Responsive Ad Slot

[RESENHA #970] No espaço, com Lygia Pape, de Veronica Strigger

SINOPSE

Se, na época de Méliès, Mallarmé e Malevitch, o espaço sideral é ainda algo distante, intangível, aproximado apenas por meio do telescópio, na de Lygia Pape e dos irmãos Campos, esse espaço se torna mais próximo, mais concreto, alcançado por naves e navegado por homens e mulheres. O que há em comum a todos esses artistas é uma imaginação do espaço. Há como que uma captura da imagem do espaço sideral para servir como uma espécie de modelo à constituição do espaço gráfico (da página do livro ou da folha da gravura), pictórico ou até mesmo do espaço real, como no caso do Ballet neoconcreto e do Livro da criação, de Pape. É como se todos estivessem sempre a olhar para o céu, estrelado ou não, em busca não tanto de inspiração, mas de um companheiro de viagem.

RESENHA

No espaço com Lygia Pape é um livro escrito por Veronica Strigger, que proporciona uma visão esclarecedora e inspiradora sobre a vida e obra da renomada artista brasileira Lygia Pape. A obra de Lygia Pape é conhecida por sua originalidade e diversidade, e Strigger faz um excelente trabalho ao explorar as diferentes facetas do trabalho da artista. O livro aborda os principais aspectos históricos das realizações de Pape, incluindo sua performance. A autora vai além das discussões técnicas, ao mergulhar na vida e no contexto social em que Pape viveu. Ela explora as influências culturais que moldaram o trabalho de Pape.

No espaço com Lygia Pape não é apenas uma homenagem à artista, mas também uma reflexão sobre o poder da arte e seu impacto na sociedade. Strigger faz uma análise cuidadosa dos temas abordados por Pape, como pano de fundo principal, a criação de um filme, La Nouvelle Création, ao qual Pape desenvolveu para inscrevê-lo num concurso de curtas metragens, e por fim, sair vencedora, após ser a única brasileira inscrita concorrendo com outros 72 filmes. Sobre sua obra, Pape descreve: ❝Imaginei o homem não mais só sobre a terra, mas no espaço, pois começavam as grandes viagens interplanetárias. Consegui imagens da NASA sobre o primeiro voo de um cosmonauta: - ele surge (em branco/preto) na tela, evoluindo no espaço como um feto ligado à nave/útero por um cordão umbilical. Ele faz algumas evoluções, e de repente, a tela fica vermelha (em uma viragem) e ouve-se o choro de um bebê - nascia o novo homem: La Nouvelle Création.❞ (p.8)

A imagem do cosmonauta surgindo em preto e branco na tela, evoluindo como um feto ligado à nave ou útero por um cordão umbilical, pode representar o nascimento de uma nova era para a humanidade. As evoluções do cosmonauta no espaço podem simbolizar o crescimento e desenvolvimento do ser humano, tanto no aspecto físico quanto intelectual. No entanto, a reviravolta ocorre quando a tela se torna vermelha, provavelmente representando uma mudança significativa. O choro de um bebê pode ser interpretado como o nascimento de um novo homem, "La Nouvelle Création", sugerindo uma transformação profunda e uma nova forma de existência. Essa interpretação traz elementos de progresso, exploração espacial e renascimento do indivíduo e da humanidade como um todo. Ela pode sugerir esperança e potencial para um futuro melhor ou uma visão utópica de uma nova era em que o homem se expande além dos limites terrestres. Além disso, o livro também proporciona um olhar intimista sobre a personalidade de Pape, revelando sua paixão pela arte e seu compromisso em criar obras que desafiam as convenções e estimulam a reflexão. Através de depoimentos de pessoas próximas, Strigger mergulha na mente criativa da artista, revelando os desafios e conquistas enfrentados ao longo de sua carreira.

A obra de Pape é uma forma de elucidar sua genialidade em exprimir os sentimentos de uma nova criação por meio de um roteiro milimetricamente projetado para imersão abstrata do público em relação ao poema expresso na tela.

Uma das principais influências presentes nesta obra é a filosofia existencialista, que busca compreender a existência humana e sua liberdade de escolha. Lygia Pape utiliza elementos como a geometria e a abstração para criar um ambiente que convida o espectador a refletir sobre seu papel no mundo e suas possibilidades de ação.

