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Resenha: Casablanca (1942)

Image: Divulgação

Casablanca se passa em dezembro de 1941, na cidade marroquina de Casablanca, um ponto de passagem para refugiados europeus que fugiam da guerra rumo aos Estados Unidos. A trama gira em torno de Rick Blaine (Humphrey Bogart), um americano cínico que administra o Rick’s Café Américain, um nightclub frequentado por exilados, espiões e oficiais de Vichy. A chegada de Ilsa Lund (Ingrid Bergman), seu antigo amor, acompanhada do marido Victor Laszlo (Paul Henreid), um líder da resistência tcheca, força Rick a confrontar seu passado e tomar decisões que afetarão não apenas sua vida, mas a luta contra o nazismo.

O enredo é impulsionado pelo triângulo amoroso entre Rick, Ilsa e Laszlo, mas transcende o romance ao explorar temas de sacrifício, idealismo e resistência. A posse de cartas de trânsito, documentos que garantem passagem segura para Lisboa, coloca Rick no centro de uma intriga política, enquanto ele lida com o corrupto Capitão Renault (Claude Rains) e o oficial nazista Major Strasser (Conrad Veidt). A narrativa culmina em uma das cenas mais emblemáticas do cinema, no aeroporto, onde Rick faz uma escolha altruísta que redefine seu caráter.

A força de Casablanca está em sua capacidade de equilibrar romance, suspense e comentário político. O café de Rick serve como microcosmo da guerra, reunindo personagens de diferentes nações e ideologias, enquanto diálogos afiados, como “Louis, acho que este é o começo de uma bela amizade”, cristalizam a humanidade dos personagens em meio ao caos.

Michael Curtiz, um mestre do cinema de estúdio, dirige Casablanca com precisão e elegância, transformando um roteiro inicialmente caótico em uma obra coesa. Sua direção utiliza o espaço do Rick’s Café para criar uma atmosfera de tensão e cosmopolitanismo, com enquadramentos que capturam as emoções dos personagens em close-ups e os conflitos políticos em planos abertos. A cinematografia de Arthur Edeson, em preto e branco, usa sombras e iluminação expressionista para reforçar o clima noir, especialmente nas cenas noturnas e no aeroporto.

A trilha sonora, composta por Max Steiner, é inesquecível, com a canção “As Time Goes By”, interpretada por Dooley Wilson como Sam, tornando-se um hino romântico. A música não apenas sublinha o romance de Rick e Ilsa, mas também evoca a nostalgia de um mundo pré-guerra. A edição, liderada por Owen Marks, mantém um ritmo fluido, com transições que alternam entre momentos íntimos e sequências de suspense, como o confronto no café durante a execução de “La Marseillaise”.

A produção de Casablanca foi marcada por desafios. O roteiro, baseado na peça Everybody Comes to Rick’s, foi escrito durante as filmagens pelos irmãos Epstein e Howard Koch, com contribuições não creditadas de outros. A incerteza sobre o final — se Ilsa ficaria com Rick ou Laszlo — adicionou tensão, mas resultou em uma conclusão poderosa. Filmado durante a guerra, o filme enfrentou restrições orçamentárias e a pressão do Código Hays, que limitava representações explícitas de política e moralidade.

Humphrey Bogart entrega uma performance definidora como Rick Blaine, combinando cinismo, vulnerabilidade e heroísmo discreto. Sua química com Ingrid Bergman, cuja Ilsa é uma mistura de força e fragilidade, cria um dos casais mais memoráveis do cinema. Bergman transmite o conflito interno de Ilsa com olhares e gestos sutis, tornando sua decisão final profundamente comovente.

Image: Divulgação

Paul Henreid, como Victor Laszlo, traz dignidade ao líder da resistência, evitando que o personagem se torne apenas um obstáculo romântico. Claude Rains rouba cenas como o Capitão Renault, cuja corrupção é temperada por charme e uma moralidade ambígua. O elenco de apoio, incluindo Conrad Veidt como o frio Major Strasser e Dooley Wilson como o leal Sam, adiciona profundidade ao mosaico cultural do filme. Muitos atores secundários eram refugiados europeus, trazendo autenticidade às suas performances.

Casablanca reflete o clima político de 1941-1942, quando a Europa estava sob ocupação nazista e os Estados Unidos, recém-entrados na guerra após Pearl Harbor, mobilizavam apoio para os Aliados. A cidade de Casablanca, sob o regime colaboracionista de Vichy, era realmente um ponto de trânsito para refugiados, e o filme captura a tensão entre resistência, colaboração e sobrevivência. A cena em que “La Marseillaise” sobrepõe o hino alemão no café é inspirada em relatos reais de atos de defiance em territórios ocupados.

Embora o filme simplifique a realidade histórica — as cartas de trânsito, por exemplo, são uma invenção dramática —, ele reflete com precisão o antissemitismo e a perseguição enfrentados por refugiados, muitos dos quais judeus, que buscavam escapar da Europa. A presença de nazistas em Casablanca, embora exagerada para efeito narrativo, ecoa a influência alemã sobre Vichy. O filme também sutilmente critica o isolacionismo americano, com Rick representando a jornada dos EUA de neutralidade para engajamento.

Lançado em 26 de novembro de 1942, Casablanca foi produzido em um momento em que os Aliados começavam a ganhar terreno, como na Batalha de El Alamein. Sua mensagem de sacrifício e resistência ressoou com o público americano, que via na guerra uma luta moral contra o fascismo.

Impacto 

O impacto narrativo de Casablanca reside em sua habilidade de entrelaçar romance e política sem perder a humanidade. A história de amor entre Rick e Ilsa é o coração do filme, mas é elevada pelo contexto da guerra, que força os personagens a priorizar o bem maior. O tema do sacrifício pessoal — exemplificado na decisão de Rick no aeroporto — ressoa como uma metáfora para os esforços coletivos da guerra.

Os temas de resistência e moralidade são reforçados por personagens secundários, como Laszlo, cuja coragem inspira, e Renault, cuja redenção sugere que mesmo os cínicos podem mudar. O filme também aborda a diversidade cultural, com o Rick’s Café como um espaço onde franceses, alemães, russos e outros coexistem, refletindo a coalizão aliada.

A força dos diálogos, com linhas como “Nós sempre teremos Paris” e “Dos todos os bares, em todas as cidades, ela entra no meu”, transforma Casablanca em um texto cultural. A cena de “La Marseillaise” é um momento de catarse, simbolizando a união contra a opressão, e continua a emocionar audiências.

Legado

Casablanca foi um sucesso imediato, arrecadando 3,7 milhões de dólares na bilheteria e ganhando três Oscars em 1944: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado, além de indicações para Bogart, Rains e Steiner. A crítica elogiou sua narrativa envolvente e atuações, com o Variety chamando-o de “um drama soberbo”. Inicialmente visto como um filme de guerra, sua reputação cresceu nas décadas seguintes, tornando-se um clássico cultuado.

O legado de Casablanca é vasto. O filme influenciou o gênero noir, dramas românticos e narrativas sobre dilemas morais, inspirando obras como A Vida é Bela (1997) e Allied (2016). Suas falas e imagens, como o nevoeiro do aeroporto, são referências culturais onipresentes, reaparecendo em paródias, séries e memes. Em 2022, durante o 80º aniversário do filme, postagens no X celebraram sua relevância, com usuários destacando a cena de “La Marseillaise” como um símbolo de resistência em tempos de polarização.

No Brasil, Casablanca é usado em aulas de história e cinema para discutir a Segunda Guerra Mundial e o papel da propaganda cultural. A teoria da história de Jörn Rüsen, amplamente estudada no país, enfatiza a importância de narrativas como Casablanca, que conectam o passado às lutas contemporâneas por liberdade e justiça.

Crítica

Casablanca é historicamente preciso em capturar o clima de incerteza e resistência de 1941, mas toma liberdades criativas para fins dramáticos. A representação de Vichy e dos nazistas é estilizada, com Strasser como um vilão arquetípico, mas reflete a propaganda aliada que demonizava o Eixo. A diversidade do café de Rick espelha a realidade de Casablanca como um ponto de encontro de exilados, mas o filme omite detalhes mais sombrios, como o antissemitismo sistêmico enfrentado por refugiados judeus.

Críticos modernos elogiam Casablanca por sua universalidade, mas notam que sua visão romantizada da resistência pode simplificar as complexidades da guerra. Ainda assim, sua mensagem de esperança e sacrifício permanece poderosa, especialmente em um mundo enfrentando autoritarismo e conflitos.

Casablanca é uma obra-prima que combina romance, suspense e comentário político em uma narrativa que captura o coração e a mente. A direção de Curtiz, as atuações de Bogart e Bergman, e um roteiro repleto de diálogos memoráveis fazem do filme um marco do cinema. Como um reflexo da Segunda Guerra Mundial, ele celebra a resistência e o altruísmo, oferecendo lições sobre o poder das escolhas individuais em tempos de crise.

Mais de 80 anos após sua estreia, Casablanca continua a encantar e inspirar, lembrando-nos que, mesmo em meio ao caos, o amor e a humanidade podem prevalecer. Que sua mensagem de união e sacrifício ressoe como um chamado à empatia e à luta por um mundo mais justo.


