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Análise: Orgulho e preconceito, de Jane Austen

Imagem: Divulgação

Pride and Prejudice (1813), o segundo romance publicado por Jane Austen, é amplamente reconhecido como uma das obras-primas da literatura inglesa, combinando uma narrativa romântica envolvente com uma crítica aguda às convenções sociais e às dinâmicas de classe e gênero na Inglaterra do início do século XIX. Publicado inicialmente em três volumes, sob o anonimato característico de Austen, o romance se distingue por sua estrutura narrativa coesa, personagens memoráveis e um tom irônico que permeia a prosa, oferecendo um comentário sutil, mas incisivo, sobre as limitações impostas às mulheres e as tensões entre orgulho, preconceito e redenção. A história centra-se em Elizabeth Bennet, uma jovem inteligente e espirituosa, e em sua relação com o rico, mas inicialmente distante, Fitzwilliam Darcy. Através de seus encontros e desencontros, Austen explora temas como amor, reputação, mobilidade social e autoconhecimento, enquanto expõe as hipocrisias de uma sociedade obcecada por status e segurança financeira. Esta análise jornalística examina minuciosamente o enredo, destacando sua construção narrativa, o desenvolvimento dos personagens e o impacto cultural duradouro da obra, em um tom acadêmico que busca iluminar a profundidade de sua crítica social.

O enredo de Pride and Prejudice tem início com uma das linhas de abertura mais icônicas da literatura: “É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro, possuidor de uma grande fortuna, deve estar necessitado de uma esposa.” Essa frase, carregada de ironia, estabelece imediatamente o tom satírico e o foco central da narrativa: o casamento como instituição social e econômica. A chegada de Mr. Bingley, um jovem rico, à propriedade de Netherfield, nas proximidades da vila de Meryton, desencadeia uma onda de especulação entre as famílias locais, especialmente os Bennet, cuja mãe está determinada a casar suas cinco filhas com homens abastados. A família Bennet, composta pelo irônico e desapegado Mr. Bennet, pela ansiosa e socialmente ambiciosa Mrs. Bennet, e pelas filhas Jane, Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia, serve como microcosmo das tensões de classe e das expectativas de gênero da época. A introdução de Bingley e de seu amigo, o reservado e aparentemente arrogante Mr. Darcy, lança as bases para os conflitos românticos e sociais que impulsionam a trama.

Elizabeth Bennet, a protagonista, é uma figura singular na obra de Austen, definida por sua inteligência aguçada, independência de espírito e relutância em se conformar às expectativas tradicionais de feminilidade. Sua interação inicial com Darcy, marcada por mal-entendidos e preconceitos mútuos, estabelece o conflito central do romance. Darcy, com sua riqueza e posição social elevada, é inicialmente percebido por Elizabeth como orgulhoso e desdenhoso, enquanto ele, por sua vez, a julga inferior devido à posição social modesta de sua família e ao comportamento indecoroso de alguns de seus membros. Essa tensão é agravada pela proposta de casamento inicial de Darcy, que, embora apaixonada, é expressa de maneira condescendente, insultando a família de Elizabeth e reforçando sua percepção de arrogância. A rejeição de Elizabeth, um momento pivotal na narrativa, sublinha sua agência e sua recusa em sacrificar sua dignidade por segurança financeira, um ato ousado em um contexto onde o casamento era frequentemente a única via para a estabilidade feminina.

Paralelamente ao arco de Elizabeth e Darcy, a narrativa desenvolve outras tramas românticas que amplificam os temas centrais. O relacionamento entre Jane Bennet, a irmã mais velha e gentil, e Mr. Bingley é marcado por uma ternura genuína, mas também por obstáculos impostos por considerações de classe. As irmãs de Bingley, Caroline e Mrs. Hurst, juntamente com o próprio Darcy, inicialmente desaprovam a união devido à posição social inferior dos Bennet, revelando a rigidez das hierarquias sociais. Enquanto isso, o comportamento impulsivo de Lydia, a filha mais jovem, culmina em sua fuga com Mr. Wickham, um oficial charmoso, mas moralmente duvidoso, que já havia tentado seduzir Georgiana, a irmã de Darcy. Esse escândalo ameaça a reputação de toda a família Bennet, destacando a fragilidade da posição social das mulheres e as consequências devastadoras de transgressões percebidas. A intervenção de Darcy, que secretamente resolve a crise, marca um ponto de virada em sua relação com Elizabeth, revelando sua transformação pessoal e seu compromisso com ela.

A construção dos personagens secundários é essencial para a riqueza do enredo. Mr. Bennet, com seu humor seco e sua negligência como pai, contrasta com a frivolidade de Mrs. Bennet, cuja obsessão por casar as filhas reflete as pressões econômicas sobre as mulheres de sua classe. As irmãs Bennet, cada uma com traços distintos, ilustram diferentes respostas às expectativas sociais: Jane representa a bondade idealizada, Mary a pedanteria intelectual, Kitty a imaturidade influenciável e Lydia a imprudência. Entre os personagens externos, Mr. Collins, o primo clergyman que herda a propriedade dos Bennet, é uma figura cômica, mas também um símbolo da subserviência às convenções e do patriarcado. Sua proposta de casamento a Elizabeth, rejeitada com firmeza, reforça o tema da agência feminina. Lady Catherine de Bourgh, a tia autoritária de Darcy, representa o ápice do privilégio aristocrático, enquanto Wickham encarna a manipulação e a falta de escrúpulos disfarçadas de charme. Esses personagens não apenas impulsionam a narrativa, mas também amplificam a crítica de Austen às normas sociais que valorizam riqueza e status acima da integridade.

A estrutura narrativa de Pride and Prejudice é meticulosamente planejada, com Austen utilizando uma perspectiva em terceira pessoa que privilegia o ponto de vista de Elizabeth, mas permite acesso ocasional aos pensamentos de outros personagens, como Darcy. Essa técnica cria uma tensão dramática, já que o leitor, inicialmente alinhado com os preconceitos de Elizabeth, descobre gradualmente a verdadeira natureza de Darcy e a profundidade de seus sentimentos. A narrativa é dividida em três volumes, cada um marcando uma fase distinta do desenvolvimento de Elizabeth e Darcy: o primeiro estabelece os mal-entendidos, o segundo aprofunda os conflitos e o terceiro conduz à reconciliação e ao casamento. O ritmo é equilibrado, com momentos de alta tensão, como a fuga de Lydia ou a confrontação de Elizabeth com Lady Catherine, alternados com cenas de leveza, como os diálogos espirituosos nos bailes de Meryton. A correspondência, especialmente a carta de Darcy a Elizabeth após sua rejeição, desempenha um papel crucial, fornecendo revelações que desafiam as percepções iniciais de Elizabeth e desencadeiam seu processo de autoconhecimento.

O tema do autoconhecimento é central ao romance, com Elizabeth e Darcy passando por jornadas paralelas de reflexão e mudança. Elizabeth, ao reconhecer seus próprios preconceitos baseados em aparências, aprende a valorizar a substância sobre a superfície, enquanto Darcy, confrontado com a crítica de Elizabeth, abandona seu orgulho e adota uma postura mais humilde e generosa. Essa evolução mútua distingue Pride and Prejudice de romances contemporâneos, que frequentemente priorizavam desfechos baseados em conveniência social. Austen, no entanto, não idealiza o amor; ela o apresenta como um processo complexo, exigindo vulnerabilidade e crescimento. A resolução do enredo, com os casamentos de Elizabeth e Darcy, e de Jane e Bingley, é satisfatória, mas não simplista, pois reflete o equilíbrio entre afeto genuíno e pragmatismo social.

A crítica social de Austen é transmitida com uma ironia que evita o didatismo, mas não perde sua força. A obra expõe a dependência das mulheres do casamento para a segurança financeira, como ilustrado pela ansiedade de Mrs. Bennet e pela precariedade da situação das filhas após a morte do pai. A sátira de Austen é particularmente afiada na descrição de personagens como Mr. Collins e Lady Catherine, que encarnam a hipocrisia e a arrogância das elites. Além disso, o romance questiona a valorização excessiva da reputação feminina, mostrando como a sociedade pune desproporcionalmente as mulheres por transgressões, enquanto os homens, como Wickham, escapam com relativa impunidade. Através de Elizabeth, Austen oferece uma visão protofeminista, celebrando a inteligência e a independência feminina em um mundo que frequentemente as reprime.

