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[RESENHA #539] A batalha de Moscow, de Andrew Nagorski


APRESENTAÇÃO

Em plena Segunda Guerra Mundial, no outono de 1941, dois exércitos gigantescos lutaram ferozmente nas estradas que levavam a Moscou. No campo de batalha, o comando estava nas mãos dos tiranos Adolf Hitler e Joseph Stalin, que davam ordens sem hesitar em mandar milhares para a morte. A Batalha de Moscou, que oficialmente durou de 30 de setembro de 1941 até 20 de abril de 1942, por pouco não teve resultado diferente. Os alemães chegaram muito perto de conquistar a capital da poderosa União Soviética. Mas os russos conseguiram, por fim, defender a cidade e o embate marcou o primeiro fracasso da tática de blitzkrieg dos exércitos de Hitler. A partir dali, a guerra seria outra para a Alemanha nazista. Apesar de seu papel decisivo no período inicial da Segunda Guerra Mundial, e também do que ela revelou sobre a natureza dos gigantes totalitários que se enfrentaram, essa batalha ainda não tinha recebido a atenção merecida. Este livro trata de como Stalin transformou em vitória o que parecia uma debandada, do preço humano daquela vitória e de como ela preparou o palco para tudo que se seguiu, tanto em termos de lutas quanto dos primeiros embates diplomáticos entre Stalin e o Ocidente com relação ao futuro de uma Europa no pós-guerra.
RESENHA
Geralmente ignorada pela prosperidade, Stalingrado é frequentemente considerada como secundária quando se trata de lembrar os confrontos alemães com a Rússia durante a Operação Barbarossa. Na sua introdução, Nagorski descreve a Batalha de Moscou como "indiscutivelmente a batalha mais importante da Segunda Guerra Mundial e indiscutivelmente a maior batalha entre dois exércitos de todos os tempos" (7 milhões lutaram, com até 2,5 milhões de mortos ou feridos).Certamente é quase impossível compreender o incrível custo da vida humana resultante da tentativa de um indivíduo desequilibrado de conquistar um continente e da tentativa de outro indivíduo psicopata de evitá-lo. No entanto, é igualmente difícil de entender a pura insensatez e total desrespeito pela vida humana demonstrados por esses líderes.

Ocorreu, todavia, e Nagorski deixa claro que a carnificina incrível foi inteiramente devido aos "enormes erros de cálculo ... e crueldade persistente" de Hitler e Stalin. As principais falhas de Stalin foram, em primeiro lugar, o despreparo inteiro para a invasão nazista em junho de 1941, que Nagorski encontra todas as fontes que podia para sugerir uma crença genuína de que Hitler não o atacaria devido ao pacto deles - ou pelo menos não tão cedo - apesar de sua referência ininterrupta à Rússia como meramente Lebensraum e o movimento altamente visível das tropas alemãs para a fronteira.


Em segundo lugar, o Exército Vermelho sofreu um expurgo típico de natureza paranóica, resultando na execução de 44 mil oficiais ou deportação para a Sibéria, privando-o assim de liderança experiente. É preciso reconhecer que, na Rússia daquela época, eram práticas comuns. Uma das principais falhas de Hitler foi o lançamento da Operação Barbarossa antes da conclusão da guerra no Ocidente, o que significou que seu exército estava combate em duas frentes simultaneamente. Além disso, ele adiou o início da invasão até junho, ao invés de maio, como inicialmente planejado, para que, assim como Napoleão, seus soldados fossem surpreendidos pelo rigoroso inverno russo antes de terem a chance de ocupar Moscou.

A Batalha de Moscou não possui o mesmo reconhecimento que a de Stalingrado, possivelmente porque os nazistas nunca efetivamente invadiram a cidade. Embora se aproximassem a uma distância de cerca de 30 km, não houve nenhuma batalha campal dentro da cidade. Dessa forma, as experiências dos combatentes do Exército Vermelho que participaram da luta estão pouco documentadas, o que acarreta várias lacunas na narrativa de Nagorski.

Em seu trabalho, o autor proporciona vislumbres dos campos de batalha cobertos por agrupamentos de corpos, neve e rios de sangue, além de verdades desagradáveis relativas aos métodos adotados pelos líderes de ambos os lados. Estas incluem as Unidades de Bloqueio da NKGB encarregadas de fuzilar desertores do Exército Vermelho e as dificuldades enfrentadas pelos soldados alemães comuns que foram deixados para congelar na tundra, carecendo de calçados e roupas apropriadas para o inverno, devido ao delírio do Fuhrer.


