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[RESENHA #526] Jimi Hendrix - uma sala cheia de espelhos, de Charles R. Cross

Cross, Charlie R. Jimi hendrix - uma sala cheia de espelhos: A verdadeira história por trás do mito do maior guitarrista de todos os tempos / Charles R. Cross; Tradução: Martha Argel.- 1. Ed. - São Paulo: Editora Seoman, 2022.

Esta biografia, escrita pelo autor best-seller e reconhecido jornalista musical Charles R. Cross, traz relatos inéditos sobre a vida e obra do maior guitarrista de todos os tempos. Muito já foi escrito sobre ele, contudo, Hendrix é muito mais conhecido pelo seu mito do que por sua verdadeira biografia, por sua infância e pelos bastidores da sua curta e incendiária carreira como músico, o que é corrigido neste livro de forma impecável. Baseado em mais de 300 entrevistas, documentos nunca antes revelados e diversas pesquisas, este livro apresenta um profundo e fascinante retrato do gênio da música que conseguiu sair da pobreza para o sucesso, colocar fogo no mundo do rock e inadvertidamente pôr fim em seu próprio talento. A obra inclui também muitas informações sobre a verdadeira história de sua saída do serviço militar, um relato alucinante de Woodstock e os detalhes de seus muitos amores.

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Esta biografia me pegou de jeito - em todos os sentidos. Jimi foi um cantor, compositor e guitarrista que mudou o mercado musical com sua guitarra em meados dos anos 60. A obra biográfica descrita por Cross é crua e extremamente forte, nota-se que houve um pesado empenho de pesquisa para o desenvolvimento da obra, o que torna o livro um dos mais completos que já li a respeito de alguém, uma biografia que caminhou das dores ao sucesso do guitarrista, pautando os principais acontecimentos e dificuldades até o seu estrelato.

Já se passaram mais de 35 anos desde que Jimi Hendrix morreu, mas sua música e espírito ainda estão vivos para seus fãs em todos os lugares. O livro narra a vida de Hendrix, desde sua difícil infância e adolescência até sua ascensão à celebridade na Londres dos anos 1960. Uma história chocante que também revela um homem que lutou para aceitar seu papel de ídolo e que secretamente ansiava por uma vida familiar. normal que nunca foi.

Jimi Hendrix - Uma sala cheia de espelhos, baseado em documentos nunca antes vistos, cartas particulares e mais de trezentas entrevistas, revela o enorme mistério de uma das lendas mais duradouras do rock - o homem que, nos curtos 27 anos de sua vida, foi capaz de sair da pobreza para o sucesso, inflamar o mundo do rock e inadvertidamente extinguir seu próprio talento em chamas. Além disso, o autor nos mostra um retrato muito mais íntimo, detalhado e humano de Hendrix. Resultado de uma pesquisa altamente privilegiada, o livro contém uma riqueza de informações de um ponto de vista inédito, como a verdade sobre sua saída do exército, o impressionante relatório de Woodstock e detalhes de seus muitos, muitos amores e outros fatos interessantes sobre sua vida privada em uma brilhante reportagem investigativa, que homenageia esse grande ícone da música do século XX.

Cross desenvolveu com maestria uma narrativa que cativa e prende o leitor, em suas primeiras cem páginas somos convidados à um universo alternativo de descobertas sobre Jimi e toda sua história triste de superação e vitória. Cross possui um cuidado especial ao narrar a infância triste de Jimi até o seu desenvolvimento espontâneo com seus fãs. Ele trata de forma singela a vida deste astro e de seu som incendiário que tomou o coração de toda uma legião de fãs por tantos e tantos anos. Acredito que, o livro é uma homenagem belíssima acerca da vida de alguém que se findou tão cedo. O livro narra sua generosidade, bondade, garra, amor aos fãs e todo mistério acerca de sua partida tão repentina e toda repercussão acerca deste tema que entristece os fãs até os dias atuais.

Sai desta leitura melancólico, triste e chateado, mas nada em relação à escrita, tudo se deve a uma vida de alguém que se ceifou tão cedo, de alguém tão brilhante com contribuições tão significativas em um meio tão difícil de se destacar, sobretudo, pelos períodos políticos e do preconceito que rondaram parte de sua infância e estrelato, é inegável, perdemos um talento que é insubstituível.

O livro é repleto de gatilhos mentais como vida familiar inexistente, preconceito, agressões, dentre outros tópicos sensíveis para alguns, requer cautela, no mais, a obra é instigante, completa e triste. Impossível ler sobre a vida de Jimi e não se compadecer com tudo, uma linda biografia que merece ser lida por todos, até por quem não é fã, afinal, foi uma vida de lutas e conquistas que merece ser reverberada pela eternidade.

O título do livro é uma alusão à uma letra escrita pelo artista intitulada room full of mirrors, em 1968 [a canção nunca chegou a ser lançada oficialmente], sua versatilidade e suas múltiplas faces, que ainda que conhecida, pouco explorada, o que torna esta obra tão singela e única. O autor também é conhecido por ter escrito uma biografia sobre Kurt Cobain.

A canção de Hendrix fala-nos acerca de um homem aprisionado em seu próprio universo cercado por espelhos com reflexos de si mesmo que o persegue até mesmo em seus sonhos.

O livro é indicado para fãs do guitarrista, bem como da escrita do autor ou do gênero proposto.

[RESENHA #525] Samba de enredo, de Alberto Mussa e Luiz Antonio Simas


MUSSA, ALBERTO. Samba de enredo: história e arte / Alberto Mussa, Luiz Antonio Simas - 2ºed. rev, ampl. - Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2023.

Apresentação/sinopse Samba de enredo: história e arte surgiu em 2009, da parceria entre Alberto Mussa e Luiz Antonio Simas, ambos escritores apaixonados pela cultura do samba. O livro apresenta análises minuciosas de sambas de enredo e suas relações com a história social do país. Em meio a ritmos, letras e personagens, leitores e leitoras conhecem o modo como esse gênero tipicamente brasileiro vem sendo construído e se desenvolvendo, de 1870 até a atualidade.

