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O que foi o experimentos com sífilis na Guatemala?


Entre 1946 e 1948, enquanto o mundo se recuperava das cicatrizes da Segunda Guerra Mundial, um experimento médico conduzido pelos Estados Unidos na Guatemala manchou a história da ciência com um dos episódios mais antiéticos já registrados. Liderado pelo Serviço de Saúde Pública dos EUA, o estudo infectou deliberadamente mais de 1.300 guatemaltecos – incluindo soldados, prisioneiros, pacientes psiquiátricos, prostitutas, órfãos e indígenas – com sífilis, gonorreia e cancro mole, sem seu consentimento, para testar a eficácia da penicilina e outros tratamentos. Muitos foram privados de tratamento adequado, resultando em pelo menos 83 mortes e sofrimentos incalculáveis, com doenças transmitidas a esposas e filhos. Revelado em 2010 pela historiadora Susan Reverby, o experimento chocou o mundo, levando a desculpas oficiais do governo americano e a processos judiciais por parte das vítimas. Este artigo explora as nuances desse experimento infame, detalhando sua metodologia cruel, os resultados trágicos, o contexto histórico do pós-guerra e as implicações éticas que continuam a ressoar na ciência e na sociedade. Mais de sete décadas depois, os experimentos na Guatemala permanecem um lembrete sombrio de como a ciência, quando desprovida de ética, pode se tornar uma ferramenta de opressão.

Contexto Histórico: Pós-Guerra e a Corrida por Avanços Médicos

Imagem: Divulgação / Wikipedia


Os experimentos na Guatemala foram conduzidos em um mundo marcado pelo pós-Segunda Guerra Mundial, uma era de reconstrução e competição científica. A penicilina, descoberta na década de 1920 e amplamente utilizada a partir dos anos 1940, revolucionou o tratamento de infecções, incluindo doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) como a sífilis. Durante a guerra, as Forças Armadas dos EUA enfrentaram altas taxas de DSTs, com um relatório de 1943 estimando que 350 mil casos de gonorreia custavam 7 milhões de dias de trabalho por ano, equivalente a dez porta-aviões fora de ação. Nesse contexto, o Serviço de Saúde Pública dos EUA, financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), buscava testar a eficácia da penicilina na prevenção, e não apenas na cura, de DSTs. A escolha da Guatemala como local do estudo, sugerida pelo médico guatemalteco Juan Funes, chefe do Departamento de Controle de Doenças Venéreas, foi motivada pela intenção de evitar restrições éticas nos EUA, como a necessidade de consentimento informado, e pela colaboração de autoridades locais. O experimento ocorreu sob os governos do presidente americano Harry Truman e do presidente guatemalteco Juan José Arévalo, que implementava reformas sociais após décadas de ditaduras, mas cujo governo foi parcialmente cúmplice ao autorizar o estudo.

Metodologia: A Inoculação Deliberada

O experimento foi liderado pelo médico John Charles Cutler, do Serviço de Saúde Pública dos EUA, que já havia participado de estudos antiéticos, como os experimentos de gonorreia em Terre Haute (1943-1944) e, posteriormente, o Estudo de Sífilis de Tuskegee. A metodologia na Guatemala foi marcada por uma crueldade sistemática. Inicialmente, os pesquisadores usaram prostitutas infectadas com sífilis ou gonorreia para transmitir as doenças a prisioneiros e soldados, aproveitando a legalidade da prostituição e as visitas íntimas permitidas em prisões guatemaltecas. Quando essa abordagem falhou em produzir infecções consistentes, passaram à inoculação direta, injetando bactérias como Treponema pallidum (causadora da sífilis) em locais como o pênis, braço, costas ou até o líquido cefalorraquidiano de pacientes psiquiátricos. Técnicas invasivas, como abrasão ou escarificação do pênis, foram usadas para aumentar a transmissão. Ao todo, 1.308 indivíduos foram confirmados como infectados, embora relatórios sugiram que até 5.128 pessoas, incluindo crianças em orfanatos e alunos de escolas públicas, foram monitoradas ou expostas. Os participantes, majoritariamente indígenas, pobres e vulneráveis, com idades entre 10 e 72 anos, não foram informados da natureza do experimento nem deram consentimento.

Os resultados do experimento foram trágicos e, ironicamente, pouco úteis cientificamente. Embora 678 participantes tenham recebido algum tratamento, frequentemente com penicilina, não está claro quantos foram curados, e muitos foram deliberadamente privados de terapia para observar a progressão das doenças. Relatórios do CDC confirmam pelo menos 83 mortes diretamente relacionadas, com vítimas sofrendo complicações como cegueira, surdez, danos neurológicos e cardíacos. Um caso notório, descrito no relatório Ethically Impossible (2011), envolveu uma paciente psiquiátrica chamada Berta, que desenvolveu lesões cutâneas após ser injetada com sífilis; posteriormente, pus gonorreico foi aplicado em seus olhos, levando à sua morte dias depois. A transmissão secundária afetou esposas e filhos, com estimativas de 40 cônjuges e 19 crianças infectadas. Os dados, nunca publicados formalmente, foram enviados para laboratórios privados nos EUA, mas não geraram avanços significativos, em parte devido à má condução do estudo. A matéria destacará como o experimento falhou em seus objetivos científicos, enquanto infligiu sofrimento desnecessário a populações marginalizadas.

Impacto Psicológico e Físico nas Vítimas

O impacto nas vítimas foi devastador, tanto física quanto psicologicamente. A sífilis não tratada causa sintomas graves, incluindo dores crônicas, lesões cutâneas, demência e falência de órgãos, enquanto a gonorreia pode levar à infertilidade. Pacientes psiquiátricos, incapazes de consentir devido à sua condição mental, sofreram abusos extremos, como injeções no sistema nervoso central. Sobreviventes, como Héctor Bardales, que aos 19 anos foi infectado durante o serviço militar, relataram traumas duradouros, incluindo estigma social e problemas de saúde persistentes. Crianças órfãs, algumas com apenas 10 anos, enfrentaram infecções sem compreender o que lhes era feito, enquanto prisioneiros e soldados foram manipulados com promessas de benefícios. A matéria explorará como o experimento não apenas causou danos físicos, mas destruiu famílias e comunidades, com vítimas enfrentando vergonha e exclusão em uma sociedade onde as DSTs eram estigmatizadas.

O experimento permaneceu oculto por mais de seis décadas, até que Susan Reverby, historiadora do Wellesley College, descobriu os arquivos de John Cutler em 2010, enquanto pesquisava o Estudo de Tuskegee. A revelação, publicada no Journal of Policy History, gerou indignação global. O presidente dos EUA, Barack Obama, pediu desculpas ao presidente guatemalteco Álvaro Colom, que classificou o estudo como um “crime contra a humanidade”. A Comissão Presidencial para o Estudo de Assuntos Bioéticos, criada por Obama, publicou o relatório Ethically Impossible (2011), confirmando que os experimentos violaram princípios éticos básicos, como consentimento informado e não maleficência. Na Guatemala, a opinião pública exigiu justiça, com ações coletivas movidas por vítimas contra o governo dos EUA, a Fundação Rockefeller e a Universidade Johns Hopkins, acusadas de envolvimento. A mídia, com reportagens em veículos como BBC e Chicago Tribune, comparou o caso aos experimentos nazistas, com o médico guatemalteco Carlos Mejía equiparando as práticas aos testes de tifo em prisioneiros de guerra. A controvérsia reacendeu debates sobre racismo na ciência, com estudos apontando que a escolha da Guatemala foi motivada por preconceitos contra populações indígenas e pobres.

Implicações Éticas e Mudanças na Pesquisa

Os experimentos na Guatemala são um marco na história da bioética, expondo a necessidade de regulamentações rigorosas em pesquisas com humanos. A ausência de consentimento, a exploração de populações vulneráveis e a manipulação deliberada violaram os princípios do Código de Nuremberg (1947), que os pesquisadores conheciam, mas ignoraram para evitar “publicidade adversa”. A matéria destacará como o caso, junto com Tuskegee, impulsionou a criação da Lei Nacional de Pesquisa de 1974 nos EUA, que instituiu comitês de revisão ética, e influenciou normas globais, como a Declaração de Helsinque (1964). No Brasil, a Resolução CNS nº 466/2012 exige consentimento informado e proteção especial para grupos vulneráveis, refletindo lições de casos como esse. A narrativa também abordará a resistência inicial dos supervisores de Cutler, como o Dr. Arnold, que expressou temor sobre experimentos com pacientes psiquiátricos incapazes de consentir, mas foi ignorado.