Outra influência perceptível é a filosofia fenomenológica, que se concentra na experiência individual e na maneira como percebemos e interpretamos o mundo ao nosso redor. A artista utiliza formas e cores para criar uma experiência sensorial única, convidando o espectador a se envolver com a obra e refletir sobre sua própria percepção da realidade.

Além disso, é possível identificar influências do pensamento de Gilles Deleuze, especialmente sua teoria sobre o devir e a diferença. Pape explora a ideia de transformação constante e de como o indivíduo pode se reinventar e se adaptar às mudanças do mundo, refletindo os conceitos deleuzianos de multiplicidade e individualidade.No espaço com Lygia Pape é uma leitura enriquecedora e cativante para qualquer pessoa interessada em arte contemporânea e na história cultural do Brasil. Veronica Strigger oferece uma perspectiva relevante e esclarecedora sobre a obra de Pape, ao mesmo tempo em que nos leva a refletir sobre o poder transformador que a arte pode ter em nossas vidas.

[RESENHA #969] Os dezoito de brumário de Luis Bonaparte, de Karl Marx

SINOPSE

Em O Dezoito de Brumário de Luís Bonaparte, Karl Marx expõe de que modo a França que, mais uma vez, inspirou o mundo a lutar contra o absolutismo monárquico, através da Revolução de Fevereiro de 1848, se revelou um exemplo caricato de suas próprias contradições.

Após frear um refluxo conservador e destituir Luís Felipe I como rei, o país elegeu Luís Bonaparte, sobrinho do seu antigo imperador, Napoleão, como presidente da República recém-declarada. Aquela sociedade permitiu-se enganar pelo ímpeto popular do novo presidente, que, encoberto pelos acenos de ampliação de direitos civis, conduziu o golpe de Estado que o consagrou imperador Napoleão III, refazendo a posição autoritária do poder bonapartista.

É esse o contexto histórico sobre o qual Karl Marx debruçou nesta obra, uma primorosa crítica que revelou as primeiras experiências empíricas de seu materialismo e se tornou um dos textos mais importantes da ciência política. Esta edição, traduzida por Leandro Konder e Renato Guimarães, conta com preparação, introdução e notas de rodapé da socióloga Sabrina Fernandes, que apresenta a importância da obra para nossa época e explica detalhes do original alemão de modo acessível à leitora e ao leitor brasileiros. Assim, ela continua o trabalho de divulgação marxista iniciado com O manifesto comunista, dando seu segundo passo na reapresentação das edições de Karl Marx publicadas pela Editora Paz & Terra.

Temos, portanto, a oportunidade de entender não apenas quais foram as explicações de Marx sobre o golpe de Estado de Napoleão III, mas também como esse tipo de expediente continua sendo receita para líderes carismáticos subverterem insurreições populares em prol de si mesmos. Sabrina Fernandes nos ensina como o famoso enunciado de Marx sobre a tragédia e a farsa é nítido também para acontecimentos políticos recentes no Brasil – dos protestos de junho de 2013 ao governo de Jair Bolsonaro.

RESENHA

O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte" de Karl Marx é uma obra profunda e brilhante que analisa o golpe de Estado que levou Louis-Napoléon Bonaparte ao poder na França em 1851. Marx, com sua abordagem materialista da história, examina os eventos reais e os situa no contexto da luta de classes, revelando as verdadeiras forças motrizes por trás da história.

Ao contrário dos livros didáticos tradicionais de história, esta leitura traz um olhar renovado e desprovido de preconceitos. Marx analisa objetivamente os eventos, utilizando metáforas e recursos literários para transmitir sua visão da realidade diante de seus olhos.

Ao explorar o papel do Estado e da luta de classes, Marx demonstra como as revoluções burguesas apenas aperfeiçoaram a opressão das classes dominantes. Ele propõe, pela primeira vez, a ideia de que o proletariado não deve apenas assumir o aparato estatal existente, mas desmantelá-lo completamente.

Mesmo diante da derrota de movimentos como a Comuna de Paris, Marx mantém a esperança para aqueles que se sentem desesperançados. Sua análise continua sendo uma base importante para o debate político e acadêmico, especialmente em momentos em que variantes bonapartistas surgem na América Latina.

