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Resenha: Oppenheimer, de Kai Bird

Foto: Arte digital

APRESENTAÇÃO 

Oppenheimer é a primeira biografia completa do “pai da bomba atômica”. J. Robert Oppenheimer foi o brilhante e carismático físico que liderou os esforços para desenvolver uma arma nuclear em favor de seu país durante a guerra. Logo após o bombardeamento de Hiroshima, tornou-se o cientista mais famoso de sua geração ― uma das figuras icônicas do século XX, a personificação do homem moderno que enfrenta as consequências do progresso científico.

No entanto, Oppenheimer em seguida se opôs ao uso de bombas nucleares e, em especial, da bomba de hidrogênio. Na hoje quase esquecida histeria do início dos anos 1950, as ideias dele contrariaram poderosos defensores de um avanço nuclear maciço, e, como consequência, foi considerado indigno de confiança para lidar com os segredos do governo dos Estados Unidos.


RESENHA


Aborde a leitura desta obra com calma e atenção, pois ela desvenda a complexidade de uma figura enigmática cuja vida se entrelaça com a ciência e os dilemas morais de sua época. As análises de física apresentadas são claras, porém ricas em detalhes, e a exploração das contradições e ambiguidades da vida de Oppenheimer exige uma reflexão cuidadosa. Sherwin, consciente da densidade do tema, uniu forças com Kai Bird para coautoria, refletindo a profundidade e a seriedade com que abordaram a biografia de 25 anos de J. Robert Oppenheimer. O “caso” Star Chamber revela um homem de paixões e pesadelos, um cientista que oscilava entre o amor pela ciência e o temor pelo futuro da energia nuclear. Em uma era marcada pela paranoia da Guerra Fria e por um presidente hostil, Truman, Oppenheimer se viu em um terreno instável.


Oppenheimer, uma figura de contradições, admitiu sua proximidade com o comunismo em seus anos de formação, influenciado por relacionamentos íntimos com Jean Tatlock e, posteriormente, Kitty Peuning, bem como a influência de seu irmão Frank, todos ligados ao Partido Comunista. Sua história é um reflexo das tensões e complexidades de um período turbulento da história.


A narrativa de “Oppenheimer” transcende o momento icônico da explosão atômica, mergulhando nas complexidades do pós-Trinity, onde a fidelidade de Oppenheimer é posta à prova. Lewis Strauss, o antagonista tanto na literatura quanto na tela, emerge como uma figura multifacetada, cuja obsessão em desmantelar Oppenheimer é palpável. Einstein, com sua característica perspicácia, apelidou a AEC de uma conspiração mortal, e o desfecho do livro ecoa mais um lamento eliotiano do que um estrondo apoteótico, refletindo a predileção de Oppenheimer pela poesia de TS Eliot. A trajetória shakespeariana de Oppenheimer é delineada em cinco atos, revelando a ascensão e queda de um cientista cuja herança inspirou uma miríade de expressões culturais.


Oppenheimer, descrito como um homem de estóica presença e olhar penetrante, é lembrado por sua generosidade e calor humano. Admirado pelas mulheres e respeitado por seus pares, ele se destaca não apenas por suas contribuições científicas, mas também pela complexidade de suas interações pessoais. O livro ganha vida com as descobertas dos autores, que vasculharam relatórios e transcrições, incluindo escutas telefônicas ilegais, revelando um custo pessoal e financeiro para Oppenheimer que superava seu salário em Los Alamos.


“Oppenheimer” oferece um olhar introspectivo e emocionante sobre um período crítico na intersecção entre ciência e política, e um lembrete solene da importância de proteger os princípios democráticos que sustentam nossa sociedade.

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