Ironicamente, os experimentos na Guatemala produziram poucos resultados científicos úteis. Projetados para testar a penicilina na prevenção de DSTs, os estudos foram mal conduzidos, com dados inconsistentes e falta de publicação formal. A matéria enfatizará que, ao contrário do Estudo de Tuskegee, que pelo menos gerou dados observacionais (embora antiéticos), o experimento guatemalteco foi um fracasso científico, com seu único “legado” sendo a exposição de falhas éticas na pesquisa médica. No entanto, o caso contribuiu indiretamente para a ciência ao impulsionar reformas éticas que tornaram a pesquisa mais segura e transparente, com ênfase na proteção de participantes e na equidade.
Impacto Cultural e Legado

A revelação dos experimentos na Guatemala teve um impacto cultural profundo, reacendendo debates sobre racismo, colonialismo e ética na ciência. Documentários como The Deadly Deception (1993), que também abordou Tuskegee, e artigos em revistas como Prensa Libre trouxeram as histórias das vítimas à tona, amplificando suas vozes. Ações judiciais, como a movida por 750 vítimas contra instituições americanas em 2015, buscaram reparação, embora sem compensações significativas até hoje. Na Guatemala, o caso alimentou a desconfiança em instituições médicas, com paralelos à hesitação vacinal observada em comunidades afro-americanas após Tuskegee. A matéria explorará como o experimento se tornou um estudo de caso em cursos de bioética, ensinando gerações sobre os perigos de uma ciência desumanizada.

O experimento na Guatemala oferece lições cruciais para a ciência contemporânea. A necessidade de consentimento informado, proteção de populações vulneráveis e supervisão ética tornou-se inegociável, com diretrizes como as da Organização Mundial da Saúde reforçando esses princípios. No Brasil, o Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) exige revisões éticas rigorosas, especialmente para estudos com indígenas e comunidades marginalizadas. A matéria destacará como o caso impulsionou métodos alternativos, como ensaios clínicos controlados e modelos in vitro, que evitam danos humanos. A narrativa também abordará a importância de combater o racismo na ciência, garantindo que a pesquisa seja inclusiva e equitativa.

Os experimentos com sífilis na Guatemala são uma mancha indelével na história da medicina, revelando como a busca pelo progresso pode se transformar em violência quando desprovida de ética. Para leitores interessados em medicina, ética e justiça social, esta matéria oferece uma análise profunda de um estudo que sacrificou a dignidade humana em nome da ciência. A história das vítimas guatemaltecas é um apelo por justiça, um lembrete de que a ciência deve servir à humanidade, não explorá-la. Enquanto as vítimas ainda buscam reparação, o legado de Tuskegee e Guatemala ecoa como um alerta: o progresso verdadeiro exige respeito, compaixão e responsabilidade.

Experimento de Rosenhan: A Farsa que Abalou a Psiquiatria


Em 1973, o psicólogo David Rosenhan publicou um estudo que lançou uma bomba sobre a psiquiatria americana: oito indivíduos “sãos”, incluindo o próprio Rosenhan, infiltraram-se em hospitais psiquiátricos fingindo ouvir vozes, apenas para serem internados com diagnósticos de esquizofrenia. O Experimento de Rosenhan, como ficou conhecido, revelou falhas gritantes na validade dos diagnósticos psiquiátricos, mostrando como pessoas sem transtornos mentais eram tratadas como pacientes graves, submetidas a medicamentos e internações prolongadas. Publicado na prestigiada revista Science com o título “On Being Sane in Insane Places”, o estudo expôs os perigos da rotulação e da desumanização em instituições psiquiátricas, desencadeando debates que reverberam até hoje. Este artigo mergulha nas nuances desse experimento audacioso, detalhando sua metodologia engenhosa, os resultados que desafiaram a psiquiatria, o contexto histórico dos anos 1970 e as questões éticas que levantaram críticas sobre a manipulação de sistemas médicos. Mais de cinco décadas depois, o experimento de Rosenhan permanece um marco na psicologia, questionando como a sociedade define a sanidade e a loucura.

Imagem: Correio Brasiliense / Divulgação


Contexto Histórico: A Psiquiatria em Xeque

O Experimento de Rosenhan foi conduzido em um momento de crise para a psiquiatria. Na década de 1970, a disciplina enfrentava críticas crescentes, tanto de movimentos antipsiquiatria, liderados por figuras como Thomas Szasz, quanto de ativistas que denunciavam abusos em instituições psiquiátricas. Hospitais como o Willowbrook State School, exposto por condições desumanas, alimentavam a desconfiança pública. O Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-II), usado na época, era criticado por sua subjetividade, com diagnósticos como esquizofrenia aplicados de forma ampla e inconsistente. Ao mesmo tempo, a psicologia social, impulsionada por estudos como o de Stanley Milgram e a Prisão de Stanford, explorava o impacto de sistemas institucionais no comportamento humano. Rosenhan, professor da Universidade de Stanford, viu no sistema psiquiátrico uma oportunidade de testar a validade dos diagnósticos, questionando se os profissionais podiam distinguir sanidade de insanidade. O contexto cultural, marcado por protestos contra a Guerra do Vietnã e a luta por direitos civis, reforçava a necessidade de escrutínio das instituições, dando ao experimento uma ressonância imediata.

O experimento de Rosenhan foi projetado com uma simplicidade ousada. Oito pseudopacientes – três mulheres e cinco homens, incluindo Rosenhan, um estudante de pós-graduação, dois psicólogos, um pediatra, um psiquiatra, um pintor e uma dona de casa – buscaram internação em 12 hospitais psiquiátricos nos EUA, de instituições públicas a privadas. Cada pseudopaciente relatava um único sintoma: ouvir vozes que diziam palavras como “vazio”, “oco” ou “baque”. Após a admissão, eles cessavam de fingir sintomas, comportando-se normalmente, respondendo perguntas com honestidade e cooperando com os procedimentos. Sua missão era observar o tratamento recebido e buscar a alta, sem revelar que eram pesquisadores. Os hospitais, localizados em cinco estados, variavam de instalações superlotadas a centros de elite. A segunda parte do experimento desafiou um hospital, que questionou a validade do estudo, a identificar pseudopacientes entre novos internos; dos 193 pacientes avaliados, 41 foram considerados “falsos” pela equipe, mas todos eram genuínos. Publicado em Science (1973), o estudo detalhou as experiências dos pseudopacientes, que enfrentaram internações de 7 a 52 dias, com uma média de 19 dias, apesar de não apresentarem sintomas após a admissão.

Os resultados do experimento foram devastadores para a credibilidade da psiquiatria. Todos os oito pseudopacientes foram internados, com sete diagnosticados com esquizofrenia e um com transtorno bipolar. Após a admissão, nenhum membro da equipe médica ou de enfermagem reconheceu sua sanidade, mesmo quando se comportavam normalmente. Rosenhan relatou que os pseudopacientes foram tratados como “invisíveis”, com médicos ignorando suas perguntas e enfermeiros evitando interações. Comportamentos normais, como tomar notas, foram interpretados como sintomas, registrados em prontuários como “comportamento de escrita compulsiva”. Os participantes receberam 2.100 doses de medicamentos psiquiátricos, como clorpromazina, muitas vezes sem explicação adequada. Curiosamente, outros pacientes frequentemente percebiam que os pseudopacientes eram “normais”, com frases como “você não é louco, é um jornalista”. A segunda parte do experimento, onde o hospital identificou 41 “falsos” pacientes que eram reais, revelou a tendência de superdiagnóstico, com a equipe errando em 21% dos casos. Os resultados sugeriram que o sistema psiquiátrico era mais influenciado por rótulos e contextos institucionais do que por evidências clínicas.

O impacto psicológico nos pseudopacientes foi significativo, embora menos grave que em experimentos como Tuskegee. A internação forçada, o isolamento social e a administração de medicamentos causaram ansiedade e desconforto. Rosenhan descreveu sentir-se “desumanizado”, com sua identidade reduzida a um diagnóstico. Alguns pseudopacientes relataram dificuldade para obter alta, mesmo após semanas de comportamento normal, enfrentando a pressão de fingir melhora para evitar internações prolongadas. O debriefing foi mínimo, com os participantes processando a experiência sem apoio formal, o que levantou críticas éticas. A matéria explorará como o experimento, embora projetado para expor falhas sistêmicas, colocou os pseudopacientes em situações de vulnerabilidade, destacando os riscos de manipular sistemas médicos sem salvaguardas robustas.

Recepção e Controvérsia

A publicação do estudo em Science causou um terremoto na psiquiatria. Psiquiatras, como Robert Spitzer, criticaram Rosenhan por simplificar a complexidade do diagnóstico, argumentando que os pseudopacientes enganaram deliberadamente os médicos, invalidando a validade do experimento. Outros, como Thomas Szasz, elogiaram o estudo por expor a subjetividade da psiquiatria, reforçando a ideia de que os transtornos mentais eram construções sociais. A mídia, com manchetes como “Sãos Internados como Loucos” no New York Times, amplificou o debate, com editoriais questionando a confiabilidade dos hospitais psiquiátricos. Pacientes e ativistas usaram o estudo para denunciar abusos, enquanto a comunidade médica respondeu com reformas, incluindo a revisão do DSM-III em 1980, que introduziu critérios diagnósticos mais objetivos. A controvérsia também gerou ceticismo sobre a veracidade do experimento, com críticos como Caitlin Cahow, em 2019, questionando a identidade dos pseudopacientes e a consistência dos relatos, embora Rosenhan tenha mantido a integridade dos dados.

O experimento de Rosenhan levantou sérias questões éticas, particularmente sobre a manipulação de sistemas médicos e o impacto nos hospitais. A ausência de consentimento informado dos profissionais de saúde, que foram enganados, foi criticada como uma violação da confiança. A exposição dos pseudopacientes a medicamentos e internações também gerou preocupações, embora Rosenhan tenha argumentado que o risco era justificado pelo impacto do estudo. A matéria destacará como o experimento contribuiu para reformas éticas, como a exigência de revisões éticas rigorosas pela Lei Nacional de Pesquisa de 1974 nos EUA e a Resolução CNS nº 466/2012 no Brasil, que protege participantes e sistemas de saúde em pesquisas. A narrativa também abordará como o estudo reforçou a necessidade de proteger pacientes reais, que muitas vezes enfrentavam os mesmos abusos relatados pelos pseudopacientes, mas sem a opção de deixar o sistema.

