular, enquanto “Emma” é o favorito da crítica. Meus próprios sentimentos refletem isso. Acho que provavelmente irei reler “Orgulho e Preconceito” e “Emma” algum dia. “Persuasão” também, já que é o favorito da minha esposa e mal me lembro dele! “Abadia de Northanger” pode não ser a favorita de muitos, mas é uma inclusão interessante na obra de Austen e talvez eu tenha que mantê-la em mente se algum dia ler alguns dos primeiros romances góticos pelos quais Austen tinha sentimentos tão fortes.

Também vivemos em uma época em que se pode argumentar que muitos se renderam à fantasia. Assim como a leitura de romances góticos de Catherine, hoje podemos encontrar pessoas, não necessariamente tão jovens quanto Catherine, vítimas de falsidades convenientes, ideologias bem-intencionadas, ficções que aumentam a autoestima e até mesmo uma sensação de liberdade e alívio em mentir abertamente, que encontram online. As previsões de uma colisão devastadora com a realidade ou de uma codificação da ficção em algo semelhante a uma nova religião parecem plausíveis, cada uma com consequências aparentemente indesejáveis ​​para todos nós. Nesse ambiente, podemos ler “Abadia de Northanger” como um conto de advertência relativamente inconsequente.

Outras resenhas de Jane Austen que talvez você queira ler:

Orgulho e Preconceito
Amor e Amizade
Sanditon
Razão e sensibilidade
Emma
Lady Susan
Mansfield Park
A história da Inglaterra
Os Watson
Persuasão


A AUTORA

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.


A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.


[RESENHA #699] Lady Susa, de Jane Austen

As histórias aqui apresentadas, que pertencem ao que se costuma chamar de “juvenília” de Jane Austen, são obras escritas ou esboçadas quando a autora ainda era adolescente. Neste volume o leitor se divertirá lendo “Frederic e Elfrida”, “Jack e Alice”, “Edgar e Emma”, “Henry e Eliza”, “Amor e amizade”, “Uma história da Inglaterra”, “As três irmãs”, “Lesley Castle”, “Evelyn”, “Catharine ou O caramanchão” e “Lady Susan”, além dos dois textos inacabados, escritos quando já mais madura: “Os Watsons” e "Sanditon”.

RESENHAS

Lady Susan, de Jane Austen, é um romance epistolar que nunca recebeu tanta atenção quanto seus outros seis romances principais.

A obra, escrita entre 1793 e 1794, quando Austen ainda era uma adolescente, é uma das primeiras tentativas da autora de escrever neste formato. O manuscrito permaneceu inédito até 54 anos após a morte de Austen, sendo publicado pela primeira vez em 1871.

A história gira em torno de Lady Susan Vernon, uma viúva de trinta e poucos anos que está determinada a se casar novamente com um homem rico. Ela é uma mulher bonita e inteligente, mas também é manipuladora e sem escrúpulos. Ao chegar à propriedade de seus sogros, Lady Susan logo se envolve com Reginald De Courcy, o irmão mais novo de sua cunhada. Reginald é um jovem ingênuo e facilmente impressionado, e Lady Susan logo o conquista.

Enquanto isso, Lady Susan também está tentando casar sua filha, Frederica, com um homem rico, mas Frederica não está interessada no casamento. Lady Susan usa sua influência para tentar forçar Frederica a se casar, mas Frederica consegue escapar. No final, Lady Susan é desmascarada e Reginald se afasta dela. Lady Susan é forçada a deixar a Inglaterra e Frederica é finalmente livre para viver sua própria vida.

Imensamente engraçada e artisticamente melodramática, Lady Susan é um romance adormecido de Jane Austen, cuja maior falha reside na comparação com suas irmãs mais novas. Como poucos romances podem superar ou igualar as obras-primas de Miss Austen, Lady Susan deve ser tomada pelo que realmente é - uma peça encantadora e altamente divertida de uma autora estreante que não apenas nos apresenta personagens interessantes e provocantes, mas também revela sua compreensão precoce das maquinações sociais. e ótima linguagem. Seu maior desafio parece ser as limitações do formato epistolar, onde a narrativa se desenrola através da perspectiva de uma pessoa e depois das reações e reações de outra, o que não permite a energia do diálogo direto ou da grande descrição de uma cena ou cenário. Apesar de suas falhas, ainda é uma joia brilhante; inteligente, engraçado e curiosamente malvado.

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A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.


[RESENHA #698] Sanditon, de Jane Austen


Sanditon foi o último romance de Jane Austen, escrito quando estava gravemente doente, um legado inacabado à sobrinha. Um texto que oferece um vislumbre dos poderes criativos finais e das preocupações de uma das maiores figuras da literatura inglesa. Elogiados pela crítica e estudados por acadêmicos, os romances de Jane Austen perduram por causa de sua popularidade entre os leitores. As observações espirituosas e astutas da autora elevam seus contos de festas, fofocas e romance em questões de drama cativante, oferecendo um retrato evocativo da vida cotidiana nas cidades e no campo da Inglaterra da época da regência.

