Responsive Ad Slot

Mostrando postagens com marcador editora tabla. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador editora tabla. Mostrar todas as postagens

Sinan Antoon explora conflitos geracionais e minorias religiosas no Iraque contemporâneo

Foto: Divulgação /Ed. Tabla


Ave Maria, do autor iraquiano Sinan Antoon, é um romance que mergulha na vida de uma família cristã caldeia em Bagdá, destacando o impacto das guerras e perseguições contra minorias no Iraque. O livro está em pré-venda no site da editora Tabla, com 30% de desconto, até dia 15/12. 

A história se passa em um único dia e apresenta os pontos de vista contrastantes de Yussef, um idoso que se agarra à nostalgia do passado, e Maha, uma jovem profundamente marcada pela dor e pelo ressentimento. É por meio do confronto de gerações que o autor nos apresenta a história contemporânea do Iraque. Os dois personagens revivem memórias pessoais e coletivas, revelando traumas familiares e a complexidade de suas identidades em meio à violência política e sectária.

No passado vivido por Yussef há um Iraque onde as divergências entre ser católico siríaco ou caldeu, muçulmano sunita ou xiita, judeu, mandeu ou iazidi, árabe, curdo, armênio ou persa não decorrem de ódios religiosos ou étnicos, mas "da política, do poder e dos jogos de interesses". No presente vivido por Maha há um Iraque intolerante e fanático, dominado por “uma religião difundida pelo fio da espada”.

Samira Osman, na orelha de Ave Maria

O autor também se vale da simbologia da tamareira para falar sobre as mudanças pelas quais o Iraque passou ao longo da segunda metade do século XX, desde a queda da Monarquia até a invasão dos Estados Unidos ao país em 2003.

Através de diálogos íntimos, Sinan Antoon explora de maneira sutil temas como fé, identidade e resistência. Ave Maria foi finalista do International Prize for Arabic Fiction em 2013.

 

 

Para comprar o livro com 30% OFF, acesse: 

https://editoratabla.com.br/catalogo/ave-maria/ 

 

Leia alguns trechos:

 

“Será que eu estava fugindo do presente e me refugiando no passado, como ela me acusa de fazer? Mesmo que ela tenha razão, que vergonha há nisso, se o presente é um campo minado, cheio de explosões, morte e horror? Talvez o passado seja como o jardim de nossa casa, que tanto amo e que adotei como se fosse um filho. Me abriguei nele, lá me refugio do ruído do mundo e de seu horror. É meu Éden no centro do inferno, ou minha ‘região autônoma’, como o chamo de vez em quando. Vou defendê-los, o jardim e a casa, pois são tudo que me resta.”

 ...

“Quem são eles? Este país é de todo mundo. É nosso e de nossos antepassados. A história está aí pra provar. Desde os caldeus, os abássidas e os otomanos, até a fundação do Estado do Iraque. Os museus são testemunhas. Sempre estivemos aqui. Se este país não é nosso, de quem é então? O que me diz?”

 ...

“Não sei se acredito na ressurreição do corpo. Nunca consegui imaginar como os ossos serão refeitos e voltarão para debaixo da carne e da pele. O mundo, nesse dia, será igual a um filme de terror. Creio, no entanto, que a alma não morre. E quem sabe para onde vão as almas? Talvez se transformem em pássaros, que voam de árvore em árvore para se fartar da doçura das tâmaras. Quem sabe minha alma retorne para esta casa e permaneça entre as duas tamareiras. Ao pensar nisso, meu coração sorriu e me deleitei diante da ideia de que a morte é um descanso eterno para o corpo e um novo nascimento para a alma.”

 ...

“Cada um chora pelo Iraque de suas memórias, mas, ao ver as fotos e os comentários, percebi que nunca vivi uma época feliz. Talvez isso aconteça quando eu estiver longe do Iraque, da morte, dos carros-bomba e de todo esse ódio. Deixaremos o país para eles, para que o queimem, como se fosse um cadáver, e para que possam chorá-lo depois de ver o último suspiro do tempo que passou.’’

 

Sobre o autor:

Sinan Antoon é poeta, romancista, tradutor e professor na New York University. Nascido e criado em Bagdá, vive hoje na cidade de Nova York e é considerado um dos mais aclamados escritores e intelectuais árabes de sua geração.

