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O olhar irônico e provocativo de Nabokov sobre Dom Quixote


APRESENTAÇÃO

Entre os anos de 1951 e 1952, Vladimir Nabokov ministrou aulas como professor convidado da Universidade de Harvard. Munido de um conhecimento amplo sobre Dom Quixote, foi para a sala de aula determinado a mudar a visão dos estudantes a respeito dessa obra. Com seu estilo único, cheio de ironia, bom humor e novas perspectivas sobre o clássico cervantino, Nabokov mostrou-se um profícuo professor e crítico literário. As aulas, embora preparadas com maestria, ficaram guardadas em pastas por longos anos até que o editor Fredson Bowers as reuniu e transformou neste Lições sobre Dom Quixote. As anotações completas e os comentários que Nabokov guardava para si são trazidos à luz para quem quiser se aprofundar nos estudos das aventuras de Dom Quixote e seu companheiro Sancho Pança. Mas, se o leitor desejar apenas uma leitura prazerosa acerca dos escritos de um exímio e sarcástico professor para seus alunos universitários, Lições sobre Dom Quixote têm outra chave interpretativa, se transformando em uma nada ortodoxa aula sobre a arte de lecionar. Seja qual for o motivo do interesse, trata-se de um livro que nos apresenta uma nova proposta de análise da obra de Cervantes, tirando-a da classificação de comédia atribuída usualmente pela crítica para provar aos estudantes ― e agora, aos leitores ― que o clássico espanhol é também uma obra brutal, um verdadeiro retrato da escuridão da Idade Média. Lições sobre Dom Quixote é uma preciosa oportunidade de conhecermos um autor clássico por meio de outro, pois pela mirada perspicaz e erudita de Nabokov, descortina-se para nós um novo Cervantes.

RESENHA


Vladimir Nabokov, ao chegar aos Estados Unidos em 1940, trouxe consigo aulas sobre Dom Quixote de Cervantes, que foram escritas durante uma licença na Universidade Harvard em 1951-2. Ele se preparou extensivamente para essas aulas, fazendo um resumo detalhado do romance e planejando sua estrutura com base no tema de vitórias e derrotas. As aulas foram reescritas e organizadas para formar um conceito estrutural superior, com algumas páginas não utilizadas sendo segregadas em uma seção separada. O material editorial reflete a atenção meticulosa de Nabokov aos detalhes e inclui citações completas e passagens adicionais para ilustrar suas observações. A seção "Narrativa e comentário" complementa as aulas, fornecendo uma visão mais abrangente do romance como obra de arte. 

No prefácio da obra, o autor Guy Davenport discute a abordagem de Vladimir Nabokov ao livro Dom Quixote de Cervantes: Nabokov apresentou o texto de forma crua e cruel, contrariando a interpretação mais amena e idealizada que havia se popularizado nos Estados Unidos. Ele buscou revelar o texto original, mostrando a essência cruel e zombeteira da obra. Davenport destaca a importância das aulas de Nabokov sobre Cervantes, que revelaram aspectos profundos da obra e sua relevância para o romance moderno. Nabokov reconheceu a genialidade de Cervantes ao criar um personagem tão complexo que transcendeu o próprio livro, influenciando outros escritores e se tornando um ícone literário. A discussão sobre Dom Quixote se tornou um reflexo da ilusão, da identidade e da crueldade, temas recorrentes na obra de Nabokov, o que fez das aulas sobre Cervantes um triunfo na carreira do autor.

A obra se inicia com um capítulo intitulado 'vida real e ficção', discute a ideia central do texto é a distinção entre a vida real e a ficção, mostrando que não devemos buscar uma representação literal da realidade nos romances. A vida real é baseada em generalizações e o homem comum é apenas uma ficção, um conjunto de estatísticas. Por outro lado, a ficção pode abordar elementos universais da vida humana, como a dor, os sonhos e a justiça. O exemplo de Dom Quixote é usado para ilustrar como a geografia descrita na obra não corresponde à realidade, mas ainda assim é possível aplicar generalizações da vida real ao texto. Por fim, é mencionada a mudança de cenário na segunda parte do livro, mostrando como o autor manipulou a geografia de acordo com sua vontade narrativa.

Nabokov examina os dois retratos que são apresentados na obra de Cervantes: Dom Quixote, um indivíduo único com uma mistura de lucidez e insanidade, uma condição física frágil e uma paixão por aventuras; e Sancho Pança, um típico palhaço que não provoca tanto riso. Dom Quixote é descrito como um proprietário rural, de cerca de cinquenta anos, com uma aparência estranha e um estado mental que oscila entre a lucidez e a insanidade. Sua condição física é descrita como frágil e marcada por uma séria doença renal. A brutalidade do livro e a curiosa atitude em relação à crueldade são abordadas, revelando um personagem complexo e trágico em meio a uma farsa medieval.

Sancho Pança é descrito como um trabalhador braçal, ex-pastor e ex-sacristão que transmite uma sensação de dignidade beócia e idade madura. Ele é descrito como baixo, com um barrigão, pernas longas e uma barba espessa. Na segunda parte do romance, ele se torna ainda mais gordo e bronzeado. Há um momento de lucidez em sua vida quando parte para governar uma ilha continental. Vestido como advogado, monta uma mula melhorada, mas seu burrico cinzento, que representa uma parte de sua personalidade, o acompanha coberto de tecidos de seda. Sancho Pança cavalga com a mesma dignidade néscia desde sua primeira aparição.

O autor faz uma análise estrutural do livro Dom Quixote, de Cervantes. Ele destaca as características físicas e espirituais dos personagens principais, Dom Quixote e Sancho, e discute a evolução da narrativa ao longo das duas partes da obra. O autor também menciona diversos recursos estruturais utilizados por Cervantes, como trechos de baladas, provérbios, diálogos dramáticos, descrições poéticas da natureza, histórias inseridas, temas arcádicos e de cavalaria, entre outros. Ele promete aprofundar a discussão sobre alguns desses pontos ao longo do texto, visando uma melhor compreensão do livro.

O autor esclarece que os livros de cavalaria foram descritos como uma praga social que Cervantes combateu em Dom Quixote, porém a moda dos romances de cavalaria já estava em declínio na época. Cervantes critica a falta de verdade nos romances fantásticos, mas comete os mesmos erros em seu próprio livro. O tema da cavalaria é fundamental em Dom Quixote, com paralelos entre os episódios do cavaleiro e os dos romances de cavalaria. A obra termina com uma cena em que Dom Quixote se identifica com os santos cavaleiros das imagens esculpidas, e prenuncia seu destino final.

O autor segue examinando os temas da crueldade e da mistificação presentes na obra Dom Quixote, de Cervantes. Na primeira parte do capítulo, são destacados exemplos de crueldade física, enquanto na segunda parte, a crueldade é principalmente mental e consiste em mistificações. São analisadas as formas de tormento e zombaria que o personagem principal, Dom Quixote, e seu escudeiro, Sancho Pança, enfrentam ao longo da história. Além disso, são abordados os feitiços e os magos que surgem na trama, como a tentativa de desfazer o encantamento de Dulcineia. O autor destaca o elemento de crueldade presente na obra, destacando a necessidade de enxergar além da visão geralmente associada à história. Ao explorar o episódio da gruta de Montesinos e as mistificações ducais na segunda parte, o autor destaca a estrutura e o desenvolvimento da trama, bem como a complexidade dos personagens e das situações que enfrentam, resultando em um livro que é, ao mesmo tempo, cômico e amargo.

No capítulo 'O tema dos cronistas, Dulcineia e a morte', o autor discute o tema dos cronistas na obra de Cervantes, destacando a utilização de diferentes recursos narrativos e estruturais. Também aborda a relação entre Dom Quixote e Dulcineia, mostrando como a personagem feminina é construída e idealizada pelo protagonista. Por fim, discute o momento da morte de Dom Quixote, destacando a cena tocante em que ele faz seu testamento e o impacto de sua partida nos personagens ao seu redor, encerrando com uma reflexão sobre a representação da morte como a desencantadora Dulcineia, uma cruel e irônica referência ao mundo cruel e irreal do romance.

