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[RESENHA #945] Gandhi e Churcill: a rivalidade épica que destruiu um império e forjou nossa era, de Arthur Herman

Nessa obra fascinante, finalista do Prêmio Pulitzer de Não Ficção, o historiador Arthur Herman constrói, com detalhes, uma biografia dupla de dois dos maiores líderes do século XX: Mahatma Gandhi e Winston Churchill. Gandhi e Churchill conta a história de duas importantes figuras políticas do século XX que até hoje impactam nossa era. Nascidos em mundos distintos - o primeiro em um lar religioso no interior da Índia, o segundo em uma família aristocrática britânica -, tiveram suas vidas e carreiras entrelaçadas ao protagonizar quarenta anos de rivalidade que selaram o destino da Índia e do Império Britânico.Durante sua longa carreira, Winston Churchill fez o necessário para assegurar que a Índia permanecesse sob o domínio britânico. Chegou a redesenhar todo o mapa do Oriente Médio e até pôr em risco a aliança com os Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Mahatma Gandhi, ao contrário, dedicou a vida à libertação de seu país, desafiou a morte e a prisão e criou um movimento político totalmente novo: satyagraha, ou desobediência civil. Suas campanhas por não violência - em especial sua famosa Marcha do Sal - seriam um ensaio e um exemplo não apenas para a independência da Índia, mas para os movimentos por direitos civis nos Estados Unidos e as lutas por liberdade ao redor do mundo.A partir de uma meticulosa pesquisa, Arthur Herman traz uma narrativa histórica ampla e vigorosa sobre império e insurreição, guerra e intrigas políticas, e conta com um fascinante elenco de apoio, como o general Kitchener, Rabindranath Tagore, Franklin Roosevelt, lorde Mountbatten e Muhammad Ali Jinnah, o fundador do Paquistão.Essa impressionante biografia desconstrói as lendas e os mitos criados sobre esses grandes personagens, expondo seus pontos fortes e suas fraquezas. Além disso, é uma brilhante parábola sobre dois homens poderosos e carismáticos que sempre foram assombrados pelo fracasso pessoal, e que, ao fim da vida, tiveram seus maiores triunfos ofuscados pela perda daquilo que mais estimavam.

RESENHA

Cada um dos mencionados indivíduos desempenhou um papel significativo na política durante o fim do período vitoriano e continuou a ser líder até meados do século XX. Cada um deles tinha uma visão marcante para seu país, que inicialmente prevaleceu de maneira impressionante, mas eventualmente entrou em conflito com as novas realidades modernas. Mohandas Gandhi (1869-1948), nascido em uma família hindu rica na província ocidental de Gujarati, recebeu educação no sistema educacional inglês com o objetivo de se tornar advogado. Ele passou algum tempo em Londres para seus estudos. Sua primeira experiência de discriminação racial aconteceu na África do Sul, onde lutou pela libertação dos trabalhadores contratados. Winston Churchill (1874-1965), filho de um aristocrata que ocupou brevemente o cargo de secretário de Estado da Índia, herdou a crença inabalável de seu pai, Randolph, na missão imperial britânica no subcontinente. Embora Gandhi e Churchill inicialmente tenham aderido à ideia de império como "uma força moral, uma instituição de ordem e civilização", a visão de Gandhi passou por uma mudança drástica. Gradualmente, ele rejeitou a Grã-Bretanha por sua opressão criminosa e tirania, e desenvolveu um novo credo espiritual a partir de suas profundas leituras filosóficas, incluindo Tolstoi, Ruskin e o Bhagavad Gita. Churchill se opunha ao tipo de "fanatismo" religioso de Gandhi, acreditando que isso ameaçava engolir o mundo civilizado cristão na escuridão do paganismo. Quando Gandhi retornou à Índia e entrou na política nacional, ele desenvolveu sua crença na ahimsa (não-violência) e adotou métodos de satyagraha (resistência passiva) para desafiar as políticas paternalistas e restritivas do Raj. Churchill sempre se opôs a ele, rejeitando categoricamente, por exemplo, a defesa do status de domínio para a Índia feita pelo Lorde Irwin em 1929. O retrato feito por Herman de cada homem transmite sua visão de mundo, moldada pela classe social, história e educação. Ambos se mostraram grandiosos, mas também com falhas, de maneiras diversas. Escrito de forma magistral pelo renomado autor Arthur Herman, este livro nos transporta para um período conturbado da história mundial, onde o domínio britânico sobre a Índia estava no auge e as ideias de liberdade e independência começavam a se espalhar.

Herman mergulha profundamente na personalidade e nos valores de Gandhi e Churchill, revelando suas diferenças marcantes. Enquanto Gandhi se destacava por sua filosofia de resistência pacífica e sua busca incansável pela independência indiana, Churchill, por outro lado, defendia a supremacia britânica e a manutenção do império a todo custo. Essas duas visões opostas colidem em uma rivalidade épica, que mudaria o curso da história e deixaria um legado duradouro.

O autor conduz o leitor através de eventos cruciais, como a Marcha do Sal, a Segunda Guerra Mundial e a luta pela independência indiana, evidenciando como as ações de Gandhi e Churchill se entrelaçaram ao longo desses momentos cruciais. Além disso, Herman destaca também os dilemas enfrentados por ambos os líderes em suas vidas pessoais, expondo suas fraquezas e contradições.