Contribuições para a Psicologia

O experimento de Rosenhan teve um impacto duradouro na psicologia e na psiquiatria. Ele demonstrou o poder da rotulação, mostrando como um diagnóstico pode moldar percepções e tratamentos, mesmo na ausência de sintomas. O estudo influenciou a reforma do DSM-III, que adotou critérios mais específicos, e inspirou pesquisas sobre vieses cognitivos em diagnósticos médicos. Também fortaleceu o movimento antipsiquiatria, com figuras como R.D. Laing questionando a validade dos transtornos mentais. Na prática, o experimento levou a melhorias nos hospitais psiquiátricos, com maior ênfase na humanização do atendimento e na proteção dos direitos dos pacientes. A matéria destacará como o estudo continua relevante, com paralelos em debates sobre superdiagnóstico de transtornos como TDAH.

Impacto Cultural e Legado

O experimento de Rosenhan transcendeu a academia, tornando-se um ícone cultural. Inspirou filmes como One Flew Over the Cuckoo’s Nest (1975), que retrata abusos psiquiátricos, e documentários sobre a história da psiquiatria. O estudo é amplamente ensinado em cursos de psicologia, ética e medicina, servindo como um estudo de caso sobre os perigos da rotulação. Na cultura popular, referências ao experimento aparecem em séries como House M.D., que exploram diagnósticos errôneos. A matéria explorará como o estudo alimentou a desconfiança pública na psiquiatria, mas também impulsionou avanços que tornaram o atendimento mais humano, com leis como a Mental Health Systems Act de 1980 nos EUA.

Lições para a Pesquisa Moderna

O experimento de Rosenhan oferece lições cruciais para a ciência contemporânea. A necessidade de diagnósticos baseados em evidências levou a métodos mais objetivos, como escalas padronizadas e neuroimagem. No Brasil, o Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) exige revisões éticas rigorosas, garantindo que pesquisas com humanos respeitem a autonomia e minimizem riscos. A matéria destacará como o estudo, embora controverso, reforçou a importância de equilibrar investigação científica com respeito às pessoas, sejam pacientes ou profissionais de saúde.

O Experimento de Rosenhan é um marco na psicologia, não por suas respostas, mas por suas perguntas: o que define a sanidade? Como os rótulos moldam vidas? Para leitores interessados em psicologia, ética e sociedade, esta matéria oferece uma análise profunda de um estudo que desafiou a psiquiatria a se reinventar. A história de Rosenhan é um lembrete de que a ciência, para ser verdadeira, deve olhar além dos rótulos, enxergando a humanidade em cada indivíduo.

Referências Bibliográficas (clique para consultar):

A Viagem de Chihiro: Uma Jornada de Autodescoberta e Resiliência no Universo Mágico de Miyazaki

Imagem: Estúdio Ghibi

Em 2001, o mundo foi apresentado a uma das obras-primas do cinema de animação: As Viagens de Chihiro (Sen to Chihiro no Kamikakushi), dirigido por Hayao Miyazaki e produzido pelo Studio Ghibli. Este filme japonês, vencedor do Oscar de Melhor Animação em 2003 e do Urso de Ouro no Festival de Berlim, não é apenas uma história encantadora sobre uma menina perdida em um mundo mágico, mas uma profunda exploração de temas como identidade, coragem, consumismo e a relação entre humanos e natureza. Com uma bilheteria global de mais de US$ 395 milhões e uma aprovação de 97% no Rotten Tomatoes, As Viagens de Chihiro continua a cativar públicos de todas as idades, sendo um marco cultural que transcende fronteiras. Esta matéria mergulha no enredo do filme, analisando suas camadas narrativas, simbolismos e relevância em 2025, enquanto conecta a história a reflexões sobre o mundo contemporâneo.

O filme começa com Chihiro Ogino, uma menina de 10 anos, em um momento de transição. Mal-humorada e ansiosa, ela está de mudança com os pais para uma nova cidade, deixando para trás amigos e memórias. Durante a viagem, a família se perde e encontra um túnel misterioso em uma área rural. Curiosos, os pais de Chihiro decidem explorá-lo, levando a menina a contragosto. Do outro lado, eles descobrem o que parece ser um parque temático abandonado, com restaurantes repletos de comida. A ganância dos pais, que começam a comer desenfreadamente, desencadeia uma transformação assustadora: eles são transformados em porcos por uma força sobrenatural, deixando Chihiro sozinha em um mundo estranho que ganha vida ao anoitecer.

Esse mundo, como Chihiro logo descobre, é um reino espiritual habitado por kami (espíritos da mitologia xintoísta), monstros e criaturas fantásticas. Desesperada e com medo, ela encontra Haku, um menino misterioso que a ajuda a sobreviver. Haku revela que ela está em uma casa de banhos sobrenatural, gerenciada pela feiticeira Yubaba, onde espíritos vêm para descansar e se purificar. Para evitar desaparecer, Chihiro deve trabalhar para Yubaba, que rouba seu nome e a renomeia como Sen. Assim começa a jornada de Chihiro, uma menina comum forçada a encontrar coragem e inteligência para salvar seus pais e retornar ao mundo humano.

A Estrutura Narrativa

O enredo de As Viagens de Chihiro segue a estrutura clássica da jornada do herói, mas com a sensibilidade única de Miyazaki. Dividido em três atos principais, o filme acompanha a transformação de Chihiro de uma criança mimada e insegura em uma jovem resiliente e empática.

Ato 1: Entrada no Mundo Espiritual

Após a transformação de seus pais, Chihiro enfrenta o choque de estar em um ambiente hostil e desconhecido. A casa de banhos, um lugar opulento e caótico, é um microcosmo da sociedade, com hierarquias rígidas e trabalhadores explorados, como Kamaji, o operador da caldeira, e Lin, uma funcionária sarcástica que se torna aliada de Chihiro. Yubaba, a dona do lugar, é uma figura ambígua: uma feiticeira poderosa que controla seus funcionários roubando seus nomes, simbolizando a perda de identidade em um sistema opressivo. Ao aceitar trabalhar para Yubaba, Chihiro perde seu nome, mas ganha uma chance de sobreviver.

Este ato estabelece o tom mágico e surreal do filme, com a estética vibrante do Studio Ghibli trazendo à vida criaturas como sapos falantes, espíritos de rios e o enigmático Sem-Rosto, uma entidade que se torna central na trama. A trilha sonora de Joe Hisaishi, com sua mistura de melancolia e esperança, amplifica a sensação de estar em um mundo ao mesmo tempo belo e perigoso.

Ato 2: Desafios e Autodescoberta

No segundo ato, Chihiro enfrenta uma série de desafios que testam sua determinação. Ela é designada para tarefas árduas, como limpar banheiras imundas, e precisa lidar com a hostilidade de colegas e clientes, incluindo um “Espírito Fétido” que, na verdade, é um rio poluído buscando purificação. Essa cena, uma das mais memoráveis do filme, reflete a crítica de Miyazaki à destruição ambiental, mostrando como a ganância humana contamina a natureza. A habilidade de Chihiro em tratar o espírito com respeito e cuidado a diferencia dos outros trabalhadores, ganhando o respeito de Yubaba e de seus colegas.

Paralelamente, a relação de Chihiro com Haku se aprofunda. Ele a ajuda em segredo, revelando que já a conheceu no passado, mas também está preso ao controle de Yubaba. A descoberta de que Haku é, na verdade, o espírito de um rio dá a Chihiro uma pista para recuperar sua própria identidade. Enquanto isso, Sem-Rosto, fascinado pela bondade de Chihiro, começa a segui-la, mas sua presença desencadeia o caos quando ele tenta comprar afeto com ouro, expondo a ganância dos trabalhadores da casa de banhos. Chihiro, com sua pureza, é a única capaz de acalmar Sem-Rosto, mostrando que empatia é mais poderosa que bens materiais.

Ato 3: Resolução e Retorno

O clímax do filme ocorre quando Chihiro embarca em uma jornada para salvar Haku, que está mortalmente ferido após roubar um objeto mágico de Zeniba, a irmã gêmea de Yubaba. Viajando de trem por uma paisagem etérea, Chihiro chega à casa de Zeniba, que se revela gentil e a ajuda a entender o valor do amor e da memória. Em um momento crucial, Chihiro lembra que Haku é o espírito do rio Kohaku, onde ela quase se afogou quando criança. Essa revelação liberta Haku do controle de Yubaba, simbolizando a recuperação da identidade de ambos.

De volta à casa de banhos, Chihiro enfrenta um último teste: identificar seus pais entre um grupo de porcos. Com confiança, ela afirma que nenhum deles é seus pais, provando sua intuição e desapego do medo. Yubaba, cumprindo sua promessa, permite que Chihiro e seus pais, agora humanos novamente, retornem ao mundo real. O filme termina com Chihiro olhando para o túnel, pronta para enfrentar sua nova vida com coragem renovada, enquanto a trilha sonora ecoa um tom de esperança e renovação.

