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CRÍTICA: Uma vida em sete dias (2002)

Imagem: Prime Video / Divulgação

"Uma Vida em Sete Dias" (Life or Something Like It), dirigido por Stephen Herek e lançado em 2002, é uma comédia romântica com elementos dramáticos que tenta explorar temas profundos como o sentido da vida, a superficialidade e a transformação pessoal. Estrelado por Angelina Jolie, Edward Burns e Tony Shalhoub, o filme apresenta uma premissa intrigante: uma repórter de televisão, Lanie Kerrigan, recebe a profecia de que morrerá em sete dias, o que a leva a reavaliar suas prioridades e escolhas. Apesar de sua proposta ambiciosa, o filme enfrenta dificuldades em equilibrar humor, drama e reflexão, resultando em uma obra que, embora divertida, não alcança o potencial de sua ideia central. Esta crítica analítica examina o enredo, os personagens, a direção, os temas abordados e o impacto cultural do filme, com base em análises de fontes confiáveis e uma interpretação detalhada de seus elementos cinematográficos.

O enredo de "Uma Vida em Sete Dias" gira em torno de Lanie Kerrigan (Angelina Jolie), uma repórter de televisão em Seattle que vive uma vida aparentemente perfeita: um apartamento luxuoso, um emprego de prestígio, um noivo famoso (Christian Kane) e a promessa de uma promoção para um programa nacional. No entanto, sua existência é marcada pela superficialidade, com foco em aparências e ambições profissionais. Durante uma reportagem, Lanie entrevista Jack (Tony Shalhoub), um sem-teto que se autoproclama profeta e prevê que ela morrerá em sete dias. Inicialmente cética, Lanie começa a acreditar na profecia quando outras previsões de Jack se concretizam, como resultados esportivos e eventos climáticos. Esse evento catalisador a força a confrontar a futilidade de sua vida e a buscar mudanças significativas em um curto período.

A narrativa segue uma estrutura clássica de transformação pessoal, com Lanie tentando reparar relacionamentos estremecidos (como com sua irmã e seu pai), abandonar sua obsessão por dietas e aparência, e explorar uma conexão romântica com Pete (Edward Burns), seu cinegrafista. O filme tenta mesclar comédia, romance e drama, mas sua execução frequentemente cai em clichês. A previsibilidade da trama é um dos principais pontos criticados: desde o início, é evidente que Lanie encontrará redenção, e o romance com Pete segue uma fórmula de "amor-ódio" típica de comédias românticas. Além disso, o filme recorre a um flashback inicial que revela o desfecho, diminuindo a tensão narrativa e enfraquecendo o impacto emocional das escolhas de Lanie.

Apesar disso, a premissa de confrontar a mortalidade em um prazo tão curto oferece momentos de reflexão. A ideia de que a vida pode acabar abruptamente força o espectador a considerar o que realmente importa. No entanto, as ações de Lanie em resposta à profecia — como abandonar dietas, reconciliar-se com a família e cantar em público — são tratadas de forma superficial, sem explorar profundamente as complexidades emocionais ou psicológicas de enfrentar a morte iminente. O filme opta por soluções fáceis, como sugeriu o crítico do Omelete, que descreveu a obra como um "caça-níquel de autoajuda" com uma abordagem novelesca.

Lanie é o coração do filme, e Angelina Jolie entrega uma performance que, embora não excepcional, carrega a narrativa com sua presença magnética. A personagem começa como uma figura estereotipada: a profissional ambiciosa e superficial que prioriza a carreira e a aparência acima de tudo. Jolie consegue transmitir a vulnerabilidade de Lanie à medida que ela enfrenta a possibilidade de sua morte, mas a transformação da personagem é limitada pelo roteiro. A crítica do Cineplayers observa que Jolie se destaca mais por sua beleza do que por suas qualidades artísticas, o que reflete a abordagem do filme em explorar sua fotogenia em vez de aprofundar sua jornada emocional.

A evolução de Lanie, de uma mulher fútil a alguém que valoriza os "pequenos atos" da vida, é um dos pontos altos do filme, segundo avaliações de usuários no AdoroCinema. No entanto, suas ações muitas vezes parecem desconexas ou pouco convincentes, como na cena em que, embriagada, lidera um grupo de trabalhadores em greve cantando "Satisfaction" durante uma transmissão ao vivo. Essa sequência, descrita como "embaraçosamente pouco convincente" pelo IMDb, exemplifica como o filme sacrifica a coerência em favor de momentos cômicos exagerados.

