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[RESENHA #712] Os demônios, de Dostoiévski


Impressionado com o assassinato de um estudante por um grupo niilista, Dostoiévski concebeu este livro como um protesto contra os que queriam transplantar a realidade política e cultural da Europa ocidental para a Rússia. Apesar da intenção inicialmente panfletária, Os demônios é um romance magistral, à altura de Crime e castigo ou Os irmãos Karamázov.

RESENHA


Nesta nova tradução, o romance político de Dostoiévski sobre a invasão de ideias estranhas na Rússia do século XIX é revitalizado. As traduções anteriores de Larissa Volokhonsky e Richard Pevear de obras como Os Irmãos Karamazov, Crime e Castigo e Notas do Subterrâneo foram aclamadas por sua fidelidade e nuances ao estilo de Dostoiévski, e se tornaram as versões em inglês mais respeitadas. Agora eles enfrentaram um dos romances mais complexos e profundos de Dostoiévski. O título, que foi mal traduzido no passado como “Os Possuídos”, se refere aos demônios das ideias políticas e filosóficas que vieram do Ocidente para a Rússia: idealismo, racionalismo, empirismo, materialismo, utilitarismo, positivismo, socialismo, anarquismo, niilismo e, por trás de todos eles, ateísmo. Pevear explica na introdução: “São esses os demônios, portanto, ideias, essa legião de ismos que veio do Ocidente para a Rússia.'' Dostoiévski, inspirado pelo caos político de sua época, constrói uma história moral complexa em que os habitantes de uma cidade provinciana se tornam inimigos uns dos outros por causa de sua crença cega em suas ideias. Stepan Trofímovitch, um pensador amável que nunca põe em prática suas ideias liberais, cria um monstro em seu discípulo, Nikolai Vsevolodovich Stavrogin, que leva a sério os ensinamentos de seu mentor, juntando-se a um grupo de niilistas que usam a violência como meio de expressar suas ideias. Stavróguin planeja uma “corrupção sistemática da sociedade e de todos os seus princípios” para que, da destruição resultante, ele possa “levantar a bandeira da revolta”. Uma lógica assustadoramente semelhante à do stalinismo. A tradução de Volokhonsky e Pevear revela todo o humor sutil e o nacionalismo linguístico de Dostoiévski, e as notas abundantes são essenciais para entender a política russa do século XIX.


Demônios, de Fyodor Dostoiévski, é um romance que continua a ecoar no mundo atual, pois nos confronta com uma sinfonia melancólica de autoconhecimento. Os personagens do romance não são apenas representantes de ideologias ultrapassadas, mas expressam a essência do conflito humano.

O romance de Dostoiévski é uma crítica mordaz aos diversos “ismos” que dominam o pensamento moderno. Ele mostra como as ideias estrangeiras invadem a Rússia do século XIX e possuem as mentes das pessoas. No entanto, o romance não é apenas uma profecia política, mas uma obra de arte profunda e perturbadora.

Dostoiévski escreveu Demônios em resposta a um crime que abalou a Rússia em 1869. O romance narra a história de uma gangue de revolucionários que matam um de seus membros como um sacrifício. A trama é complexa e confusa, cheia de radicais de todas as tendências. Stiepan Trofímovitch, o liberal sonhador, vive em um mundo de fantasias sobre a fraternidade humana, chorando sobre garrafas de vinho. Seu filho, Pyotr, é um rebelde cínico que espalha boatos na casa do governador. Estudantes anônimos clamam por revolução e homens barbudos falam absurdos. Até os aristocratas da cidade se fingem de progressistas, apoiando os anarquistas. Todos esses personagens são movidos por uma enorme vaidade.

Demônios é um romance que explora as ideias que dominaram a Rússia do século XIX, muitas das quais podem parecer estranhas ao leitor ocidental. Chátov, que defende a identidade russa, veste-se com roupas tradicionais. A história se passa após a libertação dos servos, o que abre espaço para propostas políticas e sociais radicais. No entanto, os personagens não são simplesmente representantes de ideologias. Quando Kirillov diz que vai se matar porque “Deus não existe – eu sou Deus”, não sabemos se ele está louco ou não. Como em muitas obras de Dostoiévski, as vozes mais sensatas em Demônios estão à beira da loucura. O diálogo incessante entre elas cria uma polifonia caótica e genial.

Demônios é um romance fascinante e provocativo, que nos desafia a pensar sobre as consequências das ideias que abraçamos. Dostoiévski nos mostra como as ideias podem se tornar demônios que nos possuem e nos levam à violência e à destruição. Ao mesmo tempo, ele nos oferece uma visão da complexidade humana, que não se reduz a nenhuma fórmula ou sistema. Demônios é uma obra-prima da literatura mundial, que merece ser lida e relida.

O AUTOR
Fiódor Dostoiévski (1821-1881) foi um escritor russo autor de Os Irmãos Karamázov e Crime e Castigo, obras-primas da literatura universal. Seus romances abordam questões existenciais e temas ligados à humilhação, culpa, suicídio, loucura e estados patológicos do ser humano.

[RESENHA #711] Crime & castigo, de Dostoiévski

Crime e castigo é a obra mais célebre de Dostoiévski e um dos romances fundamentais da literatura ocidental. Escrita entre 1865 e 1866, quando Dostoiévski tinha 45 anos, foi publicada em partes na revista Rússki Viéstnik [O Mensageiro Russo], a mesma que vinha publicando, na época, o romance "Guerra e paz", de Liev Tolstói. A ideia do livro surgiu quando Dostoiévski propôs a Katkóv, editor da revista, redigir um "relato psicológico de um crime". Na obra, Raskólnikov, um rapaz sombrio e orgulhoso, retraído mas também aberto à observação humana, precisa interromper seus estudos por falta de dinheiro. Devendo o aluguel à proprietária do cubículo desconfortável em que vive, ele se sente esmagado pela pobreza. Ao mesmo tempo, acha que está destinado a um grande futuro e, desdenhoso da moralidade comum, julga ter plenos direitos para cometer um crime – o que fará de uma maneira implacável. Por meio da trajetória de Raskólnikov, Dostoiévski apresenta um testemunho eloquente da pobreza, do alcoolismo e das condições degradantes que empurram para o abismo anônimos nas grandes cidades. Ainda assim, a tragédia não exclui a perspectiva de uma vida luminosa, e o castigo pelo crime vai lhe abrir um longo caminho em direção à verdade.

RESENHA

Crime e Castigo é um dos romances mais famosos e influentes de Fiódor Dostoiévski, um escritor russo do século XIX. O livro conta a história de Ródion Raskólnikov, um ex-estudante pobre que planeja e executa o assassinato de uma velha agiota, pensando que assim poderá se livrar da miséria e se tornar um homem extraordinário. No entanto, o crime não traz a Raskólnikov a felicidade esperada, mas sim um tormento psicológico e moral, que o leva a questionar seus próprios valores e princípios.

O romance é uma obra-prima da literatura universal, que explora com profundidade e realismo os dilemas existenciais do ser humano, como a culpa, o arrependimento, o livre-arbítrio, a fé, a redenção e o amor. Dostoiévski cria personagens complexos e multifacetados, que expressam suas angústias, suas paixões, suas contradições e suas esperanças. A narrativa é envolvente e cheia de suspense, mantendo o leitor interessado até o final.