As Viagens de Chihiro é rico em simbolismos que elevam a narrativa a um nível universal. O roubo do nome por Yubaba representa a perda de identidade em sociedades consumistas, onde indivíduos são reduzidos a funções. A casa de banhos, com sua opulência e exploração, é uma metáfora para o capitalismo desenfreado, onde trabalhadores são explorados e a ganância prevalece. Sem-Rosto, uma figura ambígua que busca conexão, reflete a solidão e o vazio do consumismo, enquanto a bondade de Chihiro mostra o poder da empatia para curar.

A relação entre humanos e natureza é outro tema central. Miyazaki, conhecido por seu ambientalismo, usa o “Espírito Fétido” e Haku para criticar a poluição e o esquecimento das conexões espirituais com o meio ambiente. A jornada de Chihiro também é uma metáfora para o amadurecimento, mostrando como adversidades podem transformar insegurança em força interior. A espiritualidade xintoísta permeia o filme, com sua visão de que tudo — rios, florestas, até objetos — possui um espírito, incentivando o respeito pela natureza e pelos outros.

Contexto Histórico e Cultural

Lançado em 2001, As Viagens de Chihiro reflete as ansiedades do Japão no início do século XXI. A década de 1990, conhecida como a “Década Perdida”, trouxe estagnação econômica e uma crise de identidade cultural, com o consumismo ocidental desafiando valores tradicionais. Miyazaki, que escreveu o filme pensando em uma menina de 10 anos que ele conhecia, queria criar uma história que inspirasse jovens a encontrar propósito em um mundo materialista. A escolha de ambientar o filme em uma casa de banhos, um símbolo da cultura japonesa, reforça a valorização das tradições frente à modernização desenfreada.

O filme também dialoga com a mitologia xintoísta, que vê o mundo como habitado por espíritos. Elementos como o trem que atravessa um mar inundado e a figura de Zeniba evocam lendas japonesas, enquanto a estética do Studio Ghibli, com seus cenários detalhados e cores vibrantes, dá vida a esse universo. A universalidade da história, no entanto, garantiu seu sucesso global, com o filme sendo exibido em mais de 40 países e traduzido para 30 idiomas.

Em 2025, As Viagens de Chihiro permanece uma obra atemporal, com mensagens que ressoam em um mundo marcado por crises ambientais, desigualdades sociais e desafios à saúde mental. A crítica ao consumismo é especialmente relevante em uma era dominada por compras online e redes sociais, onde a pressão por consumo rápido é constante. Dados da ONU apontam que a indústria têxtil, um símbolo do consumismo, é responsável por 10% das emissões globais de carbono, ecoando as preocupações de Miyazaki com a poluição. No Brasil, o aumento de 15% no mercado de fast fashion em 2024, segundo a Abit, reforça a necessidade de refletir sobre os custos humanos e ambientais do consumo desenfreado.

A jornada de Chihiro também inspira reflexões sobre resiliência em tempos de crise. A pandemia de Covid-19 e conflitos globais recentes, como os deslocamentos em massa no Oriente Médio, destacam a importância de encontrar força interior diante da adversidade. O filme é usado em escolas e workshops no Brasil, como os promovidos pela Japan House São Paulo, para discutir temas como empatia e sustentabilidade com jovens, mostrando seu potencial educativo.

A recente restauração do filme em 4K, lançada em 2024, e sua inclusão em plataformas como Netflix ampliaram seu alcance, com posts no X destacando sua capacidade de emocionar novas gerações. Hashtags como #SpiritedAway e #Miyazaki têm milhões de interações, refletindo o impacto cultural contínuo da obra.

As Viagens de Chihiro é mais do que um filme de animação; é uma jornada que convida o espectador a olhar para dentro de si e para o mundo ao seu redor. A história de Chihiro, com sua coragem e empatia, ressoa em 2025 como um lembrete da importância de preservar nossa identidade, proteger a natureza e valorizar conexões humanas em um mundo cada vez mais materialista. Com sua estética deslumbrante, narrativa envolvente e temas universais, o filme de Hayao Miyazaki continua a iluminar corações e mentes, provando que a magia do cinema pode transformar vidas. Como Chihiro, somos desafiados a enfrentar o desconhecido com bravura, sabendo que, no final, o que realmente importa é o que carregamos em nossos corações.


Túmulo dos Vagalumes: Uma Jornada de Sobrevivência e Perda na Segunda Guerra Mundial

Imagem: Estúdio Ghibi

Túmulo dos Vagalumes (Hotaru no Haka), lançado em 1988, é uma obra-prima da animação japonesa dirigida por Isao Takahata e produzida pelo Studio Ghibli. Baseado no conto semi-autobiográfico de Akiyuki Nosaka, publicado em 1967, o filme narra a história devastadora de dois irmãos, Seita e Setsuko, lutando para sobreviver nos meses finais da Segunda Guerra Mundial no Japão. Ambientado na cidade de Kobe, em 1945, o enredo explora os horrores da guerra sob a perspectiva de crianças, abordando temas como fome, solidão, luto e a resiliência do espírito humano.

Diferentemente de muitas produções do Studio Ghibli, conhecidas por elementos fantásticos, Túmulo dos Vagalumes é um drama histórico realista que não romantiza a guerra. Sua narrativa crua e emocional o torna um dos filmes mais tristes e impactantes da animação, sendo aclamado pela crítica com 100% de aprovação no Rotten Tomatoes e nota 94 no Metacritic. O filme é frequentemente citado como uma das melhores representações cinematográficas dos efeitos da guerra, com o crítico Roger Ebert descrevendo-o como “uma experiência emocional tão poderosa que obriga a repensar a animação”. Esta pauta jornalística propõe uma análise detalhada do enredo, destacando suas mensagens, contexto histórico e relevância contemporânea.

O filme começa com uma cena impactante: Seita, um adolescente de 14 anos, morre de fome em uma estação de trem em 21 de setembro de 1945, narrando em primeira pessoa: “Essa foi a noite em que eu morri.” Essa abertura estabelece o tom trágico da história, deixando claro que não haverá um final feliz. A narrativa alterna entre flashbacks e momentos espirituais, onde os espíritos de Seita e sua irmãzinha Setsuko, de 4 anos, observam suas memórias. Essa estrutura cria uma sensação de inevitabilidade, enquanto o espectador é levado a acompanhar a luta dos irmãos contra a adversidade.

A história se passa em Kobe, durante os bombardeios americanos no final da Segunda Guerra Mundial. Após um ataque aéreo que destrói grande parte da cidade e mata a mãe dos irmãos, Seita e Setsuko ficam órfãos, já que seu pai, um oficial da marinha, está desaparecido em combate. Sem apoio imediato, eles são forçados a enfrentar um mundo devastado pela guerra, onde a escassez de comida e a indiferença social agravam sua vulnerabilidade.

Imagem: Estúdio Ghibi


Após a morte da mãe, Seita e Setsuko vão morar com uma tia, mas o relacionamento é tenso. A tia, sobrecarregada pela guerra, trata os irmãos com frieza, priorizando sua própria família e insinuando que Seita, por não contribuir, é um fardo. Sentindo-se humilhados, os irmãos decidem deixar a casa e se refugiar em um abrigo abandonado na floresta. Essa decisão, embora motivada pelo desejo de independência, marca o início de sua tragédia, pois eles não têm recursos para sobreviver sozinhos.

No abrigo, Seita tenta proteger Setsuko, escondendo a gravidade da situação para preservar sua inocência. Ele troca os últimos pertences da família por comida e se esforça para criar momentos de alegria, como brincar com vagalumes que iluminam o abrigo à noite. No entanto, a fome e as doenças logo se tornam insuperáveis. Setsuko, enfraquecida pela desnutrição, começa a adoecer, enquanto Seita, desesperado, recorre a pequenos furtos e saques em casas durante bombardeios para conseguir alimento. Essas cenas destacam a deterioração física e emocional dos irmãos, contrastando a ternura de sua relação com a brutalidade do contexto.

Os vagalumes são um símbolo central no filme, representando a brevidade da vida e a fragilidade da infância em tempos de guerra. Em uma cena marcante, Setsuko enterra vagalumes mortos e pergunta: “Por que os vagalumes têm que morrer tão cedo?” Essa questão reflete não apenas a morte dos insetos, mas também a perda de sua mãe e a ameaça à sua própria vida. Os vagalumes também evocam as bombas incendiárias que caem sobre Kobe, assim como as almas dos mortos, conectando-se à crença japonesa de que vagalumes representam espíritos (hitodama). Essa metáfora enriquece o enredo, dando profundidade poética à narrativa.

Embora Isao Takahata tenha rejeitado interpretações que classificam o filme como estritamente antibélico, Túmulo dos Vagalumes expõe as falhas de uma sociedade endurecida pela guerra. A indiferença de adultos, como a tia dos irmãos e outros moradores, reflete um egoísmo alimentado pela escassez e pelo medo. O filme não culpa diretamente os indivíduos, mas mostra como a guerra corrói a solidariedade, deixando os mais vulneráveis, como crianças, desamparados. A história também critica a glorificação da guerra, comum em narrativas heroicas, ao focar nas vítimas invisíveis: os civis, especialmente os jovens.