Para analisar a letra e o contexto desses sambas-enredos, Alberto Mussa e Luiz Antonio Simas ouviram cerca de 1.600 canções gravadas, além de outras, que estão registradas na memória acumulada ao longo de vários carnavais.

Nesta nova edição, revista e ampliada, os autores atualizaram o livro com um posfácio, que trata das mudanças nos sambas de enredo, de 2010 a 2022. O texto de orelha é assinado pelo mestre Haroldo Costa. Tanto para quem deseja se iniciar no mundo do carnaval quanto para quem busca um aprofundamento, Sambas de enredo: história e arte é leitura essencial.


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O livro Samba de enredo é uma bibliografia acerca da história do samba e do gênero enredo, um gênero genuinamente brasileiro e das modificações estéticas sofridas ao longo dos anos. A obra é um estudo de anos de dedicação do autores, que dedicaram-se de corpo e alma à acompanhar o samba, o carnaval e todas as marchinhas e disputas de samba nas quadras, elucidando assim, o enredo discorrido nesta narrativa que percorre transições e criações poética das escolas de samba e suas capacidades de se reinventarem, quase que, espontaneamente. 


O samba de enredo, é, segundo o autor um poema que discorre e transcreve as alegorias do carnaval em uma estética única estabelecidas pela escola de samba. O livro narra acontecimentos históricos dentro e fora dos desfiles e seus efeitos na classificação do samba de enredo de como musicalidade poética e suas transfigurações até o dia de hoje, estabelecendo-se assim, uma linha do tempo tênue entre acontecimentos e formas de expressão das escolas durante o percurso de criação dos desfiles. Nota-se um estudo vasto acerca do tópico, percorrendo por assuntos que discorrem desde outros estilos até à consolidação do samba de enredo, bem como seu destaque dentre todos os outros subgêneros existentes dentro do samba, o que o caracterizou como algo único e inconfundível.


O livro divide-se em diversos capítulos que transitam entre a história do samba e a criação da identidade dentro dos gêneros, percorrendo entre os períodos clássicos [1951-1968] (p.55), época de ouro [1969-1989] (p.73), até o surgimento das escolas de samba de enredo (p.135).


A narrativa mostra-nos como o enredo consolidou-se como uma ferramenta de luta, tornando-se assim, característica de suas criações o enfrentamento de problemáticas sociais, temas de grande escala e importância social, o que pode caracterizar-se no capítulo época de ouro, que nos é mostrado a importância das letras de diferentes escolas de samba durante o período ditatorial. 


Para caminhada do samba dentre o ontem e o hoje, nota-se que o samba de enredo transformou-se inúmeras vezes e continua se transformando e se tornando inconfundível por quem o ouve, para onde ele vai? só o tempo dirá (p.201).


A obra finaliza com uma listagem de todas as composições originais de samba de enredo durante o passar das décadas. O livro é poético em suas estruturas, o samba está em todas as suas páginas, e é possível imaginar-se em um desfile curtindo o carnaval em um misto de samba e efervecência política em suas letras, uma obra majestosa.

[RESENHA #524] A teoria do Estado de Dante Alighieri, por Hans Kelsen



São Paulo: KELSEN, Hans. A teoria do Estado de Dante Alighieri. Editora Contracorrente: Tradução: Luiz Felipe Brandão Osório 2021, 186p

Sinopse/apresentação: A Editora Contracorrente tem a satisfação de anunciar a publicação da primeira edição em português do livro A Teoria do Estado de Dante Alighieri, do celebrado jurista e filósofo Hans Kelsen.

Trata-se da obra inaugural de Hans Kelsen, publicada em 1905, na qual o jurista de Viena examina o trabalho “político” de Dante Alighieri.

Nela se prefigura o interesse de Kelsen pela democracia, pela legitimação do poder e pelos sistemas internacionais de manutenção da paz, como também são reconhecidas algumas perspectivas metodológicas que encontrarão máxima expressão na produção madura de Kelsen.

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Para que possamos analisar a escrita de Kelsen, faz necessário revisitar o significado de Estado de Direito, de acordo com a enciclopédia jurídica da PUC-SP, Estado de Direito nada mais é:

O Estado de Direito em seu sentido amplo “significa que as pessoas devem obedecer às leis e serem reguladas por elas. Porém, em uma teoria política e jurídica, ele deve ser lido de uma maneira mais estrita, no sentido de que o governo deve ser regulado pelas leis e submetido às mesmas. Entre outras palavras, o direito é uma ordem da ação humana, ou seja, um conjunto de normas. O mestre vienense afirma que a lei não é, como comumente se acredita, uma norma. É mais do que isso: Direito é um conjunto de normas que possuem uma unidade que constitui um sistema.

Já para Hans Kelsen:

O Estado, segundo Kelsen, é a personificação do Direito porque não é mais do que uma ordem jurídica coativa da conduta humana. Para ele, nem toda ordem jurídica seria Estado, sendo que este se manifesta somente quando as funções de criação e aplicação da ordem jurídica se centralizam em órgãos especializados.

Para que entendamos a totalidade do pensamento dos estudos elaborados por Kelsen nas teorias de Dante, precisamos compreender sua caminhada até seu interesse pela política medieval em Dante. Pouco se sabe sobre Kelsen nestes aspectos, mas é de conhecimento público que ele jamais interessou-se pelo direito à ponto de mergulhar neste universo, seus primeiros passos caminharam para o estudo de física e matemática, o que revelou sua insatisfação e dando continuidade ao seu interesse latente por assuntos do passado, tal qual, a teoria do Estado em Dante, considerado por muitos uma obra clássica, atemporal e única em todos os sentidos e aspectos possíveis.

Dante ganhou a vida como político e diplomata, mantendo-se em diversos cargos na Florença até seus 24 anos. A república de Florença baseava-se na participação coletiva de todos, excluindo apenas alguns grupos, dentre eles os cargos mais altos, tendo participação ativa apenas de alguns magnatas da época. Após o banimento de diversos líderes da época, Dante acabou entre os condenados à morte após a retomada do poder, vivendo exilado em diversas cidades, até morrer na cidade de Ravena. Em 2008, Dante foi restituído do exílio imposto durante o regime. O que se sabe é que Dante nunca mais pisou em sua cidade natal, isso se dava ao fato da pouca confiança no papa e no modelo participativo da república de Florença.

