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Segunda Guerra Civil da República Romana

A Segunda Guerra Civil da República Romana, conhecida também como Guerra Civil Cesariana, foi um conflito militar que ocorreu entre 49 a.C. e 45 a.C. Este embate envolveu Júlio César e a facção tradicionalista e conservadora do Senado, liderada militarmente por Pompeu Magno. A guerra resultou na derrota da facção tradicionalista, consolidando o poder absoluto de César como ditador romano.

O crescimento da popularidade de César entre a plebe e sua ascensão após vitórias na Gália preocuparam seus adversários políticos, especialmente Catão, o Jovem, que tentaram minar sua influência. Eles procuraram remover César do cargo de governador da Gália para posteriormente levá-lo a julgamento, desencadeando uma crise política que trouxe violência às ruas de Roma.

Em 50 a.C., o Senado aprovou uma moção para que César deixasse o cargo de governador. Marco Antônio, utilizando o poder de tribuno da plebe, vetou a proposta, o que levou a uma violenta perseguição a César e seus aliados, patrocinada pela facção conservadora. Temendo por sua vida, Antonio deixou Roma. Aproveitando-se da ausência de oposição no Senado, Pompeu recebeu poderes excepcionais e foi declarado estado de emergência. Em resposta, César avançou com suas tropas e atravessou o rio Rubicão, iniciando a guerra civil.

César avançou rapidamente pela Itália, surpreendendo os constitucionalistas e pompeanos, que, despreparados, fugiram para Brundísio, no sul da Itália, de onde partiram para a Grécia em busca de reforços. César tentou perseguir Pompeu sem sucesso; Pompeu cruzou o Adriático com seu exército e vários senadores. César então dirigiu-se à Hispânia, derrotando as legiões leais a Pompeu na Batalha de Ilerda. Após essa vitória, retornou à Itália, cruzou o Adriático para enfrentar Pompeu na Grécia. Embora derrotado na Batalha de Dirráquio, César obteve uma vitória esmagadora contra Pompeu na Batalha de Farsália. Pompeu fugiu para o Egito em busca de apoio, mas acabou sendo assassinado. César subsequentemente derrotou Marco Pórcio Catão Uticense em Tapso e, finalmente, os filhos de Pompeu na Batalha de Munda, na Hispânia.

Antecedentes

No século I a.C., Roma se consolidou como a maior potência do Mediterrâneo após triunfar sobre Cartago nas Guerras Púnicas, destruindo a cidade em 146 a.C., e expandindo seu domínio com a conquista da Macedônia, do Império Selêucida e a submissão do Egito lágida. No entanto, essa expansão, junto ao crescimento demográfico e econômico, agravou a fragmentação social e política de Roma, intensificando a polarização social.

O senado romano se dividiu em duas facções principais: os populares, que promoviam a expansão da cidadania e a democratização das instituições por meio de maior poder às assembleias, e os optimates, aristocráticos que buscavam restringir o poder popular e fortalecer o senado. Em 91 a.C., a Guerra Italiana ou Guerra Mársica teve início, uma revolta dos aliados de Roma que desejavam mais direitos para os itálicos não cidadãos romanos.

Na década de 80 a.C., a tensão interna atingiu seu auge devido às rivalidades entre Caio Mário e Lúcio Cornélio Sula, que disputavam o comando da guerra contra Mitrídates VI do Ponto. Após Mário conseguir destituir Sula do comando militar através da Assembleia da Plebe, Sula marchou com seu exército sobre Roma, um ato sem precedentes que quebrou a legalidade republicana e estabeleceu um precedente perigoso.

Sula venceu, forçando Mário e seus seguidores a se exilarem. Em sua ausência, Roma foi deixada sob o controle de dois cônsules conflitantes: Cneu Octávio, dos optimates, e Lúcio Cornélio Cina, dos populares, o que resultou em uma guerra civil. Mário retornou da África e liderou uma repressão sangrenta, estabelecendo um regime autocrático que, após sua morte, ficou sob comando de Cina.

Em 83 a.C., Sula voltou para Roma, derrotou os populares e se proclamou ditador, implementando uma purga para eliminar seus opositores. Júlio César, sobrinho de Mário e genro de Cina, escapou do exílio devido ao seu status de sacerdote de Júpiter e às suas conexões familiares. Sula tentou, sem sucesso, forçar César a se divorciar de Cornélia, filha de Cina. Destituído de seu status sacerdotal, César partiu para o Oriente, onde uma nova guerra contra Mitrídates VI estava em andamento.

Após a morte de Sula, César retornou a Roma e entrou para o senado. Em 65 a.C. e 63 a.C., ocorreram duas conspirações lideradas por Catilina, que foram descobertas e frustradas por Cícero. Essas conspirações visavam derrubar a legalidade constitucional e instaurar uma ditadura.

Causas

Nos anos que se seguiram, Júlio César avançou consistentemente em sua trajetória política, assumindo diversos cargos como questor, edil curul, pontífice máximo, pretor, governador da Hispânia Ulterior e, finalmente, cônsul em 59 a.C. Durante esse período, ele demonstrou ser um político sagaz, um administrador de alta competência e habilidade. Seu consulado foi revolucionário, estabelecendo as bases para significativas reformas políticas, econômicas e sociais que Roma necessitava urgentemente. Ele criou um conjunto de leis que formariam a base do direito romano e promulgou uma reforma agrária para redistribuir terras públicas às famílias mais necessitadas, ganhando assim a inimizade dos optimates, incluindo figuras como Catão, o Jovem, e Marco Bíbulo, seu colega consular.

