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Explorando a arte da escrita: análise de estilo literário e recursos para autores

Foto: Linkedln, reprodução

A literatura é uma forma de arte que utiliza a linguagem escrita para expressar ideias, emoções e reflexões. É através dela que os autores exploram a criatividade, a imaginação e a sensibilidade para criar mundos ficcionais ou retratar a realidade de maneira poética e simbólica.

O estilo literário de um autor é a forma como ele utiliza as palavras, as frases, os recursos estilísticos e as estruturas narrativas para criar uma obra única e impactante. Cada autor tem seu próprio estilo, que pode ser identificado pela sua forma de escrever, de construir personagens, de desenvolver tramas e de transmitir mensagens.Ao analisar os recursos utilizados pelos autores em seus textos, podemos identificar elementos como a escolha do vocabulário, a construção das frases, a criação de metáforas, a utilização de figuras de linguagem, a organização da narrativa e a criação de atmosferas. Todos esses elementos contribuem para a construção de um estilo literário marcante e diferenciado.

Além disso, a literatura também nos permite explorar diferentes gêneros, como o romance, o conto, a poesia, o drama, entre outros, cada um com suas características e recursos específicos. A diversidade de estilos e gêneros literários enriquece nossa experiência de leitura e nos permite ampliar nossa compreensão do mundo e das emoções humanas.Assim, a literatura e o estilo literário dos autores nos convidam a mergulhar em universos imaginários, a refletir sobre questões essenciais da vida e a apreciar a beleza das palavras e das histórias que nos são contadas. Através da literatura, podemos nos emocionar, nos surpreender, nos inspirar e nos conectar com a essência da condição humana, em toda a sua complexidade e riqueza.

Portanto, o estilo literário não é apenas uma técnica ou uma forma de escrever, mas sim uma expressão da voz única e pessoal do autor, que revela sua visão de mundo, suas experiências pessoais e suas emoções. É através do estilo literário que os escritores conseguem transmitir sua mensagem de maneira impactante e cativante, fazendo com que os leitores se envolvam e se identifiquem com suas obras. Assim, ao explorarmos e apreciarmos diferentes estilos literários, expandimos nossos horizontes e enriquecemos nossa bagagem cultural e emocional. A literatura nos convida a conhecer novas perspectivas, a empatizar com personagens diversos e a nos envolver em histórias que nos fazem refletir e questionar o mundo ao nosso redor.

Portanto, que possamos celebrar a diversidade e a riqueza dos estilos literários, e nos permitir ser tocados e transformados pelas maravilhas que a literatura nos proporciona. Que possamos valorizar a arte de escrever e de contar histórias, e nos deixar levar pelas palavras dos grandes mestres da literatura, que nos inspiram e nos ensinam a cada página virada.

Como descobrir o seu estilo de escrita?

Existem várias maneiras de descobrir o seu estilo de escrita, mas a principal delas é simplesmente escrever muito. Quanto mais você escrever, mais fácil será identificar os elementos que são comuns em suas criações e que definem o seu estilo único.

Além disso, é importante ler bastante para se inspirar em diferentes formas de escrita e descobrir o que mais lhe agrada. Analise os autores que você admira e tente identificar elementos em sua escrita que gostaria de incorporar à sua própria.

Experimente diferentes gêneros e estilos de escrita para descobrir o que mais lhe atrai e no que você se sente mais confortável e natural. Não tenha medo de arriscar e tentar coisas novas, pois é assim que você vai expandir seus horizontes e descobrir seu estilo único e autêntico.

Recursos de escrita para autores iniciantes:

1. Livros sobre técnica de escrita: existem muitos livros disponíveis no mercado que ensinam técnicas de escrita, estruturação de histórias, criação de personagens, entre outros aspectos da escrita criativa.

2. Grupos de escrita: participar de grupos de escrita pode ser uma maneira eficaz de obter feedback e apoio de outros autores iniciantes, além de compartilhar dicas e recursos.

3. Cursos online: há muitos cursos gratuitos e pagos disponíveis na internet que abordam diversos aspectos da escrita. Esses cursos podem ser uma ótima maneira de obter orientação e aprimorar suas habilidades.

4. Blogs e websites de escrita: existem diversos blogs e websites dedicados à escrita que oferecem dicas, conselhos e recursos para autores iniciantes.

5. Workshops de escrita: participar de workshops de escrita pode ser uma oportunidade de aprender com escritores mais experientes, receber feedback profissional e aprimorar suas habilidades.

6. Recursos online gratuitos: existem muitos recursos gratuitos disponíveis na internet, como guias de escrita, exercícios práticos e ferramentas de brainstorming, que podem ser úteis para autores iniciantes.

7. Clubes de leitura: participar de clubes de leitura pode ser uma forma de se envolver com outros leitores e escritores, além de expandir seus horizontes literários e obter insights sobre técnicas de escrita.

8. Editores e plataformas de autopublicação: se você estiver pensando em publicar seu trabalho, considere buscar editores ou plataformas de autopublicação que possam ajudá-lo a alcançar seu público-alvo e aprimorar sua escrita.

Literatura e professores : Como os professores podem usar a literatura para motivar e educar seus alunos

 

Foto: Escola Web

A literatura é uma ferramenta poderosa para motivar e educar os alunos de todas as idades. Os professores podem utilizar a literatura de diversas maneiras em sala de aula para estimular o interesse dos alunos pela leitura, desenvolver habilidades de compreensão e interpretação, além de promover discussões e reflexões sobre temas importantes.

A seguir, algumas sugestões de como os professores podem usar a literatura para motivar e educar seus alunos:

1. Escolha de livros adequados: Os professores podem selecionar livros que sejam adequados para a faixa etária e nível de leitura dos alunos, levando em consideração seus interesses e preferências. É importante escolher obras que sejam relevantes e estimulantes, capazes de despertar a curiosidade e o interesse dos alunos.

2. Discussão em sala de aula: Após a leitura de um livro, os professores podem promover discussões em sala de aula sobre os temas abordados na obra, os personagens, o enredo, os conflitos e as mensagens transmitidas. Essas discussões podem estimular a reflexão dos alunos e incentivá-los a expressar suas opiniões e pontos de vista.

3. Atividades práticas: Os professores podem propor atividades práticas relacionadas à leitura, como dramatizações, debates, produção de cartazes ou resumos, criação de projetos artísticos e literários, entre outras atividades. Essas atividades podem ajudar os alunos a compreender melhor a obra e a internalizar os conceitos abordados.

4. Visitas à biblioteca: Os professores podem incentivar os alunos a frequentar a biblioteca da escola ou da comunidade, para que possam explorar livros de diferentes gêneros e autores, ampliar seu repertório literário e descobrir novos interesses.

5. Uso de recursos digitais: Os professores podem utilizar recursos digitais, como vídeos, podcasts, e-books e sites educacionais, para enriquecer a experiência de leitura dos alunos e estimular o uso de tecnologia como ferramenta de aprendizagem.

Ao usar a literatura de forma criativa e significativa, os professores podem motivar e educar seus alunos de maneira eficaz, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades de leitura, escrita, compreensão e reflexão, além de promover o prazer pela leitura e o enriquecimento cultural.

 A literatura não só proporciona conhecimento e aprendizado, mas também promove a empatia, a sensibilidade e o pensamento crítico. Portanto, é fundamental que os professores incentivem os alunos a explorar diferentes obras literárias e a debater sobre os temas que são abordados, para que possam desenvolver uma visão mais ampla e crítica do mundo ao seu redor.

Em resumo, a literatura é uma poderosa ferramenta educacional que pode ser utilizada de diversas maneiras para motivar e educar os alunos. Ao escolher livros adequados, promover discussões em sala de aula, realizar atividades práticas, incentivar a visita à biblioteca e utilizar recursos digitais, os professores podem enriquecer a experiência de leitura dos alunos e contribuir para o seu desenvolvimento acadêmico e pessoal.