“Monarquia” [obra escrita por Dante em 1312-13] é escrita em um contexto político específico e no contexto do destino pessoal enfrentado pelo autor. Culminando em uma análise factual com objetivos políticos, ou seja, conflito entre e dentro das cidades, repatriação de exilados e estabelecimento da paz para que essas pessoas possam florescer como indivíduos. Dante estabeleceu esses princípios com base na doutrina da soberania universal do imperador e na correspondente redução da reivindicação universal feita pelo papa Bonifácio VIII em 1302 com o decreto papal Unam Sanctam17. Assim, o objetivo da "Monarquia" era opor-se ao pedido do Papa para consolidar o poder temporário do Imperador, para que ele, considerado o rei do universo, pudesse realizar seus objetivos. política é paz, felicidade e liberdade. Dante constrói um poder imperial utópico usando agentes físicos e autônomos. Claro, nem Bonifácio nem Henrique são considerados atores, e Florença não é considerada uma governante.

Podemos inferir que a teoria do Estado de Dante era que um único rei, sem oponentes temíveis e sem outros desejos para satisfazer, não tinha outro motivo para governar senão a justiça. Seu rei era um príncipe nascido em Platão que foi transferido de uma cidade grega para um império europeu.

O livro é um complexo naquilo o que se propõe a narrativa foi muito bem traduzida e a obra é inteiramente bem traduzida, o que culmina em um estudo bem amplo sobre o assunto, porém, requer pesquisas e atenção, sobretudo, se o leitor for leigo nos assuntos propostos dentro do estudo de Kelsen.

Indicado para todo jurista, estudante de direito ou leitor voraz, que, assim como Kelsen, possui um interesse genuíno por assuntos medievais e assuntos passados no campo jurídico.

[RESENHA #523] Amigos, Amores e aquela coisa terrível, de Matthew Perry

PERRY, Matthew. Rio de Janeiro: Amigos, amores e aquela coisa terrível, ed BestSeller, 2023, 289p

Amigos, amores e aquela coisa terrível é um livro autobiográfico do astro de friends, Matthew Perry. O livro é uma narrativa sincera da vida de Perry enquanto homem e astro, trazendo relatos surpreendentes do autor durante uma fase difícil em sua vida: o abuso de álcool e drogas, o que justifica o e aquela coisa terrível [vício, dependência] presente no titulo. A narrativa é objetiva, sincera e crua, fornecendo ao leitor uma viagem no tempo na vida de Perry, percorrendo por sua ascensão em friends à seus medos e angustias, os momentos nos set de filmagens e toda sua luta contra o alcoolismo. 

O prefácio da obra foi assinado pro Lisa Kudrow, a Phoebe, também do seriado friends. Lisa nos conta sobre como era frequentemente rechaçada com perguntas sobre o astro: Como anda Matthew Perry? A atriz revela que as questões acerca do astro eram demasiadamente delicadas para serem compartilhadas como a impressa que cada vez a pressionava a fazer, e na impossibilidade de esclarecer com clareza a dúvida dos fãs e da imprensa, Lisa, se contentava em apenas responder acho que está bem.

Isso evitava comentários, e talvez pudesse ajudá-lo, a ter um pouquinho de privacidade enquanto tentava lidar com a sua doença. Mas, a verdade era que eu não sabia muito bem como andava o Matthew [...] grifos meus. (p.11)

Talvez o principal ponto desta narrativa da vida de Perry é sua real confissão de que o vício e uso e abuso de substâncias podem causar um mal à vida, saúde e sanidade de qualquer pessoa. Os relatos são obscuros, há pequenas pausas com anedotas e piadas de humor negro dentre a narrativa, mas nada que divirta, talvez, pensa-se, que, seja uma válvula adotada pelo autor para frear um pouco da escuridão enfrentado pelo mesmo em sua vida

o mais interessante em tudo isso é acompanhar a vida de Matthew Perry durante seus anos na tevê, e agora, em suas próprias palavras em uma narrativa triste e voraz de sua vida e escolhas. 

Devemos aplaudir Perry por trazer um assunto tão delicado à tona, fomentando assim, uma discussão saudável acerca do tópico, e nos fazendo enxergar o mundo a nossa volta e todas as pessoas que, de certa forma, vivem algum tipo de vicio e precisam se libertar. 

A obra possui fotos e relatos profundos e comoventes, o autor assegurou-se de estar o mais próximo possível do leitor por meio da sinceridade das narrativas, a clareza e luz sobre os acontecimentos, e sobretudo, o uso de recursos de transição entre passado e presente a todo momento, transitando entre narrativas de sua família, relacionamentos, uso e abuso de drogas e outras substâncias, à vida como Chandler Big, os medos e inseguranças e todo processo de libertação e cura de sua doença.

O único adendo da obra é que o autor percorre por passado e presente de maneira leviana, você se perde durante a narrativa e precisa reler ou se atentar no capítulo ou página em que se está, algumas vezes ele bate o martelo em pontos já mencionados em capítulos ou citações passadas, nota-se também que o autor ainda está trabalhando sua capacidade de falar de si mesmo, talvez por todo trauma e história acerca de sua vida. O que muitos não sabem é que este não é o primeiro livro do autor, Perry também escreveu um ensaio sobre cavalaria, que em português ficaria algo como um soldado profissional: história da cavalaria, com excelentes críticas na web, o que me fez delirar na ideia de que alguém possa ser tão talentoso e bom com as palavras a ponto de transitar tão bem entre narrativas tão distintas.

Se você está realmente interessado em se emocionar por duas horas e meia (sim, lie m duas horinhas, incrível, né?), este livro é para você. E engana-se quem acha que é necessário ser fã da série para se emocionar, você só precisa estar pronto e afim de se deixar levar pela narrativa do autor, que, com certeza fará você se apaixonar e chorar ao mesmo tempo.