Fontes:

  • Harmetz, Aljean. Round Up the Usual Suspects: The Making of Casablanca, 1992.

  • Enciclopédia Britânica, “Casablanca”, 2025.

  • Brasil Escola, “Segunda Guerra Mundial”, 2025.

  • Postagens no X sobre o 80º aniversário de Casablanca, 2022.

  • Rüsen, Jörn. História e Narrativa, 2006.

Nota: Esta resenha foi escrita com o objetivo de oferecer uma análise detalhada e fiel de Casablanca, respeitando seu contexto histórico e impacto cultural.

Resenha: Midway (2019)

Image: Divulgação

Midway retrata a Batalha de Midway, travada entre 4 e 7 de junho de 1942, quando as forças navais americanas, lideradas por almirantes como Chester Nimitz (Woody Harrelson), derrotaram a Marinha Imperial Japonesa, marcando um ponto de virada no Pacífico. A narrativa cobre o período de 1941 a 1942, começando com o ataque a Pearl Harbor e culminando na batalha, focando no piloto de caça Dick Best (Ed Skrein), no oficial de inteligência Edwin Layton (Patrick Wilson), e em outros militares, como o piloto Bruno Gaido (Nick Jonas) e o almirante William “Bull” Halsey (Dennis Quaid).

A trama também inclui a perspectiva japonesa, destacando o Almirante Isoroku Yamamoto (Etsushi Toyokawa) e o Contra-Almirante Tamon Yamaguchi (Tadanobu Asano), que planejam a operação em Midway para atrair a frota americana. A narrativa é estruturada em torno de eventos históricos, com foco nas estratégias de inteligência, combates aéreos e decisões de comando, enquanto explora a bravura e o sacrifício dos pilotos. O filme termina com a vitória americana, destacando seu impacto na guerra e homenageando os envolvidos.

O enredo, escrito por Wes Tooke, prioriza a ação e a fidelidade histórica sobre o desenvolvimento profundo de personagens, funcionando como uma crônica de guerra. Inspirado em relatos reais e eventos documentados, Midway busca equilibrar a perspectiva americana com um respeito pelos adversários japoneses, evitando caricaturas, mas mantendo um tom patriótico.

Roland Emmerich, conhecido por blockbusters como Independence Day (1996), dirige Midway com uma abordagem voltada para o espetáculo, enfatizando sequências de batalha visualmente impressionantes. Filmado em locações no Havaí e em estúdios com extenso uso de CGI, o filme recria porta-aviões, caças e explosões com realismo, embora o excesso de efeitos digitais por vezes comprometa a autenticidade. A cinematografia de Robby Baumgartner é dinâmica, com planos aéreos que capturam a intensidade dos combates e enquadramentos que destacam a vastidão do Pacífico.

A trilha sonora, composta por Harald Kloser e Thomas Wanker, é grandiosa, com temas orquestrais que reforçam o heroísmo e a tensão, embora possa soar genérica em momentos. O design de som, com roncos de motores e explosões, é imersivo, especialmente nas sequências de bombardeio. A edição de Adam Wolfe mantém um ritmo acelerado, alternando entre combates, reuniões estratégicas e breves momentos pessoais, mas a duração de 138 minutos pode parecer longa devido à falta de profundidade emocional.

A produção, com um orçamento de 100 milhões de dólares, foi ambiciosa, enfrentando desafios para recriar batalhas navais e aéreas com precisão. Emmerich trabalhou com consultores históricos e veteranos para garantir detalhes, como os modelos de aviões (SBD Dauntless, A6M Zero) e táticas navais. A decisão de incluir perspectivas japonesas, inspirada por filmes como Cartas de Iwo Jima (2006), adiciona nuance, mas o foco americano domina a narrativa.

Ed Skrein entrega uma performance sólida como Dick Best, retratando o piloto com bravura e vulnerabilidade, embora o roteiro limite sua profundidade. Patrick Wilson, como Edwin Layton, é o destaque, trazendo inteligência e peso emocional ao oficial que decifra os códigos japoneses. Woody Harrelson, como Chester Nimitz, oferece uma atuação carismática, mas breve, enquanto Dennis Quaid e Aaron Eckhart, em papéis menores, adicionam gravidade.

Do lado japonês, Etsushi Toyokawa, como Yamamoto, é contido, capturando a visão estratégica e o conflito interno do almirante, enquanto Tadanobu Asano, como Yamaguchi, traz intensidade. Nick Jonas, como Bruno Gaido, surpreende em um papel secundário, com momentos de heroísmo que ressoam. O elenco, embora estelar, é prejudicado por um roteiro que prioriza a ação sobre o desenvolvimento de personagens, resultando em atuações funcionais, mas não memoráveis.

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Contexto

Midway é historicamente preciso em sua representação da Batalha de Midway, capturando eventos-chave, como o papel da inteligência americana em decifrar os códigos japoneses e os ataques de bombardeiros de mergulho que afundaram quatro porta-aviões japoneses (Akagi, Kaga, Soryu, Hiryu). A liderança de Nimitz, a bravura de pilotos como Best e a estratégia de Yamamoto são baseadas em registros históricos, enquanto a inclusão de Pearl Harbor contextualiza a revanche americana.

Algumas liberdades narrativas são tomadas. A figura de Best é centralizada, embora sua história seja composta de vários pilotos, e a batalha é condensada para efeito dramático. A perspectiva japonesa, embora respeitosa, é menos desenvolvida, e a ausência de outras forças aliadas, como a Austrália, reflete o foco americano. Detalhes como uniformes, aviões e navios são precisos, mas o uso de CGI pode parecer artificial em comparação com filmes como O Resgate do Soldado Ryan (1998).

Lançado em 8 de novembro de 2019, Midway reflete o contexto do final dos anos 2010, quando o interesse por narrativas históricas crescia, impulsionado pelo 75º aniversário da Segunda Guerra Mundial. O filme também ressoa com um público americano em busca de histórias patrióticas, enquanto tenta oferecer uma visão equilibrada, reconhecendo o sacrifício japonês.

O impacto narrativo de Midway reside em suas sequências de ação e na recriação de um evento histórico pivotal. As batalhas aéreas, com bombardeiros mergulhando contra porta-aviões, são visualmente emocionantes, capturando a adrenalina e o risco dos pilotos. A narrativa, embora centrada em Best e Layton, celebra o esforço coletivo, com momentos como o sacrifício de Gaido destacando a bravura individual. A inclusão da perspectiva japonesa adiciona nuance, mostrando Yamamoto como um estrategista dividido, mas o foco permanece nos heróis americanos.

Os temas centrais — coragem, sacrifício, estratégia e o impacto da inteligência — são explorados de forma acessível, mas superficial. O filme glorifica o heroísmo americano, com figuras como Best representando a determinação, enquanto Layton simboliza a importância do trabalho nos bastidores. A ausência de desenvolvimento emocional limita a conexão com os personagens, mas a escala das batalhas compensa, oferecendo uma experiência visceral.

Cenas como o ataque a Pearl Harbor, o bombardeio de Midway e a decisão de Nimitz de confiar na inteligência são emocionalmente impactantes, reforçadas por diálogos que capturam a urgência, como “Esta é nossa chance de mudar a guerra”. A escolha de terminar com imagens reais de veteranos adiciona autenticidade, conectando a ficção à história.

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Recepção 

Midway teve recepção mista, arrecadando 127 milhões de dólares globalmente, mas não alcançando o sucesso de outros epics de guerra. A crítica elogiou suas sequências de ação, com o Hollywood Reporter chamando-o de “um espetáculo visual”, mas criticou a falta de profundidade emocional e o excesso de CGI. No Brasil, o filme foi bem recebido por fãs de ação, mas gerou menos debate acadêmico que obras como A Lista de Schindler (1993).

O legado de Midway é modesto, mas relevante. Ele trouxe atenção à Batalha de Midway, inspirando interesse em documentários e livros sobre o Pacífico. Sua tentativa de equilibrar perspectivas americana e japonesa influenciou narrativas mais inclusivas, enquanto suas sequências aéreas estabeleceram um padrão para blockbusters históricos. Em 2024, postagens no X durante o Dia da Vitória no Pacífico (2 de setembro) destacaram o filme como um tributo aos veteranos, com comparações às tecnologias modernas de guerra.

No Brasil, Midway é usado em aulas de história para discutir a campanha do Pacífico e em estudos de cinema para analisar a estética de Emmerich. A teoria da história de Jörn Rüsen, discutida no país, enfatiza a relevância de narrativas como esta, que conectam o passado às reflexões sobre estratégia e sacrifício.

Crítica

Midway é historicamente preciso em sua recriação da batalha, com detalhes baseados em registros e relatos de veteranos. A importância da inteligência, a liderança de Nimitz e os combates aéreos são fiéis à realidade. No entanto, a centralização de figuras como Best e a simplificação de eventos para uma narrativa de duas horas são limitações. A perspectiva japonesa, embora incluída, é secundária, e a ausência de outras forças aliadas reduz o contexto.

Críticos modernos elogiam o filme por sua acessibilidade e espetáculo, mas observam que sua abordagem convencional e falta de profundidade emocional o tornam menos impactante que obras como Cartas de Iwo Jima (2006). A glorificação americana pode alienar públicos internacionais, mas sua tentativa de respeitar os japoneses é um passo adiante. O filme permanece uma referência para fãs de história militar, especialmente em um mundo onde a memória da Segunda Guerra Mundial ressoa em debates sobre liderança e tecnologia.