Estilisticamente, Pride and Prejudice é um triunfo de concisão e clareza. A prosa de Austen é precisa, com diálogos que revelam a personalidade e as motivações dos personagens de forma vívida. Sua ironia permeia a narrativa, como na descrição das manobras sociais de Caroline Bingley ou na subserviência de Mr. Collins a Lady Catherine. O uso de free indirect discourse, uma técnica inovadora para a época, permite que Austen misture a voz da narradora com os pensamentos das personagens, criando uma intimidade com o leitor sem sacrificar a objetividade. A ausência de descrições extensas de cenários ou aparências mantém o foco nas interações humanas, reforçando a ênfase da obra nas relações e nos conflitos internos.

O impacto cultural de Pride and Prejudice é inegável. Desde sua publicação, o romance inspirou inúmeras adaptações, incluindo filmes, séries de televisão e reinterpretações literárias, como a minissérie da BBC de 1995 e o filme de 2005 com Keira Knightley. Sua popularidade perdura devido à universalidade de seus temas — amor, orgulho, redenção — e à força de seus personagens, particularmente Elizabeth Bennet, que se tornou um ícone literário. Para os estudiosos, a obra oferece um terreno rico para análises de gênero, classe e psicologia, enquanto para o público geral, ela proporciona uma história de amor cativante e diálogos memoráveis. A relevância contemporânea do romance reside em sua exploração de questões como a pressão social, a busca por autenticidade e o poder transformador do autoconhecimento.

Em suma, Pride and Prejudice é uma obra que transcende seu contexto histórico, oferecendo uma narrativa que é ao mesmo tempo uma comédia de costumes, um romance apaixonado e uma crítica social penetrante. A jornada de Elizabeth Bennet e Mr. Darcy, marcada por orgulho, preconceito e eventual entendimento mútuo, ressoa com leitores por sua honestidade emocional e sua celebração da resiliência humana. Através de sua prosa afiada e de sua observação meticulosa, Jane Austen cria um mundo que é ao mesmo tempo específico à sua era e universal em suas verdades, consolidando seu lugar como uma das maiores romancistas da língua inglesa. A obra permanece um testemunho do poder da literatura para iluminar as complexidades do coração e da sociedade, convidando leitores de todas as gerações a refletir sobre suas próprias percepções e preconceitos.

Análise: Mansfield Park, de Jane Austen

Imagem: Divulgação

Mansfield Park (1814), o terceiro romance publicado por Jane Austen, distingue-se em sua obra por sua abordagem introspectiva e por um tom mais sombrio e moralmente complexo em comparação com os romances anteriores, Sense and Sensibility e Pride and Prejudice. Publicado em três volumes, o romance explora temas como moralidade, classe social, dependência feminina e o impacto da educação e do ambiente no caráter, através da trajetória de Fanny Price, uma heroína reservada e frequentemente subestimada. Ambientado em grande parte na propriedade rural de Mansfield Park, o romance utiliza o espaço doméstico como um microcosmo para examinar as tensões entre dever, desejo e convenções sociais. A narrativa, narrada em terceira pessoa com foco na perspectiva de Fanny, oferece uma crítica sutil, mas penetrante, às desigualdades de gênero e classe, bem como às falhas morais de uma sociedade obcecada por aparências e privilégios. Esta análise jornalística examina minuciosamente o enredo de Mansfield Park, destacando sua estrutura narrativa, o desenvolvimento dos personagens, os temas centrais e a relevância cultural da obra, mantendo um tom acadêmico e objetivo que ilumina sua profundidade e complexidade.

O enredo de Mansfield Park começa com a introdução de Fanny Price, uma jovem de origem humilde, que, aos dez anos, é enviada de sua casa superlotada em Portsmouth para viver com seus tios ricos, Sir Thomas e Lady Bertram, na propriedade de Mansfield Park. A decisão é impulsionada pela caridade de sua tia, Mrs. Norris, uma figura mesquinha e manipuladora que, apesar de promover a mudança, trata Fanny com condescendência e reforça sua posição subordinada na família. Fanny, tímida e introspectiva, enfrenta dificuldades para se adaptar ao ambiente opulento de Mansfield, onde é constantemente lembrada de sua inferioridade social em relação aos primos Bertram: Tom, o herdeiro irresponsável; Edmund, o filho mais jovem, que se torna seu aliado; e as irmãs Maria e Julia, que a tratam com indiferença ou desdém. Essa abertura estabelece o tema central da obra: a vulnerabilidade de uma jovem dependente em um mundo regido por hierarquias rígidas de classe e gênero. A posição de Fanny como uma outsider permite que Austen explore as dinâmicas de poder e privilégio com uma perspectiva crítica.

À medida que Fanny cresce, sua sensibilidade moral e sua inteligência tranquila a distinguem, mas também a isolam. Sua relação com Edmund, que aspira a ser clérigo, desenvolve-se como uma amizade baseada em valores compartilhados, mas é complicada pelos sentimentos românticos não expressos de Fanny. O equilíbrio de Mansfield Park é perturbado pela chegada dos irmãos Crawford, Henry e Mary, que trazem charme, sofisticação e uma moralidade ambígua à propriedade. Henry, um jovem carismático, mas volúvel, desperta o interesse de Maria e Julia, enquanto Mary, inteligente e cínica, atrai Edmund, apesar de suas visões conflitantes sobre religião e status. A introdução dos Crawford desencadeia uma série de eventos que testam os valores e a integridade dos personagens, com Fanny frequentemente servindo como a consciência moral da narrativa.

Um dos momentos centrais do enredo é a decisão de encenar uma peça de teatro amadora, Lovers’ Vows, durante a ausência de Sir Thomas. A escolha da peça, carregada de temas românticos e transgressivos, revela as tensões subjacentes entre os personagens. Maria, noiva de Mr. Rushworth, flerta abertamente com Henry Crawford, enquanto Edmund, apesar de suas reservas morais, cede à pressão de participar para estar perto de Mary. Fanny, a única a se opor à encenação por considerar a peça inadequada, é marginalizada, mas sua recusa reforça sua integridade. O retorno inesperado de Sir Thomas interrompe a peça, simbolizando a restauração da ordem patriarcal, mas as fissuras nas relações já estão expostas. Esse episódio não apenas avança a trama, mas também ilustra a crítica de Austen à superficialidade e à hipocrisia das elites, que escondem suas falhas sob uma fachada de respeitabilidade.

A segunda metade do romance intensifica os conflitos românticos e morais. Maria, humilhada pela indiferença de Henry, casa-se com o rico, mas insípido, Mr. Rushworth, enquanto Henry, intrigado pela resistência de Fanny, começa a cortejá-la. Sua proposta de casamento, que seria considerada vantajosa por qualquer padrão social da época, coloca Fanny em um dilema: aceitar significaria segurança financeira, mas trair seus princípios, já que ela desconfia do caráter volúvel de Henry. A recusa de Fanny, apesar da pressão de Sir Thomas e da desaprovação de Mrs. Norris, é um ato de agência notável, destacando sua força interior e sua recusa em comprometer sua moralidade. Enquanto isso, a relação entre Edmund e Mary se deteriora devido às diferenças fundamentais em seus valores, com Mary revelando uma visão cínica do casamento e da religião que choca Edmund.

O clímax do enredo ocorre com uma série de escândalos que abalam Mansfield Park. Maria, agora casada, foge com Henry Crawford, causando um escândalo que destrói sua reputação e expõe a fragilidade da respeitabilidade feminina. Julia, por sua vez, foge com Mr. Yates, um amigo de Tom, em um ato de rebelião menos grave, mas igualmente transgressivo. Esses eventos, combinados com a doença de Tom, que quase o leva à morte devido a seus excessos, forçam os Bertram a confrontar as consequências de sua negligência moral e educacional. Fanny, enviada temporariamente de volta a Portsmouth para refletir sobre sua recusa a Henry, enfrenta as condições precárias de sua família de origem, o que reforça sua gratidão por Mansfield, apesar de suas imperfeições. A experiência em Portsmouth também serve como um contraste narrativo, destacando a ordem relativa de Mansfield em oposição ao caos de sua casa natal.