Sobre a tradutora:

Jemima Alves é doutora em Letras (CNPq/USP), pós-doutoranda no Departamento de Letras Orientais da FFLCH-USP e atua como tradutora literária árabe-português. Realizou doutorado sanduíche na Universidade de Nova York sob supervisão do professor e escritor iraquiano Sinan Antoon.

Dados do livro:

Título: Ave Maria

Editora: Tabla

Autor: Sinan Antoon

Tradução: Jemima Alves

Projeto Gráfico: Cristina Gu

Número de páginas: 160

Assunto: Literatura árabe

 

Sobre a editora Tabla:

A editora Tabla tem como foco a publicação de autores do Oriente Médio e do Norte da África, estejam eles em sua terra ou na diáspora. O objetivo é dar voz a literaturas sub representadas no Brasil, estabelecendo pontes diretas num eixo sul-sul. O catálogo busca, portanto, representar a diversidade cultural, étnica, linguística e religiosa dessa parte do globo, a fim de combater preconceitos e estereótipos tão difundidos por aqui.

www.editoratabla.com.br 

Editora Tabla lança livro que reúne textos escritos em meio a guerra.

Diários de Gaza é uma coleção que traz as vozes de artistas, escritores, professores e agentes da cultura que vivem em Gaza e experienciaram (e infelizmente ainda experimentam) a guerra contra o povo de Gaza promovida por Israel desde 7 de outubro de 2023. 

O lançamento é o 1º volume da série, intitulado A memória é uma casa indestrutível, e traz textos de 14 autores e um prefácio de Atef Abu Saif — idealizador e organizador da série original em árabe —, que cobrem os primeiros meses do genocídio na Faixa de Gaza. Não se trata de um livro sobre Gaza, mas um livro escrito em Gaza, sobre as pessoas, o lugar e a vida durante a guerra. 

“A guerra matou milhares de nós, mas despertou milhões de pessoas no mundo, que agora gritam por nosso direito à pátria. Demoliu nossos lares, mas abriu para nós os lares do mundo que estavam fechados havia décadas. Privou-nos de eletricidade, água e segurança, mas iluminou nossa mais bela imagem diante de nós mesmos e, antes de tudo, diante de nossos bárbaros inimigos. Certa vez, escrevi: ‘Se a guerra soubesse que cria bons poetas, ela atiraria em si mesma’. Agora, digo: ‘A guerra atirou em si mesma’.”

Nasser Rabah

A coleção amplifica as vozes palestinas, silenciadas por décadas de expulsão, violência, apartheid e genocídio. Parte da história palestina só pode ser compreendida quando inserida no contexto da experiência colonial. Como em todos os fenômenos coloniais conhecidos, os colonizados sofrem não apenas violências físicas, mas também simbólicas. A memória, portanto, emerge como um dos mais importantes instrumentos de resistência anticolonial. 

Diários de Gaza: a memória é uma casa indestrutível é um livro que busca vocalizar e difundir essa memória, representada por um lugar onde a vida palestina é diariamente negada, mas também poderosamente afirmada: Gaza.

A edição brasileira foi organizada por Rafael Domingos Oliveira, a partir da versão original, e traduzida do árabe por Rima Awada Zahra.


Leia alguns trechos:

 

“A guerra terminará, os invasores irão embora e nós voltaremos para recolher nossos sonhos da poeira dos edifícios e das fronhas rasgadas dos travesseiros. Buscaremos os restos mortais dos corpos daqueles que amamos; replantaremos o jasmim na porta de casa e nos certificaremos de consertar o cano no teto do banheiro; trabalharemos para pendurar novamente os lustres nas varandas para iluminar o caminho dos passantes e contemplaremos o mar com o olhar de um amante cheio de saudade, contando as ondas uma e outra vez, relembrando quantas ondas perdemos na guerra.”

ATEF ABU SAIF

 

“Deslocado da minha dor para a dor dos outros, minhas lágrimas me afogam num choro maior e mais amplo, que se estende por toda a Faixa de Gaza: de um norte sangrento a um sul também sangrento; de um leste escaldante a um mar desolado.”

YUSSEF AL-QUDRA

 

“Lamento informar que nossa vizinhança, que existia antes de mim, não existe mais. Nossa casa, nossos vizinhos e o muro que nos separava deles se foram. A casa desapareceu, e os donos se foram com ela. Todos os meus amigos morreram, e os que sobreviveram esperam por seus entes queridos em tendas, sem comida, bebida ou abrigo adequado, aguardando o momento de se juntarem aos mortos. Estamos penteando os cabelos da desilusão e cantando para ela.”