O livro "Os Dezoito de Brumário, de Luís Bonaparte" de Karl Marx é uma obra primorosa que mergulha no contexto histórico da Revolução Francesa, especificamente do golpe de Estado de Napoleão Bonaparte, ocorrido em 1851. Neste livro, Marx analisa em detalhes os eventos que levaram ao estabelecimento do regime bonapartista na França e faz uma série de reflexões sobre a natureza do poder político e a dinâmica das classes sociais.

Uma das principais contribuições do livro é a análise minuciosa que Marx faz do papel das classes sociais e das lutas de poder na consolidação do regime bonapartista. Ele destaca que a burguesia francesa, após a Revolução de 1848, estava dividida e incapaz de resolver seus conflitos internos. Nesse contexto, Napoleão Bonaparte, apoiado pela classe agricultora e beneficiando-se da crise econômica e política em curso, conseguiu se posicionar como uma figura forte e carismática, capaz de unir diferentes classes sociais em torno de seu regime.

Marx também discute a importância do golpe de Estado de Napoleão Bonaparte para a história política da França e do mundo. Ele argumenta que o regime bonapartista representou uma espécie de "retorno ao passado", marcado pela centralização do poder nas mãos de um líder autoritário, em detrimento dos avanços democráticos conquistados durante a Revolução Francesa. Ao analisar os eventos ocorridos no período conhecido como "Dezoito de Brumário", Marx também aponta para questões mais amplas, como a natureza do Estado e o papel da violência política na tomada e na manutenção do poder.

Outro ponto interessante do livro é a forma como Marx utiliza uma vasta gama de fontes históricas para sustentar suas análises. Ele cita inúmeros artigos de jornais, discursos políticos e documentos oficiais para ilustrar os eventos e as disputas de poder da época. Esse rigor metodológico confere uma grande credibilidade às conclusões de Marx e permite ao leitor ter uma compreensão mais ampla e precisa dos acontecimentos.

Além disso, a escrita de Marx é envolvente e marcada por seu estilo característico, que combina erudição, clareza e ironia. Ele é habilidoso em expor contradições e hipocrisias tanto nos discursos políticos quanto nas ações dos atores envolvidos. Sua crítica incisiva aos poderosos e sua defesa dos interesses das classes oprimidas são constantes ao longo do livro, tornando-o uma obra carregada de conteúdo político e social.

Em resumo, "Os Dezoito de Brumário, de Luís Bonaparte" é uma leitura imprescindível para aqueles interessados na história política e social do século XIX, bem como para aqueles que desejam entender mais profundamente a teoria marxista. Karl Marx utiliza uma vasta gama de fontes e oferece uma análise detalhada dos eventos que levaram ao golpe de Estado de Napoleão Bonaparte, explorando aspectos históricos, citando fontes primárias e fornecendo informações pertinentes à compreensão do período.

Marx destaca que os grandes eventos históricos e personagens aparecem duas vezes: uma vez como tragédia e outra como farsa. Ele relaciona o golpe de Estado de Napoleão Bonaparte em 1799 com o golpe de seu sobrinho, chamado de "a segunda edição do 18 de brumário". Marx vê o primeiro golpe como um momento heroico da burguesia e o segundo como uma reação militar repressiva.

O autor busca explicar o movimento da história através das lutas de classes sociais. Sua obra é uma continuação do livro anterior, As Lutas de Classes na França de 1848 a 1850, onde ele discute a dominação da burguesia e analisa o período de 1848 a 1851 sob o ponto de vista do antagonismo de classe.

Marx faz uma crítica negativa ao campesinato, considerando-os como aliados da classe dominante. Ele os compara a um saco de batatas, sem vontade própria, prontos para serem influenciados por forças superiores, representadas pelos Bonaparte. Segundo Marx, a dinastia Bonaparte não representa os camponeses revolucionários, mas sim os conservadores, que desejam consolidar sua condição social e se apoiam na superstição e preconceitos dos camponeses.

Em resumo, Marx vê a história como uma sucessão de eventos trágicos e cômicos, impulsionada pelas lutas de classe, onde o campesinato surge como um aliado da classe dominante.

[RESENHA #968] Exátomos, de Vitor Miranda


"Exátomos", de Vitor Miranda, é uma obra que nos convida a ponderar a respeito da vida, das relações humanas e do mundo em que vivemos. O livro é uma seleção de poemas que revelam a precisão dos átomos em todas as coisas existentes, nos fazendo questionar o que fizemos com essa existência.