A resolução do enredo é marcada pelo retorno de Fanny a Mansfield, onde ela assume um papel mais central na família, especialmente após a recuperação de Tom e a desgraça de Maria. Edmund, desiludido com Mary Crawford, que minimiza o escândalo de Maria, reconhece o valor de Fanny e, eventualmente, declara seu amor por ela. O casamento dos dois, embora previsível, é apresentado como o culminar de uma jornada de crescimento mútuo, baseada em respeito e valores compartilhados. A narrativa conclui com a restauração parcial da ordem em Mansfield, mas Austen deixa claro que a propriedade, como a sociedade que representa, é imperfeita, marcada por falhas humanas e desigualdades estruturais.

A estrutura narrativa de Mansfield Park é deliberada e introspectiva, com um ritmo mais lento do que os romances anteriores de Austen, refletindo a natureza contemplativa de Fanny. A perspectiva em terceira pessoa, focada em Fanny, permite ao leitor acesso a seus pensamentos e dilemas morais, enquanto a voz irônica da narradora comenta as ações dos outros personagens. Austen utiliza o espaço de Mansfield Park como um símbolo das tensões entre ordem e caos, com a propriedade representando tanto a estabilidade social quanto a repressão das emoções individuais. A peça de teatro, por exemplo, funciona como uma metáfora para a teatralidade das relações sociais, enquanto a viagem de Fanny a Portsmouth amplia a crítica de Austen às disparidades de classe.

Os personagens secundários são essenciais para a riqueza do enredo. Sir Thomas Bertram, embora bem-intencionado, é um patriarca distante cuja autoridade é minada por sua incapacidade de compreender as emoções de seus filhos. Lady Bertram, apática e dependente, representa a passividade de certas mulheres privilegiadas, enquanto Mrs. Norris encarna a crueldade disfarçada de caridade. Os irmãos Crawford, com seu charme e ambiguidade moral, desafiam os valores rígidos de Mansfield, mas também expõem suas próprias falhas: Henry é incapaz de sustentar um compromisso genuíno, e Mary prioriza o status acima da integridade. Edmund, embora admirável em sua seriedade, é inicialmente cego para as virtudes de Fanny, enquanto os irmãos Bertram, Tom, Maria e Julia, ilustram os perigos de uma educação negligente. Esses personagens amplificam os temas de moralidade e responsabilidade, enquanto fornecem um contraste com a constância de Fanny.

Os temas centrais de Mansfield Park — moralidade, dependência e o papel da educação — são explorados com uma complexidade que desafia interpretações simplistas. Fanny, frequentemente criticada por leitores modernos como passiva, é, na verdade, uma figura de resistência silenciosa, cuja força reside em sua adesão aos princípios em um mundo que valoriza a conveniência. A crítica de Austen à sociedade é evidente na representação das desigualdades de gênero, como a pressão sobre Fanny para aceitar Henry, e nas referências sutis à escravidão, já que a riqueza dos Bertram deriva de plantações nas Índias Ocidentais. O romance também questiona a idealização da vida rural, mostrando Mansfield como um espaço de conflitos e hipocrisias, em vez de um idílio pastoral.

Estilisticamente, Mansfield Park é marcado pela prosa precisa e pela ironia característica de Austen, embora menos cômica do que em Pride and Prejudice. A narrativa privilegia a introspecção, com descrições mínimas de cenários e um foco nas interações e nos conflitos internos dos personagens. O uso do discurso indireto livre permite que Austen misture a voz de Fanny com a da narradora, criando uma intimidade com o leitor que contrasta com a alienação social da protagonista. A correspondência, como as cartas de Fanny e Edmund, desempenha um papel menor, mas significativo, na revelação de emoções reprimidas.

O impacto cultural de Mansfield Park é menos pronunciado do que o de outros romances de Austen, em parte devido à sua heroína menos carismática e ao seu tom mais sério. No entanto, a obra inspirou adaptações, como o filme de 1999 dirigido por Patricia Rozema, que enfatiza os aspectos feministas e abolicionistas do romance. Para os estudiosos, Mansfield Park oferece um terreno fértil para análises pós-coloniais, feministas e éticas, enquanto para os leitores, proporciona uma meditação profunda sobre a moralidade e a resiliência. Sua relevância contemporânea reside em sua exploração de questões como a dependência, a pressão social e o poder das escolhas individuais em um mundo estruturalmente desigual.

Em conclusão, Mansfield Park é uma obra de notável profundidade, que utiliza a trajetória de Fanny Price para examinar as complexidades da moralidade, da classe e do gênero. A jornada de Fanny, de uma jovem marginalizada a uma figura central em Mansfield, reflete o poder da integridade em um mundo marcado por compromissos e falhas. Através de sua prosa meticulosa e de sua observação aguda, Jane Austen cria um retrato vívido de uma sociedade em tensão, enquanto oferece insights atemporais sobre a condição humana. A obra permanece um testemunho da habilidade de Austen em combinar narrativa envolvente com crítica social, consolidando seu legado como uma das maiores romancistas da literatura inglesa.

Análise: A abadia de Northanger, de Jane Austen

Imagem: Divulgação

Northanger Abbey, publicado postumamente em 1818, é o quinto romance de Jane Austen e uma obra que se destaca por sua combinação única de sátira literária, comédia romântica e crítica às convenções sociais do final do século XVIII. Escrito originalmente no início da carreira de Austen, por volta de 1798-1799, mas revisado e publicado somente após sua morte, o romance reflete uma autora em formação, experimentando com tom e estilo enquanto parodia os populares romances góticos da época, como os de Ann Radcliffe. Centrado na jovem Catherine Morland, uma heroína ingênua e imaginativa, Northanger Abbey explora temas como a transição da adolescência para a maturidade, a influência da leitura na percepção da realidade e as dinâmicas de classe e gênero em uma sociedade regida por aparências. A narrativa, narrada em terceira pessoa com uma voz autoral marcadamente irônica, utiliza a cidade de Bath e a fictícia Northanger Abbey como cenários para examinar as ilusões românticas e as realidades sociais. Esta análise jornalística oferece uma dissecação minuciosa do enredo, destacando sua estrutura narrativa, o desenvolvimento dos personagens, os temas centrais e a relevância cultural da obra, em um tom acadêmico e objetivo que busca iluminar sua originalidade e profundidade.

O enredo de Northanger Abbey começa com a apresentação de Catherine Morland, uma jovem de 17 anos de uma família modesta e numerosa em Fullerton, Wiltshire. Descrita como uma heroína improvável — sem beleza extraordinária, riqueza ou talentos excepcionais — Catherine é uma figura refrescante por sua normalidade e sinceridade. A narrativa inicia quando Catherine é convidada pelos vizinhos abastados, Mr. e Mrs. Allen, para acompanhá-los em uma temporada social em Bath, uma cidade conhecida por seus bailes, banhos termais e oportunidades de ascensão social. Essa viagem marca a entrada de Catherine no mundo adulto, onde ela enfrenta as complexidades das interações sociais e os primeiros flertes românticos. A abertura, impregnada de ironia, estabelece o tom satírico do romance, com a narradora zombando das convenções dos romances tradicionais que exigem heroínas idealizadas, enquanto apresenta Catherine como uma jovem comum, mas cativante.