LAYAN ABU AL-QUMSAN 

 

“O que está acontecendo? Sinto que estamos fora do mundo criado por Deus. O que morre em nós é maior do que um corpo. As almas que nos deixaram amavam a vida, tinham sonhos e lembranças, e hoje estão sendo destruídas e apagadas do registro civil. Somos habitados por mares de lágrimas reprimidas. Não consigo descrever meus sentimentos; um estado de delírio e confusão me domina enquanto ouço as histórias das famílias desalojadas que fazem meu coração sangrar.”

MUSTAFA AL-NABIH

 

“Estamos perecendo na solidão. Metade do mundo nos ignora, enquanto a outra metade romantiza nossa dor para evitar nos ajudar de forma concreta. Somos humanos comuns. Sentimos frio quando as tempestades arrancam nossas barracas e nos atingem com sua fúria. Temos fome e sede, e entramos em colapso diante da água contaminada.”

SAMAHER AL-KHAZINDAR 

 

“Somos os filhos da pureza, marginalizados no mapa do universo, os loucos de Gaza que devoram fogo e bebem lágrimas entre aqueles que se frustram em nome da humanidade, presos na garganta deste tempo.”

MAHMUD ASSAF 

 

Autores:

Ali Abu Yassin, Atef Abu Saif, Hassan Al-Qatrawi, Iman Natur, Jihan Abu Lachin, Kamal Sobh, Layan Abu Al-Qumsan, Mahmud Assaf, Maryam Qawwach, Mustafa Al-Nabih, Nasser Rabah, Nima Hassan, Rima Mahmud, Samaher Al-Khazindar e Yussef Al-Qudra.

Sobre a tradutora:

Rima Awada Zahra é psicóloga, coordenadora e professora da pós-graduação do curso de Psicologia e Migração da PUC-MG, além de consultora em educação e saúde mental. É autora e coautora de obras que reúnem experiências nas áreas da migração, educação, e saúde mental com população em situação de vulnerabilidade social e que são reconhecidos por entidades como a FNLIJ, a Biblioteca nacional, e selecionados para o Clube de Leitura dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Dados do livro:

Título: Diários de Gaza: a memória é uma casa indestrutível

Editora: Tabla

Organizadores: Atef Abu Saif, Abd al-Salam Atari e Rafael Domingos Oliveira

Autor: Vários autores

Tradução: Rima Awada Zahra

Projeto Gráfico: Marcelo Pereira – Tecnopop

Número de páginas: 136

Assunto: Literatura árabe

Sobre a editora Tabla:

A editora Tabla tem como foco a publicação de autores do Oriente Médio e do Norte da África, estejam eles em sua terra ou na diáspora. O objetivo é dar voz a literaturas sub representadas no Brasil, estabelecendo pontes diretas num eixo sul-sul. O catálogo busca, portanto, representar a diversidade cultural, étnica, linguística e religiosa dessa parte do globo, a fim de combater preconceitos e estereótipos tão difundidos por aqui.

"Diário da Tristeza: Mahmud Darwich e a Tragédia Palestina no Cotidiano"

Foto: Arte digital


Escrito em 1973 por Mahmud Darwich, "Diário da Tristeza Comum" marca sua estreia na prosa, unindo ensaios autobiográficos que resgatam o passado do poeta, desde a infância até a vida no exílio, oferecendo uma profunda reflexão sobre sua condição de presença-ausência na sociedade israelense colonizadora. Ao relatar episódios de sua própria vida, Darwich nos convida a mergulhar na tragédia palestina, tanto do passado quanto do presente.

A obra se destaca por entrelaçar perdas e buscas, combinando eventos históricos, experiências pessoais e diálogos que, ao longo de nove ensaios, culminam em imagens poéticas que sensibilizam e envolvem o leitor.

A tristeza do exílio, comum a todo um povo, permeia várias páginas, mas essas são também pontuadas por humor e ironia mordaz. O relato titular do livro, em capítulos breves, ilumina o quotidiano infernal dos palestinos, submetidos a uma constante vigilância e violência.