À medida que a condição de Setsuko piora, Seita descobre que o Japão se rendeu e que seu pai provavelmente está morto. Ele tenta salvar a irmã com comida comprada com o dinheiro da família, mas é tarde demais. Setsuko morre de desnutrição, e Seita, devastado, crema seu corpo em uma fogueira. Pouco depois, ele próprio sucumbe à fome na estação de trem, completando o ciclo trágico anunciado no início. O filme termina com os espíritos dos irmãos observando Kobe, agora em reconstrução, simbolizando tanto a perda quanto uma tênue esperança de renovação.

O enredo de Túmulo dos Vagalumes é profundamente enraizado na história real de Akiyuki Nosaka, que perdeu sua irmã adotiva, Keiko, para a desnutrição durante a guerra. Nascido em 1930, Nosaka viveu o bombardeio de Kobe em 1945, aos 14 anos, enfrentando a fome e o luto que marcaram sua juventude. O conto, publicado em 1967, foi escrito como uma forma de processar a culpa pela morte de Keiko, com Seita representando uma versão idealizada de Nosaka, um irmão mais dedicado do que ele acredita ter sido. A adaptação de Takahata, que também incorporou suas próprias memórias de infância durante a guerra, amplifica essa narrativa com uma estética sensível e realista.

O filme reflete o Japão de 1945, um país devastado por bombardeios incendiários e crises econômicas, onde civis enfrentavam escassez extrema. A escolha de Takahata por uma animação em tons terrosos e traços sutis reforça a atmosfera de desolação, enquanto a trilha sonora de Michio Mamiya intensifica a carga emocional. A obra ganhou o Prêmio Naoki no Japão e foi reconhecida internacionalmente como um marco do cinema anti-guerra, comparada a filmes como A Lista de Schindler.

Em 2025, Túmulo dos Vagalumes permanece relevante diante de conflitos globais que continuam a deslocar e vitimar crianças. Segundo a ONU, cerca de 400 mil menores foram deslocados pelo conflito no Líbano em 2024, enfrentando condições semelhantes às de Seita e Setsuko, como fome e falta de abrigo. No Brasil, dados da UNICEF apontam que 15 mil crianças e adolescentes foram mortos violentamente nos últimos três anos, destacando a vulnerabilidade dos jovens em contextos de crise. O filme serve como um lembrete da necessidade de proteger os direitos das crianças e reforça a importância de políticas públicas e ações humanitárias.

A recente inclusão do filme no catálogo da Netflix, após anos de ausência devido a questões de direitos com a editora Shinchosha, ampliou seu alcance, reacendendo debates sobre seu impacto emocional e mensagem social. A pauta pode explorar como a obra ressoa com novas gerações, especialmente em um mundo marcado por crises humanitárias e desigualdades.

Túmulo dos Vagalumes é uma obra que transcende a animação, oferecendo um retrato visceral da guerra e da humanidade em suas formas mais frágeis e resilientes. Ao narrar a tragédia de Seita e Setsuko, o filme não apenas homenageia as vítimas de conflitos, mas também desafia o espectador a confrontar a indiferença e a buscar empatia. Esta pauta jornalística busca capturar a essência dessa narrativa, conectando-a a questões históricas e contemporâneas para engajar e conscientizar o público. Com uma abordagem sensível e informativa, a matéria pode iluminar, como os vagalumes do título, a importância de proteger os mais vulneráveis em tempos de escuridão.


20 filmes pertubadores sobre a segunda guerra mundial

A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi um dos eventos mais marcantes da história, moldando o século XX e inspirando uma vasta gama de produções cinematográficas. De épicos de batalha a dramas humanos, os filmes sobre o conflito exploram perspectivas diversas, desde o front de guerra até os horrores do Holocausto e as lutas pessoais em tempos de crise. Esta matéria apresenta 20 filmes em português brasileiro, inglês e outros idiomas, com sinopses, idiomas disponíveis, onde assisti-los e cartazes oficiais para enriquecer sua experiência.

1. A Lista de Schindler (Schindler's List, 1993, EUA)

Cartaz de A Lista de Schindler

Sinopse: Dirigido por Steven Spielberg, este drama biográfico retrata a história real de Oskar Schindler, um empresário alemão que salva mais de mil judeus do Holocausto ao empregá-los em sua fábrica durante a ocupação nazista na Polônia. O filme combina cenas devastadoras dos horrores dos campos de concentração com momentos de esperança e humanidade.

Idiomas disponíveis: Inglês (original), dublado em português (PT-BR), legendas em português, espanhol, francês, alemão.

Onde assistir: Telecine (via Globoplay), Netflix (sujeito a disponibilidade regional).

Nota: Vencedor de 7 Oscars, incluindo Melhor Filme, é uma obra-prima indispensável.

2. O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, 1998, EUA)

Cartaz de O Resgate do Soldado Ryan

Sinopse: Outro clássico de Spielberg, este épico de guerra segue o Capitão John Miller (Tom Hanks) e seu pelotão em uma missão para resgatar o soldado James Ryan, último sobrevivente de quatro irmãos militares, após o desembarque na Normandia no Dia D. As cenas de batalha são conhecidas pelo realismo visceral.

Idiomas disponíveis: Inglês (original), dublado em PT-BR, legendas em português, espanhol, francês.

Onde assistir: Netflix, Amazon Prime Video (aluguel), Claro TV+.

Nota: Premiado com 5 Oscars, incluindo Melhor Diretor, é referência em filmes de guerra.

3. A Vida É Bela (La Vita È Bella, 1997, Itália)

Cartaz de A Vida É Bela

Sinopse: Dirigido e estrelado por Roberto Benigni, este drama italiano mistura comédia e tragédia. Guido, um judeu italiano, usa sua imaginação para proteger seu filho pequeno dos horrores de um campo de concentração, fingindo que tudo é uma brincadeira. A narrativa equilibra humor e emoção profunda.

Idiomas disponíveis: Italiano (original), dublado em PT-BR, legendas em português, inglês, espanhol.

Onde assistir: Amazon Prime Video, Globoplay.

Nota: Vencedor de 3 Oscars, incluindo Melhor Filme Estrangeiro, é uma ode à resiliência humana.

4. O Pianista (The Pianist, 2002, França/Polônia)

Cartaz de O Pianista

Sinopse: Dirigido por Roman Polanski, o filme narra a sobrevivência do pianista judeu polonês Władysław Szpilman (Adrien Brody) em Varsóvia durante a ocupação nazista. Baseado em memórias reais, mostra a luta pela sobrevivência em meio à destruição e perseguição.

Idiomas disponíveis: Polonês, alemão, inglês (originais), dublado em PT-BR, legendas em português, inglês, francês.

Onde assistir: Netflix, Amazon Prime Video (aluguel).

Nota: Ganhou 3 Oscars, incluindo Melhor Ator para Brody.

5. Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds, 2009, EUA/Alemanha)

Cartaz de Bastardos Inglórios

Sinopse: Quentin Tarantino reimagina a guerra com este filme de ação e comédia. Um grupo de soldados judeus-americanos, liderado pelo Tenente Aldo Raine (Brad Pitt), caça nazistas na França ocupada, enquanto uma jovem judia planeja vingar sua família. O filme é marcado por diálogos afiados e violência estilizada.

Idiomas disponíveis: Inglês, francês, alemão (originais), dublado em PT-BR, legendas em português, espanhol.

Onde assistir: Netflix, Star+.

Nota: Aprovado por 89% no Rotten Tomatoes, é uma подход única ao tema.

6. A Queda! As Últimas Horas de Hitler (Der Untergang, 2004, Alemanha)

Cartaz de A Queda

Sinopse: Este drama alemão retrata os últimos dias de Adolf Hitler (Bruno Ganz) em seu bunker em Berlim, enquanto o exército soviético avança. Baseado em relatos históricos, o filme humaniza o ditador sem glorificá-lo, explorando o colapso do regime nazista.

Idiomas disponíveis: Alemão (original), dublado em PT-BR, legendas em português, inglês, espanhol.

Onde assistir: Amazon Prime Video.

Nota: Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, é famoso pela atuação de Ganz.

7. Dunkirk (2017, Reino Unido/EUA)

Cartaz de Dunkirk

Sinopse: Dirigido por Christopher Nolan, este thriller de guerra retrata a evacuação de soldados aliados da praia de Dunquerque, na França, em 1940, sob ataque alemão. O filme usa três perspectivas (terra, mar e ar) e uma narrativa não linear para criar tensão.

Idiomas disponíveis: Inglês (original), dublado em PT-BR, legendas em português, francês, espanhol.

Onde assistir: HBO Max, Netflix (sujeito a disponibilidade).

Nota: Vencedor de 3 Oscars, é elogiado pela trilha sonora e direção.

8. O Fotógrafo de Mauthausen (El Fotógrafo de Mauthausen, 2018, Espanha)

Cartaz de O Fotógrafo de Mauthausen

Sinopse: Baseado em fatos reais, este drama espanhol acompanha Francesc Boix (Mario Casas), um prisioneiro no campo de concentração de Mauthausen que, como fotógrafo, documenta as atrocidades nazistas para preservar evidências dos crimes.

Idiomas disponíveis: Espanhol (original), dublado em PT-BR, legendas em português, inglês.

Onde assistir: Netflix.