[RESENHA #522] Autoajude-me, de Marianne Power



POWER, Marianne. Rio de Janeiro: Autoajude-me, Ed. BestSeller, 2023, 347p

Os livros de autoajuda podem até mudar a sua vida, mas não necessariamente para melhor... Em Autoajude-me!, Marianne Power narra sua hilária e comovente trajetória em busca do autoaperfeiçoamento e do autoconhecimento a partir da leitura dos clássicos desse gênero literário. Marianne Power era viciada em literatura de autoajuda. Suas prateleiras eram repletas de livros dos clássicos aos mais recentes lançamentos sobre como encontrar a melhor versão de si mesma. No entanto, aos 36 anos, se sentia perdida, como se sua vida estivesse empacada. Ela percebeu que, apesar de ter lido tantos guias de auto-aperfeiçoamento, nunca havia seguido à risca nenhum deles. Então, um dia, decidiu mudar tudo. A autora escolheu finalmente ir atrás da vida perfeita que os livros prometiam aquela na qual não havia dívidas, ansiedade, ressacas ou horas intermináveis na frente da TV; aquela em que ela andava pela cidade com autoconfiança e dentes perfeitos, e conhecia o homem dos seus sonhos. Marianne [...]

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Estranho como este livro me lembrou Bridget Jones, ele é engraçado ao ponto de que você não consegue parar de ler. Confesso, eu, ao contrário da autora, detesto todos os livros possíveis de autoajuda, mas este...me pegou de uma forma com a qual eu não estava preparado. O roteiro e a ideia da autora me surpreenderam, eu não achei que algum dia alguém escreveria um livro contando suas experiências e avaliações pessoais acerca da escrita de outras pessoas dentro do universo de autoajuda. A ideia é simples e direta: seguir durante um ano os conselhos dos livros de autoajuda, para tal, ela selecionou doze livros para acompanhar um por mês e testar os efeitos de seus conselhos em sua vida privada. Power conta-nos como foi sua experiência seguindo à risca conselhos como: faça uma coisa na qual tem medo todos os dias, controle suas finanças, diga foda-se à seus problemas, dentre outros, e ela o faz com maestria e muito bom humor.

A ideia veio prontinha: ler um livro por mês, segui-los ao pé da letra, checar se os livros de autoajuda poderiam mudar a minha vida. Eu faria isso por um ano - logo, leria 12 livros. Então eu superaria um problema de cada vez: dinheiro, preocupações, meu peso...E, no fim do ano eu seria...perfeita! (p.23)

A cada capítulo do livro a autora aborda um livro de autoajuda diferente e narra os acontecimentos acerca dos aprendizados. O primeiro livro, por exemplo, tenha medo e siga em frente, de Susan Jeffers, o conselho era pegar alguma atividade a qual temos medo, e assim assim, fazê-la. Power então decidi investir um tempo em tudo o que ela jamais pensou em fazer: paraquedismo, modelagem, stand-ups, dentre outros, o que acaba a levando para segunda etapa: terapia de rejeição, o que a leva a conversar com estranhos e pedir coisas grátis em cafés, dentre outros. Ao que parece, alguns conselhos parecem funcionar, ainda que temporariamente.

Depois de muitas semanas de experiência, a autora percebe que está frustrada. Ela prejudicou-se no trabalho, afastou pessoas, gastou mais dinheiro do que podia e causou tensão em seus relacionamentos. 

A cada livro, as minhas expectativas para vida aumentavam. Eu não queria apenas uma vida feliz, queria uma vida fenomenal. Quanto mais alto a meta era posta, mais eu sentia que estava falhando. Quanto mais perseguia a Eu Perfeita, mais ela fugia de mim. Quanto mais desesperada em ser feliz eu me tornava, menos feliz ficava (p.343)

porém, foram experiências que transformaram a autora, ela nos revela que falar com estranhos sobre assuntos com os quais ela normalmente não compartilharia, a deixou assustado e feliz ao mesmo tempo 

[...] isso marcou o inicio de um novo mundo para mim (p.343)

O livro em si, depois de todos os conselhos, nada mais é do que um ensaio da autora em prol da vida bem vivida, daquela que não nos lembramos atentamos ou vivemos. Viver a vida, talvez este seja o conselho mais sábio de toda obra, a autora nos traz reflexões poderosas, fruto de suas experiências com os livros e com o passar dos dias, ela tornou-se mais atenta aos acontecimentos da vida, narrando sua visão acerca do mundo novo que se formava ao seu redor. A autora transformou sua visão por meio de todas nuances que foram encontrando-se à sua frente.

É como eu me sinto agora. Estou vivendo a vida no presente. Cada momento parece pronto para explodir em sua perfeição. Até mesmo as coisas banais como pendurar roupa lavada, ou lavar pratos, parecem carregada de significados. Não sei porquê. Acho que acabou de chegar ao fim de uma jornada apenas para me dar conta de que não há outro lugar onde eu quisesse estar (p.342)

Autoajude-me é um olhar efervescente e ponderado sobre a autoajuda e da busca pela felicidade. Power nos ensina através de sua escrita uma receita prática que não está escrito em nenhum livro: VIVA, seja feliz e faça seu caminho sem medo de errar. A segunda Briget Jones, repleta de humor.

[RESENHA #521] Preconceito linguístico, de Marcos Bagno



Marcos Bagno, mineiro de Cataguases, é autor de livros infantis, juvenis e, além disso, já escreveu um livro de contos, A invenção das horas, ganhador do IV Prêmio Bienal Nestlé de Literatura em 1988. Em o Preconceito Linguístico – O que é, como se faz - publicado em 1999 pela editora Loyola, Bagno traz uma discussão sobre as implicações sociais da língua. Ele já havia discutido em seu livro A língua de Eulália, Novela Sociolinguística forma preconceituosa com que a língua é tratada na escola e na sociedade e, no Preconceito Linguístico, retoma essa discussão.