Planejando uma aula tendo como base uma obra literária:

Para planejar uma aula tendo como base uma obra literária, primeiramente é importante escolher um livro que seja relevante para os alunos e que permita explorar diferentes aspectos da literatura. Em seguida, é interessante elaborar um objetivo claro para a aula, que pode ser analisar um tema específico, discutir o contexto histórico da obra ou explorar as características dos personagens.

Uma sugestão de plano de aula com base em uma obra literária:

Título da obra: "A hora da estrela", de Clarice Lispector.

Objetivo da aula: Analisar a construção da personagem principal e discutir questões relacionadas à identidade e à condição feminina na sociedade.

Atividades propostas:

1. Breve introdução sobre a autora e contexto histórico da obra.

2. Leitura de trechos selecionados do livro, com discussão em grupo sobre as características da personagem principal.

3. Análise da linguagem utilizada pela autora e sua influência na construção da narrativa.

4. Debate sobre as questões de gênero abordadas na obra e como estas se relacionam com a realidade atual.

5. Produção de um texto reflexivo sobre a importância da obra na literatura brasileira e sua relevância para a discussão de temas contemporâneos.

Ao planejar a aula, é importante considerar a participação ativa dos alunos e estimulá-los a expressar suas opiniões e interpretações sobre a obra. Além disso, o uso de recursos visuais, como imagens e vídeos relacionados à obra, pode enriquecer a experiência dos estudantes e facilitar a compreensão do conteúdo abordado.

Literatura e letramento acadêmico : Como a leitura de textos literários pode ajudar a desenvolver habilidades de leitura e escrita acadêmica

Foto: Itaú Cultural, reprodução


A leitura de textos literários pode ajudar a desenvolver habilidades de leitura e escrita acadêmica de diversas maneiras. Em primeiro lugar, a literatura proporciona uma ampla variedade de estilos de escrita, vocabulário e estruturas gramaticais que podem enriquecer o repertório linguístico do leitor. Isso pode contribuir para a capacidade de compreensão e interpretação de textos acadêmicos, que muitas vezes são complexos e exigem um certo nível de conhecimento da língua.

Além disso, a leitura de textos literários pode estimular a criatividade e o pensamento crítico, habilidades essenciais para a produção de textos acadêmicos de qualidade. A literatura apresenta questões que desafiam o leitor a refletir sobre diferentes perspectivas, analisar os personagens, os ambientes e os contextos em que as histórias se desenvolvem, o que pode contribuir para o desenvolvimento de argumentos sólidos e bem estruturados em textos acadêmicos.

Ao escrever sobre obras literárias, o leitor também é incentivado a organizar suas ideias de forma clara e coesa, a argumentar de maneira convincente e a utilizar uma linguagem adequada à situação comunicativa. Essas habilidades são fundamentais para a produção de trabalhos acadêmicos, como resenhas, ensaios e artigos científicos, que exigem clareza, coesão e argumentação consistente.

Em suma, a leitura de textos literários pode contribuir significativamente para o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita acadêmica, uma vez que estimula a criatividade, o pensamento crítico, a capacidade de interpretação e a habilidade de expressão escrita do leitor. Portanto, é importante incentivar o contato com a literatura desde cedo, como forma de preparar os estudantes para os desafios acadêmicos que enfrentarão ao longo de suas trajetórias educacionais.

Como a leitura de textos literários pode ajudar a desenvolver habilidades de leitura e escrita acadêmica

A leitura de textos literários pode ser uma excelente forma de desenvolver habilidades de leitura e escrita acadêmica por vários motivos:

1. Melhora a compreensão de textos: A leitura de textos literários ajuda a desenvolver a capacidade de compreensão e análise de textos complexos, o que é fundamental para a leitura de textos acadêmicos.

2. Enriquece o vocabulário: A leitura de textos literários expõe os leitores a uma variedade de palavras e expressões, o que contribui para enriquecer o vocabulário e melhorar a escrita acadêmica.

3. Estimula a criatividade: A leitura de textos literários estimula a criatividade e a imaginação, o que pode ser útil na produção de textos acadêmicos mais originais e interessantes.

4. Desenvolve a habilidade de argumentação: A leitura de textos literários ajuda a desenvolver a capacidade de argumentação e a construção de ideias de forma coerente e convincente, o que é essencial na escrita acadêmica.

5. Amplia a capacidade de reflexão e análise: A leitura de textos literários estimula a reflexão e a análise crítica, o que é fundamental para a produção de textos acadêmicos de qualidade.

Em resumo, a leitura de textos literários pode ser uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita acadêmica, pois estimula a compreensão, o vocabulário, a criatividade, a argumentação e a reflexão. Por isso, é importante incluir a leitura de textos literários no processo de formação acadêmica.

Como escrever um texto com relevância acadêmica

Para escrever um texto com relevância acadêmica, é necessário seguir algumas diretrizes específicas. Primeiramente, é importante escolher um tema relevante e atual dentro da área de estudo em que se pretende escrever. Em seguida, é fundamental realizar uma extensa revisão bibliográfica para embasar o argumento e contextualizar a discussão de forma consistente.

Além disso, é essencial utilizar uma linguagem formal e técnica, evitando termos coloquiais ou informais. A estrutura do texto também é um ponto crucial, sendo recomendado seguir um padrão de introdução, desenvolvimento e conclusão, apresentando de forma clara e organizada as ideias e argumentos apresentados.

Exemplo de um texto com introdução, desenvolvimento e conclusão:


Introdução: 

A tecnologia tem evoluído rapidamente nos últimos anos, trazendo inúmeras mudanças para a sociedade e para a forma como nos relacionamos com o mundo ao nosso redor. Nesse contexto, a inteligência artificial se destaca como uma das áreas que mais tem avançado, trazendo consigo novas possibilidades e desafios. 


Desenvolvimento: 

A inteligência artificial consiste na capacidade de máquinas e computadores executarem tarefas que exigem inteligência humana, como aprender, reconhecer padrões, tomar decisões e resolver problemas. Por meio de algoritmos e dados, os sistemas de inteligência artificial são capazes de realizar diversas atividades de forma autônoma e eficiente. Essa tecnologia já está presente em diversos setores da sociedade, como na medicina, na indústria, no comércio e até mesmo no entretenimento. 

No entanto, o avanço da inteligência artificial também levanta questões éticas e sociológicas importantes. Por exemplo, existe o debate sobre o impacto da automação no mercado de trabalho, com a possibilidade de substituir empregos que antes eram realizados por humanos. Além disso, a questão da privacidade e segurança dos dados também é uma preocupação, uma vez que os sistemas de inteligência artificial podem coletar, armazenar e utilizar informações pessoais de forma invasiva. 


Conclusão: 

Diante dessas questões, é importante que a sociedade esteja atenta e envolvida nas discussões sobre o uso da inteligência artificial, de forma a garantir que essa tecnologia seja desenvolvida de maneira responsável e ética. É necessário estabelecer normas e regulamentações que protejam os direitos das pessoas e que garantam a transparência e a accountability dos sistemas de inteligência artificial. Ao mesmo tempo, é fundamental investir em educação e capacitação para preparar as pessoas para um futuro cada vez mais tecnológico e automatizado. Assim, poderemos aproveitar os benefícios da inteligência artificial sem comprometer os valores e princípios fundamentais da sociedade.


Outro aspecto relevante é a argumentação baseada em evidências e dados concretos, demonstrando um pensamento crítico e analítico em relação ao tema abordado. É importante também citar as fontes consultadas de forma correta, seguindo as normas de citação e referências da área de estudo em questão.

Como fazer uma argumentação com base em evidências?

Para realizar uma argumentação baseada em evidências e dados concretos, é fundamental realizar uma pesquisa minuciosa sobre o tema em questão. Procure por artigos científicos, livros especializados, relatórios de instituições renomadas, entre outras fontes de informações confiáveis.