Midway é um épico de guerra que captura a grandiosidade da Batalha de Midway com sequências de ação impressionantes e um esforço para homenagear ambos os lados do conflito. A direção de Emmerich, as atuações de Skrein e Wilson, e uma narrativa que celebra a coragem fazem do filme uma adição valiosa ao gênero bélico. Como um reflexo da Segunda Guerra Mundial, ele honra os que lutaram, oferecendo lições sobre estratégia, sacrifício e determinação.

Cinco anos após sua estreia, Midway permanece um tributo acessível à história militar, lembrando-nos do impacto de decisões cruciais na guerra. Que seu legado inspire a reflexão sobre a coragem e a importância de preservar a memória dos que moldaram o curso da história.


Fontes:

  • Hornfischer, James D. The Last Stand of the Tin Can Sailors, 2004.

  • Enciclopédia Britânica, “Midway”, 2025.

  • Brasil Escola, “Segunda Guerra Mundial”, 2025.

  • Postagens no X sobre o Dia da Vitória no Pacífico, 2024.

  • Rüsen, Jörn. História e Narrativa, 2006.

Nota: Esta resenha foi escrita com o objetivo de oferecer uma análise detalhada e fiel de Midway, respeitando seu contexto histórico e impacto cultural.

Resenha: Jojo Rabbit (2019)

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Jojo Rabbit se passa na Alemanha nazista durante os últimos meses da Segunda Guerra Mundial, em 1945. A história segue Johannes “Jojo” Betzler (Roman Griffin Davis), um menino de 10 anos cujo amigo imaginário é Adolf Hitler (Taika Waititi), uma versão cômica e infantil do ditador que reflete sua visão distorcida do nazismo. Fervorosamente patriótico e membro da Juventude Hitlerista, Jojo vive com sua mãe, Rosie (Scarlett Johansson), uma mulher que secretamente resiste ao regime. Sua vida muda quando descobre que Rosie esconde Elsa (Thomasin McKenzie), uma jovem judia, no sótão de sua casa.

A narrativa acompanha a jornada de Jojo, de um fanático ingênuo a alguém que questiona a propaganda nazista através de sua amizade com Elsa e da influência de Rosie. A trama mistura humor absurdo, como as interações com o Hitler imaginário, com momentos de tragédia, como a repressão em sua cidade fictícia, Falkenheim. O filme culmina em uma reviravolta emocional que confronta Jojo com a realidade da guerra, levando a um final que celebra a liberdade e a empatia. Baseado no romance Caging Skies de Christine Leunens, Jojo Rabbit usa a sátira para desmascarar o fanatismo, enquanto explora a perda da inocência e o poder da conexão humana.

O enredo é estruturado como uma fábula, com um tom que oscila entre o lúdico e o devastador. A escolha de contar a história pelos olhos de uma criança permite ao filme abordar o nazismo de forma acessível, mas nunca trivial, destacando como o ódio é ensinado e pode ser desaprendido.

Taika Waititi dirige Jojo Rabbit com uma visão que combina sua marca de humor excêntrico com uma sensibilidade emocional inesperada. Filmado em Praga, o filme recria uma Alemanha estilizada, com cores vibrantes e cenários quase teatrais que contrastam com a escuridão do tema. A cinematografia de Mihai Mălaimare Jr. é visualmente rica, usando tons pastéis para evocar a perspectiva infantil de Jojo e cores mais sombrias à medida que a realidade da guerra se impõe. Planos simétricos e movimentos de câmera dinâmicos reforçam o tom de fábula, enquanto close-ups capturam as emoções dos personagens.

A trilha sonora, composta por Michael Giacchino, é delicada, com temas orquestrais que sublinham a jornada emocional de Jojo. A inclusão de versões em alemão de músicas pop, como “Heroes” de David Bowie, cria um anacronismo intencional que conecta o passado ao presente. A edição de Tom Eagles é ágil, mantendo um ritmo que equilibra sequências cômicas, como os treinos da Juventude Hitlerista, com momentos de impacto, como as consequências da guerra na cidade.

A produção, com um orçamento de 14 milhões de dólares, foi modesta, mas criativa, usando cenários minimalistas para focar nos personagens. Waititi enfrentou desafios éticos ao retratar o nazismo com humor, mas trabalhou com consultores históricos e organizações judaicas, como a Anti-Defamation League, para garantir sensibilidade. A escolha de escalar atores jovens e de filmar em inglês, com sotaques que sugerem o alemão, facilita o alcance global, embora tenha gerado críticas por falta de autenticidade linguística.

Roman Griffin Davis, em sua estreia, entrega uma performance notável como Jojo, capturando a ingenuidade, o fervor e a vulnerabilidade de um menino moldado pela propaganda. Sua química com Thomasin McKenzie, como Elsa, é o coração do filme, com McKenzie trazendo força e melancolia à jo vem judia que desafia os preconceitos de Jojo. Scarlett Johansson, indicada ao Oscar, é luminosa como Rosie, uma mãe que usa humor e amor para proteger seu filho, com uma cena de dança que é ao mesmo tempo alegre e trágica.

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Taika Waititi, como o Hitler imaginário, é hilariante e perturbador, retratando o ditador como uma figura infantil que reflete a visão distorcida de Jojo, sem nunca glorificá-lo. Sam Rockwell, como o Capitão Klenzendorf, oferece uma atuação cômica, mas surpreendentemente comovente, revelando camadas de humanidade em um oficial nazista desiludido. Rebel Wilson e Stephen Merchant, em papéis secundários, adicionam humor, enquanto Alfie Allen, como o ajudante de Klenzendorf, reforça a sátira. O elenco jovem, especialmente Archie Yates como Yorki, amigo de Jojo, traz leveza e autenticidade.

Jojo Rabbit é intencionalmente impreciso, usando a Segunda Guerra Mundial como pano de fundo para uma sátira, não um relato factual. A representação da Juventude Hitlerista e da propaganda nazista é fiel em espírito, refletindo como crianças foram doutrinadas pelo regime, mas a cidade fictícia de Falkenheim e o tom fabulístico criam uma realidade estilizada. A figura de Rosie, uma resistente secreta, ecoa o papel de civis alemães que ajudaram judeus, enquanto a presença de Elsa reflete a experiência de milhares que se esconderam, como Anne Frank.

A sátira do nazismo, com oficiais caricatos e um Hitler ridículo, é inspirada em obras como O Grande Ditador (1940), mas a ausência de uma representação explícita do Holocausto, exceto por alusões, é uma escolha narrativa que foca na perspectiva infantil. A repressão na cidade, com execuções públicas, reflete a brutalidade dos últimos meses do Reich, mas eventos como a batalha final são dramatizados para efeito emocional.

Lançado em 18 de outubro de 2019, Jojo Rabbit reflete o contexto do final dos anos 2010, marcado por um ressurgimento de movimentos extremistas e debates sobre intolerância. O filme responde a essa polarização com uma mensagem de empatia, usando humor para desmascarar o ódio. Sua estreia coincidiu com um interesse renovado em narrativas satíricas, como The Death of Stalin (2017), que também abordam regimes autoritários com irreverência.

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Impacto 

O impacto narrativo de Jojo Rabbit reside em sua habilidade de equilibrar humor e tragédia, usando a perspectiva de uma criança para tornar o nazismo acessível, mas nunca trivial. A jornada de Jojo, de fanático a empático, é uma metáfora para a desconstrução do ódio, enquanto sua relação com Elsa e Rosie destaca o poder da conexão humana. O Hitler imaginário, inicialmente cômico, torna-se uma presença ameaçadora à medida que Jojo questiona sua ideologia, simbolizando a rejeição da propaganda.

Os temas centrais — empatia, inocência, resistência e os perigos do fanatismo — são explorados com profundidade. Rosie representa a coragem de desafiar a opressão, enquanto Elsa encarna a resiliência judaica, desafiando estereótipos de vitimização. O filme critica a manipulação de crianças, como na Juventude Hitlerista, e a cumplicidade de adultos, mas oferece esperança através da redenção de Jojo. A sátira, como nas cenas de treinamento absurdo, desmascara o ridículo do nazismo, enquanto momentos de tragédia, como a perda de Rosie, ancoram a narrativa na realidade.

Cenas como o diálogo de Jojo e Elsa sobre liberdade, a dança de Rosie e o confronto final com o Hitler imaginário são emocionalmente impactantes, reforçados por diálogos que misturam humor e poesia, como “Você não é nazista, Jojo. Você é um menino de 10 anos que gosta de se fantasiar”. A escolha de terminar com “Heroes” de Bowie celebra a vitória da humanidade sobre o ódio.

Recepção e Legado

Jojo Rabbit foi um sucesso, arrecadando 90 milhões de dólares globalmente e ganhando o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 2020, além de cinco outras indicações, incluindo Melhor Filme e Melhor Atriz Coadjuvante (Johansson). A crítica elogiou sua ousadia, com o Variety chamando-o de “uma sátira que encontra coração na escuridão”. Alguns criticaram o uso de humor para abordar o Holocausto, temendo trivialização, mas a maioria reconheceu sua sensibilidade. No Brasil, o filme gerou debates em fóruns acadêmicos sobre a ética da sátira histórica.