Na edição mais atual de seu livro (15ª), encontrei algumas modificações significativas em comparação com a primeira edição. Segundo o autor, essas mudanças devem-se à vontade de manter o livro sempre atualizado, sintonizado com a evolução e a maneira de ver as coisas; com as críticas, sugestões e comentários que o trabalho recebe. Dentre as mudanças, destaco o acréscimo de um capítulo final - O Preconceito contra a linguística e os linguistas, o anexo de uma carta de Bagno à Revista Veja, e a história da capa do livro.

Bagno recusa a noção simplista que separa o uso da língua em " certo" e " errado" , dedicando-se a uma pesquisa mais profunda e refinada dos fenômenos do português falado e escrito no Brasil.

Ao mesmo tempo, convida o leitor a fazer um passeio pela mitologia do preconceito linguístico, a fim de combater esse preconceito no nosso dia-a-dia, na atividade pedagógica de professores em geral e, particularmente, de professores de língua portuguesa. Para isso. O autor analisa oito mitos inseridos no primeiro capítulo do livro A mitologia do preconceito linguístico.

No Mito nº 1 – A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente, em que o autor fala da diversidade do português falado no Brasil e destaca a importância de as escolas e todas as demais instituições voltadas para a educação e a cultura abandonarem esse mito da unidade do português no Brasil e passarem a reconhecer a verdadeira diversidade linguística de nosso país Qualquer manifestação linguística que escape desse triângulo escola-gramática-dicionário é considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, " errada" , como Bagno discute no Mito nº 4 – As pessoas sem instrução falam tudo errado.

No Mito nº 2 – Brasileiro não sabe português / Só em Portugal se fala bem português, o autor faz uma longa análise levando em conta a história desses dois países e desmistifica mais esse preconceito. Quanto ao ensino do português no Brasil, questão também abordada no Mito nº 3 - Português é muito difícil, o problema é que as regras gramaticais consideradas " certas" são aquelas usadas em Portugal, e como o ensino de língua sempre se baseou na norma gramatical portuguesa, as regras que aprendemos na escola, em boa parte não correspondem à língua que realmente falamos e escrevemos no Brasil. Por isso achamos que português é uma língua difícil. O mito no. 4, Brasileiro não sabe português afeta o ensino da língua estrangeira, pois é comum escutar professores dizer: os alunos já não sabem português, imagine se vão conseguir aprender outra língua, fazendo a velha confusão entre a língua e a gramática normativa.

Mito nº 5 – O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão, diz ser este um mito sem nenhuma fundamentação científica, uma vez que nenhuma variedade, nacional, regional ou local seja intrinsecamente " melhor" , " mais pura" , " mais bonita" , " mais correta" do que outra.

Mais um preconceito analisado é a tendência muito forte, no ensino da língua, de obrigar o aluno a pronunciar " do jeito que se escreve" , como se fosse a única maneira de falar português, Mito nº 6 – O certo é falar assim porque se escreve assim.

Mito nº 7 – É preciso saber gramática para falar e escrever bem. Segundo o autor, é difícil encontrar alguém que não concorde com esse mito. Que se invalida, entre outras razões, pelo simples fato de que se fosse verdade, todos os gramáticos seriam grandes escritores, e os bons escritores seriam especialistas em gramática. A gramática, na visão do autor, passou a ser um instrumento de poder e de controle.

O último Mito – O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social, que fecha o circuito mitológico, tem muito a ver com o primeiro, pois ambos tocam em sérias questões sociais. Bagno diz que o domínio da norma culta nada vai adiantar a uma pessoa que não tenha seus direitos de cidadão reconhecidos plenamente e que não basta ensinar a norma culta a uma criança pobre para que ela " suba na vida" Precisa haver um reconhecimento da variação linguística, porque segundo o autor, o mero domínio da norma culta não é uma fórmula mágica que, de um momento para outro, vai resolver todos os problemas de um indivíduo carente.

Avaliação critica:

No capítulo II O círculo vicioso do preconceito linguístico, o autor explica que os mitos analisados no capítulo I são perpetuados em nossa sociedade por um mecanismo de círculo vicioso do preconceito linguístico e demonstra como o procedimento de muitos profissionais colabora para a manutenção da prática de exclusão.

No Capítulo III A desconstrução do preconceito linguístico Bagno discute a ruptura do circuito vicioso do preconceito linguístico, afirmando que a norma culta é reservada, por questões de ordem política, econômicas, sociais e culturais, a poucas pessoas no Brasil.

Discute, por exemplo, a mudança de atitude do professor que deve refletir-se na não-aceitação de dogmas, na adoção de uma nova postura (crítica) em relação a seu próprio objeto de trabalho: a norma culta. Essa mudança, do ponto de vista teórico, poderia ser simbolizada numa troca de sílabas: ao invés de repetir alguma coisa, o professor deveria refletir sobre ela.

Neste mesmo capítulo o autor discorre sobre o que é ensinar o português; o que é erro; a paranoia ortográfica (procurar imediatamente erros na produção de um aluno). Reconhece que o preconceito lingüístico está aí, firme e forte, e 

[RESENHA #520] O homem e o mundo natural, de Keith Thomas

 

THOMAS, Keith. “O predomínio humano”. In:  homem e o mundo natural: Companhia das Letras, 1988. p. 21- 60.


Keith Thomas é um historiador, nascido em 2 de janeiro de 1933 na cidade inglesa da América do Norte, mais conhecido por seus livros "Religion and the Decline of Magic" e "Man and the Natural World". Ele é professor da Universidade de Oxford e membro da Academia Britânica. No livro "O Homem e o Mundo Natural", o autor fala sobre a relação do homem com o mundo natural e sua visão natural da natureza. trabalho

"destina-se a expressar ideias, algumas das quais foram habilmente expressas, em favor das ideias, pensamentos e sentimentos britânicos do início da era moderna em relação aos animais." , os pássaros, a vegetação e a natureza que eles deram a eles. muitas vezes em lugares que não podemos imaginar hoje” (p.19).

O capítulo “O Domínio do Homem” está dividido em cinco diferentes seções que visam examinar de diferentes formas as correntes de pensamento em favor da superioridade do homem sobre a natureza e as consideradas inferiores.