Ao encontrar dados relevantes para embasar seu argumento, certifique-se de fazer uma análise crítica dessas informações, verificando a sua veracidade e confiabilidade. Utilize ferramentas e metodologias de pesquisa adequadas para garantir a qualidade dos dados coletados.

Ao citar as fontes consultadas em seu texto, é importante seguir as normas de citação e referências da área de estudo em questão. Utilize o padrão ABNT, APA, MLA, IEEE ou qualquer outro sistema de citação adotado em sua área acadêmica.

Além disso, lembre-se de apresentar os dados de forma clara e organizada, para que o leitor possa compreender facilmente a argumentação apresentada. Utilize gráficos, tabelas e exemplos práticos para ilustrar e reforçar seus pontos de vista.

Dessa forma, ao construir uma argumentação baseada em evidências e dados concretos, você estará fortalecendo seu argumento e contribuindo para a credibilidade e qualidade do seu texto.

Por fim, é fundamental revisar o texto antes de submetê-lo para garantir a coesão, a clareza e a concisão do texto, bem como corrigir possíveis erros gramaticais e de estrutura. Seguindo essas diretrizes, é possível produzir um texto com relevância acadêmica e contribuir para o debate e o conhecimento na sua área de estudo.

Literatura e educação : Análise da importância da literatura na formação do leitor e na educação em geral

Foto: Abeline, reprodução

A literatura desempenha um papel fundamental na formação do leitor e na educação em geral, pois oferece uma experiência rica e diversificada de reflexão, imaginação e aprendizado. Através da leitura de obras literárias, os leitores são expostos a diferentes perspectivas, valores, ideias e culturas, o que contribui para o desenvolvimento da empatia, da sensibilidade e da capacidade de compreensão do mundo.

Além disso, a literatura estimula a criatividade e a imaginação, permitindo que os leitores explorem novos horizontes e ampliem suas visões de mundo. Ao se identificar com personagens e situações presentes nas histórias, os leitores desenvolvem a capacidade de se colocar no lugar do outro e de compreender as emoções e os pensamentos alheios.

A literatura também proporciona um espaço de reflexão sobre questões éticas, sociais e políticas, permitindo que os leitores ampliem sua consciência crítica e sua capacidade de análise. Através das obras literárias, é possível debater temas complexos e controversos de forma mais profunda e significativa, contribuindo para a formação de cidadãos mais conscientes, ativos e engajados.

Dessa forma, a literatura desempenha um papel essencial na educação, pois estimula o desenvolvimento da linguagem, da criatividade, do pensamento crítico e da capacidade de reflexão. Ao incentivar a leitura e o contato com obras literárias, as instituições educacionais contribuem para a formação de leitores mais competentes, sensíveis e conscientes, capazes de enfrentar os desafios e as complexidades da vida contemporânea.

Além disso, a literatura também proporciona uma forma de escapismo e entretenimento, permitindo que os leitores se transportem para outros mundos e vivenciem diferentes realidades de forma única. Através da imaginação e da criatividade, os leitores podem se conectar com as emoções e experiências dos personagens, criando laços emocionais e expandindo sua compreensão do ser humano.

Portanto, é fundamental que a literatura esteja presente no currículo escolar e nas práticas educacionais, pois ela contribui significativamente para o desenvolvimento integral dos indivíduos. Ao promover a leitura e a análise de obras literárias, as escolas proporcionam aos alunos a oportunidade de se tornarem leitores críticos, reflexivos e engajados, preparados para enfrentar os desafios e as complexidades do mundo contemporâneo.

Pontos de análise do uso de literatura em sala de aula:

1. Relevância: analisar se a literatura escolhida é relevante para os objetivos de aprendizagem da disciplina e se contribui para o desenvolvimento de habilidades e competências dos alunos.

2. Diversidade: verificar se há diversidade de gêneros, estilos e autores representados na literatura utilizada em sala de aula, promovendo assim a cultura e a pluralidade de perspectivas.

3. Contextualização: observar se a obra literária está contextualizada com a realidade dos alunos, de forma a tornar a leitura mais significativa e facilitar a identificação dos estudantes com a história e os personagens.

4. Interdisciplinaridade: avaliar se a literatura utilizada dialoga com outras disciplinas do currículo escolar, possibilitando uma abordagem multidisciplinar que enriqueça o processo de ensino-aprendizagem.

5. Estímulo à leitura: verificar se a escolha da literatura incentiva os alunos a desenvolver o hábito da leitura, despertando o interesse e o prazer pela leitura.

6. Desenvolvimento da empatia: analisar se a leitura de obras literárias contribui para o desenvolvimento da empatia e da capacidade de compreender e se colocar no lugar do outro.

7. Debate e reflexão: avaliar se a literatura é utilizada como ferramenta para promover debates e reflexões sobre temas relevantes, estimulando o pensamento crítico e a expressão de opiniões dos alunos.

8. Criatividade: verificar se a literatura é utilizada como estímulo para a produção de atividades criativas, como redações, dramatizações, produção de poesias, entre outras formas de expressão artística.

Didáticas que favorecem o estímulo à leitura:

1. Contar histórias de forma envolvente e dinâmica, utilizando recursos como entonação de voz, gestos e expressões faciais.

2. Criar um ambiente acolhedor e agradável para a leitura, com espaços confortáveis e bem iluminados.

3. Incentivar a escolha de livros de acordo com os gostos e interesses de cada criança, permitindo que elas se sintam motivadas a ler.

4. Realizar atividades de leitura em grupo, como rodas de leitura e contação de histórias, para promover a interação e o compartilhamento de experiências.

5. Estimular a participação ativa dos alunos na leitura, através de perguntas, discussões e interpretações sobre o conteúdo dos livros.

6. Promover a diversidade literária, incluindo diferentes gêneros, autores e estilos de escrita, para ampliar o repertório de leitura dos alunos.

7. Proporcionar momentos de leitura silenciosa e autônoma, para que os alunos desenvolvam o hábito de ler por prazer.

8. Utilizar recursos tecnológicos, como e-books e audiobooks, para diversificar as formas de acesso aos conteúdos literários.

9. Realizar atividades complementares à leitura, como produção de resenhas, dramatizações e criação de marcadores de páginas, para estimular a criatividade e a reflexão dos alunos.

10. Valorizar e reconhecer as conquistas dos alunos em relação à leitura, reforçando a importância desse hábito para o seu desenvolvimento pessoal e acadêmico.

Literatura marginal e periferia: percursos e metodologias

Foto: Mundo da escrita, reprodução


A literatura marginal e periférica refere-se a um conjunto de produções literárias que emergem das margens da sociedade, muitas vezes em contextos de exclusão social, violência e precariedade. Essa literatura é caracterizada por sua resistência, autenticidade e capacidade de dar voz às experiências e realidades das comunidades periféricas.

Os percursos da literatura marginal e periférica são marcados por uma trajetória de luta e resistência, em que escritores e escritoras das periferias encontram na palavra escrita uma forma de expressar suas vivências e denunciar as injustiças e opressões que enfrentam no cotidiano. Essa literatura surge, assim, como uma forma de enfrentamento e reivindicação de espaços e narrativas que historicamente foram silenciados e marginalizados.

As metodologias utilizadas para estudar a literatura marginal e periférica variam, mas é importante que sejam adotadas abordagens interdisciplinares e sensíveis às particularidades culturais e sociais das comunidades periféricas. Isso significa que é necessário considerar não apenas os aspectos estéticos e formais das obras, mas também as contextos políticos, sociais e históricos em que são produzidas. Além disso, é fundamental que os estudos sobre literatura marginal e periférica promovam a valorização e o reconhecimento dessas produções, contribuindo para a ampliação do cânone literário e para a promoção da diversidade cultural e étnico-racial na literatura brasileira. Através da divulgação e análise dessas obras, é possível ampliar o debate sobre as desigualdades sociais e culturais e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

Nesses textos, encontramos diferentes formas de apreensão do indivíduo e do mundo. São relatos sinceros e brutais que exploram a cruel realidade das periferias, abordando temas como violência, desigualdade social, racismo e preconceito. São narrativas que chocam e emocionam, mostrando a força e a resistência dos que são constantemente marginalizados.

