Numa espécie de boas-vindas a Os dragões não conhecem o paraíso, Caio Fernando Abreu nos fornece um leque de possibilidades de leitura para este livro vencedor do prêmio Jabuti em 1988: “Se o leitor quiser, este pode ser um livro de contos. Um livro com 13 histórias independentes, girando sempre em torno de um mesmo tema: amor. Amor e sexo, amor e morte, amor e abandono, amor e alegria, amor e memória, amor e medo, amor e loucura. Mas se o leitor também quiser, este pode ser uma espécie de romance-móbile. Um romance desmontável, onde essas 13 peças talvez possam completar-se, esclarecer-se, ampliar-se ou remeter-se de muitas maneiras umas às outras, para formarem uma espécie de todo. Aparentemente fragmentado, mas de algum modo ― suponho ― completo.”
“Manuscritos do Abismo”, um trabalho literário de Dostoiévski lançado em 1864, é uma pedra angular do existencialismo literário. Neste livro, Dostoiévski defende a liberdade individual como um elemento inerente à essência humana.
A história é dividida em duas partes. A primeira, simplesmente chamada de “Abismo”, é narrada por um personagem sem nome. Esta seção oferece um vislumbre da mente do personagem. Ele é um homem de 40 anos, amargurado, que vive em um apartamento em ruínas e se aposentou do serviço público após receber uma herança. Ele é um niilista e misantropo que vive “no abismo”, ou seja, em sua própria consciência reflexiva, há muitos anos e escreveu estes “Manuscritos do Abismo”, sem intenção de publicá-los.
A segunda parte da obra é intitulada “A propósito da neve úmida”. No final da primeira parte, a queda de neve úmida traz à tona memórias do passado do personagem e o perturba. Por tédio, ele começa a relatar suas experiências passadas tumultuadas quando tinha 24 anos. Sua incapacidade de se relacionar com os outros resulta em tentativas fracassadas de estabelecer relações e participar da vida, levando-o às profundezas do isolamento.