Na primeira parte, com o subtítulo “Fundamentos teológicos”, o autor parte da visão tradicional de que o mundo foi criado para servir e satisfazer o homem, e que as outras espécies devem se submeter a ele, princípio fundamentado no cristianismo e no cristianismo. no livro de Gênesis da Bíblia, porém, é justamente esse ponto que demonstra as dificuldades que existem nesse processo de domesticação no que diz respeito à história da criação e do pecado, quando o homem foi feito para mandar nos animais e o homem perdeu esse direito de mandar pelo pecado. Ao se referir ao cristianismo para justificar a destruição do ambiente natural pelo homem, o autor levanta questões sobre outras civilizações, embora não seguindo a visão antropológica do cristianismo ocidental, mas também localizadas na área da destruição ambiental. . Para explicar brevemente ao autor, "os problemas ambientais não são exclusivos do Ocidente, como erosão do solo, desmatamento e extinção de espécies que ocorrem em partes do mundo onde as culturas judaica e cristã não têm efeito". (página 29).

Na segunda parte do capítulo intitulado "A subjugação do mundo natural", o autor explica o uso da ciência como uma contribuição para a domesticação da natureza, uma vez que esta qualidade se fortaleceu desde o fim do mundo. Iluminação. O autor passa para a seção seguinte, "A Unidade do Homem", na qual o homem, para afirmar sua superioridade, quer se separar da natureza, baseado principalmente em questões de lugar como ponto de vista. O método split não faz isso. para satisfazer os princípios desejados pelo homem, passou então a buscar os campos de diferentes distâncias ao longo dos séculos, entre eles, as ideias religiosas, as palavras e os pensamentos. Argumentos que buscam puramente documentar essa distinção entre humanos e animais para justificar a domesticação de animais seriam moralmente indefesos diante deles. Esse mesmo tema será discutido na próxima seção, "Conservando as Fronteiras", mas de forma diferente, já que o discurso atualmente é baseado na manutenção das fronteiras entre humanos e animais, focando nos aspectos culturais contidos nos costumes e leis de comportamento com a finalidade de ocultar as várias características e dimensões físicas que podem levar ao comportamento humano e animal, "pois todas as obras da carne têm uma associação indesejável com os animais, com alguns comentaristas argumentando que o equilíbrio do físico, ainda mais do que o racional, separa o homem do animal” (p. 44). estabelece uma linha divisória em relação ao próprio indivíduo, quando de alguma forma ele viola essas leis morais, argumento que o autor examina na quinta parte do capítulo, "sub-humanas", onde linhas divisórias foram estabelecidas para justificar a criação, agora ajudam a justificá-la também. a escravização do próprio homem, que poderia ser considerado inferior, é agora comparado verbalmente a outras pessoas, neste caso consideradas inferiores, aos animais. Ocorreu então um processo de desumanização, para justificar o abuso e a escravidão.

"Se eles devem ser tratados como animais, os humanos devem ser tratados dessa forma. O governo humano removeu os animais da esfera de preocupação humana. Mas também permite o maltrato daqueles que têm direito a isso. presumivelmente vivendo em um animal estado." (página 45)
O autor desenvolve linhas de argumentação que foram usadas ao longo do tempo para apoiar os princípios da superioridade humana. Ao longo deste capítulo, porém, ele desenvolve uma ideia dos fatores que contribuíram para o desenvolvimento desse pensamento antropológico e descarta esses mesmos argumentos, característica que torna a obra um tanto confusa em sua opinião.

[RESENHA #519] História da vida privada no Brasil, de Fernando A. Novais

NOVAIS, Fernando As condições da privacidade na colônia. In: MELLO E SOUZA, Laura, org. cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: companhia das letras, 1997, p13-39. (col. História da vida privada no Brasil, v.1)

Novais sobre a reflexão da vida privada nas estruturas da colónia portuguesa no Novo Mundo, procurando explorar o diálogo entre as estruturas gerais do universo colonial e as manifestações da privacidade no seu quotidiano. As crônicas de Coeval consideraram o primeiro traço revelador do terreno comum da colônia com o mundo urbano; em segundo lugar, talvez algo estivesse errado, já que o quadro de referência de nosso irmão, que evocava sua estranheza, era um país europeu.

Uma das marcas da Idade Moderna, do Renascimento ao Iluminismo, editado por Roger Chartier. Entre a Idade Média, quando o Ocidente cristão se estabeleceu como uma "comunidade divina" e os mundos racionais e capitalistas contemporâneos foram expostos à mudança do Império, a região era incerta e fascinante. Este guia é expansivo, não mais lúdico, ainda não capitalista . , infelizmente chamado de "mudança".

O colonialismo moderno é um fenómeno global, no sentido de que envolve todas as esferas da existência, mas a sua dinâmica encontra-se ao nível político e económico. A colonização do Novo Mundo esteve diretamente relacionada ao processo de formação do Estado e expansão comercial que marcou a abertura da Europa moderna.

A colônia era considerada uma extensão, uma extensão da metrópole, mas ao mesmo tempo estava abandonada. A população de uma colônia na visão urbana é igual à população de um município, mas o município é a região de onde as pessoas vêm e a colônia é a região de onde as pessoas vêm. A forte mobilidade era vista como uma característica demográfica do mundo colonial, contra a relativa estabilidade do Velho Mundo. E primeira face deste movimento e do seu rápido crescimento, a colónia tinha uma população comparável à de Portugal, entre 3 e 4 milhões de pessoas.

Uma economia colonial intensiva em recursos, com baixa taxa de replantio, exibe um padrão de crescimento amplo, tende a ser móvel, e isso suporta a dispersão contínua de pessoas no sentido de expandir a área de domínio colonial, além a capacidade de exploração econômica; que as nações modernas em construção da Europa estavam construindo umas sobre as outras, uma competição para proteger os espaços da exploração colonial.

Mobilidade, dispersão, instabilidade são características de populações em colônias divididas, o quadro no qual as relações-chave são integradas à vida cotidiana. A diversidade de comunidades nessa colônia era necessária, e das interações e relações desse caos, essa classe de imigrantes emergiu no cotidiano, depois vemos que “só os madeireiros brasileiros são brasileiros, depois os imigrantes os encontram paulistas, pernambucanos, mineiros , etc., para se apresentarem como brasileiros.