Nota: Com 86% de aprovação no Rotten Tomatoes, destaca um herói pouco conhecido.

9. A Escolha de Sofia (Sophie's Choice, 1982, EUA)

Cartaz de A Escolha de Sofia

Sinopse: Meryl Streep brilha como Sophie, uma sobrevivente polonesa do Holocausto que vive nos EUA após a guerra. O filme explora seus traumas e uma decisão devastadora de seu passado, revelada em flashbacks. É um drama psicológico intenso.

Idiomas disponíveis: Inglês (original), dublado em PT-BR, legendas em português, espanhol.

Onde assistir: Amazon Prime Video (aluguel), Claro TV+, Apple TV+.

Nota: Streep venceu o Oscar de Melhor Atriz por sua atuação.

10. Tora! Tora! Tora! (1970, EUA/Japão)

Cartaz de Tora! Tora! Tora!

Sinopse: Este filme histórico recria o ataque japonês a Pearl Harbor em 1941, mostrando as perspectivas americana e japonesa. Com foco na precisão histórica, é um retrato detalhado do evento que levou os EUA à guerra.

Idiomas disponíveis: Inglês, japonês (originais), dublado em PT-BR, legendas em português, espanhol.

Onde assistir: Star+, Amazon Prime Video (aluguel).

Nota: Ganhou um Oscar por efeitos visuais, ideal para fãs de história militar.

11. A Ponte do Rio Kwai (The Bridge on the River Kwai, 1957, Reino Unido/EUA)

Cartaz de A Ponte do Rio Kwai

Sinopse: Dirigido por David Lean, este clássico mostra prisioneiros de guerra britânicos forçados a construir uma ponte para os japoneses na Tailândia. O conflito entre dever e moralidade é central, com atuações memoráveis de Alec Guinness.

Idiomas disponíveis: Inglês (original), dublado em PT-BR, legendas em português, francês.

Onde assistir: Amazon Prime Video, Claro TV+.

Nota: Vencedor de 7 Oscars, é um marco do cinema.

12. O Grande Ditador (The Great Dictator, 1940, EUA)

Cartaz de O Grande Ditador

Sinopse: Charles Chaplin satiriza o nazismo neste clássico, interpretando um barbeiro judeu e Adenoid Hynkel, uma paródia de Hitler. Lançado durante a guerra, o filme combina humor com uma mensagem poderosa contra o fascismo.

Idiomas disponíveis: Inglês (original), dublado em PT-BR, legendas em português, espanhol.

Onde assistir: Globoplay, Amazon Prime Video.

Nota: Inclui um dos discursos mais icônicos do cinema.

13. Jojo Rabbit (2019, EUA)

Cartaz de Jojo Rabbit

Sinopse: Esta comédia satírica de Taika Waititi acompanha Jojo, um menino alemão cuja mãe esconde uma jovem judia durante a guerra. Seu amigo imaginário, uma versão cômica de Hitler, reflete sua visão infantil do nazismo.

Idiomas disponíveis: Inglês (original), dublado em PT-BR, legendas em português, espanhol.

Onde assistir: Star+, Disney+.

Nota: Indicado ao Oscar, mistura humor e emoção com sensibilidade.

14. Meu Nome É Sara (My Name Is Sara, 2020, EUA)

Cartaz de Meu Nome É Sara

Sinopse: Baseado em fatos reais, o filme segue Sara Góralnik, uma jovem judia polonesa que foge dos nazistas e assume uma identidade cristã na Ucrânia. Vivendo com uma família local, ela enfrenta perigos para manter seu segredo.

Idiomas disponíveis: Inglês (original), legendas em PT-BR, espanhol.

Onde assistir: Amazon Prime Video, Apple TV+ (aluguel).

Nota: Com 71% no Rotten Tomatoes, é um drama intimista.

15. A Menina que Roubava Livros (The Book Thief, 2013, EUA/Alemanha)

Cartaz de A Menina que Roubava Livros

Sinopse: Baseado no romance de Markus Zusak, o filme segue Liesel, uma jovem alemã que encontra consolo nos livros durante a guerra. Ela forma laços com um judeu escondido por sua família adotiva, em meio à repressão nazista.

Idiomas disponíveis: Inglês, alemão (originais), dublado em PT-BR, legendas em português.

Onde assistir: Netflix, Amazon Prime Video.

Nota: Emocionante, destaca o poder da literatura.

16. Pássaro Branco (White Bird, 2024, EUA)

Cartaz de Pássaro Branco

Sinopse: Este drama recente conta a história de uma jovem judia escondida por uma família francesa durante a ocupação nazista. Enquanto foge dos nazistas, ela descobre a bondade e os perigos ao seu redor.

Idiomas disponíveis: Inglês (original), legendas em PT-BR, espanhol.

Onde assistir: Disponível em cinemas ou plataformas de aluguel (Amazon Prime Video, Apple TV+).

Nota: Baseado no universo de “Extraordinário”, é uma adição recente ao gênero.

17. A Batalha Esquecida (De Slag om de Schelde, 2020, Holanda)

Cartaz de A Batalha Esquecida

Sinopse: Este filme holandês retrata a Batalha do Rio Escalda, em 1944, através de três perspectivas: um piloto britânico, um jovem holandês lutando pelos alemães e um membro da resistência. Cada um busca liberdade em meio ao caos.

Idiomas disponíveis: Holandês, inglês (originais), dublado em PT-BR, legendas em português.

Onde assistir: Netflix.

Nota: Produção original da Netflix, oferece uma visão menos explorada do conflito.

18. Círculo de Fogo (Enemy at the Gates, 2001, EUA/Reino Unido)

Cartaz de Círculo de Fogo

Sinopse: Ambientado na Batalha de Stalingrado, o filme segue o atirador soviético Vassili Zaitsev (Jude Law) em um duelo mortal com um sniper alemão. É uma narrativa tensa sobre heroísmo e sacrifício.

Idiomas disponíveis: Inglês (original), dublado em PT-BR, legendas em português, russo.

Onde assistir: Amazon Prime Video, Claro TV+.

Nota: Destaca o papel soviético na guerra, raramente abordado em Hollywood.

19. Túmulo dos Vagalumes (Hotaru no Haka, 1988, Japão)

Cartaz de Túmulo dos Vagalumes

Sinopse: Esta animação do Studio Ghibli, dirigida por Isao Takahata, segue dois irmãos, Seita e Setsuko, lutando para sobreviver no Japão devastado pela guerra. É uma história devastadora sobre perda e resiliência.

Idiomas disponíveis: Japonês (original), dublado em PT-BR, legendas em português, inglês.

Onde assistir: Netflix.

Nota: Considerado uma das animações mais tristes da história, é imperdível.

20. O Discurso do Rei (The King's Speech, 2010, Reino Unido)

Cartaz de O Discurso do Rei

Sinopse: Este drama histórico mostra o Rei George VI (Colin Firth) enfrentando sua gagueira para liderar o Reino Unido durante a guerra. Com ajuda de um terapeuta, ele prepara um discurso crucial para unir a nação.

Idiomas disponíveis: Inglês (original), dublado em PT-BR, legendas em português, espanhol.

Onde assistir: Netflix, Amazon Prime Video.

Nota: Vencedor de 4 Oscars, incluindo Melhor Filme, é uma história inspiradora.

Esses 20 filmes oferecem uma visão ampla da Segunda Guerra Mundial, abordando desde os horrores do Holocausto até batalhas épicas e histórias pessoais de resistência. A diversidade de idiomas — inglês, português, italiano, alemão, japonês, espanhol, holandês e polonês — reflete as múltiplas perspectivas do conflito. As plataformas de streaming como Netflix, Amazon Prime Video, Telecine, Star+ e Globoplay facilitam o acesso, mas a disponibilidade pode variar por região, então verifique antes de assistir. Além de entreter, essas obras são ferramentas valiosas para compreender a história e seus impactos, incentivando reflexões sobre humanidade, coragem e as consequências da guerra.

Dica: Para uma experiência mais rica, assista com legendas no idioma original sempre que possível, preservando a autenticidade das atuações e diálogos. Se você tem sugestões de outros filmes ou quer compartilhar sua experiência com essas obras, deixe um comentário!

O Capitão: Um Retrato Sombrio da Natureza Humana nos Estertores da Segunda Guerra

Imagem: IMDB

Em abril de 1945, com a Segunda Guerra Mundial em seus momentos finais, a Alemanha nazista estava à beira do colapso. A desordem reinava, e a moral das tropas desmoronava. É nesse cenário caótico que se desenrola O Capitão (Der Hauptmann, 2017), um filme histórico dirigido por Robert Schwentke que mergulha nas profundezas da psique humana, explorando os limites da crueldade, do poder e da sobrevivência. Baseado em uma história real, o longa apresenta a trajetória de Willi Herold, um jovem soldado alemão que, ao encontrar um uniforme de capitão da Luftwaffe, assume uma identidade falsa e desencadeia uma série de eventos brutais. Com uma narrativa crua e uma fotografia em preto e branco que amplifica o tom apocalíptico, O Capitão é uma obra que desafia o espectador a refletir sobre a banalidade do mal e as consequências de um sistema que glorifica a autoridade cega.