Um jovem desesperado e moralmente falho comete um duplo assassinato. Ele fica impune por um tempo, até que um detetive perspicaz o encurrala com uma armadilha sutil. Uma amiga que o aconselha a confessar seu crime, e você tem - bem, talvez não um típico mistério de detetive, mas pelo menos uma trama familiar para um episódio de uma série policial. Essa é a estrutura básica de Crime e Castigo, publicado em 1866, quando Dostoiévski estava se tornando um conservador, depois de ter sido um jovem democrata: por isso a ênfase na confissão, estimulada pela prostituta bondosa que tem um coração de ouro e, portanto, o desprezo de Dostoiévski pelos intelectuais liberais e pelos que culpam a sociedade pelos crimes que cometem. Então Rodion Raskolnikov, que decide matar uma agiota velha e cruel, “uma velhinha mirrada e avarenta, de uns sessenta anos, com olhinhos astutos e malvados, um narizinho pontudo e a cabeça descoberta”, entra com um machado, e depois mata também sua irmã que aparece na hora errada. O tradutor Katz consegue dar ao assassinato um tom adequadamente horrível, com sangue esguichando, olhos esbugalhados e coisas assim. 

Crime e Castigo é um livro que merece ser lido por todos que apreciam uma boa literatura e que querem conhecer melhor a obra de Dostoiévski, um dos maiores escritores de todos os tempos. Dostoiévski nasceu em Moscou, em 1821, e teve uma vida difícil, marcada por problemas financeiros, doenças, prisões e exílios. Sua obra literária é caracterizada por uma profunda análise psicológica dos personagens, além de temas como a moralidade, a religião e a sociedade. Dostoiévski é considerado um dos pais do existencialismo, uma corrente filosófica e literária que defende a liberdade individual, a subjetividade e a responsabilidade do ser humano. Dostoiévski morreu em São Petersburgo, em 1881, deixando um legado de obras-primas como Os Irmãos Karamazov, O Idiota, Os Demônios e Memórias do Subsolo.

O AUTOR

Fiódor Dostoiévski (1821-1881) foi um escritor russo autor de Os Irmãos Karamázov e Crime e Castigo, obras-primas da literatura universal. Seus romances abordam questões existenciais e temas ligados à humilhação, culpa, suicídio, loucura e estados patológicos do ser humano.

[RESENHA #710] Gente pobre, de Dostoiévski


Gente Pobre marca a estreia de Dostoiévski na literatura, em 1846, e estabelece desde logo os fundamentos para uma abordagem social, psicológica e profundamente corrosiva da compreensão humana. A análise pormenorizada das personagens e suas convicções, enquadradas por um pano de fundo de crítica subtil, ganha em Dostoiévski uma força e um poder imagéticos que extravasam as páginas dos seus livros. Em «Gente Pobre», o autor transporta-nos para um dos bairros mais miseráveis de São Petersburgo, onde um funcionário de meia-idade troca correspondência com uma jovem costureira. Demasiado pobres para se casarem, o seu amor passa todo e apenas por cartas mantidas ao longo do tempo, que refletem a cruel realidade do dia a dia passado num ambiente de extrema precariedade.

RESENHA


O primeiro romance de Fyodor Dostoiévski, Gente Pobre, foi escrito em nove meses entre 1844 e 1845, quando o autor enfrentava problemas financeiros por causa de seu estilo de vida dispendioso e seu vício em jogos. Ele tentou ganhar dinheiro com algumas traduções de romances estrangeiros, mas não teve sucesso, e resolveu escrever seu próprio romance.

Gente Pobre é um romance epistolar, que narra a vida de dois primos pobres, Makar Devushkin e Varvara Dobroselova, que trocam cartas sobre suas condições miseráveis. O romance retrata a realidade das pessoas pobres, sua relação com as pessoas ricas e a pobreza em geral, temas típicos do naturalismo literário. Os dois primos desenvolvem uma amizade profunda, mas estranha, que é abalada quando Dobroselova se interessa por um viúvo rico, Sr. Bykov, que a pede em casamento. Devushkin, um escriturário sentimental, é um dos primeiros exemplos desse tipo de personagem na literatura naturalista. Dobroselova, por outro lado, se afasta da literatura e da comunicação com Devushkin, escolhendo uma vida mais prática.

Varvara Dobroselova e Makar Devushkin são primos de segundo grau afastados duas vezes e vivem em apartamentos precários na mesma rua, um de frente para o outro. O apartamento de Devushkin é uma parte da cozinha dividida com outros inquilinos, como os Gorshkov, cujo filho sofre de fome durante quase todo o romance. Devushkin e Dobroselova se escrevem cartas contando suas dificuldades e Devushkin frequentemente gasta seu dinheiro em presentes para ela.

Gente Pobre é um romance que retrata a vida dos pobres e a sua relação com os ricos, temas frequentes do naturalismo literário. O romance é inspirado em obras como O sobretudo de Nikolai Gogol, O chefe da estação de Alexander Pushkin e Cartas de Abelardo e Heloísa de Peter Abelard e Héloïse d’Argenteuil. O romance é formado por cartas trocadas entre Varvara e seu amigo Makar Devushkin, dois primos pobres que vivem em condições miseráveis. O título e a personagem principal são uma referência a Poor Liza, de Nikolai Karamzin. O romance também apresenta elementos típicos de um romance de classe média, como as origens dos protagonistas e o final trágico.

Gente Pobre é um romance emocionante e comovente, que nos mostra a realidade da pobreza e a força da amizade. Dostoiévski nos faz sentir a dor e a esperança dos personagens, que tentam encontrar algum consolo na literatura e na comunicação. O romance é uma obra de arte que revela o talento e a sensibilidade de Dostoiévski, que escreveu o livro em apenas nove meses. Gente Pobre é um romance que vale a pena ler e apreciar.

O AUTOR

Fiódor Dostoiévski (1821-1881) foi um escritor russo autor de Os Irmãos Karamázov e Crime e Castigo, obras-primas da literatura universal. Seus romances abordam questões existenciais e temas ligados à humilhação, culpa, suicídio, loucura e estados patológicos do ser humano.

[RESENHA #709] Os irmãos Karamazov, de Dostoiévski



Os irmãos Karamázov é o último romance de Dostoiévski. No fundo, ele resume toda a criatividade do escritor, trazendo à baila as "malditas" questões existenciais que o afligiram a vida inteira, com especial relevo para a flagrante degradação moral da humanidade afastada dos ideais cristãos. Cheia de peripécias, a narrativa põe em foco três protagonistas irmãos, representantes dos mais diversos aspectos da realidade russa – o libertino Dmítri, o niilista Ivan e o sublime Aliocha –, a fim de alumiar as profundezas insondáveis do coração entregue ao pecado, corrompido por dúvidas ou transbordante de amor.

RESENHA


"Os Irmãos Karamazov", uma obra-prima literária de Fiódor Dostoiévski, publicada em 1879, é considerada uma das maiores realizações da literatura russa e global. Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, a considerou a "maior obra da história" e a colocou ao lado de "Édipo Rei" e "Hamlet" como textos fundamentais que exploram a tensão entre pai e filho e retratam o complexo de Édipo.

A história se desenrola em uma cidade russa remota, contada por um narrador que parece ser uma testemunha ocular dos eventos. O narrador frequentemente se desculpa com o leitor por não conhecer todos os detalhes, por achar que a história é longa (o livro tem mais de 700 páginas mesmo em edições grandes) e por achar que seu herói é pouco conhecido ou até mesmo insignificante. A narrativa não apenas dialoga com o leitor, mas também é onipresente e sugere ou infere os pensamentos dos inúmeros personagens.