Dividido em cinco partes, o livro abarca uma ampla gama de sentimentos e temas, desde a ironia e a descrença até a crítica social, o amor, a esperança e o desespero. É uma obra que nos leva a reconsiderar nossa própria existência e nos ajuda a crescer como indivíduos.

Logo no início, o autor nos presenteia com uma frase impactante: "a terra não é plana, mas é chata". Essa frase apenas arranha a superfície da sagacidade e do humor irônico de Vitor, que por vezes pode nos fazer crer que ele é um poeta niilista. Porém, ao ler com mais atenção, percebemos que por trás de seu deboche e raiva, há uma profunda mágoa pelo que o mundo poderia ser.

Exátomos nos incentiva a refletir sobre a finitude de cada momento preciso e nos incita a descobrir a beleza oculta na crueldade. Vitor expõe as mazelas do mundo em sua poesia, mas também se nutre dela, florescendo em meio ao caos. É uma poesia profunda que nos leva a repensar a vida e nos faz questionar nossas próprias ações e escolhas.

A versatilidade de Vitor como escritor é evidente nessa obra, na qual ele transita entre diferentes emoções e contextos. Exátomos é um convite à reflexão e uma demonstração do poder da poesia como uma arma para desafiar a finitude. É uma leitura que nos desafia e nos enriquece como seres humanos.

Em "poema", o autor descreve o poema como um sentimento fossilizado, uma matéria arqueológica. Ele o compara a um signo paleolítico, uma representação primitiva. A escuridão da árvore amazônica é mencionada, onde o escorpião dorme, associando o poema a algo que está adormecido e escondido. O autor também menciona o pião, que gira eternamente, simbolizando a vitalidade e movimento contínuo do poema.

O poema é descrito como um esqueleto de sonhos, representando as ideias e imagens que o compõem. A arcada dentária dos dinossauros é mencionada, sugerindo a antiguidade do poema e a presença de elementos poderosos e fortes. A expressão "ácido nucleico religião" sugere que o poema possui uma força vital, algo essencial para a existência e fé.

O poema é descrito como um objeto ausente de átomos, o que pode significar que ele não possui uma presença física palpável, mas sim uma natureza imaterial e intangível. Ele é descrito como o indizível intocável, algo que não pode ser explicado totalmente, mas que tem o poder de explodir, causar um impacto profundo. Isso sugere que o poema possui uma força explosiva, capaz de despertar emoções e reflexões intensas.

Já em derrota, o dramaturgo expressa a ideia de que a dor faz parte do percurso da vida. Para o poeta e a poesia, a dor é uma armadura que os protege contra a amargura que emerge. Isto significa que a expressão artística pode ser um refúgio e uma forma de lidar com os momentos difíceis. Porém, o poema ressalta que o amor é mais duradouro do que a derrota, mostrando que apesar das adversidades, o sentimento amoroso é capaz de superar as dificuldades e oferecer um renascimento emocional.

Em eterna cadência (p.78):

me disseram que já não sou adolescente para fazer loucuras de amor
me disseram que haviam coisas mais importantes na vida
me disseram que tempo é dinheiro e deus ajuda quem cedo madruga
me disseram que pássaros voam por fome e não por paixão
me disseram que amor não põe comida na mesa
me disseram desde o princípio que necessitava de uma profissão que me
desse dinheiro
me disseram que a vida é uma merda e que a poesia não serve pra nada
só não me disseram que ao escutar a eterna cadência de sua voz
deixaria de crer em tudo que me disseram

Este poema expressa a contradição entre as expectativas e pressões sociais e o poder transformador do amor verdadeiro. O eu lírico é confrontado com conselhos racionais, baseados em ideias de pragmatismo e sucesso financeiro, que o desencorajam de seguir seus desejos emocionais. No entanto, ao ouvir a voz da pessoa amada, o eu lírico é capaz de se libertar dessas ideias limitantes e começa a questionar tudo o que lhe foi dito. A "eterna cadência" da voz do ser amado representa a verdadeira paixão, que transcende as expectativas impostas pela sociedade e torna todas as suposições anteriores sem sentido. A poesia, nesse contexto, assume um significado poderoso, oferecendo uma perspectiva alternativa à ideia de que a vida é apenas uma "merda", sugerindo que é através do amor e da arte que podemos encontrar beleza e realização verdadeiras.