O personagem mais interessante do filme é, sem dúvida, Jack, o profeta sem-teto interpretado por Tony Shalhoub. Jack é uma figura trágica e cômica, vivendo na marginalidade, mas com uma sabedoria que desafia as convenções sociais. Shalhoub imbui o personagem com uma mistura de humor, autoridade e indiferença, tornando-o memorável mesmo com tempo limitado em tela. A crítica do Cineplayers destaca que Jack é o verdadeiro destaque do filme, especialmente em cenas como a que Lanie o procura nos becos para confirmar suas habilidades premonitórias. Sua presença serve como um contraponto à superficialidade de Lanie, mas o filme não explora suficientemente sua backstory ou motivações, deixando-o como um dispositivo narrativo em vez de um personagem totalmente desenvolvido.

Pete, o cinegrafista interpretado por Edward Burns, é o interesse romântico de Lanie e representa a voz da razão em sua jornada. A química entre Jolie e Burns é um dos pontos fortes do filme, oferecendo momentos de charme e autenticidade. No entanto, a relação segue uma trajetória previsível, com o clássico arco de tensão inicial seguido por uma aproximação romântica. Pete é um personagem subdesenvolvido, funcionando mais como um apoio para a transformação de Lanie do que como uma figura com profundidade própria. Sua relação com Lanie, embora cativante em momentos, não escapa do clichê de comédias românticas, como apontado pela crítica do IMDb.

Os personagens secundários, como o noivo de Lanie, Cal (Christian Kane), e sua irmã, são pouco explorados e servem apenas como catalisadores para a jornada da protagonista. Cal, um jogador de beisebol famoso, é retratado como superficial e incompatível com Lanie, mas sua saída da narrativa é abrupta e carece de peso emocional. A reconciliação de Lanie com sua irmã e pai é tratada de forma superficial, sem oferecer insights significativos sobre suas dinâmicas familiares. Esses elementos reforçam a crítica de que o filme não aproveita plenamente seu elenco talentoso.

Stephen Herek, conhecido por filmes como "Os 101 Dálmatas" (1996) e "Mr. Holland - Adorável Professor" (1995), não é um diretor associado a obras introspectivas, e isso se reflete em "Uma Vida em Sete Dias". Sua abordagem é funcional, mas carece de ousadia ou profundidade. A crítica do Omelete aponta que Herek não é um "expert em introspecção", e o filme sofre com uma direção que prioriza o entretenimento leve em detrimento de uma exploração mais rica de seus temas.

Imagem: Reprodução

A fotografia do filme, que retrata o clima nublado de Seattle e Nova York, contribui para o tom melancólico da narrativa, especialmente nas cenas que mostram Lanie em crise. No entanto, o uso de cores vibrantes em momentos cômicos, como as cenas de Lanie em seu ambiente de trabalho, reforça o contraste entre sua vida superficial e sua busca por significado. A trilha sonora, embora adequada, é genérica e não adiciona camadas significativas à experiência.

Um aspecto problemático da direção é o ritmo irregular. O filme alterna entre momentos de comédia exagerada, drama forçado e romance previsível, o que prejudica sua coesão. A edição, especialmente nas transições entre os dias da semana de Lanie, poderia ter sido mais dinâmica para enfatizar a urgência de sua situação. Em vez disso, o filme frequentemente se arrasta, com cenas que não avançam a narrativa ou aprofundam os personagens.

"Uma Vida em Sete Dias" aborda temas universais, como a busca por propósito, a valorização do tempo e a crítica à superficialidade. A frase promocional do filme, "Destino é o que você faz dele", resume sua mensagem central: a vida ganha significado por meio das escolhas que fazemos e das conexões que cultivamos. A profecia de Jack serve como um catalisador para Lanie reavaliar seus valores, abandonando a obsessão por sucesso e aparência em favor de relações humanas e autenticidade.

No entanto, o filme trata esses temas de forma simplista. A crítica do IMDb observa que as ações de Lanie diante da morte iminente não são "particularmente pensadas ou significativas", o que limita o impacto emocional da narrativa. Por exemplo, sua decisão de abandonar dietas ou reconciliar-se com a família é apresentada como uma solução rápida, sem explorar as complexidades emocionais de tais mudanças. Além disso, o filme endossa uma visão conservadora sobre o papel das mulheres, sugerindo que o sucesso profissional de Lanie é menos importante do que encontrar felicidade no amor e na família — uma perspectiva que, como apontado pelo IMDb, raramente é aplicada a personagens masculinos.