O legado do filme é significativo. Ele revitalizou a sátira histórica, influenciando narrativas que abordam autoritarismo com humor, e consolidou Waititi como um diretor versátil. Sua mensagem de empatia ressoou em um mundo polarizado, inspirando discussões sobre educação contra o ódio. Em 2024, postagens no X durante o Yom HaShoah (Dia da Lembrança do Holocausto) destacaram Jojo Rabbit como uma ferramenta para ensinar tolerância, com educadores elogiando sua acessibilidade para jovens.

No Brasil, o filme é usado em aulas de história para discutir a propaganda nazista e em estudos de cinema para analisar a sátira de Waititi. A teoria da história de Jörn Rüsen, discutida no país, enfatiza a relevância de narrativas como esta, que conectam o passado às reflexões sobre empatia e resistência.

Jojo Rabbit é historicamente impreciso por design, usando a Segunda Guerra Mundial como pano de fundo para uma fábula satírica. A representação da Juventude Hitlerista e da resistência alemã é fiel em espírito, mas a estilização da Alemanha nazista, com sua estética quase caricatural, prioriza o simbolismo sobre os fatos. A experiência de Elsa reflete a realidade de judeus escondidos, mas a ausência de uma representação explícita do Holocausto é uma escolha que foca na perspectiva infantil.

Críticos modernos elogiam o filme por sua empatia e coragem, mas observam que seu humor pode alienar quem vê o Holocausto como intocável. A visão otimista da redenção de Jojo pode simplificar a desnazificação, um processo complexo na Alemanha pós-guerra. Ainda assim, sua capacidade de educar e emocionar o torna uma referência, especialmente em um mundo onde o extremismo e a intolerância persistem.

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Conclusão

Jojo Rabbit é uma obra-prima satírica que confronta o nazismo com humor, coração e uma mensagem poderosa de empatia. A direção de Waititi, as atuações de Davis, Johansson e McKenzie, e uma narrativa que equilibra irreverência e tragédia fazem do filme um marco. Como uma reflexão sobre a Segunda Guerra Mundial, ele desmascara o fanatismo enquanto celebra a resiliência, oferecendo lições sobre a desconstrução do ódio.

Cinco anos após sua estreia, Jojo Rabbit permanece uma força cinematográfica e educativa, lembrando-nos do poder da empatia para superar a intolerância. Que seu legado inspire a reflexão sobre a humanidade e o compromisso com um futuro de tolerância e paz.


Fontes:

  • Leunens, Christine. Caging Skies, 2008.

  • Enciclopédia Britânica, “Jojo Rabbit”, 2025.

  • Brasil Escola, “Segunda Guerra Mundial”, 2025.

  • Postagens no X sobre o Yom HaShoah, 2024.

  • Rüsen, Jörn. História e Narrativa, 2006.

Nota: Esta resenha foi escrita com o objetivo de oferecer uma análise detalhada e fiel de Jojo Rabbit, respeitando seu contexto histórico e impacto cultural.

Resenha: O Menino do Pijama Listrado (2008)

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O Menino do Pijama Listrado se passa na Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial, por volta de 1943. A história é contada pelos olhos de Bruno (Asa Butterfield), um menino de 8 anos, filho de Ralf (David Thewlis), um oficial da SS promovido a comandante de um campo de concentração (inspirado em Auschwitz). Após se mudar de Berlim para uma casa rural perto do campo, Bruno, entediado e isolado, explora a área e conhece Shmuel (Jack Scanlon), um menino judeu da mesma idade, preso do outro lado da cerca do campo.

A narrativa centra-se na amizade crescente entre Bruno e Shmuel, que se desenvolve apesar da barreira física e ideológica que os separa. Bruno, criado sob a propaganda nazista, inicialmente não compreende a realidade de Shmuel, mas sua curiosidade e empatia o levam a questionar as mentiras que lhe foram ensinadas. Enquanto isso, a mãe de Bruno, Elsa (Vera Farmiga), enfrenta o horror de descobrir a verdade sobre o campo, e Ralf permanece cego pela lealdade ao regime. A trama culmina em uma tragédia que sublinha a devastação do Holocausto, deixando uma marca indelével no público.

O enredo, adaptado do romance de John Boyne, é estruturado como uma fábula, usando a perspectiva infantil para tornar o Holocausto acessível, mas nunca suavizado. A amizade entre os meninos serve como um contraponto à brutalidade do nazismo, enquanto a narrativa familiar expõe as tensões morais dentro de uma casa dividida pela ideologia.

Mark Herman dirige O Menino do Pijama Listrado com uma abordagem delicada, equilibrando a inocência da infância com o horror do Holocausto. Filmado em locações na Hungria, o filme recria a Alemanha rural e o campo de concentração com uma estética contida, evitando a grandiosidade para focar na intimidade emocional. A cinematografia de Benoît Delhomme usa cores suaves para a casa de Bruno, contrastando com os tons cinzentos do campo, simbolizando a divisão entre o mundo protegido do menino e a realidade brutal.

A trilha sonora, composta por James Horner, é melancólica, com temas de piano que evocam a ternura da amizade e a tragédia iminente, usados com moderação para não manipular o público. O design de som, com o silêncio opressivo do campo e os ruídos distantes de trens, amplifica a tensão. A edição de Michael Ellis mantém um ritmo lento, permitindo que a relação entre Bruno e Shmuel se desenvolva organicamente, com um clímax que é tanto inevitável quanto chocante.

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A produção, com um orçamento de 12,5 milhões de dólares, foi modesta, focando em atuações e cenários realistas. Herman enfrentou desafios éticos ao retratar o Holocausto através de uma perspectiva infantil, trabalhando com consultores históricos para garantir respeito às vítimas. A escolha de filmar em inglês, com sotaques britânicos, facilita o alcance global, mas gerou críticas por falta de autenticidade cultural, já que a história se passa na Alemanha.

Asa Butterfield, com apenas 10 anos, entrega uma performance notável como Bruno, capturando a curiosidade, a ingenuidade e a crescente empatia de um menino confrontado com a realidade. Sua química com Jack Scanlon, como Shmuel, é o coração do filme, com Scanlon trazendo uma mistura de vulnerabilidade e resiliência ao menino preso. A autenticidade de suas atuações, marcadas por silêncios e olhares, torna a amizade crível e comovente.

Vera Farmiga, como Elsa, oferece uma performance poderosa, retratando uma mãe que evolui de ignorância para horror ao descobrir a verdade sobre o campo. David Thewlis, como Ralf, é frio e autoritário, humanizando o oficial nazista sem justificá-lo. Amber Beattie, como a irmã de Bruno, Gretel, e Rupert Friend, como o tenente Kotler, adicionam camadas à dinâmica familiar, refletindo a doutrinação e a crueldade do regime. O elenco, composto por atores britânicos, cria um contraste eficaz entre a vida doméstica e a atrocidade do campo.

Contexto

O Menino do Pijama Listrado é uma obra de ficção que toma liberdades significativas com a história, usando o Holocausto como pano de fundo para uma fábula moral. A representação do campo, inspirado em Auschwitz, é simplificada, com uma cerca acessível e guardas menos vigilantes, o que é implausível, dado o rigor dos campos reais. A amizade entre Bruno e Shmuel é improvável, já que crianças em campos como Auschwitz eram frequentemente mortas ou separadas, e o contato com civis era impossível.

No entanto, o filme captura o espírito do Holocausto em aspectos como a propaganda nazista, que molda a visão de Bruno e Gretel, e a desumanização dos judeus, vista na magreza e no sofrimento de Shmuel. A dinâmica familiar reflete a realidade de esposas de oficiais da SS, que muitas vezes viviam perto dos campos e lidavam com o peso moral de suas ações. A brutalidade do regime, como nas ações de Kotler, é baseada em relatos históricos, embora suavizada para um público amplo.

Lançado em 12 de setembro de 2008, O Menino do Pijama Listrado reflete o contexto do início dos anos 2000, quando o Holocausto continuava a ser um tema central em narrativas educativas, impulsionado por filmes como A Lista de Schindler (1993). O filme responde a um desejo de histórias acessíveis para jovens, usando a perspectiva infantil para introduzir o genocídio de forma sensível, mas impactante.

O impacto narrativo de O Menino do Pijama Listrado reside em sua capacidade de usar a inocência infantil para confrontar a brutalidade do Holocausto. A amizade entre Bruno e Shmuel, desenvolvida em encontros furtivos na cerca, é um símbolo de empatia que transcende o ódio, enquanto a perspectiva de Bruno permite ao público ver o nazismo como uma ideologia aprendida, não inata. A tragédia final, chocante e inevitável, sublinha a indiscriminada destruição da guerra, deixando o público com uma reflexão sobre a perda e a culpa.

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Os temas centrais — inocência, empatia, a desumanização do Holocausto e a cumplicidade — são explorados com profundidade. Bruno representa a ignorância moldada pela propaganda, enquanto Shmuel encarna a resiliência das vítimas. Rosie reflete a luta moral de quem está próximo ao regime, e Ralf simboliza a cegueira ideológica. O filme critica a doutrinação de crianças, como na Juventude Hitlerista, e a indiferença de adultos, enquanto celebra a conexão humana como resistência ao ódio.

