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[RESENHA #622] Como fazer amigos e influenciar pessoas, de Dale Carnegie

Arte gráfica / post literal / todos os direitos reservados

APRESENTAÇÃO

DALE CARNEGIE (1888-1955) foi um escritor e palestrante americano. Nascido numa família pobre no Missouri, escreveu livros que marcaram época e que venderam mais de 50 milhões de exemplares em dezenas de idiomas ao redor do mundo.O legado de Carnegie, no entanto, vai além de seus livros: anos antes de publicar Como fazer amigos e influenciar pessoas, ele fundou a Dale Carnegie Training, que ministra cursos de desenvolvimento pessoal, vendas, treinamento corporativo, oratória e habilidades interpessoais. Criada em 1912, hoje é uma organização internacional presente em mais de 90 países.

RESENHA

Arte gráfica / post literal / todos os direitos reservados

Como fazer amigos e influenciar pessoas é um livro de autoajuda escrito pelo autor americano Dale Carnegie no ano de 1936, sendo considerado um dos precursores das relações sociais. O livro estabelece parâmetros que fomentam e estreitam laços na comunicação, sendo considerado uma das obras mais famosas e lidas ao redor do mundo, com incríveis 30 milhões de cópias vendidas. A obra foi publicada no Brasil pela editora sextante.

Dale Carnegie descreve 30 princípios para se tornar uma pessoa mais amigável e influente. Esses princípios incluem:

1. Evite criticar, condenar ou reclamar. Em vez disso, adote uma postura positiva e focada em soluções.

E não adianta criticar, porque isso coloca a pessoa na defensiva e, em geral, faz com que ela tente se justificar. A crítica é perigosa porque fere o precioso orgulho do indivíduo, atinge seu senso de importância e desperta ressentimento.

2. Dê apreciação honesta e sincera. Seja autêntico em suas palavras de reconhecimento, evitando elogios falsos.

3. Desperte um desejo ansioso nas pessoas. Motive e inspire os outros a agirem de acordo com seus objetivos.

4. Seja genuinamente interessado nas outras pessoas. Pratique a escuta ativa e esteja presente durante as conversas.

Precisamos entender que as críticas são como um pombo-correio: sempre voltam para casa.

5. Sorria. Um sorriso é contagiante e cria uma atmosfera positiva.

6. Lembre-se do nome das pessoas. O nome é importante e demonstra atenção e respeito.

7. Seja um bom ouvinte. Incentive os outros a falarem sobre si e pratique a escuta ativa.

8. Fale sobre os interesses da outra pessoa. Encontre pontos em comum para tornar a conversa mais interessante e envolvente.

9. Faça a outra pessoa se sentir importante. Reconheça o valor que ela traz e faça-a sentir-se apreciada.

Mas o livro também aborda outros tópicos divididos em quatro sessões, sendo:

Parte Um: Técnicas Fundamentais para Lidar com Pessoas (3 princípios):

1. Não critique, condene ou reclame.

2. Dê apreciação honesta e sincera.

3. Desperte um desejo ansioso nas outras pessoas.


Parte Dois: Seis Maneiras de Fazer as Pessoas Gostarem de Você (6 princípios):

1. Torne-se genuinamente interessado nas outras pessoas.

2. Sorria.

3. Lembre-se do nome das pessoas.

4. Seja um bom ouvinte.

5. Fale em termos dos interesses da outra pessoa.

6. Faça a outra pessoa se sentir importante.


Parte Três: Como Conquistar as Pessoas para a Sua Maneira de Pensar (12 princípios):

1. Evite discussões.

2. Mostre respeito pelas opiniões dos outros.

3. Seja diplomático ao expressar suas ideias.

4. Comece de maneira amigável.

5. Consiga que a outra pessoa diga "sim" imediatamente.

6. Deixe a outra pessoa falar mais sobre si mesma.

7. Deixe a outra pessoa sentir que a ideia é dela.

8. Tente sinceramente ver as coisas do ponto de vista da outra pessoa.

9. Seja receptivo a mudanças e adaptações.

10. Elogie o progresso e o esforço da outra pessoa.

11. Proporcione à outra pessoa uma reputação positiva para zelar.

12. Estimule os outros a terem uma atitude positiva.


Parte Quatro: Seja um Líder: Como Mudar as Pessoas Sem Ofender ou Despertar Ressentimentos (9 princípios):

1. Comece com elogios e apreciação sincera.

2. Chame a atenção para os erros de maneira indireta.

3. Fale sobre seus próprios erros antes de criticar os outros.

4. Faça perguntas em vez de dar ordens diretas.

5. Deixe a outra pessoa salvar o rosto.

6. Elogie cada melhoria, por menor que seja.

7. Dê à outra pessoa uma reputação nobre a ser alcançada.

8. Incentive a cooperação em vez da competição.

9. Torne a outra pessoa feliz por fazer o que você sugere.

Em síntese, podemos dizer que nenhuma pessoa é mais agradável do que aquela que visa conhecer o outro. Procure falar sobre a outra pessoa, demonstrar interesse no que ela diz, sorria, preste atenção de forma clara e interrupta, realize perguntas e comente casos específicos ou semelhantes aos narrados por ela. Esteja pronto para apreciar, ouvir e questionar as respostas obtidas. Caso seu interesse seja algo além da amizade, como um interesse de negócio, analise o ambiente e o momento ideal para introduzir seus tópicos de forma agradável, seguindo o ritmo da conversa estabelecida, sendo sempre cordial e apto a ouvir, analisar e momento ideal para introduzir um novo tópico, aproveitando assim, o gancho cativado: a atenção. 