Ainda em 59 a.C., Júlio César, Pompeu e Marco Licínio Crasso formaram o Primeiro Triunvirato, uma aliança informal de cooperação para ocupar os cargos mais altos do Estado. Após seu consulado, César recebeu poderes proconsulares e a administração da Gália Cisalpina e do Ilírico, regiões escassamente povoadas e empobrecidas. No primeiro ano de seu mandato, enfrentou uma grande invasão dos Helvécios e várias incursões dos Germanos, derrotando ambos em uma única campanha.

César acreditava que apenas organizar a província e preparar-se para a defesa era insuficiente. Com a justificativa de acabar com as invasões do norte, iniciou a conquista da Gália, obtendo inúmeras vitórias. Por duas vezes, as legiões romanas cruzaram o rio Reno para retaliar as incursões dos Germanos e, em duas outras ocasiões, cruzaram o canal da Mancha, realizando incursões na Britânia. Esses sucessos encheram a plebe de admiração e Roma foi inundada com riquezas e escravos capturados nas campanhas do norte. Como contribuição à literatura universal, César escreveu um registro de suas campanhas na Gália, o famoso "De Bello Gallico," que também serviu como propaganda política para documentar suas conquistas.

Alguns senadores observavam com preocupação a crescente popularidade de César entre a plebe e seu aumento de riqueza pessoal. Os optimates criticavam suas leis que concediam cidadania romana a certas cidades da Gália Cisalpina e a seus soldados. Liderados por Catão, o Jovem, os críticos de César o acusavam de cometer crimes contra a república e desprezavam seus sucessos.

Com a ascensão do triunvirato, César manteve firme controle sobre a Gália para assegurar seus interesses e poder. No entanto, essa aliança política desintegrou-se após a morte de Crasso na batalha de Carras durante a guerra contra o Império Parta e da esposa de Pompeu, filha de César, cujo casamento havia servido como um laço entre ambos. Adicionalmente, os sucessos de César na Gália, a longo prazo, ameaçavam a fama e a influência de Pompeu em Roma.

Terceira Guerra Civil da República Romana


A Terceira Guerra Civil da República Romana, também chamada de Guerra Civil dos Libertadores, teve início devido às ações do Segundo Triunvirato, que buscava vingar a morte de Júlio César. Esse conflito envolveu as tropas de Marco Antônio e Otaviano, membros do Segundo Triunvirato, enfrentando os responsáveis pelo assassinato de César, Marco Júnio Bruto e Caio Cássio Longino, no ano de 42 a.C.

Em Roma, três líderes cesarianos – Antônio, Otaviano e Lépido – que dominavam quase todo o exército romano no ocidente, haviam derrotado a oposição do senado e instituído o segundo triunvirato. Uma de suas primeiras missões foi aniquilar as forças dos liberatores, tanto para assegurar o controle total do mundo romano quanto para vingar a morte de Júlio César. Os triúnviros decidiram que Lépido permaneceria na Itália, enquanto os dois principais membros se dirigiram ao norte da Grécia com suas tropas mais capazes, num total de 28 legiões.

Batalha dos Filipos

No ano 42 a.C., Caio Norbano Flaco e Lúcio Decídio Saxa foram despachados com oito legiões robustas para a Macedônia. Nas proximidades de Filipos, eles avançaram em direção às forças de Bruto e Cássio. Com um contingente menor, Norbano e Saxa escolheram uma posição estratégica perto da cidade, o que impediu o progresso dos republicanos. No entanto, uma manobra de Bruto e Cássio obrigou Norbano a abandonar essa posição, mas ele rapidamente a retomou ao perceber a tática inimiga. Quando Bruto e Cássio conseguiram contorná-los, Norbano e Saxa recuaram para Anfípolis. Marco Antônio e a maioria das tropas chegaram em seguida, embora Otaviano não tenha desembarcado em Dirráquio devido a problemas de saúde. Em Anfípolis, Norbano assumiu o comando e a cidade estava bem defendida.

Bruto e Cássio, por outro lado, conseguiram reunir um exército de 80.000 soldados. Bruto tinha ao seu dispor 4.000 cavaleiros provenientes da Gália e Lusitânia, e 2.000 de regiões como Trácia, Ilíria, Pártia e Tessália. Cássio contava com 2.000 cavaleiros da Hispânia e Gália, além de 4.000 arqueiros montados das áreas da Arábia, Média e Pártia. Os aliados e tetrarcas da Galácia contribuíram com 5.000 cavaleiros e tropas de infantaria. Apesar do equilíbrio no número total de soldados, os liberatores possuíam uma vantagem considerável em cavalaria, com 20.000 cavaleiros contra 13.000 dos triúnviros.

Cássio optou por não atacar imediatamente. As suas forças recebiam provisões constantes da Ásia, enquanto os triúnviros enfrentavam dificuldades logísticas, exacerbadas pela fome no Egito e pelas obstruções de Sexto Pompeu, que impedia a chegada de recursos da Hispânia e da África.

Revolta Siciliana: Contexto e desdobramentos

A Revolta Siciliana foi um levante contra o Segundo Triunvirato da República Romana que teve lugar entre 44 e 36 a.C. Essa insurgência foi comandada por Sexto Pompeu, filho do renomado general Pompeu Magno. A rebelião culminou com a vitória das forças do triunvirato.

