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ENTREVISTA | Escritora e roteirista carioca Luiza Conde explora o tempo e a morte por meio do fantástico e do terror em “Relógios partidos”

 

Divulgação

Rituais longínquos, maldições pregadas na parede e amigos monstruosos. Um ônibus para lugar nenhum, um metrô infinito e uma coleção sanguínea. Esses são cenários que atravessam “Relógios partidos” (Editora Litteralux, 114 páginas), o primeiro livro da roteirista carioca Luiza Conde (@luizacma)


Com uma carreira profícua no roteiro, Luiza agora se lança na literatura fantástica com 12 contos sobre o tempo e os principais medos que acometem a humanidade: envelhecer, ficar só, errar, escolher, morrer, viver.  Dividido em três partes que remetem ao passado (“Tempos que foram”), presente (“Tempos que são”) e futuro (“Tempos que podem ser”), “Relógios partidos” é influenciado pelas obras de autoras que conversam com o insólito e o terror, como Mariana Enriquez, Lygia Fagundes Telles, Silvina Ocampo e Socorro Acioli.  A obra tem texto de orelha assinado pelo escritor e pesquisador Leonardo Villa-Forte.


Nascida no Rio de Janeiro em 1989, Luiza é formada em Letras — Português e Russo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e trabalhou no mercado editorial por dez anos. Entre os autores que inspiram sua escrita, a autora vai de clássicos, passando pela ficção científica e o realismo mágico latino-americano, citando Machado de Assis, Jorge Luis Borges, William Faulkner, Sylvia Plath, Clarice Lispector, Adolfo Bioy Casares, Ursula K. Le Guin e Isaac Asimov. Luiza trocou o mercado editorial pelo audiovisual aos 27 anos, área em que atua até hoje. Como roteirista, trabalhou nas séries “Sem filtro” (Netflix), “Vai que cola” (Multishow) e “Detetives do prédio azul” (Gloob), e é coautora do longa “Jogada ensaiada” (Vitrine Filmes), vencedor do Prêmio Cabíria na categoria Argumento de longa infanto juvenil em 2021. 


O futuro de Luiza Conde está cheio de estreias. Ela também pretende começar a escrever seu primeiro romance, “A Hóspede”, em breve, além de lançar uma nova coletânea de contos fantásticos, dessa vez com a temática dos labirintos. Em 2025, estreia a primeira peça que assina como dramaturga, “Memórias da superfície”, uma sátira sobre influenciadores e a nossa relação com redes sociais.



ENTREVISTA


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Por que escolher tempo e morte como temas a se trabalhar em um livro?


O tempo sempre foi uma ideia fascinante para mim, desde pequena. Sempre amei histórias de viagem no tempo, com as suas intrincadas regras de funcionamento e os seus paradoxos. Lembro de ler sobre o paradoxo dos gêmeos quando era bem pequena e ficar totalmente ensimesmada com a ideia de que o tempo é mutável, moldável. Eu gosto da ideia do tempo como essa entidade que existe e não existe simultaneamente, como algo que sentimos e vivenciamos, mas que da mesma maneira criamos ao inventar as medidas de tempo e as convenções para a sua passagem. Acho incrível que consigamos dar formas ao futuro, algo que ainda não existe. E que tenhamos um passado coletivo compartilhado que nos impacta mesmo que não o tenhamos vivido. Acho difícil também lidar com o tempo, tenho dificuldade de administrá-lo e de precisar quanto cada coisa vai levar. Também por isso, escrevo sobre o tempo, para ver se faço mais sentido da coisa.


Já a morte se apresentou como tema balizador do livro mais por circunstâncias de vida. Sempre gostei tanto de escrever quanto de ler e assistir histórias violentas, e, portanto, a morte sempre foi temática da minha literatura. Mas acho que só se tornou um elemento tão estrutural do livro por ter começado a escrevê-lo pouco depois de perder meu pai e, ainda durante o processo de escrita, ter perdido minha mãe também. Assim, os anos de escrita do livro foram de perda e luto, e não havia como esses temas não transbordarem para a obra de uma forma ou de outra.