Portanto, a única forma de influenciar as pessoas é falar sobre o que elas querem e mostrar como alcançar o que desejam

Porém, é importante estabelecer que, as pessoas que procuram métodos de se comunicar melhor com pessoas via dicas e receitas mágicas, podem incorrer no pecado da mentira. É extremamente chato, para muitos, inclusive, mostrar-se interessado em alguém apenas pelo fato de possuir um interesse por trás da comunicação, o que pode causar a impressão de falsidade ou interesse disfarçado de simpatia. Estabeleça conexões com pessoas que buscam ou possuem o mesmo interesse que os seus, e/ou vise estabelecer uma conversa até chegar em um denominador comum. Ser educado e gentil é o gancho principal de toda boa amizade e comunicação, mas forçar uma conversa para parecer mais legal ou semelhante, é apenas uma tática de se mostrar forçado perante os outros. Não, não estou dizendo que o livro não funciona, ele funciona completamente, pois além de ensinar como se relacionar bem, a obra do autor também fomenta debates interessantes acerca dos vínculos estabelecidos entre as pessoas e seus reais interesses preexistentes ou que poderão surgir naquela ocasião através da divergência de ideias entre dois denominadores negativos.

O AUTOR

DALE CARNEGIE (1888-1955) foi um escritor e palestrante americano. Nascido numa família pobre no Missouri, escreveu livros que marcaram época e que venderam mais de 50 milhões de exemplares em dezenas de idiomas ao redor do mundo.O legado de Carnegie, no entanto, vai além de seus livros: anos antes de publicar Como fazer amigos e influenciar pessoas, ele fundou a Dale Carnegie Training, que ministra cursos de desenvolvimento pessoal, vendas, treinamento corporativo, oratória e habilidades interpessoais. Criada em 1912, hoje é uma organização internacional presente em mais de 90 países.

Lançamento: Erva Brava, de Paulliny Tort



SOBRE O LIVRO

As doze histórias que compõem Erva brava orbitam ao redor de Buriti Pequeno, cidade fictícia incrustada no coração de Goiás. Paisagem rara em nosso repertório literário, o Centro-Oeste brasileiro é palco de embates silenciosos, porém aguerridos, retratados neste livro com sutileza e maestria. Regida pelo compasso da literatura — que se ocupa de levantar perguntas, mais do que oferecer respostas —, a escritora brasiliense Paulliny Tort evidencia o nervo exposto de um país que desafia todas as interpretações.

Estão ali as relações patriarcais como a de Chico e Rita, em “O cabelo das almas”; a monocultura da soja que devasta o cerrado; o clientelismo rural que separa mãe e filha em “Matadouro” e a religiosidade sincrética de Dita, protagonista do conto “O mal no fundo do mar”. O rico encontro entre as culturas indígena e afro-brasileira também está em todas as histórias, as festas populares, como o cortejo de Reis que Neverson acompanha de sua moto em “Titan 125”. E, num conto final que coroa o livro como poucas coletâneas conseguem fazer, está também a revolta implacável da natureza diante da ação predatória do homem em “Rios voadores”.

A precisão e a cadência do texto nos convidam a ler em voz alta a prosa cristalina e imagética de Paulliny Tort. Por trás de uma escrita despretensiosa como os personagens de seus contos, ela revela a ironia necessária para dar conta, sem caricaturas ou preconceitos, de um país cruel e encantador.

TÍTULO
ERVA BRAVA
CAPA
FLÁVIA CASTANHEIRA
PÁGINAS
104
ISBN
978-65-89733-38-6
ISBN DIGITAL
978-65-89733-07-2
DATA DA PUBLICAÇÃO
08/10/2021

Ouça “Má sorte”, conto do livro Erva brava, de Paulliny Tort

Direção: Mika Lins.Edição: Julia Leite.Trilha sonora: Maria Beraldo.

 [saiba mais]


Lançamento - Tradução da estrada, de Laura Wittner


EM BREVE NAS LIVRARIAS

Tradução da estrada

Tradução da estrada é o primeiro livro da argentina Laura Wittner publicado no Brasil. Poeta e tradutora de mão cheia, Wittner combina essas duas atividades em versos que operam uma apurada reflexão sobre nossa forma de nomear o mundo a partir do cotidiano e dos afetos. Ao viver, pronunciamos as palavras, mas também somos pronunciados por elas.
 
Os poemas de Wittner trazem um tempo singular que é, de certa forma, como o tempo da tradução: lento, reflexivo e que tem o encontro como horizonte. Como “traduzir” a estrada, os percursos, a própria vida? E como ver o doméstico, os gestos simples, o dia a dia com os filhos, as coisas que não percebemos habitualmente?
 
Ao citar o norte-americano William Carlos Williams, de quem se aproxima no gesto de tocar as palavras com precisão, Wittner coloca “as ideias nas coisas”, mas também transforma as coisas com as ideias, gestos, ritmo e andamento preciso e tocante do livro.
 
Se o horizonte de Tradução da estrada é o do encontro, que seus poemas possam tocar leitoras e leitores para que todos sigam juntos pela estrada, em busca do que mais importa.


TÍTULO | TRADUÇÃO DA ESTRADA


TÍTULO ORIGINAL | TRADUCCIÓN DE LA RUTA


AUTORA | LAURA WITTNER


TRADUTORAS | ESTELA ROSA E LUCIANA DI LEONE


FORMATO | 13,5 X 20 CM


PÁGINAS | 80


ISBN | 978-65-84574-85-4


R$ 59,90 | R$ 39,90 (E-BOOK)


ENVIO PARA ASSINANTES | JULHO


LANÇAMENTO NAS LIVRARIAS | 1/8/2023


QUEM ESCREVE


Laura Wittner nasceu em Buenos Aires, em 1967. É autora, entre outros, de Lugares donde una no está [poemas 1996-2016] (2017) e Se vive y se traduce (2021), longo ensaio sobre tradução, além de livros infantis. Traduziu autores como Katherine Mansfield, James Schuyler e Leonard Cohen. Tradução da estrada é seu primeiro livro publicado no Brasil.

