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[RESENHA #599] O vento sabe meu nome, de Isabel Allende

APRESENTAÇÃO

Viena, 1938. Samuel Adler tem cinco anos quando seu pai desaparece durante a Noite dos Cristais - a noite em que sua família perde tudo. À medida que a segurança de seu filho se torna cada vez mais difícil de garantir, a mãe de Samuel consegue uma vaga para ele no trem Kindertransport, da Áustria nazista para a Inglaterra. Sozinho, o menino embarca levando apenas seu violino e o peso da solidão e da incerteza, que o acompanharão ao longo de sua vida.

Arizona, 2019. Oito décadas depois, Anita Díaz e sua mãe embarcam em um trem, fugindo dos perigos iminentes em El Salvador e em busca de refúgio nos Estados Unidos. Mas a chegada delas coincide com a nova política de separação familiar, e Anita, de sete anos, se vê sozinha em um acampamento para criancas refugiadas. Assustada, ela se refugia da realidade em um lugar que só ela conhece: Azabahar. Um mundo mágico. Enquanto isso, Selena Durán, uma jovem assistente social, e Frank Angileri, um advogado de sucesso, lutam para reunir a menina e sua mãe, e porporcionar um futuro melhor para ela.

Em O vento sabe meu nome, passado e presente se entrelaçam para contar o drama do desenraizamento, da compaixão e do amor. Um romance atual sobre os sacrifícios que os pais fazem pelos filhos, sobre a surpreendente capacidade de algumas crianças de sobreviver à violência sem parar de sonhar e sobre a tenacidade da esperança, que pode brilhar mesmo nos momentos mais sombrios. Uma história sobre as feridas profundas que a migração forçada produz e as pessoas que lutam para curá-las.

RESENHA

Escritora Chilena nascida no Peru, Allende surpreende com mais um enredo enriquecedor e dramático em o vento sabe meu nome (Bertrand Brasil), inspirado em acontecimentos verídicos de sua própria vida. Em entrevista para a Vogue, a autora declarou:

A inspiração para o vento sabe meu nome vem de um caso que tive através da minha Fundação: uma menina salvadorenha que perdeu a visão e se separou da mãe ao migrar para os Estados Unidos. Quando soube da história deles, comecei a investigar em que outros momentos da história eles separaram meninos e meninas de suas famílias.' Assim, seu romance trata de um assunto que, infelizmente, não é novo e que, no entanto, ainda não tem solução.

A síntese da obra não percorre de forma abstrata os acontecimentos trágicos descritos, mas procura elucidar os tópicos de separação familiar, e a busca da reunião dos membros por meio da busca incessante. A obra é um fomento à discussões acerca dos casos sem soluções que precisam urgentemente de uma atenção.

Este livro mergulha de forma profunda na dinâmica opressiva que está por trás do fenômeno da migração, convidando-nos a ter empatia com os personagens que lutam para reconstruir suas vidas após um evento traumático. A habilidosa escrita de Isabel Allende nos guia de forma cativante ao reconhecimento do trabalho árduo dos advogados que se dedicam a reparar o tecido social e nos permite desenvolver uma profunda empatia pelos personagens.

A história narra a vida de Samuel Adler, um garoto de cinco anos que acaba de se separar do seu pai durante a expropriação dos negócios e das residências judias durante a noite de cristais em 1938, no apogeu da segunda guerra mundial. A obra é um enredo sincero e tocante acerca do reencontro das famílias com as crianças durante um período difícil para a história do povo judeu.

Um livro para ler e se emocionar todos os dias e a todo momento, Isabel Allende usa suas nuances com as problemáticas, para enveredar um enredo único e mágico acerca das tragédias que acometeram as famílias durante a segunda guerra mundial. Uma obra primorosa.

A AUTORA

Isabel Allende é a autora de língua hispânica mais lida no mundo. Com livros publicados em mais de 40 idiomas, estreou na escrita em 1982, com A casa dos espíritos, título mítico da literatura latino-americana que obteve grande sucesso internacional. Em 2014, recebeu das mãos de Barack Obama a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais importante distinção civil dos Estados Unidos. Quatro anos mais tarde, seria agraciada com o National Book Award pelo conjunto de sua obra.

[RESENHA #598] o fim do mundo, de Upton Sinclair


APRESENTAÇÃO

Lanny Budd, protagonista deste O fim do mundo, é um jovem americano que nunca pisou nos Estados Unidos. Nasceu na Suíça e cresceu na Riviera Francesa; seus melhores amigos são um inglês e um alemão. A verdade é que Lanny é um cidadão do mundo, e ele sabe disso no fundo do seu coração. Mas será no decorrer de sua vida, ao testemunhar a própria História, que Lanny Budd se provará um grande emissário da humanidade no século XX.

Este é o mote de O fim do mundo, de Upton Sinclair, um dos mais célebres escritores americanos. Jornalista investigativo e ganhador do Prêmio Pulitzer de Ficção, Sinclair mescla, com maestria e exatidão, fatos e personalidades históricos a um enredo ficcional singular. O resultado é um romance de formação liderado por Lanny Budd, que, com seu olhar curioso, apresenta a leitores e leitoras os paradoxos e as complexidades de um século de disputas políticas, econômicas e éticas.

Junto de Lanny, testemunhamos os eventos que transformarão os rumos da História. Serão apresentados os sentimentos de uma época que permitiram tanto as emoções do jazz quanto os temores dos primeiros bombardeios aéreos. Lanny Budd presencia, em posição privilegiada, a Primeira Guerra Mundial, os bastidores do Tratado de Versalhes, entre outros acontecimentos, enquanto vive dramas individuais e angústias cotidianas – muito próximas das atuais. O fim do mundo é um romance para todos, uma oportunidade para observar um passado que o presente ainda espelha.

Um livro atemporal como os próprios conflitos humanos, este romance é indispensável para quem se interessa por grandes leituras históricas que propõem-se a adentrar em grandes acontecimentos mundiais cujo enredo, tal qual uma boa ficção, são cheios de reviravoltas dignas de serem recontadas inúmeras vezes, pois, esquecê-las, seria um perigo.

RESENHA

O fim do mundo, ou world ends [título da versão americana] é um romance publicado pela primeira vez em 1940 e reeditada pela editora José Olympio, selo do Grupo Editorial Record no Brasil, em 2023. A obra é o primeiro volume de uma série de onze livros que narram a história de seu protagonista Lanny Budd. As obras somam um total de mais de sete mil páginas e percorrem diferentes períodos da história da humanidade, tendo seu apogeu narrando a primeira e segunda parte da primeira guerra mundial.

A ordem da série de livros Lanny Budd, Upton Sinclair:

  1. Fim do mundo [World's ends,1940]
  2. Entre dois mundos [Between Two Worlds,1941]
  3. Dentes de dragão [Dragon's Teeth, 1942]
  4. Largo é o portão [Wide Is the Gate, 1943]
  5. Agente presidencial [Presidential Agent, 1944]
  6. Colheita do dragão [Dragon Harvest, 1945]
  7. Um mundo para ganhar [A World to Win, 1946]
  8. Missão presidencial [Presidential Mission, 1947]
  9. Uma chamada Clara [One Clear Call, 1948]
  10. Ó pastor, fala! [O Shepherd, Speak!, 1949]
  11. O retorno de Lany Budd [The Return of Lanny Budd, 1953]

A RESENHA A SEGUIR CONTÉM REVELAÇÕES SOBRE O ENREDO

Lanny Budd, um garoto de treze anos que passa o verão de 1913 em uma escola de música perto de Dresden. Ele faz amizade com Kurt Meissner, descendente de uma família governante alemã, e Rick Pomeroy-Nielson, filho de um visconde inglês. O autor, Upton Sinclair, narra a história de Lanny e seus amigos ao longo de várias décadas turbulentas na série de onze volumes.