Imagem: Primevideo / Reprodução

Outro tema presente é a crítica ao jornalismo sensacionalista. A vida de Lanie como repórter reflete a pressão por audiência e a superficialidade do meio, mas o filme não desenvolve essa crítica de forma consistente, usando-a mais como pano de fundo do que como um ponto central. A cena em que Lanie lidera os trabalhadores em greve, por exemplo, tenta abordar questões trabalhistas, mas sua execução cômica a torna trivial.

Quando lançado em 2002, "Uma Vida em Sete Dias" foi um fracasso comercial e crítico. Com um orçamento de US$40 milhões, arrecadou apenas US$16,8 milhões, refletindo sua falta de apelo nas bilheterias. No Rotten Tomatoes, o filme tem uma aprovação de apenas 28%, com críticas destacando sua previsibilidade e abordagem melodramática. O Omelete classificou o filme com 1/5, chamando-o de "um conjunto equivocado de peças infelizes", enquanto o Cineplayers reconheceu seu potencial como entretenimento leve, mas criticou sua administração pobre da premissa.

No entanto, o filme ganhou uma nova vida em 2025, quando chegou à Netflix e alcançou o topo das paradas em diversos países, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido. Essa redescoberta sugere que o filme ressoa com audiências contemporâneas, possivelmente devido à sua mensagem sobre aproveitar o tempo e buscar autenticidade em um mundo obcecado por aparências. Comentários no Letterboxd e posts no X, como o de @CamyllaFrigatto, indicam que espectadores modernos apreciam a mistura de humor, romance e reflexão, com muitos elogiando a performance de Jolie.

Essa reavaliação levanta questões sobre o contexto cultural. Em 2002, o filme pode ter sido visto como mais um drama genérico em um mercado saturado de comédias românticas. Em 2025, no entanto, sua mensagem sobre reavaliar prioridades em um mundo acelerado e digital parece mais relevante. Além disso, a presença de Angelina Jolie, uma figura icônica, contribui para o interesse renovado, especialmente entre fãs que valorizam seus papéis menos conhecidos.

"Uma Vida em Sete Dias" pode ser comparado a filmes como "As Confissões de Schmidt" (2002), que aborda temas semelhantes de forma mais sensível e bem-humorada, segundo o Omelete. Outra comparação relevante é com "Íntimo e Pessoal" (1996), que também explora os bastidores do jornalismo, mas com uma abordagem mais romântica e menos dramática. Diferentemente dessas obras, o filme de Herek não consegue equilibrar seus tons, oscilando entre o exagero cômico e o melodrama.

A premissa de confrontar a mortalidade também lembra filmes como "Antes de Partir" (2007), que trata o tema com mais profundidade emocional, e "O Último Feriado" (2006), que combina humor e reflexão de forma mais eficaz. A falta de inovação em "Uma Vida em Sete Dias" o coloca em desvantagem frente a essas obras, mas sua simplicidade pode ser um atrativo para quem busca entretenimento despretensioso.

"Uma Vida em Sete Dias" é um filme que promete mais do que entrega. Sua premissa — uma mulher confrontando a própria mortalidade em sete dias — é rica em potencial, mas a execução sofre com clichês, superficialidade e uma direção que não explora plenamente seus temas. Angelina Jolie e Tony Shalhoub oferecem performances sólidas, e a química com Edward Burns adiciona charme, mas o roteiro previsível e as escolhas narrativas limitadas impedem o filme de alcançar um impacto duradouro. Ainda assim, sua mensagem sobre valorizar o tempo e buscar autenticidade ressoa, especialmente em um contexto contemporâneo onde as pressões por sucesso e aparência permanecem relevantes.

O renascimento do filme na Netflix em 2025 sugere que ele encontrou um novo público, que aprecia sua mistura de comédia, romance e reflexão, mesmo que imperfeita. Como um estudo sobre as escolhas que damos à vida, "Uma Vida em Sete Dias" serve como um lembrete de que, mesmo com falhas, o cinema pode inspirar introspecção e debate. Para aqueles que buscam uma experiência leve com momentos de emoção, o filme cumpre seu papel, mas para quem deseja uma exploração mais profunda da condição humana, ele deixa a desejar. Em última análise, é uma obra que, como sugere seu título original, é "vida, ou algo assim" — imperfeita, mas com lampejos de significado.

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