Contexto

Sexto Pompeu, filho de Pompeu, enfrentou Júlio César por muitos anos, culminando em uma animosidade que levou à Guerra Civil Cesariana em 49 a.C. No ano seguinte, os egípcios mataram Pompeu, mas Sexto e seu irmão, Cneu Pompeu, continuaram a resistência até 45 a.C., quando ficou evidente que César prevalecera. Após a Batalha de Munda, Cneu Pompeu foi executado, enquanto Sexto conseguiu fugir para a Sicília romana.

Após o assassinato de Júlio César em 15 de março de 44 a.C., Sexto foi incluído em uma lista de proscrição elaborada por Lépido, Marco Antônio e Otaviano, os integrantes do Segundo Triunvirato. O propósito dessa lista era tanto reabastecer o tesouro republicano quanto financiar a Guerra Civil dos Liberatores, travada pelos membros do Triunvirato contra os assassinos de César, Cassio e Bruto. A lista incluía todos os opositores de César e seus descendentes.

Consequências

Em 36 a.C., Sexto Pompeu fugiu da Sicília, encerrando a revolta, e se refugiou em Mileto. No ano seguinte, foi capturado por Marco Tício, subordinado de Marco Antônio, e executado sem julgamento, apesar de ser um cidadão romano com direito a tal. A ilegalidade de sua morte foi aproveitada por Otaviano para enfraquecer a relação com Marco Antônio.

Durante as Guerras Civis da República Romana, uma manobra política mal planejada de Lépido permitiu que Otaviano o acusasse de tentar usurpar o poder na Sicília e incitar uma nova revolta. Lépido foi exilado em Circeii (atual San Felice Circeo) e perdeu todos os seus cargos, exceto o de pontífice máximo. Suas províncias foram incorporadas ao domínio de Otaviano.

Grande parte das terras agrícolas da Sicília estava devastada e despovoada. Essas terras foram redistribuídas entre os membros das legiões de forma a repovoar a ilha com moradores leais e garantir a recuperação da produtividade. Cerca de 30.000 pessoas foram capturadas e devolvidas aos seus mestres, enquanto outras 6.000 foram empaladas em estacas como punição exemplar.

Guerras Cantábricas: Contexto e desdobramentos

As Guerras Cantábricas, ocorridas entre 29 a.C. e 19 a.C., marcaram a fase final da conquista romana das províncias de Cantábria e Astúrias, situadas no norte da atual Espanha. Esses conflitos representaram a última etapa da incorporação da Hispânia ao Império Romano.

Os combates envolveram o confronto entre o Império Romano e os diversos povos da região, conhecidos como os cântabros. Estas populações habitavam a área designada pelos romanos como Cantabri, situada ao norte da Península Ibérica.

A luta de Roma contra os povos do norte da Hispânia, incluindo os cântabros e os ástures, significava o desfecho de um longo processo de conquista da Península Ibérica. Esses conflitos foram notáveis não apenas pelo seu aspecto militar, mas pelo significado político da empreitada, comandada pessoalmente pelo imperador Augusto.

O historiador romano Floro narra que a contenda levou Augusto a abrir as portas do Templo de Jano em Roma, um símbolo de guerra total, e a se deslocar para a região dos cântabros. Este relato ilustra a importância e a gravidade dos combates na visão dos romanos, que estavam empenhados em pacificar completamente o território ibérico.

Desde aproximadamente 50 a.C., os cântabros e os ástures eram os únicos povos da Península Ibérica que ainda mantinham sua independência em relação a Roma. Eventualmente, esses grupos chegavam a integrar as tropas auxiliares romanas, como ocorreu entre 50 a.C. e 49 a.C., durante as guerras civis, ao serviço de Pompeu. A maioria dos outros habitantes da Península já havia sido conquistada ou aceitado a dominação romana voluntariamente.

Determinar o local exato dos conflitos não é uma tarefa simples, mas há indícios de que, no início, as hostilidades se estenderam até as terras ástures. Dois anos após o início da contenda, em 27 a.C., e em plena campanha militar, a Península Ibérica foi reorganizada em três províncias, em vez das duas conhecidas até então. A nova divisão resultou em três unidades administrativas: a Bética, ou Ulterior, a Lusitânia, e a Citerior, ou Tarraconense. Esse evento é crucial para uma contextualização geográfica adequada.

A divisão das províncias ocorreu em meio à guerra, mostrando uma ligação direta entre a reorganização territorial e o conflito. Astúrias e Galécia passaram a integrar a província da Lusitânia, enquanto Cantábria ficou sob a jurisdição da província Citerior, controlada diretamente pelo imperador Augusto, que esteve nas terras cântabras nesse mesmo ano de 27 a.C. Isso sugere que Cantábria ainda não era vista como uma "terra pacificada" e, portanto, necessitava da presença de tropas sob o comando do legatus augusti propaetore para ser controlada.

O teatro de operações foi, então, dividido em duas áreas: uma envolvia as atuais regiões das Astúrias, Leão, partes de Zamora e Galiza; a outra, Cantábria, norte de Palência e norte de Burgos. Nesse cenário, duas legiões diferentes atuaram de maneira independente e simultânea, com Augusto assumindo pessoalmente o controle da guerra contra os cântabros, que se estendeu por mais sete anos.