Lanny foi criado na Riviera Francesa por sua mãe, Beauty, enquanto seu pai, Robbie, visitava regularmente para vender armas fabricadas pela família Budd Gunmakers. Embora Robbie nunca tenha se casado com Beauty, ele estabeleceu um fundo para que eles morassem em uma villa à beira-mar em Juan-les-Pins, perto de Cannes. Lanny cresceu sem educação formal, mas teve acesso a idiomas, música e a sociedade dos amigos ricos de Beauty. Robbie ensinou a Lanny história e diplomacia, habilidades necessárias para vender armas às potências europeias. No entanto, Basil Zaharoff, um concorrente perigoso, planeja absorver a empresa Budd e comanda o gigante de armas Vickers.

A vida idílica de Lanny é interrompida por incidentes desconcertantes. Robbie fica furioso ao descobrir que o irmão de Beauty, Jesse, apresentou Lanny a seguidores do sindicalismo. Durante uma viagem de trem de volta para casa após visitar a família de Kurt, um social-democrata adverte Lanny sobre a condição de escravidão dos plebeus na Silésia e aconselha-o a evitar certos aristocratas prussianos, incluindo o pai de Kurt. No mesmo trem, Lanny conhece Johannes Robin, um empreiteiro judeu de Roterdã, o que o faz questionar a ausência de judeus em sua vida até então. De volta à França, um barão russo em quem Lanny confiava o atrai e o agride. Diante dessas novas questões, Beauty contrata um psiquiatra e um tutor para Lanny. Ele absorve o novo conhecimento e descobre que o amigo pintor de Beauty, Marcel Detaze esconde um segredo intrigante.

Lanny, Rick e Kurt se encontram em Londres para assistir a peças e óperas. Lanny é assaltado em uma favela pobre perto do hotel chique de Beauty. Sentado perto do Royal Box em Ascot Racecourse, Lanny pergunta a Rick se o rei está ciente da pobreza. Rick sugere que a educação vai curar a pobreza. Kurt diz que a pobreza não é permitida na Alemanha. Os meninos discutem sexo. Chega a notícia de que o arquiduque Franz Ferdinand da Áustria foi assassinado em Sarajevo. Os amigos concordam que tais assuntos são irrelevantes para sua busca pela arte, mas uma mensagem instrui Kurt a voltar para casa imediatamente. Antes de deixar a Inglaterra, Lanny se apaixona por Rosemary, uma bela aristocrata inglesa.

Lanny e Beauty encontram Robbie em Paris quando a guerra começa. Marcel se junta ao exército francês. Lanny ajuda a transcrever novos pedidos em código Budd para fiação. Rick se torna um piloto de caça britânico; Kurt se junta ao exército alemão. Marcel fica gravemente ferido, mas sobrevive para se casar com Bela. Para consternação de Beauty, Marcel se alista novamente e não se ouve mais falar dele. Robbie permanece neutro na guerra; ele diz que o verdadeiro objetivo da guerra é o petróleo. 

A partir deste ponto, a narrativa ganha ainda mais corpo e forma e torna toda a trama ainda mais intensa e intrigante, o desenvolvimento dos personagens é algo palpável e torna a leitura fluida e misteriosa. Espero ansiosamente, que a editora José Olympio lance todos os volumes desta aventura. Indicado para todos, sem exceção. 

O AUTOR

Upton Beall Sinclair, Jr. foi um autor americano que escreveu cerca de cem livros em vários gêneros. Ele alcançou popularidade na primeira metade do século XX, adquirindo fama particular por seu romance clássico de denúncias, The Jungle (1906). Para reunir informações para o romance, Sinclair passou sete semanas trabalhando disfarçado nos frigoríficos de Chicago. Essas experiências diretas expuseram as terríveis condições na indústria de embalagem de carne dos EUA, causando um alvoroço público que contribuiu em parte para a aprovação, alguns meses depois, da Lei de Alimentos e Medicamentos Puros de 1906 e da Lei de Inspeção de Carne. The Jungle permaneceu continuamente impresso desde sua publicação inicial. Em 1919, ele publicou The Brass Check, uma denúncia do jornalismo americano que divulgou a questão do jornalismo amarelo e as limitações da “imprensa livre” nos Estados Unidos. Quatro anos após a publicação inicial de The Brass Check , o primeiro código de ética para jornalistas foi criado. A revista Time o chamou de "um homem com todos os dons, exceto humor e silêncio". Em 1943, ganhou o Prêmio Pulitzer de Ficção.


[RESENHA #597] O garoto que salvou o pop punk, de Alexander Cooper


APRESENTAÇÃO

Já pensou como seria viver em um mundo onde guitarras, baterias e bandas de Rock são proibidas? Janick e sua turma não tinham conhecimento sobre o que era nada disso, pois no passado, com o avanço do movimento Punk, o governo do mundo todo decidiu proibi-las. Porém, com a ajuda de um velho sábio, o grupo de adolescentes rebeldes enfrenta muitas dificuldades para conseguir lutar pelos seus sonhos, ao som de músicas bastante inspiradoras.

RESENHA


O garoto que salvou o pop punk é um livro de ficção [distopia] escrito pelo autor Alexander Cooper e editado pela editora Flyve. A obra é, segundo o autor, um resgate dos anos dourados do pop punk na cultura brasileira que foi perdendo fãs e adeptos com o passar dos anos, desta forma, o livro funciona como um mecanismo de conexão entre o leitor e o estilo musical. O enredo é totalmente desenvolvido dentro de uma analogia com a realidade, o autor trabalhou a noção de abandono e esquecimento real [da diminuição do público do pop punk] assimilando-a com uma proibição no enredo, em síntese, a obra é uma forma de mostrar que é possível resgatar o estilo musical que imperou por longos anos nas rádios e no gosto popular, funcionando como um catalizador e resgatador de bons momentos, músicas e shows, a fim de provocar no leitor, não apenas o resgate pelo gosto pelo pop punk, mas pelos tempos áureos e solenes destes momentos na vida das pessoas.

O primeiro capítulo do livro welcome to my life, é também título de uma canção de uma banda de rock intitulada simple pan, que teve seu lançamento no ano de 2004, permanecendo nas paradas por quase dez anos consecutivos. Assim como na letra da música, o personagem, Janick Zem, encontra-se em uma fase em que ele sente como se ninguém o ouvisse, como se quisesse fugir ou se sentir vivo novamente, como quando tocava em sua banda com seus amigos da escola: Colson e Landon.

[...] minha garagem é grande, assim podemos ensaiar sem problemas. Como não temos muitos artistas pelo mundo, não é difícil conseguir agradar, e as músicas são fáceis de tocar e cantar. Criamos nossa banda faz dois anos e a chamamos de ''idiotas'' -- welcome to my life, p. 9

o capítulo dois, kill the dj, alusivo à música de da banda Green Day, narra o episódio em que os garotos descobrem um novo ritmo em ascensão das baladas - música eletrônica -  providos por uma máquina por intermédio de uma pessoa chamada Dj (p.11), o que provocou exaustão e ansiedade nos membros da banda, que tentaram se enquadrar no novo estilo musical para não perderem público, até descobrirem que de fato, aquele não era o ritmo da banda. A noite foi marcada pela tristeza do não comparecimento do público esperado, o que os lembrou do dia em que tocaram no colégio, que foi tão ruim quanto.

Deste momento em diante a narrativa ganha forma, aqui, os garotos encontram um novo integrante, aprendem novos instrumentos, gravam, tocam em alguns lugares, encotram-se com haters e claro, a proibição do gênero musical, o que impactaria de forma negativa toda história construída pela banda, o que ocasionou em um julgamento que foi acompanhado por milhares de pessoas que assistiam o julgamento:

[...] chegamos fazendo piadas com os jornalistas sobre a situação: tanta coisa pior no mundo acontecendo e tem gente querendo problematizar algo que não tem nada de mais. -- o julgamento, p.101 - grifos meus. 