Uma das grandes conquistas deste livro é revelar os bastidores dessa rivalidade, proporcionando uma perspectiva única dos desafios e obstáculos enfrentados por Gandhi e Churchill em suas incessantes batalhas políticas. Herman mergulha nas controvérsias e argumentos fervorosos que se desenrolaram durante os anos de confronto, permitindo que o leitor compreenda todas as nuances desse embate histórico.

Além disso, "Gandhi & Churchill" também aborda como essa rivalidade não apenas afetou o império britânico, mas também moldou a nossa era. A luta pela independência indiana e o desmantelamento do império tiveram impactos significativos na política internacional e nas relações globais, abrindo caminho para uma nova ordem mundial.

Com uma narrativa envolvente e uma pesquisa meticulosa, Arthur Herman nos presenteia com um retrato vívido e detalhado da rivalidade entre Gandhi e Churchill. Este livro é uma leitura obrigatória não apenas para os apaixonados por história, mas também para aqueles interessados em compreender como a luta pelo poder e ideais opostos podem se chocar e definir o curso da humanidade.

[RESENHA #944] A Construção Social da Subcidadania: Para Uma Sociologia Política da Modernidade Periférica, de Jessé Souza


Pretende ser uma alternativa teórica às questões centrais da reflexão sobre a singularidade de sociedades periféricas como a brasileira, abordando os temas da subcidadania, da naturalização da desigualdade e da singularidade do processo de modernização entre nós. O objetivo é elaborar uma concepção teórica alternativa, tanto em relação às abordagens personalistas, patrimonialistas e hibridistas destes fenômenos, quanto em relação às percepções conjunturais e pragmáticas que perdem o vínculo com qualquer realidade mais ampla e totalizadora.

RESENHA

A proposta do livro é criticar a centralidade de categorias como personalismo, familismo e patrimonialismo na compreensão das "mazelas" sociais em países periféricos como o Brasil. O autor chama essas categorias de tradição "culturalista essencialista". O objetivo é construir um "paradigma alternativo" de interpretação que conserve o acesso a realidades culturais e simbólicas. O desafio é demonstrar como a desigualdade social em países periféricos, como o Brasil, é resultado de um processo de modernização, não de uma suposta herança pré-moderna e personalista. A desigualdade e sua naturalização na vida cotidiana são modernas, pois estão vinculadas à importação bem-sucedida de valores e instituições modernas. Ou seja, a desigualdade social no Brasil não decorre da falta de modernidade, como algumas teses modernizantes sugerem, mas sim da conflitualidade moderna da sociedade brasileira periférica. Para compreender essa "modernidade periférica", é necessário abandonar as polarizações do tipo "pré-moderno/moderno" e desenvolver uma visão alternativa que critique a própria modernidade ocidental.

Souza dedica uma parte do livro à reconstrução da ideologia espontânea do capitalismo, utilizando a síntese de dois importantes teóricos contemporâneos: Charles Taylor e Pierre Bourdieu. Taylor enfatiza a transição para a modernidade, que redefine a hierarquia social e coloca as esferas práticas do trabalho e da família como atividades superiores e mais importantes. Ele também destaca a oposição entre a concepção instrumental e pontual do self e a configuração expressiva do mesmo. Por sua vez, Bourdieu critica a "naturalização" das relações sociais de dominação através da teoria do habitus, que destaca o caráter irrefletido dos diferentes comportamentos sociais classificatórios. Bourdieu é fundamental nas análises interessadas em desvelar e reconstruir realidades petrificadas e naturalizadas.

Esse aspecto revela-se ainda mais essencial quando consideramos a importância atribuída por Bourdieu ao mascaramento das condições econômicas inerentes à dominação de classe. Em outras palavras, a dominação simbólica - e, nesse sentido, a própria ideologia da igualdade que serve de base para o consenso social e político ocidental - obscurece as relações de desigualdade.

Na segunda parte do livro, intitulada "A constituição da modernidade periférica", Souza analisa o padrão de modernização daquilo que ele chama de "nova periferia" - onde as práticas modernas são anteriores às ideias modernas - e esses traços gerais são investigados através de uma abordagem inovadora que envolve a desconstrução e reconstrução das obras clássicas da interpretação da formação social brasileira, como as de Gilberto Freyre, Luiz Werneck Vianna, Florestan Fernandes e Maria Sylvia de Carvalho Franco.

Nessa empreitada, a obra de Gilberto Freyre ganha destaque. Na verdade, como o próprio autor destaca, é uma maneira de "usar Freyre contra Freyre", ou seja, construir a tese da singularidade da formação social brasileira utilizando os aspectos descritivos presentes na obra de Freyre, sem compartilhar de suas generalizações ideológicas. Essa abordagem se justifica pelo fato de Souza considerar Freyre um dos principais intérpretes do século XIX, que foi um período estratégico para a modernização periférica brasileira. Além disso, a instituição da escravidão assume um papel central na obra de Freyre, ao contrário da maioria dos estudiosos da formação do Brasil: "Se não estou sendo injusto, o tema da escravidão só atinge este status na obra de Joaquim Nabuco e do próprio Gilberto Freyre" (p. 103).

É nesse sentido que Souza identifica em Freyre uma "versão reprimida" do cerne da singularidade da escravidão brasileira, resgatando uma interpretação específica do patriarcalismo a partir da conhecida ideologia do sincretismo cultural, que por sua vez é relacionada ao conflito "sadomasoquista" inerente à relação social da escravidão:

No caso brasileiro, estamos lidando com um conceito extremo de sociedade, onde a ausência de instituições intermediárias faz do elemento familiar seu principal componente. [...] É justamente como uma sociedade constitutiva e estruturalmente sadomasoquista, em busca de uma patologia social específica, onde a dor do outro, o não reconhecimento da alteridade e a perversão do prazer se tornam os objetivos máximos das relações interpessoais, que Gilberto Freyre interpreta a essência do patriarcalismo brasileiro (p. 115).

