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[RESENHA] Espumas flutuantes, Castro Alves


“Espumas Flutuantes” é a única obra publicada em vida pelo poeta Castro Alves. Publicado em 1870, o livro reúne 53 textos, incluindo versões de poesias de autores como Victor Hugo e Lord Byron.

A obra é marcada por imagens grandiloquentes da natureza (como mar, céu, tufão, sol) e pelo uso abundante de recursos retóricos. Enquanto a poesia de cunho social predomina em outras obras de Alves, aqui o principal tema é o amor.

Ao retratar o amor, Castro Alves segue caminhos diferentes dos poetas das gerações anteriores. Em vez do amor espiritualizado de Gonçalves Dias ou do onírico de Álvares de Azevedo, retrata suas musas com sensualidade quase erótica.

A inspiração para muitos desses versos vem do romance com a atriz portuguesa Eugênia Câmara. Suas experiências e inspirações amorosas refletem-se, por exemplo, em “Boa-Noite”, “Adormecida” e “Hebreia”, três dos melhores poemas.

Apesar de alguns versos de gosto duvidoso, quando bem-sucedido, o poeta é capaz de apontar tendências parnasianas – no rigor da forma, nas descrições plásticas e precisas, nas imagens escultóricas e nas referências a elementos do mundo greco-romano.

Castro Alves também recebeu influências decisivas da geração ultrarromântica: a subjetividade, a paisagem que se incorpora aos dotes da amada ou do amante, os sentimentos impulsivos e explosivos. Ele também tinha um gosto pelo tema da morte, que integra “Espumas Flutuantes” – mas sem o tom dos ultrarromânticos.

Em resumo, “Espumas Flutuantes” é uma obra lírica significativa que une experiência e inspiração, dando uma nova face à poesia amorosa. A linguagem da poesia de Castro Alves é saborosa, apresenta uma perspectiva crítica e revela alguns traços do Realismo.

“Espumas Flutuantes” é a única obra publicada em vida pelo poeta brasileiro Castro Alves. Publicada em 1870, o livro reúne 53 textos, incluindo versões de poesias de autores renomados como o francês Victor Hugo e o inglês Lord Byron.

Período Histórico

Castro Alves nasceu durante o Segundo Reinado, que durou de 1840 a 1889, sob o comando de Dom Pedro II. O debate sobre a escravidão teve avanços importantes nesse período. A abolição da escravatura só ocorreu em 1888, com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel.

Relevância Cultural

Castro Alves é conhecido como o “Poeta dos Escravos”, expressando em suas poesias a indignação aos graves problemas sociais de seu tempo. Ele é o patrono da cadeira n.º 7 da Academia Brasileira de Letras.

Inspirações

As biografias do poeta mostram que a inspiração para muitos desses versos vem do romance com a atriz portuguesa Eugênia Câmara. Suas experiências e inspirações amorosas refletem-se, por exemplo, em “Boa-Noite”, “Adormecida” e “Hebreia”, três dos melhores poemas.

Sinopse da Obra

“Espumas Flutuantes” é uma coletânea de poemas que abrangem os mais variados temas de sua poética. A obra tematiza o amor, o erotismo e o lamento pela chegada da morte. Enquanto em outras obras predomina a poesia de cunho social, aqui o principal tema é o amor. Ao retratá-lo, Castro Alves segue caminhos diferentes dos poetas das gerações anteriores: em vez do amor espiritualizado de Gonçalves Dias ou do onírico de Álvares de Azevedo, retrata suas musas com sensualidade quase erótica, em cenas em que demonstra maturidade no trato do feminino.

A obra é notável por sua linguagem saborosa, perspectiva crítica e revela alguns traços do Realismo. No entanto, a linguagem desta coletânea de poemas é essencialmente romântica e muito carregada de emoção e paixão. A lírica amorosa de “Espumas Flutuantes” apresenta bem poucos poemas que contenham vestígios de um amor platônico e da idealização feminina. Em vez da “virgem pálida”, a mulher nos poemas de Castro Alves é um ser concreto e participa ativamente do envolvimento amoroso.