A literatura marginal e periférica nos convida a refletir sobre a complexidade das relações humanas e sobre a necessidade de dar voz aos que são silenciados. São textos que nos ajudam a enxergar o mundo de diferentes ângulos, nos fazendo questionar nossos próprios privilégios e preconceitos. Ao ler essas obras, somos confrontados com a dura realidade da exclusão social e somos impelidos a agir pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A literatura marginal e periférica não deve ser apenas vista como um movimento literário, mas como uma ferramenta de transformação social, capaz de dar voz aos que são oprimidos e invisibilizados.

É preciso valorizar e incentivar a produção literária das periferias, pois são essas vozes que nos mostram a verdadeira face da sociedade, nos fazendo repensar nossos conceitos e valores. A literatura marginal e periférica é resistência, é luta, é esperança. E cabe a nós, leitores e escritores, dar voz e espaço para essas narrativas tão urgentes e necessárias. Em tempos de polarização e desigualdade, a literatura marginal e periférica se torna ainda mais relevante, trazendo à tona questões e problemáticas que muitas vezes são ignoradas ou invisibilizadas. É através dessas obras que podemos ampliar nosso entendimento sobre as diversas realidades que coexistem em nossa sociedade, permitindo-nos enxergar para além dos estereótipos e preconceitos.

Além disso, a literatura marginal e periférica também tem o poder de empoderar e dar voz aos indivíduos que foram historicamente excluídos e marginalizados. Ao ler e valorizar essas obras, estamos contribuindo para a desconstrução de discursos hegemônicos e para a promoção de uma maior representatividade e diversidade no meio literário. Portanto, é essencial que possamos abrir espaço e acolher essas vozes que tanto têm a dizer e que tanto têm a ensinar. Somente assim poderemos construir uma sociedade mais inclusiva, justa e igualitária, onde todas as vozes tenham o direito de serem ouvidas e respeitadas. A literatura marginal e periférica é uma ponte que nos conecta com realidades diversas e nos desafia a pensar e agir de forma mais humana e solidária.

Resenha: Poor things: A novel [Pobres criaturas], por Alasdair Gray


APRESENTAÇÃO

Na década de 1880, em Glasgow, Escócia, o estudante de medicina Archibald McCandless fica encantado com a intrigante criatura conhecida como Bella Baxter. Supostamente produto do diabólico cientista Godwin Baxter, Bella foi ressuscitada com o único propósito de cumprir os caprichos de seu benfeitor. À medida que seu desejo se transforma em obsessão, os motivos de Archibald para libertar Bella revelam-se tão egoístas quanto os de Godwin, que reivindica seu corpo e alma.

Mas Bella tem suas próprias paixões para perseguir. Paixões que a levam a cassinos aristocráticos, à Alexandria da vida baixa e a um bordel parisiense, atingindo um clímax interrompido em uma igreja escocesa. Explorando a sua posição como mulher à sombra do patriarcado, Bella sabe que cabe a ela libertar-se – e decidir que significado, se houver, o verdadeiro amor tem na sua vida.

RESENHA

Contrariando seu título sóbrio, o texto revela a amizade peculiar entre um estudante de medicina e o enigmático Godwin Baxter, uma figura colossal e genial, que remete tanto a Frankenstein quanto ao Homem Elefante. Segundo McCandless, Baxter teria realizado um experimento transgressivo, transplantando o cérebro de um feto para o corpo de sua mãe falecida, dando origem a Bella, uma criatura de beleza e inocência infantil. McCandless, um homem de rigorosa castidade, se vê prometido a Bella, mas antes do casamento, ela embarca em uma aventura com um conhecido sedutor, deixando seu mentor e noivo em desespero. A narrativa de McCandless é adornada com elementos visuais típicos da estética de Gray: ilustrações que imitam o estilo eduardiano, reproduções de cartas lacrimosas e desenhos anatômicos que parecem sair das páginas de uma versão alternativa do ‘Gray’s Anatomy’, incluindo duas imagens que ilustram as cartas apaixonadas de Bella e seu cansado conquistador.

Entretanto, ‘Memórias Juvenis de um Médico Sanitarista Escocês’ é apenas uma fração da tapeçaria que compõe ‘Pobres Criaturas’. A introdução de Gray brinca com a descoberta do manuscrito, alegadamente encontrado em meio a entulhos pelo curador do Palácio do Povo de Glasgow. As ‘Notas Históricas e Críticas’ que acompanham o texto, com suas 40 páginas de comentários que oscilam entre o humor e o pedantismo, forçam a cultura britânica dos últimos cinquenta anos a se dobrar às fantasias de Gray: poemas autênticos de Tennyson e falsificações de Kipling são atribuídos a personagens secundários, e Beatrice Webb é inserida na narrativa como testemunha dos “escândalos amorosos da heroína com Wells e Ford Madox Hueffer”. A capa do livro é um mosaico de sinopses alternativas, análises prontas e uma errata fictícia, completando o intricado jogo literário proposto por Gray.

No cerne da obra, apresenta-se uma carta póstuma de Victoria McCandless, antes conhecida como Bella, que, com uma ironia mordaz, desmonta a narrativa sensacionalista de seu esposo. Ela se reinventa, não mais como a criatura renascida de seu marido, mas como uma mulher de vanguarda, uma médica em 1914, uma Fabiana, sufragista e pioneira na luta pelo direito ao aborto. Com uma voz firme e moderna, ela rejeita a imagem distorcida que lhe foi atribuída, criticando o estilo vitoriano da obra de seu marido, comparando-o a estruturas góticas falsificadas e ao odor sufocante de crinolinas em um dia de verão no Palácio de Cristal.

Ela vê o livro como um pastiche vitoriano, um exercício que, embora perspicaz e divertido, mergulha em detalhes como a descoberta de Sir Colin, a captura de uma vida, a curiosidade sobre a utilidade dos coelhos peculiares, a astúcia inútil e o conhecimento dos antigos gregos, culminando com um ‘adeus’, o buldogue de Baxter e uma mão terrível. Victoria se posiciona como uma figura séria e progressista, distante da personagem simplória que McCandless tentou retratar.

No epicentro da obra, encontramos o rascunho inicial de McCandless, uma composição que entrelaça a sombria melancolia escocesa com o exagero do melodrama e a ousadia da ficção científica. Baxter emerge como uma figura grotesca e multifacetada, um símbolo da era vitoriana que Gray utiliza para explorar a complexidade da vida e da morte através da medicina. A narrativa se desdobra com a carta de Bella, enviada de terras distantes, revelando um entendimento ainda fragmentado e excêntrico da realidade. Gray, com sua imaginação fértil, tece uma visão do império britânico que, apesar de sua grandiosidade passada, é retratado com um futuro distópico onde os descendentes de grandes estadistas buscam moedas no Tâmisa, sob o olhar divertido de turistas tibetanos.

Gray não poupa esforços em sua busca por ironia e sátira, e embora a jornada possa ser exaustiva, é justamente essa extravagância que confere à obra “Coisas Pobres” seu charme peculiar e suas recompensas literárias, repletas de humor e crítica social.

Resenha: Assassino da lua das flores, David Grann

Foto: Arte digital

 

APRESENTAÇÃO

Nos Estados Unidos dos anos 1920, as pessoas com maior renda per capita do mundo eram membros do povo indígena Osage, de Oklahoma. Até que, um a um, os Osage começaram a ser mortos. As primeiras vítimas são a família de Mollie Burkhart. E isso era apenas o começo, pois logo mais e mais homicídios contra nativos americanos aconteceriam, sempre em condições misteriosas. Nessa parcela remanescente do Velho Oeste, habitada por malfeitores como Al Spencer, conhecido como "o terror fantasma", e onde magnatas e homens do petróleo, como J. P. Getty, fizeram fortuna, muitos dos que ousaram investigar os assassinatos em massa também perderam a vida.