Enfim, a obra é interessante, mas todo enredo é construído com pouco foco e clareza, a narrativa se desenvolve demasiadamente de forma descontínua, fazendo toda linha temporal dos acontecimentos não possuir nenhum grau de tensão ou surpresa, tudo ocorre de forma líquida e de forma esperada, quando abrimos a torneira sabendo que toda água irá pelo ralo. O intuito da mensagem é interessante, mas muito subestimado e elaborado com pouco foco, talvez, o autor possa reescrever a obra em um ou dois volumes dando foco e ênfase nas vias de fato, pois pela quantidade de acontecimentos descritos e a rapidez com as quais se finalizam (como no capítulo o julgamento, que é de fato, um dos principais da obra, que se finaliza em apenas quatro páginas, com um desfecho nada interessante e pouco elaborado), a quantidade de páginas torna-se incompatível. Um ótimo livro para quem gosta de leituras curtas e se identifica de alguma forma com o gênero proposto. 

[RESENHA #596] Convencional 80s, de Rodrigo Seara

APRESENTAÇÃO

No seu livro de estreia, Rodrigo Seara nos apresenta 12 contos que transitam por diversos gêneros e sensações, desde o horror repulsivo ao romance de beira de estrada. São histórias fortes, bem elaboradas e baseadas na experiência de alguém que ocupa seu tempo livre com muito “rock”, filmes e autores perturbados.

RESENHA


Convencional 80s e outras histórias é o primeiro livro do autor mineiro  Rodrigo Seara. Editado pela Flyve editora, o livro possui em sua estrutura um emaranhado de contos de terror em suas páginas, cada qual com sua particularidade criativa. As narrativas dialogam-se em categorias não arbitrárias do imaginativo popular, os contos desenvolvem-se em poucas páginas como crônicas e delineiam acontecimentos de horror reflexivo, em suma, o autor desenvolve os contos com uma crítica social nas entrelinhas, a obra torna-se palpável para todo leitor que deseja uma nova experiência descritiva no universo do terror.

O primeiro conto, a velha no telhado, é um conto inovador que ocorre de forma rápida entre a pausa inicial do primeiro acontecimento para o desenvolvimento do clímax, o que torna a leitura mais popular, sobretudo, por sua descrição lenda-urbana sobre uma senhora de dedos longos, queixo fino e unhas quebradas que arranha a madeira de uma antiga antiga e assombra um garoto gorducho, que passa então, a deter o medo em si tendo como reflexo a iniciativa de nunca mais jantar. O motivo, é claro, torna tudo ainda mais lúdico e criativo.

Em, uma noite arrasada, o autor traz um miniconto reflexivo acerca de um escritor em busca da escrita perfeita para um evento literário, a obra é extremamente convidativa, desenvolvendo um enredo único com uma atmosfera de suspense tenso e reflexivo. Apesar de ocupar apenas uma lauda, o conto é um fomento essencial à obra.

Convencional 80s nome homônimo à um conto presente na obra, é um conto sobre quatro amigos que se encontram para o jantar até o desfecho inesperado da noite regrado de muito flashback internacional e conversas embaraçosas e difíceis em meio ao matrimônio. O conto perfeito para alusão presente na obra.

Em síntese, a obra de Rodrigo Seara é um livro incrivelmente bem elaborado e desenvolvido, sua narrativa prolífica demonstra traços de um grande escritor que esmiuça detalhes dos acontecimentos até o último segundo, sua obra, em primeira instância, é um emaranhado poético e sofrido repleto de tensão e horror, como a proposta apresenta. Um livro para se ler todo de uma só vez.

O AUTOR

Rodrigo Seara nasceu em 2003, em Ipatinga, no interior de Minas Gerais. Amante dos filmes antigos, viciado em “rock” clássico e jogos de combate em tempo real, encontrou na escrita a melhor forma de expressar sua engenhosidade criativa.Seu conto de estreia, “Noite Arrastada”, foi um dos selecionados para compor a antologia “+Humor, Por Favor”, do selo Off Flip. E agora lança sua primeira obra solo neste livro de contos.

[RESENHA #595] O poder transformador da comunicação, de Allan Marques


APRESENTAÇÃO

"Você é quem você diz que é. Você faz o que você diz que é capaz de fazer. Você tem o que você diz que merece ter. Você chegará aonde você diz que é capaz de chegar" 

Já se perguntou como um simples carpinteiro conseguiu se tornar conhecido em todo o mundo como Jesus Cristo, o filho de Deus? E qual seria a probabilidade de um músico que perdeu a sua audição conseguir realizar o inimaginável: compor músicas apesar da surdez? E como poderia um homem que perdeu o seu filho primogênito criminosamente, além de ter sofrido os horrores dos campos de concentração nazistas, onde morreram parentes, amigos e esposa, ainda assim ser capaz de reunir forças para viver uma vida longa e feliz? Todas essas histórias e muitas outras que você encontrará neste livro, são reais e só foram possíveis de acontecer por causa da existência de um poder capaz de exercer o domínio sobre todas as coisas, inclusive aquelas aparentemente impossíveis. Convido você a conhecer esse poder que habita em cada um de nós para que seja capaz de usá-lo a seu favor e, assim, mudar a rota do seu destino.

RESENHA

Eu nunca nunca gostei de livros de autoajuda, certa vez, uma amiga me disse que os livros deste gênero só ajudam os responsáveis por sua escrita, desde então, me dediquei a não ê-los mais, pelo simples fato de ter em mim essa convicção não nasceu dentro de mim, mas da experiência de outra pessoa sobre algo pela qual eu não havia experienciado. Que triste engano eu estava. O livro o poder transformador da comunicação, de Allan Marques é uma proposta diferente da qual estamos habituados, sua escrita é menos focada na resolução de problemas, e mais no poder existente dentro do querer mudar e sentir essa necessidade de se conhecer a ponto de conseguir desenvolver qualquer habilidade ou planejamento por meio do poder da crença em si mesmo, e isso é o oposto do qual estamos habituados.

A obra não é um convite dogmático religioso, nem sequer se propõe a tal como imaginamos, ela é além de nossas expectativas, o autor usa uma escrita fluida dentro de aspectos linguísticos que fomentam uma série de reflexões acerca de grandes personalidades e influências artísticas e sociais para descrever o quão longe podemos chegar apenas acreditando em nosso próprio potencial. É claro, a maioria dos livros de autoajuda possuem um gatilho semelhante, mas aqui, não há uma formula mágica para o desenvolvimento de uma válvula de escapa, pelo contrário, ela nos convida a olhar ao nosso redor e conhecer nossos focos e objetivos, que agora, não mais se encontram em estagnação concreta, mas objetiva, em suma, a escolha de permanecer igual ou mudar torna-se linear, não decisiva.

Para tal, o autor inicia a obra fazendo um paralelo do mundo existente atual, para ele, o cérebro é uma máquina do tempo poderosa capaz de transformar nossos dias, pelo simples fato de sermos a única espécie capaz de navegar entre passado, presente e futuro, e esse poder usado de forma errônea pode nos levar à parada reflexiva, tornando nossos dias reflexos constantes do ontem e do amanhã, não sendo focado no agora. Esse poder de reflexão ocasiona em depressão, ansiedades e sentimentos de impotência. A narrativa do autor, procura, de certa forma, estabelecer uma conexão entre o que fazemos que fomentam nossas problemáticas e o que deixamos de fazer quando nos encontramos paralisados pelo medo e pela incerteza.