Como foi o processo de escrita de Relógios Partidos?


A minha literatura sempre foi mais densa, como em Relógios Partidos. Curiosamente, desde que me tornei roteirista, aos 27 anos, só fui chamada para escrever comédias, como o meu currículo indica. Sou grata ao roteiro por ter revelado esse talento para a comédia que eu não sabia que tinha e que não teria descoberto de outra forma. Sinto que incorporei um humor sombrio à minha literatura por conta dessa descoberta, inclusive. No entanto, em algum momento começou a pesar o fato de só escrever comédias (e o mesmo tipo de comédia) no roteiro. Retomei a escrita da literatura aos 30 anos por necessidade de dar vazão a coisas que queria escrever que não tinham espaço no roteiro. Aos 31, em meados de 2021, uma amiga me indicou a oficina Casulo do Leonardo Villa-Forte, escritor e pesquisador. Era uma oficina de leitura e escrita de contos. Toda semana, nós líamos alguns contos e o Leonardo passava uma proposta de exercício em cima deles, e na semana seguinte líamos os contos que tínhamos escrito. Assim, eu fui escrevendo um conto por semana, e fui gostando do resultado. Ao final do ano, a oficina se encerrou e eu me dei conta de que já tinha um número bem considerável de contos escritos. Foi daí que surgiu a ideia de Relógios Partidos. O processo de escrita não foi fácil, como disse foram anos de perdas muito duras, lutos e transformação. Também estava em salas de roteiro durante 2022 e 2023. Por conta disso tudo, não pude me dedicar com a constância que gostaria ao livro. Passei 2022 e a primeira metade de 2023 o escrevendo, reescrevendo, revisando. Em agosto de 2023, finalmente consegui terminá-lo.


Em sua análise, quais as principais mensagens que podem ser transmitidas pelo livro?


Acho que o livro traz uma mensagem de não conformismo. Tanto de um ponto de vista individual, de romper com os papéis que somos obrigados a performar socialmente, com o que é esperado de nós; quanto coletivamente de ruptura com o status quo. Afinal, não é porque “as coisas são assim” que está tudo bem. As consequências da conformidade em nossa sociedade podem ser (e são) terríveis, o que também é explorado em alguns contos do livro.


Acho também que, embora não seja exatamente uma mensagem do livro, ele sustenta algo que me é muito caro artisticamente: a ideia de que a arte deve causar algum tipo de incômodo, de desconforto, de deslocamento, porque isso gera reflexão e investigação.


O que esse livro e a escrita dele representam para você? 


Para mim, é ao mesmo tempo a concretização de um grande sonho e o início de uma trajetória. Entendo agora que quero construir uma carreira como escritora e dramaturga, e Relógios Partidos, para mim, é o ponto inicial desse caminho. A escrita do livro foi minha companheira durante esse momento pessoal delicado de luto, ao mesmo tempo em que o mercado de roteiro vem enfrentando um período complicado nesses anos pós-pandemia. Entendi não só a vontade, como a necessidade de diversificar meus caminhos profissionais, o que também fez crescer em mim um desejo antigo de retomar e aprofundar os estudos acadêmicos, outro caminho que pretendo começar a trilhar em breve. Isso tudo foi se dando durante o processo de escrita e publicação do livro, foi um período de investigação e transformações profundas mesmo.


Como a sua bagagem profissional como roteirista ajudou na construção da obra?


Embora esse seja o meu primeiro livro, considero que os anos de carreira como roteirista ajudaram bastante, especialmente no que diz respeito a uma constância, velocidade e experiência de escrita, principalmente no sentido de saber com mais facilidade o que funciona e o que não.


Por quê a escolha dos gêneros conto e literatura fantástica para a escrita de Relógios Partidos?