[ANÁLISE] Poema Sujo, Ferreira Gullar



ANÁLISE DA OBRA "POEMA SUJO", DE FERREIRA GULLAR

O AUTOR

Em 1970, Ferreira Gullar é obrigado a deixar o Brasil, vivendo em várias cidades, foi em Buenos Aires, que o poeta escreveu em 1975 entre maio e outubro o “Poema Sujo” que foi muito bem acolhido pelos intelectuais.

Eram realizados encontros e foi na casa de Augusto Boal, em Buenos Aires, entre grupo de amigos, liderados por Vinícius de Moraes que conheceram e se apaixonaram pelo “Poema sujo”, assim Vinícius de Moraes leva o poema para o Rio de Janeiro escondido em fita-cassete, por razões de segurança.

Já no Brasil Vinícius promove sessões de audição privada para intelectuais e jornalistas, e o editor Ênio Silveira resolve publicá-lo no ano seguinte, sem a presença do poeta, ainda exilado. Esse poema abriu as portas para o seu retorno ao país, que foi em março de 1977.

OS CRÍTICOS

A crítica foi benevolente com o poema, segundo:

Vinícius de Moraes, esse “é o mais importante poema escrito em qualquer língua nas últimas décadas”;

Otto Maria Carpeaux considera-o um “poema nacional”, uma verdadeira “encarnação do exílio”, trazendo todas as experiências, vitórias, derrotas e esperanças de vida do homem brasileiro.

Clarice Lispector classifica-o de “escandalosamente belíssimo”.

A PROPÓSITO DO TÍTULO

Afirmou:

Luiz Carlos Junqueira Maciel:

Diz que Ferreira Gullar afirma que o título “... é porque eu pego o que tem de escuro, de sujo, as cadeiras velhas, os armários velhos, e coloco uma luz. Vou até embaixo, no fundo, e subo trazendo tudo junto: o que é poesia e o que não é poesia”.

Maria Zaira Turchi:

Ao questionar o título do “Poema sujo”, indaga se esse adjetivo teria a mesma conotação de pornográfico, imoral, contrário às normas tradicionais de boas maneiras. Ma o “Sujo” não se localiza nos palavrões, nas tiradas eróticas;

O sujo está na miséria, na fome, na obscena divisão de classes. O sujo está inserido no tempo da enunciação do texto: anos 70, ditadura militar, milagre econômico a enriquecer uma minoria, tortura e censura obscurecendo o país, o poeta exilado, em sua vida clandestina, prestes a ser preso ou fuzilado a qualquer momento;

O “Poema sujo” é um painel-memorial onde se acham acontecimentos tristvida até aquele momento.

É “Poema sujo”, por não seguir as regras poéticas de métrica, rima, palavras adequadas e vocabulário. Há gírias, palavrões e, até mesmo, obscenidades na linguagem. Ainda pode ser “Poema sujo” por ser de um autor perseguido na época, contrário ao regime do seu tempo de rapaz.

O ESTILO DA ÉPOCA

Gullar afirma que suas obras são fruto de reflexões sobre os acontecimentos, a vida e as pessoas, escrita com coerência. O “Poema sujo”, que é seu livro mais conhecido internacionalmente, já foi publicado na Alemanha, Espanha, Colômbia e EUA, é considerado a obra mais ousada de Ferreira Gullar.

Esta obra como diz o autor, é uma obra que traz uma reflexão vigorosa e penetrante sobre a infância e o resgate.

O poeta escreveu as cinco primeiras laudas em um só fôlego:

“Ao terminá-las, sabia de tudo: que o poema ia ter por volta de cem páginas, que teria vários movimentos como uma sinfonia e que se chamaria “Poema sujo”. Hoje, ao refletir sobre aqueles momentos, estou certo de que o poema me salvou: quando a vida parecia não ter sentido e todas as perspectivas estavam fechadas, invente, através dele, outro destino.”