Os cântabros ocupavam, ao oeste, até o atual rio Sella, na Astúrias, descendo ao sul até as nascentes no vale de Sajambre. Ao sul, destacava-se a cidade fortificada de Peña Amaya (na atual província de Burgos), e ao leste, seus territórios iam até a ria de Oriñano, no fim do rio Agüera, entre Guriezo e Castro Urdiales, próximo ao limite atual com Biscaia, então território dos autrigões.

Com o fim dessas guerras, a conquista da Hispânia pelos romanos foi finalmente concluída.

Antecedentes

Os cântabros já faziam parte do cenário das guerras romanas na Hispânia muito antes das Guerras Cantábricas propriamente ditas, pois atuaram como mercenários em diversos conflitos tanto na Península Ibérica quanto fora dela. Dessa maneira, os romanos já tinham conhecimento do espírito combativo dos povos do Norte da Península anos antes do início das Guerras Cantábricas. Há registros de sua participação na guerra dos cartagineses contra Roma durante a Segunda Guerra Púnica.

Aníbal, ciente do valor desses guerreiros, convocou tropas hispânicas, incluindo cântabros, para reforçar suas campanhas, o que contribuiu para algumas de suas vitórias. Essas tropas desempenharam um papel significativo durante a invasão da Itália pelo exército de Aníbal, contrariando as expectativas romanas de que o conflito se restringiria à Espanha e Sicília.

Os cântabros também ajudaram os váceos da meseta norte contra os romanos em 151 a.C. e foram novamente mencionados durante o cerco de Numância. Nessa ocasião, Quinto Pompeu Rufo rompeu a paz com Numância, acusando-os de abrigar inimigos romanos, e viu-se obrigado a deixar o comando militar devido à resistência heróica dos numantinos, que contaram com o apoio dos cântabros e váceos.

Além disso, é provável que guerreiros cântabros tenham participado das Guerras Sertorianas e das lutas contra Júlio César, auxiliando os aquitanos nas campanhas para defender as Gálias. O próprio César mencionou a presença de tropas cântabras na batalha de Ilerda em 49 a.C.

A humilhação dos romanos ao perder um estandarte causou debates entre historiadores, que justificaram a campanha romana como uma resposta às incursões cântabras em territórios já sob domínio romano. No entanto, é mais provável que Roma estivesse interessada nas riquezas minerais da região, como o ouro astur e o ferro cântabro.

Na primavera de 26 a.C., Augusto iniciou uma campanha na Hispânia, estabelecendo sua base de operações em Segisama, a atual Sasamón, em Burgos. Sua chegada marcou a abertura das hostilidades contra os cântabros, simbolizada pela abertura das portas do Templo de Jano, sinal de estado de guerra.

Consequências

Diferentemente de outros conflitos da época, o Império Romano decidiu não capturar prisioneiros durante a Guerra Cantábrica, resultando na eliminação dos cântabros em idade militar. Dião Cássio relata que, quando perderam a esperança de liberdade, muitos cântabros preferiram a morte a viver sob domínio romano. Eles incendiaram suas muralhas, se suicidaram e até ingeriram veneno, levando à morte a maioria deles. Já os ástures, após serem derrotados e rejeitados em seus ataques, se renderam imediatamente.

Para os guerreiros cântabros, o suicídio era preferível à escravidão. Utilizando espadas, fogo, ou venenos feitos com sementes da árvore teixo, eles estavam preparados para esse destino. O relato de Sílio Itálico descreve como, ao atingirem a idade em que não podiam mais lutar, terminavam suas vidas com veneno, pois não podiam viver sem a guerra, considerando um castigo a vida em tempos de paz. Estrabo também mencionou que esses guerreiros desprezavam tanto a morte quanto a dor, cantando hinos de vitória mesmo quando crucificados, vendo a morte livre e em combate como uma verdadeira vitória.

A guerra foi considerada concluída em 19 a.C., embora tenha havido pequenas rebeliões posteriores. A região foi completamente devastada, com os castros destruídos e incendiados; grande parte da população foi deportada para as planícies. Roma tentou impor suas reformas, e mesmo após a subjugação, manteve duas legiões na região por aproximadamente sessenta anos.

Depois das Guerras Cantábricas e da subsequente submissão dos cântabros, os romanos adotaram vários elementos de sua cultura, incluindo símbolos solares e lunares, como o lábaro cântabro, que carregariam por até 300 anos. O exército romano também incorporou táticas de cavalaria dos cântabros, como o circulus cantabricus e o cantabricus impetus, mostrando a influência duradoura desses guerreiros na organização militar romana.

Primeira Cruzada: Contexto e desdobramentos


A Primeira Cruzada (1096–1099) foi a primeira de uma série de conflitos religiosos promovidos pela Igreja Católica durante a Idade Média, com o objetivo principal de reconquistar a Terra Santa, que estava sob controle islâmico. No século XI, a ocupação da região pelos seljúcidas representava uma ameaça para as comunidades cristãs locais, peregrinos ocidentais, e o Império Bizantino. A Primeira Cruzada teve início em 1095, quando Aleixo I Comneno, imperador bizantino, solicitou, durante o Concílio de Placência, apoio militar contra os turcos seljúcidas. Posteriormente, no Concílio de Clermont, o papa Urbano II endossou o pedido de ajuda bizantino e incentivou os cristãos a ir à Terra Santa.