A trama gira em torno de uma família problemática em uma cidade russa. O patriarca da família, Fiódor Pavlovitch Karamázov, é um palhaço libertino que fez fortuna principalmente graças aos dotes de suas duas esposas, ambas mortas prematuramente, e à sua mesquinhez. Ele tem um filho de cada esposa: Dmitri Fiodorovitch Karamázov da primeira esposa, e Ivan e Aliêksei Fiodorovitch Karamázov da segunda esposa. Enquanto Ivan se torna um intelectual atormentado por sua própria inteligência, Aliêksei se torna uma pessoa mística e pura, entrando para um mosteiro na cidade.

"Os Irmãos Karamazov" é uma crítica inteligente aos principais problemas da Rússia do final do século XIX, especialmente a questão da pobreza e a situação financeira da população russa da época. Dostoiévski, que viveu em um país em decadência financeira, descreve esses problemas através de diálogos e narrações de alguns personagens no livro. Suas críticas ao capitalismo tentam penetrar a alma humana e revelar o que era pouco visível para o mundo ocidental em uma literatura rica em questionamentos.

Estudar Dostoiévski é mergulhar em uma literatura cheia de discussões sobre o pensamento e o comportamento humano. Bakhtin o considerou um dos maiores romancistas da literatura russa e um dos artistas mais inovadores de todos os tempos.

Os Irmãos Karamazov" aborda várias temáticas e nos leva a uma discussão filosófica, nos faz refletir sobre os valores humanos do nosso tempo. É um livro cheio de enigmas em um jogo de discussões e dúvidas. Usando de vários personagens, Dostoiévski discute o embrutecimento das relações humanas baseadas em situações de domínio pelo outro, ou pela falta de uma condição financeira mais favorável. Esta obra de Dostoiévski nos traz a uma reflexão sobre as fragilidades dos laços humanos, sobre a sociedade e seus problemas sociais e pessoais tão profundos a ponto de gerar níveis de insegurança maiores em um leitor não preparado para uma leitura mais profunda, chega a afetar negativamente a fé, os laços familiares e amorosos, e afeta também a capacidade de tratar um estranho com humanidade, com respeito e carinho.

Em uma crítica positiva, "Os Irmãos Karamazov" é uma obra intensa que oferece uma visão penetrante da psicologia humana e da sociedade. Dostoiévski habilmente tece uma narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e profundamente filosófica. Através de seus personagens complexos e multifacetados, ele explora temas de vício, amor, desespero e redenção. Sua representação vívida do vício em jogos de azar é especialmente poderosa, servindo como uma metáfora penetrante para a natureza humana e a busca incessante por significado e propósito. Em última análise, "Os Irmãos Karamazov" é uma obra-prima literária que continua a ressoar com os leitores modernos, oferecendo uma visão inesquecível da condição humana.

[RESENHA #708] O jogador, de Dostoiévski



O jogador, de Fiódor Dostoiévski é um primoroso romance cujo teor psicológico ultrapassa os estreitos limites do gênero recreativo. Baseado num profundo conhecimento das práticas e rotinas do cassino, ele evidencia a sinistra degradação de um jovem culto e talentoso que sacrifica o melhor de si à doentia paixão pelos jogos de azar, a qual lhe subjuga e destrói, aos poucos, a alma. O protagonista, em que se percebem diversos traços do próprio autor, vê toda a sua riqueza espiritual – dignidade, força de caráter e honra cavalheiresca – levada pela estonteante rotação da roleta. Mesmo o amor, a única fonte de alegrias e esperanças que ele possui, acaba sorvido por esse redemoinho. Os vícios humanos, sejam relacionados ao jogo, como no livro de Dostoiévski, ou às drogas, como em nossa realidade cotidiana, ainda estão longe de ser extirpados, tornando O jogador tão interessante para os leitores de hoje.

RESENHA


"O Jogador ou Um Jogador - Apontamentos de um Homem Moço" é uma obra notável de Fiódor Dostoiévski, lançada em 1867. Thomas Mann a descreveu como um "romance maravilhoso". A narrativa é contada em primeira pessoa por Alexei Ivánovitch, um jovem crítico, mas sem objetivos claros na vida.

A trama se desenrola na fictícia cidade alemã de Roletemburgo, conhecida por seus cassinos. Ivánovitch trabalha como tutor em um hotel para a família de um general. No entanto, ele logo percebe que algo está errado com a família. Polina Alexandrovna, que tem uma relação complexa de amor e ódio com Ivánovitch, pede-lhe para jogar roleta em seu nome, pois precisa urgentemente de dinheiro. No entanto, ela não fornece mais detalhes.

Ivánovitch, observando a presença de dois franceses astutos, Des Grieux e Mlle. Blanche, suspeita que o general e sua enteada Polina estão profundamente endividados com os franceses. Através de várias conversas com seu amigo inglês, Mister Astley, Ivánovitch começa a desvendar a verdade: o general havia hipotecado suas propriedades para Des Grieux e estava esperando a morte de sua avó para herdar dinheiro suficiente para pagar a dívida.

"O Jogador ou Um Jogador - Apontamentos de um Homem Moço" é uma obra notável de Fiódor Dostoiévski, lançada em 1867. Thomas Mann a descreveu como um "romance maravilhoso". A narrativa é contada em primeira pessoa por Alexei Ivánovitch, um jovem crítico, mas sem objetivos claros na vida¹.

A trama se desenrola na fictícia cidade alemã de Roletemburgo, conhecida por seus cassinos. Ivánovitch trabalha como tutor em um hotel para a família de um general. No entanto, ele logo percebe que algo está errado com a família. Polina Alexandrovna, que tem uma relação complexa de amor e ódio com Ivánovitch, pede-lhe para jogar roleta em seu nome, pois precisa urgentemente de dinheiro. No entanto, ela não fornece mais detalhes².

Ivánovitch, observando a presença de dois franceses astutos, Des Grieux e Mlle. Blanche, suspeita que o general e sua enteada Polina estão profundamente endividados com os franceses. Através de várias conversas com seu amigo inglês, Mister Astley, Ivánovitch começa a desvendar a verdade: o general havia hipotecado suas propriedades para Des Grieux e estava esperando a morte de sua avó para herdar dinheiro suficiente para pagar a dívida.

A obra retrata o espírito, o universo, sentimentos, frustrações, a tortura e a ilusão de quem vive em função da magia e soberania dos cassinos. Dostoiévski, com seu humor satírico, expõe as motivações mais íntimas desta e de outras personagens, criando uma obra simultaneamente viva e dramática⁴. O fascínio culpabilizado dos jogadores, o descontrolo e o desespero, paixões que raiam a loucura e uma solidão sem recurso são temas que se adequam ao genial universo da ficção dostoievskiana.

Em uma crítica positiva, "O Jogador" é uma obra intensa que oferece uma visão penetrante da psicologia humana e da sociedade. Dostoiévski habilmente tece uma narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e profundamente filosófica. Através de seus personagens complexos e multifacetados, ele explora temas de vício, amor, desespero e redenção. Sua representação vívida do vício em jogos de azar é especialmente poderosa, servindo como uma metáfora penetrante para a natureza humana e a busca incessante por significado e propósito. Em última análise, "O Jogador" é uma obra-prima literária que continua a ressoar com os leitores modernos, oferecendo uma visão inesquecível da condição humana.

[RESENHA #707] O crime do padre amaro, de Eça de Queiroz


Com a morte do pároco da cidade de Leiria, o padre Amaro é designado para o cargo na igreja local e instala-se na casa de S. Joaneira, uma assídua religiosa. Amaro, se encanta com Amélia, filha da hospedeira, e desperta ciúmes no pretendente da jovem. A paixão cresce no antro eclesiástico de Leiria e o padre amaldiçoa o sacerdócio por não permitir que realize os seus desejos.