O livro começa com o capítulo "A Lua Não Caiu no Poço", onde um Darwich adulto dialoga com seu "eu" infantil. Elementos como a árvore, a rocha e a lua, constantes em seus poemas, surgem nas memórias iniciais do desterro para o exílio.

Em seu retorno à terra natal, Darwich se vê fisicamente presente, mas espiritualmente ausente da pátria, suscitando a dolorosa reflexão: "O que é mais doloroso, ser refugiado em terra estrangeira ou no próprio país?"

Alguns dos textos foram escritos enquanto Darwich ainda estava em Israel, dedicando-se a explorar a psique do invasor. Em uma passagem, um soldado-poeta confessa nunca ter se sentido estrangeiro na Palestina até adentrar uma aldeia na Cisjordânia pós-guerra de 1967, onde uma menina lhe lançou um olhar que fez o chão tremer sob seus pés, revelando-lhe sua posição invasora.

Embora escritos há décadas, esses relatos ecoam com a mesma relevância para os leitores de hoje, abordando temas como ocupação, sionismo e nacionalismo árabe, que permanecem alarmantemente atuais.

O capítulo "Silêncio por Gaza", escrito durante o exílio de Darwich no Egito, é particularmente impressionante. Nele, destaca-se a indiferença global diante das violações israelenses na Faixa de Gaza nos anos 1970. O ensaio atesta a continuidade da Nakba, antecipando a resiliência e resistência que caracterizam a população de Gaza até hoje.

"Diário da Tristeza Comum" vai além de uma mera narrativa pessoal, expressando uma tristeza ordinária, fruto das privações cotidianas impostas pela ocupação aos palestinos.

Com esta edição, a Tabla conclui a publicação da trilogia da prosa de Darwich, reunindo "Diário da Tristeza Comum", "Memória para o Esquecimento" e "Da Presença da Ausência", consolidando assim sua contribuição literária e histórica.

Detalhes da Obra

- Título: Diário da Tristeza Comum
- Editora: Tabla
- Autor: Mahmud Darwich
- Tradução: Safa Jubran
- Posfácio: Milton Hatoum
- Projeto Gráfico: Marcelo Pereira – Tecnopop
- Número de páginas: 176
- Gênero: Não ficção

Editora Tabla: Unindo Culturas Literárias

A Editora Tabla se dedica a publicar autores do Oriente Médio e do Norte da África, promovendo uma ampla diversidade cultural, étnica, linguística e religiosa. Com o compromisso de combater estereótipos e preconceitos, a Tabla estabelece uma ligação direta no eixo sul-sul, permitindo que essas vozes sub-representadas alcancem o público brasileiro e construam novas pontes de entendimento e respeito mútuos.

Em suma, a obra de Mahmud Darwich, através da tradução sensível de Safa Jubran, prossegue sua jornada de conectar almas, reivindicar direitos e celebrar a vida em meio ao exílio e à resistência.

"Sultanas esquecidas": Fatima Mernissi recupera passado apagado de mulheres chefes de Estado no Islã

Existe um feminismo islâmico? Editora Tabla lança livro de Fatima Mernissi, uma das figuras mais importantes e influentes do feminismo árabe.

Somando-se ao livro Dez mitos sobre Israel, do historiador israelense Ilan Pappe, a Tabla, editora especializada em literaturas do Oriente Médio e do Norte da África, lança agora seu segundo título de não-ficção. Trata-se do livro Sultanas esquecidas: mulheres chefes de Estado no Islã, da socióloga marroquina Fatima Mernissi.

Em busca de evidências históricas sobre mulheres chefes de Estado no Islã, Fatima Mernissi nos convida a um mergulho no coração do império muçulmano. Atravessando mais de treze séculos de história e diversas sociedades com variadas culturas, ela descobre casos curiosos de rainhas muçulmanas esquecidas (ou apagadas) pela história oficial.

Nas páginas de Sultanas esquecidas, adentramos os palácios, as cortes, os haréns; acompanhamos as disputas de poder, as histórias de amor, as paixões arrebatadoras e intermináveis cortejos de intrigas e mistérios. Conhecemos mulheres poderosas, resistentes, resilientes; escravizadas, cortesãs, rainhas, sultanas; árabes, persas, mongóis, mamelucas. Cada uma tinha sua própria maneira de tratar o povo, fazer justiça e administrar os impostos. Algumas permaneceram no trono por muito tempo, outras mal tiveram tempo de se instalar nele. Muitas foram mortas por envenenamento ou apunhaladas. Raras são as que morreram calmamente em sua cama.