Escreveu-a numa época de forte repressão política, Gullar sentia-se perseguido pela ânsia de relembrar o passado e a dificuldade de expressar, em linguagem poética, o universo interior, o que transparece logo nos primeiros versos, no nível formal do texto:

turvo turvo

a turva

mão do soprocontra o muro

escuro

menos menos

menos que escuro

menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo escuro

mais que escuro:

claro

Como água? Como pluma? Claro mais que claro claro: coisa alguma

e tudo

(ou quase)

um bicho que o universo fabrica e vem sonhando (desde coisa alguma)

e tudo

(ou quase)

um bicho que o universo fabrica e vem sonhando...

Há, nessa passagem, o uso consciente de vogais e consoantes que sugerem um conflito entre o desejo pela expressão exata e a impossibilidade de transpor para o verso as impressões da vida real. Esse embate repercute na utilização das consoantes oclusivas [t] e [p], que reproduzem sons fortes e pesados, mostrando que o poema começa a se revelar, mas ainda se acha à mercê dos óbices de transformar em linguagem poética a experiência profunda, armazenada como sentimentos, emoções e recordações. Por outro lado, as vogais [o] e [u] também causam a sensação de fechamento e escuridão, sem mencionar que a palavra muro realça esse labor com a linguagem.

Logo em seguida aparecem outros estilísticos que demonstram a superação das primeiras barreiras. O jogo de antíteses (escuro x claro, menos x mais, mole x duro) reforça uma ambigüidade: ora a imagem emerge espontânea, ora se esconde no pensamento.

Claro claro

Mais que claro

Raro

O relâmpago clareia os continentes passados.

Em razão de uma originalidade sempre buscada, no” Poema sujo” ele se esmera (aprimora) na coragem despudorada de revelar explicitamente a sordidez e a impureza do cotidiano humano em passagem insólitas (incomum), embora amaparadas por uma consciência poética que torna esses rompantes expressivos alheios a um simples e pueril desejo de subverter ou chocar. Em alguns momentos, o poeta declara abertamente:

“Tua gengiva igual a tua bocetinha que parecia sorrir entre [as folhas de banana entre os cheiros de flor e bosta de porco aberta] como uma boca do corpo (não como a tua boca de palavras)...

O poema é estruturado em versos livres (em alguns momentos, há versos em redondilha maior – quadra de versos de sete sílabas, na qual rimava o primeiro com o quarto e o segundo com o terceiro, seguindo o esquema abba) explorando com liberdade o espaço gráfico, recorrendo, às vezes, a expedientes concretistas:

“nada

vale

nada

vale

quem

não

tem

nada

v

a

l

e

TCHIBUM!!!” (p.36)

O poema é um corpo constituído de quatro temas principais: infância/ família – corpo/prazer – tempo/tempos – cidade/vida. Nele há uma mistura de tristeza e alegria, esperança e angústia, caráter histórico e mistério existencial, corpo humano e espaço urbano. A forma poética é também híbrida (misturada), recorrendo a versos curtos e longos, versos livres e metrificados, linguagem clássica e linguagem chula, narrativas e fragmentos, léxico popular e erudito, anáforas, sinestesias, aliterações, assonâncias, onomatopeias.

Ao observar o movimento de versos e estrofes, as páginas e seus espaçamentos, pressente-se que existe de fato uma arquitetura nesse corpo poético. A paginação rigorosa obedece a um desenho que pode ser assemelhado às partituras, e o número de páginas do poema corresponde à média de páginas que possui a edição de uma sinfonia.

Há a influência do concretismo/neoconcretismo pode ser identificada em várias passagens da obra, em que o espaço em branco é ocupado graficamente pelo verso.

MONTAGEM DO POEMA

Embora o poema não apresente subtítulos, capítulos ou subdivisões, podemos apontar, através de espaços deixados entre as suas 103 páginas, 09 blocos distribuídos assimetricamente: enquanto o menor tem quatro páginas, o maior tem 26.