Sempre escrevi contos, desde novinha. Já a literatura fantástica surgiu depois. Ali pelos 15, 16 anos meu pai me apresentou o Borges, e daí eu fui conhecer também o Cortázar, o Bioy Casares, a Ocampo... O Horacio Quiroga e a Lygia Fagundes Telles foram meu primeiro contato com contos de terror, e mais tarde eu viria a descobrir também a ficção científica. São gêneros que me fascinam, principalmente o realismo fantástico latino-americano, por ser uma expressão que eu considero bastante afinada com a nossa cultura, tradições e realidade. Assim é que, quando retomei a escrita de literatura aos 30, entendi que o que mais me interessava escrever era literatura fantástica e de gênero.


Como você definiria seu estilo de escrita? Que tipo de estrutura você adotou ao escrever a obra?


O Leonardo Villa-Forte disse na leitura crítica dele que a minha literatura se equilibra entre a brutalidade e a doçura. Acho que é uma ótima definição. Como falei mais acima, gosto de arte que incomoda e, por esse motivo, provoca reflexão, um olhar para dentro, uma reação. Não gosto da ideia de arte morna, sem alma. Também me interessa bastante a literatura de gênero, e é o que eu gosto de fazer: literatura fantástica, de terror, ficção científica. 


Inicialmente, não adotei estrutura nenhuma, no sentido de que sabia que seria uma coletânea de contos fantásticos, mas só isso. Fui juntando contos que me agradavam num mesmo documento para ter uma noção mais precisa de quantas páginas eu já tinha. Mas com isso fui percebendo que alguns contos conversavam entre si e tinham uma forma parecida. Foi assim que cheguei à ideia macro do livro como uma viagem no tempo e da divisão das 3 partes: passado, presente e possibilidades de futuro. A partir daí, organizei os contos que já tinha nas 3 partes, cortei alguns que não cabiam na proposta e aí sim passei a escrever de acordo com o que ainda precisava e com a proposta de linguagem de cada parte também.


Desde quando você escreve?  Como nasceu sua relação com a literatura?


Comecei a escrever bem novinha. Sempre adorei ler, e já pequena veio essa vontade de contar as histórias que surgiam na minha cabeça. Escrevi meu primeiro livrinho aos 9 anos. Mas foi com 13, depois de ler Crime e Castigo, que a ideia de ser escritora de fato surgiu. O livro teve um impacto enorme em mim, e para mim pareceu mágica a possibilidade de poder despertar tantos sentimentos com palavras no papel. Escrevi dos 13 até os 19 ou 20 (sempre contos), quando decidi deixar esse sonho para trás (o jovem sempre acha que está velho demais para alguma coisa). Aos 24, no entanto, eu (que também sempre fui apaixonada por cinema e TV) tive a ideia de me tornar roteirista. Aos 27 comecei na carreira. Aos 30 retomei a escrita de literatura. Aos 31, comecei a escrever Relógios Partidos.


Você tem algum ritual de preparação para a escrita? Tem alguma meta diária de escrita? 


Tem dias em que não escrevo nada e dias em que escrevo madrugada adentro sem parar. Sou uma escritora meio caótica, não tenho uma frequência e horário pré-definidos. Também não costumo escrever a esmo. Escrevo de acordo com o projeto que estou desenvolvendo no momento. É o que me motiva e engaja. As demandas profissionais também fazem com que a escrita autoral aconteça quando dá, no ritmo em que é possível. 

A perpetuação de ciclos traumáticos em diferentes gerações de mulheres é tema do livro de estreia da escritora e roteirista paulistana Patricia Tischler

Foto: Divulgação

A morte de uma tia querida é o início de uma jornada de descobertas e compreensão do amor em “Vanessa Halen: tudo o que não quis mas já é”.


A jornalista investigativa Vanessa Halen precisa lidar com o luto pela morte de Leila, tia-avó e única familiar que realmente impactou sua vida. Porém, ao começar a explorar a história da tia, Vanessa será confrontada por segredos e mistérios que nunca poderia imaginar. É assim que a escritora paulistana Patricia Tischler apresenta o seu primeiro romance, “Vanessa Halen: tudo o que não quis mas já é” (135 págs.).