É pela evidência histórica, comprovada pelas fontes, pelos fatos e pelos cargos ocupados por essas mulheres que Mernissi desconstrói os discursos religiosos feitos por homens para obliterar o papel das mulheres no Islã, como coadjuvantes, pouco importantes ou relegadas ao confinamento e ao esquecimento. 

“Essa obra, traduzida para o português, permitirá às leitoras e aos leitores no Brasil conhecer sobre o feminismo islâmico — que existe! — e sobre Fatima Mernissi, que ajudou a construir esse movimento emancipatório como um importante legado para o papel das mulheres no Brasil, no Islã e no mundo.” 

Samira Adel Osman

Ao  escrever a história do Islã a partir do protagonismo feminino, Mernissi contribui para a escrita da história das mulheres, independente de lugar, época ou religião. Muito além de  defender que se escrevesse sobre as mulheres na história e sobre a história das mulheres, Mernissi advogava para que sobretudo as mulheres escrevessem a história porque, para ela, o maior equívoco foi permitir que não só a história, mas a memória, o coletivo e o espaço da produção do conhecimento fossem dominados por homens.

Um levantamento histórico, uma análise sociológica e uma reflexão sobre o poder e seus paradoxos, Sultanas esquecidas: mulheres chefes de Estado no Islã trata de uma questão sempre atual sobre o estatuto das mulheres e sua emancipação.

 

Para saber mais e comprar o livro, acesse o site da Tabla:

 

Leia um trecho da obra:

“Nossa reivindicação ao pleno gozo de nossos direitos universais, aqui e agora, passa necessariamente por uma nova apropriação da memória, uma releitura — a reconstrução de um passado muçulmano amplo e aberto. Fazer incursões a nosso passado pode não apenas nos divertir e nos instruir, mas também inspirar ideias preciosas sobre os modos de viver com alegria quando se é mulher, muçulmana e árabe — três características que tentam nos apresentar como um triângulo maléfico, um abismo de submissão e de abnegação em que nossas vontades devem inevitavelmente se dissolver.”


Sobre a autora:

Fatima Mernissi nasceu em 1940, em Fez, no Marrocos. Foi socióloga, escritora e ativista pelos direitos da mulher nas sociedades muçulmanas. 

Com formação na França e nos Estados Unidos, Mernissi foi professora de sociologia na Faculdade de Letras e Ciências Humanas da Universidade Mohamed V, em Rabat. Sua obra acadêmica se voltou a identificar as estruturas de poder que se coadunam para oprimir as mulheres ao longo da história, sendo grande crítica do colonialismo, do capitalismo, do imperialismo e da interpretação patriarcal do Islã. 

Fatima Mernissi é considerada a fundadora do feminismo islâmico e figura importante e influente do feminismo árabe. Uma mulher intelectual, imponente e poderosa; ativista e revolucionária, livre-pensadora e humanista, a mais célebre escritora feminista dos tempos modernos, cujo legado inspirou e continuará inspirando gerações de homens e mulheres do Oriente e do Ocidente.

Em 2003, Mernissi ganhou o prêmio Príncipe de Astúrias de Literatura ao lado de Susan Sontag. Escrevia em francês, árabe e inglês, e seus livros foram traduzidos para mais de trinta idiomas.

 

Sobre a tradutora:

Marília Scalzo é jornalista e tradutora. Estudou francês na Aliança Francesa onde também foi professora. Formou-se pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e trabalhou no jornal Folha de S. Paulo e na Editora Abril. É autora, entre outros, do livro Jornalismo de Revista (Editora Contexto), e coautora com Celso Nucci dos livros Uma história de amor à música (Editora Bei) e Grande hotel (Senac). Trabalha como tradutora e coordenadora de Comunicação do Instituto Moreira Salles.

 

Sobre a editora Tabla:

A editora Tabla tem como foco a publicação de livros referentes às culturas do Oriente Médio e do Norte da África e seus ecos mundo afora. Com o objetivo de ressaltar os pontos de contato, percorrendo e construindo pontes culturais, nosso desejo é apresentar e representar essas culturas de forma autêntica, longe dos estereótipos.