Dom Quixote é um livro de grande importância devido à sua ampla difusão mundial, com traduções em diversos idiomas logo após sua publicação original em espanhol. Enquanto o personagem de Sancho Pança é facilmente caricaturado, a figura de Dom Quixote é complexa e fugidia, apresentando várias interpretações ao longo do livro. Além das múltiplas perspectivas apresentadas pelo texto original, existem inúmeras interpretações baseadas em traduções e adaptações desonestas ou conscientes da obra. O herói literário gradualmente se distanciou do livro em que nasceu, tornando-se um símbolo de aspirações nobres e impotentes em diversas culturas ao redor do mundo. Atualmente, Dom Quixote é visto como uma figura gentil, pura, altruísta e corajosa, representando a paródia que se transformou em paradigma.

A obra de Nabokov continua analisando os aspectos da narrativa capítulo por capítulo, da primeira à segunda parte, com o objetivo de exemplificar os pontos abordados na análise anteriormente elaborada nas descrições mencionadas nos capítulos anteriores. O autor se dedica a dissecar minuciosamente o enredo nos capítulos, de maneira separada e cuidadosa, da obra de Cervantes.

Resenha: Amar elos vermelhos, de Márcia Meira Bastos


APRESENTAÇÃO
Amar Elos Vermelhos é uma obra poética que explora as profundezas da linguagem, desvendando as raízes ancestrais das palavras. Com uma abordagem poética inovadora, a autora conduz os leitores por uma jornada íntima, abordando temas como a infância, o amor e a solidão. O texto de Márcia é uma catarse, embora não seja, nem de longe, terapia literária. Na sua narrativa, Márcia expurga seus demônios e fantasmas (“fantasmas são saudades”), fisgando os do leitor, possibilitando a este a própria catarse. Antonio Guinho.

RESENHA


O livro amar elos vermelhos é um livro de contos de autoria da autora Márcia Meia Bastos, publicado pela editora labrador. A obra é dividida em duas sessões: amarelo e vermelho.

A primeira divisão, amarelos, se inicia com o primeiro conto 'a menina e o lobo' narra história de uma menina que sempre foi fascinada pela história de Chapeuzinho Vermelho e pelo personagem do Lobo. Curiosa e desafiadora, ela decide explorar o Beco dos Perdidos, mesmo sendo um lugar proibido. Ao entrar no beco, a Menina experimenta sensações inéditas e se entrega à transgressão, abandonando a inocência e assumindo uma nova identidade. Ela sente uma fome pelo proibido e uma determinação cega de seguir em frente, sabendo que não poderá voltar atrás.

O segundo conto da sessão 'amarelos', intitulado "Fantasmas" narra a história de uma Menina que vive em meio a lembranças e sonhos não realizados. Ela guarda em sua memória fantasmas feitos de saudades e nostalgia pelo que não viveu. Em meio a dores e desilusões, a Menina busca se conectar com seu amante ausente, mesmo que apenas na fantasia. Ela se esconde por trás de festas e alegrias superficiais, mas carrega consigo a tristeza e a solidão. Ao tentar confessar seus segredos e aflições, a Menina se vê incapaz de expressar seus verdadeiros sentimentos e se perde em histórias inventadas. Enquanto isso, o narrador, que representa uma figura de apoio, tenta compreender a profundidade de sua dor e o vazio de sua alma. No desfecho do conto, a Menina desaparece, transformando-se em um raio de luz que cobre o corpo do amante que ela tanto esperava, simbolizando sua entrega à perda e à ausência.

O terceiro conto da sessão amarelos 'a menina e o medo' é um conto que narra a história de uma menina que tem medo das sombras que se formam no seu quarto ao entardecer. Ela encontra nas formas fantásticas das penumbras um mundo meio encantado, meio tenebroso, onde tudo se transforma. A menina se sente pequena e incapaz diante da grandeza desses mundos e se aflige com medo de não ser merecedora de contemplar tantos mistérios. Ela se questiona sobre sua existência e sua capacidade de realizar feitos à altura das expectativas. Com o passar do tempo, a menina cresce e as imagens do teatro chinês ficam grudadas em sua memória, trazendo medo das próprias lembranças. No entanto, ela encontra palavras mágicas que a fazem renascer das sombras e redescobrir os segredos do Tempo do Antes.

Os contos "A Menina e o Lobo", "Fantasmas" e "A Menina e o Medo" apresentam similitudes em relação à protagonista, que é uma menina que se encontra em um estado de transição e descoberta. Em todos os contos, a Menina enfrenta desafios e se depara com situações desconhecidas, explorando novas possibilidades e experiências que a levam a um processo de amadurecimento e autoconhecimento. Além disso, os contos abordam temas como a curiosidade, a busca pela identidade, a superação de medos e o confronto com o desconhecido. A Menina é representada como alguém que se lança em jornadas internas e externas, buscando compreender a si mesma e o mundo ao seu redor, mesmo que isso signifique enfrentar seus próprios fantasmas e desafios.

Já a sessão 'vermelhos', se inicia com o conto 'retalhos com muitas histórias', narra a história de uma mulher que acorda em uma cama confortável e aconchegante, coberta por uma colcha feita de retalhos com diferentes texturas, cores e cheiros. Cada retalho conta uma história ou mensagem, como resiliência, amor, alegria, solidão e poesia. A mulher vai descobrindo essas histórias ao tocar e sentir os retalhos, e cada um deles desperta emoções e lembranças diferentes. Ela se maravilha com as mensagens presentes na colcha e reflete sobre a importância de valorizar as coisas simples e desimportantes da vida. Ao final, a mulher é levada a refletir sobre a beleza e significado da existência, mostrando a importância de cultivar os sonhos e a fé mesmo nos momentos mais difíceis.

O conto 'o caminho', narra a história de um mulher que se depara com dois desvios e escolheu o da esquerda sem pensar muito. Ao seguir por esse caminho, ela se viu em um trajeto árido e desprovido de vida, com um céu que anunciava uma tempestade iminente. Mesmo assim, ela continuou sua jornada, sentindo dentro de si um inverno de ventanias e mágoas. Mesmo sem encontrar água, trovões ou flores, ela seguiu adiante até chegar a uma caatinga, repleta de espinhos e árvores secas. A Mulher percebeu então que suas escolhas podem levá-la a lugares desconhecidos e desafiadores, onde ela terá que enfrentar seus medos e conflitos internos.

O resumo 'ilusão e encontro', narra a história de uma mulher andarilha, cansada de tantas procuras, começa a perceber que o mundo é sempre o mesmo, mas seu olhar consegue enxergar diferentes realidades. Questiona se sua busca é uma ilusão e anseia por encontrar algo autêntico. Perdida em pensamentos, decide apenas sentir, sem tentar nomear as sensações. Através do contato com seu cachorro, encontra o acolhimento e a compreensão que tanto buscava, percebendo que o verdadeiro diálogo está no encontro sincero com os outros.

"Amar elos vermelhos" é uma obra que nos transporta para um universo repleto de emoções e reflexões profundas. A autora Márcia Meia Bastos consegue criar narrativas envolventes e personagens cativantes, que nos levam a refletir sobre temas como identidade, medo, solidão e esperança. Os contos apresentados nas sessões "amarelos" e "vermelhos" possuem uma conexão intrínseca, permitindo uma imersão ainda maior na experiência de leitura. A forma como cada história é construída, com delicadeza e sensibilidade, nos faz sentir parte do mundo criado pela autora. "Amar Elo Vermelhos" é uma obra que nos desafia a olhar para dentro de nós mesmos e a refletir sobre as nossas próprias experiências, tornando-se uma leitura enriquecedora e inspiradora.

O tratado de Tordesilhas: divisão de terras e poder entre Portugal e Espanha


O Tratado de Tordesilhas foi um acordo internacional assinado na cidade espanhola de Tordesilhas em 7 de junho de 1494. Foi celebrado entre o Reino de Portugal e a Coroa de Castela para dividir terras "descobertas e ainda por descobrir" por ambas as Coroas fora da Europa. . Este tratado surgiu como resultado da oposição portuguesa às reivindicações castelhanas que surgiram da viagem de Cristóvão Colombo um ano e meio antes, onde reivindicou oficialmente o que hoje é conhecido como o Novo Mundo para a Rainha Isabel I (1474-1504). 

De acordo com o tratado, a linha de demarcação é definida como 370 léguas a oeste da Ilha de Santo Antão, no arquipélago de Cabo Verde. Esta linha situava-se a meio caminho entre estas ilhas (então portuguesas) e as ilhas das Caraíbas descobertas por Colombo, referidas como "Cipango" e Antilia. Os territórios a leste deste meridiano pertencem a Portugal enquanto os a oeste pertencem a Castela. Em 2 de julho, Castela a ratificou, seguida por Portugal em 5 de setembro de 1494. Algumas décadas depois, durante a "questão das Molucas", outra divisão ocorreu com um antimeridiano sendo tomado como linha de demarcação em direção ao paralelo de Tordesilhas no Tratado de Saragoça datado de 22 de abril de 1529. 