O apelo foi amplamente aceito por diversas classes sociais na Europa Ocidental, resultando em um grande contingente de cristãos pobres liderados pelo padre francês Pedro, o Eremita. Esta mobilização inicial, chamada de Cruzada Popular, passou pelo Sacro Império Romano-Germânico, onde se envolveram em massacres antijudaicos na Renânia, e acabou dizimada em uma emboscada turca na Batalha de Cibotos, em outubro de 1096.

Posteriormente, a Cruzada dos Príncipes contou com a participação da alta nobreza europeia e seus seguidores, que partiram rumo a Constantinopla entre finais de 1096 e início de 1097. Os cruzados incluíam forças do sul da França lideradas por Raimundo IV de Tolosa e Ademar de Monteil, guerreiros da Alta e Baixa Lorena sob Godofredo de Bulhão e Balduíno de Bolonha, tropas ítalo-normandas comandadas por Boemundo de Tarento e seu sobrinho Tancredo, além de contingentes flamengos e do norte da França liderados por Roberto II da Normandia, Estêvão II de Blois, Hugo I de Vermandois e Roberto II de Flandres. Estima-se que este exército contava com cerca de 100.000 combatentes e não combatentes.

Os cruzados avançaram pela Anatólia e, aproveitando a ausência de Quilije Arslã, conseguiram uma vitória inicial durante o Cerco de Niceia em junho de 1097, seguida pela Batalha de Dorileia em julho. Contudo, a despeito de suas vitórias militares, enfrentaram dificuldades devido à fome, sede e doenças durante a marcha. O Cerco de Antioquia, travado no fim de 1097, resultou na captura da cidade em junho de 1098. Em junho de 1099, os cruzados chegaram a Jerusalém, onde, após um cerco que durou de 7 de junho a 15 de julho, tomaram a cidade de assalto e massacraram seus defensores. O Reino de Jerusalém foi então estabelecido como um Estado secular sob o comando de Godofredo de Bulhão, que recusou o título de "rei". Um contra-ataque islâmico foi repelido na Batalha de Ascalão em 1099, encerrando oficialmente a Primeira Cruzada, após a qual a maioria dos cruzados retornou à Europa.

Quatro Estados cruzados foram estabelecidos na região: o Reino de Jerusalém, o Condado de Edessa, o Principado de Antioquia e o Condado de Trípoli. A presença cruzada na Terra Santa durou, de alguma forma, até 1291, com a queda da última grande fortaleza cruzada em Acre, marcando o fim das tentativas significativas de recuperar a Terra Santa.

Contexto

Desde a fundação do Islã no século VII, houve conflitos entre cristãos e muçulmanos. Em 638, seis anos após a morte do profeta Maomé, os muçulmanos começaram a ocupar o Levante, incluindo Jerusalém, e décadas depois alcançaram a Península Ibérica. No século XI, o controle islâmico sobre a Península foi gradualmente diminuído pela Reconquista, enquanto a situação na Terra Santa se complicava. O Califado Fatímida, que governava desde 969 o Norte da África e partes da Ásia Ocidental, incluindo Jerusalém, Damasco e porções da costa mediterrânea, mantinha uma relativa paz com o ocidente. No entanto, essa paz foi interrompida em 1071 com a derrota do Império Bizantino na Batalha de Manziquerta e a subsequente perda de Jerusalém para o Império Seljúcida dois anos depois.

As causas desse conflito são variadas e continuam a ser discutidas. A Primeira Cruzada, por exemplo, teve origem em uma combinação de fatores que surgiram no início do século XI tanto na Europa quanto no Oriente Próximo. Em Jerusalém, cada vez mais vista na Europa Ocidental como um destino de peregrinação penitencial, os relatos de peregrinos que retornavam destacavam as dificuldades e a repressão aos cristãos sob o domínio seljúcida, que posteriormente perdeu a cidade para os fatímidas. Simultaneamente, o pedido de apoio militar do Império Bizantino coincidiu com uma maior disposição da classe guerreira da Europa Ocidental em aceitar a liderança militar papal.


Segunda Cruzada: Contexto e desdobramentos

A Segunda Cruzada foi uma campanha militar dos cristãos ocidentais, convocada pelo Papa Eugênio III em resposta à tomada de Edessa pelo governador muçulmano Zengui em 1144. Liderada pelo influente São Bernardo de Claraval, ocorreu entre 1147 e 1149 e foi a primeira cruzada conduzida por monarcas europeus, incluindo Luís VII da França, Leonor da Aquitânia e Conrado III da Germânia.

Muitos estudiosos a consideram um fracasso, pois os cruzados não conseguiram recuperar Edessa ou qualquer outra cidade, e deixaram o Reino de Jerusalém politicamente mais vulnerável. Ao atacar a cidade-estado independente de Damasco, que ocasionalmente se aliava aos ocidentais contra outros líderes muçulmanos mais poderosos, contribuíram para a unificação do mundo islâmico no Levante sob o apelo à jihad. Esse movimento acabou fortalecendo líderes como Noradine e Saladino, resultando na conquista de Jerusalém por este último. O único êxito cristão na Segunda Cruzada foi durante a Reconquista da Península Ibérica, com a participação de uma frota que ajudou na conquista de Lisboa em 1147, a pedido de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal.

Consequências

A falha na ofensiva em Damasco aumentou a discórdia entre os diferentes grupos cruzados, que se sentiam traídos entre si. Conrado III tentou tomar Ascalão, mas sem o apoio dos outros dois reis, ele acabou retornando a Constantinopla para renovar uma aliança com Manuel I Comneno. Luís VII de França permaneceu em Jerusalém até 1149.