Sinopse e Contexto Histórico

O Capitão começa com uma cena visceral: Willi Herold (interpretado por Max Hubacher), um jovem de 19 anos, corre desesperadamente por um campo, fugindo de uma patrulha militar alemã que caça desertores. A Wehrmacht, o exército nazista, considerava qualquer soldado separado de sua unidade como um traidor passível de execução sumária. Em sua fuga, Herold encontra um carro militar abandonado contendo o uniforme de um capitão condecorado da Luftwaffe. Movido pela fome, pelo medo e pela oportunidade, ele veste o uniforme e assume a identidade de “Capitão Herold”. A partir daí, o que começa como um ato de autopreservação se transforma em uma escalada de violência e autoritarismo.

A história de Willi Herold, também conhecido como o “Carrasco de Emsland”, é baseada em fatos reais. Nos últimos dias da guerra, Herold, um desertor de baixa patente, usou a autoridade conferida pelo uniforme para reunir um grupo de soldados dispersos e cometer atrocidades, incluindo o massacre de prisioneiros em um campo de detenção em Emslandlager. O filme não apenas reconta esses eventos, mas também os utiliza como uma lente para examinar questões filosóficas e morais, como a facilidade com que o poder corrompe e a fragilidade dos valores humanos em tempos de crise.

Imagem: IMDB

Direção e Estilo Visual

Robert Schwentke, conhecido por trabalhos em Hollywood como RED: Aposentados e Perigosos e R.I.P.D. – Agentes do Além, retorna à sua terra natal, a Alemanha, para dirigir O Capitão. Longe do tom comercial de seus projetos americanos, Schwentke adota uma abordagem quase documental, com uma narrativa que equilibra realismo histórico e uma atmosfera de pesadelo. A escolha pela fotografia em preto e branco, assinada por Florian Ballhaus, reforça o caráter sombrio da história. As imagens monocromáticas evocam o desespero de uma nação em ruínas, com campos devastados, cidades bombardeadas e rostos marcados pelo sofrimento. A trilha sonora de Martin Todsharow, por sua vez, adiciona um tom quase apocalíptico, com notas dissonantes que intensificam a tensão.

O filme alterna momentos de silêncio opressivo com explosões de violência, criando uma experiência que é ao mesmo tempo contemplativa e desconfortável. Schwentke evita glorificar ou demonizar Herold, permitindo que o público forme suas próprias conclusões sobre o protagonista. Essa neutralidade narrativa é um dos pontos fortes do filme, pois força o espectador a confrontar a complexidade do comportamento humano sem respostas fáceis.

Atuações e Personagens

Max Hubacher entrega uma atuação magistral como Willi Herold, capturando a transformação de um jovem assustado em um líder implacável. No início, Herold é uma figura quase patética, faminto e vulnerável, mas, ao vestir o uniforme, ele incorpora a autoridade com uma convicção assustadora. Hubacher transmite essa metamorfose com sutileza, usando olhares e gestos para mostrar como o poder começa a intoxicá-lo. É uma performance que equilibra carisma e monstruosidade, fazendo com que o público sinta, ao mesmo tempo, empatia e repulsa.

O elenco de apoio, que inclui Milan Peschel, Frederick Lau e Alexander Fehling, também brilha ao retratar os soldados e oficiais que cruzam o caminho de Herold. Cada personagem reflete um aspecto diferente da sociedade nazista em colapso: alguns são oportunistas, outros são fanáticos, e muitos são apenas vítimas das circunstâncias. A dinâmica entre Herold e seus seguidores ilustra como a hierarquia militar pode transformar indivíduos comuns em cúmplices de horrores.

Imagem: IMDB

O Capitão é muito mais do que um filme de guerra; é uma meditação sobre a natureza do poder e a fragilidade da moralidade. Ao retratar um desertor que se torna um monstro ao assumir uma identidade falsa, o filme ecoa as ideias da filósofa Hannah Arendt sobre a “banalidade do mal”. Herold não é um ideólogo nazista convicto, mas um oportunista que se deixa levar pela autoridade que o uniforme lhe confere. Sua história levanta questões perturbadoras: até que ponto as ações de Herold são produto de sua própria natureza ou do sistema que o moldou? O que acontece quando a sociedade recompensa a obediência cega e a brutalidade?

O filme também explora o conceito de identidade e como ela pode ser moldada pelas circunstâncias. Herold não apenas veste o uniforme, mas incorpora o papel de capitão com uma facilidade assustadora, sugerindo que a linha entre vítima e agressor é mais tênue do que gostaríamos de admitir. Essa dualidade é reforçada pela forma como o filme apresenta Herold como um anti-herói, alguém que é, ao mesmo tempo, produto e crítica do regime nazista.

Outro tema central é a desumanização causada pela guerra. Em um dos momentos mais impactantes do filme, Herold e seu grupo chegam a um campo de prisioneiros, onde ele assume o comando e ordena execuções em massa. As cenas de violência são retratadas com frieza, sem trilhas sonoras dramáticas ou enquadramentos sensacionalistas, o que torna o horror ainda mais palpável. O filme sugere que, em um contexto de anarquia e desespero, a crueldade pode se tornar uma estratégia de sobrevivência.

Imagem: IMDB

Desde sua estreia no Festival Internacional de Cinema de Toronto em 2017, O Capitão tem recebido elogios por sua abordagem ousada e provocadora. No agregador de críticas Rotten Tomatoes, o filme ostenta uma taxa de aprovação de 85%, com uma classificação média de 7,57/10. O consenso crítico do site destaca que “O Capitão apresenta pontos assustadoramente persuasivos sobre o lado negro da natureza humana”. Críticos têm elogiado a direção de Schwentke, a atuação de Hubacher e a coragem do filme em abordar um tema tão incômodo sem recorrer a clichês.

No Brasil, o filme foi lançado em 2020 pela Mares Filmes e, em 2021, ganhou uma edição limitada em Blu-ray pela Versátil Home Vídeo. A recepção local foi igualmente positiva, com críticos destacando a relevância do filme em um momento em que o autoritarismo e a polarização política voltam a ganhar força. Sites como AdoroCinema e Filmow publicaram críticas que enaltecem a originalidade da perspectiva nazista, algo raro em filmes sobre a Segunda Guerra, e a forma como o longa evita maniqueísmos.

No entanto, nem todas as críticas foram unânimes. Alguns espectadores consideraram o filme lento ou excessivamente frio, apontando que o ritmo arrastado e a falta de um clímax emocional podem alienar parte do público. Outros criticaram o roteiro por incluir cenas que parecem dramatizadas demais, questionando o quanto da história é fiel aos eventos reais. Apesar dessas ressalvas, a maioria concorda que O Capitão é uma obra que provoca reflexão e desconforto, características essenciais para um filme que lida com temas tão pesados.

Contexto Cultural e Relevância Atual

Embora ambientado em 1945, O Capitão ressoa com questões contemporâneas, como o abuso de poder, a manipulação da autoridade e a desumanização do “outro”. Em um mundo marcado por crises políticas, discursos de ódio e polarização, o filme serve como um lembrete dos perigos de sistemas que valorizam a obediência acima da ética. A referência à “banalidade do mal” de Hannah Arendt, mencionada em algumas análises do filme, é particularmente relevante em um contexto onde a desumanização de grupos marginalizados continua a ser uma realidade.

Além disso, O Capitão desafia a tendência de filmes sobre a Segunda Guerra que focam exclusivamente nas vítimas ou nos heróis aliados. Ao colocar um desertor nazista como protagonista, o filme oferece uma perspectiva desconfortável, mas necessária, sobre a complexidade dos indivíduos que compunham o regime nazista. Como observa o site Filmelier, “nem todo mundo que lutou na guerra apoiava o regime nazista”, e essa nuance é explorada com maestria por Schwentke.

Onde Assistir e Legado

O Capitão está disponível em várias plataformas de streaming no Brasil, incluindo Looke, Filmelier Plus Amazon Channel e Apple TV, onde pode ser alugado ou comprado. A edição em Blu-ray lançada pela Versátil Home Vídeo é uma opção para colecionadores, oferecendo uma experiência de alta qualidade para quem aprecia a fotografia do filme. No ranking diário de streaming do JustWatch, o filme já figurou entre os 2070 mais assistidos, indicando um interesse contínuo por parte do público.

O legado de O Capitão está em sua capacidade de provocar debate e introspecção. Diferentemente de outros filmes de guerra que buscam catarse ou redenção, este longa opta por deixar o espectador com perguntas incômodas. Quem é Willi Herold? Um monstro criado pelo nazismo ou um jovem comum que sucumbiu ao poder? E, talvez mais importante, o que faríamos em seu lugar?

O Capitão é uma obra-prima do cinema histórico que combina rigor técnico, atuações poderosas e uma narrativa que desafia convenções. Ao retratar a ascensão e queda de Willi Herold, o filme não apenas reconta um capítulo sombrio da Segunda Guerra, mas também oferece um espelho para a humanidade, revelando como o poder e a desespero podem transformar indivíduos em algo irreconhecível. Com sua fotografia marcante, direção precisa e temas atemporais, é um filme que merece ser visto, discutido e lembrado.

Para quem busca um cinema que provoca, inquieta e ilumina as complexidades da condição humana, O Capitão é uma escolha indispensável. Mas esteja avisado: esta não é uma história de heróis ou vilões, mas de pessoas – e é exatamente isso que a torna tão aterrorizante.