Em Bath, Catherine é introduzida a um novo círculo social, onde conhece Isabella Thorpe, uma jovem manipuladora e ambiciosa, e seu irmão, John Thorpe, um homem fanfarrão e interesseiro. Isabella rapidamente se torna amiga de Catherine, mas sua amizade é superficial, motivada por interesses sociais e financeiros. John, por sua vez, desenvolve um interesse por Catherine, presumindo erroneamente que ela é uma herdeira devido à sua associação com os ricos Allens. Paralelamente, Catherine conhece Henry Tilney, um clérigo espirituoso e gentil, e sua irmã, Eleanor, com quem desenvolve uma conexão genuína. Henry, com seu humor inteligente e sua habilidade de desafiar as pretensões sociais, torna-se o interesse romântico de Catherine, embora sua imaginação, alimentada pela leitura de romances góticos, frequentemente a leve a interpretar suas ações de maneira exagerada. A dinâmica em Bath é impulsionada por bailes, passeios e conversas, que Austen utiliza para expor as hipocrisias e os jogos de poder da sociedade, enquanto Catherine navega entre amizades falsas e um romance incipiente.

A trama dá uma virada significativa quando Catherine é convidada a visitar Northanger Abbey, a residência da família Tilney, no interior. Influenciada por sua paixão por romances góticos, Catherine imagina a abadia como um cenário de mistérios e segredos, esperando encontrar corredores sombrios, passagens secretas ou até crimes ocultos. Essa expectativa é habilmente satirizada por Austen, que contrasta as fantasias de Catherine com a realidade prosaica da abadia, uma residência confortável, mas desprovida de elementos sobrenaturais. No entanto, as ilusões de Catherine não são inteiramente infundadas, pois ela começa a suspeitar que o General Tilney, o pai autoritário de Henry e Eleanor, esconde algo sinistro, possivelmente relacionado à morte de sua esposa anos antes. Essas suspeitas, embora exageradas, refletem a intuição de Catherine sobre a frieza e o materialismo do General, cuja hospitalidade é motivada pela crença errônea de que Catherine é uma herdeira rica.

O conflito central do romance surge quando as ilusões de Catherine colidem com a realidade. Sua amizade com Isabella desmorona quando esta, após ser rejeitada por James Morland, irmão de Catherine, se envolve com o Capitão Frederick Tilney, irmão mais velho de Henry, em uma tentativa de assegurar um casamento vantajoso. A traição de Isabella expõe sua natureza interesseira e serve como uma lição para Catherine sobre a superficialidade de certas relações. Enquanto isso, John Thorpe, frustrado com a indiferença de Catherine, espalha rumores falsos sobre sua riqueza, o que inicialmente impressiona o General Tilney, mas eventualmente leva à sua expulsão abrupta de Northanger Abbey quando ele descobre a verdade sobre sua posição modesta. Esse momento de humilhação é um ponto de virada para Catherine, que retorna a Fullerton confrontada com a dura realidade das convenções sociais e a vulnerabilidade de sua posição como mulher jovem sem fortuna.

A resolução do enredo é marcada pela reconciliação e pelo crescimento de Catherine. Henry, desafiando a desaprovação de seu pai, segue Catherine até Fullerton e propõe casamento, demonstrando sua integridade e afeto genuíno. A narradora, com sua característica ironia, observa que o General Tilney eventualmente consente ao casamento, influenciado pela melhoria das circunstâncias financeiras dos Morland e pelo casamento de Eleanor com um nobre rico. O romance termina com o casamento de Catherine e Henry, um desfecho que, embora convencional, é enriquecido pelo desenvolvimento de Catherine, que aprende a temperar sua imaginação com um entendimento mais maduro do mundo. Austen também resolve os arcos secundários: Isabella é abandonada por Frederick, e John Thorpe desaparece da narrativa, sua arrogância não recompensada. A conclusão, embora otimista, mantém um toque de ironia, sugerindo que a felicidade de Catherine é, em parte, resultado de circunstâncias fortuitas, não apenas de virtude.

A estrutura narrativa de Northanger Abbey é notavelmente experimental, com uma voz autoral que frequentemente rompe a quarta parede, comentando diretamente sobre as convenções literárias e guiando o leitor através da sátira. O romance é dividido em dois volumes, com o primeiro centrado na vida social de Bath e o segundo na reclusão de Northanger Abbey, uma estrutura que reflete a transição de Catherine do mundo público para o privado. O uso do discurso indireto livre permite que Austen mergulhe na mente de Catherine, capturando sua ingenuidade e suas fantasias góticas, enquanto a narradora mantém uma distância crítica que convida o leitor a rir de suas ilusões. Eventos sociais, como bailes e passeios, são habilmente utilizados para avançar a trama e revelar as motivações dos personagens, enquanto os diálogos, cheios de humor e subtexto, capturam a essência da sociedade de Bath.

Os personagens secundários são fundamentais para a riqueza do enredo. Henry Tilney, com sua inteligência e bondade, é um herói romântico que desafia as convenções ao valorizar Catherine por sua autenticidade, não por sua riqueza. Eleanor Tilney, embora menos desenvolvida, oferece uma amizade genuína que contrasta com a falsidade de Isabella. O General Tilney, com sua autoridade fria e materialismo, representa os valores patriarcais que Austen critica, enquanto os irmãos Thorpe, Isabella e John, encarnam a ambição e a hipocrisia de uma sociedade obcecada por status. Mrs. Allen, com sua preocupação fútil com moda, é uma figura cômica que reflete a superficialidade de certos círculos sociais. Esses personagens amplificam os temas de autenticidade e ilusão, enquanto fornecem um espelho para o crescimento de Catherine.

Os temas centrais de Northanger Abbey — a sátira aos romances góticos, a transição para a maturidade e a crítica às convenções sociais — são explorados com uma leveza que não compromete sua profundidade. A paródia dos romances góticos é evidente nas fantasias de Catherine, mas Austen também utiliza essas ilusões para comentar a influência da literatura na formação da percepção, sugerindo que a imaginação, quando descontrolada, pode distorcer a realidade. A jornada de Catherine, de uma jovem ingênua a uma mulher mais consciente das complexidades sociais, reflete o tema da maturidade, enquanto a crítica de Austen à sociedade é transmitida através da sátira às ambições matrimoniais, como as de Isabella e John, e à rigidez patriarcal, personificada pelo General Tilney. O romance também aborda a vulnerabilidade das mulheres, com Catherine enfrentando a precariedade de sua posição social ao ser expulsa de Northanger.

Estilisticamente, Northanger Abbey é marcado por uma prosa viva e irônica, com uma narradora que assume um papel ativo, comentando as ações dos personagens e as convenções literárias com humor mordaz. Os diálogos são rápidos e reveladores, capturando as nuances das interações sociais, enquanto o uso de alusões literárias, como referências a The Mysteries of Udolpho, reforça a sátira. A ausência de descrições extensas de cenários mantém o foco nas relações humanas, uma marca registrada do estilo de Austen. A narrativa, embora menos polida do que em romances posteriores, exibe uma energia juvenil que reflete a experimentação de uma autora jovem.

O impacto cultural de Northanger Abbey é menos pronunciado do que o de Pride and Prejudice ou Emma, em parte devido à sua publicação póstuma e ao seu tom satírico, que pode ser menos acessível a leitores modernos. No entanto, a obra inspirou adaptações, como o filme de 2007 da ITV, e continua a ser estudada por sua crítica literária e social. Para os estudiosos, Northanger Abbey oferece um terreno fértil para análises de gênero, literatura e formação identitária, enquanto para o público geral, proporciona uma comédia leve e uma heroína relatable. Sua relevância contemporânea reside em sua exploração de questões como a influência da mídia na percepção e a pressão social sobre as mulheres jovens.

Em conclusão, Northanger Abbey é uma obra de notável originalidade, que combina sátira, romance e crítica social para criar um retrato vívido da transição de uma jovem para a maturidade. A jornada de Catherine Morland, de uma leitora ingênua de romances góticos a uma mulher mais consciente das realidades sociais, reflete o poder transformador do autoconhecimento em um mundo marcado por ilusões e convenções. Através de sua prosa irônica e de sua observação aguda, Jane Austen cria uma narrativa que é ao mesmo tempo divertida e profunda, consolidando seu talento como uma das maiores romancistas da literatura inglesa. A obra permanece um testemunho da habilidade de Austen em desafiar as expectativas literárias enquanto oferece insights atemporais sobre a condição humana.