Estiveram presentes do lado português Rui de Sousa, Senhor de Sagres e Beringel, seu filho João Rodrigues de Sousa, Chefe Almocaden, e Aires de Almada, juiz de processos cíveis no tribunal e auditor real; Estêvão Vaz foi secretário da embaixada com testemunhas como João Soares de Siqueira, Rui Leme e Duarte Pacheco Pereira. De Castela e Aragão juntaram-se D. Henrique Henriques - mordomo-chefe -, D. Gutierre Cardenas - comandante-chefe -, juntamente com o Dr. Rodrigo Maldonado que foram coadjuvados por Fernando Alvarez Toledo como seu Secretário - trouxeram também outras três testemunhas: Pero De Leon Fernando Torres e Fernando Gamarra.

No contexto das Relações Internacionais, a sua assinatura ocorreu num período de transição entre a hegemonia papal - até então poder universalista - e a afirmação do poder singular e secular dos monarcas nacionais, uma das várias facetas da transição da Idade Medieval para a Idade Moderna.

D. João II de Portugal (1477, 1481-1495) nomeou sua prima de Castela (filha de uma infanta portuguesa), D.Rui de Sousa, como embaixador para as negociações e assinatura do Tratado. Os documentos originais estão atualmente arquivados no Arquivo Geral das Índias na Espanha e também no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Portugal.

Em 1750, o Tratado de Tordesilhas deixou de vigorar com a assinatura do Tratado de Madrid - quando ambas as Coroas estabeleceram novos limites fronteiriços para a divisão territorial nas colônias sul-americanas. Eles concordaram que rios e montanhas seriam usados ​​para demarcar essas fronteiras.

A história da formação do Brasil


A formação do território brasileiro foi resultado de um extenso período, nenhum processo de expansão ocorreu após a chegada dos portugueses em 1500 e se estendeu até pouco depois da transformação do país em uma república. No entanto, já nos primeiros anos do século XV o tema começou a ser delineado.

Com o tempo, as navegações tornaram-se cada vez mais comuns entre os povos e nações como Portugal e Espanha. Esses países investiram em expedições marítimas de grande porte para alcançar as Índias Orientais, um lugar conhecido por seu intenso comércio de especiarias.

Ambos os reinos partiram para explorar novas rotas. Os portugueses encontraram uma nova rota e navegaram ao longo da costa africana. Enquanto isso, os espanhóis tentavam encontrar um caminho inexplorado, que os levasse a descobrir um continente inteiro: a América. Logo após as suas descobertas, ambos os países começaram a disputar a propriedade desta massa de terra recém-descoberta. Após alguma deliberação, chegaram a um acordo para a criação de uma linha meridiana que se situaria a 370 léguas (1786 km) da ilha de Cabo Verde, em África, de modo a demarcar claramente estes territórios.

Dessa forma, o Tratado de Tordesilhas foi estabelecido em 1494. Esse acordo determinou os limites das terras sul-americanas entre Espanha e Portugal. Os territórios espanhóis situavam-se a oeste do meridiano, enquanto as áreas portuguesas ficavam a leste deste ponto. É dentro desses domínios portugueses onde nos dias atuais localiza-se o Brasil.

Além do mais, um dos principais objetivos do Tratado era estabelecer a paz entre Portugal e Espanha no que diz respeito à nova terra descoberta. Como resultado dessa pacificação, os portugueses puderam finalmente explorar o novo território. A primeira ocupação portuguesa no atual Brasil ocorreu já durante o século XVI na região costeira nordestina onde iniciaram algumas atividades econômicas.

Nos primórdios, as principais atividades econômicas consistem no ciclo da cana-de-açúcar e na exploração do pau-brasil. Naquela época, o açúcar não era muito conhecido ou utilizado na Europa; por isso a produção era altamente direcionada para exportação ao exterior. Como consequência desse crescimento das exportações, surgiram diversos centros urbanos importantes e cidades portuárias de grande relevância histórica.


À medida que as cidades se expandem e a urbanização se torna cada vez mais comum no território onde os portugueses se estabeleceram, surgiu a ideia de explorar mais o continente. O ciclo económico da cana-de-açúcar continua a prosperar e, gradualmente, a pecuária - criação de gado - estendeu-se para dentro do país.

Além da produção pastoril, durante as missões de exploração na atual região Norte do Brasil, os exploradores conseguiram encontrar especificidades locais e iniciaram uma busca mais ampla pelas chamadas “drogas do sertão”. Estas especiarias também serviram como uma estratégia positiva de exportação para a Europa, uma vez que não tinham acesso a esta matéria-prima.

Com isso, as Índias navegaram pelo território brasileiro. O Brasil se tornou uma peça importante para o comércio português durante suas navegações coloniais. Produtos como guaraná, salsa, cravo e canela tiveram alto valor comercial junto com o açúcar.

No final do século, um novo tipo de mercadoria (produto agrícola ou mineral) começou a aparecer nestas missões exploratórias. À medida que avançavam em direção à região Centro-Oeste do Brasil, especificamente na atual região Sudeste. Em Minas Gerais, os exploradores descobriram algo que transformaria enormemente a sua realidade nos séculos seguintes: o ouro.

Até agora, constatamos que ao longo de alguns séculos, o território brasileiro sofreu transformações. Inicialmente, havia apenas conhecimento do espaço nordestino e logo abaixo da costa já, localizando-se algumas comunidades litorâneas no estado paulista com suas vilas e cidades.

Algumas expedições rumo ao oeste levaram à ocupação de estados atuais da região norte, como Amazonas, e da região sudeste, como Minas Gerais. Apesar dessa expansão territorial ter mudado o mapa do país, ainda há áreas inexploradas até hoje.

O século XVIII ficou marcado pelo Ciclo do Ouro, uma era emblemática em que houve especial atenção e exportação de ouro, bem como outras gemas preciosas. Este período foi tão impactante que chegou a substituir produtos outros mais comercializados - como o açúcar -, já que países como Espanha e Reino Unido obtiveram-no por meio das suas colônias localizadas na América Central, fazendo assim com que as chegadas do Brasil diminuíssem.

A descoberta do ouro trouxe mudanças significativas nos padrões de ocupação e povoamento do território. Numerosos portugueses mudaram-se para Minas Gerais com ambições de desenvolver negócios mineiros, enquanto outros do Nordeste do Brasil também migraram para esta região por razões semelhantes. Como resultado, estima-se que a população quase dobrou devido à alta demanda por esse novo recurso brasileiro.

Toda essa comoção e movimentação populacional, provocada pela novidade, também alterou o número de indivíduos instruídos que foram treinados para administrar o dinheiro de forma eficaz e tornar os negócios cada vez mais lucrativos. Esta expansão do ouro aumentou a quantidade de cidades, alterou as suas estruturas em conformidade e desenvolveu-se em resposta às suas necessidades.

As necessidades evoluíram e tiveram impacto na estrutura laboral, afetando os trabalhadores que mantinham o ritmo de trabalho constante. O século XVIII ficou marcado pelo uso crescente da mão-de-obra causada pela escravidão.

Os povos indígenas e africanos, trazidos em navios mercantes, foram submetidos a condições de trabalho que não correspondiam ao seu bem-estar. E esses maus tratos aos trabalhadores estavam apenas começando.

Durante o início do século XIX, ocorreu um acontecimento que teve grande impacto no território brasileiro e também despertou interesse em diversos países europeus. A vinda da família real portuguesa para o Brasil simbolizou uma renovada relação entre a colônia e sua metrópole.

A inovação também chegou ao território nacional, trazendo muitas novidades reais e novas oportunidades de negócios com os países europeus. Além disso, a chegada de milhares de imigrantes europeus iniciou uma vasta diversificação cultural para o Brasil. Em termos de economia, tanto o ciclo do café na região Sudeste quanto o ciclo da borracha na região Norte modificaram mais uma vez qual produto era mais extraído desta terra - passou a ser fortemente exportado também.

Nessa época, territórios como os atuais Uruguai e Guiana Francesa foram anexados pelo Brasil. Porém, logo após sua incorporação ao país, o Brasil retirou-se da Guiana Francesa; após a sua independência, a região Cisplatina foi resolvida com o estabelecimento da República Oriental do Uruguai.