A Segunda Cruzada teve efeitos devastadores a longo prazo para os estados cruzados. Em 1154, Damasco ficou sob o controle de Noradine. Balduíno III de Jerusalém tomou Ascalão em 1153, elevando as tensões com o Califado Fatímida do Egito. Os cruzados chegaram a ocupar Cairo na década de 1160, mas de forma breve.

Após os fracassos dessa cruzada, poucos reforços vieram da Europa. A travessia da Anatólia foi bloqueada pelos turcos, deixando apenas a rota marítima disponível, utilizando navios das cidades-estado italianas. As relações com o Império Bizantino permaneceram conturbadas, misturando alianças frequentes com tentativas de dominação bizantina sobre os estados cruzados.

Em 1171, Saladino foi proclamado sultão do Egito e unificou o território egípcio à Síria, cercando completamente os estados cruzados. A morte de Manuel I Comneno em 1180 enfraqueceu o Império Bizantino na região, e em 1187, Saladino conquistou Jerusalém e a maioria dos territórios cruzados, dando início à Terceira Cruzada.

Reinaldo de Châtillon, um europeu que participou da Segunda Cruzada, tornou-se príncipe de Antioquia por casamento após a morte de Raimundo de Poitiers. Depois de passar várias décadas como prisioneiro dos muçulmanos, retornou ao Reino de Jerusalém. Sua imprudência, que provocou os estados muçulmanos e incitou a jihad, contribuiu significativamente para a erradicação da presença ocidental no Levante.

Na Europa, Bernardo de Claraval sentiu-se na obrigação de enviar um pedido de desculpas ao papa, atribuindo o fracasso dos cruzados aos seus pecados. Tentou ainda proclamar uma nova cruzada, e, após não conseguir, tentou desvincular sua imagem da Segunda Cruzada, falecendo em 1153.

A cruzada contra os eslavos enfraqueceu as tribos pagãs, mas levou a vários conflitos na região, inclusive entre os poderes cristãos. A única vitória significativa da Segunda Cruzada foi a participação dos cruzados na Reconquista da Península Ibérica, especialmente no cerco de Lisboa em 1147.

Terceira Cruzada: Contexto e desdobramentos

A Terceira Cruzada (1189-1192), convocada pelo Papa Gregório VIII em resposta à captura de Jerusalém por Saladino em 1187, recebeu o nome de Cruzada dos Reis. Esse título deve-se à participação dos três monarcas mais influentes da Europa na época: Filipe Augusto da França, Frederico Barba Ruiva do Sacro Império Romano-Germânico e Ricardo Coração de Leão da Inglaterra. Eles reuniram a maior força cruzada desde 1095. Uma característica distintiva dessa cruzada foi a inclusão dos Cavaleiros Teutônicos.

Causas

Após 25 anos de intensas lutas internas e ofensivas maometanas subsequentes à Segunda Cruzada, os estados cruzados do Oriente enfrentaram uma crise política e militar. Paradoxalmente, essa fase também trouxe um desenvolvimento econômico e patrimonial. No século XIII, surgiu o código Assises de Jerusalém (Fundamentos do Reino de Jerusalém), que formalizou o sistema feudal na região. Durante esse período, duas ordens militares cristãs, os cavaleiros de São João de Jerusalém e os templários, ampliaram sua influência. O regime feudal foi amplamente adotado pelos diversos povos europeus que ali se estabeleceram, o que ocasionou desentendimentos entre os estados e os próprios cristãos, além de um novo perigo: o sultão aiúbida Saladino. A Igreja foi totalmente latinizada, e se consolidou uma população com origem em quase toda a Europa.

Na década de 1180, o Reino Latino de Jerusalém vivenciava tempos difíceis. O rei Balduíno IV, enfraquecido pela lepra, enfrentava um baronato cada vez mais insubordinado. Percebendo essa fragilidade, os muçulmanos intensificavam a pressão. Neste cenário tenso, um passo em falso poderia ser desastroso. Ele veio pelas mãos do cavaleiro Reinaldo de Châtillon, que atacou uma caravana transportando a irmã de Saladino, levando o sultão a convocar uma jihad.

Saladino conquistou Damasco em 1174 e Alepo em 1183. Em 1187, avançou pela Galileia e, na região dos Cornos de Hatim, enfrentou as forças cristãs na Batalha de Hatim. O lado cristão era liderado por Guido de Lusignan, rei consorte de Jerusalém, e Raimundo III de Trípoli, príncipe da Galileia, totalizando cerca de 60 mil homens, incluindo cavaleiros, soldados e mercenários muçulmanos. A dinastia aiúbida, sob o comando de Saladino, reunia cerca de 70 mil guerreiros. Quando os cruzados acamparam em um campo aberto após um longo dia de combates, os homens de Saladino atearam fogo ao redor, cortando o acesso dos cristãos à água fresca. A cortina de fumaça tornou difícil evitar a chuva de flechas muçulmanas. Com a sede tomando conta, muitos cruzados desertaram. Aqueles que permaneceram foram massacrados, e Jerusalém foi capturada por Saladino em outubro de 1187. Guido teve sua vida poupada, enquanto Raimundo conseguiu escapar da batalha. Isso gerou uma nova onda de preocupação entre os cristãos sobre a condição da Terra Santa. Em 1189, Guido de Lusignan tentou recapturar Jerusalém, num conflito prolongado que só terminaria com a chegada de Ricardo Coração de Leão, o rei da Inglaterra.