Balanço afiado: estética e política em Jorge Ben

 



LANÇAMENTO DE AGOSTO

Balanço afiado: estética e política em Jorge Ben

Marcado pelo hibridismo formal e temático, Balanço afiado: estética e política em Jorge Ben é uma conversa cheia de ginga em que Allan Da Rosa e Deivison Faustino (Nkosi) constroem uma reflexão sofisticada sobre música, relações raciais, sociabilidades e masculinidades negras a partir da obra do mestre Jorge Ben, utilizando o que chamam de filosofia maloqueira.

A diversidade dos temas cingidos pelas composições de Jorge Ben e a desenvoltura com a qual Da Rosa e Faustino transitam entre eles são, a um só tempo, herança e práxis do pensamento negro de vanguarda. Essa profundidade só poderia ser lida a partir de uma linguagem que convida o leitor a participar, junto com os autores, de uma conversa entre amigos, seja no WhatsApp, numa ligação telefônica ou numa mesa de bar. Assim como na obra de Ben, o elevado e o mais simples estão comungados.

Jorge Ben é um catalisador dos elementos da alquimia que forma a música brasileira e, com um trabalho singular, que escapa da estrutura de notação musical ocidental — fato exemplificado em Balanço afiado por meio das partituras, ou melhor, chulas, magistralmente dissecadas pelo maestro Allan Abbadia —, une-se à beleza das andanças que Da Rosa e Faustino, ora como autores, ora como personagens, realizam entre partidas de futebol de várzea, a festa carioca em devoção a São Jorge, salas de aula das universidades e grandes rodas da intelectualidade negra brasileira.

Além dos pontos de encontro, Da Rosa e Faustino trabalham habilmente os contrapontos da recepção de Jorge Ben, discutindo os meandros entre segregação e intimidade que estão na base do racismo à brasileira. Com texto de orelha de KL Jay, posfácio de Edimilson de Almeida Pereira e a parceria inédita entre as editoras Fósforo e Perspectiva, a pluralidade e, ao mesmo tempo, as encruzilhadas de ideias e práticas contidas no livro se elevam para contestar as fronteiras modernas entre estética e política. 

TÍTULO | BALANÇO AFIADO: ESTÉTICA E POLÍTICA EM JORGE BEN


AUTORES | ALLAN DA ROSA E DEIVISON FAUSTINO


PARTITURA | ALLAN ABBADIA


POSFÁCIO | EDMILSON DE ALMEIDA PEREIRA


CAPA | ALLES BLAU


IMAGEM DE CAPA | MANUELA NAVAS


FORMATO | 13,5 X 20 CM


PÁGINAS | 288


PAPEL | PÓLEN NATURAL 80 G


ISBN FÓSFORO | 978-65-84568-95-2


R$ 89,90 | R$ 59,90 (E-BOOK)


ENVIO PARA ASSINANTES | SETEMBRO


QUEM ESCREVE


Allan Da Rosa é angoleiro e historiador. Mestre e doutor em Imaginário, Cultura e Educação pela USP. É autor de Ninhos e revides: estéticas e fundamentoslábias e jogo de corpo (Nós, 2022), Águas de homens pretos: imaginário, cisma e cotidiano ancestral em São Paulo (Veneta, 2021), Pedagoginga, autonomia e mocambagem (Jandaíra, 2019), Zumbi assombra quem? (Nós, 2017) e Reza de mãe (Nós, 2016).

Deivison Faustino, também conhecido como Deivison Nkosi, é estudioso malokeiro, sociólogo e professor da Unifesp e do Instituto Amma Psique e Negritude. É autor de Colonialismo digital (Boitempo, 2023), Frantz Fanon e as encruzilhadas (Ubu, 2022) e Frantz Fanon: um revolucionário, particularmente negro (Ciclo Contínuo, 2018).

Lançamento - Sobre a certeza, de Wittgenstein



Sobre a certeza

No longo processo em que Wittgenstein se ocupa de algumas de nossas certezas mais banais — “Eu sei qual é o meu nome”, “Existem objetos físicos” —, nós o vemos chegar a um espantoso resultado: a expressão linguística dessas certezas inevitavelmente nos traiá. No exato momento em que julgamos manifestar as verdades mais triviais, nossa linguagem demonstra sua precariedade e simplesmente falha. Mas isso não significa, insiste o filósofo, que deveríamos suspeitar de tais certezas. Significa apenas que nossa confiança deve repousar não na linguagem (em nossa expressão da certeza), mas em nossa ação (no que fazemos ao agir com certeza).

“No princípio era o ato.” Nesse verso, que Wittgenstein empresta de Goethe, manifesta-se talvez o leitmotiv deste livro. O que ele nos diz é que qualquer tentativa de apontar para os fundamentos de nossas certezas terá que ir além da linguagem. Não na direção de algum tipo de transcendência; tampouco na direção de qualquer esfera que se possa chamar de conceitual. Antes, há um mistério que teremos de resgatar daquele verso do Fausto: até mesmo o que nos parece mais evidente, até mesmo o que nos parece pura e simplesmente lógico, só pode revelar-se em nossa ação — no modo contingente e humanamente instável como agimos.

Que o leitor não se deixe enganar pela simplicidade desse resultado. A partir dele, Wittgenstein oferece respostas profundas a alguns dos mais sérios (e antigos) desafios de céticos e realistas. Ao reavaliar o papel que a certeza desempenha em nossos jogos de linguagem, o grande filósofo reformula, com surpreendente originalidade, uma de suas intuições mais fecundas, que o acompanha desde seus primeiros escritos. Em um embate de dois anos consigo mesmo, registrado em anotações que se estendem até a véspera de sua morte, ele nos leva a ver por um novo ângulo o caráter a um só tempo evidente e indizível de nossas certezas fundamentais.