A carta entregue por Mr. Darcy à Elizabeth Bennet


Na manhã seguinte, ao despertar, Elizabeth encontrou no seu espírito os mesmos problemas e meditações que, na véspera, o sono acabara por vencer. Ainda não se recompusera da surpresa. Era-lhe impossível pensar noutra coisa; e, incapaz de encontrar uma ocupação que a distraísse, resolveu, logo após o pequeno-almoço, fazer um pouco de exercício ao ar livre. Encaminhara-se para o seu passeio favorito, quando a deteve a lembrança de que o Sr. Darcy costumava por lá aparecer, e, em vez de penetrar no parque, Elizabeth tomou a azinhaga que o bordejava. A cerca do parque acompanhava a estrada de um dos lados e em breve ela passou por um dos portões.

Após percorrer por duas ou três vezes aquele trecho da azinhaga, sentiu-se tentada, pela beleza da manhã, a parar a um dos portões e contemplar o parque. Durante as cinco semanas que permanecera no Kent, uma grande transformação se operara, e cada dia as árvores ficavam mais verdes. Elizabeth preparava-se para continuar o passeio, quando, no pequeno bosque que limitava o parque, avistou de relance um homem caminhando na sua direcção. Receando que se tratasse do Sr. Darcy, Elizabeth tratou de se afastar, mas a pessoa já se encontrava suficientemente perto para poder vê-la. Apressando o passo, essa pessoa aproximou-se e pronunciou o nome de Elizabeth. Esta estava de costas, mas, ao ouvir o seu nome, embora reconhecesse a voz do Sr. Darcy, voltou a acercar-se do portão. Ele, do outro lado, fizera o mesmo, e, estendendo-lhe uma carta, que ela instintivamente aceitou, disse-lhe com ar altivo:

- Andei pelo bosque na esperança de a encontrar. Quer dar-me a honra de ler esta carta? - E, fazendo uma ligeira vénia, voltou-se e partiu.

Sem qualquer expectativa de prazer, mas com grande curiosidade, Elizabeth abriu a carta e, com um espanto sempre crescente, viu que o envelope continha duas folhas de papel, inteiramente preenchidas por uma letra apertada. Prosseguindo no seu passeio pela alameda, Elizabeth começou a ler. A carta estava datada de Rosings, das oito horas da manhã, e constava do seguinte:

Não fique alarmada, minha senhora, ao receber esta carta, pela apreensão de que ela contenha a repetição daqueles sentimentos ou a renovação daquelas propostas que ontem à noite tanto a maçaram. Escrevo-lhe sem qualquer intenção de a aborrecer, ou de me humilhar, insistindo em exprimir esperanças de que, para a felicidade de ambos, não poderão ser esquecidas cedo demais; e o esforço que esta carta poderá representar, para mim ao escrevê-la e para si ao lê-la, teria sido poupado, acaso o meu carácter não exigisse que ela fosse escrita e lida. Necessito, pois, que me perdoe a liberdade com que exijo a sua atenção; sei que os seus sentimentos me a concederão com relutância, mas não posso deixar de o fazer.


Duas foram as acusações que ontem à noite me fez, diferentes tanto na natureza como pela sua importância. Acusou-me, primeiro, de ter separado o Sr. Bingley de sua irmã, indiferente aos sentimentos de ambos; e, segundo, de ter arruinado a possibilidade imediata e as probabilidades futuras do Sr. Wickham, desafiando abertamente quaisquer direitos, a própria honra e a humanidade. Ter repudiado voluntária e gratuitamente o companheiro da minha infância, o favorito declarado de meu pai, um rapaz que dependia exclusivamente da nossa protecção e a quem esta fora prometida, seria uma perversidade incomparavelmente mais grave do que a separação de duas pessoas cuja afeição, embora verdadeira, nunca poderia ter crescido excessivamente durante aquelas poucas semanas que estiveram juntas. Espero, de futuro, estar salvaguardado da severidade das censuras que me foram feitas com tanta veemência sobre estes dois casos, após a leitura da seguinte explicação dos meus actos e seus motivos. 