Souza também passa por uma obra clássica de Maria Sylvia de Carvalho Franco, "Homens livres na ordem escravocrata", com o objetivo de estabelecer os vínculos entre escravos - função produtiva essencial - e dependentes livres - franjas da atividade econômica - e melhor caracterizar a "ralé" que cresceu e vagou ao longo de quatro séculos: homens dispensáveis, desvinculados dos processos essenciais à sociedade. Da mesma forma, o autor analisa os livros de Florestan Fernandes sobre "A revolução burguesa no Brasil" e de Luiz Werneck Vianna sobre "Liberalismo e sindicato no Brasil", sempre com o objetivo de compreender melhor a singular construção de um capitalismo periférico marcado por processos sociais que poderíamos qualificar como "modernização conservadora" ou "revolução passiva", segundo Antonio Gramsci, desde a Independência nacional até o período pós-1930 e a hegemonia ideológico-política do "organicismo estatal".

Na terceira e última parte do livro, intitulada "A construção social da subcidadania", encontramos um esforço final para tornar mais precisa a compreensão da especificidade do processo de modernização capitalista no Brasil, cuja forma predominante repousa sobre a constituição de uma espécie de "ralé" estrutural naturalizada pela reprodução característica de nossa desigualdade periférica. Souza busca lançar novas luzes sobre a formação de um padrão especificamente periférico de cidadania e subcidadania ao longo do período de emergência e estruturação de nossa vida republicana.

Para isso, o autor dialoga criticamente com a obra de Florestan Fernandes, "A integração do negro na sociedade de classes", no que diz respeito à problemática inserção do liberto nas novas condições marcadas pela modernização capitalista. Souza procura deslocar o argumento do processo de marginalização permanente de grupos sociais, baseado no preconceito de cor, para a formação de um "habitus precário" estruturado sobre concepções morais e políticas. O conceito de "habitus precário", construído a partir da combinação de ideias de Bourdieu e Taylor, implica um tipo de padrão comportamental que afasta indivíduos e grupos dos padrões utilitários do universo mercantil, tornando inviável um reconhecimento social moderno do significado de ser "produtivo" na sociedade capitalista, tanto na central quanto na periférica.

É possível perceber que o livro de Jessé Souza tem potencial para interessar seus leitores, tanto acadêmicos como não acadêmicos. Isso se deve ao fato de que se trata de uma interpretação vigorosa e madura das contradições brasileiras. No entanto, como ocorre com qualquer leitura de qualidade, estimula o desejo de discutir e argumentar.

Nesse sentido, gostaria de me distanciar de uma passagem que se encontra no final da obra, na qual se afirma que todas as ênfases deslocadas passam ao lado da contradição principal da sociedade brasileira. A meu ver, a contradição principal não está tanto na constituição de uma "ralé" de inadaptados às demandas produtivas, mas sim na instrumentalização estrutural do processo de marginalização social para expandir e reproduzir as bases econômicas do capitalismo brasileiro.

Dito de outra forma, a pobreza desempenha um papel funcional tanto no regime de acumulação quanto no modo de organização da vida política no Brasil, com seus padrões de cidadania e "subcidadania". Portanto, as classes subalternas brasileiras, dada suas características históricas fundamentais, não são de forma alguma inadaptadas à produção moderna.

Ao contrário do que o autor sugere, a "ralé" mencionada representa um dos aspectos essenciais da reprodução do padrão de acumulação capitalista periférico, que se baseia na relação entre o desenvolvimento capitalista e a superexploração do trabalho. Portanto, a discussão sobre o caráter singular da nossa modernidade não pode prescindir da teoria marxista da dependência, que argumenta que o subdesenvolvimento é produto da evolução capitalista periférica.

Vale mencionar que as ideias de Ruy Mauro Marini e Francisco de Oliveira, assim como as de Jessé Souza, questionam as polarizações do tipo "pré-moderno/moderno" na análise da singularidade da nossa formação social. Embora faça essa ressalva crítica, é importante destacar os méritos do livro, em particular o esforço profícuo de complexificar os marcos teóricos interpretativos acerca da sociedade brasileira.

Jessé SOUZA. A construção social da subcidadania: para uma sociologia política da modernidade periférica. Belo Horizonte, Editora da UFMG, 2003. 212 páginas.


[RESENHA #943] A anatomia do fascismo, de Roberto O. Paxton

APRESENTAÇÃO: O autor demonstra que, para compreendermos o fascismo, temos que examiná-lo em ação - levando em conta o que ele fez, e não apenas o que ele dizia ser. Ele explora as falsidades e as características em comum do fascismo; a base social e política que permitiu que ele prosperasse; seus líderes e suas lutas internas; as diferentes formas pelas quais ele se manifestou em diferentes países - França, Grã-Bretanha, os Países Baixos, o Leste Europeu e até mesmo na América Latina, como também na Itália e na Alemanha; de que forma os fascistas encararam o Holocausto e, por fim, se o fascismo ainda seria possível nos dias de hoje.

RESENHA

O livro "A Anatomia do Fascismo", escrito por Robert O. Paxton, apresenta aos historiadores da história política e intelectual um argumento crucial sobre o papel das ideias nos movimentos políticos. Embora reconheça a importância das ideias por trás do fascismo para entender suas origens e estágios iniciais, Paxton defende que o que os fascistas fizeram uma vez no poder é igualmente, se não mais, relevante para compreender e diagnosticar o fascismo como um movimento político com consequências extraordinárias.