Com o aumento do número de vítimas, o recém-criado FBI assume o caso, e o jovem diretor, J. Edgar Hoover, convoca um antigo Ranger texano chamado Tom White para ajudá-lo. White reúne uma equipe secreta ― que inclui um agente indígena infiltrado na região  ―  e, junto com os Osage, expõe uma das conspirações mais assombrosas da história dos Estados Unidos.

RESENHA


No alvorecer do século XIX, em 1804, o presidente Thomas Jefferson acolheu uma comitiva de líderes Osage que haviam deixado suas terras tradicionais — terras essas que Jefferson acabara de adquirir dos franceses na Compra da Louisiana, e não dos próprios Osage. Os dignitários Osage, imponentes em estatura, muitos ultrapassando um metro e oitenta, destacavam-se entre os presentes na Casa Branca. Jefferson, admirado, referiu-se a eles como “os mais nobres homens que já encontramos”. Ele assegurou-lhes justiça e amizade da nação americana daí em diante.


Contudo, nas duas décadas seguintes, os Osage viram-se privados de seu território, abdicando de quase 100 milhões de acres e sendo relegados a um confinamento no sudeste do Kansas, uma área de aproximadamente 50 por 125 milhas. O governo dos EUA prometeu que essa terra seria deles eternamente. Mas, conforme David Grann revela em seu livro intrigante e perturbador, “Os Assassinos da Lua das Flores”, essa promessa foi igualmente desfeita. Colonos brancos invadiram as terras Osage, conflitos eclodiram e, por fim, a tribo foi coagida a vender seu território por meros US$ 1,25 por acre. Em busca de um novo começo, os Osage se estabeleceram em uma região indesejada do futuro estado de Oklahoma, caracterizada por seu terreno acidentado e solo infértil. Eles adquiriram essa terra por cerca de um milhão de dólares e, astutamente, asseguraram os direitos sobre “petróleo, gás, carvão ou outros minerais” encontrados no subsolo, garantindo assim a posse não apenas da superfície, mas também das riquezas enterradas.


Naqueles dias, a terra dos Osage era um segredo bem guardado, escondendo sob sua superfície rochosa um tesouro negro e viscoso. Apenas os Osage sabiam do petróleo que fluía nas profundezas, um conhecimento que logo transformaria suas vidas. Em 1923, a fortuna jorrou da terra, e a tribo Osage viu uma riqueza de mais de 30 milhões de dólares, uma soma que hoje ultrapassaria os 400 milhões. Eles se tornaram, per capita, os mais abastados do planeta, erguendo mansões e adquirindo carros luxuosos. A riqueza era tão vasta que um escritor da época proclamou: “A cada novo poço perfurado, os Osage enriquecem exponencialmente… Eles estão acumulando tanta riqueza que algo precisa ser feito.”


E algo foi feito, mas não para o benefício dos Osage. O governo federal, sob o pretexto de proteger os Osage de sua própria prosperidade, impôs guardiões para gerenciar suas finanças, rotulando muitos como “incompetentes”. Os de sangue puro eram frequentemente subjugados a essa tutela, enquanto os de sangue misto mantinham sua autonomia. Não demorou para que os Osage se tornassem presas de esquemas de corrupção e casamentos por interesse. Uma mulher branca chegou a oferecer-se em casamento ao Osage mais abastado, prometendo fidelidade e virtude.


David Grann narra esses eventos através dos olhos de Mollie Burkhart, uma Osage de linhagem pura, cuja fortuna atraiu um marido branco. Mas a riqueza não trouxe paz; sua família foi assolada por mortes misteriosas. Sua irmã Minnie sucumbiu aos 27 anos a uma doença enigmática. Anna, sua outra irmã, desapareceu após uma noite de indulgência, mais tarde encontrada morta em um barranco, vítima de um tiro. Charles Whitehorn, outro Osage, teve o mesmo destino. As mortes foram declaradas assassinatos, e a mãe de Mollie, Lizzie, logo seguiu o mesmo caminho, vítima da mesma doença inexplicável que levou Minnie.


O terror não parou por aí. Outra irmã de Mollie pereceu em um incêndio suspeito, deixando-a como a única sobrevivente de sua família imediata. A comunidade Osage estava sob ataque, uma série de assassinatos que ficou conhecida como o Reinado do Terror Osage, e que eventualmente chamou a atenção do recém-formado FBI.


A tragédia continuou com a morte de William Stepson, um campeão Osage, e mais dois membros da tribo, todos suspeitos de terem sido envenenados. Um casal foi assassinado com uma bomba enquanto dormia. Entre 1920 e 1924, mais de duas dezenas de Osage e aqueles que tentaram ajudá-los foram mortos, um período sombrio que manchou a história com a ganância e a violência contra um povo que apenas desejava viver em paz com a riqueza que a terra lhes concedera. Na década de 1920, a aplicação da lei nos EUA era um mosaico de autoridades locais e caçadores de recompensas. Entre eles, o xerife de Osage, Harve M. Freas, era conhecido por sua inércia diante dos crimes contra os Osage. Em busca de justiça, a tribo recorreu a Barney McBride para pedir ajuda federal, mas sua missão terminou tragicamente com seu assassinato brutal.


O FBI, fundado em 1908, ainda engatinhava naquela época, com poucos agentes e uma reputação questionável. A chegada de J. Edgar Hoover em 1924 marcou uma virada, impondo rigor e métodos científicos na investigação. Os assassinatos dos Osage se tornaram o primeiro grande desafio do FBI sob a liderança de Hoover. Tom White foi o escolhido por Hoover para liderar a investigação. Crescido na lei, White e sua equipe disfarçada mergulharam na comunidade Osage, cada um assumindo uma identidade única, desde um criador de gado até um curandeiro indígena.


David Grann, em sua obra, tece essa história com a maestria de um romancista, embora seja um relato verídico. Seu talento como jornalista e escritor brilha ao dar vida aos eventos e personagens, mesmo os mais sombrios, com uma narrativa que captura a essência da época e a complexidade da investigação.


Quando a resolução dos crimes de Osage se desenrola e os verdadeiros culpados são desmascarados, a narrativa não se encerra com a revelação. A surpresa do leitor é apenas o prelúdio para as últimas páginas, onde Grann transcende a narrativa histórica e, com o auxílio dos Osage contemporâneos, expõe uma trama ainda mais sinistra que se estende além daqueles anos de terror. A indignação que se segue é um testemunho da injustiça atroz cometida contra os Osage, um dos atos mais vis perpetrados contra os povos originários deste continente. “A terra está impregnada de sangue”, lamenta Mary Jo Webb, uma Osage que busca entender os crimes de outrora. Grann, com sua escrita incisiva, nos lembra que a história é um tribunal implacável, julgando os atos da humanidade.

Resenha: Zona de interesse, de Martin Amis

Foto: Arte digital

APRESENTAÇÃO

A Zona de Interesse, em Auschwitz, era o local onde os judeus recém-chegados passavam pela triagem, processo que determinava se seriam destinados aos trabalhos forçados ou às câmaras de gás.

Este romance se passa nesse lugar infernal, em agosto de 1942. Cada um dos vários narradores testemunha o inominável a sua maneira. O primeiro é Golo Thomsen, um oficial nazista que está de olho na mulher do comandante. Paul Doll, o segundo, é quem decide o destino de todos os judeus. E Szmul, o terceiro, chefia a equipe de prisioneiros que ajudam os nazistas na logística do genocídio.

Neste romance, Martin Amis reafirma seu lugar entre os mais argutos intérpretes de nosso tempo.