PRIMEIRO BLOCO: da página 11 à 24

Na oposição entre o turvo e o claro, o poema nasce no nível da inconsciência, da pré-fala, buscando atingir a fala consciente.

O primeiro grande impacto do poema vem nos seguintes versos:

“azul

era o gato

azul

era o galo

azul

o cavalo

azul

teu cu”.

Como observa Turchi, a última palavra chula quebra o encantamento azul da infância e da fantasia, “e fecha como que o inconsciente para acordar o consciente na busca da realidade da vida”.

SEGUNDO BLOCO: da página 25 à 36

Neste segundo bloco começa evocando o rio Anil, sujo e miserável, com seus bagres e lama podre. Num tempo em que o menino não conhecia Homero, Dante nem Boccaccio; evoca a locomotiva que se parecia com um paquiderme (de pele espessa com um elefante), o poema abusa das onomatopéias (“tchi tchi/ trã trã trã trã”) e, compõe esses versos singelos e líricos:

“Lá vai o trem com o menino

lá vai a vida a rodar

lá vai ciranda e destino

cidade e noite a girar

lá vai o trem sem destino

pro dia novo encontrar

correndo vai pela terra”.

Até então, dá para perceber que o “Poema sujo” o autor relata a sua vida, a sua trajetória.

TERCEIRO BLOCO: da página 37 à 62

O poeta prossegue escavando a memória, remexendo na terra suja do quintal, evocando os mortos do passado e, simultaneamente, falando de seu presente.

De volta ao passado, o poeta voa sobre a miséria de São Luís, na fábrica de Camboa, onde os operários eram explorados (não deixa de ser uma crítica); referente ao amigo de infância (Esmagado) e às casas de palafitas. Nas lembranças do poeta, acionadas pela noite, há o contraste entre a burguesia e os operários.

Neste bloco “A noite” é uma imagem recorrente:

“(Maria do Carmo

que entregava os peitos enormes

pros soldados chuparem

na Avenida Silva Maria

sob os oitizeiros

e deixava que eles esporrassem

entre suas coxas quentes (sem meter)

mas voltava para casa

com ódio do pai

e mal-satisfeita da vida)”

QUARTO BLOCO: da página 63 à 69

Este bloco será pontuado com a história dos pássaros, reproduzindo as ocupações profissionais, os pássaros serão relacionados com as histórias humanas: o curió que cantava na barbearia puxa o caso da filha do barbeiro que fugiu com o filho do carteiro, provocando um comentário racista das vizinhanças:

“Se tivesse fugido

com um branco

ao menos ia poder casar”

As diferenças sociais são apontadas a partir da referência aos pássaros. Através dos pássaros, o poeta evoca outros dramas, como o de seu Neco, que matou a mulher que punha chifres.

O autor encerra esse bloco com referências míticas aos guerreiros (que conhecem a história dos pássaros) e ao vento que sopra nas árvores de São Luis, que irá soprar a memória do poeta no próximo bloco.

QUINTO BLOCO: da página 70 à 77

O protagonista deste bloco é o pai do poeta, Newton Ferreira.

SEXTO BLOCO: da página 78 à87

Os versos giram em torno da cidade de São Luis, verde e úmida, com seus ventos sonoros. A memória do autor busca os capinzais e sinestésicas evocações sexuais:

“vertigem de vozes brancas ecos de leite

De cuspo morno no membro

O corpo que busca o corpo”.

A sujeira acompanha implacável cada lembrança:

“buscando

Em mim mesmo a fonte de uma alegria

Ainda que suja e secreta”.