A expansão de novas comunidades e a descoberta de ciclos econômicos inovadores não apenas na ampliação territorial, mas também no desenvolvimento das vilas. Estes locais evoluíram em grandes cidades urbanizadas que se transformaram em centros financeiros prósperos, impulsionando um surto populacional significativo - a contagem demográfica foi estimada em 3,2 milhões de habitantes no ano de 1800 chegando a aproximadamente 17,4 milhões ao final do século XIX.

Estes dados demonstram o crescimento populacional no século e como também conduziu a um desenvolvimento mais concreto das áreas urbanas, fortalecendo ainda mais o poder sobre o território nacional com a chegada da corte de Portugal.

À medida que o século XIX se transformava no século XX, o Brasil teve que se acostumar com seu novo regime governamental: a República. Desde a sua proclamação em 1889, o Brasil passou por mudanças estruturais como divisão de estados que antes eram províncias e alterações nos métodos de expansão territorial.

Durante a época colonial e em certas graças durante o império, as missões de exploração foram empregadas pelo Brasil como meio para considerar, anexar e administrar novos territórios. Todavia, na república já se tinha conhecimento das regiões habitáveis ​​do nosso continente. Será que ainda restava espaço para o governo brasileiro conquistar?

No início do século XX, ocorreram duas conquistas significativas que ajudaram a moldar o atual território do Brasil. Após disputas diplomáticas com a França – que governava a Guiana Francesa – o Brasil recuperou uma faixa de terra que reconheceu como sua. Esta área hoje é conhecida como estado do Amapá e foi incorporada ao estado do Pará.

Além disso, o destaque da época foi a incorporação do atual estado do Acre através de um conflito com a Bolívia que culminou na transferência das terras e no pagamento de preocupação ao país vizinho por intermédio do Tratado de Petrópolis.

Agora que você chegou até aqui, vamos compartilhar um fato fascinante sobre o território brasileiro. Em comparação com a expansão territorial dos EUA - que também progrediu para oeste como no caso do Brasil - o Brasil iniciou seu processo de expansão muito antes de sua independência (1822), enquanto os EUA só começaram após conquistar a independência (1776).

Se não fosse pela conquista do Acre em 1903, o Brasil teria completado sua expansão total antes dos Estados Unidos em 1853, após perder o território da Cisplatina desde 1828. Conseqüentemente, o Brasil manteve essencialmente o mesmo território desde sua independência, enquanto os americanos iniciavam sua processo de expansão somente após alcançar a independência.

Ao longo dos séculos, presenciamos mudanças significativas em diversos setores. No entanto, a história da expansão territorial do Brasil é extensa e influenciou profundamente o que conhecemos hoje como país. Cada avanço desde o século XV até os primórdios do XX molda a nossa realidade presente.

A Princesa Isabel: A redentora da coroa brasileira

Foto: Princesa Isabel / Wikki Commons

Isabel do Brasil (nascida no Rio de Janeiro em 29 de julho de 1846 e falecida na UE em 14 de novembro de 1921), apelidada de "A Redentora", era a Princesa Imperial e presumível herdeira do trono do Império Brasileiro. Ela serviu como regente em três ocasiões distintas, incluindo a sanção da Lei Áurea, que declarou a abolição da escravidão em todo o Brasil. Como filha mais velha do Imperador D. Pedro II e da Imperatriz D.Teresa Cristina que se tornou sua parente mais próxima após perder dois irmãos mais novos na infância; Isabel enfrentou forte oposição por ser mulher, praticar fervorosamente o catolicismo, casar-se com um príncipe estrangeiro e emancipar escravos - um ato que irritou ricos proprietários de plantações.

Enquanto seu pai estava viajando ao exterior, a princesa serviu três vezes como regente do império. Durante o seu último mandato, Isabel promoveu e sancionou a Lei Áurea de 1888 que aboliu a escravatura. Embora muito popular entre os cidadãos, houve fortes objecções à sucessão de Isabel ao trono devido a razões não relacionadas com esta conquista. Ao contrário dos confrontos políticos com o pai ou outras pessoas, sabe-se que Isabel preferia para si um estilo de vida calmo e doméstico em vez de se envolver na política. Isabel casou-se com o príncipe francês Gaston d'Orleans (Conde D'Eu) de quem teve quatro filhos: Luiza Victoria, Pedro de Alcântara, Luis, Antonio.

Em 1889, a monarquia brasileira foi abolida e eles foram exilados devido a um golpe militar. Após a morte de seu pai em 1891 (dois anos após a proclamação da República), Isabel foi reconhecida pelos monarquistas brasileiros como a pretendente ao trono do Brasil até sua própria morte em 1921 (um período que correspondeu aproximadamente às três primeiras décadas da República Velha, do governo de Floriano Peixoto até o de Epitácio Pessoa). Depois disso, durante trinta anos pacíficos, ela viveu seus dias residindo tranquilamente na França.

O exílio

No dia 7 de dezembro de 1889, a família imperial chega a Lisboa. Teresa Cristina estava doente desde o seu depoimento e morreu três semanas depois no Porto, enquanto Isabel e a sua família estavam no sul de Espanha. A princesa regressou a Portugal e desmaiou durante o funeral da mãe. Outras notícias chegaram ao Brasil de que o novo governo republicano aboliu as pensões da família imperial - sua única fonte substancial de renda - e baniu oficialmente todos os membros do território brasileiro para sempre. Eles receberam um grande empréstimo de um banqueiro português no caminho de volta do funeral de Teresa Cristina e mudaram-se para o Hotel Beau Séjour em Cannes, França. 

Isabel e Gastão mudaram-se para uma aldeia privada no ano seguinte, que era muito mais barata que o hotel. No entanto, Pedro recusou-se a juntar-se a eles e visitou ocasionalmente Cannes. O príncipe Francisco, tio de Gastão, concedeu ao casal uma mesada mensal. Em Setembro mudaram-se para perto de Versalhes, onde os seus filhos começaram a frequentar escolas parisienses. Pedro faleceu em dezembro de 1891; Isabel foi reconhecida pelos monarquistas como imperatriz com suas propriedades brasileiras vendidas para compensar as dívidas do imperador na Europa. Isabel e Gaston viviam tranquilamente na villa Bolonia-Billancourt. Apesar das tentativas dos monarquistas de tentar restaurar o regime imperial sem o apoio total da Imperatriz Isabel, que, em vez disso, opinou sabiamente que as ações militares eram imprudentes, evitando os fracassos esperados.

Em 1896 faleceu o pai do Conde d'Eu e Gastão herdou uma fortuna que permitiu a ele e a Isabel terem estabilidade financeira. Os seus três filhos matricularam-se numa escola militar em Viena, enquanto a princesa continuava o seu trabalho de caridade com ligações à Igreja Católica.  Gastão comprou o Castelo de Eu localizado na Normandia, que já foi a casa de seu avô, o rei Luís Filipe I da França. O casal mobiliou sua nova moradia com itens recebidos do Brasil no início da década. 