“Bagdá noir”: coletânea reúne 14 contos policiais sombrios sobre a cidade mais famosa do Iraque

Colagem Digital / Acervo Post Literal / Todos os direitos reservados

Está chegando ao Brasil a coletânea de contos Bagdá noir, da série noir da Akashic Books. Após os sucessos de Beirute noir (org. Iman Humaydan) e Marraquexe noir (org. Yassin Adnan), a série pousa no Iraque com a antologia organizada por Samuel Shimon. “Bagdá noir”, que tem como protagonista uma das cidades mais devastadas pela guerra nas últimas décadas, recebeu a primorosa tradução direta do árabe de Jemima Alves, que já traduziu, na Tabla, poemas da coletânea Gaza, terra da poesia e o romance Gente, isso é Londres, da libanesa Hanan Al-Shaykh.

A ideia do projeto é reunir escritores locais que conhecem a fundo a cidade onde vivem, e propor a cada um que escreva um conto noir inédito, localizado em uma área específica da sua cidade. Porém, em Bagdá noir, você vai encontrar uma cidade um pouco diferente. De um lado, a Bagdá que ainda busca superar os traumas de uma ditadura opressora e violenta como a de Saddam Hussein, de outro, um país que foi completamente devastado e destruído pela invasão e ocupação americana em 2003. 

Na introdução do livro, o organizador Samuel Shimon comenta que “no seu conjunto, as histórias de Bagdá noir testemunham a duradoura resiliência do espírito iraquiano em meio aos desdobramentos da vida real e de um estado de desespero contínuo, do qual a literatura noir oferece apenas uma ideia.”

Perante uma cidade composta por uma algaravia de línguas como árabe, curdo, turcomeno, assírio, armênio, siríaco, persa e uma diversidade de povos e etnias, os contos traduzem uma espécie de “ethos iraquiano” capturando sua pluralidade de vozes, ainda que diante das situações mais adversas. 

“As contribuições deste livro também se sustentam como contos independentes, nos quais as tradições riquíssimas de interculturalidade transcendem a realidade política imediata — mesmo que nela se baseiem”, completa Shimon.

Alguns dos autores presentes na antologia são bastante conhecidos e premiados mundo afora, como é o caso de Sinan Antoon, autor de Morrer em Bagdá e vencedor do prêmio Saif Ghobash Banipal Prize, pela tradução de seu próprio livro The Corpse Washer. Também fazem parte da coletânea nomes como Muhsin Al-Ramli, Nassif Falak, Ahmad Saadawi, Salar Abdoh, Hadia Said, Hayat Raies, Mohammed Alwan Jabr, Salima Salih, Hassin Muzany, Dheya Al-Khalidi, Roy Scranton, Ali Badr, Layla Qasrany.


Bagdá noir é um livro com o melhor do suspense e do entretenimento noir que, aliado ao pano de fundo histórico das últimas décadas do Iraque, permite ao leitor conhecer um lado diferente de uma das cidades mais importantes do Oriente Médio. 

Colagem Digital / Acervo Post Literal / Todos os direitos reservados

Sobre o organizador:

Samuel Shimon nasceu no Iraque, em uma família assíria, em 1956, e desde 1985 vive em Paris. É cofundador da Banipal, renomada revista internacional dedicada à literatura árabe contemporânea, e fundador e editor do popular site literário árabe Kikah. É organizador de Beirute39, uma antologia da nova geração de escritores árabes. Em 2005, publicou o romance autobiográfico ‘Iraqi fi Baris (Um iraquinao em Paris), que se tornou um best-seller no mundo árabe e foi traduzido para vários idiomas.

Sobre a tradutora:

Jemima Alves é pesquisadora afiliada à Universidade de Nova York, sob a supervisão do professor e escritor iraquiano Sinan Antoon, e doutoranda em Letras Estrangeiras e Tradução e mestre em Estudos Judaicos e Árabes (FFLCH-USP). É pesquisadora e membro do grupo Tarjama – Escola de Tradutores de Literatura Moderna (USP). Atuou como intérprete árabe-português no contexto de refúgio no programa de voluntariado do Conselho Nacional para os Refugiados e da Caritas – SP. Realizou parte da sua formação acadêmica em Portugal (Universidade de Évora) e em instituições em países árabes, como Marrocos (Ibn Battuta Arabic Scholarship, oferecida a alunos reconhecidos pela dedicação e excelência no estudo da Língua e Cultura Árabe), e Omã (Sultan Qaboos College, ensinando língua árabe para estrangeiros).