Aceitar esse argumento implica que os historiadores das ideias talvez tenham que reduzir algumas de suas principais abordagens. Embora seja poderoso abordar a história política, social e cultural através do estudo das ideias, isso automaticamente implica que as ideias podem revelar e explicar como e por que as coisas aconteceram de determinada maneira. Novamente, Paxton não nega essa abordagem, mas sugere que o papel da história intelectual não pode ser central ao analisar o fascismo, pois muitas vezes as ideias se transformam ou desaparecem completamente quando os fascistas assumem o poder. Portanto, é necessário compreender como pode haver uma desconexão entre ações e ideias, assim como a causalidade, e como as manipulações retóricas frequentemente representam estratégias políticas conscientes ou subconscientes como as verdadeiras fontes de descontentamento.

Um exemplo que Paxton explora é a postura antiestabelecimento e antipolítica dos partidos fascistas em seus estágios iniciais. Desprezar todas as instituições do país e afirmar estar "acima da política" eram características comuns tanto no início do fascismo alemão quanto no italiano. Os nazistas, em particular, eram habilidosos na criação de organizações sociais alternativas para todas as funções possíveis, a fim de afastar os alemães de lealdades tradicionais e ligá-los emocionalmente ao partido. Segundo Paxton, fingir ser "antipolítico" muitas vezes era eficaz entre pessoas cuja principal motivação política era o desprezo pela política. Em situações em que os partidos existentes estavam limitados a fronteiras de classe ou religiosas, como partidos marxistas, pequenos proprietários ou cristãos, os fascistas podiam apelar prometendo unir as pessoas em vez de dividi-las. No entanto, essa característica não era exclusiva dos fascistas, que se saíram particularmente bem em nações que enfrentavam sérias crises de legitimidade. Na Alemanha, por exemplo, todos os partidos antissistema uniram-se para culpar a República de Weimar por seu fracasso em lidar com qualquer uma das crises. Ao fazer comparações entre os eleitores de Trump e os apoiadores de Sanders, é importante reconhecer essa limitação ao explorar esse aspecto do fascismo para buscar uma alma "essencial".

Uma vez no poder, os fascistas tendem a rejeitar em grande parte as discussões antiestablishment (designa um indivíduo, grupo ou ideia que é contra as instituições oficiais). Embora realizem ações drásticas e revolucionárias com o aparato estatal, como o Holocausto, que pode ser considerado uma forma de "mal radical" de acordo com Arendt, eles geralmente mantêm as estruturas existentes do Estado e tentam controlá-las. Isso pode ser feito substituindo-as por legalistas ou criando estruturas partidárias paralelas que desempenham funções semelhantes, permitindo a existência de uma burocracia pública mais tradicional. Na Itália, Mussolini fez poucas alterações em certos pontos sensíveis (como a Igreja Católica), o que levou à marginalização ou descarte de alguns de seus seguidores mais puritanos. Em termos de transformação do Estado, os regimes fascistas fizeram algumas mudanças significativas, mas deixaram a distribuição de propriedades e a hierarquia econômica e social praticamente intactas, diferindo assim da noção clássica de revolução desde 1789.

O mesmo padrão é observado na retórica econômica fascista inicial em comparação com as políticas adotadas uma vez no poder. Embora os fascistas tenham adotado uma retórica antiburguesa e até anticapitalista em seus primeiros dias de organização (especialmente na Alemanha, onde havia uma forte dose de antissemitismo), essas discussões não tiveram um impacto significativo nos sistemas econômicos quando os fascistas assumiram o poder. De fato, como afirma Paxton, "na prática, descobriu-se que o anticapitalismo dos fascistas era altamente seletivo... em nenhum aspecto as propostas iniciais do fascismo diferiam mais do que o que os regimes fascistas realmente fizeram em termos de política econômica". No entanto, os fascistas não eram simplesmente marionetes do capital, pois viam a economia e seus capitalistas como um meio para alcançar um objetivo maior. "A política econômica fascista se desenvolvia com base em prioridades políticas, não na lógica econômica". Isso fornece uma compreensão clara e convincente da relação entre fascismo e capitalismo. Embora eu acredite que o fascismo seja uma crise resultante do capitalismo, isso não significa que tenha sido apenas uma criação do capital ou um resultado inevitável. Na verdade, os fascistas priorizaram muitas coisas além dos resultados financeiros, como a conquista territorial, mas se mostraram muito mais consistentes em sua postura anti-socialista e anti-igualitária do que a retórica inicial sugeria.

O termo "fascismo" surgiu em 1919 com Mussolini e desde então tem sido frequentemente aplicado de forma generalizada a diversos grupos políticos à direita da pessoa que o utiliza. Paxton, um historiador, busca resgatar o significado do termo, reconhecendo que uma definição restrita é impossível. Em sua busca por compreensão, Paxton examina como uma variedade de movimentos fascistas conquistaram seguidores, estabeleceram alianças e exerceram o poder. Embora existam variações ao longo do tempo e do espaço, ele identifica características que distinguem o fascismo de outros regimes autoritários. Os fascistas são marcados por um estilo de comportamento político que enfatiza queixas históricas, culto à liderança, confiança em movimentos de massa de militantes nacionais, repressão de liberdades democráticas e uso de violência como ferramenta política. O livro "Vichy France", de Paxton, se tornou referência na área, apesar de sua tese controversa de que o regime de Vichy não foi apenas imposto pelos nazistas, mas tinha raízes internas. Com base em décadas de pesquisa e ensino, "A Anatomia do Fascismo" provavelmente será igualmente confiável, fornecendo um ensaio bibliográfico aprofundado que guiará acadêmicos e estudantes de pós-graduação nos próximos anos.