TÍTULO | SOBRE A CERTEZA


TÍTULO ORIGINAL | ÜBER GEWIßHEIT


AUTOR | LUDWIG WITTGENSTEIN


TRADUÇÃO, ORGANIZAÇÃO, APRESENTAÇÃO E VOCABULÁRIO CRÍTICO | GIOVANE RODRIGUES E TIAGO TRANJAN


POSFÁCIO | PAULO ESTRELLA FARIA


CAPA | ALLES BLAU


FORMATO | 13,5 X 20 CM


PÁGINAS | 328


ISBN | 978-65-84568-94-5


ISBNE-BOOK | 978-65-84568-68-6


R$ 89,90 | R$ 59,90 (E-BOOK)


LANÇAMENTO NAS LIVRARIAS | 14.9.2023

LANÇAMENTO DE SETEMBRO

Lançamento: Exterminem todos os malditos, de Sven Lindqvist



LANÇAMENTO DE SETEMBRO

Exterminem todos os malditos

Na novela clássica de Joseph Conrad, Coração das trevas, o capitão inglês Marlow é enviado ao interior do continente africano para resgatar o mercador Kurtz durante o auge do imperialismo britânico. Personagem do cânone ocidental, é Kurtz quem pronuncia uma das frases mais famosas da literatura inglesa: “o horror, o horror”. É dele também o imperativo que serve como ponto de partida a este livro: “Exterminem todos os brutos!”, a mais precisa tradução da forma como a população local foi tratada pelos invasores.

Em 1992, o historiador e escritor sueco Sven Lindqvist embarca em uma viagem à África Central e escreve esta crítica anticolonial europeia. Misto de análise literária, diário de viagem e investigação histórica baseada em fontes primárias, trata-se de um verdadeiro mapeamento geográfico-cultural que implode gêneros e noções pré-concebidas. Nele, Lindqvist propõe a tese de que há uma relação direta e íntima entre a violência colonial contra os povos africanos e o genocídio perpetrado no continente europeu contra os judeus e outras minorias.

Para construir esse raciocínio, o autor explora as raízes e consequências nefastas do colonialismo, sobretudo a dominação belga no Congo, que chegou ao cúmulo de pertencer à pessoa física do rei Leopoldo, mas também os projetos imperialistas na Tanzânia, Níger, Ruanda, Burundi e outros territórios. O autor mostra como se gestou uma pseudociência a partir da ideia de superioridade racial que justificava a exploração, a escravização e o extermínio em massa de pessoas negras. E se hoje é senso comum que a branquitude europeia inventou o racismo, o autor frisa que isso não é suficiente: “Não é conhecimento o que nos falta. O que nos falta é a coragem de olhar para aquilo que sabemos e tirar conclusões”.

Mais de trinta anos após sua publicação, a leitura de Exterminem todos os malditos ­— que foi adaptado em minissérie homônima pela HBO — continua urgente por apontar com clareza que as feridas do passado ainda ardem no presente, e que a injustiça histórica continua a afetar as relações entre os países e povos, bem como o tratamento que alguns recebem em razão de sua origem étnica.


TÍTULO | EXTERMINEM TODOS OS MALDITOS: UMA VIAGEM A CORAÇÃO DAS TREVAS E À ORIGEM DO GENOCÍDIO EUROPEU


TÍTULO ORIGINAL | UTROTA VARENDA JÄVEL


AUTOR | SVEN LINDQVIST


TRADUÇÃO | GUILHERME DA SILVA BRAGA


PREFÁCIO | ATHENA FARROKHZAD


CAPA | RAFAELA RANZANI


FORMATO | 13,5 X 20 CM


PÁGINAS | 248


PREÇO | R$ 89,90


DATA DE LIVRARIA | 26.9.2023



QUEM ESCREVE


Sven Lindqvist foi doutor em história da literatura pela Universidade de Estocolmo, doutor honoris causa pela Universidade de Uppsala e obteve um magistério honorário do governo sueco. Escreveu mais de trinta livros, a maioria sobre imperialismo europeu, colonialismo, genocídio e guerras. Seguindo o estilo aforístico de Nietzsche, desenvolveu uma forma literária que combina o pessoal com o político, misturando investigação histórica, viagens e reportagens literárias. 

[RESENHA #619] O despertar da consciência cósmica - o Deus adormecido, de Tasso de Abreu


APRESENTAÇÃO

''O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA CÓSMICA — O DEUS ADORMECIDO'' — tem por objetivo apontar a relação atitudes x abusos x credulidade. Visto que algumas vezes a pessoa, por comodismo ou por desatenção, submete-se a pitorescas situações, que nenhum mal haveria, não fosse o fato de esses deslizes fomentarem a ganância daqueles que, em sua soberba, aproveitam de inocentes.

Esta obra questiona fatos, mantendo, porém, o respeito ao direito de escolha de cada um. A fé é um suplemento| necessário ao homem, portanto, acreditar não se nivela a excluir-se, entregando sua jornada e competência a outro de igual necessidade. Aquele que crê, acredita primeiro em si, em sua capacidade, em sua competência, em seu valor. Daí, as demais coisas lhe serão acrescentadas. Cada ser é um milagre, e as escolhas de cada um determinarão suas conquistas.

RESENHA

O despertar da consciência cósmica é um livro de ficção escrito pelo autor Tasso de Abreu. O livro é uma pesquisa pessoal do autor acerca do processo (ou ausência dele) de pensamento crítico de cada indivíduo acerca dos dogmas e dos paradigmas das religiões.

Antes de iniciarmos uma análise acerca da obra, primeiramente, faz-se necessário analisar o contexto do chamado despertar da consciência. O despertar da consciência é um termo que se refere ao processo de se tornar consciente (durante atos e processos de reflexão e pensamento) de si, de suas emoções, pensamentos, padrões de comportamento e do mundo ao seu redor. É um momento de autodescoberta e questionamento, no qual a pessoa começa a refletir sobre sua existência, propósito de vida, valores e crenças.

Esse despertar pode ser desencadeado por diferentes experiências, como eventos traumáticos, encontros significativos, práticas espirituais, estudos filosóficos ou simplesmente uma busca interna por significado e sentido. À medida que a pessoa se torna mais consciente, ela pode começar a questionar as narrativas e condicionamentos sociais, buscando um maior alinhamento com seus valores e uma compreensão mais profunda de si mesma e do mundo.