RESENHA


No seu primeiro romance, Eça de Queiroz aborda um tema ainda controverso nos dias de hoje: a relação entre o Clero, a Sociedade e a Política. É relevante destacar que a obra foi escrita em 1875, e apesar de algumas mudanças comportamentais, ainda é possível traçar um paralelo entre o século XIX e o século XXI.

Amaro Vieira, o protagonista, torna-se padre para cumprir o testamento deixado pela patroa de sua mãe, a Marquesa de Alegros, que sempre foi sua protetora. Como órfão, ele sempre esteve ligado às questões eclesiásticas. Depois de um período de clausura, é enviado para uma cidade muito pobre, onde as condições climáticas são péssimas. Com a ajuda de sua tia rica, consegue ser transferido para Leiria, onde a trama se desenrola.

Padre Amaro é mentalmente frágil e não suporta pressões. Quando conhece Amélia, essa condição fica cada vez mais evidente e difícil de gerir. Sua posição de "homem da Igreja" não permite paixões mundanas, mas lhe dá livre acesso à casa de São-Joaneira, o recanto das beatas, e com isso, a influência que beira a manipulação entre as senhoras. Esses dois lados (homem X padre) entram em conflito e Pe. Amaro demonstra não ter escrúpulos, culpa ou remorso. Ele se deixa levar pela situação.

A trama é bem construída, permitindo surpresas no momento certo, sem grandes cortes abruptos. A descrição do ambiente é equilibrada, sem se tornar monótona. A construção psicológica e da história de vida dos personagens é perfeita, envolvendo o leitor nos dramas de Amaro, Amélia, João Eduardo...

A posição social da mulher também é destacada. Mostrar os tornozelos já era motivo de discussão familiar. O simples roçar de joelhos já era um passo avançado para o que se considerava namoro. Sair sozinha, então, provocava "burburinhos" entre os vizinhos.

Por fim, a discussão entre o Abade Ferrão e o Dr. Gouveia é emblemática no conflito Religião X Política. A defesa de ambas as posições não deixa explícita a opinião do autor, apesar da alta conotação anti-clerical durante o livro. De fato, a história é uma grande crítica à posição da Igreja na época e a grande pergunta que se faz é se pode-se transferir alguns questionamentos para os dias atuais. O ícone desses questionamentos é a manutenção de celibato clerical.

Em conclusão, "O Crime do Padre Amaro" é uma obra literária notável que oferece uma visão perspicaz e crítica da sociedade do século XIX. Eça de Queiroz, com sua escrita elegante e perspicaz, cria uma trama envolvente e personagens memoráveis que mantêm o leitor cativado do início ao fim. A obra é uma leitura obrigatória para qualquer amante da literatura, oferecendo uma visão única e valiosa da sociedade portuguesa da época. Através de sua narrativa envolvente e personagens bem construídos, Eça de Queiroz conseguiu criar um retrato vívido e crítico da sociedade portuguesa de sua época.

[RESENHA #706] O primo basílio, de Eça de Queiroz


Eça de Queirós, neste livro, faz uma crítica severa à sociedade lisboeta do século XIX. O autor mostra a lenta deformação do caráter de Luísa, mulher de formação romântica entediada com o casamento, sob o efeito de leituras e músicas sentimentais. Durante uma viagem do marido Jorge, Luísa envolve-se com seu sedutor primo Basílio. Porém, Juliana, a invejosa e vingativa criada, descobre o caso e arma um esquema de chantagem. Muitas emoções e reviravoltas num clássico do realismo português.

RESENHA


“O Primo Basílio”, um romance de Eça de Queiroz lançado em 1878, é uma crítica incisiva à família burguesa urbana do século XIX. Depois de criticar a vida provincial em “O Crime do Padre Amaro”, Eça de Queiroz volta sua atenção para a cidade, explorando as mesmas falhas, mas desta vez na capital. Ele faz isso através do retrato de uma família burguesa que parece feliz e perfeita na superfície, mas que tem bases falsas e corruptas.

O compromisso de "O Primo Basílio" com seu tempo é evidente na criação de suas personagens, que servem como uma ferramenta para combater os problemas sociais. O objetivo era que a burguesia, que era a principal consumidora de romances naquela época, se visse refletida na obra e pudesse reconhecer e refletir sobre seus defeitos.

As personagens de "O Primo Basílio" são o exemplo perfeito da futilidade e ociosidade da sociedade da época.

A narrativa de "O Primo Basílio" gira em torno de Jorge, um engenheiro bem-sucedido que trabalha em um ministério, e Luísa, uma jovem romântica e sonhadora. Eles representam o casal burguês típico da classe média da sociedade de Lisboa no século XIX. Casados e felizes, a única coisa que falta para completar a felicidade do "lar do engenheiro", como era conhecida a casa do casal pelos vizinhos mais pobres, é um filho.

A casa de Jorge e Luísa é frequentada por um grupo de amigos: D. Felicidade, uma beata que sofre de problemas gástricos e é apaixonada pelo Conselheiro; Sebastião, amigo próximo de Jorge; Conselheiro Acácio, um homem muito culto; Ernestinho; e as empregadas Joana, que é flertadora e namoradeira, e Juliana, que é revoltada, invejosa, ressentida e amarga, e é a responsável pelo conflito na história.

Eça de Queirós foi um dos principais responsáveis pela introdução do realismo em Portugal, e “O Primo Basílio” foi um dos dois livros que mais colaboraram para desbancar o romantismo de Camilo Castelo Branco ou Júlio Dinis e instalar em Portugal novos padrões de arte e de visão da sociedade e da vida. A obra é marcada pela utilização de uma linguagem culta e elegante, críticas referentes às hipocrisias da burguesia, análise psicológica das personagens, reconhecimento dos fatos e da objetividade do cotidiano, personagens reais e sem idealização, temas de cunho social, e retratos do fracasso social, do adultério e da pobreza.

Uma curiosidade sobre a obra é que ela foi adaptada para o cinema e para a televisão. A minissérie “O Primo Basílio”, produzida pela Rede Globo, foi exibida em 1988 e contou com a atuação de nomes como Marília Pêra e Marco Nanini. Já o filme “Primo Basílio”, lançado em 2007, teve Débora Falabella e Fábio Assunção como protagonistas.

Quanto aos aspectos da obra, podemos observar: Lisboa serve como o palco para a crítica de Eça de Queirós; é o ambiente da sociedade lisboeta onde as personagens circulam e revelam suas condições socioeconômicas e históricas. O Alentejo é o local que afasta Jorge de Luísa, deixando-a em um tédio interminável. Paris é o cenário que traz Basílio de volta para Luísa, trazendo consigo a alegria e a novidade de uma vida repleta de prazeres e aventuras.

A sequência dos eventos na narrativa segue uma ordem cronológica e linear, começando com o namoro de Luísa, passando pela morte de sua mãe e pelo abandono de seu namorado, e se estendendo pelos três anos de seu casamento com Jorge, até a viagem e o retorno dele. A história se desenrola no final do século XIX.

“O Primo Basílio” é uma obra-prima da literatura portuguesa, um retrato vívido e incisivo da sociedade lisboeta do século XIX. Eça de Queirós, com sua escrita elegante e perspicaz, cria personagens memoráveis e uma trama envolvente que mantém o leitor cativado do início ao fim.

A história, embora ambientada em uma época e lugar específicos, tem uma ressonância universal. As questões de amor, traição, hipocrisia social e a busca por significado na vida são tão relevantes hoje quanto eram na época de Eça de Queirós.