A diversidade era o principal e mais importante fator entre senhores brancos e escravos negros; e como resultado mestiço nasceu escravo. Das estruturas básicas do colonialismo emergiram as condições de vida características, incluindo as expressões quotidianas e de proximidade das sociedades coloniais, onde se evidenciaram as estruturas básicas e a repetição dos acontecimentos.

Uma colônia que não seja o país-mãe, bem como um condado dependente que não seja um estado soberano; enquanto na Europa houve uma transição da servidão feudal para a classe trabalhadora através do trabalho independente de fazendeiros e artesãos, no mundo colonial o trabalho forçado e, finalmente, a escravidão é enfatizada.

A reforma religiosa, a reforma religiosa protestante e a reforma religiosa católica, conduziram este processo em luta, que mostrou a necessidade insuperável de um Estado completo para se sustentar, manter a unidade religiosa. O compromisso da Igreja estava centrado em ganhar os pagãos para o seio da cristandade e manter os colonos presos a doutrinas estritas.

Por outro lado, considera-se que a exploração cristã, a exploração como uma necessidade para alcançar o objetivo da evangelização; por outro lado, nas ações sociais, parece ser o contrário, que a exploração se encarrega de ser normativa.

[RESENHA #518] Os bestializados, de José Murilo /cap 4


O livro é apresentado pelo autor com uma clareza de escrita tornando-o de fácil entendimento. A proposta do autor é contextualizar o leitor com os acontecimentos que anteriores a Revolta da Vacina, embora ele mencione, em vários trechos, que as fontes pesquisadas exigem cuidados especiais, sendo eles os jornais e revistas da época, depoimentos de testemunha ocular e breve relatórios policiais e dos poucos processos criminais.

José Murilo de Carvalho também descreve comparativos da Revoltas populares no Brasil e as Revoltas ocorridas na França, como forma de esclarecer ao leitor as diferenças com relação principalmente à violência.

É perceptível que o objetivo principal do mesmo é mostrar a participação popular e as formas como se deu no período e para isso achou fundamental mostrar o cotidiano na riqueza de detalhes, que realmente te remete ao cenário. Descreve o clima na cidade do Rio de Janeiro antes da Revolta da Vacina que era de insatisfação, principalmente no setor econômico. Rodrigues Alves assume um governo, no qual seu antecessor, Campos Sales, saia sob imensa vaia, pois tinha sido de recessão econômica produzida por uma politica de combate à inflação, sendo assim Rodrigues Alves enveredou por programa intensivo de obras públicas, financiado por recursos externos, que conseguiu dar inicio à recuperação econômica. De imediato promoveu as obras de Saneamento e de reforma urbana da cidade e assim, descreve que o mesmo, “conseguiu poderes quase ditatoriais” para o engenheiro Pereira Passos, nomeado prefeito e para o medico Oswaldo Cruz, nomeado diretor do Serviço de Saúde Pública, com isso a estrutura da cidade passa por transformações, o “bota-abaixo” como José Murilo Carvalho conta em sua comparação que Haussmann fez em Paris, que casas e vários prédios da cidade foram demolidos, bairros inteiros aterrados para dar lugar a praças e para o alargamento de ruas e avenidas, o que facilitaria o trânsito.

Por lado da saúde publica se organiza em três etapas, sendo a primeira no combate a febre amarela, no combate do mosquito, na segunda no combate da peste bubônica, cujo combate exigia a exterminação de ratos e pulgas e a limpeza e desinfecção de ruas e casas, sendo os alvos as áreas mais pobres e de maior densidade demográfica. E para que isso fosse cumprido às brigadas de saúde eram acompanhadas por soldados da policia. Isso tudo já desagradava ao povo, pois muitos tinham que reformar ou abandonar suas casas e as terceira etapa de combate a epidemias, foi à vacinação obrigatória contra a Varíola, no qual causou o desagravo geral, pois a obrigatoriedade da vacina limitava e infligia o direito dos cidadãos. Isso denunciava o domínio do país das oligarquias na qual Rodrigues Alves se incluía, pois para se obter a Modernidade, tratavam e impunham uma vacina como se fossem nas fazendas de gado, mas vacinar pessoas não é a mesma coisa que vacinar gado, pessoas se revoltam, e quando implantaram leis não levaram em conta os fatores psicológicos, sociais e culturais, a vida do cidadão sendo vigiada e controlada, uma vez que atestado da vacina era requerida para todos os atos da vida civil. A vacinação, porem foi o estopim da Revolta e entrou para historia, mas ela foi muito mais que isso.

A Revolta da Vacina se deu, segundo o autor, por uma serie de fatores e uma das maiores características foram as atuações da imprensa da época, em especial caricaturas, pois atingia a população analfabeta. A imprensa propagava ideias, através de boatos, contra a lei e a politica da vacinação, dizendo que o poder público não podia invadir as casas da população e impor a vacina uma vez que a mesma transmitia doença. O autor explica as articulações contra a lei da vacina dos operários, uma vez que boatos contra a honra dos chefes de família foram espalhados, “por haver aí penetrado desconhecido amparado pela proclamação da lei da violação do lar e da brutalização aos corpos de suas filhas e de sua esposa”. Foi quando tudo começou. No dia 10 de novembro de 1904 uma pequena manifestação de estudantes pregava a resistência à vacina. O líder estudantil foi preso a assim iniciou-se a revolta violenta. José Murilo Carvalho, narra detalhadamente os diversos conflitos da revolta, a tomada das ruas do Rio de Janeiro, com ataque e queima de bondes, tomadas de fabricas, delegacias, bem como a sua cada vez mais violenta repressão, inclusive o decreto de Estado de Sítio e a vinda de reforços militares de outros Estados. Nessa parte do texto ele mostra a dificuldade dos historiadores brasileiros em encontrar fontes, pois diferente das revoltas na França, a maioria dos presos não foram processados, só os lideres, muitas vezes elementos da elite, sendo assim ficou difícil à identificação e a ideologia desses revoltosos. As fontes exigiam cuidado especial, na ausência de processo, restam os jornais e revistas da época, esses emitiam opiniões diversas sobre os revoltosos. Mas mostrou, através de tabelas, o perfil dos presos com os boletins dos chefes de policia que no seu entender, por terem uma precisão numérica eram mais “fidedignas”, visto isso aponta que muitos dos presos e mortos eram operários, comerciantes, estudantes, militares, isso destaca que os motivos morais da Revolta, tantas da elite como às classes populares se incomodaram com a ação invasiva do governo, os primeiros lutavam pelos seus direitos sob a doutrina do liberalismo, os mais simples lutavam achar uma violação a privacidade do lar e a honra.