Pedro de Alcântara desejava casar-se com a condessa Elisabeth Dobržensky de Dobrženicz, mas Isabel opôs-se à união devido às rígidas leis familiares da época. O herdeiro de um trono só poderia casar com uma princesa de sangue real. Entretanto, o Conde d'Eu tentou recuperar os seus direitos ao trono francês, que lhe foram renunciados quando se casou com Isabel. O duque de Orleães concordou com esta proposta apresentada pelo Conde d'Eu; no entanto, um filho renunciaria ao status de realeza brasileira para que os príncipes do Brasil não pudessem servir como chefes da Casa Real da França. Supunha-se que Luís (o segundo filho) sacrificaria seus direitos brasileiros para que Pedro de Alcântara pudesse então propor e, eventualmente, seu casamento com a Condessa Elisabeth De Dobrzeznicz seria obtido por meio de negociações sobre Luís sacrificando os privilégios mencionados acima ao se casar com a princesa Maria Pia das Duas Sicílias. Luís Luís viajou pelo mundo antes de desembarcar, tendo sua entrada proibida no Brasil alguns anos depois, ao lado do irmão Antônio, que se juntou às forças do exército britânico lutando em seu nome, uma vez que eles próprios foram proibidos de prestar serviço militar durante a Primeira Guerra Mundial em outras fileiras que não as divisões de infantaria terrestre, após o que Antonio morreu logo após um ataque. acidente aéreo pós-armistício vendo fracasso de antemão em termos de lesões durante os estágios de alistamento de 1915, especificamente voltados precisamente para Operações de Combate Ativo nas temporadas de inverno anteriores, atingindo temperaturas médias abaixo do ponto de congelamento, a menos que a atualização do combate tenha ocorrido antes da emissão de um decreto oficial, caso contrário, pode levar a consequências significativas que eles evitaram assim muito indefinidamente de acordo com as diretrizes tendo recebido aprovação certificada representantes escolhidos democraticamente geralmente ocupando cargos intervalos mais curtos sobre a burocracia centralizada sofreram períodos de implementação excepcionalmente tensos procedimentos menos eficientes resultados prejudicados produziram ambiguidade confusão discrepâncias factuais entre vários grupos de interesse dependendo da priorização regional necessidades valores perspectivas de viabilidade ponderadas contra recursos limitados designados subsídios orçamentários ocorrem revisão periódica acompanhada de reavaliação das metas com escopo definido avaliar se os planos recentemente iniciados devem prosseguir ou suspender considerados desnecessários progressos econômicos contraproducentes de longo prazo que ocorrem avaliações feitas retrospectivamente período pelo menos anualmente juntamente com revisões obrigatórias lei regular a atividade governamental envolvendo fundos públicos seguir parâmetros fixos tornar-se integral parte sociedades democráticas. Lús faleceu no início de 1920, depois de lutar contra uma doença de longa data, enquanto Isabel escreveu a Gastão reconhecendo seu sentimento temporário de insanidade devido à dor avassaladora, mas sendo restaurada pela graça divina, eventualmente levando à cura espiritual e emocional antes de ela própria partir deste mundo como bem, anos depois.

A saúde da princesa começou a piorar e em 1921 ela mal conseguia andar. Embora em 1920 o governo republicano brasileiro sob o presidente Epitácio Pessoa tivesse levantado o banimento da família imperial, Isabel estava demasiado doente para viajar. Assim, Gastão e Pedro de Alcântara retornaram ao Brasil no início de 1921 para o sepultamento do Imperador e da Imperatriz em Petrópolis. Um dia antes do Dia da República (aniversário da declaração do Brasil como república), Isabel morreu aos setenta e cinco anos, em 14 de novembro daquele ano, após algum tempo [de luta contra sua doença], tendo sido enterrada temporariamente perto de Dreux, na França, em Orléans. Mausoléu. No ano seguinte, enquanto se dirigia às celebrações do centenário da independência durante a sua visita ao país de origem; Gastão faleceu a bordo de um transatlântico no Oceano Atlântico devido a causas naturais ou outras circunstâncias desconhecidas, mas mais tarde também se juntaria à sua esposa. Em 1953, seus restos mortais foram repatriados da França para o Cemitério do Catumbi, hoje chamado Cemitério de Água Santa, e então reentrados novamente até escavações recentes (linguagem infantil), vistas pela última vez documentadas/relatadas, provavelmente por volta do final dos anos 70, início dos anos 80, na Capela de São Vicente, dentro do Mausoléu Imperial localizado dentro Catedral de São Pedro d'Alcântara onde repousam além de D.Pedro II e Teresa Cristina.

A saga da escravidão no Brasil: das capitanias hereditárias à Lei Áurea


Por volta da década de 1530, quando os portugueses estabeleceram as primeiras medidas efetivas de colonização no Brasil, a escravidão foi instituída como prática. Inicialmente direcionado aos nativos do país, uma tendência mudou gradativamente para a predominância da escravização dos africanos que foram trazidos ao país pelo comércio negro entre os séculos XVI e XVII.

A escravização no Brasil atendeu à demanda portuguesa por trabalhadores manuais (um tipo de trabalho que eles desprezavam) e, durante os séculos XVI e XVII, isso estava relacionado principalmente ao cultivo da cana-de-açúcar. Inicialmente, os portugueses utilizaram um sistema de troca com os povos indígenas como forma de relações laborais, mas rapidamente optaram pela escravatura.

O Brasil sofreu com a malevolência da escravidão, transportando um volume imenso de africanos durante três séculos. De tal forma que o estereótipo do trabalhador cativo em solo nacional se coligou com a aparência negra. Isso é uma indicação clara dos preconceitos raciais subjacentes ao regime servil no país.

A crueldade e desumanidade da escravidão no Brasil ainda são perceptíveis, mesmo após mais de 130 anos desde a abolição. A pobreza, a violência e a discriminação enfrentadas pelos negros refletem diretamente um país que normalizou o preconceito contra esse grupo marginalizado na sociedade.

É importante que nos lembremos de que a escravidão afetou milhões de indígenas e perpetuou o preconceito contra este grupo em nosso país. O resultado direto disso foi não só o racismo, mas também uma redução drástica na população desses povos desde os tempos coloniais até hoje - enquanto havia milhões no século XVI, agora restam apenas cerca de 800 mil registrados pelo IBGE.

Também é possível acessar: Compreenda como se deu a batalha dos escravos pela extinção no século XIX.

Origem da escravidão no Brasil


O sistema escravista foi introduzido no Brasil durante as primeiras décadas da colonização, especificamente em 1530, quando os portugueses implementaram as capitanias hereditárias e começaram a colonizar a América portuguesa. Antes dessa época, a mão-de-obra para a exploração portuguesa do Pau-Brasil dependia de uma relação comercial com os povos indígenas.

A partir de 1534, os portugueses implementaram capitanias hereditárias e começaram a promover o cultivo da cana-de-açúcar, bem como a construir engenhos para a produção de açúcar. Por se tratar de uma atividade de mão-de-obra intensiva que exigia trabalhadores qualificados, recorreram à escravatura para superar a falta de mão-de-obra; eles não estavam dispostos a realizar eles próprios um trabalho tão árduo. Como resultado, os povos indígenas suportaram inicialmente o peso da escravização.

Até meados do século XVII, os nativos eram a principal fonte de trabalho escravo utilizada pelos portugueses. No entanto, posteriormente eles ficaram em segundo lugar para os africanos que superaram o seu número. Embora fosse mais fácil e menos dispendioso para os colonizadores portugueses escravizar um indígena ao invés de um africano, diversas complexidades surgiam com esta prática.

Inicialmente, havia uma questão cultural a ser considerada, pois os povos indígenas não estavam habituados à ideologia de trabalho constante para gerar excedente dentro da cultura europeia. Além disso, os jesuítas viam neles possíveis seguidores do catolicismo - um conflito que causou grandes empecilhos já que os colonizadores desejavam escravizar completamente tais indivíduos enquanto o clero criava barreiras contra isso.

Frequentemente ocorriam conflitos entre colonos e jesuítas, sendo comum bandeirantes atacarem as missões para capturar os índios ali instalados e vendê-los como escravos. Apesar disso, a pressão dos jesuítas contra a escravidão indígena poderia gerar problemas legais aos colonos que não os subjugassem durante uma "guerra justa".

Em 1570, a pressão exercida pelos jesuítas sobre a Coroa levou à promulgação de uma lei que proibia a escravização dos indígenas. No entanto, mesmo com tal determinação legal em vigor, os índios continuaram sendo submetidos ao cativeiro - sobretudo nas regiões menos prósperas economicamente e quando havia exceções no envio de africanos para o tráfico.

Outro obstáculo à escravização dos povos indígenas foi a sua suscetibilidade a doenças como varíola, gripe, sarampo, etc. A falta de defesa biológica foi um fator determinante na história da colonização na América. Ao longo deste período ocorreram inúmeras epidemias que mataram milhares de povos indígenas. Além das doenças, as taxas de mortalidade entre as populações indígenas também resultaram da guerra e da própria escravidão.

Durante a década de 1570, os indígenas eram chamados de “negros da terra” e custavam até três vezes menos que um escravo africano. O historiador Stuart Schwartz afirmou que nesse período um escravo indígena custaria cerca de 7 mil reais enquanto um africano poderia ser vendido por aproximadamente 20 mil reais. Durante esta época, demorava um mínimo de treze meses, mas normalmente entre treze e dezasseis meses, até que um senhor recuperasse o seu investimento ao comprar um indivíduo escravizado de África.

Como mencionamos, os indígenas eram a principal mão de obra escrava até meados do século XVII, e há inúmeras pesquisas que mostram que o número de escravos indígenas era maior nos engenhos instalados pelo país. Essa situação começou a mudar gradativamente, e foi a prosperidade da economia canavieira que permitiu que lugares como Pernambuco e Bahia recebessem tantos africanos.