O despertar da consciência é um processo individual e contínuo, pois estamos sempre em evolução e aprendizado. Pode trazer uma sensação de liberdade, autenticidade e conexão com algo maior, além de uma maior responsabilidade em relação às escolhas e ações. No entanto, também pode ser desafiador, pois pode envolver confrontar medos, enfrentar a desconstrução de crenças antigas e lidar com a incerteza.

A síntese principal do livro deu-se por intermédio de uma série de acontecimentos na vida do autor, o que o colocou a se questionar acerca do porquê das coisas serem como são e os motivos que tornam a vida como ela é. Suas reflexões iniciaram-se buscando o entendimento mais assertivo acerca da vida cotidiana, das decisões, e claro da religião e de todos os dogmas estabelecidos por ela. Observa-se que o autor procura a todo instante estabelecer linhas de raciocínio lógico (falhas) na religião com o mundo contemporâneo, procurando analisar claramente a relação pobreza x fracasso x tristeza e religião.

A tese central da obra é uma crítica ao modo com o qual se desenvolvem as religiões, seus pensamentos arraigados em preceitos estabelecidos em suas observações com o decorrer dos anos. O autor defende a ideia de que a religião, como estabelecida na atualidade, é apenas uma forma de pensamento e comportamento arcaica e fundamentada, de pouca lógica ou raciocínio, tornando o ato de crer apenas algo genético, não racional e intuitivo. Desta forma, acreditamos em algo sem questionar ou hesitar, pois assim nos foi apresentado, não nos atendo aos detalhes que norteiam os ritos religiosos ou sua existência como fomentador de idealizações passadas e retrógradas ao pensamento geral e comum.

Para elucidar suas provocações, o autor faz recortes temporais de passagens da bíblia, pouco elaborados acerca da existência da necessidade de pensamento, observadas a seguir:

O próprio Jesus, entidade fundamental do cristianismo, líder idolatrado de uma infindável série de denominações religiosas, já teria afirmado, de acordo com o evangelho de Tomé, o “ver para crer”: “Quem não conhece a si, não conhece nada; mas quem se conheceu, veio a conhecer, simultaneamente, a profundidade de todas as coisas” (pág. 24).

E mais:

E, ainda, no Evangelho apócrifo de Tomé, encontramos: “O reino de Deus está dentro de vós e também em vosso exterior. Quando conseguirdes conhecer a vós mesmos, sereis conhecidos e compreendereis que sois o filho do Pai Vivo. Mas se não vos conhecerdes, vivereis na pobreza e sereis a pobreza” (pág. 24).

Em síntese, o autor visa reafirmar a necessidade de que o leitor deva buscar respostas a fim de se conhecer profundamente, como estabelece a necessidade descrita pela própria bíblia.

O propósito do livro é dividido em duas partes, que, como propõe o autor: a primeira parte discute de forma maçante e nada convincente as dúvidas e provocações do homem em relação à vida e a morte, chamado "a era das dúvidas". A segunda parte, uma análise empírica e pouco elaborada e fora dos eixos e do foco central, o autor desenha agressivamente o descortinamento do véu que separa o universo dos homens e de Deus, o grande fomentador de rivalidades, medos, guerras e angústias, que, de certa forma, provocam no homem mais crenças e pensamentos pouco fundamentados na razão. A ideia que se passa é que não, este não é um livro sobre como pensar claramente fora dos eixos da religião, o que me pareceu muito mais um livro contra a figura do Deus cristão, pelo fato de que, o autor se atém unicamente em citar passagens da bíblia, mas não de outros livros, e todas as suas dúvidas e questionamentos fundamentam-se unicamente no universo da religião cristã, bem como suas citações demasiadamente cansativas da bíblia, ou seja, uma perda de foco totalmente exaustiva e que torna a leitura extremamente cansativa e maçante.

Para comprovar o uso exagerado de passagens da bíblia, ainda que o autor se atenha em dizer religião, e não religião cristã, como sua própria obra trata, poderemos observar passagens da bíblia nas páginas 55, 56, 80, 85, 86, 105, 113, 114, 115 e demais páginas, há pelo menos dez citações em cada capítulo da obra.

Talvez o livro possa ser reescrito por alguém que, de fato, tenha algo interessante a dizer sobre a real necessidade do pensamento e da lógica humana para fugir de todos os preceitos estabelecidos na sociedade com mais foco, estudo, lógica e com menos recursos exagerados no uso de sinônimos falhos e antíteses fracas para fomentar seus pensamentos. Ou, devo dizer, que o autor reescreva esta obra em uma nova edição com um título mais interessante, visto que seu foco foi menos pensamento e mais religião cristã. No mais, uma obra interessante durante os momentos de ócio.  

[RESENHA #618] História do inferno, de George Minois

APRESENTAÇÃO

Neste livro, o olhar arguto e global de Georges Minois traz ao leitor contemporâneo uma súmula das concepções de inferno que acompanharam as principais civilizações humanas. Veremos também que, mesmo em face do declínio das crenças tradicionais e da Igreja católica, dos questionamentos à ideia de inferno nos próprios ambientes eclesiásticos, o conceito ainda se faz presente e relevante, como se a história do inferno fosse também a história do homem confrontado com sua própria existência.

