Resenha: Clara dos anjos, de Lima Barreto


 'Clara dos Anjos' narra as desventuras de uma adolescente pobre e mulata do subúrbio carioca prestes a iniciar a sua vida sexual com um malandro branco de classe média. Esta reedição do romance inacabado do autor é acrescido de textos críticos de Sergio Buarque de Holanda, Lúcia Miguel Pereira e Beatriz Resende, bem como o aparato de notas explicativas. Através de conexões biográficas com personagens da história de Clara e Cassi Jones, um dos protótipos literários da malandragem suburbana, estes buscam revelar as opiniões de Lima Barreto acerca de si mesmo e da sociedade brasileira.

ISBN-13: 9788563560391
ISBN-10: 8563560395
Ano: 2012 / Páginas: 304
Idioma: português
Editora: Penguin - Companhia

RESENHA

É um póstumo publicado em 1948, 27 anos após a morte de Lima Barreto que nasceu em 1881 no Rio de Janeiro, é um mulato que sofreu na pele o preconceito racial e não entrou na ABL (Academia Brasileira de Letras), liderada por Machado de Assis, por narrar em suas obras o preconceito que sofrem, (mas existem nomes lá como ex-presidente José Sarney, o cirurgião plástico Ivo Pitanguy e o escritor Paulo Coelho – nomes contestados por escritores e pelo público em geral) a base do livro é uma crítica social, mostra como a sociedade de sua época, via os negros, mulatos e pobres: como inferiores e em relação á mulheres, as negras para fazer sexo, as mulatas para fornicar e brancas para casar. Enxergar os defeitos da sociedade acredito que é o primeiro passo para tentar mudá-la.
Seu livro e relata o subúrbio onde “há casas, casinhas, casebres, barracões, choças, por toda a parte onde se poça fincar quatro estacas de pau uni-las por paredes duvidosas. Todo material para essas construções serve: são latas de fósforos distendidas, telhas velhas, folhas de zinco, e para as nervuras das paredes de taipa, o bambu que não é barato”.

Clara dos Anjos é uma mulata jovem, pobre, humilde, ingênua, que vive no subúrbio carioca com seus pais, Joaquim e Engrácia, seu pai era carteiro, tocava flauta, gostava de violão, compunha valsas, tangos e acompanhamentos de modinhas. Não gostava de sair de casa e sua diversão era passar as tardes de domingo jogando solo com seus dois amigos inseparáveis: o compadre Marramaque, seu padrinho que é semiparalítico e o português Eduardo Lafões, trabalhava muito e passava pouco tempo em casa junto da filha e da esposa sua mãe que sempre deixava as decisões e atitudes para serem tomadas pelo marido e era muito protetora, não precavendo a filha dos perigos que a vida nos reserva, e a vizinha Dona Margarida é quem ensina Clara a costurar e bordar e quando seus pais não podiam sair é quem a acompanhava.

Na comemoração de seu aniversário é convidado Cassi Jones um violeiro de classe média que apos este dia passa a cercar Clara como pode, com passar de meses começa trocando cartas por intermédio do Senhor Menezes dentista não formado de Clara.

Encontraram-se e ela ficando grávida vai ate a casa da família de Cassi e é bombardeada pela mãe do rapaz, que diz se estar envergonhada de uma negra exigir responsabilidade de seu filho e que o seu avô um inglês Lord Jones, que fora cônsul da Inglaterra em Santa Catarina, o que pensaria, uma neguinha exigindo e dizendo que têm direitos. Talvez as cores tenham mudado, porém é algo que muito acontece com as jovens e com pouca ou nenhuma estrutura familiar para perseguir esses rapazes que engravidam moças e simplesmente fogem ou não dão á mínima assistência.

Teve confirmação de que era verdade o que Cassi já fizera com tantas outras jovens, simples e humildes pessoas do subúrbio carioca, sabendo que fora expulso de casa, e achava que ele a amava. Marramaque que tentou alertar a família, foi morto covardemente por Cassi e seu amigo Arnaldo, logo desconfia do rapaz, mas o perdoa, pois ele diz que matou por amor a ela. Clara na ingenuidade de sua idade e na falta de contato com o mundo, concluía que Cassi era um rapaz digno e podia bem amá-la sinceramente. Malandro, mau caráter e perigoso, Cassi já havia se envolvido em problemas com a justiça antes, mas sempre fora acobertado pela sua família, especialmente sua mãe, que não queria que fosse preso. Contando a sua mãe o que ocorreu na visita a abraça e diz: “mamãe, não somos nada nessa vida.”

O livro leva-nos a momentos de grandes pensamentos e atender o período em que ocorre a abolição da escravatura e a proclamação da república onde, não são julgados mais como diferentes pela lei, mas, o preconceito se mantém e pensam “como este crioulo vai estudar na mesma escola de meu filho, sentar na mesma cadeira que ele, se alimentar como ele?”, julgando se diferente de todos e sempre sendo melhores e justificavam isto por serem brancos, o que é uma conduta má destes que sempre estão no poder, e Lima Barreto consegue traduzir em palavras o retrato de uma época em que o status social e a influência do dinheiro valem muito, coisa que pouco se mudou até hoje.

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