Ainda neste bloco, o título do poema se aclara (esclarece) nesta confidência do sanluisense:

“Ah, minha cidade suja

de muita dor em voz baixa

de vergonha que a família abafa

em suas gavetas mais fundas
de vestidos desbotados

de camisas mal cerzidas

de tanta gente humilhada

comendo pouco

mas ainda assim abordando de flores

suas toalhas de mesa

suas toalhas de centro

de mesa com jarros”

SÉTIMO BLOCO: da página 88 à 91

A cozinheira Bizuza, no seu “universo de panelas e canseiras” é a personagem citada neste bloco, ao lado da cidade de São Luis. De novo vem à reflexão sobre tempo e espaço, de novo o poeta evoca os mortos, os habitantes que não existem, mas são ressuscitados pela força da memória.

OITAVO BLOCO: da página 92 à 98

Este bloco trata da reflexão a respeito das coisas do cotidiano, a crença no trabalho humano, a valorização das coisas, etc.

NONO BLOCO: da página 99 à 103

Neste bloco o poeta, antecipando o seu último livro publicado, busca relacionar as coisas umas com as outras, deixa o fragmento e atinge a totalidade; o poeta, ao falar da sua infância, da família e dos objetos, cria uma intensa e tensa rede de relações, que se prendem à história. Dando um balanço em sua vida e em sua obra, em seu livro memórias, Ferreira Gullar conclui: “A vida não é o que poderia ter sido e sim o que foi. Cada um de nós é a sua própria história real e imaginária”.

A força poética da obra gullariana reside, portanto, na qualidade das sugestões psicológicas, no emprego inusitado da palavra e na capacidade de, como o próprio autor afirma: “explodir a linguagem” em versos que marcaram, pela singularidade, os rumos da criação poética brasileira. Isso sem mencionar a dignidade e a sinceridade co que assume a dureza da existência humana e a transfigura em poemas que evocam não apenas o universo paradisíaco da infância, mas também inscrevem um novo sentido ético, que seguramente nos torna mais conscientes dos mistérios de existir num mundo que, como diz Gullar, “espanca e comove”.

[RESENHA] Incidente em Antares, Erico Veríssimo


O romance é dividido em duas partes, “Antares” e “O incidente”. Na primeira, fala sobre a historia de antares, no interior do Rio Grande do Sul, localidade fala sobre duas famílias poderosas em disputa,Vacarianos e campolargos, as famílias vivem a história brasileira ao longo dos anos.

A ação de “O incidente” tem início em 11 de dezembro de 1963, quando é decretada uma greve geral na cidade de Antares, iniciada pelos operários das indústrias da região. Os funcionários do cemitério declaram sua adesão ao movimento. Com isso, ficam sem enterro os corpos de sete mortos: D. Quitéria, matriarca dos Campolargo que morreu de enfarto; Dr. Cícero Branco,
advogado envolvido em falcatruas com as duas famílias poderosas; o sapateiro Barcelona; o maestro Menandro, que se suicidou; a velha prostituta Erotildes, vítima de descaso médico; João Paz, agitador político morto depois de ter sido torturado pela polícia; e, por fim, o bêbado Pudim de Cachaça, assassinado pela mulher, cansada de suas bebedeiras e agressões.  

Abandonados diante dos cemitérios, os mortos se levantam de seus caixões e se dirigem à cidade, provocando pânico na população. Separam-se, combinando reencontro para o meio-dia no coreto da praça central. Cada um deles visita seus parentes, descobrindo certas circunstâncias de suas mortes, bem como a reação de todos diante delas.  

No horário marcado, encontram-se todos no coreto. A população se reúne em torno, curiosa para saber o desenrolar do caso. Os mortos iniciam então uma sucessão de acusações e denúncias envolvendo os moradores. Cícero Branco apresenta provas de enriquecimento ilícito dos poderosos locais, além de denunciar as circunstâncias da morte de João Paz. Barcelona revela os casos de adultério, que ele sabia pelas conversas ouvidas em sua sapataria. Erotildes aponta os nomes de alguns de seus amantes mais notórios. As acusações se desdobram em outras, feitas pelos próprios vivos, trazendo intranquilidade a muitos lares da cidade. 