Já em as crianças do mundo:

as crianças de gaza
não são as crianças
da nossa sala de estar

as crianças de gaza
não estão mais

as crianças de gaza
não são as crianças
de auschwitz

as crianças de auschwitz
não estão adultas

as crianças adultas
não são as crianças
brasileiras do piauí

as crianças do piauí
não estão mais

não estão mais
as crianças do congo

as crianças do mundo
não estão em paz

Este poema que surge como um a onda protestante, aborda a triste realidade das crianças ao redor do mundo que estão sofrendo devido a conflitos e injustiças. O autor compara a situação dessas crianças com as crianças em ambientes mais privilegiados, como a sala de estar ou mesmo a infância mais segura em Auschwitz, ressaltando a diferença entre suas realidades.  O poema também menciona crianças adultas, sugerindo que muitas delas se viram obrigadas a crescer rapidamente, perdendo a inocência e a oportunidade de aproveitar a infância. O autor menciona especificamente as crianças brasileiras do Piauí, indicando que mesmo em locais onde há pobreza e dificuldade econômica, a situação pode não ser tão precária como em outros lugares do mundo.

Por fim, o poema destaca que as crianças ao redor do mundo não estão vivendo em paz, provavelmente aludindo a conflitos armados, guerras e outras formas de violência que afetam as crianças em várias regiões. A mensagem central é que, infelizmente, muitas crianças estão privadas de uma infância tranquila e segura, sendo impactadas por problemas globais.

Em suma, Exátomos é uma obra magnífica e bela, que nos faz repensar nossa própria existência e nos ajuda a enxergar a vida de forma mais profunda e significativa. Vitor Miranda se revela um poeta talentoso e versátil, capaz de provocar emoções e reflexões por meio de suas palavras. Ler este livro é uma experiência transformadora e inspiradora.

O AUTOR

Sobre o poeta Vitor Miranda:

Estreou na literatura com o livro de contos “Num mar de solidão”, um dos contos, “Pise fundo meu irmão”, virou curta-metragem e Vitor recebeu um prêmio de melhor ator. Em 2016 aparece com sua primeira publicação independente, “Poemas de amor deixados na portaria”, livro que deu origem a Banda da Portaria. Como letrista tem parcerias com artistas como Alice Ruiz, Rubi, Luz Marina, Dani Vie, João Mantovani, João Sobral, Touché, Zeca Alencar e Heron Coelho. Em sua aproximação com figuras da poesia curitibana, lança pela Editora Kotter o livro “A gente não quer voltar pra casa”. Experimenta na linguagem em 2019 com o romance poema “A moça caminha alada sobre as pedras de Paraty”. Inicia o projeto de entrevistas “Prosa com Poeta” no qual entrevista figuras como Alice Ruiz, Maria Vilani, Bobby Baq, Dionísio Neto, entre outros artistas. Organiza o Movimento Neomarginal onde exerce o ofício de agitador cultural. Volta aos contos com “O que a gente não faz para vender um livro?” pelo Selo Neomarginal onde destila todo seu sarcasmo. Em 2023 surge com “Exátomos” novamente pelo Selo Neomarginal.

Mais informações:
Instagram: https://www.instagram.com/vitorlmiranda/
Facebook: https://www.facebook.com/vitor.miranda.775/

[RESENHA #967] Antígona: Ela está entre nós, de Andréa Beltrão


Há 2.500 anos, Antígona, de Sófocles, é uma dramaturgia comovente que conquista a atenção dos espectadores. A história da princesa que desafiou um rei para que o corpo do próprio irmão fosse sepultado é reencenada brilhantemente por Andrea Beltrão – neste que é um de seus trabalhos mais audaciosos e que lhe rendeu o Prêmio APCA. Ao reinventar a tragédia grega, Andrea Beltrão não apenas concebe, junto ao diretor Amir Haddad, um sucesso de público e crítica, mas dá novo sentido a uma das personagens mais extraordinárias da história do teatro, posicionando-a frente a frente com as maiores lições de luta deste tempo.