Nagorski, sem uma batalha real para empreender, foca em demonstrar que Hitler e Stalin desviaram-se do caminho para o caos. Hitler pagou o último preço, enquanto Stalin quase o fez. No livro, um capítulo central se concentra nos acontecimentos do dia 16 de outubro de 1941, quando houve caos em Moscou, sem líderes visíveis e com a população em grande êxodo, os cidadães remanescentes saquearam a cidade, condenando o regime.


Não discordo da tese do autor que responsabiliza os dois maiores monstros da história, sendo que ele produziu um livro com fluência e informações para apoiar tal ideia, apesar dos recursos de origem limitados devido à censura soviética. Por outro lado, li o mesmo em conjunto com um livro sobre a Batalha de Nova York, que ocorreu apenas há cento e cinquenta anos, onde os protagonistas eram marcadamente cavalheirescos em comparação.

A Batalha de Moscow é considerada por muitos historiadores como uma das mais importantes conquistas militares de todos os tempos. Foi a primeira grande vitória soviética da Segunda Guerra Mundial, e um evento que provavelmente mudou o curso do conflito. A estratégia de defesa adotada pelos soviéticos foi brilhante, e seus soldados foram extremamente corajosos e determinados durante toda a batalha. A Batalha de Moscow é um exemplo impressionante da força e habilidade dos soldados soviéticos, e um marco importante para a história geral.

Um livro para todo leitor voraz fã de uma escrita histórica, para escritores, autores, professores e amantes de um bom livro.

O AUTOR

Andrew Nagorski é um escritor americano especializado em assuntos relacionados à Europa Oriental, história mundial e assuntos de segurança. Ele é o autor de histórias bem-sucedidas como The Greatest Battle: Stalin, Hitler, and the Desperate Struggle for Moscow That Changed the Course of World War II (2007) e Hitlerland: American Eyewitnesses to the Nazi Rise to Power (2012). Ele também foi vice-presidente executivo da Newsweek International e editor internacional da Newsweek Magazine. Anteriormente, foi editor-chefe da revista internacional de negócios The European, correspondente de guerra para a revista Newsweek e editor de Washington para a Newsweek. Nagorski escreveu para numerosas publicações, incluindo The New York Times Magazine, Foreign Affairs, The Wall Street Journal e The Atlantic. Ele também é o autor de In the Shadow of the Red Banner: Soviet Jews in the War Against Nazi Germany (2013).

[RESENHA #538] A luz dos dias, de Judy Batalion


APRESENTAÇÃO

A luz dos dias, traz a ainda desconhecida história das mulheres judias polonesas que lutaram contra nazistas durante a Segunda Guerra Mundial para proteger o seu povo.

Na Polônia, durante a Segunda Guerra Mundial, mulheres ― algumas ainda adolescentes ― ajudaram a transformar grupos juvenis judeus em células de resistência. O objetivo: combater os nazistas responsáveis pela destruição violenta da comunidade em que viviam. Em sua maioria, elas desempenhavam a função de “mensageiras”, atividade essencial para a operação dos grupos. Mas o trabalho ia muito além da transmissão de informações: elas eram agentes de inteligência, envolvendo-se em missões extremamente arriscadas.

Com coragem e astúcia, essas “mulheres do gueto” atuaram como verdadeiras combatentes durante o Holocausto. Disfarçadas de arianas, infiltraram-se em escritórios da Gestapo; ajudaram a construir bunkers subterrâneos e bombardearam linhas de trem alemãs. Resistiram a sessões de tortura e orquestraram fugas inacreditáveis. Contrabandearam documentos de identidade falsificados, dinheiro, publicações clandestinas e armas. Além disso, cuidaram dos doentes, acolheram as crianças e ajudaram a esconder e a proteger famílias inteiras.

RESENHA

A luz dos dias é o relato incrível da vida de guerrilheiras [Renia Kukiela, Frumk Plotnicka, Zivia Lubetkin, Tosia Altman e Hershel Springer, dentre outras] que lutaram em grupos organizados como resistência aos alemães durante a ocupação na Polônia, atuando nos guetos em turnos. Baseado no livro Freuen in di Ghettos, 1946 [mulheres nos guetos], Judy Batalion  nos brinda a essência da luta destas mulheres e todo o seu poder e inteligência durante o período de ocupação da Polônia.