Cenas como os encontros de Bruno e Shmuel, o confronto de Elsa com Ralf e o clímax no campo são emocionalmente devastadores, reforçados por silêncios que amplificam o impacto. A escolha de manter a perspectiva infantil, com diálogos simples como “Por que você usa um pijama?”, torna o horror acessível, mas nunca banal.

O Menino do Pijama Listrado foi bem recebido, arrecadando 44 milhões de dólares globalmente e ganhando aclamação por sua abordagem emocional. A crítica elogiou as atuações e a sensibilidade, com o The Guardian chamando-o de “uma fábula comovente sobre o Holocausto”. Alguns historiadores criticaram sua imprecisão, argumentando que a amizade é implausível e pode suavizar a realidade dos campos. No Brasil, o filme foi amplamente adotado em escolas, gerando debates sobre sua adequação para ensinar o Holocausto.

O legado do filme é significativo. Ele popularizou a discussão do Holocausto entre jovens, inspirando adaptações teatrais e currículos educacionais. Sua abordagem infantil influenciou narrativas como Jojo Rabbit (2019), que também usam perspectivas jovens para abordar o nazismo. Em 2024, postagens no X durante o Yom HaShoah (Dia da Lembrança do Holocausto) destacaram o filme como uma ferramenta educativa, com professores elogiando sua capacidade de engajar estudantes.

No Brasil, O Menino do Pijama Listrado é amplamente usado em aulas de história e literatura para discutir o Holocausto, e em instituições como o Museu do Holocausto de Curitiba para promover a educação sobre o genocídio. A teoria da história de Jörn Rüsen, discutida no país, enfatiza a relevância de narrativas como esta, que conectam o passado às reflexões sobre empatia e responsabilidade.

O Menino do Pijama Listrado é historicamente impreciso em sua representação do campo e da amizade central, que são implausíveis devido às condições rígidas dos campos de extermínio. A representação da propaganda nazista e da vida familiar de oficiais da SS é fiel em espírito, mas simplificada para uma narrativa de fábula. A ausência de uma visão mais ampla do Holocausto, como a resistência judaica, reflete a escolha de focar na perspectiva infantil.

Críticos modernos elogiam o filme por sua abordagem emocional e acessibilidade, mas observam que sua imprecisão pode levar a mal-entendidos sobre o Holocausto, especialmente entre jovens. A visão centrada em uma família alemã pode marginalizar a experiência judaica, embora Shmuel seja retratado com dignidade. Ainda assim, sua capacidade de introduzir o tema de forma sensível o torna uma referência, especialmente em um mundo onde o antissemitismo persiste.

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Conclusão

O Menino do Pijama Listrado é uma obra comovente que usa a inocência infantil para confrontar os horrores do Holocausto. A direção de Herman, as atuações de Butterfield e Scanlon, e uma narrativa que equilibra ternura e tragédia fazem do filme um marco. Como uma reflexão sobre a Segunda Guerra Mundial, ele denuncia a brutalidade do nazismo enquanto celebra a empatia, oferecendo lições sobre a desconstrução do ódio.

Mais de 15 anos após sua estreia, O Menino do Pijama Listrado permanece uma força educativa e emocional, lembrando-nos do poder da conexão humana para superar a intolerância. Que seu legado inspire a reflexão sobre a dignidade e a luta por um futuro livre de ódio.


Fontes:

  • Boyne, John. The Boy in the Striped Pyjamas, 2006.

  • Enciclopédia Britânica, “The Boy in the Striped Pyjamas”, 2025.

  • Brasil Escola, “Holocausto”, 2025.

  • Postagens no X sobre o Yom HaShoah, 2024.

  • Rüsen, Jörn. História e Narrativa, 2006.

Nota: Esta resenha foi escrita com o objetivo de oferecer uma análise detalhada e fiel de O Menino do Pijama Listrado, respeitando seu contexto histórico e impacto cultural.

Bombardeios de Hiroshima e Nagasaki: Agosto de 1945

Image: Wikicommons

Em 6 e 9 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram as primeiras bombas atômicas da história sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, marcando um dos eventos mais devastadores e controversos da Segunda Guerra Mundial. Autorizados pelo presidente Harry S. Truman, os bombardeios, executados pelo Projeto Manhattan, destruíram ambas as cidades, matando cerca de 200 mil pessoas imediatamente e causando dezenas de milhares de mortes subsequentes devido a radiação e ferimentos. Esses ataques, realizados após a recusa japonesa em aceitar a rendição incondicional exigida pela Declaração de Potsdam, forçaram a capitulação do Japão em 15 de agosto, encerrando a guerra no Pacífico e, consequentemente, a Segunda Guerra Mundial. Os bombardeios não apenas demonstraram o poder destrutivo da nova arma nuclear, mas também abriram debates éticos sobre seu uso e inauguraram a era atômica, moldando a Guerra Fria e a política global. Esta matéria investigativa analisa as origens, o desenrolar e as consequências imediatas dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, explorando os fatores militares, políticos e humanos que definiram esse marco histórico. Com um tom jornalístico sério e expositivo, buscamos esclarecer como os ataques aceleraram a rendição japonesa, consolidaram a supremacia americana e deixaram um legado duradouro de destruição e reflexão.

Contexto Histórico: O Pacífico em 1945

No início de agosto de 1945, a Segunda Guerra Mundial na Europa havia terminado com a rendição alemã em 8 de maio, mas o conflito no Pacífico continuava intenso. Os Estados Unidos, sob a liderança de Truman, avançavam contra o Japão após vitórias em Midway (1942), Filipinas (1944) e Iwo Jima (fevereiro-março de 1945). A Batalha de Okinawa (abril-junho de 1945), com 200 mil mortos, demonstrou a resistência japonesa, com táticas kamikaze e combates suicidas. A estratégia americana de "salto de ilhas", apoiada por uma Marinha com 27 porta-aviões e 3.000 aviões, isolou o Japão, cortando suas linhas de suprimento do Sudeste Asiático.

O Japão, sob o primeiro-ministro Kantaro Suzuki e o imperador Hirohito, enfrentava colapso. A Marinha Imperial, reduzida a 2 porta-aviões após a Batalha do Golfo de Leyte (1944), era ineficaz, e a aviação, com 1.500 aviões, dependia de kamikazes. A economia, devastada por bombardeios convencionais que mataram 500 mil civis em Tóquio e outras cidades, sofria escassez de 90% do petróleo e 70% dos alimentos. Apesar disso, o Conselho Supremo de Guerra, liderado por Anami Korechika, resistia à rendição, temendo a perda da soberania e do imperador.

Os Aliados, coordenados na Conferência de Potsdam (julho-agosto de 1945), exigiram a rendição incondicional do Japão na Declaração de Potsdam (26 de julho), ameaçando "destruição total". Stalin prometeu entrar na guerra contra o Japão, enquanto Truman, informado do sucesso do teste da bomba atômica em Alamogordo (16 de julho), via a arma como meio de evitar a Operação Downfall, uma invasão terrestre que poderia custar 1 milhão de baixas aliadas. O Projeto Manhattan, liderado por J. Robert Oppenheimer, produziu três bombas: "Gadget" (testada), "Little Boy" (urânio) e "Fat Man" (plutônio).

Hiroshima, uma cidade industrial com 350 mil habitantes, e Nagasaki, um porto com 260 mil, foram escolhidas como alvos por sua importância militar e por não terem sido bombardeadas anteriormente, permitindo avaliar o impacto da bomba. A inteligência aliada, decifrando códigos japoneses, confirmou a resistência de Tóquio, enquanto a propaganda americana, via panfletos, alertava sobre destruição iminente.

O Pretexto e a Preparação

Os bombardeios não exigiram um pretexto formal, pois a guerra contra o Japão estava em curso. Truman justificou o uso da bomba atômica como necessário para forçar a rendição, evitar uma invasão custosa e salvar vidas aliadas e japonesas a longo prazo. A Declaração de Potsdam, rejeitada por Suzuki em 28 de julho, forneceu a base legal, enquanto a propaganda americana, via New York Times, retratava os ataques como a resposta à "teimosia" japonesa. A propaganda soviética, com Pravda, apoiava a pressão, enquanto a japonesa, sob censura, prometia resistência.

A preparação foi conduzida pelo Projeto Manhattan, custando 2 bilhões de dólares e envolvendo 130 mil cientistas, incluindo Oppenheimer e Enrico Fermi. A 509ª Unidade Composta, sob Paul Tibbets, treinou no deserto de Utah, usando B-29s modificados. Hiroshima foi selecionada por sua base militar e fábricas, enquanto Nagasaki, um centro de produção de torpedos, era secundária. Kokura e Niigata foram alvos alternativos. A inteligência aliada, via interceptações, confirmou a ausência de defesas aéreas significativas, enquanto panfletos lançados em 1º de agosto alertaram civis, embora vagamente.

O Japão, despreparado, subestimou a ameaça nuclear. A defesa aérea, com 200 caças, era ineficaz, e a população, sob racionamento, ignorava a gravidade. Hirohito, pressionado por moderados como Suzuki, hesitava, enquanto Anami exigia luta até o fim.