Se nesta minha exposição me vir na iminência de exprimir sentimentos que a possam ofender, apenas me resta participar-lhe o meu sincero pesar. A necessidade a isso me obriga - e quaisquer outras desculpas seriam absurdas. Pouco tempo depois da nossa chegada ao Hertfordshire, percebi, juntamente com outras pessoas, que Bingley preferia a sua irmã mais velha a qualquer outra moça na região. Porém, foi só por ocasião do baile em Netherfield que pela primeira vez receei que ele se apaixonasse seriamente. Já várias vezes o vira apaixonado. No baile, enquanto dançava com a menina, soube, através da informação acidental de Sir William, que as atenções de Bingley para com a sua irmã tinham dado azo a um rumor geral acerca do casamento de ambos. Sir William fez-lhe referência como a um acontecimento positivo, do qual só a data era incerta. A partir desse momento dediquei toda a minha atenção à atitude do meu amigo; e reparei que a inclinação dele pela Menina Bennet era mais evidente do que qualquer uma das que lhe tinha visto anteriormente. Observei também a sua irmã. O olhar e as maneiras eram francos, alegres e atraentes como sempre, mas sem qualquer sintoma especial de afeição, o que definitivamente me convenceu de que, embora ela aceitasse as atenções de Bingley com prazer, não as provocava porque participasse do mesmo sentimento. Aqui, se a menina não se enganou, enganei-me eu. O seu conhecimento íntimo de sua irmã tornará mais provável última hipótese. Nesse caso, se o meu erro me levou a inflingir um desgosto a sua irmã, o seu ressentimento não é injustificado.  Porém, nada me impedirá de afirmar que a serenidade do rosto de sua irmã e a tranquilidade dos seus modos eram tais que trariam ao observador mais perspicaz a convicção de que, apesar de toda a amabilidade do seu temperamento, o coração não era dos mais fáceis de atingir. É certo que desejava acreditar na indiferença dela, mas ouso afirmar que as minhas investigações e decisões não são geralmente influenciadas pelas minhas esperanças ou receios. Não foi porque o desejasse que acreditei na indiferença da sua irmã, mas, simplesmente, porque cheguei a esta convicção imparcial, e ela é tão sincera quanto o meu desejo. As minhas objecções contra tal casamento não foram apenas aquelas que ontem à noite lhe expus e que, no meu caso, exigiram toda a força da paixão para serem vencidas; a desigualdade social não representaria um mal tão grande para o meu amigo como para mim. Mas existiam outras causas para a minha resistência; causas que, embora ainda existentes e idênticas para ambos os casos, eu tentei esquecer porque não diziam imediatamente respeito a mim. Tais causas necessitam ser mencionadas, embora sumariamente. A situação da família de sua mãe, se bem que pouco recomendável, nada era em comparação com aquela falta total de delicadeza tão frequente e quase permanentemente demonstrada por tal senhora, pelas suas três irmãs mais jovens e por vezes até pelo seu pai. Perdoe-me. Custa-me ofendê-la. Contudo, qualquer que seja o aborrecimento que os seus parentes mais próximos lhe possam causar ou a tristeza que a presente descrição não deixará de lhe suscitar, espero que a seguinte reflexão lhe sirva de consolo: que o facto universalmente reconhecido de que tanto a menina como a sua irmã mais velha sempre se comportaram de modo a evitar uma censura semelhante é o melhor elogio que se poderá fazer à sensatez e ao carácter de ambas. Acrescentarei apenas que tudo o que se passou naquela noite veio confirmar a minha opinião sobre todas as pessoas em questão e fortalecer a minha resolução de proteger o meu amigo de uma aliança que eu considerava altamente desastrosa. Ele deixou Netherfield no dia seguinte, como decerto está lembrada, com a intenção de regressar em breve. Devo agora explicar qual a minha interferência no caso. A inquietude das irmãs de Bingley fora igualmente despertada e logo descobrimos a coincidência dos nossos sentimentos a tal respeito; e, convencidos da urgência em afastar o irmão, decidimos acompanhá-lo a Londres. Foi o que fizemos, e não perdi tempo em revelar ao meu amigo os inconvenientes da sua escolha. Descrevi-lhos e frisei-os com toda a gravidade. No entanto, por mais que esta advertência possa ter abalado a sua resolução, não creio que ela teria sido suficiente para impedir o casamento, se não tivesse sido apoiada pela afirmação, que não hesitei em fazer, de que a sua irmã lhe era indiferente. Ele acreditara até àquele momento que a Menina Jane correspondia sinceramente à sua afeição, senão com igual intensidade. Mas Bingley é por natureza muito modesto e comovedoramente dependente da minha opinião. Convencê-lo, portanto, de que ele estava enganado, não foi tarefa difícil. Persuadi-lo de voltar ao Herfordshire, após ter firmado o primeiro ponto, foi coisa de um instante. Não me arrependo de o ter feito. Existe apenas uma parte da minha conduta que não me satisfaz inteiramente; pois condescendi em usar de certos artifícios para esconder de Bingley o facto de sua irmã se encontrar em Londres. Sabia dessa presença, bem como a Menina Bingley, mas o irmão desta ainda agora o ignora. É, talvez, provável que eles se encontrassem sem outras consequências; mas o seu afecto não me pareceu suficientemente extinto para que ele pudesse ver sua irmã sem correr algum perigo. Talvez tal encobrimento, tal subterfúgio, seja indigno de mim. Contudo, é um facto consumado e assistido das melhores intenções. Sobre este assunto nada mais se me oferece dizer-lhe, nem outras explicações a dar-lhe. Se acaso causei desgosto a sua irmã, foi sem saber que o fiz, e, embora os motivos que inspiraram a minha conduta lhe pareçam a si naturalmente insuficientes, não vejo ainda razões para condená-los. Quanto à outra acusação que me foi feita, a mais grave e a que diz respeito ao Sr. Wickham, só poderei refutá-la revelando-lhe a história da sua relação com a minha família. Ignoro se ele formulou alguma acusação particular à minha pessoa; mas acerca da verdade do que vou relatar poderei indicar-lhe mais de uma testemunha insuspeita. O Sr. Wickham é filho de um homem muito respeitável, que durante vários anos geriu os bens da propriedade de Pemberley e cuja conduta irrepreensível no desempenho do seu cargo mereceu naturalmente a gratidão de meu pai, que se reflectiu sobretudo em George Wickham, seu afilhado, para com o qual se mostrou de uma generosidade sem limites e lhe devotou grande afeição. Meu pai pagou-lhe os estudos num colégio e mais tarde em Cambridge, auxílio este deveras importante, pois o pai do Sr. Wickham, que as extravagancias da esposa privavam quase sempre do necessário, não estava em condições de dar ao filho uma educação liberal. Meu pai não só apreciava a companhia de George Wickham, cujas maneiras, aliás, eram sempre muito cativantes, como tinha por ele a maior admiração e, alimentando a esperança de que o rapaz abraçasse a carreira eclesiástica, tencionava reservar-lhe um lugar na mesma. Quanto a mim, desde há muito tempo que me desiludira a respeito dele. As suas más inclinações, a falta de escrúpulos, que ele tinha o cuidado de esconder do seu melhor amigo, não poderiam passar despercebidas a um rapaz da sua idade, que o observava e tinha a oportunidade de o ver em momentos de descuido, coisa que ao Sr. Darcy era totalmente impossível. De novo me vejo forçado a magoá-la - até que ponto, só a menina o poderá dizer. Mas quaisquer que sejam os sentimentos que o Sr. Wickham lhe possa ter inspirado, a suspeita que alimento acerca desses sentimentos não me impedirá de lhe revelar o verdadeiro carácter de tal pessoa, e apenas constituirá mais um motivo. O meu excelente pai morreu há cerca de cinco anos e a sua afeição pelo Sr. Wickham manteve-se tão firme até ao fim que nas suas últimas vontades me recomendou que me encarregasse de velar pelo bem-estar do seu afilhado e, acaso ele sempre se ordenasse, providenciasse para que ele fosse ocupar um importante posto, mal este vagasse. Deixou-lhe também um legado de mil libras. O pai dele não sobreviveu muito tempo ao meu, e meio ano após estes acontecimentos recebi uma carta do Sr. Wickham em que ele me informava ter decidido não tomar ordens e me pedia o adiantamento da compensação pecuniária pelo lugar que ele nunca ocuparia. Tencionava, acrescentava ele, dedicar-se ao estudo de Direito e esperava que eu compreendesse que o rendimento das mil libras não bastariam para tal. Apesar do meu desejo em acreditar na sua sinceridade, não o consegui; mas, mesmo assim, mostrei-me favorável à sua proposta. Eu sabia que o Sr. Wickham nunca enveredaria pela carreira eclesiástica. O assunto foi em breve arrumado. Ele desistiu de toda a protecção relativa à sua entrada na Igreja, mesmo se algum dia estivesse em situação de recebê-la, e aceitou em troca a quantia de três mil libras. A partir daí, nada tínhamos que dizer um ao outro. O que eu sabia a respeito dele era suficiente para não o desejar como amigo. Não o convidava para Pemberley, nem procurava a sua companhia na capital. Aí instalado, creio que praticamente sempre, a sua pretensão de estudar Direito não passou de um subterfúgio e achando-se nessa altura liberto de qualquer obrigação, entregou-se a uma vida de indolência e dissipação. Durante três anos poucas notícias tive dele; mas, quando faleceu a pessoa que ocupava o posto que lhe fora destinado, ele tornou a escrever-me, solicitando a sua apresentação para o dito lugar. A sua actual situação, dizia ele, e o que não me custou a acreditar, era bastante precária. Descobrira que o estudo de Direito era pouco proveitoso e estava agora absolutamente resolvido a tomar ordens, acaso eu o apresentasse para o posto que acabara de vagar, coisa de que ele não duvidava, pois estava informado de que não havia outro pretendente e confiava que eu tivesse presente as intenções do meu venerando pai; creio que não me censurará por lhe ter recusado tal pretensão e rejeitado todas as suas tentativas no mesmo sentido. O seu ressentimento foi proporcional à situação desesperada em que se encontrava - e mostrou-se, sem dúvida, tão violento no ataque que à minha pessoa fez na opinião dos outros como nas recriminações que me dirigiu. Após esse período, todas as relações de mera formalidade foram cortadas. Como ele viveu não sei. Mas no Verão passado tornou a atravessar-se no meu caminho, e da forma mais repugnante. Devo agora mencionar certas circunstâncias que eu mesmo desejaria esquecer e que apenas uma obrigação tão forte como a actual me levam a revelá-las a alguém. Depois de ter dito isto, confio inteiramente na sua discrição. A minha irmã, dez anos mais jovem do que eu, foi deixada em tutela ao sobrinho da minha mãe, o coronel Fitzwilliam, e a mim próprio. Há cerca de um ano, ela saiu do colégio e foi morar em Londres, na companhia de uma senhora encarregada de superintender na sua educação. No

Verão passado, ela e essa senhora foram para Ramsgate. O Sr. Wickham, obedecendo sem dúvida a um plano, partiu para o mesmo lugar; descobriu-se depois que houvera um entendimento prévio entre ele e a Sr.a Younge, sobre cujo carácter nos enganámos desgraçadamente. Com o auxílio e a conivência de tal pessoa, George Wickham conseguiu captar de tal modo as boas graças de Georgiana, cujo coração extremamente afectivo conservava ainda viva a impressão da bondade com que ele a tratara em criança, que ela se convenceu de que o amava realmente e consentiu em ser raptada. Ela tinha então apenas quinze anos, o que lhe servirá de desculpa; e, após ter constatado a sua imprudência, tenho o consolo de poder acrescentar que soube disto por ela própria. Cheguei a Ramsgate, inesperadamente, um ou dois dias antes da projectada fuga, e Georgiana, incapaz de suportar a ideia de desgostar e ofender um irmão que ela considerava quase como um pai, confessou-me tudo. Pode bem imaginar como me senti e como agi. A fim de não prejudicar a reputação da minha irmã e não ofender os seus sentimentos, abstive-me de qualquer acto de represália em público; mas escrevi ao Sr. Wickham, que partiu imediatamente. Quanto à Sr.a Younge, não hesitei em despedi-la. O principal objectivo do Sr. Wickham era, sem dúvida, apoderar-se da fortuna de minha irmã, que é de trinta mil libras; mas não posso deixar de pensar que o desejo de se vingar de mim tenha também influído fortemente nele. A sua vingança seria, de facto, completa.