Os grevistas resolvem suspender seu movimento e atacam os defuntos no coreto. Os mortos resolvem então se recolher ao cemitério, onde são finalmente sepultados. Repórteres de diversas localidades visitam a cidade querendo saber detalhes do incidente. Alguns moradores confirmam o ocorrido, mas sem conseguir apresentar provas. As autoridades afirmam que tudo não passa de boato para promover a feira agropecuária local. Essa versão é a que acaba por predominar, relegando ao esquecimento o estranho incidente de Antares.

Protagonista (as):

O livro conta a história de um incidente ocorrido em Antares, porem o livro não tem um protagonista em especifico, o livro não conta a história aos olhos de apenas um personagem, e sim de vários, os cidadãos de Antares.
A história é contada pelos seguintes personagens:

Vacarianos

• Francisco Vacariano (pioneiro) – rival de
Anacleto Campolargo
• Antão Vacariano – rival de Benjamim Campolargo
• Xisto Vacariano - rival de Benjamim Campolargo
• Romualdo Vacariano (caçula) – estuprado /
violentado a mando de Benjamim Campolargo
• Tibério Vacariano – casado com D. Briolanja

Campolargos

• Anacleto Campolargo (pioneiro) – rival de
Francisco Vacariano
• Benjamim Campolargo - rival de Antão e Xisto
Vacariano
• Terézio Campolargo (caçula) – violentado / morto
por Xisto Vacariano
• Zózimo Campolargo – casado com D. Quitéria

Os sete defuntos

• D. Quitéria Campolargo – matriarca da família Campolargo
• Dr. Cícero Branco – advogado corrupto que tenta se
regenerar depois de morto
• João Paz – homem que foi torturado pela polícia do lugar
• Erotildes – velha prostituta
• Pudim de Cachaça – bêbado que foi envenenado pela mulher
• Maestro Menandro – homem solitário que se suicida por não
Conseguir tocar Appassionata, de Beethoven.
• Barcelona – o sapateiro do lugar de Antares

Antagonista
Os antagonistas em nossa opinião são os grevistas que se recusaram a trabalhar, isso inclui os coveiros. Deixando assim os corpos sem serem sepultados

Descrição Dos personagens

Representando a ordem social tradicional, marcadamente conservadora e de alta classe, os dois clãs rivais (Vacarianos e Campolargos) dominam a cidade.

As personagens femininas, com exceção de D. Quitéria, a matriarca dos Campolargos, vivem à sombra dos seus maridos, submissas e alienadas, aceitando passivamente a ordem estabelecida. Uma exceção a essa passividade e alienação é Valentina, mulher do Dr. Quintiliano.

As personagens esquerdistas, taxadas de comunistas naquela sociedade conservadora, defendem o socialismo e lutam por um ordem social mais justa e um mundo melhor. Destacam-se aqui o Pe. Pedro-Paulo, o Prof. Martim, Joãozinho Paz com sua mulher (Ritinha), Geminiano ramos, Barcelona, o anarco-sindicalista, e mesmo Xisto, neto do Cel. Tibério.

Entre os humildes, constituindo a ralé da sociedade antarense, está o submundo da favela Babilônia. Nessa linha, incluem-se a prostituta Erotildes e o bêbado Pudim da Cachaça. (Rosinha e Alambique).

Mais ou menos marginalizados, enclausurados, nos seus dramas pessoais e nos seus traumas, destacam-se o maestro Menandro, o neonazista Egon Sturm e certamente o subserviente secretário do Prefeito (o Mendes). Nessa lista, em falta de outro lugar, talvez possa entrar aqui também o fotógrafo checo Yaroslav.