RESENHA

“Sanditon” - um fragmento de onze capítulos deixado por Jane Austen após sua morte, completado com maestria por um devoto e romancista de Austen - é uma adição encantadora aos amados livros de Austen sobre o mundo da alta sociedade inglesa e o engano, o esnobismo e os romances inesperados que o animam. Quando Charlotte Heywood aceita um convite para visitar o recém-moderno resort à beira-mar de Sanditon, ela é apresentada a uma variedade de sociedade educada, desde a viúva local dominante, Lady Denham, até sua pupila empobrecida, Clara, e desde o belo e irresponsável Sidney Parker até suas irmãs divertidas, embora hipocondríacas. Uma heroína cujo bom senso está frequentemente em guerra com o romance, Charlotte não pode deixar de observar ao seu redor tanto a loucura quanto a paixão sob vários disfarces. Mas será que a sensata Charlotte consegue resistir às atrações do coração? (Resumo do livro - Imagem de thriftbooks.com)

Minha crítica: Em 1817, Jane Austen adoeceu e faleceu após escrever apenas onze capítulos de seu último romance. O manuscrito parcial foi publicado posteriormente em 1925, mas, como seria de esperar, o texto curto e inacabado pouco fez para satisfazer seus fãs. Desde então, várias tentativas foram feitas para finalizar a obra de Austen. Nesta edição de “Sanditon”, a narrativa original de Austen permanece inalterada, mas no meio do décimo primeiro capítulo, sua história é misturada e então retomada por uma autora anônima conhecida apenas como ‘outra senhora’ (agora conhecida como Marie Dobbs) que termina a famosa última obra de Austen. Em 2019, a BBC lançou um programa com o mesmo nome vagamente baseado no manuscrito original de Austen. Foi cancelado após uma temporada e terminou em um momento de angústia que devastou os fãs, que ansiavam por uma resolução. Suspeito que seja por isso que alguns de vocês estão aqui, então vou dar minha opinião sobre o livro primeiro, mas depois discutirei como esta edição se compara à série da BBC e se a leitura dela trará felicidade a Charlotte e Sidney para sempre.

Após a família Heywood prestar assistência ao abastado Tom Parker e sua esposa Mary, a jovem Charlotte Heywood é convidada a visitar a residência deles na nova cidade turística à beira-mar de Sanditon. Lá, ela conhece uma variedade de pessoas - principalmente a benfeitora da cidade, Lady Denham, e vários de seus parentes; Adela Lambe, uma herdeira das Índias Ocidentais; e os irmãos Parker, Sidney, Arthur, Diana e Susan. Como na maioria dos romances de Austen, “Sanditon” está repleto de esquemas de casamento, um pouco de escândalo e muitos sussurros e interpretações errôneas de sinais. A própria Charlotte é linda, inteligente, franca e muito interessada em observar as idas e vindas da cidade e tirar conclusões sobre seus habitantes, especialmente em relação a um certo Sidney Parker. Embora ela não tenha certeza do que fazer com o comportamento do cavalheiro, com o passar do tempo três coisas ficam bastante claras: Sidney é elegível, incrivelmente talentoso na arte da persuasão e definitivamente está tramando algo.

Não sou especialista em todas as coisas de Austen nem estou particularmente familiarizado com seu estilo de escrita, então levei alguns capítulos para meu cérebro se ajustar à linguagem mais clássica. Eu não tinha certeza de quando os capítulos de Austen terminariam, mas a certa altura a escrita mudou. Uma pesquisa no Google depois e, com certeza, cheguei ao final do texto original de Austin. A transição não foi terrivelmente chocante – apenas perceptível. Em vez de parecer uma correspondência exata, parecia Austenlite . Provavelmente serei espetado por dizer isso, mas embora tenha gostado do enredo original de Austen, na verdade preferi a versão que era um pouco mais fácil de ler.

Eu queria torcer por Charlotte e Sidney, mas no meio do livro eu nem tinha certeza se gostava muito dele. Meus sentimentos confusos provavelmente podem ser atribuídos ao fato de que sua personalidade entrou em conflito direto com outras versões de si mesmo já presas na minha cabeça. No entanto, a própria Charlotte Heywood deste livro também não parecia tão certa de seus sentimentos e passa muito tempo refletindo sobre isso. Suponho que não deveria ficar surpreso, pois a incerteza, as mudanças rápidas e o lento reconhecimento de sentimentos são algo pelos quais Austen é conhecida (Elizabeth em relação a Darcy em “Orgulho e Preconceito”, Marianne Dashwood em relação ao Coronel Brandon em “Razão e Sensibilidade”, Emma Woodhouse em relação ao Sr. Knightley em “Emma”, etc.) Charlotte e Sidney chegam lá, eventualmente, mas eu teria gostado que a atração deles fosse um pouco mais óbvia por mais tempo, só para que eu pudesse me divertir um pouco.

Em última análise, este livro fornece o que muitos procuram: um encerramento. Vários personagens têm finais felizes (embora talvez não os que você espera) e a verdadeira ‘ferramenta’ do livro é exposta. Fiquei satisfeito com tudo isso. Há várias reviravoltas no final do livro que eu não esperava, o que fez as páginas finais voarem e descobri que gostei bastante de como o final de Charlotte e Sidney se desenrolou.

Leia a resenha de outras obras da autora:

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Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.

A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.


[RESENHA #697] Amor e Amizade, de Jane Austen

Jane Austen (1775-1817), uma das romancistas mais importantes da literatura universal, viu os quatro romances que publicou em vida caírem na graça do público. Porém, são pouco conhecidos entre nós os primeiros trabalhos da autora, que começou a escrever ainda criança. Este volume traz três desses textos ficcionais de juventude, todos na forma de narrativas epistolares – contadas através de cartas. A novela "Amor e amizade", de 1790, mostra a troca de correspondência entre Laura, uma mulher madura, e Marianne, a jovem filha de uma amiga. A história inclui amores proibidos e fugas da família, além de muitos – e hilários – desmaios. “As três irmãs” e “Uma coleção de cartas”, escritas entre 1791 e 1792, dão novas amostras do estilo cômico e do gênio que se tornariam marca registrada da grande autora.