Escravização

Por Jean-Baptiste Debret - Wilfredo Rafael Rodriguez Hernandez, Domínio público,

No Brasil, a partir da década de 1550, os primeiros africanos foram trazidos através do comércio escravo praticado pelos portugueses ao longo de três séculos. Anteriormente à época das chegadas dos africanos no país sul-americano, Portugal já mantinha feitorias na costa africana e relações comerciais com reinos locais que incluíam o tráfico de escravizados.

À medida que a colonização do Brasil avançava, a demanda por mão de obra tornou-se tão grande que estimulou um comércio próspero em grande escala. O sucesso do comércio de escravos negros está, portanto, ligado a esta necessidade de trabalhadores na colónia e revelou-se altamente lucrativo não só para os traficantes, mas também para a Coroa.

Ao longo dos 300 anos de tráfico de negros, aproximadamente 4,8 milhões de africanos foram trazidos para o Brasil, tornando nosso país o que mais recebeu africanos escravizados ao longo de três séculos em todo o continente americano.

Inicialmente, os escravos africanos foram empregados para suprir as demandas de produção açucareira em nossas fazendas. A existência destes indivíduos foi severa e destacada pela brutalidade dos proprietários e das figuras coloniais do poder. A carga laboral diária estende-se até 20 horas por dia, sendo o trabalho nas instalações mais extenuante e arriscado comparativamente às atividades que afetam nos campos agrícolas.

Os engenhos - onde a cana-de-açúcar era esmagada para a extração do caldo - eram locais comuns de acidentes, resultando na perda de membros ou braços dos escravos. Nas fornalhas e caldeiras – onde era cozido o caldo da cana – as queimaduras eram os acidentes mais frequentes que atingiam os escravos. Esta etapa do trabalho era tão cansativa que era reservada aos escravos rebeldes e fugitivos.

Algumas grandes plantações passaram a possuir 100 ou mais escravos, o que significa que o proprietário de escravos nem sempre tinha contato direto com todos eles. Os escravos dormiam em pisos duros, em alojamentos apertados chamados senzalas, e eram monitorados de perto em busca de qualquer tentativa de fuga. A sua dieta era escassa e inadequada, obrigando muitos escravos a complementar as suas refeições com alimentos cultivados em pequenas parcelas que cultivavam aos domingos.

Os escravos alocados na casa-grande, o domicílio do proprietário dos cativos, recebiam tratamento privilegiado em relação aos que trabalhavam no campo ou nos engenhos de açúcar. Outros foram designados para desempenhar diversos cargos nas cidades. Independentemente da função exercida, havia um contraste nítido quanto à alimentação e vestimentas entre tais grupos de indivíduos subjugados pela instituição escravocrata.

Para evitar a fuga, vários escravos foram acorrentados, enquanto outros usaram máscaras de ferro. No caso da região mineradora, usamos uma máscara de Flandres para evitar que engolissem diamantes ou evitassem embriaguez e até o suicídio por ingestão de terra.

O propósito da violência sistemática contra os escravos era instilar medo em relação aos seus senhores e evitar fugas e rebeliões. No entanto, para as escravas, esse tipo de violência assumia um carácter ainda mais perverso: para além das dificuldades relacionadas ao trabalho imposto que já suportavam, eram frequentemente vítimas de estupro perpetradas por donos ou administradores.

Escravos rebeldes ou aqueles que cometessem delitos menores poderiam enfrentar punições severas. Entre as punições infligidas a eles, as chicotadas eram particularmente comuns. Muitos dos escravos punidos receberam 300 chicotadas ou mais – o suficiente para levar um ser humano às portas da morte.

De acordo com o relato resgatado pelo historiador Thomas Skidmore, os escravos foram submetidos a punições extremamente brutais por ofensas consideradas insignificantes. Alguns deles foram lançados vivos na fornalha ou mortos de maneiras bárbaras e desumanas, enquanto outros sofriam enforcamento ou envenenamento como forma de execução.

Entretanto, a escravização e a violência direcionadas aos africanos não eram aceitas pacificamente por eles. A história da escravidão africana no Brasil é descrita pela resistência e luta dos africanos que fugiram, criaram comunidades independentes (quilombos), se rebelaram contra seus opressores matando feitores e senhores de engenho entre outras ações revolucionárias. Alguns grandes exemplos dessa resistência foram o Quilombo dos Palmares e a Revolta dos Malês.

O fim da escravidão

A Lei Áurea foi aprovada pelo Senado e assinada pela princesa Isabel em 13 de maio de 1888, tornando o Brasil o último país do continente americano a abolir o trabalho escravo. A abolição não se deve manter a monarquia brasileira, mas sim ao engajamento popular e resistência dos próprios escravos que lutaram por sua liberdade.

O movimento abolicionista cresceu no país na década de 1870, mas um marco importante a ser considerado é a proibição do comércio negreiro através da Lei Eusébio de Queirós em 1850. Essa legislação interrompeu o fluxo contínuo de escravos para o Brasil e permitiu significativamente sua quantidade no território brasileiro.

O movimento abolicionista no Brasil se manifestou de diversas formas. Surgiram muitas associações com esse objetivo, foram organizadas conferências e eventos públicos para discutir o tema, dinheiro foi arrecadado para libertar escravos, advogados passaram a defender os direitos dos escravos junto aos seus senhores, jornalistas publicaram diversos artigos defendendo a causa da abolição e indivíduos comuns acolheram em suas casas fugitivos em busca de proteção.

Os escravos desempenharam um papel importante na subversão da instituição da escravidão, fugindo em massa ou isoladamente e criando comunidades de resistência conhecidas como quilombos. Eles também organizaram rebeliões que resultaram na morte de seus senhores. Durante uma década de 1880 houve numerosas revoltas e fugas por parte dos escravizados.

A pressão exercida pela população livre e pelos escravos tornou-se tão intensa que, no final da década de 1880, uma desordem era visível - o Império já não tinha mais controle sobre a situação. Sendo obrigado à ação por esta pressão crescente, o Império acabou promulgando em 13 de maio de 1888 a Lei Áurea.

A população reagiu à promulgação da lei com grande alegria, e as celebrações se estenderam por vários dias. No entanto, não foram adotadas medidas de apoio aos negros libertos após a abolição, o que resultou em sua marginalização contínua - sofrimento preconceito e violência -, além de terem dificuldades para acesso a possibilidades educacionais ou oportunidades justas no mercado profissional.

Goiás: Um Olhar sobre a história e a diversidade cultural no Coração do Brasil

Foto: Goiânia, GO

A chegada dos portugueses ao Brasil marca uma viragem significativa nesta parte da América, especialmente para os povos indígenas. À medida que os colonizadores europeus se instalaram, os seus costumes e herança cultural começaram a criar raízes ao longo do tempo, especialmente no que diz respeito à religião. Através do trabalho missionário dos padres jesuítas, o catolicismo tornou-se firmemente estabelecido em toda a colônia e seus territórios. Quando chegou a Goiás, no século XVIII, o catolicismo rapidamente se espalhou e ganhou forte apoio da população local. Esta tradição religiosa foi preservada mesmo após a independência do Brasil de Portugal e após o estabelecimento de um governo republicano; ambos os eventos aconteceram sem afetar muito a adesão local ou a devoção às práticas de fé católica entre pessoas que hoje se autodenominam "goianos". Os costumes foram preservados enquanto eram reimaginados através da incorporação em rituais nas experiências da vida cotidiana. O catolicismo não apenas ajudou a moldar os padrões de ocupação nas terras goianas, mas também criou elementos simbólicos relacionados especificamente em torno de atos que exigem a confiança dos devotos e que continuam influenciando os hábitos de vida religiosos individuais até hoje. 

Goiás, ou como alguns preferem chamar de “o coração do Brasil”, está localizado na região do planalto central e se destaca como um território colonizado e explorado anos após a chegada dos portugueses ao litoral brasileiro. É um dos berços da savana; lar de artistas de música, arte e literatura; uma área com grande diversidade na sua fauna e flora; cheio de inúmeros encantos, vasta riqueza cultural que é única. Sem dúvida o estado de Goiás é abençoado por sua localização - mesmo sem mares ou praias - possuindo diversos tesouros históricos aliados a belezas naturais faz com que seja admirado por muitos olhares curiosos que contemplam este local com avidez.