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O Desenrolar dos Bombardeios

Hiroshima (6 de agosto)

Em 6 de agosto, às 8h15, o B-29 Enola Gay, pilotado por Tibbets, lançou "Little Boy" sobre Hiroshima a 9.800 metros. A bomba de urânio, com 15 quilotons, explodiu a 580 metros do solo, destruindo 12 km². O hipocentro, próximo à Ponte Aioi, incinerou 80 mil pessoas instantaneamente, com temperaturas de 4.000°C. Edifícios, como a Cúpula Genbaku, foram arrasados, e 90% da cidade colapsou. Ondas de choque e radiação mataram mais 60 mil até dezembro, com 140 mil mortes totais estimadas até o fim de 1945.

A defesa japonesa, com apenas 3 caças decolando, foi ineficaz. Civis, sem abrigos adequados, sofreram queimaduras e doenças de radiação, com 70 mil feridos. A rádio de Hiroshima silenciou, e Tóquio, confusa, demorou 12 horas para confirmar o ataque. Truman anunciou o bombardeio às 11h, alertando sobre mais destruição.

Nagasaki (9 de agosto)

Em 9 de agosto, às 11h02, o B-29 Bockscar, pilotado por Charles Sweeney, lançou "Fat Man" sobre Nagasaki. A bomba de plutônio, com 21 quilotons, explodiu a 500 metros, destruindo 6 km². Devido a nuvens, o alvo secundário (Nagasaki) foi escolhido, com o hipocentro no bairro Urakami, matando 40 mil instantaneamente. Até dezembro, 80 mil morreram, com 120 mil feridos. O terreno montanhoso limitou danos, mas fábricas e escolas foram arrasadas.

A defesa, com 2 caças, falhou, e civis, sem alerta, sofreram radiação. A comunicação colapsou, e Tóquio, já lidando com Hiroshima, hesitou. No mesmo dia, a URSS invadiu a Manchúria, com 1,5 milhão de tropas, intensificando a crise japonesa.

Rendição Japonesa (15 de agosto)

Em 10 de agosto, Hirohito, após debates no Conselho Supremo, aceitou a Declaração de Potsdam, mantendo a monarquia. Em 14 de agosto, após uma tentativa de golpe por oficiais, ele gravou a rendição, transmitida em 15 de agosto. Em 2 de setembro, o Japão assinou a capitulação no USS Missouri, sob MacArthur, encerrando a guerra.

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Impactos Imediatos

No Japão

Os bombardeios devastaram Hiroshima e Nagasaki, com 200 mil mortos e 250 mil feridos. A radiação causou leucemia e cânceres, com 20 mil mortes até 1950. A infraestrutura, com 70% de Hiroshima e 40% de Nagasaki destruída, exigiu anos de reconstrução. A sociedade, traumatizada, enfrentou 500 mil deslocados, enquanto a rendição, anunciada por Hirohito, gerou alívio e humilhação. A ocupação americana, sob MacArthur, iniciou a democratização, com 200 mil soldados desmobilizados.

A propaganda japonesa colapsou, e a cultura, com haikus e memoriais como o Parque da Paz, refletiu a tragédia. A resistência, como os kamikazes, dissolveu-se, enquanto a monarquia sobreviveu.

Para os Estados Unidos

Os bombardeios consolidaram a supremacia americana. Truman, com o Washington Post celebrando a rendição, justificou a bomba como salvadora de 1 milhão de vidas, embora críticas éticas surgissem. A Marinha, com 4 milhões de homens, desmobilizou-se, enquanto a economia, com 50% do PIB global, liderou a reconstrução. A bomba, revelada ao mundo, marcou a era atômica, com os EUA testando 23 ogivas até 1952.

A sociedade celebrou o VJ Day (15 de agosto), com multidões em Nova York. A cultura, com filmes como The Beginning or the End (1947), refletiu o poder nuclear, enquanto a diáspora japonesa nos EUA enfrentou estigma.

Para a URSS

A rendição acelerada pelo bombardeio limitou os ganhos soviéticos no Pacífico. Stalin, ocupando a Manchúria, anexou Sacalin e Curilas, mas perdeu influência no Japão, sob ocupação americana. Pravda celebrou a vitória, mas a URSS, com 27 milhões de mortos, focou na reconstrução. A bomba intensificou a corrida nuclear, com o primeiro teste soviético em 1949.

Para a Coalizão Aliada

A rendição fortaleceu a coalizão, mas aprofundou a Guerra Fria. Os EUA, com a ONU e a bomba, lideraram o Ocidente, enquanto a URSS, controlando o leste europeu, chocou-se com Truman. O Reino Unido, sob Attlee, celebrou o VJ Day, enquanto a França, sob De Gaulle, focou na reconstrução. A China, sob Chiang Kai-shek, enfrentou a guerra civil. A resistência filipina e asiática inspirou descolonização.

Os bombardeios tiveram impacto global. Nos EUA, a vitória consolidou Truman, com a imprensa celebrando. No Reino Unido, The Times destacou a paz. Na URSS, Komsomolskaya Pravda focou na Manchúria. Países neutros, como a Suíça, aderiram à ONU, enquanto na América Latina, Brasil e México celebraram. A China enfrentou tensões com a URSS.

Os ataques marcaram a era nuclear, com a ONU e a corrida armamentista definindo a Guerra Fria. A descolonização asiática acelerou-se, com a Índia e a Indonésia inspiradas.

No Japão, os bombardeios geraram trauma, com hibakusha (sobreviventes) enfrentando discriminação. A cultura, com filmes como Hiroshima (1953), refletiu a dor, enquanto memoriais como a Cúpula Genbaku simbolizaram a paz. Nos EUA, o VJ Day uniu a nação, com canções e cartazes. No Reino Unido e na URSS, a vitória elevou o patriotismo. A diáspora japonesa, nos EUA, sofreu estigma, enquanto a filipina celebrou a liberdade.

Os bombardeios tornaram-se um símbolo de destruição e reflexão ética.

Os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945, forçaram a rendição japonesa, encerrando a Segunda Guerra Mundial e marcando a era atômica. A decisão de Truman, impulsionada por fatores militares e políticos, consolidou a supremacia americana, mas gerou debates éticos. Esta primeira parte da matéria detalhou o contexto, o desenrolar e os impactos imediatos. Na segunda parte, exploraremos as consequências de longo prazo, incluindo a reconstrução japonesa, a corrida nuclear e o legado dos bombardeios na memória histórica.

Referências Bibliográficas

  • Dower, J. W. (1986). War Without Mercy: Race and Power in the Pacific War. Nova York: Pantheon Books.

  • Hersey, J. (1946). Hiroshima. Nova York: Knopf.

  • Rhodes, R. (1986). The Making of the Atomic Bomb. Nova York: Simon & Schuster.

  • Walker, J. S. (2005). Prompt and Utter Destruction: Truman and the Use of Atomic Bombs Against Japan. Chapel Hill: University of North Carolina Press.

  • Weinberg, G. L. (1994). A World at Arms: A Global History of World War II. Cambridge: Cambridge University Press.

Resenha: A Batalha da Grã-Bretanha (1969)

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A Batalha da Grã-Bretanha retrata o confronto aéreo entre julho e outubro de 1940, quando a Luftwaffe tentou destruir a RAF para abrir caminho para a Operação Leão Marinho, a planejada invasão nazista do Reino Unido. A narrativa segue pilotos e comandantes britânicos, como o Squadron Leader Colin Harvey (Christopher Plummer), o Sargento Andy (Michael Caine) e o Air Vice-Marshal Keith Park (Trevor Howard), enquanto defendem o céu contra os alemães, liderados pelo Reichsmarschall Hermann Göring (Hein Riess) e outros oficiais.

A trama é estruturada como uma crônica militar, alternando entre combates aéreos, reuniões estratégicas no comando da RAF e glimpses da vida civil britânica sob os bombardeios do Blitz. A perspectiva alemã é incluída, mostrando as decisões de Göring e a frustração dos pilotos da Luftwaffe, como o Major Falke (Manfred Reddemann). O filme foca no esforço coletivo, com personagens representando diferentes facetas da RAF, desde jovens pilotos a comandantes experientes, culminando na vitória britânica, que forçou Hitler a abandonar a invasão.

O enredo, baseado em pesquisas históricas e no livro The Narrow Margin de Derek Wood e Derek Dempster, prioriza a autenticidade sobre o desenvolvimento profundo de personagens. A narrativa é menos sobre indivíduos e mais sobre o evento, celebrando o “espírito de 1940” e a determinação britânica, encapsulada na citação de Winston Churchill: “Nunca, no campo do conflito humano, tantos deveram tanto a tão poucos.”

Guy Hamilton, conhecido por filmes de James Bond, dirige A Batalha da Grã-Bretanha com uma abordagem tradicional, mas eficaz, focando na grandiosidade das batalhas aéreas e na tensão estratégica. Filmado em locações na Inglaterra e na Espanha, o filme usa aviões reais, como Spitfires, Hurricanes e Messerschmitts, muitos emprestados por museus e forças aéreas, para recriar os combates com realismo. A cinematografia de Freddie Young é impressionante, com sequências aéreas que capturam a velocidade e o perigo dos dogfights, usando câmeras montadas em aviões para uma perspectiva imersiva.