Esta é, minha senhora, a narrativa fiel dos acontecimentos que nos dizem respeito a ambos; e, se não a rejeitar como absolutamente falsa, espero que me sirva de atenuante para a crueldade com que agi contra o Sr. Wickham. Não sei de que modo, nem as falsidades de que ele usou para a atrair à sua causa; mas o êxito por ele alcançado não é de estranhar. Dada a sua ignorância total dos factos e das personagens, não só não estava em seu poder desmascarar essas falsidades, como, além de tudo, o seu temperamento não é dado à desconfiança. Talvez se surpreenda por eu não lhe ter contado tudo isto ontem à noite, mas naquele momento não tinha suficiente domínio sobre mim mesmo para decidir o que devia e o que não devia revelar. Quanto à verdade de tudo o que aqui ficou relatado, posso apelar particularmente para o testemunho do coronel Fitzwilliam, que, dado o nosso parentesco e constante intimidade, e sobretudo a sua qualidade de executor testamentário de meu pai, foi posto necessariamente a par de todos os detalhes concernentes a esses acontecimentos. Se acaso a antipatia que por mim nutre a impedir de dar o devido valor às minhas asserções, o mesmo não acontecerá em relação ao meu primo, e, para que haja a possibilidade de consultá-lo, procurarei entregar-lhe esta carta logo de manhã. Acrescentarei apenas, Deus a abençoe! - Fitzwilliam Darcy.

Outras resenhas de Jane Austen que talvez você queira ler:

Orgulho e Preconceito
Amor e Amizade
Sanditon
A abadia de Northanger
Razão e sensibilidade
Emma
Lady Susan
Mansfield Park
A história da Inglaterra
Os Watson

A AUTORA

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.

A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.

[RESENHA #705] Persuasão, de Jane Austen

Persuasão foi o último trabalho completo de Jane Austen. O livro conta a história de Anne Elliot, uma das heroínas mais tranquilas e reservadas de Austen, mas, ao mesmo tempo, uma das mais fortes e abertas às mudanças. O livro enaltece a constância do amor numa época turbulenta na história da Inglaterra: as guerras napoleônicas. Escrito nesse período, o romance descreve como uma mulher pode permanecer fiel ao seu passado e, ainda assim, pensar em um futuro feliz. Austen expõe de maneira sutil como uma mulher pode passar por cima das convenções sociais e das restrições femininas em busca da felicidade.

RESENHA

Há sete anos, Anne Elliot recebeu uma proposta de casamento de um jovem chamado Frederick Wentworth. Embora estivessem muito apaixonados, Anne permitiu-se ser persuadida a não se casar por uma amiga da família, Lady Russell. Com o coração partido, Wentworth saiu e ingressou na Marinha.

Anne, aos 27 anos, que se deteriora muito rapidamente, enfrenta agora um perigo iminente. Suas irmãs a tratam como mobília e presumem que, como mulher solteira e provavelmente nunca casada, ela não tem nada melhor para fazer do que cuidar dos filhos enquanto sai para festas. Seu pai, um esnobe vaidoso e perdulário, ignora seus sábios conselhos sobre como cortar despesas, embora seja claramente o membro mais sensato da família.

Depois disso, Frederick Wentworth retorna como Capitão Wentworth, um solteirão rico e cobiçado agora perseguido por metade das mulheres de Bath.

Este foi o último trabalho de Austen e muitos fãs de Austen o listam como seu favorito. Não posso dizer que foi meu. A história deixou algumas surpresas; embora, é claro, existam os mal-entendidos habituais, "tramas" falsas, equívocos sobre quem está apaixonado por quem e quem vai se casar, etc., tudo isso são pistas falsas muito óbvias para o leitor, já que Austen praticamente explica a verdadeira razão de tudo desde o início.

Eu gostei – sempre gostei de Austen. Mas faltava em Persuasão o que tornava Orgulho e Preconceito, Abadia de Northanger e Emma tão charmosos: humor.

Isso não quer dizer que não houvesse humor (colocado acima de Mansfield Park). Austen é sempre espirituosa, sempre expressando em seu estilo único e florido sentimentos que seriam rudes ou mordazes se expressos de forma mais direta, e ela permite que seus leitores se divirtam com o que seus personagens pensam, mas nunca diriam.

Mulheres muito bem-humoradas e não afetadas, na verdade - disse a Sra. Croft, num tom de elogio mais calmo, o que fez Anne suspeitar que as suas faculdades perceptivas poderiam não considerar nenhuma delas digna do seu irmão; “e uma família muito respeitável. Não se poderia estar associado a gente melhor. Meu caro almirante, esse cargo! Certamente o preencheremos.”

Mas, dando friamente às rédeas um curso melhor, eles passaram alegremente pelo perigo; e uma vez depois disso, estendendo a mão criteriosamente, eles não caíram nos sulcos nem bateram no carrinho de esterco; e Anne, divertida com o estilo de conduta deles, que ela não imaginava ser uma má representação da direção geral de seus negócios, viu-se alojada em segurança com eles no chalé.

O pai de Anne Elliot, Sir Walter, é um homem extremamente burro, e o engraçado pé que ele se leva muito a sério.

Sir Walter Elliot, de Kellynch Hall, em Somersetshire, era um homem que, para sua própria diversão, nunca lia um livro fora do Baronete; lá ele encontrou emprego para suas horas ociosas e consolo em suas horas difíceis; ali suas habilidades foram despertadas para admiração e respeito, ao ver o limitado remanescente das primeiras patentes; quaisquer sentimentos indesejáveis ​​decorrentes de assuntos domésticos naturalmente se transformaram em arrependimento e desprezo enquanto ele vasculhava as quase infinitas criações do século passado; e ali, se todos os outros jornais fossem impotentes, ele poderia ler a sua própria história com um interesse que nunca falhava.

Mas o humor deste livro é um pouco tênue, afinal. Sir Walter não tem falas engraçadas, ele apenas anda bisbilhotando os que estão abaixo dele e age de forma arrogante, sem autoconfiança ou responsabilidade. O pai de Anna e suas irmãs passam a segunda metade do livro beijando os primos nobres distantes de Dalrymple, que são chatos, desinteressantes e importantes apenas porque têm sangue azul. Os Elliots fazem um som engraçado quando mencionam sua conexão.

Anna nunca tinha visto o pai e a irmã em contato com a nobreza e tinha que admitir que estava desapontada. Ela esperava coisas melhores das idéias elevadas que eles tinham sobre sua própria situação na vida e foi reduzida a uma necessidade que nunca imaginou; o desejo de que tenham mais orgulho; “às nossas primas Lady Dalrymple e Miss Carteret”; "nossos primos, os Dalrymples", soou em seus ouvidos o dia todo.

Os problemas familiares de Anna são um tanto divertidos e há outras falas que podem ser citadas, mas basicamente é a história de uma mulher sensata e de bom coração, em perigo iminente de se tornar virgem e de se casar adequadamente, apesar de ser perdulária. e um pai superficial e egocêntrico. enfermeiros focados.

Os temas do romance são a persuasão (quando é bom ser persuadido pelos outros e quando não é) e a lealdade, representada pelo amor inabalável que Anne e o Capitão Wentworth têm um pelo outro, apesar da sua ausência de sete anos. . É claro que os “vilões” nunca são verdadeiramente maus, eles só querem se casar por outros motivos que não a devoção altruísta.

Dado o triste destino de Austen como uma mulher solteira que morreu aos 41 anos, não podemos deixar de nos identificar com esta heroína mais do que com qualquer outra. Por baixo da refinada comédia romântica de costumes, Austen, como sempre, sugere que destino chato era ser uma mulher solteira sem felicidade própria, e mostra sua simpatia habitual por seu próprio sexo, expressa com humor travesso:

"Mas deixe-me observar que todas as histórias estão contra você - todas as histórias, prosa e verso. Se eu tivesse a memória de Benwick, poderia trazer-lhe cinquenta citações de uma vez do meu lado do argumento, e acho que nunca abri um livro da minha vida que não tinha o que dizer sobre a inconstância das mulheres Canções e provérbios falam sobre a inconstância das mulheres, mas você pode dizer que foram todos escritos por homens.