A industria do entretenimento fatura milhões todos os anos, e isso se deve, talvez, ao fato de que as pessoas recorrem constantemente à uma válvula de escape para os próprios problemas, ignorando a existência de momentos que necessitam de um ponto final e de uma parada reflexiva, uma vez que a fuga da realidade proporciona e fomenta momentos de tensão ansiosa e depressiva, uma vez que tornamo-nos reféns daquilo o que ignoramos e não se é resolvido.

Toda narrativa é focada no poder do desenvolvimento do intelecto humano, não somente sua capacidade de criar e inovar coisas todos os dias, mas por sua ferramenta mais poderosa: a da reflexão. O subconsciente nos possibilita um exercício constante de reflexão e crescimento em nós e em nossos caminhos, projetando-nos para onde desejamos ou almejamos estar.

O que já foi escrito pode ser reeditado. O que foi programado pode ser reprogramado. O que foi destruído pode ser reconstruído. Basta saber utilizar as ferramentas certas e da forma correta. -- Allan Marques, p. 9

O ser humano é único, cada um de nós possui histórias e momentos que moldam quem somos, como enxergamos tudo ao nosso redor e como reagimos à notícias, momentos e aos mais diversos sentimentos. Uma mesma experiência traumática entre duas pessoas possui singularidades e particularidades diferentes, isso porquê o que afeta um de uma maneira, não necessariamente afetará o outro. Para tal, faz-se necessário do uso da programação neurolinguística.

A Programação Neurolinguística (PNL) é uma abordagem que explora a relação entre os processos neurológicos (neuro), a linguagem (linguística) e os padrões de comportamento aprendidos através da experiência (programação). Ela foi desenvolvida na década de 1970 por Richard Bandler e John Grinder, com o objetivo de entender e modelar a excelência humana.

A PNL parte do princípio de que nossos pensamentos, emoções e comportamentos estão interligados e influenciam uns aos outros. Ela explora como as pessoas processam e dão significado às informações, como constroem suas crenças e como esses processos afetam sua comunicação e comportamento.

O funcionamento da PNL baseia-se em técnicas e estratégias que visam identificar e modificar padrões de pensamentos e comportamentos limitantes, buscando substituí-los por padrões mais positivos e construtivos. Isso é feito através de várias abordagens, como a modelagem de comportamentos de sucesso, a reestruturação de crenças limitantes e a utilização de técnicas de comunicação eficaz.

Os benefícios da PNL para a vida do ser humano são diversos. Algumas das principais vantagens incluem:

1. Autoconhecimento: A PNL ajuda as pessoas a entenderem melhor a si mesmas, seus pensamentos e emoções, permitindo uma maior consciência de si e dos outros.

2. Melhoria na comunicação: Através do estudo e aplicação da linguagem e da comunicação, a PNL proporciona ferramentas para uma comunicação mais eficaz e assertiva, melhorando relacionamentos pessoais e profissionais.

3. Desenvolvimento de habilidades: A PNL pode ajudar a desenvolver habilidades específicas, como liderança, negociação, resolução de conflitos e persuasão, através da modelagem de pessoas bem-sucedidas nessas áreas.

4. Superar limitações e crenças limitantes: A PNL oferece técnicas para identificar e modificar crenças e comportamentos limitantes, permitindo que as pessoas superem obstáculos e alcancem seus objetivos.

5. Melhoria no desempenho: Através da aplicação da PNL, é possível aumentar o desempenho em diversas áreas, como esportes, carreira profissional e desenvolvimento pessoal.

6. Gestão emocional: A PNL oferece ferramentas para lidar com emoções negativas, como medo, ansiedade e estresse, permitindo uma maior gestão emocional e bem-estar emocional.

É importante ressaltar que a PNL é uma abordagem que pode ser aplicada em diferentes contextos e áreas da vida, e seus benefícios podem variar de acordo com a pessoa e a forma como é utilizada. É recomendado buscar profissionais qualificados e certificados em PNL para uma aplicação adequada e segura dessa abordagem.

A obra também estuda os efeitos do medo e da depressão na vida do ser humano, apresentando momentos e figuras importantes da história para ilustrar o poder da tomada de novos caminhos e horizontes por meio do poder da iniciativa. Em suma, uma obra primorosa, pronta para todo leitor desbravar e se reencontrar em suas páginas.

[RESENHA #594] Crônicas exusíacas & estilhaços pelintras, de Luiz Antonio Simas

 

APRESENTAÇÃO

Inédito de Luiz Antonio Simas, o historiador que é referência sobre cultura popular brasileira.

Crônicas exusíacas e estilhaços pelintras reúne registros de assombro e alumbramento sobre a cultura e a gente brasileira. Tocado por Exu – orixá mensageiro, senhor das encruzilhadas – e de seu Zé Pelintra – protetor do povo das ruas -, o historiador Luiz Antonio Simas compartilha visões e táticas fresteiras contra a mortandade produzida pelo desencanto do mundo.

Nos 77 textos que compõem o livro, passeiam personagens vivíssimos – deste ou de outros mundos –, como Jaiminho Alça de Caixão, o “inventor” da profissão de papagaio de pirata; o maestro Tom Jobim tomando uísque com o imperador Nero incorporado em um médium; e a descida da entidade Nelson Rodrigues na Penha Circular. Aparecem também temas como a violência do capital sobre corpos, culturas e territórios, a força do encanto, o samba e o jogo do bicho.

Para o pedagogo e escritor Luiz Rufino, que assina o texto de orelha, “Nos pontos riscados por Luiz Antonio Simas – professor amigo da rua –, as sabedorias praticadas no trivial enredam histórias confiadas com graça, afeto, cisma e firmeza, que honram as memórias plantadas nos quatros cantos da sua aldeia.”

RESENHA


SIMAS, Luiz Antonio -- Crônicas exusíacas & estilhaços pelintras // Luiz Antonio Simas. -- 1ed. -- Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2023. ISBN 978-65-5802-100-1

O livro Crônicas exusíacas e estilhaços pelintras é uma coletânea de relatos que aborda aspectos da cultura brasileira e de seu povo. O autor, Luiz Antonio Simas, é historiador e traz em suas crônicas visões e táticas que têm como inspiração Exu, um orixá mensageiro e senhor das encruzilhadas, e seu Zé Pelintra, considerado o protetor do povo das ruas.

Exu é uma divindade presente na religião afro-brasileira, especialmente no candomblé e na umbanda. Ele é conhecido como um intermediário entre os seres humanos e os orixás, sendo responsável por levar as oferendas e mensagens dos fiéis aos deuses. Além disso, Exu é considerado o senhor das encruzilhadas, lugares que simbolizam pontos de encontro de energias e caminhos diferentes. Sua figura é associada à travessia, às escolhas e aos limites entre o sagrado e o profano.

Zé Pelintra, por sua vez, é uma entidade que faz parte da cultura popular brasileira, principalmente no Nordeste. Ele é retratado como um malandro, um personagem típico das ruas, que possui características de um boêmio e de um protetor do povo que vive à margem da sociedade. Zé Pelintra é conhecido por sua astúcia e habilidade para lidar com as adversidades da vida cotidiana.

Ambos os personagens mencionados no texto possuem ligações com a religiosidade e a espiritualidade presentes na cultura brasileira. Exu é reverenciado e cultuado nas religiões afro-brasileiras, sendo considerado uma das principais divindades. Já Zé Pelintra tem uma presença forte no imaginário popular, sendo frequentemente invocado em rituais e cultos, principalmente relacionados à proteção e à resolução de problemas cotidianos.

A escolha dessas personagens para embasar as crônicas de Luiz Antonio Simas pode ser entendida como uma forma de resgatar e valorizar aspectos da cultura brasileira que muitas vezes são marginalizados ou estigmatizados. Exu e Zé Pelintra representam a força e a sabedoria presentes nas camadas populares da sociedade, trazendo consigo uma visão particular sobre a vida e os desafios enfrentados pelos brasileiros.