A obra gira em torno de traumas e do reflexo que os “carmas familiares” têm em diferentes gerações, assim como da capacidade de cada um construir o seu próprio caminho a despeito deles, ainda que aos trancos e barrancos. Em contraponto à dor vivenciada pela personagem, um passeio por seus afetos revela mais sobre a personalidade de Vanessa. Seja nas lembranças sobre a tia Leila ou na relação com a amiga Marta.


Com um enredo dinâmico, que se passa tanto em São Paulo, capital, quanto em Florianópolis (SC), e que mescla as investigações sobre a vida pregressa da tia-avó com a descoberta de um novo amor, o livro aborda a história de mulheres que fazem escolhas difíceis e incomuns, na tentativa de serem felizes à sua própria maneira, sem a necessidade de se conformar ao que é esperado delas.


“Neste livro, crio personagens que procuraram não se render à posição de vítima. Que passaram pelos ciclos de traumas, compreenderam serem eles repetições do que viera antes, e fizeram deles o símbolo do que não querem mais perpetuar”, explica a autora, que se descreve como “nômade, ex-yogi, fotógrafa entusiasta, funcionária do Itamaraty e escritora”. Inicialmente, com um blog sobre suas viagens, a autora, que atualmente vive na Dinamarca, começou a buscar sua voz na escrita por vários caminhos até chegar em seu primeiro livro e também na newsletter In-Sight, onde divulga textos diversos.


Em “Vanessa Halen: tudo o que não quis mas já é”, Patricia explora também a realidade de pessoas, como a protagonista, que por causa do  histórico familiar, nunca tiveram um lar e pela primeira vez se vêem diante da necessidade de criar raízes. Para a autora, as relações intergeracionais têm um grande papel nas escolhas das personagens, que não conseguem se permitir relacionamentos saudáveis por medo de reproduzir o que elas mesmas vivenciaram.  “Gosto de explorar a ideia de ciclos, que se reproduzem e perpetuam, mas sempre com algumas diferenças.”


De Van Halen a Eric Clapton: conheça a história do livro



Ao retornar ao Brasil para receber a herança de sua amada tia Leila, Vanessa Halen se depara com os objetos e memórias contidos naquele apartamento que foi como uma segunda casa e que agora é seu. Enquanto organiza os pertences da tia-avó, acumulados ao longo de 86 anos de vida, Vanessa descobre um armário misterioso, cujo conteúdo desencadeia uma investigação sobre a vida daquela que foi a sua parente mais querida e que ela descobre não ter conhecido tão bem quanto pensava.


Vítima de um ciclo de abusos, desde a criação fragmentada por uma mãe ausente que só proporcionou um nome de trocadilho que irrita Vanessa (uma alusão à banda de hard rock norte-americana Van Halen) e um pai abusivo e moralmente questionável, Vanessa encontra em tia Leila a referência familiar que molda sua personalidade.  A amizade com a tia é evocada em diversas passagens do livro, que enfatizam o amor que as duas compartilharam. Com o faro aguçado de jornalista, Vanessa empreende uma jornada para preencher as lacunas que não conhecia sobre Leila, enquanto descobre mais sobre si e seus afetos.


Durante a resolução de burocracias do processo de luto, Vanessa conhece Eric, que trabalha em um Poupatempo e a coincidência do nome “criativo” de ambos gera uma primeira conexão. Assim como a jornalista, Eric carrega o fardo de um nome famoso nos seus documentos: Eric Clapton Guimarães e Souza. De um flerte inicial despretensioso a uma relação que se desenvolve em meio aos traumas e limitações de ambos, Vanessa começa a abrir sua vida complicada para Eric enquanto vai aprendendo com o que se parece o amor.  


Em pouco tempo, pequenos aspectos de uma rotina amorosa se estabelecem. O retorno ao bar do primeiro encontro, os desenhos de Eric durante cada conversa. O relacionamento com Eric avança paralelo ao processo de luto de Vanessa. Um mix de sentimentos que se revela a cada etapa.