O valor deste livro vai além da compreensão histórica; ele é fundamental para qualquer pessoa preocupada com a sobreposição entre os movimentos contemporâneos de extrema direita e os fascismos clássicos. Paxton é refrescante porque não é excessivamente historicista e, ao mesmo tempo, busca definir conceitos de forma útil. Para mim, como historiador intelectual, o mais instigante é como Paxton interage com as ideias do fascismo, sem presumir que são a única ou mesmo a principal fonte para entender o fascismo. As ideias políticas são ferramentas políticas e, na maioria das vezes, podem ser adotadas ou abandonadas quando não são mais úteis. Que ideia simples, focar tanto ou mais no que os fascistas realmente fazem, ou seja, como chegaram a desempenhar o papel máximo em nossa imaginação moderna como o mal absoluto.

Essa simples percepção se torna extremamente relevante para a direita contemporânea ao considerarmos a grande desconexão entre o que os conservadores dizem acreditar e as políticas que realmente seguem ou condenam. Dos seguidores religiosos aos defensores do livre mercado, há pouca ou nenhuma consistência a ser encontrada. Os ativistas antiaborto valorizam a vida, mas parecem ignorar as necessidades médicas do bebê após o nascimento, e os libertários acreditam na liberdade em todas as áreas da vida, exceto no trabalho, onde passam a maior parte do tempo.

Essas contradições não surgem da confusão dos próprios conservadores, por mais autoilusórios que possam ser, mas estão integradas em sua ideologia política, pois servem para tornar aceitáveis e legítimas ideias que de outra forma seriam ofensivas ou claramente imorais. Portanto, essas ideias não são menos importantes por serem falsas, e o trabalho dos cidadãos preocupados em documentar o quão desastrosamente eficazes essas ideias podem ser não é menos urgente.

[RESENHA #942] O caçador da escuridão, de Donato Carrisi

APRESENTAÇÃOMarcus não possui identidade, memória, amor ou ódio. Ele só tem duas coisas: raiva e um talento que faz questão de esconder. Ele é o último dos penitencieiros: um padre com a capacidade de rastrear anomalias e vislumbrar os fios que tecem a trama de cada assassinato. Mas nem todas as tramas podem ser reconstruídas.

Sandra é uma mulher tentando se recompor. Ela também trabalha em cenas de crime, mas, ao contrário de Marcus, não precisa se esconder, apenas atrás das lentes de sua câmera. Sandra é fotógrafa forense, e seu talento é registrar o nada para torná-lo visível. Mas desta vez o nada ameaça engoli-la.

Uma série de mortes acontece em Roma num padrão terrível, mas sedutor. E, cada vez que Marcus e Sandra acham que entenderam parte da verdade, eles descobrem um cenário ainda mais perturbador e ameaçador.

Um novo thriller literário sensacional do autor best-seller de O aliciador e de O tribunal de almasO caçador da escuridão capta a bela atmosfera de Roma e explora seus segredos mais sombrios.

RESENHA 

Viemos ao mundo e morremos esquecidos.

A mesma coisa aconteceu com ele. Ele nasceu pela segunda vez, mas ele teve que morrer primeiro. O preço foi esquecer quem ele era. eu não Eu existo, ele repetia para si mesmo, porque era a única verdade que ele conhecia.

A bala que perfurou sua têmpora havia tirou o passado e, com ele, sua identidade. No entanto, não fez nada os centros gerais de memória e linguagem, e – estranhamente – ele falava vários línguas. Esse talento singular para línguas era a única coisa certa sobre si mesmo.

Enquanto, em Praga, esperava numa cama de hospital por para descobrir quem ele era, ele acordou uma noite e o encontrou ao lado da cama um homem de aparência suave, com cabelo preto repartido parte e o rosto de um menino. Ela sorriu para ele, proferindo apenas uma frase.

“Eu sei quem você é.”Essas palavras deveriam tê-lo libertado, mas em vez disso foram apenas o prelúdio para um novo mistério.

Marcus possui um dom singular, ou talvez seja uma maldição. Ele tem a habilidade de enxergar o mal disfarçado na aparente normalidade da vida cotidiana, captando perturbações quase imperceptíveis. Ele chama essas perturbações de "anomalias". Marcus consegue se conectar com os criminosos a ponto de interpretar sua psicologia com base nos detalhes dos locais dos crimes, revelando significados ocultos para os outros.

Marcus é membro de uma instituição prisional que está sendo investigada pela Igreja. Nessa instituição, encontra-se o maior arquivo de crimes da história humana. Entre todos os tipos de crimes, ele se concentra naquele que envolve um mal absoluto, um pecado mortal, a personificação do diabo. Há tantas maneiras de tentar expressar algo tão elusivo e assustador: o mal intrínseco à alma humana.

Mas, quem é de fato Marcus?

Existe um lugar onde o mundo da luz se encontra com aquele da escuridão. É onde tudo acontece: na terra das sombras, onde tudo é rarefeito, confuso, incerto. Você foi um guardião colocado para defender isso limitar. Porque de vez em quando alguma coisa acontece. Sua tarefa era mande-o de volta.