A cruzada

O imperador Frederico Barbarossa, atendendo aos apelos do papa, partiu com um contingente alemão de Ratisbona e seguiu o caminho pelo Danúbio através da Europa Oriental, atravessando com sucesso a península da Ásia Menor. Na Cilícia, ao atravessar o rio Sélef (hoje Goksu), um dos rios da Anatólia Oriental, Frederico caiu do cavalo e, não conseguindo se levantar devido ao peso da armadura, morreu afogado. Sua morte resultou, na prática, no fim dessa expedição.

Os franceses e ingleses seguiram pelo mar em direção a Acre, na costa norte da Terra Santa. Em abril de 1191, os franceses alcançaram Acre, e dois meses depois foram seguidos por Ricardo. Após um mês de cerco, os cruzados tomaram a cidade e seguiram para Jerusalém, agora sem o rei francês, que retornara a seu país após o cerco de Acre. Ainda em 1191, em Arsuf, Ricardo Coração de Leão derrotou as forças muçulmanas e retomou Jafa (atual Telavive).

Ricardo Coração de Leão conseguiu feitos notáveis como a conquista de Chipre (que se tornou um reino latino em 1197), Acre, Jafa e várias vitórias contra forças superiores. Conquistando a cidade de São João de Acre para a cristandade, ele adquiriu o título de Coração de Leão. Teve como adversário Saladino, com quem travou uma batalha tática intensa. Embora nunca tenham se encontrado pessoalmente, eles se respeitavam mutuamente, trocando presentes e honrarias. Em 1192, um acordo foi firmado: os cristãos mantinham o território conquistado na Palestina e obtinham o direito de peregrinar (desarmados) a Jerusalém, que permaneceria sob controle muçulmano. Isso transformou São João de Acre na capital dos Estados Latinos na Terra Santa. Apesar de não conquistar Jerusalém, a Terceira Cruzada obteve outros resultados: Saladino viu sua série de vitórias iniciais serem interrompidas e o território de Ultramar sobreviveu. Assim, terminou a Terceira Cruzada, que consolidou os estados cristãos no Oriente.

Após a trégua com Saladino, Ricardo voltou à Inglaterra sem jamais ter entrado em Jerusalém. Porém, durante o retorno, seu navio naufragou e ele foi capturado pelo Duque da Áustria, cujo estandarte ele havia removido das muralhas de Acre durante a conquista. Posteriormente, Ricardo foi vendido ao imperador germânico, que o libertou mediante pagamento de resgate.

Quarta Cruzada: Contexto e desdobramentos

A Quarta Cruzada, ocorrida entre 1202 e 1204, foi inicialmente planejada para retomar a Terra Santa, que estava sob controle muçulmano, através da invasão do Egito. No entanto, essa cruzada desviou-se de seu objetivo principal. Em parceria com os venezianos, os cruzados invadiram e saquearam Constantinopla, a capital cristã do Império Bizantino. Esse acontecimento resultou na criação do Império Latino e na intensificação do Grande Cisma do Oriente entre a Igreja Católica e as Igrejas Bizantinas.

Contexto

A partir de 1198, o papa Inocêncio III começou a motivar a cristandade para iniciar uma nova cruzada, recebendo grande apoio da nobreza europeia. Suas habilidades de liderança e competência organizacional conferiam a seu pontificado uma considerável confiança popular.

A Quarta Cruzada foi liderada por Balduíno IX, Conde de Flandres, e Bonifácio II, Marquês de Monferrato. O transporte dos exércitos ocorreu a partir de Veneza, uma república comercial que enfrentava tensões crescentes com Constantinopla após o massacre de mercadores venezianos em 1182, devido aos privilégios comerciais que possuíam. Enquanto o objetivo do papa era destruir o poderio muçulmano no Egito, a rivalidade entre Veneza e os bizantinos acabou alterando o rumo das operações militares, que passaram a focar em Constantinopla, influenciados pelo desejo veneziano de vingar o massacre de seus mercadores. Além disso, Veneza mantinha boas relações comerciais e diplomáticas com o Egito.

A grande tomada da Constantinopla

Em 1204, os cruzados invadiram Constantinopla e coroaram Aleixo IV Ângelo como imperador bizantino, ao lado de seu pai, Isaac II Ângelo. Inocêncio III aceitou a situação, esperando uma reaproximação entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa. No entanto, novos impostos foram impostos para cobrir as promessas feitas aos cruzados, o que rapidamente deixou a população à beira da revolta.

Aleixo acabou sendo assassinado pelos bizantinos, levando Veneza a tentar retomar o controle do Bósforo. Com o apoio dos cruzados, em abril de 1204, Constantinopla foi novamente atacada, sofrendo três dias de massacres e saques. Estátuas, mosaicos, relíquias e riquezas acumuladas ao longo de quase um milênio foram pilhadas ou destruídas durante os incêndios.

Embora enfraquecido, o Império Bizantino não desapareceu, recuperando sua força em 1261 sob o comando de Miguel VIII Paleólogo. Enquanto isso, os cruzados haviam estabelecido diversos principados latinos na Grécia, como o ducado de Atenas.