A habilidade de Eça de Queirós em descrever as nuances da natureza humana e as complexidades da sociedade é verdadeiramente notável. Ele não apenas conta uma história, mas também oferece uma crítica social perspicaz que força o leitor a refletir sobre suas próprias crenças e comportamentos.

Em suma, “O Primo Basílio” é uma leitura obrigatória para qualquer amante da literatura. É uma obra que desafia, entretém e ilumina, deixando uma impressão duradoura muito depois de a última página ter sido virada.

A carta entregue por Mr. Darcy à Elizabeth Bennet


Na manhã seguinte, ao despertar, Elizabeth encontrou no seu espírito os mesmos problemas e meditações que, na véspera, o sono acabara por vencer. Ainda não se recompusera da surpresa. Era-lhe impossível pensar noutra coisa; e, incapaz de encontrar uma ocupação que a distraísse, resolveu, logo após o pequeno-almoço, fazer um pouco de exercício ao ar livre. Encaminhara-se para o seu passeio favorito, quando a deteve a lembrança de que o Sr. Darcy costumava por lá aparecer, e, em vez de penetrar no parque, Elizabeth tomou a azinhaga que o bordejava. A cerca do parque acompanhava a estrada de um dos lados e em breve ela passou por um dos portões.

Após percorrer por duas ou três vezes aquele trecho da azinhaga, sentiu-se tentada, pela beleza da manhã, a parar a um dos portões e contemplar o parque. Durante as cinco semanas que permanecera no Kent, uma grande transformação se operara, e cada dia as árvores ficavam mais verdes. Elizabeth preparava-se para continuar o passeio, quando, no pequeno bosque que limitava o parque, avistou de relance um homem caminhando na sua direcção. Receando que se tratasse do Sr. Darcy, Elizabeth tratou de se afastar, mas a pessoa já se encontrava suficientemente perto para poder vê-la. Apressando o passo, essa pessoa aproximou-se e pronunciou o nome de Elizabeth. Esta estava de costas, mas, ao ouvir o seu nome, embora reconhecesse a voz do Sr. Darcy, voltou a acercar-se do portão. Ele, do outro lado, fizera o mesmo, e, estendendo-lhe uma carta, que ela instintivamente aceitou, disse-lhe com ar altivo:

- Andei pelo bosque na esperança de a encontrar. Quer dar-me a honra de ler esta carta? - E, fazendo uma ligeira vénia, voltou-se e partiu.

Sem qualquer expectativa de prazer, mas com grande curiosidade, Elizabeth abriu a carta e, com um espanto sempre crescente, viu que o envelope continha duas folhas de papel, inteiramente preenchidas por uma letra apertada. Prosseguindo no seu passeio pela alameda, Elizabeth começou a ler. A carta estava datada de Rosings, das oito horas da manhã, e constava do seguinte:

Não fique alarmada, minha senhora, ao receber esta carta, pela apreensão de que ela contenha a repetição daqueles sentimentos ou a renovação daquelas propostas que ontem à noite tanto a maçaram. Escrevo-lhe sem qualquer intenção de a aborrecer, ou de me humilhar, insistindo em exprimir esperanças de que, para a felicidade de ambos, não poderão ser esquecidas cedo demais; e o esforço que esta carta poderá representar, para mim ao escrevê-la e para si ao lê-la, teria sido poupado, acaso o meu carácter não exigisse que ela fosse escrita e lida. Necessito, pois, que me perdoe a liberdade com que exijo a sua atenção; sei que os seus sentimentos me a concederão com relutância, mas não posso deixar de o fazer.


Duas foram as acusações que ontem à noite me fez, diferentes tanto na natureza como pela sua importância. Acusou-me, primeiro, de ter separado o Sr. Bingley de sua irmã, indiferente aos sentimentos de ambos; e, segundo, de ter arruinado a possibilidade imediata e as probabilidades futuras do Sr. Wickham, desafiando abertamente quaisquer direitos, a própria honra e a humanidade. Ter repudiado voluntária e gratuitamente o companheiro da minha infância, o favorito declarado de meu pai, um rapaz que dependia exclusivamente da nossa protecção e a quem esta fora prometida, seria uma perversidade incomparavelmente mais grave do que a separação de duas pessoas cuja afeição, embora verdadeira, nunca poderia ter crescido excessivamente durante aquelas poucas semanas que estiveram juntas. Espero, de futuro, estar salvaguardado da severidade das censuras que me foram feitas com tanta veemência sobre estes dois casos, após a leitura da seguinte explicação dos meus actos e seus motivos. 