RESENHA 

Amor e Amizade de Jane Austen (sim, ela escreveu dessa maneira) faz parte do segundo volume de Juvenilia de Austen, as curtas obras que ela escreveu entre 1787 e 1793 principalmente para diversão de sua família. Amor e Amizade é um pequeno romance epistolar com o subtítulo "Beguiled in Friendship and Betrayed in Love" e mostra o humor e a inteligência de Austen. A partir desses primeiros escritos, podemos ver Austen trabalhando em obras-primas literárias (na minha opinião) que os leitores ainda amam quase 200 anos após sua morte.

A novela começa com Laura contando a Marianne sobre o seu primeiro amor, Edward Falkland. Laura e Edward se apaixonam perdidamente, mas o seu amor é proibido, pois Edward é um homem pobre. Laura é obrigada a se casar com um homem rico e poderoso, Sir William Manderley.

Laura é infeliz no seu casamento, mas ela continua a amar Edward. Ela finalmente consegue fugir de Sir William e se encontrar com Edward. Os dois se casam e vivem felizes para sempre.

Além da história de Laura e Edward, Amor e Amizade também conta a história de outras duas mulheres: Louisa Musgrove e Caroline Bingley. Louisa é uma jovem romântica que acredita no amor à primeira vista. Caroline é uma jovem calculista que está apenas interessada em se casar com um homem rico.

Amor e Amizade é uma obra juvenil de Jane Austen, mas ela já mostra o seu talento para a escrita cômica. A novela é cheia de situações hilárias, como os desmaios de Laura e as tentativas de Louisa de seduzir homens.

A novela também é uma crítica à sociedade da época, que valorizava o dinheiro e o status social acima do amor. Amor e Amizade mostra que o amor verdadeiro pode superar todas as barreiras, sejam elas sociais ou financeiras.

A carta de abertura do romance é de Isabel para sua amiga Laura. Isabel imagina que desde os 55 anos Laura deveria estar pronta para discutir os acontecimentos de sua vida. O resto das cartas de Laura para Marianne, filha de Isabel, e embora apenas um ponto de vista seja apresentado neste romance (e o ponto de vista limitado é uma das desvantagens da estrutura epistolar), realmente funciona aqui. Laura escreve para Marianne sobre suas “desventuras e aventuras” na vida e gosta de servir de lição ou guia. E Laura com certeza levará os leitores a uma aventura!

Em Amor e Amizade, Austen zomba dos romances. Há casamentos rápidos contra a vontade dos pais, mortes trágicas, roubos e desmaios. Austen dá tudo de si no melodrama, mas funciona. As travessuras de Laura não são apenas ridículas, mas também engraçadas. Poderia ter sido entediante se o artigo fosse mais longo, mas tem apenas cerca de 30 páginas e é uma leitura muito rápida.

Laura se casa quase imediatamente com Edward depois que ele aparece na casa de sua família, perdido e em busca de abrigo. Ele é filho de um baronete que deveria se casar com outra pessoa, mas Eduardo está determinado a sempre desobedecer ao pai. Os noivos vão parar na casa dos amigos de Eduardo, Augusto e Sofia, que se casaram contra a vontade dos pais, queimaram o dinheiro que Augusto roubou do pai e acumularam tantas dívidas que Augusto é preso. Quando Edward sai para ver se consegue tirar August da prisão, mas não consegue voltar, Laura e Sophia, agora melhores amigas, devem se defender sozinhas e seguir para a Escócia.

A partir daí acontecem inúmeras coisas que fazem as mulheres desmaiar e ocorre uma série de estranhas coincidências. Austen não levou sua heroína a sério e nem os leitores. Para os fãs de Austen que desejam ler algumas de suas obras menos conhecidas, Love and Freindship é o lugar perfeito para começar.

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A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.


[RESENHA #696] Orgulho e preconceito, de Jane Austen



Orgulho e preconceito é o livro mais famoso de Jane Austen e possui uma série de personagens inesquecíveis e um enredo memorável. Austen nos apresenta Elizabeth Bennet como heroína irresistível e seu pretendente aristocrático, o sr. Darcy. Nesse livro, aspectos diferentes são abordados: orgulho encontra preconceito, ascendência social confronta desprezo social, equívocos e julgamentos antecipados conduzem alguns personagens ao sofrimento e ao escândalo. O livro pode ser considerado a obra-prima da escritora, que equilibra comédia com seriedade, observação meticulosa das atitudes humanas e sua ironia refinada. A nova coleção possui capa dura e estilo inspirado nos bullet journals.

RESENHA

“Orgulho e Preconceito”, escrito por Jane Austen e publicado pela primeira vez em 1813, é um clássico da literatura inglesa que continua sendo amplamente lido e estudado até hoje. A história é centrada na família Bennet, composta pelo Sr. e Sra. Bennet e suas cinco filhas: Jane, Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia. O enredo gira em torno das questões de casamento, amor, classe social e preconceitos na sociedade inglesa do século XIX.