A trilha sonora, composta por Ron Goodwin (com contribuições de William Walton), é majestosa, com temas marciais que evocam heroísmo, embora a música seja usada com moderação para destacar os sons dos combates — motores, metralhadoras, explosões. A edição de Bert Bates mantém um ritmo dinâmico, alternando entre as batalhas, as reuniões no comando e as cenas civis, embora a duração de 132 minutos possa parecer longa devido à falta de uma narrativa emocional central.

A produção, com um orçamento de 13 milhões de dólares, foi ambiciosa, enfrentando desafios como a coordenação de dezenas de aviões e a reconstrução de aeródromos da RAF. Consultores históricos, incluindo veteranos da Batalha da Grã-Bretanha como Douglas Bader, garantiram precisão, desde as táticas de combate até os uniformes. A colaboração com a Força Aérea Espanhola, que forneceu aviões Heinkel, adicionou autenticidade, embora algumas cenas usem miniaturas e efeitos que, vistos hoje, parecem datados.

O elenco estelar é um dos pontos fortes, embora a narrativa coletiva limite o desenvolvimento individual. Michael Caine, como Andy, traz carisma a um piloto jovem e destemido, com uma atuação que reflete a camaradagem da RAF. Christopher Plummer, como Harvey, oferece uma performance contida, capturando o peso de liderar esquadrões sob pressão. Laurence Olivier, como o Air Chief Marshal Hugh Dowding, é a âncora moral, com uma presença autoritária que personifica a determinação britânica.

Trevor Howard, como Keith Park, é sólido, retratando a inteligência tática do comandante, enquanto Susannah York, como a oficial Maggie Harvey, adiciona uma perspectiva feminina, embora subdesenvolvida. Do lado alemão, Hein Riess, como Göring, é adequadamente arrogante, mas os personagens nazistas são estereotipados, com atuações funcionais. O elenco britânico, incluindo Robert Shaw e Ian McShane em papéis menores, cria um senso de unidade, refletindo a diversidade da RAF, que incluía pilotos poloneses, canadenses e outros.

Contexto

A Batalha da Grã-Bretanha é historicamente preciso em sua representação do confronto, que envolveu cerca de 2.500 aeronaves britânicas e 3.000 alemãs, com a RAF perdendo 544 pilotos e a Luftwaffe cerca de 2.600 tripulantes. O filme captura eventos-chave, como o “Adlertag” (Dia da Águia, 13 de agosto de 1940), os bombardeios de aeródromos e o erro estratégico alemão de redirecionar ataques para Londres, permitindo à RAF se recuperar. A liderança de Dowding e Park, a importância do radar e a contribuição de pilotos estrangeiros, como os esquadrões poloneses, são fielmente retratadas.

Algumas simplificações ocorrem. A narrativa condensa a campanha de meses em eventos selecionados, e a ausência de uma perspectiva civil detalhada limita o contexto do Blitz. A representação dos alemães é estereotipada, com Göring como um vilão unidimensional, embora baseada em sua conhecida arrogância. A ênfase britânica reflete a audiência-alvo, mas minimiza o papel de outras nações aliadas.

Lançado em 15 de setembro de 1969, A Batalha da Grã-Bretanha reflete o contexto do final dos anos 1960, quando o Reino Unido celebrava o 25º aniversário da guerra, mas enfrentava declínio econômico e questionamentos sobre sua identidade pós-império. O filme reforça o “mito de 1940”, celebrando a resiliência britânica em um momento de nostalgia.

Impacto

O impacto narrativo de A Batalha da Grã-Bretanha reside em suas sequências de combate aéreo, que são visualmente espetaculares e tecnicamente impressionantes para a época. As cenas de dogfights, com Spitfires enfrentando Messerschmitts, capturam a adrenalina e o perigo, enquanto as reuniões estratégicas mostram a tensão nos bastidores. A ausência de um protagonista central enfatiza o esforço coletivo, com pilotos representando os “poucos” de Churchill, cuja coragem salvou a nação.

Os temas centrais — coragem, resiliência, sacrifício e a defesa da liberdade — são explorados com um tom patriótico, mas contido. O filme celebra a RAF, mas não ignora as perdas, com cenas de pilotos abatidos e aeródromos destruídos. A inclusão da perspectiva alemã, embora limitada, mostra a arrogância de Göring e os erros estratégicos, adicionando nuance. A narrativa também aborda a pressão sobre civis, como nas cenas do Blitz, embora de forma secundária.

Momentos como o discurso de Dowding, a destruição de um aeródromo e a vitória final, marcada pelo silêncio dos céus, são emocionalmente envolventes, mesmo sem personagens profundamente desenvolvidos. A escolha de terminar com uma lista de baixas de ambos os lados sublinha o custo humano, reforçando a gravidade da vitória.

A Batalha da Grã-Bretanha teve recepção mista, arrecadando 13 milhões de dólares contra um alto orçamento, mas foi elogiado por sua autenticidade, ganhando indicações ao BAFTA por Som e Efeitos. A crítica, como o Times, elogiou as sequências aéreas, mas criticou a falta de emoção e o elenco subutilizado. No Reino Unido, o filme foi um símbolo de orgulho nacional, exibido em eventos comemorativos.

O legado do filme é significativo. Ele estabeleceu um padrão para combates aéreos no cinema, influenciando obras como Midway (2019) e Dunkirk (2017). Sua ênfase na RAF inspirou documentários e homenagens aos pilotos, enquanto suas sequências de batalha permanecem referências técnicas. Em 2024, postagens no X durante o Battle of Britain Day (15 de setembro) destacaram o filme como um tributo aos “poucos”, com veteranos e historiadores elogiando sua precisão.

No Brasil, A Batalha da Grã-Bretanha é usado em aulas de história para discutir a Segunda Guerra Mundial e em estudos de cinema para analisar o gênero bélico. A teoria da história de Jörn Rüsen, discutida no país, enfatiza a relevância de narrativas como esta, que conectam o passado às reflexões sobre coragem e resistência.

A Batalha da Grã-Bretanha é historicamente preciso em sua recriação do confronto, com detalhes baseados em registros e relatos de pilotos. A representação das táticas da RAF, do radar e dos erros alemães é fiel, mas a narrativa simplifica a complexidade da campanha e omite perspectivas civis detalhadas. A visão estereotipada dos alemães reflete as convenções da época, mas limita a nuance.

Críticos modernos elogiam o filme por sua autenticidade técnica, mas observam que sua abordagem fria e falta de personagens profundos podem alienar públicos acostumados a narrativas emocionais como Dunkirk. A ênfase britânica marginaliza contribuições de pilotos estrangeiros, embora o filme as reconheça brevemente. Ainda assim, sua capacidade de capturar a escala da batalha o torna uma referência, especialmente em um mundo onde a memória da Segunda Guerra Mundial ressoa em debates sobre liberdade e defesa.

Conclusão

A Batalha da Grã-Bretanha é um épico de guerra que celebra a coragem dos pilotos da RAF com sequências aéreas espetaculares e uma abordagem histórica precisa. A direção de Hamilton, o elenco estelar e uma narrativa que honra o “espírito de 1940” fazem do filme um marco do gênero bélico. Como uma reflexão sobre a Segunda Guerra Mundial, ele destaca a resiliência britânica, oferecendo lições sobre sacrifício, unidade e a defesa da liberdade.

Mais de 50 anos após sua estreia, A Batalha da Grã-Bretanha permanece um tributo poderoso aos “poucos” que mudaram a história, lembrando-nos do custo da guerra e da força da determinação. Que seu legado inspire a reflexão sobre a coragem e o compromisso com um futuro de paz.


Fontes:

  • Wood, Derek & Dempster, Derek. The Narrow Margin, 1961.

  • Enciclopédia Britânica, “Battle of Britain”, 2025.

  • Brasil Escola, “Segunda Guerra Mundial”, 2025.

  • Postagens no X sobre o Battle of Britain Day, 2024.

  • Rüsen, Jörn. História e Narrativa, 2006.

Nota: Esta resenha foi escrita com o objetivo de oferecer uma análise detalhada e fiel de A Batalha da Grã-Bretanha, respeitando seu contexto histórico e impacto cultural.

Resenha: Patton: Rebelde ou Herói? (1970)

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Patton: Rebelde ou Herói? acompanha a trajetória do General George S. Patton Jr. (George C. Scott) durante a Segunda Guerra Mundial, desde sua liderança na campanha do Norte da África em 1942 até a libertação da Alemanha em 1945. A narrativa foca em momentos-chave: a vitória em El Alamein contra Rommel, a invasão da Sicília, o infame incidente em que Patton esbofeteia um soldado com TEPT, e sua campanha na Europa após o Dia D. A trama também explora sua rivalidade com o General Bernard Montgomery (Michael Bates) e suas tensões com superiores, como o General Omar Bradley (Karl Malden) e Dwight D. Eisenhower (mencionado, mas não mostrado).

A história é estruturada como um estudo de personagem, alternando entre as façanhas militares de Patton e sua personalidade complexa — brilhante, arrogante, disciplinadora e obcecada por glória. O filme abre com o icônico discurso de Patton diante de uma bandeira americana, estabelecendo seu carisma e controvérsia. Baseado nas memórias de Bradley (A Soldier’s Story) e na biografia Patton: Ordeal and Triumph de Ladislas Farago, o roteiro de Francis Ford Coppola e Edmund H. North equilibra heroísmo e falhas, perguntando se Patton era um gênio ou um rebelde perigoso.