Se nesta minha exposição me vir na iminência de exprimir sentimentos que a possam ofender, apenas me resta participar-lhe o meu sincero pesar. A necessidade a isso me obriga - e quaisquer outras desculpas seriam absurdas. Pouco tempo depois da nossa chegada ao Hertfordshire, percebi, juntamente com outras pessoas, que Bingley preferia a sua irmã mais velha a qualquer outra moça na região. Porém, foi só por ocasião do baile em Netherfield que pela primeira vez receei que ele se apaixonasse seriamente. Já várias vezes o vira apaixonado. No baile, enquanto dançava com a menina, soube, através da informação acidental de Sir William, que as atenções de Bingley para com a sua irmã tinham dado azo a um rumor geral acerca do casamento de ambos. Sir William fez-lhe referência como a um acontecimento positivo, do qual só a data era incerta. A partir desse momento dediquei toda a minha atenção à atitude do meu amigo; e reparei que a inclinação dele pela Menina Bennet era mais evidente do que qualquer uma das que lhe tinha visto anteriormente. Observei também a sua irmã. O olhar e as maneiras eram francos, alegres e atraentes como sempre, mas sem qualquer sintoma especial de afeição, o que definitivamente me convenceu de que, embora ela aceitasse as atenções de Bingley com prazer, não as provocava porque participasse do mesmo sentimento. Aqui, se a menina não se enganou, enganei-me eu. O seu conhecimento íntimo de sua irmã tornará mais provável última hipótese. Nesse caso, se o meu erro me levou a inflingir um desgosto a sua irmã, o seu ressentimento não é injustificado.  Porém, nada me impedirá de afirmar que a serenidade do rosto de sua irmã e a tranquilidade dos seus modos eram tais que trariam ao observador mais perspicaz a convicção de que, apesar de toda a amabilidade do seu temperamento, o coração não era dos mais fáceis de atingir. É certo que desejava acreditar na indiferença dela, mas ouso afirmar que as minhas investigações e decisões não são geralmente influenciadas pelas minhas esperanças ou receios. Não foi porque o desejasse que acreditei na indiferença da sua irmã, mas, simplesmente, porque cheguei a esta convicção imparcial, e ela é tão sincera quanto o meu desejo. As minhas objecções contra tal casamento não foram apenas aquelas que ontem à noite lhe expus e que, no meu caso, exigiram toda a força da paixão para serem vencidas; a desigualdade social não representaria um mal tão grande para o meu amigo como para mim. Mas existiam outras causas para a minha resistência; causas que, embora ainda existentes e idênticas para ambos os casos, eu tentei esquecer porque não diziam imediatamente respeito a mim. Tais causas necessitam ser mencionadas, embora sumariamente. A situação da família de sua mãe, se bem que pouco recomendável, nada era em comparação com aquela falta total de delicadeza tão frequente e quase permanentemente demonstrada por tal senhora, pelas suas três irmãs mais jovens e por vezes até pelo seu pai. Perdoe-me. Custa-me ofendê-la. Contudo, qualquer que seja o aborrecimento que os seus parentes mais próximos lhe possam causar ou a tristeza que a presente descrição não deixará de lhe suscitar, espero que a seguinte reflexão lhe sirva de consolo: que o facto universalmente reconhecido de que tanto a menina como a sua irmã mais velha sempre se comportaram de modo a evitar uma censura semelhante é o melhor elogio que se poderá fazer à sensatez e ao carácter de ambas. Acrescentarei apenas que tudo o que se passou naquela noite veio confirmar a minha opinião sobre todas as pessoas em questão e fortalecer a minha resolução de proteger o meu amigo de uma aliança que eu considerava altamente desastrosa. Ele deixou Netherfield no dia seguinte, como decerto está lembrada, com a intenção de regressar em breve. Devo agora explicar qual a minha interferência no caso. A inquietude das irmãs de Bingley fora igualmente despertada e logo descobrimos a coincidência dos nossos sentimentos a tal respeito; e, convencidos da urgência em afastar o irmão, decidimos acompanhá-lo a Londres. Foi o que fizemos, e não perdi tempo em revelar ao meu amigo os inconvenientes da sua escolha. Descrevi-lhos e frisei-os com toda a gravidade. No entanto, por mais que esta advertência possa ter abalado a sua resolução, não creio que ela teria sido suficiente para impedir o casamento, se não tivesse sido apoiada pela afirmação, que não hesitei em fazer, de que a sua irmã lhe era indiferente. Ele acreditara até àquele momento que a Menina Jane correspondia sinceramente à sua afeição, senão com igual intensidade. Mas Bingley é por natureza muito modesto e comovedoramente dependente da minha opinião. Convencê-lo, portanto, de que ele estava enganado, não foi tarefa difícil. Persuadi-lo de voltar ao Herfordshire, após ter firmado o primeiro ponto, foi coisa de um instante. Não me arrependo de o ter feito. Existe apenas uma parte da minha conduta que não me satisfaz inteiramente; pois condescendi em usar de certos artifícios para esconder de Bingley o facto de sua irmã se encontrar em Londres. Sabia dessa presença, bem como a Menina Bingley, mas o irmão desta ainda agora o ignora. É, talvez, provável que eles se encontrassem sem outras consequências; mas o seu afecto não me pareceu suficientemente extinto para que ele pudesse ver sua irmã sem correr algum perigo. Talvez tal encobrimento, tal subterfúgio, seja indigno de mim. Contudo, é um facto consumado e assistido das melhores intenções. Sobre este assunto nada mais se me oferece dizer-lhe, nem outras explicações a dar-lhe. Se acaso causei desgosto a sua irmã, foi sem saber que o fiz, e, embora os motivos que inspiraram a minha conduta lhe pareçam a si naturalmente insuficientes, não vejo ainda razões para condená-los. Quanto à outra acusação que me foi feita, a mais grave e a que diz respeito ao Sr. Wickham, só poderei refutá-la revelando-lhe a história da sua relação com a minha família. Ignoro se ele formulou alguma acusação particular à minha pessoa; mas acerca da verdade do que vou relatar poderei indicar-lhe mais de uma testemunha insuspeita. O Sr. Wickham é filho de um homem muito respeitável, que durante vários anos geriu os bens da propriedade de Pemberley e cuja conduta irrepreensível no desempenho do seu cargo mereceu naturalmente a gratidão de meu pai, que se reflectiu sobretudo em George Wickham, seu afilhado, para com o qual se mostrou de uma generosidade sem limites e lhe devotou grande afeição. Meu pai pagou-lhe os estudos num colégio e mais tarde em Cambridge, auxílio este deveras importante, pois o pai do Sr. Wickham, que as extravagancias da esposa privavam quase sempre do necessário, não estava em condições de dar ao filho uma educação liberal. Meu pai não só apreciava a companhia de George Wickham, cujas maneiras, aliás, eram sempre muito cativantes, como tinha por ele a maior admiração e, alimentando a esperança de que o rapaz abraçasse a carreira eclesiástica, tencionava reservar-lhe um lugar na mesma. Quanto a mim, desde há muito tempo que me desiludira a respeito dele. As suas más inclinações, a falta de escrúpulos, que ele tinha o cuidado de esconder do seu melhor amigo, não poderiam passar despercebidas a um rapaz da sua idade, que o observava e tinha a oportunidade de o ver em momentos de descuido, coisa que ao Sr. Darcy era totalmente impossível. De novo me vejo forçado a magoá-la - até que ponto, só a menina o poderá dizer. Mas quaisquer que sejam os sentimentos que o Sr. Wickham lhe possa ter inspirado, a suspeita que alimento acerca desses sentimentos não me impedirá de lhe revelar o verdadeiro carácter de tal pessoa, e apenas constituirá mais um motivo. O meu excelente pai morreu há cerca de cinco anos e a sua afeição pelo Sr. Wickham manteve-se tão firme até ao fim que nas suas últimas vontades me recomendou que me encarregasse de velar pelo bem-estar do seu afilhado e, acaso ele sempre se ordenasse, providenciasse para que ele fosse ocupar um importante posto, mal este vagasse. Deixou-lhe também um legado de mil libras. O pai dele não sobreviveu muito tempo ao meu, e meio ano após estes acontecimentos recebi uma carta do Sr. Wickham em que ele me informava ter decidido não tomar ordens e me pedia o adiantamento da compensação pecuniária pelo lugar que ele nunca ocuparia. Tencionava, acrescentava ele, dedicar-se ao estudo de Direito e esperava que eu compreendesse que o rendimento das mil libras não bastariam para tal. Apesar do meu desejo em acreditar na sua sinceridade, não o consegui; mas, mesmo assim, mostrei-me favorável à sua proposta. Eu sabia que o Sr. Wickham nunca enveredaria pela carreira eclesiástica. O assunto foi em breve arrumado. Ele desistiu de toda a protecção relativa à sua entrada na Igreja, mesmo se algum dia estivesse em situação de recebê-la, e aceitou em troca a quantia de três mil libras. A partir daí, nada tínhamos que dizer um ao outro. O que eu sabia a respeito dele era suficiente para não o desejar como amigo. Não o convidava para Pemberley, nem procurava a sua companhia na capital. Aí instalado, creio que praticamente sempre, a sua pretensão de estudar Direito não passou de um subterfúgio e achando-se nessa altura liberto de qualquer obrigação, entregou-se a uma vida de indolência e dissipação. Durante três anos poucas notícias tive dele; mas, quando faleceu a pessoa que ocupava o posto que lhe fora destinado, ele tornou a escrever-me, solicitando a sua apresentação para o dito lugar. A sua actual situação, dizia ele, e o que não me custou a acreditar, era bastante precária. Descobrira que o estudo de Direito era pouco proveitoso e estava agora absolutamente resolvido a tomar ordens, acaso eu o apresentasse para o posto que acabara de vagar, coisa de que ele não duvidava, pois estava informado de que não havia outro pretendente e confiava que eu tivesse presente as intenções do meu venerando pai; creio que não me censurará por lhe ter recusado tal pretensão e rejeitado todas as suas tentativas no mesmo sentido. O seu ressentimento foi proporcional à situação desesperada em que se encontrava - e mostrou-se, sem dúvida, tão violento no ataque que à minha pessoa fez na opinião dos outros como nas recriminações que me dirigiu. Após esse período, todas as relações de mera formalidade foram cortadas. Como ele viveu não sei. Mas no Verão passado tornou a atravessar-se no meu caminho, e da forma mais repugnante. Devo agora mencionar certas circunstâncias que eu mesmo desejaria esquecer e que apenas uma obrigação tão forte como a actual me levam a revelá-las a alguém. Depois de ter dito isto, confio inteiramente na sua discrição. A minha irmã, dez anos mais jovem do que eu, foi deixada em tutela ao sobrinho da minha mãe, o coronel Fitzwilliam, e a mim próprio. Há cerca de um ano, ela saiu do colégio e foi morar em Londres, na companhia de uma senhora encarregada de superintender na sua educação. No