O enredo gira em torno da sociedade do século XIX e do controle social ao qual as mulheres eram impostas. As mulheres não tinham permissão para exercer atividades remuneradas no campo social, elas eram frequentemente alocadas para atividades domésticas. A mulher deveria se casar com um homem que houvesse dinheiro e prestígio para manter sua participação social e uma renda amigável para se manter. A mulher também não podia herdar bens ou dinheiro do marido em caso de falecimento, desta forma, o casamento era visto como a única fonte possível de renda e vida da mulher do século XIX. Analisando estas informações, entenderemos os reais motivos pelos quais a Sra. Bennet desejava tanto o casamento de suas filhas o mais breve possível, uma vez que todos os bens do Sr. Bennet seriam passados para o primo, não para a mulher ou filhas. O desespero da mãe por toda a trama e a impaciência em vê-las casadas é nítida. Nota-se também um semblante de paz e sossego quando as filhas mostram-se interessadas por candidatos ativos na sociedade e com uma fonte de renda segura.

A personagem principal, Elizabeth Bennet, é uma jovem inteligente, perspicaz e de espírito livre que desafia as convenções sociais da época. Ela é retratada como uma mulher à frente de seu tempo, que valoriza a independência e a liberdade de escolha. Sua relação com o orgulhoso Sr. Darcy, que inicialmente a despreza por sua classe social inferior, é o cerne do romance.

Elizabeth é descrita com uma mulher que se põe diante de qualquer situação de constrangimento ou que procurasse, de certa forma, rebaixa-la por um motivo ou outro. Ela é uma notável amante da leitura, porém, não desenvolveu bem outros dons considerados essenciais para possuir direito sob a fala em um ambiente social da época. Esta característica chama bastante atenção de todos os personagens com os quais ela mantém contato, uma vez que, não era frequente ou comum uma mulher enfrentar um homem em um debate ou conversa, sobretudo, com opiniões tão decididas e formadas.

O Sr. Darcy, por outro lado, é um homem rico e de alta classe social que, apesar de sua frieza inicial e atitude altiva, se revela um personagem complexo e profundamente emocional. Sua transformação ao longo do romance, de um homem orgulhoso e preconceituoso para alguém que reconhece e supera seus preconceitos, é um dos aspectos mais cativantes da história.

Austen usa seu enredo e personagens para explorar temas como amor, casamento, classe social, preconceito e orgulho de uma maneira que ainda ressoa com os leitores modernos. Ela critica as normas sociais restritivas da época, especialmente em relação ao casamento e ao papel das mulheres na sociedade.

Elizabeth sabia se impor e era notavelmente a filha preferida do pai pelos mesmos motivos. O receio do pai em entregar a mão de sua filha à Darcy é notável, uma vez que, ele acompanhou de perto as nuances do desprezo exercido pela filha deste o desenrolar da trama pelo recém-chegado em Netterfield.

Além disso, o humor sutil de Austen e sua sagacidade afiada são evidentes em todo o romance. Seja através do diálogo espirituoso de Elizabeth ou da sátira social, Austen mantém o leitor engajado e entretido.

O enredo também trabalha a noção de juventude, casamento e parentesco. Uma mulher com mais de 20 anos que não havia se casado era vista como um fardo para os pais. A ausência de casamento nesta idade revela um forte indício de que, talvez, os pares disponíveis não considerassem a parceira ideal, seja por seus dons — pintura, dança, educação, leitura e costura — bem como sua classe social e beleza.

Em suma, “Orgulho e Preconceito” é mais do que apenas uma história de amor. É uma crítica social perspicaz, um estudo de personagem profundo e uma celebração da força e da resiliência das mulheres. É um romance que merece ser lido e relido, oferecendo novas perspectivas e insights a cada leitura.

A AUTORA

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775 em Steventon, perto de Basingstoke, a sétima filha do reitor da paróquia. Ela morou com sua família em Steventon até que eles se mudaram para Bath, quando seu pai se aposentou em 1801. Após sua morte em 1805, ela se mudou com sua mãe; em 1809, estabeleceram-se em Chawton, perto de Alton, Hampshire. Aqui ela permaneceu, exceto por algumas visitas a Londres, até que em maio de 1817 se mudou para Winchester para ficar perto de seu médico. Lá ela morreu em 18 de julho de 1817. Quando menina, Jane Austen escreveu histórias, incluindo burlescos de romances populares. Suas obras só foram publicadas após muita revisão, sendo quatro romances publicados durante sua vida. Estes são Razão e Sensibilidade (1811), Orgulho e Preconceito (1813), Mansfield Park (1814) e Emma (1816). Dois outros romances, Abadia de Northanger e Persuasão, foram publicados postumamente em 1818 com uma nota biográfica de seu irmão, Henry Austen, o primeiro anúncio formal de sua autoria. Persuasão foi escrita em uma corrida contra problemas de saúde em 1815-16. Ela também deixou duas composições anteriores, um pequeno romance epistolar, Lady Susan, e um romance inacabado, The Watsons. No momento de sua morte, ela estava trabalhando em um novo romance, Sanditon, cujo rascunho fragmentado sobreviveu.

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Resenha: Juízo (documentário)

Pôster do filme Juízo — Foto: Reprodução/JustWatch

O documentário “Juízo”, que ganhou notoriedade nas redes sociais após ser adicionado ao catálogo da Netflix, oferece um olhar íntimo e comovente sobre a vida de jovens infratores no Rio de Janeiro. Originalmente lançado em março de 2008, o filme se concentra na vida cotidiana dos internos do Instituto Padre Severino, um antigo reformatório para jovens infratores que foi fechado em 2012.

Dirigido e escrito por Maria Augusta Ramos e produzido pelas empresas Diler & Associados e Nofoco Filmes, “Juízo” oferece uma visão sem precedentes dos julgamentos de adolescentes, com a presença de seus pais, defensores públicos, promotores e juízes, incluindo Luciana Fiala. O documentário ganhou popularidade no TikTok, onde trechos do filme foram postados e rapidamente se tornaram virais.