Mas dar esse passo não é um processo fácil. Com uma relação anterior originada em violência, Vanessa precisa lidar com outros tipos de luto, além da perda de sua tia querida. Para isso, também conta com a amiga Marta, que a acompanha durante suas investigações sobre o passado da tia. A relação com a amiga de longa data é um suporte durante um momento difícil, mas também ilustra a possibilidades de novos começos quando Marta conta a Vanessa que está grávida.   



O primeiro romance de Patricia Tischler


Nascida e criada em São Paulo, Patricia já morou em Brasília, Florianópolis, Madri, Londres, Tallinn (entre outras) e atualmente vive em Copenhague. Após deixar a carreira na yoga para trás, encontrou na escrita (de roteiros e, agora, literária) uma maneira de canalizar suas áreas de interesse variadas.


Com o histórico na ginástica durante a juventude e posteriormente a yoga, a relação com a escrita foi postergada por muito tempo. Aos 30 anos, já funcionária do Itamaraty, Patricia teve a primeira missão no exterior em Hanoi, Vietnã, e sentiu a necessidade de compartilhar essa experiência com família e amigos. Fotos e relatos por e-mail deram origem ao primeiro blog da autora.


Patricia sempre foi uma leitora ávida de ficção, dos policiais aos romances históricos, e ao longo da vida fez diversas tentativas de começar a escrever, mas terminava explorando essa sua necessidade por “mundos inventados” apenas em suas leituras. 


Após se dedicar ao estudo de roteiro em instituições como o Sesc-SP, New York Film Academy e London Film Academy, Patricia sentiu dificuldade de encontrar parceiros para produzir suas histórias por meio do audiovisual. Foi então que começou a fazer o curso de narrativas da escritora Ana Rüsche, com quem já estuda há dois anos, e se encantou com a liberdade dada pela escrita em prosa. “Descobri na escrita de ficção uma forma de mostrar as minhas investigações, experiências e descobertas.” 


“Vanessa Halen: tudo o que não quis, mas já é” é o primeiro romance de Patricia e levou pouco mais de dois meses para ser concluído. “Impressionada com as possibilidades que se abriam, tanto para contar as histórias que eu queria, como para divulgar meus textos, nem bem terminei um e já comecei a converter alguns projetos de audiovisual para a narrativa”, conta a autora que já está com vários projetos na fila, como o segundo romance, e o livro de contos “Tragédias Paulistanas", que teve um texto publicado na edição de setembro/outubro da revista The Bard.


Confira trechos do livro:


“Acho que o hábito de escrever cartas foi o que me fez desenvolver um estilo de escrita meio

pessoal, quase conversando com o leitor. Tive editores que tentaram me corrigir, fazer do meu

jornalismo algo impessoal e menos tendencioso, como se isso fosse possível. Existem tantas

realidades quantos pares de olhos que a observam.”


“Sempre penso em sexo com um novo parceiro como uma dança com um par com quem

jamais dancei. Os passos, mesmo que ambos os saibamos, normalmente saem meio desconjuntados no início. E é preciso ter um certo senso de humor para persistir naquela coreografia confusa.”



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Sinan Antoon explora conflitos geracionais e minorias religiosas no Iraque contemporâneo

Foto: Divulgação /Ed. Tabla


Ave Maria, do autor iraquiano Sinan Antoon, é um romance que mergulha na vida de uma família cristã caldeia em Bagdá, destacando o impacto das guerras e perseguições contra minorias no Iraque. O livro está em pré-venda no site da editora Tabla, com 30% de desconto, até dia 15/12. 

A história se passa em um único dia e apresenta os pontos de vista contrastantes de Yussef, um idoso que se agarra à nostalgia do passado, e Maha, uma jovem profundamente marcada pela dor e pelo ressentimento. É por meio do confronto de gerações que o autor nos apresenta a história contemporânea do Iraque. Os dois personagens revivem memórias pessoais e coletivas, revelando traumas familiares e a complexidade de suas identidades em meio à violência política e sectária.