Verão passado, ela e essa senhora foram para Ramsgate. O Sr. Wickham, obedecendo sem dúvida a um plano, partiu para o mesmo lugar; descobriu-se depois que houvera um entendimento prévio entre ele e a Sr.a Younge, sobre cujo carácter nos enganámos desgraçadamente. Com o auxílio e a conivência de tal pessoa, George Wickham conseguiu captar de tal modo as boas graças de Georgiana, cujo coração extremamente afectivo conservava ainda viva a impressão da bondade com que ele a tratara em criança, que ela se convenceu de que o amava realmente e consentiu em ser raptada. Ela tinha então apenas quinze anos, o que lhe servirá de desculpa; e, após ter constatado a sua imprudência, tenho o consolo de poder acrescentar que soube disto por ela própria. Cheguei a Ramsgate, inesperadamente, um ou dois dias antes da projectada fuga, e Georgiana, incapaz de suportar a ideia de desgostar e ofender um irmão que ela considerava quase como um pai, confessou-me tudo. Pode bem imaginar como me senti e como agi. A fim de não prejudicar a reputação da minha irmã e não ofender os seus sentimentos, abstive-me de qualquer acto de represália em público; mas escrevi ao Sr. Wickham, que partiu imediatamente. Quanto à Sr.a Younge, não hesitei em despedi-la. O principal objectivo do Sr. Wickham era, sem dúvida, apoderar-se da fortuna de minha irmã, que é de trinta mil libras; mas não posso deixar de pensar que o desejo de se vingar de mim tenha também influído fortemente nele. A sua vingança seria, de facto, completa.

Esta é, minha senhora, a narrativa fiel dos acontecimentos que nos dizem respeito a ambos; e, se não a rejeitar como absolutamente falsa, espero que me sirva de atenuante para a crueldade com que agi contra o Sr. Wickham. Não sei de que modo, nem as falsidades de que ele usou para a atrair à sua causa; mas o êxito por ele alcançado não é de estranhar. Dada a sua ignorância total dos factos e das personagens, não só não estava em seu poder desmascarar essas falsidades, como, além de tudo, o seu temperamento não é dado à desconfiança. Talvez se surpreenda por eu não lhe ter contado tudo isto ontem à noite, mas naquele momento não tinha suficiente domínio sobre mim mesmo para decidir o que devia e o que não devia revelar. Quanto à verdade de tudo o que aqui ficou relatado, posso apelar particularmente para o testemunho do coronel Fitzwilliam, que, dado o nosso parentesco e constante intimidade, e sobretudo a sua qualidade de executor testamentário de meu pai, foi posto necessariamente a par de todos os detalhes concernentes a esses acontecimentos. Se acaso a antipatia que por mim nutre a impedir de dar o devido valor às minhas asserções, o mesmo não acontecerá em relação ao meu primo, e, para que haja a possibilidade de consultá-lo, procurarei entregar-lhe esta carta logo de manhã. Acrescentarei apenas, Deus a abençoe! - Fitzwilliam Darcy.

Outras resenhas de Jane Austen que talvez você queira ler:

Orgulho e Preconceito
Amor e Amizade
Sanditon
A abadia de Northanger
Razão e sensibilidade
Emma
Lady Susan
Mansfield Park
A história da Inglaterra
Os Watson

A AUTORA

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.

A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.

[RESENHA #705] Persuasão, de Jane Austen

Persuasão foi o último trabalho completo de Jane Austen. O livro conta a história de Anne Elliot, uma das heroínas mais tranquilas e reservadas de Austen, mas, ao mesmo tempo, uma das mais fortes e abertas às mudanças. O livro enaltece a constância do amor numa época turbulenta na história da Inglaterra: as guerras napoleônicas. Escrito nesse período, o romance descreve como uma mulher pode permanecer fiel ao seu passado e, ainda assim, pensar em um futuro feliz. Austen expõe de maneira sutil como uma mulher pode passar por cima das convenções sociais e das restrições femininas em busca da felicidade.

RESENHA

Há sete anos, Anne Elliot recebeu uma proposta de casamento de um jovem chamado Frederick Wentworth. Embora estivessem muito apaixonados, Anne permitiu-se ser persuadida a não se casar por uma amiga da família, Lady Russell. Com o coração partido, Wentworth saiu e ingressou na Marinha.

Anne, aos 27 anos, que se deteriora muito rapidamente, enfrenta agora um perigo iminente. Suas irmãs a tratam como mobília e presumem que, como mulher solteira e provavelmente nunca casada, ela não tem nada melhor para fazer do que cuidar dos filhos enquanto sai para festas. Seu pai, um esnobe vaidoso e perdulário, ignora seus sábios conselhos sobre como cortar despesas, embora seja claramente o membro mais sensato da família.

Depois disso, Frederick Wentworth retorna como Capitão Wentworth, um solteirão rico e cobiçado agora perseguido por metade das mulheres de Bath.

Este foi o último trabalho de Austen e muitos fãs de Austen o listam como seu favorito. Não posso dizer que foi meu. A história deixou algumas surpresas; embora, é claro, existam os mal-entendidos habituais, "tramas" falsas, equívocos sobre quem está apaixonado por quem e quem vai se casar, etc., tudo isso são pistas falsas muito óbvias para o leitor, já que Austen praticamente explica a verdadeira razão de tudo desde o início.

Eu gostei – sempre gostei de Austen. Mas faltava em Persuasão o que tornava Orgulho e Preconceito, Abadia de Northanger e Emma tão charmosos: humor.

Isso não quer dizer que não houvesse humor (colocado acima de Mansfield Park). Austen é sempre espirituosa, sempre expressando em seu estilo único e florido sentimentos que seriam rudes ou mordazes se expressos de forma mais direta, e ela permite que seus leitores se divirtam com o que seus personagens pensam, mas nunca diriam.

Mulheres muito bem-humoradas e não afetadas, na verdade - disse a Sra. Croft, num tom de elogio mais calmo, o que fez Anne suspeitar que as suas faculdades perceptivas poderiam não considerar nenhuma delas digna do seu irmão; “e uma família muito respeitável. Não se poderia estar associado a gente melhor. Meu caro almirante, esse cargo! Certamente o preencheremos.”

Mas, dando friamente às rédeas um curso melhor, eles passaram alegremente pelo perigo; e uma vez depois disso, estendendo a mão criteriosamente, eles não caíram nos sulcos nem bateram no carrinho de esterco; e Anne, divertida com o estilo de conduta deles, que ela não imaginava ser uma má representação da direção geral de seus negócios, viu-se alojada em segurança com eles no chalé.

O pai de Anne Elliot, Sir Walter, é um homem extremamente burro, e o engraçado pé que ele se leva muito a sério.

Sir Walter Elliot, de Kellynch Hall, em Somersetshire, era um homem que, para sua própria diversão, nunca lia um livro fora do Baronete; lá ele encontrou emprego para suas horas ociosas e consolo em suas horas difíceis; ali suas habilidades foram despertadas para admiração e respeito, ao ver o limitado remanescente das primeiras patentes; quaisquer sentimentos indesejáveis ​​decorrentes de assuntos domésticos naturalmente se transformaram em arrependimento e desprezo enquanto ele vasculhava as quase infinitas criações do século passado; e ali, se todos os outros jornais fossem impotentes, ele poderia ler a sua própria história com um interesse que nunca falhava.