“Juízo” é altamente considerado na indústria cinematográfica brasileira, ocupando o 67º lugar na lista do livro “Documentário Brasileiro – 100 Filmes Essenciais”, organizado pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE). Se você está interessado em saber mais sobre o enredo do documentário e sua recepção pelo público e pela crítica, continue lendo para obter mais informações.

A cineasta Maria Augusta Ramos e sua equipe visitam o Instituto Padre Severino, um reformatório, para documentar a vida cotidiana dos internos. Estes jovens foram detidos por crimes variados, incluindo assalto à mão armada, tráfico de drogas e homicídio. O documentário se concentra nos julgamentos desses adolescentes, permitindo ao espectador entender parte de suas histórias, como eles se envolveram em atividades criminosas e o tratamento que o sistema judiciário brasileiro oferece a jovens negros e pobres detidos no sistema penal.

Devido ao Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbe a divulgação de imagens de menores de idade envolvidos em atos infracionais, os rostos dos internos não são revelados no filme. Nas cenas de julgamento, apenas as costas do infrator menor de idade são mostradas. Para as tomadas frontais, foram filmados jovens residentes em comunidades periféricas do Rio de Janeiro sem experiência teatral para compor o restante das cenas. É importante ressaltar que nenhum dos jovens que participaram da encenação teve problemas com a lei.

Foto: Reprodução/JustWatch

“Juízo” tem sido bem recebido pelo público, com uma nota de 7,5/10 no IMDb, baseada em 250 avaliações de usuários. Na plataforma Letterboxd, o filme recebeu uma classificação de 3.6/5 estrelas, com base em 1.464 avaliações. Durante sua exibição nos cinemas, “Juízo” foi apresentado em vários festivais de cinema nacionais e internacionais, incluindo a 31ª Mostra de Cinema de São Paulo, o Festival Internacional de Documentário e Animação de Leipzig na Alemanha, o Festival Internacional de Cinema de Rotterdam nos Países Baixos, o Human Rights Film Festival em Nova Iorque, EUA, e o Festival do Rio, entre outros.

Desde que foi adicionado ao catálogo da Netflix, “Juízo” tem ganhado ainda mais atenção, especialmente no TikTok, onde os usuários têm compartilhado trechos do documentário. Esses clipes, que mostram a juíza Luciana Fiala interrogando alguns dos adolescentes durante o julgamento, têm gerado muita discussão e alguns deles já alcançaram mais de um milhão de visualizações.

AVALIAÇÃO GERAL

“Juízo” é um documentário poderoso e comovente que oferece uma visão íntima e sem precedentes da vida de jovens infratores no Rio de Janeiro. A diretora Maria Augusta Ramos faz um trabalho notável ao capturar a realidade crua e muitas vezes dura desses jovens, ao mesmo tempo em que respeita sua privacidade e dignidade. A abordagem inovadora de filmar os julgamentos e usar jovens da comunidade local para as tomadas frontais é tanto criativa quanto respeitosa com o Estatuto da Criança e do Adolescente.

O documentário é bem equilibrado, mostrando não apenas os crimes cometidos, mas também fornecendo um vislumbre das histórias pessoais dos jovens e do tratamento que recebem do sistema judiciário brasileiro. Isso cria uma narrativa envolvente que é ao mesmo tempo informativa e emocionalmente impactante.

A inclusão do filme na Netflix e sua popularidade no TikTok são testemunhos de seu apelo duradouro e relevância contínua. “Juízo” é um documentário essencial que lança luz sobre questões importantes e merece ser visto por todos aqueles interessados em justiça social e direitos humanos. A classificação alta tanto no IMDb quanto no Letterboxd reflete a qualidade e o impacto deste filme notável.

Resenha do filme: temporada de furacões, 2023

Temporada de furacões / Reprodução: Netflix

APRESENTAÇÃO

Quando um grupo de adolescentes encontra um corpo flutuando em um canal, a dura realidade por trás de um crime perverso revela os segredos ocultos de uma cidade.

RESENHA

“Dizem que o calor está enlouquecendo as pessoas; que a temporada de furacões está vindo com força; que as más vibrações são a causa de tanta desgraça. Mas fiquem tranquilos. Não temam ou se desesperem, porque a escuridão não dura pra sempre. Viram a luz que está brilhando ao longe? Aquela luzinha que parece uma estrela? Temos que ir para lá. Lá é a saída deste buraco”.

“Temporada de furacões” é um suspense mexicano que chegou recentemente à Netflix. O filme é uma adaptação do romance homônimo de Fernanda Melchor, dirigido por Elisa Miller, vencedora da Palma de Ouro em 2007, e produzido por Mónica Vertiz, Rafael Ley e Paulina Albarrán.

Luismi / reprodução: Netflix

A história se passa em ‘La Matosa’, uma localidade fictícia marcada pela pobreza. O filme se inicia através dos relatos de Ysenia, mais conhecida como Lagarta. Ela está sentada em uma delegacia e está registrando um boletim de ocorrência conta seu primo Maurílio Camargo Cruz, mais conhecido como Luismi. Ela narra que ao voltar de um banho no rio, o encontrou drogado e sujo perguntando sobre como estava a água. A partir deste ponto, a narrativa ganha forma e todos os acontecimentos se desenvolvem em torno de um corpo encontrado boiando na água por um grupo de crianças.