RESENHA

Discutir a obra de Martin Amis é um desafio intrigante. Por um lado, parece simples: há uma abundância de material, uma riqueza de temas e estilos que saltam das páginas de seus livros. Por outro lado, é uma tarefa complexa, pois cada análise de suas obras recentes inevitavelmente se transforma em um exame do próprio Amis, uma avaliação do estado atual de sua carreira literária e do legado que ela representa.


A pergunta que se impõe é: este novo livro marca um retorno triunfal às suas raízes literárias ou é apenas mais um passo em um suposto declínio? Essa questão é frequentemente acompanhada por outras, derivadas de declarações polêmicas que Amis possa ter feito publicamente, abordando temas como religião, etnia, gênero e política.


Imaginei uma crítica escrita em um universo alternativo, onde “Zona de interesse” fosse a primeira obra de um autor britânico desconhecido, cuja única lembrança seria um guia de videogame estiloso dos anos 80. Nesse cenário imaginário, eu poderia analisar o livro sem as influências externas que cercam Amis.


No entanto, essa abordagem se mostrou falha. É impossível ignorar o contexto mais amplo da carreira de Amis ao considerar “Zona de interesse”. Este romance não é apenas uma das suas melhores obras desde “The Information”, mas também representa o ápice de um projeto que ele vem desenvolvendo há anos. “Zona de interesse” é a mais recente tentativa de Amis de confrontar o sombrio legado do século XX. Seus trabalhos anteriores, como o inovador “Time’s Arrow” de 1991, que inverteu a cronologia do Holocausto, e “Koba the Dread” de 2002, sobre Stalin, apesar de suas qualidades, não conseguiram capturar completamente o que Amis tem buscado ao longo de sua carreira: uma harmonização bem-sucedida de seu talento inerentemente cômico com a gravidade da história europeia recente. “Zona de interesse”, ao abordar o Holocausto - um tema notoriamente difícil de ser tratado com humor - chega mais perto do que nunca de alcançar esse equilíbrio, desafiando os críticos que acreditam que Amis perdeu o rumo de seu talento. Como Julie Birchill, jornalista inglesa, comentou de forma controversa: “Se Martin Amis tivesse continuado a escrever sobre fumar, sexo e sinuca, talvez pudesse ter sido o próximo Nick Hornby.”


A narrativa se inicia com Angelus “Golo” Thomsen, um dos três narradores da história, capturado por um fascínio erótico ao observar uma mulher de vestido alvo, passeando sob a sombra de árvores de bordo junto a suas filhas. A voz que emerge dessas linhas é inconfundivelmente astuta e singular, uma assinatura inimitável de Amis: “Não me era estranho o estampido do trovão; não me era alheio o fulgor do relâmpago. Com uma experiência notável nesses fenômenos, eu estava bem familiarizado com as tempestades torrenciais — as chuvas avassaladoras, seguidas pelo sol e pelo arco-íris.” Tal repetição retórica é uma marca registrada do estilo de Amis, um recurso estilístico que ele explora com maestria, tal como Joan Didion. (E, como é de se esperar, os críticos não deixam de apontar essa característica repetidamente. Era exatamente isso que eu buscava evitar com a ideia do universo paralelo.)


A cena descrita evoca inicialmente um idílio pastoral: “Numa tarde de verão, com mosquitos dançando ao crepúsculo… Meu caderno repousava sobre um tronco, as páginas agitadas por uma brisa caprichosa.” Poder-se-ia imaginar que estamos em um campus universitário, na presença de um acadêmico jovem e elegante — ele próprio se descreve com “modos floridamente elegantes”, trajando “um blazer de tweed sob medida e calças de sarja”.


Contudo, a realidade é outra; não estamos em Oxford ou qualquer lugar semelhante. Rapidamente nos damos conta de que o cenário do romance — a “zona de interesse” que lhe dá nome — é Auschwitz. Thomsen é um nazista de alta patente, sobrinho fictício de Martin Bormann. A mulher que desperta seu interesse é Hannah Doll, esposa de Paul Doll, o comandante do campo de concentração, inspirado, em certa medida, em Rudolf Höss.


Ao longo do livro, o bastão da narrativa é passado entre Thomsen, Paul Doll e um judeu polonês chamado Szmul, membro do chamado Sonderkommando – os eleitos dos condenados que foram encarregados de se livrar dos corpos de seus companheiros judeus. . Amis lida com as mudanças de registro com compostura suave. É Thomsen quem ocupa a posição estilística, apresentando sua parte do livro com delicado prazer e auto-estima nabokovianos. Ele descreve seu próprio corpo, por exemplo, com uma extensão impressionante, desde a “cauda flamenga do nariz, a prega desdenhosa da boca” até o “pênis extensível, classicamente compacto em repouso (com prepúcio pronunciado)”. Thomsen parece ocasionalmente perturbado pela natureza do seu trabalho como gestor intermédio numa burocracia de matança, descrevendo-se a certa altura como um Schreibtischtater – “um assassino de escritório ”; especificamente, ele supervisiona o projecto baseado em Auschwitz, gerido pela gigante química IG Farben e tripulado por trabalho escravo judeu, para desenvolver combustível sintético e borracha para o esforço de guerra. Durante grande parte do livro, porém, Thomsen está muito preocupado em tentar demitir a esposa do Comandante. Ser sobrinho do secretário pessoal de Hitler dá-lhe uma certa licença nesta área, uma certa margem de manobra para a insubordinação, embora mesmo na casa das máquinas do Holocausto as normas sociais continuem a vigorar. A noção de delito sexual parece indescritivelmente trivial no contexto do cenário do livro, um absurdo do qual Thomsen parece terrivelmente consciente. No início do livro, durante um momento a sós com Hannah na entrada de uma estufa, ele se pergunta se seria “tão estranho, realmente, incentivá-la a entrar e me inclinar para ela e reunir em minhas mãos caídas as dobras brancas de o vestido dela? Seria? Aqui? Onde tudo era permitido?

Entre os três personagens que narram a história, somente Thomsen possui a chave para o reino dourado da narrativa de Amis. As passagens de Szmul são um mergulho constante na escuridão, breves e intensas — como se as palavras lhe faltassem ao descrever o palco de atrocidades onde foi colocado para dirigir. “Nossa rotina”, ele relata, “é cercada pela morte, manuseando tesouras pesadas, alicates, marretas, baldes de gasolina, pás e trituradores”. Já a voz de Doll é limitada de outra forma: pelas barreiras de seu raciocínio e imaginação limitados. Amis tece as falas de Doll com um tecido de lugares-comuns. Ele surge após um episódio tenso, lidando com a chegada de um trem lotado, e confessa que isso lhe causou “uma dor de cabeça insuportável”. Ou seja, o que temos é uma encenação completa da trivialidade do mal — um conceito que, obviamente, já é um clichê no discurso nazista. Doll evita olhar para sua própria vileza e para o horror inédito do “Projeto” que ele comanda. Sobre o trabalho que Szmul e os outros Sonderkommandos realizam — a transferência, entrega e descarte de corpos, ou “Stücke” (pedaços) — ele diz: “É impressionante a profundidade da miséria moral que alguns seres humanos podem alcançar”.


A ignorância voluntária é o que mais chama atenção em Doll, o núcleo oco de sua corrupção. Ele é um personagem vívido, uma caricatura cancerígena que é, ao mesmo tempo, um dos maiores assassinos em massa da história e um burocrata notoriamente ineficaz, apelidado pelos colegas de “o velho bêbado”. Amis captura com precisão a incapacidade de Doll de perceber o horror que ele próprio representa. Em um momento, repugnado pelo odor da morte que permeia o campo — das chaminés, da fumaça, dos cadáveres — ele se sente “como se estivesse preso em um daqueles pesadelos fétidos que todos experimentamos — sabe, aqueles em que você se vê como um gêiser borbulhante de imundície, como um jorro impressionante de petróleo, e tudo continua a brotar e se espalhar, sem que nada possa ser feito”. Não são apenas as imagens que perturbam, mas a aceitação banal de Doll — sua convicção — de que isso é normal, que é um sonho que “todos nós” compartilhamos.