Tudo começou na pequena cidade de Bdzin, que fora fundada para se tornar uma cidade-fortaleza, guardando a antiga rota comercial entre Kiev e o Ocidente. Em setembro de 1939, o exército invasor alemão tomou Bedzin, incendiaram sinagogas, assassinaram milhares de judeus - que naquela altura constituíam +80% da população, sendo os grandes proprietários de empresas locais -  três anos depois, 20 mil judeus usavam braçadeiras com a estrela de Davi, que acabaram sendo forçados à se mudar de suas casas para bairros menores, repleto de casebres completamente precários em estrutura e espaço, forçando todos a se espremerem. Este novo pedaço de terra onde instaura-se a nova vida judia tinha uma identificação: o gueto.

Esses guetos tinham contato com a Rússia, a Eslováquia, a Turquia, a Suíça e outros territórios não arianos. Assim, nesses bolsões escuros, surgiram células da resistência judaica. (p. 322 in um salto no tempo)

[...] dezenas de judias desconhecidas que lutaram na resistência contra os nazistas, a maioria de dentro dos guetos poloneses. Essas garotas do gueto subornavam guardas da Gestapo, escondiam revólveres dentro de pães e ajudam a construir sistema de bunkers subterrâneos. Flertavam com nazistas, os compravam com vinho, uísque e doces e, furtivamente, os matavam a tiros. (in duras na queda, p.964 (book)]

Os estudiosos do holocausto debatem acerca da definição real da resistência judaica, alguns acreditam que a resistência deu-se por meio da afirmação de um judeu como sendo humano, ou, qualquer ato que desafiasse a ideologia ou os feitos nazistas de maneira direta ou concreta. Outros acreditam que uma definição tão generalista minimiza a importância daquelas pessoas que arriscaram a vida para desafiar ativamente o regime, e que é preciso fazer uma distinção entre resistência e resiliência. (in duras na queda, p.1014 [in e-book]).

O movimento judeu-polonês havia eclodido de vez em pelo menos cinco grandes campos de concentração e extermínio - incluindo Auschwitz, Treblinka e Sobibor - bem como em dezoito campos de trabalho forçado. Trinta mil judeus se juntaram a destacamentos de guerrilheiros nas florestas. Redes judaicas apoiaram financeiramente 12 mil judeus na clandestinidade em Varsóvia. (in duras na queda, p.199 [in ebook])

A partir deste ponto instauraram-se sob todas as cidades da Polônia uma crescente rede de ataques e mortes. A igreja condenava o racismo nazista, mas promovia sentimentos antijudaicos. Nas universidades, os estudantes poloneses defendiam a ideologia racial de Hitler (p.552, in Po-lin [in ebook])

[...] Ao contrário dos judeus mais ricos da cidade, trancados na grande sinagoga enquanto os alemães a encharcaram com gasolina para então incendiá-la, ao contrário dos moradores loais que pulavam de prédios em chamas apenas para serem abatidos por tiros em pleno ar, a família de Renia não foi descoberta. [p. 719 in Do fogo ao fogo [in ebook])

O livro de Judy Batalion é um canto em prol da luta realizada pela resistência judaica nos guetos da Polônia. Uma rede de ação e informação foi criada e expandida em todo o território afetado pela ocupação, todas as cidades contavam com informantes que encarregavam-se de anunciar o estado de ocupação e segurança das respectivas cidades. Mulheres da resistência que tomaram à frente, que buscaram informações, que se passaram por alemãs, que enviavam recados e cartas e que entravam em ação sempre que a situação mudava desfavoravelmente. Uma história real fruto de uma pesquisa muito bem elaborada pela autora, o livro é, sem sombra de dúvidas uma viagem no tempo e uma leitura excelente para quem deseja alçar voos pela história do holocausto e da tragédia que acometeu o povo judaíco. Renia, você sempre será gigante.

A AUTORA

Judy nasceu e foi criada em Montreal, onde cresceu falando inglês, francês, iídiche e hebraico e tentando se manter aquecida. Ela estudou história da ciência em Harvard e depois se mudou para Londres para fazer doutorado em história da arte. Enquanto isso, ela trabalhou como curadora, pesquisadora, editora, palestrante, comediante, MC, leitora de roteiro, dramaturga, performer, atriz, produtora, tradutora, servidora de mmmuffins e temporária – em uma agência temporária.

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