Ao utilizar Exu e Zé Pelintra como referências, o autor busca compartilhar visões e táticas "fresteiras" - termo que remete a algo marginal, fora dos padrões estabelecidos - para enfrentar a "mortandade" produzida pelo desencanto do mundo. Nesse contexto, as crônicas apresentam-se como um convite à reflexão sobre a cultura brasileira, suas raízes religiosas e a importância de valorizar e respeitar as diferentes manifestações culturais presentes no país.

O livro composto por 77 textos, nos quais são apresentados personagens vívidos provenientes de diferentes realidades, sejam elas deste mundo ou de outros. Entre esses personagens, destacam-se Jaiminho Alça de Caixão, considerado o "inventor" da profissão de papagaio de pirata, o maestro Tom Jobim em um encontro com o imperador Nero incorporado em um médium, e a manifestação da entidade de Nelson Rodrigues na Penha Circular.

Além das figuras mencionadas, o livro também aborda temas como a violência do capital sobre corpos, culturas e territórios, a força do encanto, o samba e o jogo do bicho. Esses temas são abordados de forma a retratar a realidade social e cultural brasileira, explorando questões relacionadas à exploração econômica, à resistência cultural, à música e às práticas de jogo.

Na apresentação da obra o autor detalha os tópicos que poderão ser abordados em suas narrativas que podem ser lidas em qualquer ordem, não sendo obrigatória uma leitura contínua, uma vez que cada texto progride de forma única dentro de seu universo particular.

[...] breves ensaios sobre o colonialismo, outros sobre mitos e ritos, entrecruzam-se com pequenas aventuras cotidianas de sambistas, papagaios de piratas, apontadores do jogo do bicho, ambulantes, profetas, namorados, membros do esquadrão da morte, defensores intransigentes da vida, espíritos desencarnados, malandros maneiros, erês, assombrações, defuntos frescos, bodes, cachorros, toques de atabaques, sons de agogôs e de rajadas de metralhadora retratada em estilhaços desconexos (p.11) -- grifos meus. 

A presença de personagens como Jaiminho Alça de Caixão, Tom Jobim e Nelson Rodrigues, tanto em situações reais quanto imaginárias, remete à fusão entre o real e o fantástico, criando uma atmosfera de mistério e encantamento. Essa mistura de elementos reais e imaginários pode representar uma forma de criticar e refletir sobre a realidade, utilizando recursos literários para abordar questões sociais e culturais de forma criativa e simbólica.

O livro também parece explorar a diversidade cultural brasileira, abordando o samba e o jogo do bicho como exemplos de manifestações populares que fazem parte da identidade do país. Essas manifestações são apresentadas como elementos importantes da cultura brasileira, mas também podem ser interpretadas como espaços de resistência e de expressão da criatividade popular.

Em suma, o livro em questão apresenta uma coletânea de textos que misturam elementos reais e imaginários, trazendo personagens marcantes e abordando temas como a violência do capital, a força do encanto, o samba e o jogo do bicho. Através dessa abordagem, o autor busca explorar a realidade social e cultural brasileira, convidando o leitor a refletir sobre essas questões de forma criativa e simbólica, como em outras obras escritas pelo o autor.

O AUTOR

Foto: Divulgação // Mídia Ninja --.

Luiz Antonio Simas

É mestre em história pela UFRJ, professor e escritor. Com diversos livros publicados, recebeu o Prêmio Jabuti – Livro do Ano, em parceria com Nei Lopes, pelo Dicionário da história social do samba. Juntos, também escreveram Filosofias africanas. Pesquisador das culturas e religiões populares, publicou O corpo encantado das ruas e Umbandas: uma história do Brasil. Todos os títulos foram lançados pela Editora Civilização Brasileira. Sonetos de birosca & poemas de terreiro, seu primeiro livro de poemas, foi publicado pela Editora José Olympio. Desde 2013, Simas é jurado do Estandarte de Ouro, o mais tradicional prêmio do carnaval carioca.

[RESENHA #593] Também eu danço, de Hannah Arendt

 

APRESENTAÇÃO

Quem imaginaria que um dos maiores nomes da filosofia política do século XX nos legaria também poemas? Originalmente não destinados à publicação, temos nesta antologia 71 poemas escritos ao longo da vida de Hannah Arendt. Tendo por base a edição alemã estabelecida apenas em 2015 – uma publicação póstuma e recente, como se vê –, os poemas reunidos aqui atuam também como sinalizadores da biografia da filósofa, marcando suas alegrias, amores, amizades, perdas e reminiscências.

Segundo Patricia Lavelle, em seu texto de orelha: “Escritos entre 1924 e 1961, com uma longa interrupção entre 1933 e 1942, o lugar destes poemas líricos é a vida interior de Hannah, seus amores e amizades. Mas embora não fosse uma ‘profissional’, para usar a expressão irônica da poeta Ana Cristina César, a jovem precoce de Königsberg, que aos quatorze anos já lia Kant, Kierkegaard e os românticos alemães, também não era poeticamente ingênua.

A escrita poética prolonga a correspondência de Hannah Arendt, em endereçamentos a interlocutores que também foram intelectuais importantes. Um primeiro ciclo de poemas, que vai de 1924 à 1927, está relacionado à paixão de juventude que ela viveu com Martin Heidegger, então um carismático professor casado, mas ainda não comprometido com o nazismo. Mais tarde, compartilhou o gosto pela poesia com seu colega de estudos Gunter Anders, com quem se casou. No exílio, dedicou versos ao grande amor de sua vida, o também filósofo Henrich Blütcher, seu segundo marido.

Entre seus poemas, encontramos também homenagens a amigos como Walter Benjamin, que Arendt dizia pensar poeticamente, o escritor Hermann Broch ou ainda o sionista Blumenfeld, líder do movimento de resistência ao nazismo no qual ela atuou. Versos surgem ainda no seu ‘diário de pensamento’, em releituras de Goethe ou Platão, entre outras referências.”

RESENHA


O livro "Também eu danço" é uma coletânea de poemas da renomada filósofa e teórica política Hannah Arendt. Publicado postumamente em 1995, o livro apresenta uma faceta menos conhecida da autora, que é a sua habilidade como poeta.

Os poemas exploram uma variedade de temas, incluindo amor, solidão, natureza, morte e a condição humana. Através de sua linguagem poética, Arendt expressa suas reflexões profundas sobre a existência humana e as complexidades da vida moderna.

Além dos poemas, "também eu danço" também contém alguns ensaios e reflexões da autora. Essas reflexões ampliam nosso entendimento das ideias e preocupações de Arendt, abordando questões como a natureza da liberdade, a importância da ação política e a necessidade de pensar criticamente em tempos de crise.

Hannah Arendt é mais conhecida por suas obras filosóficas e políticas, como "Origens do Totalitarismo", "A Condição Humana" e "A Vida do Espírito". Ela foi uma das mais influentes pensadoras do século XX, contribuindo para o campo da filosofia política e para a compreensão das estruturas de poder, autoridade e liberdade.

Suas obras são caracterizadas por uma abordagem multidisciplinar, combinando elementos da filosofia, política, história e sociologia. Arendt foi uma crítica contundente dos regimes totalitários e do conformismo político, enfatizando a importância da ação individual e do engajamento político para a preservação da liberdade e da dignidade humana.

O poema "também eu danço" de Hannah Arendt é uma obra poética excepcional que merece ser apreciada e elogiada. Através de sua linguagem poética rica e evocativa, Arendt consegue transmitir uma profunda introspecção e uma reflexão sobre a existência humana.

Uma das grandes qualidades do poema é a sua capacidade de nos transportar para um mundo de imagens e emoções intensas. Arendt utiliza metáforas e analogias de forma magistral, criando uma atmosfera poética envolvente que nos faz refletir sobre os mistérios e as complexidades da vida.