No passado vivido por Yussef há um Iraque onde as divergências entre ser católico siríaco ou caldeu, muçulmano sunita ou xiita, judeu, mandeu ou iazidi, árabe, curdo, armênio ou persa não decorrem de ódios religiosos ou étnicos, mas "da política, do poder e dos jogos de interesses". No presente vivido por Maha há um Iraque intolerante e fanático, dominado por “uma religião difundida pelo fio da espada”.

Samira Osman, na orelha de Ave Maria

O autor também se vale da simbologia da tamareira para falar sobre as mudanças pelas quais o Iraque passou ao longo da segunda metade do século XX, desde a queda da Monarquia até a invasão dos Estados Unidos ao país em 2003.

Através de diálogos íntimos, Sinan Antoon explora de maneira sutil temas como fé, identidade e resistência. Ave Maria foi finalista do International Prize for Arabic Fiction em 2013.

 

 

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Leia alguns trechos:

 

“Será que eu estava fugindo do presente e me refugiando no passado, como ela me acusa de fazer? Mesmo que ela tenha razão, que vergonha há nisso, se o presente é um campo minado, cheio de explosões, morte e horror? Talvez o passado seja como o jardim de nossa casa, que tanto amo e que adotei como se fosse um filho. Me abriguei nele, lá me refugio do ruído do mundo e de seu horror. É meu Éden no centro do inferno, ou minha ‘região autônoma’, como o chamo de vez em quando. Vou defendê-los, o jardim e a casa, pois são tudo que me resta.”

 ...

“Quem são eles? Este país é de todo mundo. É nosso e de nossos antepassados. A história está aí pra provar. Desde os caldeus, os abássidas e os otomanos, até a fundação do Estado do Iraque. Os museus são testemunhas. Sempre estivemos aqui. Se este país não é nosso, de quem é então? O que me diz?”

 ...

“Não sei se acredito na ressurreição do corpo. Nunca consegui imaginar como os ossos serão refeitos e voltarão para debaixo da carne e da pele. O mundo, nesse dia, será igual a um filme de terror. Creio, no entanto, que a alma não morre. E quem sabe para onde vão as almas? Talvez se transformem em pássaros, que voam de árvore em árvore para se fartar da doçura das tâmaras. Quem sabe minha alma retorne para esta casa e permaneça entre as duas tamareiras. Ao pensar nisso, meu coração sorriu e me deleitei diante da ideia de que a morte é um descanso eterno para o corpo e um novo nascimento para a alma.”

 ...

“Cada um chora pelo Iraque de suas memórias, mas, ao ver as fotos e os comentários, percebi que nunca vivi uma época feliz. Talvez isso aconteça quando eu estiver longe do Iraque, da morte, dos carros-bomba e de todo esse ódio. Deixaremos o país para eles, para que o queimem, como se fosse um cadáver, e para que possam chorá-lo depois de ver o último suspiro do tempo que passou.’’

 

Sobre o autor:

Sinan Antoon é poeta, romancista, tradutor e professor na New York University. Nascido e criado em Bagdá, vive hoje na cidade de Nova York e é considerado um dos mais aclamados escritores e intelectuais árabes de sua geração.

Sobre a tradutora:

Jemima Alves é doutora em Letras (CNPq/USP), pós-doutoranda no Departamento de Letras Orientais da FFLCH-USP e atua como tradutora literária árabe-português. Realizou doutorado sanduíche na Universidade de Nova York sob supervisão do professor e escritor iraquiano Sinan Antoon.