A miopia de Doll não é apenas uma metáfora para sua moralidade turva, mas também revela uma limitação mais técnica na construção do personagem: Amis, com sua veia satírica, às vezes exagera na dramatização. Seus personagens mais icônicos são retratos exagerados do grotesco: Keith Talent de “London Fields”, John Self de “Money” e até mesmo o “Martin Amis” fictício, protagonista de uma sátira que se desenrola há décadas na imprensa anglófona.


Doll é movido pela ironia dramática: estamos sempre cientes de que sabemos mais sobre ele do que ele mesmo, destacando sua inabilidade de se enxergar como realmente é. Em um momento revelador, ele declara: “Cheguei à conclusão de que tudo foi um erro trágico”. Ele não se refere ao Holocausto, mas ao seu casamento: “Refletindo, sim, acredito que foi um erro trágico me unir a uma mulher tão imponente”. (Ele não pode subjugá-la fisicamente, pois “Ela é muito grande.”) Essa ironia é claramente manipulada pelo autor, fazendo com que Doll pareça menos um ser complexo e mais um manequim para a crítica editorial. Amis o faz expressar opiniões que servem ao seu escárnio. Por exemplo, Doll elogia uma citação de “Mein Kampf” sobre o marxismo entregando o mundo aos judeus, e então afirma: “Bem, não se pode discutir com uma lógica tão impecável. Não: quod erat demonstrandum. Próxima pergunta.” Aqui, a linha entre a voz de um personagem tosco e a voz editorial do autor se confunde; a concordância de Doll soa como se estivesse em um tom irônico que está além de sua compreensão. Da mesma forma, o romance “Lionel Asbo” sofre com a insistência do autor em lembrar ao leitor o sotaque proletário de Lionel, até mesmo especificando a pronúncia de “paddock” com um “k” explosivo no final.


Essas falhas não são meros deslizes, nem falhas fundamentais; optei por negligenciá-las, interpretando-as como reflexos do embate de Amis com as normas do realismo literário. É raro encontrar um autor tão persistentemente vívido e exato em suas descrições do mundo, e ao mesmo tempo tão desapegado da construção de personagens psicologicamente plausíveis. Uma crítica recorrente à sua obra é que seus imensuráveis dons cômicos e estilísticos são subutilizados em sua exploração de temas sérios e profundos, e que ele frequentemente se estende além de seu domínio ao abordar esses vastos e sombrios assuntos históricos. De fato, há verdade nisso: Amis não produziu nada tão impactante quanto “Money”, sua ácida sátira sobre a avareza insana dos anos 80. (Mas, afinal, quem conseguiu algo semelhante? Gostaria genuinamente de saber.)


No entanto, essa crítica não considera como o talento dickensiano de Amis, sua obsessão pelos aspectos mais brutais e degradantes da humanidade, encontra um paralelo adequado nas atrocidades mais nefastas do século passado. Paul Doll é uma versão distorcida de Lionel Asbo ou Keith Talent de “London Fields” - um homem mesquinho e cruel que, neste caso, é engrandecido pela terrível adaptação de seu grotesco pela história.


Apesar de seus ocasionais desacertos, poucos escritores contemporâneos têm a habilidade de retratar tais personagens, que encarnam violência e ignorância com tal estilo e inteligência afiada. Em “A Zona de Interesse”, o nome Hitler nunca é mencionado; ele é apenas aludido indiretamente, através de eufemismos ou rodeios. Contudo, temos um vislumbre dele quando Bormann questiona seu sobrinho, Thomsen, se ele já observou o Führer de perto. Thomsen recorda que esteve na mesma sala que ele uma única vez, no casamento de Bormann em 1929. Ele o descreve como “um maître pálido, rechonchudo e sobrecarregado, diante do qual todos os presentes pareciam esforçar-se para não dar gorjeta”. É uma observação perspicaz; se eu possuísse uma máquina do tempo, certamente gostaria de voltar aos anos 30 e recitar essa descrição para o próprio Hitler.


Essa ironia se revela mais instável e profunda do que as sátiras mais contidas e manipuladoras de Amis. Não se trata de diminuir Hitler, o que seria um exercício fútil, mas de realçar o mistério de como uma figura tão insípida e mesquinha pôde devastar um continente e obter um poder tão destrutivo. Essa tentativa de caracterização apenas ressalta o quão inútil é tentar entender sua essência. Ao fechar “A Zona de Interesse”, somos confrontados com a fotografia de Hitler; o vilão quase esquecido da narrativa, com seu olhar vazio, bigode insignificante e expressão contida, encarando-nos com uma humanidade enigmática. Permanece o desconhecido, e ele ainda resiste. Nem a arte nem a história conseguiram, ou conseguirão, lançar luz sobre essa figura obscura.

Resenha: Temporada de huracanes [temporada de furacões], de Fernanda Melchor (Spanish edition)

Foto: Arte digital

APRESENTAÇÃO

Um grupo de crianças encontra um cadáver flutuando nas águas turvas de um canal de irrigação próximo à fazenda La Matosa. O corpo acaba por ser o da Bruxa, uma mulher que herdou esta profissão da sua falecida mãe, e que os moradores daquela zona rural respeitavam e temiam.

Após a descoberta macabra, as suspeitas e fofocas recairão sobre um grupo de meninos da cidade, que um vizinho viu dias antes enquanto fugiam da casa da bruxa, carregando o que parecia ser um corpo inerte.

A partir daí, os personagens envolvidos no crime nos contarão sua história enquanto nós, leitores, mergulhamos na vida deste lugar atormentado pela miséria e pelo abandono, e para onde convergem a violência do erotismo mais sombrio e das sórdidas relações de poder.

RESENHA


Em “Vozes do Vendaval”, a narrativa se desdobra como um coro polifônico, onde cada personagem é um sopro que se une ao vento da história. A trama começa com o relato de crianças que testemunharam um corpo flutuando no canal, e suas vozes se multiplicam, ecoando as experiências e segredos da cidade de La Matosa. Após um devastador vendaval em 78, uma nova tempestade surge, carregada de desolação e desespero, culminando na tragédia da Bruxa. O corpo encontrado torna-se o epicentro da narrativa, um ponto fixo em meio ao caos, capturando as histórias entrelaçadas que o precederam.


Os capítulos avançam com a força de um vendaval, sem dar trégua ao leitor, enquanto as vozes dos personagens se entrelaçam, revelando suas vidas, seus medos e seus desejos mais íntimos. A cada nova perspectiva, a história ganha camadas, e o que parecia ser verdade se desdobra em novas revelações. As personagens são apresentadas em toda a sua complexidade, e suas ações reverberam através das páginas, como raios em uma tempestade.


Fernanda Melchor, em “Temporada de Furacões”, tece uma tapeçaria de vozes que refletem a desesperança e a indiferença de uma sociedade marcada pelo horror. A narrativa é um mosaico de vidas que se cruzam na iminência da destruição, onde a perda da esperança leva ao abismo da violência e da morte. É um retrato cru da condiidade humana, um vendaval de emoções que arrasta o leitor para o olho da tempestade.


“Temporada de furacões” é uma obra que se tece através de um mosaico de vozes, cada uma narrando fragmentos da realidade que se entrelaçam para formar a história de uma cidade marcada pelo destino. Como um vendaval que cresce em intensidade a cada capítulo, as vidas dos personagens são desvendadas, culminando na imagem de um cadáver que simboliza o ápice do desalento coletivo. As vozes subsequentes, como ecos de um coro trágico, revelam as ações e sentimentos que conduziram ao desfecho fatal.


À medida que a narrativa avança, a perspectiva se eleva, retrocedendo no tempo para apresentar os personagens e os laços que tecem a trama, fechando o círculo que, embora selado, parece destinado a continuar girando. No segundo capítulo, a identidade do cadáver é revelada, e somos introduzidos à figura da Bruxa. A partir daí, a história se desdobra em uma colcha de retalhos de relatos: um personagem fala sobre outro, compartilhando fofocas conhecidas por toda a cidade, e as vozes se alternam abruptamente, assumindo a narração com vigor.