Antígona é um símbolo de insubmissão. Alguém que converteu o luto em ativismo político. A perda, em força de vida. Ao recriá-la, Andréa Beltrão reconhece a magnitude de sua persistência e traz Antígona para o presente.

Neste livro, a atriz, produtora e diretora de teatro conta sobre o processo de criação e destaca os principais trechos que usa para refabular a história da jovem que desafia o Estado. Quem entra em contato com a Antígona de Andrea Beltrão não permanece incólume. A presença da protagonista pode ser vivenciada – através da tradução de Millôr Fernandes do texto de Sófocles, que acompanha integralmente esta edição –, como se estivéssemos no antigo Teatro de Dionísio. Ela está entre nós.

RESENHA

Antígona é uma adaptação teatral do clássico de Sófocles, traduzido por Millôr Fernandes, que narra a história de uma princesa que desafia o poder do rei para sepultar seu irmão morto em guerra. A peça, que estreou em 2017, é fruto da parceria entre a atriz Andréa Beltrão e o diretor Amir Haddad, que assinam juntos a dramaturgia.

A história de Antígona, de Sófocles, é uma tragédia grega que narra o conflito entre a princesa Antígona e o rei Creonte, sobre o destino do corpo de Polinice, irmão de Antígona, que morreu em guerra contra Tebas. Antígona quer sepultar o irmão, seguindo as leis divinas, mas Creonte proíbe, seguindo as leis humanas. Antígona desafia o rei e é condenada à morte, provocando uma série de desgraças na família real de Tebas. A peça é considerada um clássico da literatura mundial, que aborda temas como a liberdade, a justiça, o amor, o destino e a morte.  A obra é uma reflexão sobre a liberdade do cidadão diante do Estado, e sobre os conflitos éticos e morais que envolvem a escolha entre obedecer às leis humanas ou às leis divinas. Antígona representa a resistência, a coragem e a lealdade, mas também a rebeldia, a obstinação e a tragédia.

No palco, Andréa Beltrão interpreta todos os personagens da trama, usando apenas alguns adereços para mudar de identidade. Ela dialoga com a plateia em um ritmo acelerado e envolvente, que mistura humor e emoção. A atriz demonstra sua versatilidade e talento ao dar vida a Antígona, Creonte, Ismênia, Hêmon, Tirésias e outros.

Antígona é uma peça que traz a atualidade de um texto milenar, que fala sobre temas universais e atemporais, como o amor, a justiça, a honra, o destino e a morte. É uma obra que convida o espectador a pensar sobre o seu papel na sociedade, e sobre os valores que norteiam as suas ações.

[RESENHA #966] Ilustrações, de Jailton Moreira


RESENHA

Ilustrações é o primeiro livro de poemas de Jailton Moreira, um artista plástico, professor e curador que conheceu todo o tipo de arte em suas andanças. O livro é fruto de uma relação em que o escrito se submete ao visual, e não o contrário. São 29 poemas que respondem poeticamente e criticamente às experiências vividas pelo autor frente a determinados artistas e suas obras, como Piet Mondrian, Diego Velázquez e Richard Serra.

O livro é uma obra que desafia o leitor a se tornar observador e a ir conhecer por conta própria os trabalhos que inspiraram o autor a escrever. Cada poema é uma tentativa de ordenar as impressões, os sentimentos e as reflexões que as imagens provocam no autor, usando uma linguagem simples, direta e criativa. O autor não se limita a descrever ou elogiar as obras, mas também as questiona, as contraria e as reinventa.

Ilustrações é um livro que mostra a versatilidade e o talento de Jailton Moreira, que transita entre diferentes formas de expressão artística, e que convida o leitor a fazer o mesmo. É um livro que celebra a arte como uma forma de conhecimento, de comunicação e de transformação.

Como descrito no site oficial da obra, este é um convite à experimentação em que o autor se liga ao visual para dar vida as palavras, e não ao contrário. A obra é ilustrada ricamente com imagens que carregam um forte sentimentalismo histórico e simbolista que provoca leitor não somente uma onda reflexiva, mas também uma série de pensamentos acerca da historicidade e das propostas elencadas em seu enredo. 