RESENHA

A ideia de inferno é recorrente nas civilizações, encontrada nos textos mais antigos, presente nas concepções religiosas e até mesmo em visões ateístas contemporâneas. O uniforme é multiforme, adaptando-se às diferentes sociedades, e pode ser visto como um lugar sinistro ou como um lugar ou estado de extrema angústia existencial durante a vida. Desde os primórdios da humanidade, a ideia de inferno está associada aos sofrimentos, ódios, às contradições e à impotência inerentes à condição humana — ligada ou não ao julgamento e castigo, a ameaça do inferno contempla os temores de cada civilização, muitas das vezes espelhando seus fracassos sociais e suas ambiguidades. Dentre as diversas concepções de inferno, a mais detalhada e desesperadora talvez seja do inferno cristão, em que o sofrimento permeado por remorso e pela eternidade das penas afeta os sentidos e a mente. É uma construção racional, um contraponto a uma religião baseada na ideia de salvação do espírito, e que supostamente respeita o livre arbítrio humano. Antes da ideação do inferno cristão, porém, outras reflexões religiosas imaginavam um além-como continuação triste da vida terrena, onde os infelizes desta terra continuariam sofrendo. Neste livro, o olhar arguto e global de George Minois traz ao leitor contemporâneo uma sumula das concepções de inferno que acompanharam as principais civilizações do mundo.[texto da orelha da obra]

História do inferno é um livro de estudos/ficção/análise da construção da imagem do inferno em suas múltiplas faces e variáveis existentes na sociedade, religião e/ou pensando popular. Escrito pelo autor e historiador francês George Minois, esta é a terceira edição da obra, publicado no Brasil pela editora Fundação Editora UNESP.

A história do inferno é um dos grandes fomentadores dos debates religiosos acerca do globo. O inferno possui diversas descrições acerca das religiões existentes, algumas, atribuindo o inferno apenas as atitudes de seus frequentadores como sendo uma forma de punição a desobediência. Na religião cristã, o inferno é o local de punição dos impios e dos pecadores, já para religiões como testemunhas de jeová, o inferno nada mais é do que a sepultura e a morte da consciência humana, não existindo punição, paraíso ou inferno. Pouco se sabe acerca da construção da figura do inferno, porém, Minois trabalha com maestria para explicar o seu surgimento nas religiões antigas e contemporâneas. 

O inferno é abordado tanto como uma questão religiosa quanto como uma invenção popular. O autor mescla esses dois conceitos para demonstrar que foi a pressão popular que levou a Igreja a estabelecer uma doutrina oficial sobre o assunto. Mediante imagens narrativas alucinantes, o texto revisita visões macabras e torturas inimagináveis, para depois analisar como os teólogos racionalizaram tudo isso, transformando o inferno em uma arma de dissuasão e prova da justiça divina implacável.

Heróis, poetas e visionários empreenderam jornadas ao inferno e trouxeram consigo descrições horripilantes que refletiam os fantasmas de sua época: um lugar de sobrevivência desesperada, de punição eterna ou simplesmente um espaço abstrato. A diversidade dessas representações constitui um dos aspectos mais transcendentais e enigmáticos da história humana. O que me recorda das mais diversas narrativas religiosas acerca da morte e da punição, uma das características mais marcantes da modernidade atual é a divisão de ideias acerca do final da vida e do pós-morte, e que, claro, é minuciosamente analisado por Minois nesta obra.

O autor analisa o surgimento do inferno nas civilizações orais, como na áfrica, xamânicos, germânico, escandinavo, mesopotâmicos, egípcios, hinduístas e as várias descrições do inferno na literatura e no pensamento filosófico.

Para o autor, o inferno surgiu primeiramente no imaginativo popular caracterizado e atribuído, sobretudo, as categorias mais pobres e afetadas pela escassez de oportunidades, em uma tentativa de seguir uma linha tênue de obediência para adquirirem um lugar ao sol perante o perdão de Deus e fugir da danação eterna, uma vez que, este seria o primeiro passo para driblar a história terrena repleta de pobreza e sofrimento, marcado pela ausência de conhecimento e oportunidades. (p.60).

O desejo de revanche não é estranho a essa curiosidade: os sacrifícios exigidos a essa via pelos fiéis, devem ser compensados tanto por um gozo futuro, tanto, quanto uma punição para aqueles que foram felizes neste mundo. (p.60)

Essa obra é indispensável para aqueles que se interessam pela evolução da cultura, pois “História do Inferno” oferece um diagnóstico preciso da nossa contemporaneidade. Mostra o desaparecimento do inferno tradicional e sua identificação com as angústias cotidianas da consciência moderna. Uma descrição mais detalhada acerca da obra de Minois, culminaria, digo com certeza, em uma série de spoilers que acabariam com os estudos elaborados pelo professor, desta forma, fica a indicação para uma leitura pura e fluida acerca deste genuíno estudo.

O AUTOR

Georges Minois é professor de História e historiador das mentalidades religiosas. Dele, a Editora Unesp publicou História do riso e do escárnio (2003), A idade de ouro (2011), História do ateísmo (2014), História do futuro (2016), História do suicídio (2018), História da solidão e dos solitários (2019), As origens do mal (2021) e Henrique VIII (2022).


[RESENHA #617] A última volta do rio, de Nei Lopes

Apresentação

A última volta do Rio é o lamento de um preto carioca da gema que viveu os anos de ouro da Cidade Maravilhosa e hoje sofre com as mazelas que a estão destruindo, tais como o crime, a corrupção, o racismo religioso e a intolerância.

Maurício de Oliveira, o Cicinho, foi o primeiro de sua família a cursar o ginasial. Saído do Irajá, na zona norte do Rio de Janeiro, formou-se em Direito e tornou-se procurador federal. Acompanhou todas as mudanças que o Rio de Janeiro sofreu ao longo dos anos: da transferência da capital para o interior do país (e as disputas que se seguiram) ao surgimento de novos atores políticos — e religiosos — na dinâmica da cidade. Conforme apontou Marcelo Moutinho, na orelha do livro, o percurso de Cicinho “reflete, no microcosmo individual, a trajetória de um país em permanente cataclismo [...], cheio de impasses, esquadrinhados por Nei com verve e ironia”.

Nei Lopes vem se empenhando em produzir uma literatura ficcional no qual o indivíduo negro e o povo negro, em geral, sejam protagonistas quase absolutos das tramas que desenvolve, sempre ambientadas a partir dos subúrbios do Rio de Janeiro. Este A última volta do Rio consolida definitivamente a força narrativa do autor.