"Talvez eu devesse. Sim, sim, por favor, nenhuma referência a exemplos em livros. Os homens tiveram todas as vantagens sobre nós ao contar sua própria história. A educação era deles em um grau muito superior; a caneta estava em suas mãos. E eles não deixarei que os livros que estavam provando alguma coisa."

A persuasão tem todos os pontos fortes habituais de Austen – prosa requintada, sagacidade e crítica social contundente – e um elenco de personagens grande o suficiente para formar um elenco interessante, com heróis e vilões em guerras românticas. Mas a simplicidade do enredo e a falta de elemento humorístico não podem torná-lo meu favorito.

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Sanditon
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Razão e sensibilidade
Emma
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A AUTORA

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.

A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.


[RESENHA #706] Os Watson, de Jane Austen


Jane Austen abandonou a escrita de Os Watsons por volta de 1805, deixando a história de Emma, Elizabeth, Margaret e Penélope sem um final. Em 1850, a sobrinha Catherine Hubback o publicou - "The Younger Sister", ainda sem tradução no Brasil -, provavelmente seguindo as confidências de Jane Austen à sua irmã Cassandra sobre as previsões de final.Mais de 200 anos depois, a jovem autora brasileira Lis Wey decidiu reviver as páginas de uma de suas autoras prediletas, propondo uma versão em Língua Portuguesa para a obra e escrevendo um final diferente para o romance. "Emma Watson é a mais nova dos filhos de um viúvo adoecido. Depois de anos vivendo sob a tutela de uma tia na Escócia, foi enviada de volta para casa e encontrou suas irmãs, descobrindo inimizades, desentendimentos, rancores e mal-entendidos. Influenciada pelas percepções da irmã mais velha, Elizabeth, Emma passa a observar as pessoas e formar a própria opinião sobre elas.Elizabeth, a irmã mais velha e responsável pelos cuidados com o pai, sofreu uma desilusão causada por Penélope, outra de suas irmãs, que a afastou de Purvis, o grande amor de Eli. Depois disso, Penélope partiu atrás de um marido. Outra de suas irmãs, Margareth, disputa com todas as moças solteiras o amor do galanteador Tom Musgrave.No primeiro baile que comparece, Emma conhece a família Edwards e os Osbornes, família mais abastada da região, além do antigo tutor de lorde Osborne, o senhor Howard, personagens cruciais no desenrolar da trama."Os conflitos das irmãs fazem desta história de Jane Austen um terreno fértil à criatividade de Lis Wey, autora de "A Herdeira do Título", "O Segredo de Lady Julie" e outros romances de época nacionais ambientados na Inglaterra de Austen.

RESENHA


Os Watsons é um dos dois romances inacabados de Jane Austen (o outro é Sanditon). É um fragmento deserto, com apenas cerca de 7.500 palavras (ou 80 páginas), cerca de um quinto da extensão de seus outros romances. Embora se pense que foi escrito por volta de 1803 (e abandonado por volta de 1805 após a morte de seu pai), o fragmento recebeu o título de Os Watsons e foi publicado após sua morte em 1871 pelo sobrinho do escritor, James Edward Austen-Leigh.

A heroína da história é a filha mais nova da família Watson, Emma Watson. Nossa MC Emma entra na história depois de ser mandada de volta para a modesta propriedade rural de sua família, depois de passar a juventude criada por uma tia rica que fez tudo o que podia para sustentar uma educação elegante para Emma. Infelizmente para Emma, ​​​​ela agora é muito mais educada do que o resto da família, o que sem dúvida deve ser a causa da confusão na história. A ação começa no primeiro baile de formatura de Emma, ​​onde ela imediatamente demonstra simpatia e gentileza para com o menino triste (o que também a aquece com a família dos meninos, que inclui o vizinho rico).

Alguns dos personagens secundários da história são logo apresentados, dando-nos uma ideia de onde a história poderia ter chegado - uma irmã fofoqueira que nos apresenta um pequeno drama, um pai doente, um cavalheiro que rapidamente se torna desagradável, um cavalheiro que parece agradável, e outro cavalheiro que permanece misteriosamente distante.

O fragmento oferece um começo promissor e é uma pena que Jane nunca tenha conseguido terminar a história. O romance termina aqui, mas a irmã de Jane, Cassandra, sugeriu um possível final que foi revelado: Emma deveria se casar com o Sr. Howard após rejeitar a proposta de Lord Osborne! Que reviravolta!

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[RESENHA #704] História da Inglaterra, de Jane Austen


História da Inglaterra, de Jane Austen, é uma obra escrita quando a autora tinha apenas quinze anos. O livro é uma narrativa ficcional da história da Inglaterra, desde o reinado de Henrique IV até a morte de Carlos I.

A obra é narrada por uma historiadora fictícia, que se apresenta como parcial, preconceituosa e ignorante. A narradora não se preocupa em apresentar uma visão imparcial da história, mas sim em compartilhar suas opiniões e preconceitos sobre os eventos e personagens históricos. O livro é dividido em dois volumes. O primeiro volume abrange o reinado de Henrique IV a Eduardo III. O segundo volume abrange o reinado de Ricardo II a Carlos I. A obra é uma mistura de humor, sátira e crítica social. Austen usa a história para explorar temas como o poder, a corrupção e a hipocrisia.

RESENHA

A História da Inglaterra é um pequeno texto que Austen escreveu em 1791 quando era adolescente. Seu título completo é História da Inglaterra desde o reinado de Henrique IV. até a morte de Carlos I. e pretende ser uma paródia da obra de Oliver Goldsmith de 1771 intitulada História da Inglaterra desde os primeiros tempos até a morte de George II. Você sabe imediatamente que Austen não está escrevendo uma história séria porque a obra é “de um historiador parcial, tendencioso e ignorante”.

Quanto mais me desvio dos romances de Austen para seus trabalhos anteriores, mais impressionada ela fica comigo como escritor. A História da Inglaterra realmente destaca sua inteligência e humor e mostra que ela tinha um talento especial para cativar o público desde tenra idade. Seu amor pela literatura também transparece quando ela cita Shakespeare e outras obras literárias, em vez de basear sua história dos monarcas nas obras de grandes historiadores.

Austen também zomba da ideia de preconceito histórico, particularmente de como as pessoas se lembram do que querem lembrar e de como as crenças pessoais de um historiador podem desempenhar um papel na forma como o passado é percebido. Como em muitos romances de Austen, nos quais o narrador interage com o leitor, ela inclui a si mesma e até mesmo sua família e amigos em sua narrativa histórica e nunca hesita em acrescentar seu ponto de vista.

Não posso dizer muito sobre o Sentido deste Monarca [Henrique VI] - nem o faria se pudesse, pois ele era um Lancastriano. Suponho que você saiba tudo sobre as guerras entre ele e o duque de York, que estava do lado certo; Caso contrário, é melhor ler alguma outra História, pois não serei muito difuso nisso, querendo com isso apenas desabafar meu rancor contra e mostrar meu ódio a todas aquelas pessoas cujos partidos ou princípios não combinam com os meus. , e não fornecer informações. (páginas 139-140)

Não estando muito familiarizado com a monarquia inglesa, muitas das referências feitas por Austen passaram pela minha cabeça. Mesmo assim, entendi o que ela quis dizer e gostei do humor.

A História da Inglaterra é uma leitura obrigatória para os fãs de Austen. Tem apenas algumas páginas e li em cerca de 20 minutos durante meu horário de almoço. É interessante comparar os escritos adolescentes de Austen com suas obras mais maduras, como Persuasão. Gostei de tudo que li de Austen até agora e fico triste ao pensar o quanto ela poderia ter feito mais com a palavra escrita se tivesse vivido mais. (Como observação, ontem, 18 de julho, foi o 194º aniversário da morte de Austen.)

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