Há muito tempo você fez um juramento: ninguém o fará saiba da sua existência. Nunca. Você só poderá dizer quem você é a tempo ocorre entre o relâmpago e o trovão.

Você é o representante máximo de uma ordem sagrada. A penitenciária. Você esqueceu o mundo, mas o mundo também se esqueceu de você. Mas era uma vez, as pessoas chamavam vocês de caçadores das trevas.

Ele é conhecido como o caçador das trevas. No começo do romance, ele recebe o chamado para investigar o brutal assassinato de uma freira em uma floresta no interior do Vaticano. Marcus, também conhecido como o "penitencieiro", é identificado por figuras influentes do Vaticano como o indivíduo ideal para perseguir o mal onde quer que ele se esconda. A partir daí, desenrola-se uma história repleta de reviravoltas e segredos terríveis.

A investigação de Marcus começa nos jardins do Vaticano, onde uma freira é encontrada desmembrada. Durante suas investigações, ele se depara com outros crimes macabros, como o ataque a casais com rituais bárbaros e incompreensíveis. A tensão emocional é sempre alta, não há momentos de pausa e a cada capítulo surgem novas reviravoltas e mistérios.

Um objeto estranho é descoberto na cena do crime simbólico: uma boneca feita de sal. A emocionante história continua delineando a identidade do assassino, um louco homicida que "se não for detido, não Vai parar." Marcus, portanto, continua o suas investigações nas sombras, convencendo-se de que o assassino mata "por necessidade". Para entender e descobrir o que está por trás do massacre, precisaremos nos aprofundar mistérios obscuros. 

O leitor, lendo Carrisi, deve libertar sua mente de tudo limitação, deve aceitar pistas contínuas que mostram cada vez mais cenários perturbador e ameaçador. Você terá que, com fé, aceitar a existência do Instituto Hamelin, onde as crianças que mataram ou foram levadas eles mostraram tendências homicidas marcantes. Será uma instituição de saúde, de reeducação? Não! O objetivo do instituto é selecionar e apoiar os a criança mais “criminosa”, “mais perversa”.  

O monstro narra, através dos crimes, uma história conto. Seu impulso assassino tem um propósito, precisa de público, sim expressa através de figuras antropomórficas. Conheceremos a criança salgada, a filho da luz, filho do fogo, homem com cabeça de lobo. O que eles representam? São símbolos do Mal, estão ligados a eventos criminosos através do qual eles contam seu próprio conto de fadas pessoal, onde nem todos os homens eles apoiam os “mocinhos”, muitos estão do lado dos bandidos. Ontem como hoje, o homem sempre adorou a violência: no passado, os cidadãos do Coliseu acompanharam, com grande participação, o espetáculo dos gladiadores que eles se mataram. Hoje, com a mesma morbidade, são muitos os que seguem a eventos de notícias criminais.

Marcus tentará, e nós com ele, lutar contra o Mal, vivendo suas próprias esperanças e medos. Será impossível se desvencilhar este livro até que, num crescendo de tensão, você chega ao último linha. Mas mesmo depois de ler o final, envolvente e inesperado, há você perceberá que a palavra “fim” perde, com Carrisi, seu significado: O mal só perdeu uma batalha, não a guerra. Ao longo da história, outros personagens entram em cena, como uma jovem fotógrafa forense policial, seu namorado ingênuo e um oficial russo com um filho vítima da loucura de seu pai. Marcus se vê envolvido em um emaranhado de situações obscuras, sem saber ao certo quem está por trás das missões que lhe são atribuídas.

A última aventura do penitencieiro revela uma verdade surpreendente, tanto dentro como fora dos muros do Vaticano. Durante uma viagem à África, ele descobre revelações chocantes que colocam em xeque a existência do bem sem o mal. O autor revela em entrevista que algumas referências históricas do romance são verdadeiras e que existem arquivos secretos no Vaticano inacessíveis ao público.

Apesar de apresentar momentos fictícios e caricatos, a narrativa de Carrisi possui um ritmo envolvente e momentos de suspense bem construídos. O autor não se aprofunda nos aspectos psicológicos dos personagens, focando mais no desenvolvimento da trama e na interligação das investigações. No entanto, ele demonstra meticulosidade ao encaixar todas as peças do quebra-cabeça, utilizando recursos visuais, como listas de elementos encontrados nas cenas dos crimes.

Um livro incrível para nos acompanhar em todos os momentos.

[RESENHA #941] As sete luas de Maali Almeida, de Shehan Karunatilaka


APRESENTAÇÃO: Colombo, Sri Lanka, 1990. Maali Almeida descobre da pior maneira possível que existe vida após a morte: ele acorda no Interstício, um lugar cheio de almas confusas e perdidas. Nessa espécie de purgatório, ele descobre que foi assassinado e que seu corpo desmembrado está afundando no Lago Beira, mas não faz ideia de quem o matou. Numa época em que o acerto de contas é feito por esquadrões da morte, capangas e homens-bombas, a lista de suspeitos é enorme.

Maali era fotógrafo de guerra, viciado em apostas e, apesar de ter se relacionado com muitos homens, nunca se assumiu gay. Antes de morrer, ele tirou fotos que poderiam abalar o seu país e as guardou em envelopes, cada um representado por uma carta de baralho. Para que a morte dele não seja em vão, ele precisa entrar em contato com as pessoas que ama, guiá-las até o esconderijo das fotografias e dar sua cartada final. Só tem um problema: se ele quiser ir para a Luz, precisa fazer isso antes da sétima lua.