“Aquela do presidente preto nunca mais saiu da cabeça do Maurício. Ele sabia que o Brasil tinha preto, bom de bola, cantor, dançarino, enfermeiro… Mas presidente da República? Como? A novidade então virou o 'segredo do Castelo' ou 'da Esplanada'. Que ainda hoje, embora não seja oficialmente um bairro, é um importante local do Centro da cidade. Aliás, antes da mudança, era o centro do Centro, por abrigar os prédios das grandes decisões, onde se julgavam os destinos, onde se ouvia a música mais refinada, viam-se os melhores filmes estrangeiros, tomava-se o chope mais bem tirado, cobiçavam-se as mulheres mais bonitas e invejavam-se os homens mais bem trajados. Aqui é que era o Rio, com R maiúsculo.”

RESENHA


Maurício de Oliveira, também conhecido como Cicinho, nasceu tendo sido criado em Irajá, uma região da zona norte do Rio de Janeiro. Ele foi o primeiro de sua família a completar o ensino médio e seguiu adiante, obtendo um diploma em Direito e se tornando procurador federal. Ao longo dos anos, ele testemunhou todas as transformações pelas quais o Rio passou, desde a transferência da capital para o interior do país, com todas as disputas que se seguiram, até o surgimento de novos atores políticos e religiosos na dinâmica da cidade. A jornada de Cicinho reflete individualmente a trajetória de um país em constante turbulência, repleto de impasses, que Nei Lopes explora com perspicácia e ironia.

Nei Lopes tem se dedicado a produzir uma literatura ficcional na qual o indivíduo negro e o povo negro, em geral, sejam protagonistas quase absolutos das tramas, sempre ambientadas nos subúrbios do Rio de Janeiro. “A Última Volta do Rio” consolida definitivamente o poder narrativo do autor. Autor, compositor e cantor, Nei Lopes nos presenteia mais uma vez com uma obra magistral que tende a se mostrar encantadoramente repleta de nuances de um Rio de Janeiro de outrora.

Com uma prosa histórica, o autor delineia as ruas e as paisagens da cidade maravilhosa em seu ápice, e claro, seu declínio social em relação à crescente onda de intolerância racial, social, política e religiosa. Uma obra que me lembrou muito a alma encantadora das ruas, de João do Rio, publicado originalmente em 1908, onde o autor, observa de forma minuciosa e crítica as transformações que a modernidade trouxe para a cidade do Rio de Janeiro, bem como as transformações que tomaram conta da crescente populacional. Há aqui, um paradoxo, entre o encontro e a narrativa de dois autores distintos que descrevem períodos relativamente próximos da história da cidade maravilhosa, bem como suas nuances e descrições políticas e sociais acerca do desenvolvimento das problemáticas sociais que tomaram conta dos tempos atuais na grande metrópole. 

O título da obra do autor também é uma forma de demonstrar que a vida é como o curso de um rio, ou seja, sempre em constante mudança e jamais sendo interrompida. Assim como em a ultima volta do rio, o contexto histórico dá obra baseia-se na construção enraizada no crescimento populacional e na miscigenação de povos, ocasionando em conflitos sociais poderosos e destrutivos, como a intolerância e o racismo.

A história construída pelo autor mostra-nos a vida e o crescimento de seu personagem, Cicinho [apelido carinhoso de Maurício de Oliveira, gentilmente dado por sua mãe], desde à chegada na cidade maravilhosa a seu ingresso na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, bem como sua sede por dias melhores. 

A memória de sua família materna guardava histórias de um bisavô escravizado, chamado Casemiro, cujo filho, já no começo do século XX, progredira e enriquecera já na capital federal, à custa do próprio esforço. (pag. 61)
A narrativa também explora a criação da divisão social estabelecida com os avanços [ou retrocessos] na cidade maravilhosa:

Certamente foram essas elites que, tomando a natureza como parâmetro, optaram pela separação da cidade em duas partes: uma vírgula, predominantemente litorânea, abrigando preferencialmente os ricos e remediados; e a outra, do outro lado da grande montanha, reservada aos cidadãos tios como segunda classe. (p. 113)
A criação e crítica acerca da criação do termo urbano, processo de urbanização da cidade:

Da mesma forma que a recente difusão do termo urbano, como sinônimo de cosmopolita e universal, é uma criação dos modernos de hoje, a generalização da ideia de subúrbio como lugar carente, sem ordem nem conforto, habitado por pessoas pobres, sem educação ou refinamento, parece ser uma criação das antigas elites cariocas. (p.112-113)
A obra também descreve o agravamento do racismo e o atravessamento do racismo nas mulheres e nas populações negras:

Que, no Brasil, as mulheres negras sempre foram e continuam sendo mais vitimadas pelo racismo que seus correspondentes masculinos. E que isso é culpa do racismo que estruturou a nossa sociedade desde os tempos coloniais, e ainda permanece vitimando boa parte do nosso povo. Que a culpa disso se deve também ao machismo, que impede as mulheres de desfrutar o que elas mesmo produziram e produzem... (p.127).
Em síntese, a obra criada pelo autor é um retrato claro e palpável das problemáticas sociais e dos problemas advindos da ausência de conhecimento de um povo acerca da real cultura brasileira, que, como sabemos, é fruto da miscigenação dos povos e da caracterização única criada pelos vínculos e pelos elos que alimentam a população do Brasil como um todo. Uma obra provocativa e apimentada para leitores ávidos em busca de uma reflexão e de uma leitura extremamente prazerosa.

O AUTOR

Nei Lopes nasceu em 1942, no subúrbio carioca de Irajá. Ex-advogado, destacou-se como compositor de música popular e depois como escritor, notadamente com os romances Rio Negro, 50 e O preto que falava iídiche, e com os contos de Nas águas desta baía há muito tempo, todos pela Editora Record. Acumula publicações e premiações, como o 58º Prêmio Jabuti nas categorias Melhor Livro de Não Ficção e Livro do Ano, conquistado com o Dicionário da História Social do Samba (Civilização Brasileira), escrito em coautoria com Luiz Antonio Simas. Em 2022, aos 80 anos, já doutor honoris causa pela UFRRJ e pela UFRGS, recebeu a mesma homenagem da UERJ e da UFRJ.