O filme aborda problemas como violência e machismo na sociedade mexicana. Quando um grupo de adolescentes descobre um cadáver flutuando no canal, o pano de fundo do assassinato revela os segredos obscuros da cidade, incluindo a existência de uma bruxa que aparentemente lançou uma maldição sobre o local onde a trama se passa.

VEJA O TRAILER

O elenco do filme é composto por atores renomados e novos talentos, incluindo Edgar Treviño, Andrés Cordova, Paloma Alvamar, Ernesto Meléndez, Guss Morales e Kat Rigoni. Os personagens que eles interpretam são Yesenia (Paloma Alvamar), Luismi (Edgar Treviño), Norma (Kat Rigoni), Brando (Ernesto Meléndez), Munra (Guss Morales) e outros.

Ysenia, largarta. / Reprodução: Netflix

A narrativa é marcada por homofobia, feminicídio, aborto, violência de gênero, pobreza, prostituição, ausência de oportunidades, distribuição de ódio gratuito, dentre outros tópicos sensíveis. O enredo trabalha uma noção de sexualidade velada, uma vez que, todo enredo trabalha uma forte noção de reprovação da sexualidade homoafetivo e do afeto entre os homens. As cenas são trabalhadas com forte teor psicológico que trabalha de forma incisiva e profunda a complexidade existente entre o desenvolvimento do relacionamento humano.

A recepção crítica do filme foi geralmente positiva. A crítica destacou a complexidade da narrativa, a profundidade dos personagens e a representação autêntica e brutal da realidade mexicana. No entanto, alguns críticos observaram que a duração do filme não permitiu que todas as temáticas fossem exploradas da mesma maneira, o que pode gerar dúvidas nos espectadores.

Em resumo, “Temporada de furacões” é um filme que desafia o espectador com sua narrativa complexa e personagens profundamente humanos. Ele oferece um olhar sem censura sobre a realidade brutal da sociedade mexicana, ao mesmo tempo que destaca a resiliência e a humanidade de seus personagens. É um filme que vale a pena assistir, não apenas por sua história envolvente, mas também por sua representação autêntica e sem censura da realidade mexicana. Parabéns a todos os envolvidos por trazerem à vida esta obra importante e necessária.

[RESENHA #695] Modernidade Liquida, de Zygmunt Bauman


APRESENTAÇÃO

No livro clássico de sua obra ― agora em novo projeto gráfico ―, o sociólogo Zygmunt Bauman examina como se deu a passagem de uma modernidade “pesada” e “sólida” para uma modernidade “leve” e “líquida”, infinitamente mais dinâmica.

Zygmunt Bauman cumpre aqui sua missão de sociólogo, esclarecendo como se deu a transição da modernidade e nos auxiliando a repensar os conceitos e esquemas cognitivos usados para descrever a experiência individual humana e sua história conjunta.
É a essa tarefa que se dedica este livro. Analisando cinco conceitos básicos que organizam a vida em sociedade ― emancipação, individualidade, tempo/espaço, trabalho e comunidade ―, Bauman traça suas sucessivas formas e mudanças de significado. Modernidade líquida complementa e conclui a análise realizada pelo autor em Globalização: As consequências humanas e Em busca da política. Juntos, esses três volumes formam uma análise brilhante das condições cambiantes da vida social e política.

RESENHA

“Modernidade liquida” se concentra em uma meta-crítica da globalização e de todos os problemas que ela apresenta, desde o desenraizamento até a onipresença do Estado de segurança. A tese central de Bauman é que as consequências da globalização prejudicaram seriamente as tentativas de justiça internacional. O objetivo da globalização - erradicar quaisquer barreiras comerciais e, portanto, criar “mercados sem fronteiras” - resulta na transição de um mundo onde as pessoas estão sujeitas às leis e proteções de seus países de origem para um mundo em que o medo radical e a falta de segurança são reificados e reina o “desvanecimento dos laços humanos e o enfraquecimento da solidariedade”. Esta falta de segurança resulta em medo e uma aparente falta de controle, o que por sua vez perpetua e reforça a mudança evidente em direção à segurança nacional que temos vivido nas democracias liberais avançadas. E assim continua o ciclo pernicioso.

Em sua comparação entre as cidades, as localizadas globalmente (que são capazes de participar na esfera totalmente integrada da globalização) e as cidades localizadas localmente (aquelas que não o são), Bauman diz que o trabalho da cidade mudou de proteger seus habitantes de estranhos para abrigar populações guetizadas de transnacionais peripatéticas e estranhos, o “lixão para problemas globalmente concebidos e gestados”.

Nossos novos tempos líquidos também trouxeram um número sem precedentes de refugiados, tanto políticos como econômicos. As guerras, que Bauman considera serem essencialmente tentativas locais de resolver problemas globais, tornam-se intratáveis. O resultado é um “excesso de humanidade” - a humanidade como produto residual - completa e totalmente despojada de propriedade, identidade pessoal, ou mesmo de um Estado que reconheça sua existência.

Bauman sugere que a democracia se tornou ironicamente um assunto elitista, onde os ricos protegem seus interesses e os pobres continuam a sofrer com a falta de redes de segurança social e de redes governamentais de apoio. Ele também não está muito otimista quanto às possibilidades de alcançar uma utopia pré-globalizada, uma palavra que Thomas More notou pela primeira vez que poderia significar, homofonicamente, “paraíso” ou “lugar nenhum”. Embora ainda seja um paraíso para alguns, nosso mundo tornou-se demasiado líquido para ser outra coisa senão o último para a maioria de nós. No final, Bauman oferece em cada análise da globalização o último paradoxo da modernidade: uma vida permanente permeada pela impermanência.