Existiu uma presença significativa de operários entre as vitimas, apesar das divergências internas dentro do movimento operário e do conflito de interesses ente os operários do Centro das Classes Operárias, mais ligado ao governo, e os operários de tendência mais anarquista, eles permaneceram mais ou menos coesos durante a revolta, e José Murilo de Carvalho defende que foi o Centro o grande responsável por traduzir o movimento de oposição dos jornais para as ruas.

[RESENHA #517] As barbas do imperador, de Lilia Moritz Schwarcz


As barbas do imperador nos apresenta uma mistura de ensaio expositivo e biografia de d. Pedro II, este livro apresenta o mito da monarquia ao descrever, por exemplo, a construção de palácios, a mistura de festas francesas e tradições brasileiras, como uma boa sociedade executa belamente a arte do auto aperfeiçoamento, criando medalhas, emblemas, compostos frases. e brasão, o envolvimento do rei e a utilização da sua imagem nas cerimónias populares. Com suas penas de rouxinol, Pedro II legitimou a aceitação da cultura tropical; então, ao trocar as vestes reais pelas roupas de um cidadão, ele de alguma forma anunciará o declínio do Império. Promovendo um rico diálogo entre sua argumentação e o rico imaginário apresentado, o autor mostra que a monarquia brasileira não é apenas um mito poderoso, mas muito unificado. 1999 Prêmio Jabuti de Melhor Redação e Biografia

Schwarcz apresenta seu texto considerando o "mito do Aukê", que, segundo ele, ajuda "a entender a monarquia brasileira como uma experiência compartilhada por diferentes pontos de vista e passível de muitos restauros".

Discutirá, a partir desta lenda, a relação do Imperador e todas as reivindicações a favor ou contra ele, ele ainda questionará, com muita precisão, algum equívoco ou direção conflitante que a história A História ofereceu neste contexto, “afinal”. explicar para sempre, quase sessenta anos, de monarquia rodeada de repúblicas? Ou melhor, "como fazer isso?" negros e mestiços?”.

O autor também menciona o conflito estrutural ainda enraizado na cultura e na cultura do Império, “longe das opulentas cortes da Europa, capital da monarquia brasileira, que em 1838 contava com cerca de 37 mil escravos de uma população total de 97.000 habitantes, e em 1849, com uma população de -206.000, 79.000 foram capturados.” Ele também disse que "neste lugar, a corte e os palácios representam as ilhas hipócritas da Europa cercadas por mares tropicais".

Sobre "a relação Brasil-África", Schwarcz descreve "um intercâmbio mais amplo do que se pode imaginar à primeira vista". João José Reis, o escritor citado por Schwarcz, defende que "havia uma atitude régia, circulando entre os negros, que parecia ser a recriação de ideias de liderança africana, reforçadas experimentadas na colónia, e depois no país O príncipe herdeiro A popularidade de d. Pedro II entre os negros do Rio [...] A ideia do rei como fonte de justiça [...] ] também estiveram presentes na América, inclusive escravos".

A combinação de uma compreensão da cultura europeia com outras ideias locais, criadas na época colonial, é um dos pontos mais relevantes para compreender como os símbolos se arranjam para se adequarem à cultura, onde "o chapéu real conviveu com o chapéu divino e o ideia de realeza". O final está completo. catolicismo estrito brasileiro", e as relações forjadas nesse contexto, incluem "um amplo leque de expressões populares, como o carnaval", que, segundo o autor, "foi alimentado por cenas régias".

"Na verdade, em pleno continente americano, o Brasil era desprezado por outras repúblicas" (...). "Cercada de repúblicas, a monarquia brasileira tem mais obstáculos ao reconhecimento: de um lado, o ostracismo de outras nações americanas; de outro, difíceis relações com os países das Américas. País da Europa".

"Entre continuidade dinástica, persistência e modificação cultural, valores seculares e obscenos se misturam: as origens européias não expiram, mas se combinam com um ambiente único".

Schwarcz ainda observa que, "se do lado dos eleitos, o uso quase irônico da 'imagem do rei' (...) ".

"Governador de 1840 a 1889, d. A vida de Pedro II é contada em episódios dramáticos e ele é marcado a partir deles. Primeiro rei nascido no Brasil, Pedro de Alcântara é comparado a Deus. Criança na tradição portuguesa, considerado Imperador de os deuses na liturgia brasileira, entendida como d. Sebastião foi o último fiel às previsões de Vieira Filho de Bragança, Habsburgo e sobrenome Descendente direto dos Bourbons, d. Pedro é reconhecido como um deus europeu menor, cercado de mestiços. Mãe órfã em um ano, órfão de pai aos dez, governador aos catorze, mutilado, exilado aos 64, no seu caminho é difícil ver onde começa o discurso mitológico da memória, onde termina o discurso sobre política e ideologia ; onde a história começa, onde existem as metáforas”.

“Por isso não importa saber se o rei é educado ou não, muito inteligente ou não tem talento. É melhor encontrar uma maneira de construir a lenda deste Reino, o rei destes trópicos, por conta própria.”

Ao examinar Schwarcz, percebe-se que seu objetivo é encontrar as histórias e expressões que compõem a imagem de Pedro de Alcântara, muitas vezes motivada pelos interesses de um segmento da sociedade que tem O valor mais importante é o dinheiro, e reproduz o melhor contexto para uma nova interpretação.

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