[RESENHA #616] A ilha, de Adrian Mckinty

APRESENTAÇÃO

Depois de se mudar de uma cidade pequena para Seattle, a jovem Heather se casou com Tom Baxter, um médico recém-viúvo com um filho e uma filha adolescentes. A relação entre Heather e os jovens não é boa, por isso acompanhar Tom a um congresso na Austrália em uma espécie de férias em família parece a oportundiade perfeita para se aproximarem. No entanto, assim que chegam ao destino, tudo que os adolescentes exaustos e com jet lag querem é distância da madrasta. Então a família descobre a ilha Holandesa, um lugar fora da rota turística que parece uma verdadeira aventura, longe dos celulares e do Instagram. Por isso, Tom, Heather e os jovens logo arrumam um jeito de entrar na balsa que faz a travessia do continente até lá.

Mas, assim que colocam os pés na ilha, onde todos os moradores pertencem a uma mesma família, o clã O’Neill, parece que há algo de errado. E um terrível acidente faz a situação dos Baxter passar de um leve desconforto para um pesadelo indescritível. Heather e os adolescentes acabam se separando de Tom, sendo forçados a escapar sozinhos de perseguidores implacáveis. Agora, cabe a Heather garantir a própria segurança e a dos enteados, mesmo que eles não confiem nela, porque, nessa ilha inóspita, a família O’Neill não é o único perigo à espreita.

Por toda a sua vida, Heather foi subestimada, mas ela sabe que é a única capaz de manter a família unida e se tornar a mãe tão desesperadamente necessária àqueles jovens, mesmo que isso signifique fazer o impensável para mantê-los vivos.

RESENHA


Durante uma viagem de uma família americana para ver coalas e a vida selvagem australiana, eles se encontram em uma situação de vida ou morte após causarem um acidente de carro que resulta na morte de uma mulher inocente. Agora, a família está sendo perseguida pela família da vítima, que busca vingança. Enquanto tentam sobreviver aos elementos e se esconder, eles também precisam encontrar uma maneira de contatar a polícia para obter ajuda. Essa história emocionante é um thriller que explora temas como vida, morte e conexões com a natureza, enquanto a família luta para escapar das consequências de suas ações.

O roteiro criado por Mckinty trabalha as relações familiares conflituosas, aqui, Heather [padrasta e atual esposa de Tom] e Tom Baxter, com seus filhos, Olivia, 14, e, Owen, 12, partem para Austrália em uma viagem de negócios, porém, acabam se envolvendo em um acidente que acaba com a morte de uma mulher inocente.  A viagem que seria perfeita para estreitar os laços de Heather com os filhos de seu atual marido, acaba marcada por uma série de eventos trágicos e repletos de tensões ao serem perseguidos pela família da mulher morta, e ao que tudo indica, o mistério está apenas começando. A obra foi recebida com louvor pela crítica, inclusive, pelo autor premiado Stephen King, que declarou esta obra como implacável.

Os Baxters são uma família comum, lidando com os desafios típicos enfrentados por muitas outras famílias. Tom, um médico bem-sucedido, teve sua vida virada de cabeça para baixo quando perdeu sua esposa em um trágico acidente há pouco mais de um ano. Para surpresa de todos, Tom se casou novamente rapidamente, desta vez com Heather, uma massoterapeuta muito mais jovem. Embora Heather pareça amar Tom, ela também carrega preocupações sobre sua origem humilde, que estava prestes a perder seu emprego antes de Tom entrar em sua vida. Os dois filhos de Tom, Olivia e Owen, estão enfrentando dificuldades para se ajustar à nova figura materna que seu pai trouxe repentinamente para suas vidas. Essa dinâmica familiar complexa reflete as tensões e os desafios enfrentados por muitas famílias modernas.

O roteiro acertou em cheio no gatilho na abertura repleta de previsibilidade, porém, cunhou um caminho nada incerto ou previsível na sucessão de acontecimentos. Os baxters decidem tirar um tempo para família em uma ilha onde habitam reclusos que não gostam de forasteiros, só ai, teme-se o pior e isso torna-se um pouco previsível, porém, o autor trabalhou de forma magistral no desenvolvimento de uma narrativa completamente envolvente, cativante e repleta de mistérios. Então, tomamos como ponto de partida a questão: você contaria sobre a morte de alguém que você cometeu sem querer? Talvez você responda sim, mas ao analisar os fatos e os arredores, a resposta provavelmente seria não.

A obra é, se não o melhor, um dos melhores roteiros já escritos na atualidade. Mckinty brinca com o emocional e com a previsibilidade dos fatos para angariar do leitor uma reação inesperada. Um livro inesquecível em uma leitura completamente complexa e repleta de reviravoltas.

O AUTOR

Adrian McKinty nasceu e cresceu em Belfast, na Irlanda do Norte. Estudou filosofia na Universidade de Oxford antes de se mudar para Nova York em meados dos anos 1990. Seu livro de estreia, Dead I Well May Be, publicado em 2003, foi finalista do Gold Dagger Award e do Edgar Award. Em 2011, depois de se mudar para a Austrália com a esposa e as filhas, McKinty começou a publicar a série Sean Duffy, aclamada pela crítica. Em 2019, depois de virar motorista de Uber e quase desistir da carreira de escritor, publicou o premiado best-seller internacional A corrente, que figurou em quase trinta listas de melhores livros do ano, incluindo a da Time, e foi publicado no Brasil pela Editora Record. Os livros de McKinty foram traduzidos para mais de trinta idiomas e ele ganhou o Edgar Award, o International Thriller Writers Award, o Ned Kelly Award (três vezes), o Anthony Award, o Barry Award, o Macavity Award e o Theakston’s Old Peculier Crime Novel of the Year Award.

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