A trégua firmada por Ricardo Coração de Leão em 1191 permaneceu, apesar da desastrosa quarta cruzada no século XIII, garantindo a existência dos estados latinos no Levante (Armênia, Jerusalém, Acre, Trípoli e Chipre) e a presença dos próprios cruzados.

Quinta Cruzada: Contexto e desdobramentos


A Quinta Cruzada (1217-1221) surgiu por iniciativa do papa Inocêncio III, que a propôs em 1215 durante o Quarto Concílio de Latrão. No entanto, foi o seu sucessor, Honório III, quem efetivamente a colocou em prática. O papado havia contribuído para descredibilizar o ideal das cruzadas ao usá-las para suprimir cristãos heterodoxos no sul da França, na chamada Cruzada albigense. Mesmo assim, o papa Honório III conseguiu apoio para uma nova expedição.

Entre os líderes da cruzada estavam André II da Hungria, Leopold VI, duque da Áustria, João I de Brienne, titular do reino de Jerusalém, e Frederico II, imperador do Sacro Império. Foi Frederico II quem decidiu organizar a expedição.

Decidiu-se que, para conquistar Jerusalém, o Egito deveria ser tomado primeiro, pois controlava esse território. Em maio de 1218, as tropas de Frederico II partiram para o Egito sob o comando de João de Brienne. Desembarcaram em São João D'Acre e resolveram atacar Damieta (Dumyat), cidade que servia de acesso ao Cairo, a capital. Em agosto de 1218, começaram o ataque a Damieta. Após conquistar uma pequena fortaleza, esperaram por reforços. Em junho, receberam o apoio das tropas papais lideradas pelo cardeal Pelágio (também conhecido como Paio Galvão). Pelágio, sendo autoritário, recusou-se a se subordinar a Brienne e interferiu constantemente nos assuntos militares.

Depois de algumas batalhas e quando tudo parecia perdido, uma série de crises na liderança egípcia permitiu aos cruzados ocupar o campo inimigo. Em uma paz negociada em 1219 com os muçulmanos, Jerusalém foi oferecida aos cristãos, junto com outras cidades, em troca da retirada do Egito. No entanto, os líderes cruzados, especialmente o cardeal Pelágio, rejeitaram a oferta, acreditando que os muçulmanos não conseguiriam resistir aos cruzados quando Frederico II chegasse com seus exércitos.

Cercaram o porto egípcio de Damieta, mas depois de algumas batalhas sofreram uma derrota. O sultão renovou a oferta, que novamente foi recusada. Após um longo cerco de fevereiro a novembro de 1219, a cidade caiu. A estratégia seguinte requeria assegurar o controle da península do Sinai. Os conflitos entre os cruzados aumentaram, e perdeu-se tanto tempo que os egípcios conseguiram se reorganizar. Em julho de 1221, o cardeal ordenou uma ofensiva contra o Cairo. No entanto, os muçulmanos retiraram-se estrategicamente, levando os cruzados a uma armadilha; sem comida e cercados, os cruzados foram forçados a negociar: retiraram-se do Egito e salvaram suas vidas, aceitando também uma trégua de oito anos.

Os cruzados não alcançaram todos os seus objetivos, uma vez que os reforços prometidos por Frederico II não chegaram, o que levou à sua excomunhão pelo papa Gregório IX. Essa foi a última cruzada na qual o papado enviou suas próprias tropas.

Sexta Cruzada: Contexto e desdobramentos


A Sexta Cruzada (1228-1229) foi iniciada em 1227 pelo imperador do Sacro Império, Frederico II de Hohenstaufen, que havia sido excomungado pelo Papa.

Frederico, que era genro de João de Brienne e herdeiro do trono de Jerusalém, tinha a intenção de reivindicar seus direitos sobre Chipre e Jerusalém-Acre. Após a partida de sua frota, o imperador recebeu uma missão de paz do sultão do Egito, o que atrasou seu avanço. Posteriormente, o papa Gregório IX o excomungou por sua demora em iniciar a campanha.

No verão de 1228, após muitas indecisões, Frederico finalmente partiu para o Oriente com o objetivo de se livrar da excomunhão papal. Embora ele preferisse o diálogo e fosse fascinado pela cultura islâmica, a igreja lhe impôs uma cruzada. O papa, ao mesmo tempo, lançou outra cruzada, desta vez contra Frederico, e atacou as possessões do imperador na Península Itálica. Seus esforços em Chipre e Acre foram infrutíferos, principalmente por causa da sua excomunhão.

O exército de Frederico II, composto por cavaleiros teutônicos, foi enfraquecendo devido a deserções e a uma certa hostilidade das forças cristãs locais, também devido à excomunhão. Aproveitando as disputas entre os sultões do Egito e de Damasco, Frederico II conseguiu negociar um tratado com o Egito por meio da diplomacia. O Tratado de Jafa (1229) garantiu a Jerusalém Belém, Nazaré, Sidom, e um acesso ao mar, além de uma trégua de dez anos. Em troca, os cristãos reconheceram a liberdade de culto para os muçulmanos. Este acordo levou o Papa a excomungar Frederico II novamente.

Frederico foi coroado rei de Jerusalém, mas devido aos ataques da Igreja e ao receio de perder seus tronos na Germânia e Nápoles, ele retornou à Europa. Em 1230, reestabeleceu relações com Roma. No entanto, a derrota dos cristãos em Gaza em 1244 resultou na perda dos Santos Lugares.

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