Sobre a editora Tabla:

A editora Tabla tem como foco a publicação de livros referentes às culturas do Oriente Médio e do Norte da África e seus ecos mundo afora. Com o objetivo de ressaltar os pontos de contato, percorrendo e construindo pontes culturais, nosso desejo é apresentar e representar essas culturas de forma autêntica, longe dos estereótipos.

Assim como as tamareiras, o projeto Tabla foi semeado muito antes de prover seus frutos. Cultivada há mais de 10 anos, foi somente em 2016 que as primeiras bagas brotaram.

Ficha técnica:

Título: Bagdá noir

Série: Série Noir 

Organizador: Samuel Shimon

Autores: Muhsin Al-Ramli, Nassif Falak, Sinan Antoon e outros

Tradutora: Jemima Alves 

Editor: Lielson Zeni

Projeto Gráfico: Tereza Bettinardi

Editora: Tabla

Edição: 2023, 1ª edição

Número de páginas: 352

[RESENHA #543] A tatuagem de pássaro, de Dunya Mikhail

A tatuagem de pássaro esta disponível no formato e-book / foto: colagem digital: post literal


A tatuagem de pássaro é um romance ficcional escrito pela escritora iraquiana Dunya Mikhail, porém, eu poderia concebê-lo facilmente como sendo um livro biográfico, afinal, ele não fala da vida da autora, mas fala da vida de alguém em algum lugar

A tatuagem de pássaro é um singelo, dolorido e sofrido retrato da ação da impunidade em voga em países dominados pela religião. Neste livro, conhecemos Helen, sua vida é narrada de forma simples e com riqueza de detalhes, pode-se perceber que a autora quis narrar a verdadeira essência da vida: a simplicidade dos detalhes e a valoração da liberdade. Pode-se afirmar que os momentos, por mais simples que sejam, são a essência da vida, um dia poderemos sentir falta de uma simples caminhada ao ar livre, ou de bons risos com amigos. Momentos pequenos fazem a diferença quando somos privados de pratica-los ou de simplesmente poder fazer qualquer coisa que antes fazíamos, o poder da privação faz-nos perceber a falta que um coração em paz, uma família unida, um amor verdadeiro e a liberdade fazem falta, é mais comum sentirmos falta do que tínhamos, do que valorizar o que temos. Acho que, no fundo, bem no fundo, a autora trabalhou toda noção de vida em cada linha, transmitindo ao leitor a sensação de que é importante viver cada momento com intensidade, pois não sabemos quanto tempo irá durar, o tempo é mutável e não eterno.

Helen é uma garota yazadi [religião da antiga mesopotâmia] que encontra em seu caminho o pior dos castigos: o fim da vida como ela conhecia. Neste romance, conheceremos o poder de ação do estado Islâmico e de toda sua influência, poder e impunidade.

Foto: Colagem digital / post literal / Tradução de Beatriz Negreiros Gemignani

Helen conhece Elias e apaixona-se perdidamente. O romance e a descrição de ambos era de repleta sintonia e sentidos. Elias acabara de perder sua esposa, tornando-se pai solo. Durante um dia de sol em que tentara aprisionar um pássaro em uma gaiola, ele é afrontado por Helen, que realiza a soltura, e é, confrontado com uma simples indagação:  Não sabia que era seu pássaro. Coitado, ele parecia morto. E se fosse uma mãe querendo voltar para os seus filhotes? Você iria querer separá-los?. As palavras soam como facas para o jovem que, refletindo sua condição atual, cai em prantos e reflexões ao chão, Helen aproxima-se e então eles começam uma história, ali, em um momento simples durante um dia de sol, tudo sem pretensões, repleto do que há de mais precioso na vida: os bons momentos e as conversas, isso me fez refletir bastante sobre uma das mensagens do livro: Metade da beleza de uma pessoa é a língua (p.454).

Um dia Elias desaparece, Helen entra em desespero, mas o que o destino lhe preparava era tão dolorido quanto. Helen acaba sendo vítima de um sistema de tráfico de humanos por parte do Estado Islâmico, que a mantem refém para venda e abusos sexuais por parte de seus compradores, como um produto qualquer. Helen encontra uma antiga amiga também refém, Amina, o alívio por ver um rosto conhecido logo é abalado, quando Helen é vendida.