As sete luas de Maali Almeida é um romance cheio de fantasia e realidade. Shehan Karunatilaka, um dos autores mais proeminentes do Sri Lanka, usa seu humor mordaz e transforma os leitores em testemunhas da brutalidade da guerra civil no país. Ao vagarmos com Maali pelo além, somos confrontados com verdades perturbadoras sobre a vida e a morte.

RESENHA

O cenário é Colombo, no final de 1989, quando a guerra civil no Sri Lanka causa caos e morte. Maali Almeida, uma fotógrafa freelancer, acorda na vida após a morte, chamada de In Between, sem memória de como morreu. O In Between é exatamente o que o nome sugere - um lugar conectado ao mundo dos vivos e um centro lotado de burocracia para as almas que se preparam para seguir em direção à Luz. Maali tem sete luas, o mesmo que sete dias, para resolver seus assuntos antes de ficar preso para sempre no In Between, onde sua alma ficará exposta a todos os tipos de ghouls, demônios, fantasmas famintos e monstros como o Mahakali. A vida após a morte é habitada por rebeldes mortos que querem vingança, suicidas que continuam a pular de prédios, turistas mortos que continuam a passear e Ajudantes que tentam orientar os recém-mortos nesta fase de transição. Durante sua jornada, Maali conversa com vários compatriotas que, em sua vida após a morte, refletem sobre diversos temas, como a situação política do Sri Lanka, religião, família, injustiça, guerra e o que realmente importa na vida. É uma escolha deliberada de Karunatilaka permitir que muitas vítimas do Sri Lanka falem, em vez de sucumbir ao "doce esquecimento e ao sono sem sonhos".

A vida após a morte de Maali é tão complexa quanto a sua vida. Ele é obrigado a ver seu corpo sendo cortado e jogado no poluído Lago Beira por "lixeiros" - criminosos contratados para se livrar dos inúmeros corpos que resultam dos atos violentos que marcam a guerra civil. À medida que Maali compartilha aos poucos a história de sua vida com o leitor, descobrimos sobre as fotos que ele guardou cuidadosamente - evidências de atrocidades cometidas contra civis por esquadrões da morte do governo, e dos funcionários corruptos que organizam esses atos horríveis - que podem ser a chave para seu assassinato. Há também os relacionamentos complicados com seu melhor amigo, colega de quarto e namorada falsa, Jaki, e seu amante secreto DD, filho de um poderoso ministro do governo. Enquanto Jaki e DD estão determinados a encontrar seu amigo desaparecido, Maali tenta desesperadamente levá-los às fotos e negativos que irão abalar a sociedade de Colombo.

O romance de Karunatilaka é divertido, mas também sombrio, confrontando o leitor com a realidade de um conflito que durou mais de duas décadas. A narrativa volta constantemente aos eventos sangrentos de 1983 - o começo oficial da longa guerra civil que foi principalmente travada entre o governo cingalês dominante do Sri Lanka e o grupo militante Tigres de Libertação do Tamil Eelam (LTTE) que lutava por uma pátria independente Tamil no norte e leste do país. Como fotojornalista e 'fixador' de entrevistas para a Associated Press, Maali interage com todas as facções do conflito, fornecendo vários suspeitos que poderiam ter sido responsáveis ​​por sua morte. Mas o mais importante é que o papel de Maali como personagem permite a Karunatilaka revelar uma sociedade profundamente e prejudicialmente dividida por diferenças étnicas e políticas. Como Maali escreve a um jornalista americano para explicar as complexidades do conflito: "Não tente procurar os mocinhos porque não há nenhum".

A narração de Maali é feita em segunda pessoa, uma abordagem incomum, que tem o efeito de mergulhar e conectar mais intimamente o leitor às experiências de Maali. Além disso, enfatiza sua descoberta de que os mortos estão sempre por perto, sussurrando para os vivos ou visitando-nos em nossos sonhos, confundindo a linha entre o que são nossos próprios pensamentos e o que está sendo sussurrado para nós.

Maali testemunhou a crueldade das rebeliões no Sri Lanka. Como jornalista e fotógrafo, seu sonho era tirar fotos "que derrubassem governos. Fotos que acabassem com as guerras". Ele fotografou "o ministro do governo que viu os selvagens de 1983 queimarem casas tâmeis e matarem seus moradores", e fez "retratos de jornalistas e ativistas desaparecidos, amarrados, amordaçados e mortos em custódia".

Essas fotos estão escondidas debaixo da cama na casa de sua família. Agora, preso no mundo inferior, ele tem apenas sete luas - uma semana - para se comunicar com sua amiga Jaki e sua prima, convencê-los a recuperar as fotos e espalhá-las por Colombo, a maior cidade do Sri Lanka, para revelar a violência extrema do conflito. Maali é informado de que "cada alma tem sete luas para andar pelo Intermediário. Para recordar vidas passadas. E depois, esquecer. Eles querem que você esqueça. Porque, quando você esquece, nada muda". Maali não quer que seu papel como testemunha seja esquecido. Sua própria morte lhe mostrou a fragilidade da vida, e as fotos são seu legado para seu país e uma defesa contra a amnésia coletiva.

As Sete Luas de Maali Almeida é escrito na segunda pessoa, o que dá à narrativa um leve efeito de distanciamento, mas é compensado pelo humor sarcástico. Em um trecho, o narrador diz: "Você tem uma resposta para aqueles que acham que Colombo está lotada: espere até vê-la cheia de fantasmas". Outro pergunta: "Os animais têm vida após a morte? Ou seu castigo é renascer como humano?" Outra característica atraente é o uso vivo de símiles: o corpo espancado de um homem é descrito como tendo costelas quebradas "como um coco rachado".

