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[RESENHA #676] O homem que calculava, de Malba Tahan

“Um grande contador de histórias.” —Paulo Coelho, autor de O Alquimista

RESENHA

O homem que calculava [recurso eletrônico] / Malba Tahan. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Record, 2021.

Malba Tahan é o heterônimo do autor Júlio César de Mello e Souza, a obra o homem que calculava é um emaranhado de contos arabistas para jovens no estilo do conto Mil e uma Noites. A obra trabalha a noção de resolução de problemas por meio da matemática, regras de três e contagem. O autor desenvolve de forma envolvente e prolífica o cenário árabe, bem como seus desertos escaldantes em intrigas de personagens secundários tomados pela sabedoria dos cálculos de seu protagonista Beramiz Samir.

Chamo-me Beremiz Samir e nasci na pequenina aldeia de Khói, na Pérsia, à sombra da pirâmide imensa formada pelo Ararat. Muito moço ainda, empreguei-me, como pastor, a serviço de um rico senhor de Khamat.

No capítulo 1, o autor nos envolve em uma narrativa intrigante ao descrever um encontro inesperado com um viajante. Já no capítulo 2, somos introduzidos à figura de Beremiz Samir, conhecendo sua origem e história desde o seu nascimento. A partir do terceiro conto, somos imersos em uma série de histórias que retratam os encontros entre o protagonista e personagens secundários. Beremiz atua como um intermediador poderoso na resolução de problemas que exigem habilidades matemáticas.

Por mais que a noção de partilha por meio dos cálculos apresentados seja, de certa foma, interessante, acredito que a natureza humana não o apoiaria de forma tão calma e sábia, uma vez que, discussões por dinheiro seguem sendo acaloradas e repletas de contendas, isso pode ser observado no terceiro conto da obra, quando se faz necessário a partilha de 36 camelos para quatro viajantes, o que os deixam felizes em pensar que a partilha foi elaborada de forma sábia:

[...] couberam 18 camelos ao primeiro, 12 ao segundo e 4 ao terceiro, o que dá um resultado (18 + 12 + 4) de 34 camelos. Dos 36 camelos, sobram, portanto, dois. Um pertence, como sabem, ao bagdali, meu amigo e companheiro, outro toca por direito a mim, por ter resolvido, a contento de todos, o complicado problema da herança! [...]

A divisão dos capítulos conta com um resumo da história, tornando o enredo um pouco massante e previsível, porém, as divisões elaboradas somam um quadro interessando de acontecimentos, uma vez que, acredita-se, que, o problema enraizado no seio da questão é demasiadamente complexo. O autor consegue com cautela elaborar um enredo que se casa perfeitamente com a sinopse, desenvolvendo uma série de questões morais e práticas, não apenas de cálculos para resolução, tornando a leitura ainda mais interessante, uma vez que, o autor não se ateve unicamente em demonstrar seu conhecimento em matemática, mas também em igualdade de direitos e resolução de contendas familiares.

Em síntese, sim, a obra é interessante em seus propósitos, mas acredito que, o enredo cativará profundamente os leitores fãs de matemática, mas a brevidade dos contos e a forma como os mesmos se desenvolvem de forma genérica e rápida podem afetar a experiência de outros leitores mais atentos. Um livro interessantíssimo para se refletir sobre questões éticas e morais.

O AUTOR
Júlio César de Mello e Souza nasceu em 1895, no Rio de Janeiro, filho de um funcionário público e de uma professora, pais de mais oito filhos. Quando menino estudou no Colégio Militar do Rio de Janeiro e no Colégio Pedro II. Apesar de ter sido mau aluno na disciplina, formou-se professor de matemática e engenheiro, vindo a lecionar em diversos estabelecimentos de ensino, como o próprio Colégio Pedro II, a Escola Normal e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faleceu aos 79 anos no dia 18 de junho de 1974, em Recife, onde, a convite da Secretaria de Educação e Cultura, ministrava cursos para professores. Em 2013, o governo brasileiro instituiu o Dia Nacional da Matemática na data de seu nascimento, como homenagem à memória do escritor e professor e de sua contribuição à educação matemática no país. --Este texto se refere à edição hardcover.

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