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Como escreve: Vitor Zindacta

Rio Verde, GO – Para além das páginas de seus livros, que viajam por diferentes gêneros e emoções, existe um autor com uma rotina, um método e um processo de imersão. Vitor Zindacta, radicado em Rio Verde, Goiás, não apenas cria narrativas, mas constrói universos a partir de uma disciplina que mescla inspiração, pesquisa acadêmica e um profundo trabalho emocional.

Nesta conversa, abrimos a porta do ateliê de escrita de Vitor para entender como nascem suas histórias, como ele se prepara para temas tão diversos e qual é a rotina que sustenta sua produção literária no coração do Brasil.


REDAÇÃO: Vitor, todo escritor tem um ponto de partida. Como uma nova ideia para um livro costuma surgir para você? É uma imagem, uma frase, um personagem, um tema que te inquieta?

Vitor Zindacta: Raramente é algo completamente formado. Geralmente, começa com uma inquietação, um sentimento difuso ou uma imagem persistente. Para um de meus romances de paixão, por exemplo, a faísca foi a imagem de um casal em um espaço decadente, onde o desejo parecia ser a única coisa ainda intacta. Já para meu trabalho de não ficção sobre a superação da dor, a motivação foi a inquietação de ver pessoas ao meu redor sofrendo em silêncio. A partir desse núcleo, começo a fazer perguntas. Quem são essas pessoas? O que as trouxe até aqui? A ideia vai ganhando corpo nesse processo investigativo.

REDAÇÃO: Uma vez que a semente da ideia germinou, como você estrutura seu processo de escrita? Você é um escritor "arquiteto", que planeja tudo antes, ou um "jardineiro", que descobre a história enquanto escreve?

Vitor Zindacta: Eu diria que sou um arquiteto que adora redesenhar a planta no meio da obra. Gosto de ter uma estrutura mínima: um ponto de partida claro, uma vaga noção do clímax e do final. Isso me dá um mapa. No entanto, acredito que os personagens ganham vida durante a escrita. Eles me surpreendem, tomam decisões que eu não previ, e me forçam a mudar o percurso. Planejo o suficiente para não me perder, mas deixo espaço para a mágica do improviso e da descoberta.

REDAÇÃO: Sua rotina de escrita é regrada? Você tem um horário fixo, uma meta de palavras diária, ou escreve conforme a inspiração aparece?

Vitor Zindacta: A inspiração é bem-vinda, mas a disciplina é quem paga as contas. Tento manter uma rotina. Geralmente, as manhãs são dedicadas à escrita criativa, que é quando minha mente está mais limpa. Estabeleço metas mais por tempo do que por palavras, por exemplo, "escrever focado por duas horas". Acredito que o simples ato de sentar e se colocar à disposição da escrita, mesmo nos dias difíceis, cria um hábito poderoso e mostra ao seu cérebro que aquilo é um trabalho sério.

REDAÇÃO: Seus estudos em História e História da Arte certamente influenciam suas obras. Como funciona, na prática, o seu processo de pesquisa? Como você integra esse conhecimento acadêmico na construção das suas narrativas?

Vitor Zindacta: A pesquisa é uma das minhas partes favoritas. Ela funciona como o alicerce invisível que sustenta a história. Mesmo que a trama se passe hoje, eu pesquiso a história do lugar, os costumes, a arquitetura. A História da Arte me ajuda a criar a paleta de cores, a atmosfera visual das cenas. Eu monto dossiês, coleciono imagens, leio artigos. O objetivo não é despejar dados no texto, mas absorver tudo para que o mundo que estou criando seja crível, denso e texturizado.

REDAÇÃO: Como você se prepara emocionalmente para escrever sobre temas tão carregados como o desejo obsessivo ou a dor profunda? Existe um ritual ou um método para entrar e sair desses estados mentais?

Vitor Zindacta: Essa é uma parte crucial e desafiadora. Para entrar no estado mental, eu uso muito a música. Crio playlists específicas para cada projeto, quase como uma trilha sonora que me transporta para o universo daquela história. Para sair, o que é igualmente importante para a saúde mental, preciso de um ritual de desligamento. Geralmente envolve atividades físicas, como uma caminhada, ou me dedicar a algo completamente diferente. É preciso criar uma fronteira clara entre a vida do autor e a vida (muitas vezes caótica) dos personagens.

REDAÇÃO: O bloqueio criativo é um fantasma para muitos escritores. Como você lida com ele quando as palavras simplesmente não vêm?

Vitor Zindacta: Eu aprendi a não entrar em pânico. O bloqueio, para mim, geralmente é um sinal de que algo na história não está funcionando ou que estou esgotado. A primeira atitude é me afastar do texto. Vou ler, assistir a um filme, visitar uma exposição. Tento alimentar meu repertório. Muitas vezes, a solução vem de uma fonte inesperada. Outra técnica que funciona é voltar e reescrever uma cena antiga. Reencontrar a voz de um personagem em um trecho que já funciona ajuda a destravar o caminho.

REDAÇÃO: Qual a importância da sua cidade, Rio Verde, no seu processo criativo? O ambiente físico ao seu redor influencia sua rotina e sua escrita?

Vitor Zindacta: Viver em Rio Verde me proporciona o silêncio e o ritmo que considero ideais para a escrita. Longe da agitação constante de uma metrópole, consigo ter mais foco e introspecção. O cenário do Cerrado, com seus horizontes amplos e sua beleza bruta, definitivamente se infiltra na minha escrita. A cidade me oferece o chão da realidade, as histórias das pessoas, o pulso de um Brasil que nem sempre está nos livros, e isso é um material criativo riquíssimo.

REDAÇÃO: Após terminar a primeira versão de um manuscrito, como é o seu processo de edição e reescrita? Você deixa o texto "descansar"? Pede opiniões de leitores beta?

Vitor Zindacta: A primeira versão é só o começo, é a argila bruta. Assim que termino, o ritual é obrigatório: eu fecho o arquivo e esqueço dele por, no mínimo, um mês. Esse distanciamento é vital para conseguir ler o próprio texto com olhos de editor, e não de criador apaixonado. Depois desse período, faço uma primeira leitura crítica e reescrevo. Só depois de ter uma segunda versão mais polida é que envio para um ou dois leitores beta de confiança, pessoas cujo senso crítico eu respeito. O feedback deles é fundamental.

REDAÇÃO: Equilibrar a carreira de escritor com a vida acadêmica de estudante de História e História da Arte deve ser desafiador. Como você organiza seu tempo para dar conta de tudo?

Vitor Zindacta: É um exercício constante de gestão de tempo. Uso agendas para dividir meu dia em blocos: tempo para a escrita, tempo para as leituras acadêmicas, tempo para as aulas. A grande vantagem é que as áreas se retroalimentam. Muitas vezes, uma leitura para a faculdade acaba me dando uma ideia para um livro, e a disciplina da escrita me ajuda a ser mais organizado nos trabalhos acadêmicos. É cansativo, mas imensamente gratificante.

REDAÇÃO: Para finalizar, que ferramenta, hábito ou peça de software você considera indispensável no seu dia a dia como escritor?

Vitor Zindacta: Pode soar simples, mas a ferramenta mais indispensável para mim é um bom par de fones de ouvido com cancelamento de ruído e minhas playlists musicais. A música é a forma mais rápida de eu me isolar do mundo exterior e mergulhar completamente no universo da história. E o hábito indispensável é a leitura diária. Um escritor que não lê é como um músico que não ouve música. É a leitura que afina o nosso ouvido, expande nosso vocabulário e nos mantém inspirados.

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