Foco narrativo
Os fatos são narrados em terceira pessoa 

Tempo
O livro abrange desde vinte e quatro de abril de 1830 que é a data citada no documento mais antigo que se refere à Antares, ate o incidente em si que ocorreu em 1963.
Clímax
O clímax do livro em nossa opinião foi quando os sete defuntos voltam à vida vão reencontrar suas respectivas famílias e amigos e se deparam com coisas totalmente diferentes do que esperavam.
Considerações finais
Nesse trabalho falamos sobre o livro incidente em Antares, sobre os personagens, sobre sua historia e também sobre Erico Veríssimo, o autor do livro, contamos os fatos ocorridos na pequena cidade do Rio Grande do Sul e damos as nossas opiniões sobre esses acontecimentos.
Bibliografia
Veríssimo, Erico. Incidente em Antares. Edição revista pelo acervo literário de Erico Veríssimo da PUCRS, Editora globo. 1ºedição de 1971

E.E.Dr Américo Brasiliense

Incidente em Antares
Erico Veríssimo
Leonardo C. Escobozo 

[RESENHA] Claro enigma, de Carlos Drummond de Andrade


Uma das formas de compreender o conjunto dos 41 poemas que formam a coletânea de Claro Enigma, de 1951, é comparar este livro com A Rosa do Povo, livro publicado em 1945. Se na lírica dos anos 40 predominava a postura de engajamento e compromisso social, agora o questionamento em torno desse posicionamento ganha espaço na poesia drummondiana.

Assim, a poesia abandona o desejo de buscar respostas e passa a focalizar as perguntas que precisam ser feitas. Ao invés da comunhão anterior, vigora a certeza melancólica da dissolução iminente. A esperança é substituída pelo desencanto. As referências mais diretas ao mundo concreto, historicamente localizado, são preteridas em nome de um universo metafísico, que pesquisa o ser humano em si, independente de seu entorno.

A relativa perda de certezas políticas representa um passo no sentido da formulação de um novo projeto literário, capaz de se colocar de forma perplexa diante das possibilidades que se apresentam. Além de tematizar exatamente a angústia das incertezas quanto ao rumo a ser seguido.

Desse ponto de vista, ganham especial significado os versos de “Cantiga de enganar”: “O mundo não vale o mundo, / meu bem. / Eu plantei um pé-de-sono, / brotaram vinte roseiras. / Se me cortei nelas todas / e se todas se tingiram / de um vago sangue jorrado / ao capricho dos espinhos, / não foi culpa de ninguém”. É sintomático que esses versos retomem a imagem da rosa – proeminente, já a partir do título, em A Rosa do Povo – e mais ainda a maneira como o fazem: os espinhos da rosa agora ferem o poeta. As certezas e as esperanças anteriores são capazes de sangrar, isto é, podem levar à perda da vida.

Em termos formais, nota-se o retorno a formas clássicas. Na verdade, não era uma tendência exclusiva de Drummond. A poesia de sua geração, que surgiu em 1930, já se caracterizava pela retomada de formas clássicas, como a do soneto, por exemplo, campo no qual seu contemporâneo Vinícius de Moraes ganhou merecido destaque.
Além disso, a chamada “geração de 45” foi formada por poetas de forte influência clássica. Sem manifestar os vícios formalistas, o fato é que o poeta mineiro se coloca muito distante tanto do coloquialismo um tanto ingênuo dos modernistas da primeira hora, quanto da tendência panfletária, de comunicação fácil, de alguns de seus poemas da década de 1940. O retorno ao arcaísmo formal inibe os versos livres e o resgate de uma terminologia mais filosofante e classicizante distancia sua expressão da marca coloquial.

Se o leitor quiser levar em conta as coordenadas históricas, tão importantes em A Rosa do Povo, basta recordar que, no final dos anos 1940 – período de composição dos poemas de Claro Enigma – vivia-se a Guerra Fria e a ameaça da bomba atômica. O mundo mergulhava em uma disputa ideológica envolvendo capitalismo e comunismo que, para além das diferenças entre as duas ideologias, revelavam os meandros dos regimes de força que as sustentavam. Para um poeta como Drummond, que sempre lutou pela liberdade, a percepção dessa identidade entre regimes ideologicamente tão distintos conduzia à perplexidade e ao pessimismo.
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