O que poderia ter sido apenas uma nota de rodapé sensacionalista transforma-se em uma exploração profunda das vidas dos personagens, mergulhando nas rachaduras de suas existências e desvendando as motivações por trás do assassinato da Bruxa. O terceiro capítulo nos leva ao “dia” do crime, revelando que as histórias e impulsos dos personagens orbitam em torno dos detalhes que os levaram ao momento fatídico.


Cada capítulo destaca um personagem, desdobrando sua biografia, caráter e os eventos que o moldaram, como se abrindo uma caixa chinesa, onde cada nova revelação dá voz aos envolvidos e seu papel na história. A narrativa começa com o cadáver, depois explora a infância da Bruxa, o mito do tesouro, e segue com Yesenia, Luismi, sua avó, e a confissão de Munra. Norma surge como um ponto de inflexão para Luismi, e a trama se complica até o trágico desfecho na casa da Bruxa.


As vozes narrativas se acumulam, formando um vendaval de histórias que se tornam furacões, alimentados pelas crenças e emoções dos personagens. Se não fosse pelo crescente desespero, talvez o desfecho pudesse ter sido diferente. Mas o desespero se transforma em desesperança, e o acúmulo de fracassos cria um vórtice que arrasta para a morte, deixando um corpo na vala comum, símbolo da desolação que permeia “Temporada de furacões”.


No romance, o epicentro é o enigma do cadáver da Bruxa, entrelaçado com a essência de La Matosa, uma localidade que evoca as memórias de Comala e Santa María. É um lugar onde a esperança parece ter se esvaído, deixando apenas os campos de cana, as mangueiras e o rio serpenteante. A reconstrução de La Matosa surge com a estrada que conecta o porto à capital, trazendo um novo fôlego econômico, mas a morte da Bruxa lança uma sombra de estagnação sobre a cidade.


A narrativa começa pelo fim, com o avô recebendo o corpo da Bruxa, e a história se desenrola em retrospectiva, revelando as vidas entrelaçadas dos habitantes. Cada capítulo é um redemoinho de emoções e desespero, que, apesar de suas tragédias individuais, unem os personagens em um destino comum. O capítulo final oferece um lampejo de luz, uma homenagem às crenças mexicanas sobre a morte, onde, mesmo após o fim mais sombrio, as almas são guiadas para o descanso eterno.


Uma obra dividida em oito segmentos, onde os personagens emergem e reivindicam sua existência em um universo que frequentemente os ignora. Eles lutam com resiliência e determinação para serem vistos e ouvidos. A Bruxa, o Lagarto, Munra, Norma, Luismi e Brando são algumas das figuras que se movem entre a tangibilidade e a penumbra, entrelaçando seus destinos em uma trama de desejos e acasos. Eles habitam um cenário que molda suas tragédias pessoais, que, apesar de sua natureza dolorosa, representam uma celebração da vida e da luta pela existência.


A jornada dos personagens nos leva por caminhos tortuosos, enfrentando desafios como dependência química, abuso sexual, misoginia, discriminação, homofobia e pobreza, até os labirintos do tráfico de drogas e corrupção. “Temporada de furacões” se destaca como um retrato fiel e multifacetado dos problemas sociais, oferecendo uma visão ampla do estado de nossa sociedade sem simplificações.


“Temporada de Furacões” de Fernanda Melchor é uma obra notável por sua autenticidade e valor literário. Com uma narrativa crua e sensível, o livro captura a realidade trágica de um país e das vidas que o compõem. Sem cair no moralismo, desafia o leitor a abandonar o cinismo e a indiferença, convidando-nos a compreender a perspectiva daqueles que mais sofrem. É uma tragédia moderna que se afasta do heroísmo épico, focando-se nas pessoas comuns, cujas histórias de dor e realidade são tão intensas que ofuscam os heróis épicos tradicionais.


O vento atravessava a planície e agitava as folhas das amendoeiras das copas e formava redemoinhos de areia entre as sepulturas distantes. A água está chegando, disse o avô aos mortos, enquanto contemplava com alívio as nuvens gordas que enchiam o céu. Deus o abençoe, a água está chegando, repetiu, mas não tema (p. 221).


Resenha: Oppenheimer, de Kai Bird

Foto: Arte digital

APRESENTAÇÃO 

Oppenheimer é a primeira biografia completa do “pai da bomba atômica”. J. Robert Oppenheimer foi o brilhante e carismático físico que liderou os esforços para desenvolver uma arma nuclear em favor de seu país durante a guerra. Logo após o bombardeamento de Hiroshima, tornou-se o cientista mais famoso de sua geração ― uma das figuras icônicas do século XX, a personificação do homem moderno que enfrenta as consequências do progresso científico.

No entanto, Oppenheimer em seguida se opôs ao uso de bombas nucleares e, em especial, da bomba de hidrogênio. Na hoje quase esquecida histeria do início dos anos 1950, as ideias dele contrariaram poderosos defensores de um avanço nuclear maciço, e, como consequência, foi considerado indigno de confiança para lidar com os segredos do governo dos Estados Unidos.


RESENHA


Aborde a leitura desta obra com calma e atenção, pois ela desvenda a complexidade de uma figura enigmática cuja vida se entrelaça com a ciência e os dilemas morais de sua época. As análises de física apresentadas são claras, porém ricas em detalhes, e a exploração das contradições e ambiguidades da vida de Oppenheimer exige uma reflexão cuidadosa. Sherwin, consciente da densidade do tema, uniu forças com Kai Bird para coautoria, refletindo a profundidade e a seriedade com que abordaram a biografia de 25 anos de J. Robert Oppenheimer. O “caso” Star Chamber revela um homem de paixões e pesadelos, um cientista que oscilava entre o amor pela ciência e o temor pelo futuro da energia nuclear. Em uma era marcada pela paranoia da Guerra Fria e por um presidente hostil, Truman, Oppenheimer se viu em um terreno instável.


Oppenheimer, uma figura de contradições, admitiu sua proximidade com o comunismo em seus anos de formação, influenciado por relacionamentos íntimos com Jean Tatlock e, posteriormente, Kitty Peuning, bem como a influência de seu irmão Frank, todos ligados ao Partido Comunista. Sua história é um reflexo das tensões e complexidades de um período turbulento da história.


A narrativa de “Oppenheimer” transcende o momento icônico da explosão atômica, mergulhando nas complexidades do pós-Trinity, onde a fidelidade de Oppenheimer é posta à prova. Lewis Strauss, o antagonista tanto na literatura quanto na tela, emerge como uma figura multifacetada, cuja obsessão em desmantelar Oppenheimer é palpável. Einstein, com sua característica perspicácia, apelidou a AEC de uma conspiração mortal, e o desfecho do livro ecoa mais um lamento eliotiano do que um estrondo apoteótico, refletindo a predileção de Oppenheimer pela poesia de TS Eliot. A trajetória shakespeariana de Oppenheimer é delineada em cinco atos, revelando a ascensão e queda de um cientista cuja herança inspirou uma miríade de expressões culturais.


Oppenheimer, descrito como um homem de estóica presença e olhar penetrante, é lembrado por sua generosidade e calor humano. Admirado pelas mulheres e respeitado por seus pares, ele se destaca não apenas por suas contribuições científicas, mas também pela complexidade de suas interações pessoais. O livro ganha vida com as descobertas dos autores, que vasculharam relatórios e transcrições, incluindo escutas telefônicas ilegais, revelando um custo pessoal e financeiro para Oppenheimer que superava seu salário em Los Alamos.


“Oppenheimer” oferece um olhar introspectivo e emocionante sobre um período crítico na intersecção entre ciência e política, e um lembrete solene da importância de proteger os princípios democráticos que sustentam nossa sociedade.

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