Além disso, o poema aborda uma variedade de temas universais, como amor, solidão, morte e a busca por significado. Arendt mergulha profundamente nesses temas, explorando-os de maneira sensível e provocativa, o que nos leva a uma reflexão profunda sobre nossa própria existência e experiências.

A linguagem poética de Arendt é poderosa e cativante. Seus versos fluem harmoniosamente, criando um ritmo e uma musicalidade que adicionam uma dimensão adicional à experiência de leitura. Sua habilidade de escolher as palavras certas para expressar emoções complexas é notável e nos permite nos conectar de maneira íntima com suas reflexões.

Além disso, o poema "também eu danço" nos convida a uma jornada de autodescoberta e autoconhecimento. Arendt nos lembra da importância de nos conectarmos com nossas emoções e de nos permitirmos dançar com a vida, mesmo em meio às incertezas e desafios que enfrentamos.

Em suma, o poema "também eu danço" é uma obra de arte poética que nos convida a mergulhar em uma reflexão profunda sobre a existência humana. A linguagem poética de Hannah Arendt, combinada com sua sensibilidade e profundidade de pensamento, fazem deste poema uma leitura enriquecedora e inspiradora.

Um poema bastante marcante da obra ganha destaque na capa traseira da obra, sendo este, sonho:

Pés flutuando em brilho patético

Eu mesma,

também eu danço, 

livre do peso

no escuro, no imenso.

Espaços cerrados de eras passadas

distâncias trilhadas

começam a dançar, a dançar.


Eu mesma,

também eu danço,

Irônica e destemida

de nada esquecida

eu conheço o imenso

eu conheço o peso

eu danço, e danço

em brilho irônico.

O poema "Sonho" de Hannah Arendt é uma obra que carrega um significado profundo e complexo, refletindo a natureza da experiência humana e a busca por um sentido de liberdade e identidade. Através de sua poesia, Arendt explora temas como a alienação, a solidão e a esperança.

Arent usa de sua prosa prolífica e altamente fervorosa para descrever o caminho da vida por meio das tensões e dos resquícios do passado e do livre cargo das emoções e do peso do escuro e dos arrependimentos:

também eu danço, livre do peso, no escuro, no imenso. Também eu danço, irônica e destemida

A obra é extremamente visceral e dilacera o leitor de dentro para fora, usando de suas influências literárias profundas, Arent nos arrebata em sua essência para a transição do agora e do exercício de reflexão âmago que rege a vida e os momentos. A maioria de seus poemas não tem título, pois não se titula sentimentos, apenas sente-se. Indicado para todos, não há aqui exceção. HANNAH É E SEMPRE SERÁ, a poetisa mais prolífica e completa que este mundo já conheceu.

A AUTORA

Hannah Arendt foi uma filósofa e teórica política contemporânea. Judia nascida na Alemanha, Arendt vivenciou os horrores da perseguição nazista, o que motivou a sua pesquisa sobre o fenômeno do totalitarismo. Suas principais obras são “As Origens do Totalitarismo”, “Eichmann em Jerusalém”, “Entre o Passado e o futuro” e “A Condição Humana”.

[RESENHA #592] Procurando encrenca, de Virginia Cowles


APRESENTAÇÃO

Brilhante reportagem e livro de memórias, Procurando encrenca narra a experiência da jornalista Virginia Cowles nas trincheiras da Guerra Civil Espanhola e no início da Segunda Guerra Mundial.

Virginia Cowles tinha apenas 27 anos quando decidiu mudar drasticamente de carreira: de colunista social de revista à correspondente de guerra na Europa. Procurando encrenca conta a história dessa evolução, através dos relatos de Cowles diretamente de ambos os lados da Guerra Civil Espanhola, de Londres no primeiro dia da Blitz, de Munique ocupada pelos nazistas e da resistência violenta e amarga da Finlândia à invasão russa. Durante esse percurso, Cowles conhece Adolf Hitler ('um homenzinho comum'), Benito Mussolini (que tinha uma personalidade 'agressiva e exuberante demais', Winston Churchill, Martha Gellhorn e Ernest Hemingway, além das mais variadas e extraordinárias personalidades que conheceu pelo caminho. Seu estilo de reportagem mescla análise política afiada e acessibilidade do jornalismo de fofoca, e sua prosa reflete a empatia de um romancista.

Durante sua carreira, Cowles testemunhou: a Guerra Civil Espanhola de ambos os lados; a Tchecoslováquia na crise de 1937; Praga antes e depois do Acordo de Munique; os Sudetos e a marcha dos nazistas; a Rússia enganada pelos nazistas; Roma sob pressão alemã; Berlim no dia em que a Segunda Guerra Mundial estourou; a Finlândia invadida; Paris nas últimas 24 horas antes da invasão alemã; Londres enquanto a batalha decisiva se acirrava; e muitos outros momentos cruciais da Segunda Guerra Mundial.

Ela entendeu ainda em 1937 – antes de muitos políticos da época – que o fascismo na Europa era uma ameaça à democracia no mundo todo. O ponto de vista de Procurando encrenca sobre o extremismo é tão relevante e marcante hoje em dia quanto era mais de oitenta anos atrás.

RESENHA

Em março de 1937, oito meses após o início da Guerra Civil Espanhola, Virginia Cowles, uma jornalista de 27 anos natural de Vermont, conhecida por seu trabalho em fofocas da alta sociedade, apresentou uma proposta audaciosa a seu editor nos jornais Hearst: ela desejava viajar para a Espanha e relatar sobre os dois lados do conflito. Apesar do fato de que a única qualificação de Cowles para o jornalismo de combate era sua confessa "curiosidade", surpreendentemente, seu editor concordou. 

Durante os quatro anos que se seguiram à sua chegada à Espanha e à publicação de "Procurando encrenca", Cowles percorreu toda a Europa. Sendo uma admiradora fervorosa da cultura britânica, ela foi cativada desde criança pelas histórias do Rei Arthur e seus Cavaleiros, o que a levou a se mudar para Londres com grande entusiasmo, enfrentando com estoicismo as inconveniências da vida na cidade - como a falta de aquecimento central, os nevoeiros e o tráfego pela esquerda. No entanto, ela considerava tudo isso um pequeno preço a pagar em troca de estar na primeira fila para testemunhar o "som e fúria através do Canal". Nas palavras dela, viver na capital inglesa no final dos anos 1930 era como "sentar-se muito perto de uma orquestra e ficar ensurdecido pelo crescente crescendo dos instrumentos de sopro".

Ela esteve em Praga durante a crise de Munique e em Berlim no dia da invasão da Polônia pela Alemanha. No início de 1939, ela iniciou uma jornada de seis semanas à Rússia soviética, buscando escapar de Londres, ansiando por um período que poderia ser um período de descanso. Entretanto, a realidade lhe foi imposta rapidamente, ao constatar que Moscou era uma cidade envolta na mais profunda tristeza. Um ano depois, ela encontrava-se na Finlândia, usando um terno espesso, botas forradas de pele e um casaco de pele de carneiro, viajando rumo ao norte, em direção ao Círculo Polar Ártico, com o intuito de relatar a Guerra de Inverno, sangrenta batalha travada pelos finlandeses contra os invasores russos. Em junho de 1940, enquanto todos fugiam da cidade, ela ousadamente voou para Paris, visando cobrir a queda da cidade nas mãos dos alemães. Três meses depois, ela estava em Londres, no primeiro dia da Blitz.