Como mencionei anteriormente, Bauman dedicou tempo para detalhar mais suas análises em outros livros, de acordo com o final do livro. No entanto, com base no que li aqui, não tenho certeza de quantos de seus argumentos são originais. Livros sobre globalização com temas de alienação e privação de direitos são bastante comuns no campo da sociologia. No entanto, o humor irônico de Bauman definitivamente despertou meu interesse em ler mais de seu trabalho, o que pretendo fazer no futuro.

Por Breno Sales.

Sobre o autor

Sobre o autor

ZYGMUNT BAUMAN (1925-2017) foi o grande pensador da modernidade. Perspicaz analista de temas contemporâneos, deixou vasta obra — com destaque para o best-seller Amor líquido. Professor emérito das universidades de Varsóvia e de Leeds, tem mais de quarenta livros publicados no Brasil, todos pela Zahar. Bauman nasceu na Polônia e morreu na Inglaterra, onde vivia desde a década de 1970.

When Evil Lurks: O terror que reacendeu Demián Rugna



SINOPSE: Dois irmãos correm para impedir a proliferação do mal encarnado enquanto uma epidemia de possessões demoníacas se espalha pela sua comunidade rural.

RESENHA

When Evil Lurks ou quando o mal espreita (pt-br) ou Cuando Acecha la maldad é um filme de terror psicológico argentino escrito e dirigido por Demián Rugna. O filme conta a história de dois irmãos que ouvem tiros durante a noite e saem para investigar encontrando o corpo de um homem pela metade, a forma da morte não nos é relevada, apenas hipóteses são levantadas. Perto do local do ocorrido eles encontram uma senhora que mora na casa com seus dois filhos, sendo um deles Uriel, um padre que estava há cerca de um ano acamado e apodrecido pela possessão de um espírito maligno, que, segundo lendas, estava destinado a trazer o fim dos tempos por meio do nascimento do mal. O corpo possuído é também a única forma de matar o demônio e evitar que ele se prolifere no mundo. Após o desaparecimento de Uriel, uma série de possessões demoníacas começa a tomar conta de toda a região, afetando casais, animais e pessoas aleatórias em diversos pontos da cidade, iniciando uma chacina sem precedentes para aquela região rural.

Qual a explicação do filme When Evil Lurks?


O demônio não pode ser morto de maneira fácil, o que se sabe é o que é revelado no roteiro, como:

1. Não use luzes elétricas

2. Não o mate com armas de fogo, isso provoca a ira dos possuídos os levando para uma nova vítima, ou pior, vitimando os provocadores de sua ira. Isso ocorre com os irmãos que provocam o demônio e veem suas famílias dizimadas por sua ira.

3. Jamais chame a criatura por seu nome, o que é interessante, uma vez que, em todos os filmes de terror produzidos sobre demônio, saber o nome é uma forma de exorcizá-lo do corpo da vítima. Ou seja, o nome da criatura te dá poder sobre ela.

Não há nenhuma lenda urbana ou semelhante que explique os caminhos tomados pelo diretor. A obra é uma forma de explicar o anticristo que renasceria e andaria pela terra. A teoria geral explica que após o surgimento do anticristo ele andaria pela terra e todos experimentariam anos felizes, como se nada tivesse acontecido, até que o terrível dia chegasse. É o que podemos observar. Após toda a destruição e nascimento do mal no roteiro, os anos seguem, e os irmãos vivem suas vidas como se nada tivesse acontecido até que algo surge demonstrando uma continuação no enredo.

O filho de Pedro fica possuído?

Infelizmente, a angústia de Pedro não se encerra. Na cena final do epílogo, vemos Pedro preparando sorvete de maçã para seu filho autista, Jair (Emilio Vodanovich), dando a entender que talvez ele tenha conseguido retomar alguma normalidade após os eventos traumáticos. No entanto, essa esperança é efêmera. Em uma das cenas mais perturbadoras do filme - o que é dizer muito - Jair tosse uma grande mecha de cabelo, seguida pelo colar que sua avó costumava usar. Seus olhos então se voltam brevemente para Pedro.

Pedro parece atordoado com isso, mas o sinal estava claro. A pregadora aposentada (Silvina Sabater) havia previsto isso quando viu Jair no início do filme.

“Um demônio entrou em sua cabeça e ficou preso”, ela disse. “Eu vi isso em pessoas autistas. Eles invadem seus corpos, mas não conseguem compreender suas mentes. Eles podem ficar perdidos nesse limbo por um longo tempo sem desatar o nó, e então eles os possuem.”

Por que só os adultos eram mortos?

O que se nota é que todas as crianças são influenciadas pelo mal. A cena inicial em que a filha de Pedro é atacada e levada pelo cachorro da família é uma das mais impactantes, mas ela reaparece aparentemente ilesa enquanto prevê a morte da mãe, Sabrina. Novamente, o demônio se apodera de Jair, outro filho de Pedro com Sabrina, e mais uma vez, as crianças são usadas nas cenas finais para proteger o demônio em uma escola abandonada onde tudo termina.

Mas por que os professores e outros adultos foram mortos e as crianças permaneceram ilesas?

O diretor não fornece detalhes sobre o motivo, mas talvez seja porque o demônio iria renascer no corpo de uma criança, portanto, todos os seus seguidores também deveriam ser crianças, já que todos os adultos eram conhecedores do mal e desejavam acabar com o reinado do demônio a todo custo.