A obra possui 131 páginas carregadas com 29 poemas e imagens que conversam entre si em sua completude.  A segunda poética do autor é dedicada à uma obra de Giotto (pintor e arquiteto italiano) intitulada legend of St Francis: 15. Sermon to the Birds, que é uma das 28 cenas da Lenda de São Francisco pintadas por Giotto di Bondone na Basílica de São Francisco de Assis, na Itália. A obra retrata um episódio famoso da vida de São Francisco, o santo padroeiro dos animais, que pregou um sermão aos pássaros, exortando-os a louvar a Deus por todas as bênçãos que Ele lhes concedeu. A obra é considerada um exemplo da arte gótica, que se caracteriza pelo uso de cores vivas, pela representação de figuras humanas e pela expressão de sentimentos e emoções. A obra também mostra a habilidade de Giotto em criar perspectiva, profundidade e movimento, usando elementos como a paisagem, as árvores e as nuvens.

A poesia é uma reflexão sobre a arte e a vida, sobre o passado e o presente, sobre o sagrado e o profano. O poeta usa metáforas e imagens que remetem à obra de Giotto, como o berço, a espiga, o óleo, o canto, os pássaros, o céu, o verde e a proa. Ele também faz referências à história de São Francisco, como o santo pobre, o mestre triste e o sonho romano. Ele compara o seu sonho com o de São Francisco, que deslizam na região da Úmbria, onde fica a cidade de Assis.

A poesia é uma forma de homenagear a obra de Giotto e a vida de São Francisco, mas também de questionar o seu significado e a sua atualidade. O poeta se pergunta se o berço da arte pode se transformar em um começo, se é possível superar o vício e a violência, se é possível lubrificar as arestas e colocar a engenharia em movimento, se é possível contar histórias de pássaros e homens famintos, se é possível ver o céu azul e o verde vivo, se é possível sonhar com a paz e a harmonia.

Já na poética guitarras de Picasso, o poema é uma reflexão sobre a arte e a música, sobre o caos e a harmonia, sobre o antigo e o novo. O poeta usa metáforas e imagens que remetem à obra de Picasso, como o berço, o mastro, o âncora, o barco, o casco, a boca, a guitarra, o silêncio e a pátina. Ele também faz referências a diferentes gêneros musicais, como sardanas, cumbias, baladas, fados e fandangos. Ele compara a música tradicional e popular com a música experimental e desconcertante que a obra de Picasso representa.

O poema é uma forma de homenagear a obra de Picasso e a sua inovação, mas também de questionar o seu sentido e a sua beleza. O poeta se pergunta se a guitarra quebrada pode ser consertada, se a música descontínua pode ser ouvida, se a sonora pandora pode reverberar.

Em síntese, podemos dizer que o autor consegue de forma magistral e prolífica inserir em suas reflexões históricas, sociais e urbanas um contexto além da imagem. Essa nova categoria descritiva é uma forma de expor a história e as linhas poéticas em forma de enredo de forma poética e rebuscada. Uma poesia complexa e repleta de nuances quem devem ser sentidas em sua totalidade. Uma obra magistral. 

[RESENHA #965] Tupac Shakur: a biografia autorizada, de Stace Robinson

A primeira e única biografia autorizada pela família do lendário artista Tupac Shakur. Um comovente relato de sua vida e do legado que deixou, ilustrado com fotos pessoais, manuscritos, trechos de seus diários e muito mais!

Artista, poeta, ator, revolucionário... uma lenda.

Tupac Shakur deixou sua marca na cultura mundial. Quase trinta anos depois de sua trágica e precoce morte em 1996, aos 25 anos, Tupac continua sendo presença constante na mídia como uma das figuras mais incompreendidas e fascinantes da história da música.

Em Tupac Shakur: A biografia autorizada pela primeira vez o público tem em mãos uma biografia completa sobre o lendário artista. A autora Staci Robinson ― que conheceu o rapper ainda no ensino médio e foi escolhida por Afeni Shakur, mãe de Tupac, para contar a história do filho ― teve acesso exclusivo a seus diários, suas cartas e conversas, sem censura, com aqueles que o conheciam intimamente. Em Tupac Shakur, Robinson nos oferece uma leitura emocionante e profundamente pessoal sobre os acontecimentos que marcaram a vida de Tupac, e do legado que ele deixou no mundo, com fotografias exclusivas da infância e de bastidores da carreira do artista.