Uma ideia interessante da autora em republicar esta compilação de ensaios jornalísticos sobre a Europa no final dos anos 1930 até a primeira metade de 1941. No entanto, Cowles tinha ambições maiores. Enquanto trabalhava na Europa, testemunhou o tumulto político e estava determinada a vivencia-lo em primeira mão e escrever sobre o assunto. Muitos a subestimaram, o que frequentemente lhe permitiu se aproximar da ação - e até mesmo obter uma entrevista individual inesperada com Mussolini. Ao mesmo tempo, sua posição social a colocava em contato regular com figuras como Winston Churchill e sua família, bem como a infame família Mitford.

Cowles tinha o hábito de conversar com qualquer pessoa que pudesse sobre suas opiniões em relação aos seus países - especialmente em momentos de crise - incluindo a revolucionária Espanha, Tchecoslováquia, Alemanha e a URSS. Ela era capaz de fornecer aos seus superiores, como Chamberlain, uma perspectiva à qual eles não teriam acesso de outra forma.

Cowles fazia o possível para manter uma postura neutra em suas reportagens. Essa neutralidade muitas vezes tornava difícil para ela se comunicar com pessoas envolvidas em conflitos. Ela era pressionada a declarar sua lealdade e, ao recusar, era rotulada de "vermelha" pelos fascistas e de fascista, por exemplo, pelos combatentes nacionalistas na Espanha. Em vez de levar isso para o lado pessoal, ela aproveitava a oportunidade para discutir a mentalidade binária que rejeitava qualquer empatia ou compromisso, insistindo em retratar qualquer pessoa que não fosse aliada como um inimigo a ser destruído. Ela retrata vividamente um oficial alemão de menor patente que inicialmente descreve os tchecos como bons camaradas, mas assim que os nazistas começam a agitar suas espadas, esse oficial e todos os outros alemães étnicos que vivem em sua região começam a fazer ameaças assassinas contra seus vizinhos tchecos.

Embora Cowles tenha simpatizado com os nacionalistas e camponeses na Espanha, isso de forma alguma a tornava uma "vermelha". Ela visitou a URSS pouco antes da Segunda Guerra Mundial e ficou chocada com o baixo padrão de vida e a pura ignorância dos soviéticos, que insistiam que tudo era perfeito na URSS e terrível no Ocidente. Suas experiências com totalitarismo de esquerda e de direita reforçaram sua crença na democracia.

Cowles possui um estilo de escrita quase coloquial, porém repleto de detalhes históricos vívidos, incluindo sua presença em um dos grandes comícios do partido nazista em Nuremberg, no Círculo Polar Ártico durante a Guerra Russo-Finlandesa, em Paris quando caiu para os nazistas e em Londres durante o Blitz. Este é um livro super interessante para os leitores ávidos de tópicos como política, guerra, ascensão fascista, relatos jornalísticos e uma prosa prolífica acerca dos tópicos abordados em forma de prosa. Recomendo para todo bom leitor de livros acerca da figura de uma mulher forte e ávida pelo registro da verdade.

A AUTORA

Virginia Cowles nasceu nos Estados Unidos em 1910. Começou no jornalismo escrevendo em colunas sociais sobre moda, comportamento e sociedade, e na década de 1930 começou a cobrir a Guerra Civil Espanhola ― sem nenhuma experiência prévia como correspondente. Durante a Segunda Guerra Mundial, cobriu a campanha italiana, a liberação de Paris e a invasão dos aliados na Alemanha, tornando-se uma jornalista renomada junto a outros grandes nomes, como Ernest Hemingway e Martha Gellhorn. Em 1947, recebeu uma Ordem do Império Britânico por seus serviços como correspondente de guerra. Também foi autora de biografias de importantes figuras políticas, como Winston Churchill: the era and the man e Edward VII and his circle. Morreu em um acidente de carro em 1983.

[RESENHA #591] Viola de bolso, de Carlos Drummond de Andrade

Viola de bolso, reunião de poemas de Carlos Drummond de Andrade lançada nos anos 1950, chega a sua terceira edição, com 25 poemas inéditos nas edições anteriores.

Uma das joias que marcam o retorno do poeta Carlos Drummond de Andrade ao catálogo da Editora José Olympio é sem dúvida a nova edição de Viola de bolso. Lançado originalmente em 1952, pelo Ministério da Educação e Saúde, o livro teve segunda edição pela Livraria José Olympio Editora, em 1955, com adição de 56 novos poemas, totalizando 91. Esta terceira edição, de 2022, reúne os poemas da segunda – acrescidos de marcas de revisão feitas à mão por Drummond em seu exemplar – e inclui novas peças, 25 poemas inéditos nas edições anteriores, recentemente encontradas pelos netos do poeta.

Esses poemas, que haviam sido organizados pelo próprio autor em uma pasta intitulada “Viola de bolso (nova)”, aparecem também em versão fac-similar. Tanto para estudiosos de Drummond quanto para leitores de poesia, é possível observar as mudanças feitas em certos poemas de uma edição para a outra. Mudanças que mostram a preocupação do poeta com seus escritos e que provam como uma criação literária é um processo contínuo, que nunca se dá por acabado.

Além de a nova edição apresentar um projeto gráfico caprichado, em capa dura, será uma experiência muito proveitosa ler os escritos que Drummond reúne em Viola de bolso. O livro é uma espécie de inventário sentimental do poeta em homenagem a lugares, afetos, pensamentos e, em sua maioria, a pessoas próximas; amigos, artistas e personalidades importantes – dentre estes, o próprio José Olympio,  que conquistaram o coração do grande escritor itabirano.  As dedicatórias compõem uma constelação que evidencia a rara destreza de Drummond para construir belas peças poéticas amarradas à própria vida.

RESENHA

"Viola de Bolso" é um livro de contos do renomado poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade. Publicado em 1962, o livro apresenta uma coleção de histórias curtas que exploram temas variados, como amor, solidão, cotidiano e reflexões sobre a condição humana.

Carlos Drummond de Andrade, conhecido por sua poesia marcante e reflexiva, buscou inspiração em diferentes fontes para compor "Viola de Bolso". O autor foi influenciado por sua própria experiência de vida, observação do mundo ao seu redor e pela literatura brasileira e estrangeira. Drummond de Andrade tinha um olhar atento para as nuances da existência humana, e isso se reflete nas histórias do livro.

Em relação à recepção crítica, "Viola de Bolso" foi bem recebido pela crítica literária da época. A obra foi elogiada por sua originalidade e pela maneira como o autor abordou questões universais de forma poética e sensível. Drummond de Andrade é considerado um dos maiores escritores brasileiros do século XX, e sua escrita inovadora e profunda contribuiu para a boa recepção do livro.

A construção do enredo em "Viola de Bolso" é caracterizada pela brevidade e concisão. Cada conto apresenta uma história autônoma, com personagens distintos e situações diversas. Drummond de Andrade utiliza uma linguagem precisa e poética para transmitir suas reflexões sobre a vida, o amor, a morte e a sociedade. O autor também faz uso de metáforas e simbolismos, criando uma atmosfera lírica e profunda em cada conto.

Em termos históricos, "Viola de Bolso" foi publicado em um momento de efervescência cultural e política no Brasil. A década de 1960 foi marcada por transformações sociais e pelo surgimento de movimentos artísticos e culturais importantes. Nesse contexto, a obra de Drummond de Andrade se destacou como uma voz crítica e reflexiva, trazendo à tona questões fundamentais sobre a condição humana em meio a um mundo em constante mudança.

No livro "Viola de Bolso", Drummond de Andrade apresenta uma seleção de poemas que refletem sua habilidade em abordar temas universais de maneira poética e profunda. Alguns dos principais poemas do livro incluem:

1. "Poema de Sete Faces": Neste poema, Drummond de Andrade explora a dualidade da existência humana, retratando diferentes facetas de uma mesma pessoa. O poema reflete sobre a complexidade e a multiplicidade de sentimentos e experiências que compõem a vida.