Era comum todas as mulheres reféns receberem diversas visitas de compradores durante a semana, eles podiam estupra-las para verificar se elas realmente lhe serviriam para seus propósitos, as vezes por um ou quatro ou mais homens, como um produto na prateleira em um sistema de trocas infinitas, podendo experimentar o produto e devolvê-lo como numa espécie de amostra grátis. As sessões eram doloridas e as descrições são repletas de dor e sofrimento, é impossível não se compadecer ou não se sentir na pele destas mulheres, suas vontades de rever a família ressoavam em conjunto com a vontade de se suicidarem para pararem com o sofrimento, a esperança era, na maior parte das vezes, a primeira coisa à partir.

O livro conta com diversos flashs de memória de Helen, que sempre relembra os momentos com sua família e nos momentos que desfrutara antes de seu sequestro e venda. Ela é então vendida para um oficial, o que lhe parece um período doloroso e difícil, no começo ele é descrito como alguém compassivo e humano, ouvindo Helen e até oferecendo-lhe a liberdade.O homem era responsável por fiscalizar pessoas e empreendimentos aplicando-lhes multas e castigos de acordo com o código de conduta vigente. Segundo a lei, o homem da casa era responsável por todos e recebia o dobro da punição, sendo responsável pelas vestes da mulher, dos filhos e o seguimento das regras estabelecidas para comércios, em diversos momentos notamos o barramento de atividades simples, mas completamente proibidas pela lei, como: venda de conservas e produtos com fermentação, letreiros oriundos de outros países ou com mensagens fora do idioma permitido, homens que dialogam com mulheres à menos de um metro e meio de distância, dentre outros fatores que poderiam levar o cidadão à 20 chibatadas ou à morte.

A partir dai, começa o processo de maiores picos de dor de Helen. Ela, agora, precisa encontrar meios de fugir de seu cativeiro e retornar à família, mas o seu destino e alma foram para sempre modificados por este período. Um livro que fala-nos sobre resistência, resiliência e vontade de viver e a importância de se seguir em frente sem olhar para trás.

A tatuagem de pássaro, no título, é uma alusão ao período em que conhecera seu marido, Elias. Eles optaram por tatuar o desenho no dedo anelar ao invés do uso tradicional das alianças, porquê a perda da aliança culminava na perda da conexão, e a tatuagem é algo impossível de se perder, além de sempre manter a conexão e chama acesa, um simbolismo que ambos carregariam para sempre.

A obra é sutil e sublime, sua narrativa é densa e forte e repleta de simbolismo e significados profundos, a autora trabalha com sutileza em seu primeiro romance de estreia, e claro, nos presenteia com uma narrativa que nos faz chorar copiosamente, agradecendo por sermos tão agraciados com a liberdade e com as pequenas coisas da vida.

Uma leitura indicada à todo leitor voraz fã de uma boa escrita e narrativa transformadora.

A tatuagem de pássaro está disponível no formato e-book. Compre aqui / R$44,91

A AUTORA

Dunya Mikhail é uma poetisa, jornalista, tradutora e ativista palestina-americana. Ela nasceu em Bagdá, no Iraque, em 1965. Seu trabalho jornalístico e poético tem como foco a experiência e os direitos das mulheres.

Em 1987, ingressou no jornal iraquiano Al-Zawra, onde trabalhou como jornalista. Após a invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003, Mikhail foi um dos primeiros jornalistas do país a documentar a violência contra civis. Seu trabalho foi amplamente reconhecido e ela recebeu vários prêmios, incluindo o Prêmio Coragem no Jornalismo.

Em 1995, o trabalho de Dunya Mikhail foi publicado no livro best-seller de histórias The War Works Hard, que foi traduzido para vários idiomas. No livro, Mikhail explora a violência da guerra e a brutalidade do regime iraquiano.

Mikhail publicou vários livros de poesia, incluindo I Live in the Slums (2000), The Iraqi Nights (2003) e The Beekeeper: Rescuing the Stolen Women of Iraq (2006). Seus poemas tratam de temas como exílio, solidão, vida das mulheres e resistência.

Mikhail também traduziu poesia árabe contemporânea para o inglês, incluindo os poemas da poetisa saudita Hissa Hilal. Atualmente, Mikhail trabalha como professor de redação criativa na Universidade de Nova York. Ele também é membro do Parlamento Internacional de Escritores e do PEN American Center.

© all rights reserved
made with by templateszoo