Dados do livro:

Título: Ave Maria

Editora: Tabla

Autor: Sinan Antoon

Tradução: Jemima Alves

Projeto Gráfico: Cristina Gu

Número de páginas: 160

Assunto: Literatura árabe

 

Sobre a editora Tabla:

A editora Tabla tem como foco a publicação de autores do Oriente Médio e do Norte da África, estejam eles em sua terra ou na diáspora. O objetivo é dar voz a literaturas sub representadas no Brasil, estabelecendo pontes diretas num eixo sul-sul. O catálogo busca, portanto, representar a diversidade cultural, étnica, linguística e religiosa dessa parte do globo, a fim de combater preconceitos e estereótipos tão difundidos por aqui.

www.editoratabla.com.br 

Alberto Lung estreia na literatura com romance sobre desigualdades, memórias familiares e resiliência

Foto: Divulgação

Publicado pela Editora Labrador, romance autoetnográfico é inspirado na mãe do autor e conta com uma narrativa bilíngue e sensível; lançamento está agendado para dia 15, na Livraria Drummond, em São Paulo

O escritor, antropólogo e criador de conteúdo Alberto Lung lança seu romance de estreia, "la Margarita" (Labrador, 352 páginas), uma narrativa profundamente pessoal que combina elementos de autoetnografia e autoficção. Inspirado pela trajetória de sua mãe, Margarita, o livro explora com sensibilidade temas como desigualdade social, resiliência e pertencimento, estabelecendo uma conexão única entre o íntimo e o universal.

"A obra é mais que uma homenagem à história da minha mãe. É um resgate emocional e cultural que reflete os desafios de uma infância marcada pela pobreza, pelo trabalho forçado e pela violência", conta o autor. "la Margarita" mergulha na força emocional da protagonista, revelando como o espírito humano resiste até mesmo nas circunstâncias mais extremas. Ao iluminar as barreiras de classe que moldam oportunidades e condições de vida, Alberto convida o leitor a refletir sobre as estruturas que perpetuam essas desigualdades.

O autor estará na Livraria Drummond (Av. Paulista, 2073 - Conjunto Nacional, Consolação), em São Paulo, capital, para o lançamento da obra no dia 15 de dezembro, às 15h, com uma sessão de autógrafos aberta ao público.

Além disso, o livro tece de forma crua e honesta os laços familiares, que se mostram ao mesmo tempo cheios de amor, sacrifício e tensões herdadas. A questão da migração — física e emocional — perpassa a narrativa, revelando a busca universal por segurança e identidade em meio à perda de raízes. Memórias familiares e individuais são investigadas, explorando como elas moldam narrativas e significados que atravessam gerações.

O condicionamento cultural e religioso também é abordado, questionando normas sociais e institucionais que impactam as escolhas e os destinos dos personagens. No entanto, mesmo em meio à dureza do cenário, surgem momentos de empatia e solidariedade, reafirmando a importância de pequenos gestos de conexão humana e apoio mútuo.

"Escrever 'la Margarita' foi um ato de reconciliação com minha mãe e comigo mesmo. Durante três anos, me dediquei à coleta de histórias, entrevistas e reflexões, intercalando períodos intensos de escrita com momentos de distanciamento crítico", revela. O resultado é um livro que une memória e imaginação em uma narrativa rica em nuances, capturando a essência da protagonista e das experiências que moldaram sua vida.

O autor e suas influências

Reconhecido como um dos pioneiros do vlogging no Brasil com seu canal Dayloggers, onde discute filosofia e cotidiano, Alberto Lung traz para sua literatura a mesma profundidade e olhar crítico. Suas principais influências literárias incluem David Foster Wallace, Sylvia Plath, Allen Ginsberg e Walt Whitman, além de autores contemporâneos como Annie Ernaux, Édouard Louis e Tatiana Salem Levy.

Natural de Florianópolis, Alberto passou a infância na Argentina, onde começou a vender suas primeiras histórias encapadas por três pesos. Hoje, dedica suas manhãs à escrita e suas tardes à leitura, mantendo uma rotina disciplinada que reflete sua paixão pela literatura. Atualmente, está trabalhando na continuação de “la Margarita”, que será parte de uma trilogia, além de desenvolver um novo projeto literário que explora as complexidades do comportamento humano em situações de caos social.


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