As Sete Luas de Maali Almeida é um romance que merece ser lido, tanto pela sua qualidade literária quanto pela sua relevância temática. É uma obra que nos faz rir, chorar, temer e esperar, ao mesmo tempo que nos mostra uma realidade que não podemos ignorar. É uma obra que nos faz lembrar que, como diz Maali, “quando você esquece, nada muda”.

[RESENHA #934] Dom Quixote, de Miguel de Cervantes


Dom Quixote é uma obra-prima da literatura mundial escrita por Miguel de Cervantes. Publicado pela primeira vez em 1605, o livro é considerado um dos mais importantes da história da literatura e um marco na literatura espanhola. Com uma narrativa rica e complexa, Dom Quixote retrata a história de um cavaleiro errante que busca justiça e aventura em um mundo que ele próprio cria em sua mente.

A história de Dom Quixote é ambientada na Espanha do século XVII e gira em torno de um personagem chamado Alonso Quijano, um homem de meia-idade que enlouquece após ler muitos livros de cavalaria. Convencido de que é um cavaleiro andante, ele decide adotar o nome de Dom Quixote e parte em busca de aventuras, acompanhado por seu fiel escudeiro Sancho Pança.

A narrativa de Cervantes é extremamente rica em detalhes e apresenta uma variedade de personagens e situações. Ao longo da história, Dom Quixote se envolve em uma série de episódios cômicos e trágicos, nos quais ele enfrenta moinhos de vento que acredita serem gigantes, desafia cavaleiros imaginários e se apaixona por uma camponesa chamada Dulcineia del Toboso, que ele idealiza como uma princesa.

Uma das características mais marcantes de Dom Quixote é a forma como Cervantes brinca com a realidade e a ficção. O autor utiliza a figura de Dom Quixote para explorar os limites entre a loucura e a sanidade, questionando a natureza da realidade e a importância da imaginação. Ao longo da história, Cervantes faz com que os personagens questionem se Dom Quixote é realmente louco ou se ele está apenas vivendo em um mundo de fantasia.

Além disso, o livro também aborda temas como a honra, a lealdade, a justiça e a busca pelo ideal. Dom Quixote é retratado como um herói idealista que luta por seus princípios, mesmo que isso o leve a situações ridículas e perigosas. Por outro lado, Sancho Pança representa a voz da razão e da realidade, constantemente tentando convencer Dom Quixote de que suas aventuras são apenas ilusões.

A escrita de Cervantes é brilhante e cheia de humor. Ele utiliza uma linguagem rica e poética para descrever as aventuras de Dom Quixote, criando um contraste entre a grandiosidade dos ideais do cavaleiro e a realidade mundana em que ele vive. O autor também utiliza uma série de recursos narrativos, como diálogos, cartas e narrativas dentro da narrativa, para enriquecer a história e explorar diferentes perspectivas.

Além disso, Dom Quixote é uma obra que transcende o tempo e o espaço. Embora seja ambientado na Espanha do século XVII, a história e os personagens são universais e atemporais. A figura de Dom Quixote, com sua busca por justiça e sua luta contra as injustiças do mundo, continua a ressoar com os leitores até os dias de hoje.

Curiosidades

O nome original do livro é "El ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha".
Foi publicado pela primeira vez em dois volumes, em 1605 e 1615.
O autor, Miguel de Cervantes, foi um soldado, escritor e dramaturgo espanhol.
O livro é considerado uma das obras-primas da literatura universal.

Período histórico

O livro foi escrito no período da Espanha Barroca, que se estendeu do século XVI ao XVII. Nesse período, a Espanha era um império poderoso, mas também estava em declínio. O livro reflete esse contexto histórico, ao satirizar os valores da cavalaria medieval, que já estavam ultrapassados.

Importância política

O livro foi importante para a formação da identidade espanhola. Ele ajudou a criar um senso de unidade nacional, ao satirizar os valores da nobreza e exaltar os valores do povo.

Personagens

Os personagens principais do livro são:
  • Dom Quixote: um fidalgo da Mancha que perde a cabeça com os romances de cavalaria.
  • Sancho Pança: um camponês que se torna escudeiro de Dom Quixote.
  • Dulcinéia del Toboso: a amada idealizada de Dom Quixote.

Importância e relevância social

  • O livro é importante por diversos motivos, entre eles:
  • É uma obra de humor e crítica social.
  • É uma reflexão sobre a natureza humana.
  • É um clássico da literatura universal

O livro é relevante para a sociedade moderna por diversos motivos, entre eles:
  • Seus temas são universais e ainda são relevantes hoje.
  • Sua crítica social é ainda atual.
  • É uma obra de arte que continua a encantar leitores de todas as gerações.

O livro “Dom Quixote” é uma obra complexa e rica, que pode ser interpretada de diversas maneiras. É uma obra que continuará a ser estudada e admirada por muitas gerações.

Em suma, Dom Quixote é uma obra-prima da literatura que merece ser lida e apreciada. Com sua narrativa rica e complexa, personagens memoráveis e temas universais, o livro de Miguel de Cervantes continua a encantar e inspirar leitores de todas as idades. Seja pela sua crítica à sociedade, pela sua reflexão sobre a natureza da realidade ou pela sua capacidade de nos transportar para um mundo de aventuras e imaginação, Dom Quixote é uma leitura indispensável para qualquer amante da literatura.
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