2. "No Meio do Caminho": Este é um dos poemas mais famosos de Drummond de Andrade. O poema apresenta uma situação aparentemente banal - um obstáculo no meio do caminho - e a transforma em uma reflexão profunda sobre a inevitabilidade do enfrentamento dos desafios da vida.

3. "Mãos Dadas": Neste poema, Drummond de Andrade aborda a solidão e a busca por conexão humana. O poema explora a importância do contato físico e emocional entre as pessoas, enfatizando a necessidade de compartilhar a existência e enfrentar juntos os desafios da vida.

4. "Sentimental": Este poema retrata a dualidade entre o sentimento e a razão. Drummond de Andrade explora a complexidade dos relacionamentos e a dificuldade de conciliar a emoção com a racionalidade, destacando a vulnerabilidade e a intensidade dos sentimentos humanos."Viola de Bolso" é, portanto, uma obra que reflete a genialidade de Carlos Drummond de Andrade como escritor. Com sua escrita poética e reflexiva, o autor proporciona ao leitor uma experiência literária única, repleta de significados e reflexões sobre a vida e a sociedade.

O AUTOR

Carlos Drummond de Andrade foi poeta, contista e cronista brasileiro do período do modernismo. Considerado um dos maiores escritores do Brasil, Drummond fez parte da segunda geração modernista. Foi precursor da chamada "poesia de 30" com a publicação da obra "Alguma Poesia".

[RESENHA #590] A anatomia do crime, de Val McDermid


APRESENTAÇÃO

Val McDermid pega o bisturi para desvendar os segredos da ciência forense, da cena do crime até o tribunal. Vencedor do Anthony Award de Melhor Livro Crítico/Não Ficçã, A anatomia do crime revela detalhes de casos terríveis e desafiadores que chocaram o mundo.

Os mortos falam. Pelo menos para o ouvinte certo, eles contam tudo: quem são, como morreram e quem os matou. Cientistas forenses conseguem revelar os mistérios do passado e ajudar a fazer justiça a partir de pistas deixadas num cadáver, na cena de um crime, ou com base nos menores vestígios humanos.

A anatomia do crime traça uma trajetória desde o início do estudo forense até o auge da ciência moderna e fundamenta-se em entrevistas com profissionais renomados, pesquisas inovadoras e experiências de campo da própria autora para revelar os segredos dessa fascinante ciência. Val McDermid investiga como larvas em cadáveres podem ajudar a determinar a hora da morte, como um vestígio de DNA do tamanho de um grão de sal pode ser usado para condenar um assassino e como uma equipe de jovens cientistas argentinos, liderada por um antropólogo americano, identificou vítimas de um genocídio.

Em seus romances policiais, os protagonistas de Val McDermid solucionam crimes complexos e enfrentam males inimagináveis. Agora quem protagoniza este livro são as pessoas reais que trabalham com isso. Em A anatomia do crime, a autora nos leva para zonas de guerra, cenas de incêndio e salas de autópsia. O true crime como você nunca viu.

“Moscas que se alimentam de sangue, estômagos exumados e rigor mortis voluntário: Val McDermid analisa como as intrigantes ferramentas da ciência forense têm resolvido assassinatos terríveis ao longo dos anos” The Guardian

“Fascinante. Val McDermid é uma das escritoras de romance policial mais habilidosas e supera todas as expectativas ao escrever como uma verdadeira autoridade sobre os fatos por trás de eventos abomináveis” The Washington Postt


RESENHA

A anatomia do crime, de Val Mcdermid é uma obra de teor não-ficção, onde a autora desdobra-se à explicar o estudo e a importância de pistas no desenvolvimento da solução de um problema em uma cena do crime através de vestígios pelo cenário, como, insetos, manchas de sangue, queimaduras, impressões digitais, DNA, dentre outros inúmeros resquícios que acabam passando despercebido pelos autores no decorrer de suas atrocidades.

A noção de que o direito penal deve se basear em provas é relativamente nova -- prefácio, pag. 9

A ciência forense surgiu como uma luz no fim do túnel para investigação empírica e profunda acerca do cenário do crime para solução das problemáticas advindas do crime hediondo à se ser julgada. Essa técnica, relativamente nova foi a forma encontrada para driblar os antigos métodos ortodoxos de punição e condenação antes em vigor, como: o tom da pele dos indivíduos, parentescos com pessoas ligadas ao ocorrido, suposições e descrições imprecisas acerca dos motivos para concretização do laudo pericial acerca do óbvio, que foi se decaindo e dando espaço para uma ciência que surgiu aos poucos pretendendo-se alinhar as pistas e o estudo do cenário criminal para estabelecer a ordem dos acontecimentos e condenar de forma mais justa os envolvidos no desfecho em julgamento.

Já no primeiro capítulo temos a oportunidade de analisar uma frase provocadora: a cena é a testemunha silenciosa, de Peter Arnold [perito criminal]. Em síntese, a cena do crime é a responsável pelo alinhamento do estudo da sequência de fatos no dia do ocorrido, ela é responsável por dizer com precisão a ordem dos acontecimentos, as armas usadas durante o procedimento e as possíveis lutas corporais desenvolvidas durante todo processo, bem como descoberta dos envolvidos por meio de DNA, sangue ou qualquer pista que ligue de forma concreta aos participantes do crime em determinada cena.

A obra aborda questões como a investigação de um cenário de incêndio; Entomologia; patologia; toxicologia; impressões digitais; manchas de sangue e DNA; Antropologia; Reconstrução facial; Computação forense; O tribunal e conclusões acerca do desenvolvimento da investigações.

No capítulo quatro, patologia, a autora desdobra-se nas explicações acerca da patologia forense, embora a patologia seja seja frequentemente caracterizada como o estudo da doença, nesta ramificação de estudo, ela liga-se mais aos efeitos da doença no corpo do que em seu desenvolvimento, assim sendo, a pericia forense analisa com cautela não somente a doença em si e seu desenvolvimento, mas os vestígios que a provocaram, bem como seus efeitos no pós morte. As pessoas se impressionam mais com uma morte violenta e repentina do que com qualquer outra, porque de uma forma ou de outra, ainda que tangencialmente falando, atribui-se culpa ao estilo de vida ou por decisões que ocasionaram em tal acontecimento. Entre outras, a outra utiliza um caso para ilustrar a frase, uma garota foi encontrada morte e seu corpo não demonstrava, aparentemente, nenhuma causa plausível para tal, desta forma, a pericia forense encarregou-se de examinar o corpo, concluiu-se que, ela havia morrido por enforcamento e luta corporal, de uma forma ou de outra, o relacionamento dela com o réu ocasionou este trágico final. Claro, há exemplos que podem ser mais precisos e claros, mas todos tomam um único caminho: as escolhas da vítima, parentesco ou amizade com o réu, dentre outros aspectos lúdicos que fomentaram a investigação. PARA MIM, o melhor capítulo do livro, embora toda sua estrutura seja grandiosa.

Já em toxicologia (p.102), a autora explica que o pior veneno para a morte é a dosagem. Em síntese, há substâncias que ao serem ingeridas em uma dosagem recomendada, cura feridas e ameniza sintomas de outras doenças, mas uma superdosagem podem ter efeitos colaterais permanentes, ou até mesmo morte. A toxicologia é a ciência responsável por estudar os efeitos dos agentes químicos no corpo, ela explica de forma cautelosa e pericial os efeitos que causaram o óbito do indivíduo, bem como as causas primárias.

Em síntese, a obra da autora é extremamente rica e lúdica em seus propósitos, uma obra que certamente fará qualquer leitor se apaixonar pela pericia forense, uma obra magnífica e sem precedentes, a mais completa até o momento, e o melhor, explicada de forma clara e acessível com exemplos claros de acontecimentos que fomentam ainda mais a explicação.

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