Goiás compartilha forte influência religiosa do catolicismo com sua nação-mãe, que desempenhou papel essencial no processo de ocupação de terras no estado. A religião também serviu como elemento fundador e responsável pela popularização das festas tradicionais que permanecem vivas nas crenças dos goianos até hoje. Dada a dinâmica presente em Goiás, este estudo se concentra em uma revisão de literatura destacando o impacto do catolicismo na formação e expansão do estado. Começa enfatizando como o catolicismo chegou a Goiás e se tornou parte integrante da identidade dos habitantes locais antes de concluir sublinhando seu fervor pela manutenção da tradição por meio de práticas de religiosidade enraizadas nas celebrações culturais ao longo do tempo.

Após o processo de colonização das terras goianas e a exaustiva exploração do ouro, Goiás encontrou seu lugar no mundo. O povo “goiano” surgiu nesse intenso período colonial criando suas próprias forças para se afirmar na região. Apesar disso, é importante ressaltar que marcas culturais deixadas pelos povos anteriores estiveram presentes em sua formação cultural. A essência da identidade "goiana" tem raízes históricas com marcante miscigenação incluindo traços dos nativos indígenas africanos negros e europeus.

Foto: cidade de Goiás "Goiás Velho"

Ser goiano é ser um indivíduo marcado por uma herança cultural forte e diversificada; trata-se de homens e mulheres corajosos e destemidos. É também um povo que não tem vergonha do seu passado, profundamente enraizado na vida campestre, onde traços distintos ainda hoje permanecem evidentes através da música, da culinária, das escolhas de vestuário e também dos maneirismos. Apesar da era contemporânea que varreu o país com seus avanços tecnológicos, deixando pouco para trás esse modo de vida folclórico que não existe há muito tempo - ainda assim, dentro de todo esse progresso, permanecem vestígios do passado entre os residentes dessas comunidades adjacentes a monumentos históricos particularmente apreciados. por ambos, valor simbólico retratando riquezas artísticas imensuráveis ​​ao lado daquelas marcas de propriedade intangíveis, antes curadas apenas na tradição ou na memória, mas agora autenticadas de forma ainda mais importante através do envolvimento retido das gerações atuais, garantindo a compreensão vital das realidades históricas, ao mesmo tempo que conservam variações ricas em histórias sociais intrincadas forjadas ao longo do tempo. elementos totalmente necessários que proporcionem orientação para encontrar caminhos equitativos que conduzam a esforços de sustentação a longo prazo.

Apesar do transcurso de dois anos, os goianos não se afastaram da tradição católica introduzida em seus costumes pelos colonizadores portugueses; pelo contrário, assumiram novas formas, mantendo ao mesmo tempo os seus fundamentos tradicionais transmitidos pelos europeus. Segundo Hoornaert (1991), a devoção popular dentro do catolicismo surgiu entre as classes mais baixas e entre os indivíduos pobres como um todo. Este autor postula ainda que esta forma de devoção popular constitui “a cultura original e mais rica que o Brasil já produziu” (ibid., p. 99) ao longo de sua história desde o início da colonização. Além disso, foi através destes mesmos ritos praticados em comunidades insurgentes que os católicos pobres preservaram mensagens evangélicas durante séculos - continuando mesmo hoje sobre a autoridade religiosa formalizada - o que pode ser a razão pela qual as devoções históricas com origens europeias ainda prosperam entre populações incivilizadas ou aqueles treinados na civilização que poderiam caso contrário, apenas os diminuiria sem que tais práticas de cultivo de base cruzassem a fé e as considerações da vida cotidiana, co-evoluindo através das gerações ao longo do tempo, mas ainda assim presentes até agora. 

O estado brasileiro de Goiás, situado na região Centro-Oeste do país, foi habitado por diversas comunidades indígenas e quilombolas, bem como por diversos grupos que contribuíram para sua história. Vários povos indígenas como os Xavantes, Caiapós, Carajás e Tapuias habitavam a região antes da chegada dos colonizadores europeus. Essas pessoas viviam em tribos dedicadas à caça, à pesca e à agricultura. Com a chegada dos colonizadores portugueses no século XVI, houve confrontos com os povos indígenas e várias comunidades foram fundadas na região. No século XVIII, Goiás se tornou um território de interesse para diversas expedições exploratórias e estabelecimentos humanos após a descoberta das minas de ouro e diamante.

Os Bandeirantes Paulistas foram os primeiros colonizadores da região a ocupá-la. Fundaram diversas vilas e vilas, como Vila Boa (atual cidade de Goiás), Arraias, Flores de Goiás e outras. Esses assentamentos tornaram-se importantes centros econômicos, culturais e políticos de destaque, com especial atenção para Vila Boa, que serviu como capital da Província de Goiás até 1937. Além dos bandeirantes, outros povos desempenharam papel na formação significativa do Estado de Goiás, incluindo negros e europeus. Originais da África como escravos para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar, arroz e algodão assim como as minas foram trazidos pelos europeus. Muitos desses indivíduos conseguiram sua liberdade com o tempo e fundaram diversas comunidades quilombolas notáveis ​​- a Comunidade Kalunga em Cavalcante é um exemplo emblemático disso.

No final do século XIX e início do século XX, os europeus - notadamente italianos, alemães e portugueses - estabeleceram-se na região com o intuito de expandir suas oportunidades agrícolas. Essa migração prévia é feita por técnicas revolucionárias para fazer florescer a economia local através da produção cafeeira e da criação animal eficientemente dirigida pelos imigrantes.

Hoje, Goiás é um estado diversificado e multicultural, com uma rica história e tradições. Sua cultura é um amálgama de diversas influências, notadamente das culturas indígena e quilombola que ainda mantêm seus costumes na região. Como tal, o Estado de Goiás representa um centro cultural vital para o Brasil, ostentando inúmeras formas de arte que celebram a sua diversidade, bem como refletem o passado do povo. A presença de diferentes etnias moldou o desenvolvimento das artes culinárias, de gêneros musicais como o sertanejo (gênero brasileiro inspirado em letras folclóricas), das expressões artísticas entre outros aspectos únicos desta localidade - fatores que revelam o que faz Goiás se destacar culturalmente.

Da Abdicação à Proclamação: A História do Hino Nacional Brasileiro

Foto: Wikki Commons

Francisco Manuel da Silva compôs a obra durante a Abdicação de Pedro I do Brasil, em 7 de abril de 1831. Sua estreia ocorreu no dia 14 do mesmo mês, na cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente no Teatro São Pedro. No entanto, foi novamente apresentado com o início das atividades legislativas em 3 de maio daquele ano e acompanhado por um drama chamado "O Dia Jubiloso para os Amantes da Liberdade" ou "A Queda do Tirano". 

O Hino oferecido aos Brasileiros por um patrício nativo, conhecido como "Hino ao 7 de Abril", foi registrado para ser executado nesta data em 1831 e nos anos seguintes. A dedicatória do compositor incluía o Grande e Heroico Dia 7 de Abril de 1831. Em 1833, uma letra escrita pelo desembargador Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva foi publicada no jornal "Sete de Abril" e aplicada pelo próprio compositor, que tinha um manuscrito da partitura com versão essa. 

A letra é marcada por um claro sentimento antiportuguês, onde o povo português é tratado com verdadeiro racismo numa passagem quando diz "Homens bárbaros, nascidos / Do sangue judeu e mouro / Desiludem-se: A Pátria / Já não é seu tesouro"; apesar de ainda pregar a unidade nacional do império e a lealdade à monarquia, os versos de Carvalho e Silva aludem a ideais republicanos. Também aludem à expansão do país após a independência do Uruguai em 1828, defendendo uma unidade nacional "do Amazonas ao Prata", como uma referência indireta à Província Cisplatina.

Durante a Coroação de D. Pedro II em 1841, uma letra desconhecida foi registrada. Além disso, Francisco Manuel da Silva compôs um hino para essa grande ocasião que gerou algum mal-entendido histórico no futuro: o historiador Sousa Pitanga erroneamente datou sua criação e Guilherme de Melo afirmou que diversas letras foram usadas com esse mesmo hino popularmente cantado na época . De qualquer forma, todos louvavam a unidade até "ao Prata" como parte dessa homenagem merecida ao rei vigente - D.Pedro II era honrado pela maioria das versões dos poemas musicados presentes nessa tradição nacional brasileira. 

Descobriu-se depois que as composições de Francisco Manuel da Silva foram usadas mais tarde em outros eventos importantes tambérem relacionamento com Dom PedroII - tal como quando Carlos Augusto Taunay escreveu um poema especial durante mostruosidades celebrando seu casamento no dia 13 de setembro do ano- -este famoso Hino Nacional esteve entre os destaques musicais apresentados por esta importante cultura brasileira em suas cerimônias puxadas.