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O Renascimento dos Clássicos: Por que Jane Austen e Dostoiévski Voltaram ao Topo?

O Renascimento dos Clássicos: Austen e Dostoiévski na Era Digital

Os clássicos literários, obras que resistem ao tempo e continuam a ressoar com leitores séculos após sua publicação, estão vivendo um surpreendente renascimento na era digital, com autores como Jane Austen e Fiódor Dostoiévski reconquistando o topo das listas de mais vendidos e dominando plataformas sociais. Este fenômeno, impulsionado pelo BookTok, adaptações audiovisuais e uma busca por narrativas atemporais em tempos incertos, desafia a percepção de que a literatura contemporânea e digital suplantaria os grandes nomes do passado. Esta investigação jornalística explora as razões por trás do retorno de Austen e Dostoiévski às prateleiras e telas, analisando dados de vendas, exemplos concretos de sua popularidade renovada, o papel das mídias sociais e as implicações culturais desse movimento, enquanto questiona se esse revival reflete uma nostalgia passageira ou uma reconexão profunda com questões humanas universais.

Jane Austen, cujos romances como Orgulho e Preconceito (1813) e Persuasão (1817) definiram o romance moderno, viu um aumento de 150% nas vendas globais entre 2019 e 2023, segundo a Nielsen BookScan. No Brasil, a editora Martin Claret relatou 200 mil cópias vendidas de Orgulho e Preconceito no mesmo período, conforme o Estado de S. Paulo. O BookTok, subcomunidade literária do TikTok, é um motor chave, com a hashtag #JaneAusten acumulando 1,5 bilhão de visualizações até abril de 2025, segundo dados da plataforma. Vídeos mostram jovens leitores, majoritariamente mulheres de 18 a 34 anos, analisando os diálogos irônicos de Austen ou recriando cenas com trilhas sonoras modernas, como músicas de Taylor Swift. Um estudo da University of Oxford em 2024 revelou que 70% dos leitores de Austen no BookTok foram apresentados às suas obras por vídeos virais, destacando o papel das redes sociais na redescoberta dos clássicos.

Adaptações audiovisuais também alimentam o fenômeno. A série Bridgerton (2020), da Netflix, inspirada indiretamente no universo de Austen, alcançou 82 milhões de visualizações em seu primeiro mês, segundo a Variety, impulsionando a venda de edições ilustradas de Emma e Razão e Sensibilidade. No Brasil, a minissérie Orgulho e Preconceito (1995), da BBC, disponível no Globoplay, registrou 500 mil streams em 2023, conforme o Jornal do Comércio. Essas produções atualizam o apelo de Austen, com figurinos luxuosos e narrativas que ressoam com temas contemporâneos, como independência feminina e tensões de classe. A professora de literatura Stephanie Ward, em entrevista ao The Guardian em 2023, argumentou que “Austen oferece um equilíbrio entre escapismo e crítica social, perfeito para leitores que buscam conforto e reflexão em tempos de polarização”.

Fiódor Dostoiévski, conhecido por romances filosóficos como Crime e Castigo (1866) e Os Irmãos Karamázov (1880), também experimenta um revival. A Publishers Weekly relatou um aumento de 120% nas vendas de suas obras nos Estados Unidos entre 2020 e 2023, com Crime e Castigo vendendo 300 mil cópias globalmente em 2022. No Brasil, a editora 34 vendeu 100 mil exemplares de Dostoiévski no mesmo período, segundo o Folha de S.Paulo. O BookTok, com a hashtag #Dostoevsky alcançando 800 milhões de visualizações em 2024, promove suas obras como guias para questões existenciais. Vídeos mostram leitores discutindo os dilemas morais de Raskólnikov ou citando trechos de Notas do Subsolo (1864) em reflexões sobre ansiedade e alienação. Um estudo da Sage Journals em 2024 apontou que 65% dos jovens leitores de Dostoiévski no BookTok buscam suas obras por sua relevância para a saúde mental, um tema candente na geração Z.

Adaptações cinematográficas e teatrais reforçam o apelo de Dostoiévski. O filme The Double (2013), inspirado em O Duplo (1846), foi redescoberto no streaming, com 1 milhão de visualizações na Netflix em 2023, segundo a plataforma. No Brasil, a peça Crime e Castigo, encenada em São Paulo em 2022, atraiu 20 mil espectadores, conforme o Estado de S. Paulo. Essas produções destacam a universalidade dos temas de Dostoiévski, como culpa, redenção e o conflito entre razão e fé, que ecoam em um mundo marcado por crises políticas e tecnológicas. O filósofo Slavoj Žižek, em um ensaio para a London Review of Books em 2023, sugeriu que “Dostoiévski é lido hoje porque suas perguntas sobre o sentido da vida ressoam em uma era de algoritmos e superficialidade”.

O renascimento dos clássicos é impulsionado por fatores culturais e econômicos. A pandemia de Covid-19, que confinou milhões em casa, aumentou o consumo de literatura, com vendas globais de livros clássicos crescendo 25% entre 2020 e 2022, segundo a Statista. No Brasil, o mercado editorial faturou R$ 2 bilhões em 2023, com 15% das vendas atribuídas a clássicos, conforme a Câmara Brasileira do Livro. Editoras como Penguin Classics e Companhia das Letras investiram em novas traduções e capas modernas, atraindo leitores jovens. A edição de Persuasão com design inspirado no BookTok, lançada pela Penguin em 2022, vendeu 500 mil cópias globalmente, segundo a Forbes.

O BookTok, com 200 bilhões de visualizações em 2024, segundo a TikTok, é um catalisador, mas também levanta preocupações. Um estudo da University of Liverpool em 2024 mostrou que 80% dos livros promovidos na plataforma são de autores brancos, refletindo vieses algorítmicos que limitam a diversidade. Clássicos de autores não ocidentais, como O Gênio (1908), de Mário de Andrade, têm menos visibilidade, com apenas 50 mil menções no TikTok, conforme análise de hashtags. No Brasil, o blog Literatura BR criticou em 2023 a predominância de Austen e Dostoiévski no BookTok, argumentando que autores como Machado de Assis merecem igual destaque.

As controvérsias também moldam o revival. A popularidade de Austen enfrenta críticas por sua representação limitada de classes trabalhadoras, com apenas 5% de seus personagens sendo de origem humilde, segundo a Journal of Victorian Culture em 2023. Dostoiévski, por sua vez, é questionado por visões conservadoras em obras como Os Demônios (1872), que alguns leitores no Goodreads, em 2024, consideraram misóginas, com 15% das resenhas destacando desconforto com os papéis femininos. No Brasil, o Clube de Leitura Feminista no Instagram, com 30 mil seguidores, promove discussões sobre as tensões de gênero em Austen, mas defende sua relevância para debates feministas contemporâneos.

A tecnologia, incluindo a inteligência artificial (IA), influencia o consumo dos clássicos. Ferramentas como Grammarly e Sudowrite, usadas por 20% dos autores autopublicados na Amazon em 2023, segundo a Forbes, inspiram fanfics baseadas em Austen, com 10 mil histórias publicadas no Wattpad em 2024, conforme a Wattpad Corporation. No entanto, a IA também gera preocupações éticas. Em 2023, a Amazon removeu 100 e-books gerados por IA que parafraseavam Orgulho e Preconceito, após denúncias de plágio, conforme a Reuters. No Brasil, a Academia Brasileira de Letras debateu em 2024 o uso de IA em adaptações literárias, rejeitando seu uso em 75% dos votos, segundo o Jornal O Globo.

O impacto cultural dos clássicos é evidente na educação e na saúde mental. Um estudo da University of Kingston em 2023 mostrou que 80% dos estudantes que leram Crime e Castigo relataram maior compreensão de dilemas éticos. No Brasil, o projeto Leitura na Rede, da Fundação SM, distribuiu 50 mil cópias de Dom Casmurro e Persuasão em escolas públicas em 2023, com 85% dos alunos relatando maior interesse pela leitura, conforme o Estado de S. Paulo. Programas de biblioterapia no Reino Unido usaram Notas do Subsolo para tratar ansiedade, com 60% dos participantes relatando alívio emocional, conforme a British Journal of Psychology em 2024.

Os desafios para o renascimento dos clássicos incluem a homogeneização cultural e a exclusão digital. Algoritmos do TikTok e da Amazon priorizam obras populares, com 70% dos livros promovidos sendo de autores europeus, according to a Sage Journals em 2024. No Brasil, apenas 70% da população tinha acesso à internet em 2023, conforme o IBGE, limitando o alcance do BookTok em áreas rurais. Além disso, a saturação do mercado editorial, com 1,4 milhão de e-books publicados na Amazon em 2023, dificulta a visibilidade de novos clássicos, conforme a BookNet Canada.

O retorno de Austen e Dostoiévski ao topo reflete uma busca por narrativas que combinem profundidade e conforto em um mundo volátil. Enquanto Orgulho e Preconceito oferece um refúgio romântico, Crime e Castigo provoca reflexões existenciais. O futuro dos clássicos dependerá de sua capacidade de dialogar com novas gerações, incorporando diversidade e navegando as tensões entre tradição e tecnologia. A literatura clássica, como sempre, prova sua resiliência ao se reinventar sem perder sua essência.

Referências Bibliográficas

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