Mas o humor deste livro é um pouco tênue, afinal. Sir Walter não tem falas engraçadas, ele apenas anda bisbilhotando os que estão abaixo dele e age de forma arrogante, sem autoconfiança ou responsabilidade. O pai de Anna e suas irmãs passam a segunda metade do livro beijando os primos nobres distantes de Dalrymple, que são chatos, desinteressantes e importantes apenas porque têm sangue azul. Os Elliots fazem um som engraçado quando mencionam sua conexão.

Anna nunca tinha visto o pai e a irmã em contato com a nobreza e tinha que admitir que estava desapontada. Ela esperava coisas melhores das idéias elevadas que eles tinham sobre sua própria situação na vida e foi reduzida a uma necessidade que nunca imaginou; o desejo de que tenham mais orgulho; “às nossas primas Lady Dalrymple e Miss Carteret”; "nossos primos, os Dalrymples", soou em seus ouvidos o dia todo.

Os problemas familiares de Anna são um tanto divertidos e há outras falas que podem ser citadas, mas basicamente é a história de uma mulher sensata e de bom coração, em perigo iminente de se tornar virgem e de se casar adequadamente, apesar de ser perdulária. e um pai superficial e egocêntrico. enfermeiros focados.

Os temas do romance são a persuasão (quando é bom ser persuadido pelos outros e quando não é) e a lealdade, representada pelo amor inabalável que Anne e o Capitão Wentworth têm um pelo outro, apesar da sua ausência de sete anos. . É claro que os “vilões” nunca são verdadeiramente maus, eles só querem se casar por outros motivos que não a devoção altruísta.

Dado o triste destino de Austen como uma mulher solteira que morreu aos 41 anos, não podemos deixar de nos identificar com esta heroína mais do que com qualquer outra. Por baixo da refinada comédia romântica de costumes, Austen, como sempre, sugere que destino chato era ser uma mulher solteira sem felicidade própria, e mostra sua simpatia habitual por seu próprio sexo, expressa com humor travesso:

"Mas deixe-me observar que todas as histórias estão contra você - todas as histórias, prosa e verso. Se eu tivesse a memória de Benwick, poderia trazer-lhe cinquenta citações de uma vez do meu lado do argumento, e acho que nunca abri um livro da minha vida que não tinha o que dizer sobre a inconstância das mulheres Canções e provérbios falam sobre a inconstância das mulheres, mas você pode dizer que foram todos escritos por homens.

"Talvez eu devesse. Sim, sim, por favor, nenhuma referência a exemplos em livros. Os homens tiveram todas as vantagens sobre nós ao contar sua própria história. A educação era deles em um grau muito superior; a caneta estava em suas mãos. E eles não deixarei que os livros que estavam provando alguma coisa."

A persuasão tem todos os pontos fortes habituais de Austen – prosa requintada, sagacidade e crítica social contundente – e um elenco de personagens grande o suficiente para formar um elenco interessante, com heróis e vilões em guerras românticas. Mas a simplicidade do enredo e a falta de elemento humorístico não podem torná-lo meu favorito.

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Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, na Inglaterra. Teve pouco tempo de educação formal e terminou os estudos em casa. Começou a escrever textos literários por volta dos doze anos de idade. Mas, em vida, seus livros foram publicados de forma anônima, isto é, sem a identificação de sua autoria.

A romancista, que morreu em 18 de julho de 1817, em Winchester, escreveu obras que apresentam marcas de transição entre o Romantismo e o Realismo ingleses. Assim, suas histórias de amor possuem um tom irônico e fazem crítica social. Essas características também estão presentes em um de seus livros mais conhecidos, o romance Orgulho e preconceito.


[RESENHA #706] Os Watson, de Jane Austen


Jane Austen abandonou a escrita de Os Watsons por volta de 1805, deixando a história de Emma, Elizabeth, Margaret e Penélope sem um final. Em 1850, a sobrinha Catherine Hubback o publicou - "The Younger Sister", ainda sem tradução no Brasil -, provavelmente seguindo as confidências de Jane Austen à sua irmã Cassandra sobre as previsões de final.Mais de 200 anos depois, a jovem autora brasileira Lis Wey decidiu reviver as páginas de uma de suas autoras prediletas, propondo uma versão em Língua Portuguesa para a obra e escrevendo um final diferente para o romance. "Emma Watson é a mais nova dos filhos de um viúvo adoecido. Depois de anos vivendo sob a tutela de uma tia na Escócia, foi enviada de volta para casa e encontrou suas irmãs, descobrindo inimizades, desentendimentos, rancores e mal-entendidos. Influenciada pelas percepções da irmã mais velha, Elizabeth, Emma passa a observar as pessoas e formar a própria opinião sobre elas.Elizabeth, a irmã mais velha e responsável pelos cuidados com o pai, sofreu uma desilusão causada por Penélope, outra de suas irmãs, que a afastou de Purvis, o grande amor de Eli. Depois disso, Penélope partiu atrás de um marido. Outra de suas irmãs, Margareth, disputa com todas as moças solteiras o amor do galanteador Tom Musgrave.No primeiro baile que comparece, Emma conhece a família Edwards e os Osbornes, família mais abastada da região, além do antigo tutor de lorde Osborne, o senhor Howard, personagens cruciais no desenrolar da trama."Os conflitos das irmãs fazem desta história de Jane Austen um terreno fértil à criatividade de Lis Wey, autora de "A Herdeira do Título", "O Segredo de Lady Julie" e outros romances de época nacionais ambientados na Inglaterra de Austen.

RESENHA


Os Watsons é um dos dois romances inacabados de Jane Austen (o outro é Sanditon). É um fragmento deserto, com apenas cerca de 7.500 palavras (ou 80 páginas), cerca de um quinto da extensão de seus outros romances. Embora se pense que foi escrito por volta de 1803 (e abandonado por volta de 1805 após a morte de seu pai), o fragmento recebeu o título de Os Watsons e foi publicado após sua morte em 1871 pelo sobrinho do escritor, James Edward Austen-Leigh.

A heroína da história é a filha mais nova da família Watson, Emma Watson. Nossa MC Emma entra na história depois de ser mandada de volta para a modesta propriedade rural de sua família, depois de passar a juventude criada por uma tia rica que fez tudo o que podia para sustentar uma educação elegante para Emma. Infelizmente para Emma, ​​​​ela agora é muito mais educada do que o resto da família, o que sem dúvida deve ser a causa da confusão na história. A ação começa no primeiro baile de formatura de Emma, ​​onde ela imediatamente demonstra simpatia e gentileza para com o menino triste (o que também a aquece com a família dos meninos, que inclui o vizinho rico).

Alguns dos personagens secundários da história são logo apresentados, dando-nos uma ideia de onde a história poderia ter chegado - uma irmã fofoqueira que nos apresenta um pequeno drama, um pai doente, um cavalheiro que rapidamente se torna desagradável, um cavalheiro que parece agradável, e outro cavalheiro que permanece misteriosamente distante.

O fragmento oferece um começo promissor e é uma pena que Jane nunca tenha conseguido terminar a história. O romance termina aqui, mas a irmã de Jane, Cassandra, sugeriu um possível final que foi revelado: Emma deveria se casar com o Sr. Howard após rejeitar a proposta de Lord Osborne! Que reviravolta!

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