O enredo é menos uma crônica linear da guerra e mais um retrato psicológico, usando Patton como lente para explorar liderança, ambição e o custo humano do conflito. A narrativa captura o paradoxo de um homem que venceu batalhas, mas alienou aliados, culminando em sua queda após críticas públicas ao comando aliado.

Franklin J. Schaffner dirige Patton com uma visão grandiosa, combinando sequências de batalha épicas com momentos introspectivos que revelam a psique do general. Filmado em locações na Espanha, Marrocos e Inglaterra, o filme recria os teatros da guerra com autenticidade, usando tanques reais (M48s modificados para parecerem Shermans) e milhares de figurantes. A cinematografia de Fred J. Koenekamp, em formato widescreen, é impressionante, com planos abertos que capturam a vastidão dos campos de batalha e closes que destacam a intensidade de Scott.

A trilha sonora de Jerry Goldsmith é icônica, com um tema de trompetes que evoca tanto a glória militar quanto a melancolia de Patton, usado brilhantemente para sublinhar seus triunfos e solidão. O design de som, com explosões e motores de tanques, é imersivo, especialmente nas cenas de combate no deserto e na neve. A edição de Hugh S. Fowler mantém um ritmo equilibrado, com 172 minutos que alternam entre ação, diálogos estratégicos e monólogos introspectivos, como as reflexões de Patton sobre reencarnação.

A produção, com um orçamento de 12 milhões de dólares, foi ambiciosa, enfrentando desafios como a coordenação de batalhas e a recriação de cenários históricos. Schaffner trabalhou com consultores militares, incluindo veteranos da Segunda Guerra Mundial, para garantir precisão, desde as táticas de Patton até os uniformes. A abertura com o discurso, filmada em um único take, foi um risco que definiu o tom do filme, estabelecendo Patton como uma figura larger-than-life.

George C. Scott entrega uma das maiores atuações da história do cinema como Patton, ganhando o Oscar de Melhor Ator (que recusou). Sua performance captura a bravura, a arrogância e a vulnerabilidade do general, com uma voz grave e gestos teatrais que tornam Patton tanto carismático quanto intimidante. Desde o discurso inicial até a cena em que reza por bom tempo, Scott humaniza um ícone sem suavizá-lo, mostrando sua obsessão por glória e seu isolamento.

Karl Malden, como Omar Bradley, é o contraponto perfeito, retratando um líder pragmático e empático que contrasta com a impulsividade de Patton. Michael Bates, como Montgomery, adiciona uma rivalidade bem-humorada, enquanto Stephen Young, como o Capitão Chester Hansen, oferece um olhar subordinado sobre Patton. O elenco secundário, incluindo Jack Gwillim e Frank Latimore, reforça a dinâmica militar, mas Scott domina cada cena, tornando outros personagens quase coadjuvantes.

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Contexto

Patton: Rebelde ou Herói? é historicamente preciso em sua representação das campanhas de Patton, capturando sua vitória contra Rommel em El Alamein (1942), a invasão da Sicília (1943) e a campanha na França e Alemanha (1944-1945), onde seu Terceiro Exército avançou rapidamente, libertando cidades como Bastogne. O incidente do tapa em um soldado com TEPT, que quase acabou com sua carreira, é fiel, assim como sua rivalidade com Montgomery e suas críticas ao comando aliado.

Algumas liberdades narrativas são tomadas. A visão de Patton sobre reencarnação é exagerada para efeito dramático, e eventos são condensados, como a campanha da Sicília, para manter o foco no personagem. A ausência de perspectivas alemãs detalhadas, exceto menções a Rommel, limita o contexto, enquanto a glorificação de Patton pode minimizar suas falhas, como sua relutância em aceitar a importância da infantaria. A representação de Bradley é precisa, mas romantizada, refletindo suas memórias.

Lançado em 18 de janeiro de 1970, Patton reflete o contexto do final dos anos 1960, marcado pela Guerra do Vietnã e por questionamentos sobre liderança militar. A figura de Patton, um gênio controverso, ressoou com um público dividido entre admirar o heroísmo e criticar a beligerância. O filme também capitalizou o interesse pela Segunda Guerra Mundial, reforçado por obras como A Batalha da Grã-Bretanha (1969).

Impacto 

O impacto narrativo de Patton reside em sua exploração complexa de um líder que é ao mesmo tempo herói e anti-herói. A atuação de Scott, combinada com o roteiro de Coppola, cria um Patton multifacetado: um estrategista brilhante, mas impulsivo; um patriota, mas egoísta. As sequências de batalha, como o confronto no deserto tunisiano e a marcha na neve, são visualmente impactantes, capturando a genialidade tática de Patton, enquanto momentos introspectivos, como sua visita a ruínas antigas, revelam sua obsessão com a história.

Os temas centrais — liderança, glória, sacrifício e a ambiguidade moral da guerra — são explorados com profundidade. Patton representa o ideal do guerreiro, mas sua recusa em se curvar à política e sua crueldade com subordinados questionam o custo de sua visão. Bradley e Montgomery oferecem contrapesos, destacando a necessidade de equilíbrio. O filme critica a glorificação da guerra, mostrando as perdas em batalhas, mas também celebra a determinação, como na cena em que Patton reverte uma retirada.

Cenas como o discurso inicial, o tapa no soldado e a marcha do Terceiro Exército são icônicas, reforçadas por diálogos memoráveis, como “Ninguém nunca ganhou uma guerra morrendo por seu país. Ganhamos fazendo o outro pobre coitado morrer pelo dele.” A escolha de terminar com Patton afastado do comando, refletindo sobre sua irrelevância em tempos de paz, é um comentário agridoce sobre a natureza transitória da glória.

Patton foi um sucesso crítico e comercial, arrecadando 61 milhões de dólares globalmente e ganhando sete Oscars em 1971, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator. A crítica elogiou a atuação de Scott e a direção de Schaffner, com o New York Times chamando-o de “um retrato fascinante de um gênio controverso”. Alguns criticaram sua duração e glorificação de Patton, mas a maioria reconheceu sua complexidade. No Brasil, o filme foi bem recebido, especialmente em círculos militares e acadêmicos.

O legado de Patton é vasto. A atuação de Scott definiu a imagem de Patton na cultura popular, enquanto o filme influenciou biopics militares, como MacArthur (1977), e dramas de guerra, como Apocalypse Now (1979). O discurso inicial tornou-se um marco cultural, citado em paródias e análises de liderança. Em 2024, postagens no X durante o Memorial Day americano destacaram Patton como um tributo à liderança militar, com comparações a generais modernos.

No Brasil, Patton é usado em aulas de história para discutir a Segunda Guerra Mundial e em estudos de cinema para analisar biopics. A teoria da história de Jörn Rüsen, discutida no país, enfatiza a relevância de narrativas como esta, que conectam o passado às reflexões sobre liderança e moralidade.

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Crítica

Patton é historicamente preciso em sua representação das campanhas e da personalidade do general, com detalhes baseados em fontes confiáveis. A rivalidade com Montgomery, o incidente do tapa e a velocidade do Terceiro Exército são fiéis. No entanto, a ênfase em Patton marginaliza outros líderes aliados, e a ausência de perspectivas alemãs ou civis limita o contexto. A visão romantizada de Bradley e a omissão de críticas mais amplas ao militarismo refletem a perspectiva americana da época.

Críticos modernos elogiam o filme por sua complexidade e atuação de Scott, mas observam que sua glorificação de Patton pode minimizar os custos humanos de suas táticas agressivas. A falta de diversidade, com um foco exclusivamente masculino e branco, reflete as limitações da época. Ainda assim, sua exploração da liderança o torna uma referência, especialmente em um mundo onde debates sobre autoridade e responsabilidade persistem.

Patton: Rebelde ou Herói? é uma obra-prima que captura a genialidade e as contradições de George S. Patton com uma atuação inesquecível de George C. Scott e uma direção magistral de Schaffner. O filme combina batalhas épicas com um estudo profundo de liderança, fazendo dele um marco do cinema bélico. Como uma reflexão sobre a Segunda Guerra Mundial, ele celebra a coragem enquanto questiona o custo da glória, oferecendo lições sobre ambição, sacrifício e moralidade.

Mais de 50 anos após sua estreia, Patton permanece uma força cinematográfica e histórica, lembrando-nos do impacto de líderes controversos na história. Que seu legado inspire a reflexão sobre a liderança responsável e o compromisso com um futuro de paz.


Fontes:

  • Farago, Ladislas. Patton: Ordeal and Triumph, 1963.

  • Enciclopédia Britânica, “Patton”, 2025.

  • Brasil Escola, “Segunda Guerra Mundial”, 2025.

  • Postagens no X sobre o Memorial Day, 2024.

  • Rüsen, Jörn. História e Narrativa, 2006.

Nota: Esta resenha foi escrita com o objetivo de oferecer uma análise detalhada e fiel de Patton: Rebelde ou Herói?, respeitando seu contexto histórico e impacto cultural.

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