Com a ascensão dos conservadores ao poder e a coroação de Pedro II, o Hino à Independência composto por Pedro I foi ressurgido como hino oficial da nova nação. A figura de Pedro I se tornou um "herói" nacional, resultando no esquecimento da letra de Carvalho e Silva e comemoração do 7 de abril como data importante. Essa versão alternativa se popularizou nas décadas seguintes através da publicação das partituras para execução particular - principal meio utilizado para divulgação musical na época - apresentando uma letra que repetia o estribilho original. 

Com a chegada da Proclamação da República, o mesmo hino monarquista apareceu. Surgiu então uma história que se relatou até em livros escolares, segundo a qual ao ouvir as músicas inscritas num concurso de composições musicais propostas pelo marechal Deodoro da Fonseca - chefe do governo provisório -, ele teria declarado "prefiro o velho". Em outubro de 1888 foi composto um novo hino para substituir La Marselhesa, cantada pelos republicanos até aquele momento; esse também aconteceu por meio de um concurso promovido por Silva Jardim. Entretanto, com o advento do regime republicano recém-estabelecido não permitiu qualquer divulgação dessa nova música escrita pelo farmacêutico Ernesto Souza. Portanto em novembro 22º dia no ano seguinte (1889) abriu-se outro concurso oficial organizado pelo Ministério do Interior e liderado por Aristides Lobo idealizado José Rodrigues Barbosa para selecionar um novo hino brasileiro contando como membros Leopoldo Miguez, Alfred Bevilqua Rodolfo Bernardelli e Rodolfa Amorado. 

O concurso de 1889 permitiu a participação de músicos "eruditos e populares". No entanto, temendo que ritmos africanos pudessem ser incluídos em tal competição, o crítico musical Oscar Guanabarino iniciou uma campanha em 4 de janeiro de 1890 usando vários pretextos, incluindo razões patrióticas, para argumentar contra a mudança do hino militar do Brasil, que ele afirmava ter sido usado por Deodoro durante a Guerra. do Paraguai. Este apelo foi apresentado ao Ministro da Guerra, Benjamin Constant, no dia 15 de Janeiro, pelo Major Serzedelo Correia, que o convenceu com sucesso a alterar o objectivo do próximo concurso, de determinar novos hinos militares para seleccionar um hino de proclamação nacional. Esta última foi finalmente vencida por Leopoldo Miguez, conforme reconhecido oficialmente no decreto número 171 de 20 de janeiro de 1890. 

O governo provisório reconheceu oficialmente a música, mas não a letra, através do Decreto 171 de 1890. A execução da mesma era realizada exclusivamente por instrumentos; no entanto, mesmo essa execução carecia de uniformidade, o que levou o compositor Alberto Nepomuceno a sugerir uma reforma do hino ao presidente Afonso Pena em 1906. 

Em 1909, foi realizado um concurso para selecionar uma letra que acompanhasse a já aceita composição oficial do Brasil. Hino Nacional. Devido ao seu perfeccionismo, Duque-Estrada fez alterações em novas passagens desde então até sua adoção oficial em 1922.  Porém, não houve consenso sobre a letra e tornou-se objeto de acalorados debates tanto na imprensa quanto no parlamento. Consequentemente, foram aprovadas às pressas para execução durante as comemorações do primeiro centenário do Brasil após a independência, em setembro de 1922. 

Em 21 de agosto de 1922, a União adquiriu a propriedade plena e definitiva da carta por R$ 5.000 (cinco mil reais) por meio de decreto número 4.559 emitido pelo então presidente Epitácio Pessoa. 

Em 1917, o cantor Vicente Celestino foi o primeiro a gravar o Hino Nacional acompanhado pela Banda do Batalhão Naval e um coral durante os refrões. A tonalidade B bemol desta versão tornou a interpretação difícil para as pessoas. A banda tocava em ritmo mais lento e solene no acompanhamento de Celestino, mas mantinha seu estilo tradicional (mais rápido e animado) apenas nos refrões - essa variação levou uma comissão oficial responsável pela reavaliação dos hinos nacionais a apreciá-la em 1936, ao mesmo tempo que causou insatisfação entre as bandas militares de daquela vez. No entanto, esta versão foi oficializada em 1922.

Pedro e a Proclamação da Independência do Brasil: O Grito do Ipiranga e a Aclamação como Imperador


Dom Pedro I foi para a região de São Paulo com o objetivo de garantir a fidelidade dos habitantes em relação ao movimento pela independência do Brasil. Ele chegou à capital no dia 25 de agosto e chegou lá até o dia 5 de setembro.

Durante uma viagem, Leopoldina, sua esposa, casou-se com o regente. Ao se deparar com os critérios de Portugal para que ambos retornassem a Lisboa, convocou uma sessão extraordinária do Conselho de Estado para 2 de setembro de 1822 e junto com os ministros decidiu pela separação definitiva do Brasil de Portugal. Ela então assinou a declaração de independência antes de enviar o mensageiro Paulo Bregaro para informar Pedro sobre o ocorrido.

No dia 7 de setembro, ao retornar à província do Rio de Janeiro, Pedro recebeu uma carta de José Bonifácio e Leopoldina. O príncipe foi informado de que todas as ações do gabinete de Bonifácio foram invalidadas pelas Cortes e o pouco poder que ainda detinha foi retirado. Dirigindo-se aos seus associados - incluindo a sua Guarda de Honra - Pedro declarou a famosa declaração: "Amigos, as autoridades portuguesas procuram escravizar-nos e perseguir o nosso povo. A partir de hoje, já não estamos unidos." Ele então arrancou o símbolo azul e branco que representava Portugal enquanto implorava aos seus soldados: "Retirem suas insígnias! Viva a independência! A liberdade no Brasil está em jogo!" desembainhando sua espada agora brandida para dar ênfase, declarando: "Pela minha linhagem; Minha honra diante de Deus acima de todas as coisas - juro que [meu dever] será garantir a liberdade no Brasil". Finalmente acrescentando enfaticamente: “Independência ou morte!”. Esse evento mais tarde ficaria conhecido como Grito do Ipiranga.

Segundo as literaturas históricas de Cintra (1922, p. 38) e Pimenta (1972, p. 81), a proclamação da independência do Brasil através do Grito do Ipiranga ocorreu desta maneira:

Ao chegar em São Paulo na noite de 7 de setembro do ano de 1822, Pedro e seus acompanhantes comunicaram a notícia da independência do Brasil ao domínio português. O príncipe foi recebido com uma grande celebração popular, sendo aclamado tanto como o "Rei" quanto como o "Imperador" do país. Em seguida ele passou até o Rio de Janeiro onde nos dias seguintes foram divulgados panfletos (escritos de Joaquim Gonçalves Ledo), confirmando que Pedro foi declarado Imperador Constitucional. No dia 17 de Setembro José Clemente Pereira, Presidente Municipal Do Rio De Janeiro invejo para as outras municipalidades brasileiras a notificação oficial Aclamação seria realizada no aniversário ("Dia das Crianças"), em 12 outubro. Logo após esse acontecimento foram estabelecidas novas bandeiras bem diferentes e brasões também diferenciados dos antigos aos quais representariam assim um novo nascimento livre imparcial desde então.

A separação oficial de Portugal só ocorreu em 22 de setembro de 1822 através de uma carta escrita por Pedro a João VI. Na correspondência, Pedro ainda se refere a si mesmo como “Príncipe Regente”, enquanto seu pai é tratado como Rei do Brasil Independente. No dia 12 de outubro, no Campo de Santana (mais tarde conhecido como Campo da Aclamação), o Príncipe Pedro foi aclamado Dom Pedro I - Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil, marcando simultaneamente o início de seu reinado e do Império Brasileiro. Porém, ficou claro que se Dom João VI voltasse ao Brasil, então apesar de aceitar este título; ele abdicaria em favor dele, por decreto imperial.

O título imperial foi escolhido com a intenção de simbolizar a continuidade da tradição dinâmica portuguesa, enquanto o título de rei poderia ser visto como uma manifestação do temido absolutismo. Além disso, o próprio processo de aclamação popular na antiga Roma serviu como inspiração para essa decisão. Em 1º dezembro de 1822 - data que marca a aclamação inaugural de D.João IV -, Pedro I finalmente recebeu sua coroação e consagração ao cargo imperial.

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