Empreitada de décadas, esta obra mergulha no poderoso legado de uma vida que desde cedo foi definida pela política e pela arte ― de um homem movido tanto pelo brilhantismo quanto pela impulsividade, imerso desde cedo na rica tradição intelectual do movimento negro e no ativismo dos Panteras Negras e sem medo de falar as mais ásperas verdades sobre as questões raciais nos Estados Unidos.

Esta é, ainda, a história de um sucesso vertiginoso, com consequências devastadoras. E, como não podia deixar de ser, traz a obra musical de Tupac e sua mensagem atemporal, que seguem inspirando a juventude até os dias de hoje.

RESENHA

Tupac Shakur: a biografia autorizada é o primeiro e único livro que conta a história do lendário rapper americano com a autorização da sua família. A autora, Staci Robinson, foi colega de escola de Tupac e teve acesso exclusivo aos seus diários, cartas, fotos e relatos de seus amigos e parentes. O resultado é um retrato emocionante e pessoal de uma das figuras mais influentes e controversas da história da música.

O livro narra a trajetória de Tupac desde a sua infância, marcada pela pobreza, pela violência e pelo ativismo político dos Panteras Negras, até a sua ascensão ao estrelato, com sucessos como “California Love”, “Changes” e “Dear Mama”. O livro também revela os bastidores da sua carreira como ator, poeta e revolucionário, e os conflitos que o envolveram em polêmicas, processos e rivalidades, culminando no seu assassinato em 1996, aos 25 anos.

O livro é uma homenagem ao legado de Tupac, que continua inspirando milhões de pessoas ao redor do mundo com a sua música, a sua mensagem e a sua atitude. O livro também é uma reflexão sobre as questões raciais, sociais e culturais que Tupac abordou em suas letras, e que seguem relevantes até hoje.

O livro é ilustrado com fotos exclusivas da vida de Tupac, e também contém citações de suas músicas, de seus poemas e de seus depoimento. A obra contém 22 capítulos e eles descrevem períodos únicos e distintos da vida do músico, como o estilo se suas músicas, sua vida em Nova York, sua história de ascensão, período de fama, dentre outros tópicos explorados pela autora.

Esta é a única biografia de Tupac que tem a aprovação da sua família. Ela celebra a sua trajetória e o seu espírito, sem esconder os seus erros nem diminuir os seus desafios e a sua criatividade para alcançar o sucesso. 

Staci Robinson foi amiga de Tupac na escola. Ela estava na lista de escritores que ele queria trabalhar no futuro, antes de ser morto. Apesar de seu histórico escolar não ser muito brilhante, Afeni Shakur viu a sua honestidade e o seu compromisso quando confiou a história do seu filho a ela. Se Robinson não tinha feito nada de extraordinário antes, ela tirou um dez com este. Parabéns a ela por esta ótima biografia, o esforço valeu a pena. O nível de dedicação em capturar a essência de um artista através de todos que o conheceram fica claro nos detalhes. Staci Robinson não poupou esforços, entrevistando todos, desde seus amigos mais íntimos e familiares até seus colegas de infância, mentores e educadores. Ela honra o lado intelectual de Tupac.

Intensidade e foco são duas palavras usadas para descrever Tupac no final desta biografia que melhor se encaixam no meu caso. Ele estava determinado no seu futuro, tão seguro da sua fama quanto da sua morte precoce pela violência. Às vezes, a sua natureza intensa levava à violência impulsiva e a atitudes defensivas, mas a sua alma equilibrada se manifestava no final, após a reflexão. Ele também foi realista sobre o mundo e o seu futuro, incluindo a sua expectativa de vida. Ele era sincero quando algo era culpa dele, inflexível quando acreditava que estava sendo injustiçado ou acusado falsamente. Ele exigia honra e respeito mútuos de seus amigos e associados, eliminando as pessoas quando elas o traíam ou desapontavam. Ele tinha um código de ética que era fundamental para a sua imagem e a sua mensagem. Ele era absolutamente polêmico, muitas vezes devido ao alvoroço da mídia e aos equívocos sobre a sua filosofia e os seus objetivos, mas às vezes por causa da sua atitude audaciosa. Staci equilibra a representação do seu comportamento, sem justificá-lo, mas também sem condená-lo por isso. Ela mostra a sua complexidade.

Uma obra completa e magistral.

© all rights reserved
made with by templateszoo