Outro fator pode ser que as pessoas esperam que o mal seja derrotado por um adulto, pois eles representam uma figura de poder e controle da situação. E quando o esperado não ocorre, o medo se espalha, o que pode resultar em tensão e maior controle do demônio sobre a situação.

CRÍTICA GERAL

“When Evil Lurks” é um filme de terror argentino que se destaca por sua abordagem única e inovadora do gênero. O enredo é intrigante e mantém o público na ponta da cadeira do início ao fim. A ideia de que o mal é uma entidade física que pode ser transmitida de um corpo para outro é uma reviravolta fascinante nos tropos tradicionais do terror.

A direção do filme é excepcional, com uma atenção meticulosa aos detalhes que realmente traz a história à vida. As cenas são filmadas de maneira a maximizar a tensão e o medo, e há uma sensação palpável de desconforto e medo que permeia todo o filme.

O roteiro é igualmente impressionante, com diálogos bem escritos e personagens bem desenvolvidos. A história é complexa e cheia de reviravoltas inesperadas que mantêm o público adivinhando até o final. Além disso, a maneira como a história lida com temas de possessão e mal é inteligente e pensativa.

Em suma, “When Evil Lurks” é um excelente exemplo de cinema de terror, com uma direção sólida e um roteiro inteligente que oferece uma visão fresca e emocionante do gênero. É um filme que certamente agradará aos fãs de terror e que deixará uma impressão duradoura.

[RESENHA #694] Viola de bolso, de Carlos Drummond de Andrade

APRESENTAÇÃO

Viola de bolso, reunião de poemas de Carlos Drummond de Andrade lançada nos anos 1950, chega a sua terceira edição, com 25 poemas inéditos nas edições anteriores. Uma das joias que marcam o retorno do poeta Carlos Drummond de Andrade ao catálogo da Editora José Olympio é sem dúvida a nova edição de Viola de bolso. Lançado originalmente em 1952, pelo Ministério da Educação e Saúde, o livro teve segunda edição pela Livraria José Olympio Editora, em 1955, com adição de 56 novos poemas, totalizando 91. Esta terceira edição, de 2022, reúne os poemas da segunda – acrescidos de marcas de revisão feitas à mão por Drummond em seu exemplar – e inclui novas peças, 25 poemas inéditos nas edições anteriores, recentemente encontradas pelos netos do poeta.Esses poemas, que haviam sido organizados pelo próprio autor em uma pasta intitulada “Viola de bolso (nova)”, aparecem também em versão fac-similar. Tanto para estudiosos de Drummond quanto para leitores de poesia, é possível observar as mudanças feitas em certos poemas de uma edição para a outra. Mudanças que mostram a preocupação do poeta com seus escritos e que provam como uma criação literária é um processo contínuo, que nunca se dá por acabado.Além de a nova edição apresentar um projeto gráfico caprichado, em capa dura, será uma experiência muito proveitosa ler os escritos que Drummond reúne em Viola de bolso. O livro é uma espécie de inventário sentimental do poeta em homenagem a lugares, afetos, pensamentos e, em sua maioria, a pessoas próximas; amigos, artistas e personalidades importantes – dentre estes, o próprio José Olympio –, que conquistaram o coração do grande escritor itabirano. As dedicatórias compõem uma constelação que evidencia a rara destreza de Drummond para construir belas peças poéticas amarradas à própria vida.

RESENHA


"Viola de Bolso" é uma obra poética do renomado escritor brasileiro Carlos Drummond de Andrade. Publicado em 1952, o livro é uma coletânea de poemas que reflete a sensibilidade e a profundidade do autor em relação à vida e aos sentimentos humanos.

Uma das características marcantes de "Viola de Bolso" é a linguagem simples e direta utilizada por Drummond. Ele consegue transmitir suas reflexões de forma acessível, sem perder a poesia e a intensidade que o consagraram como um dos maiores poetas brasileiros.

Um dos poemas que merece destaque na obra é "Mãos Dadas". Neste poema, Drummond aborda a solidão e a busca por conexões humanas verdadeiras. Ele retrata a importância de estabelecer laços e compartilhar experiências, mesmo diante das adversidades da vida. Através de um jogo de palavras e imagens, o autor nos leva a refletir sobre a importância do amor e da união entre as pessoas.

Outro poema que se destaca em Viola de Bolso é No Meio do Caminho. Este poema é um dos mais conhecidos de Drummond e apresenta uma linguagem simples, porém impactante. O autor nos leva a refletir sobre a efemeridade da vida e a necessidade de seguir em frente, mesmo diante dos obstáculos que encontramos no caminho. A mensagem de resiliência e superação presente nesse poema é atemporal e continua a emocionar os leitores até os dias de hoje.

Além desses, há outros poemas igualmente poderosos em "Viola de Bolso". Drummond explora temas como o amor, a morte, a passagem do tempo, a solidão e a busca pelo sentido da existência. Sua escrita é repleta de metáforas e imagens impactantes, que nos levam a refletir sobre a condição humana.

Em suma, "Viola de Bolso" é uma obra que nos convida a mergulhar nas profundezas da alma humana. Através de seus poemas, Carlos Drummond de Andrade nos presenteia com reflexões sobre a vida, o amor, a solidão e a efemeridade do tempo. Sua escrita poética e sensível cativa o leitor, levando-o a se conectar com as emoções e experiências compartilhadas pelo autor. É uma obra que merece ser lida e apreciada por todos aqueles que buscam uma imersão na poesia brasileira.

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