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Resenha: Noites cruas, de Jean Soter

Divulgação / Mandawa Estúdio

APRESENTAÇÃO

Expulsa de casa após uma briga com a mãe, Karina conhece a garota de programa Rose em um posto de gasolina na rodovia. Naquela mesma noite, saem com dois caminhoneiros.

Noites Cruas centraliza seu enredo na trajetória errática dessas duas mulheres, com seus sonhos, frustrações e esperanças, e tem como cenário a rua, o bordel, a rodovia.

RESENHA

Em “Noites cruas”, Jean Soter nos mostra que a vida acontece mesmo quando a maioria não está prestando atenção. Focado na trajetória de duas personagens, Karina e Rose, esse romance leva o leitor para a beira da estrada. Mas essa história não é uma road trip divertida de duas amigas universitárias fazendo um mochilão para descobrir o que querem fazer da vida, Karina e Rose são prostitutas que têm seus destinos costurados uma a outra em um banco de posto de gasolina.

“Mulher de vida fácil”, diz a cultura popular para se referir às putas. “Mulher perdida” também. Jean Soter, ao retratar essa face da vida noturna, foge de frases prontas como essas. Lírico, cru, fluido, a obra expõe os riscos vividos no ofício, o efeito do envelhecimento nos rendimentos das mulheres que vivem de programa, a miséria que as ameaça até em tempos de bonança e os laços afetivos possíveis nesse contexto, sem jamais impor julgamentos morais ao leitor.

As ilustrações de Pedro Graça ajudam a compor a atmosfera do livro. Em especial, as imagens que abrem os onze capítulos e tem como característica o fundo escuro, como a noite, e o traço branco que parece ter sido feito de giz em um quadro negro e pode ser apagado a qualquer momento.

Mais do que sobre prostituição, “Noites cruas” é sobre travessia. Suas personagens estão tentando criar meios de seguir em frente. As rodovias que cortam esse romance são as passagens que Karina e Rose encontram para levar a vida adiante. E, nessa lida de tentar sobreviver, elas percorrem cidades nunca nomeadas, se afastam do ponto de partida e também voltam atrás, enquanto reconhecem e também estranham as mudanças promovidas pelo tempo nas paisagens e nelas mesmas.

Thaís Campolina é escritora, mediadora de leitura e especialista em Escrita e Criação pela Unifor. Seu livro de poesia “eu investigo qualquer coisa sem registro” (2021) foi premiado no concurso Poesia InCrível 2021. Sua próxima obra será publicada em breve pela Macabéa Edições.

O AUTOR


Jean Soter é autor das coletâneas de contos A Transferência (2007) e O Vendedor (2018). No momento, trabalha como autônomo no mercado de ações; nos intervalos, lê e escreve literatura. Natural do interior de São Paulo, onde nasceu em 1974, vive no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, desde 2009.

Escritora e roteirista carioca Luiza Conde explora o tempo e a morte por meio do fantástico e do terror em “Relógios partidos”

Comtato / Divulgação / Acervo Pessoal

Rituais longínquos, maldições pregadas na parede e amigos monstruosos. Um ônibus para lugar nenhum, um metrô infinito e uma coleção sanguínea. Esses são cenários que atravessam “Relógios partidos” (Editora Litteralux, 114 páginas), o primeiro livro da roteirista carioca Luiza Conde (@luizacma). Com uma carreira profícua no roteiro, Luiza agora se lança na literatura fantástica com 12 contos sobre o tempo e os principais medos que acometem a humanidade: envelhecer, ficar só, errar, escolher, morrer, viver. 


A obra tem texto de orelha assinado pelo escritor e pesquisador Leonardo Villa-Forte. Dividido em três partes que remetem ao passado (“Tempos que foram”), presente (“Tempos que são”) e futuro (“Tempos que podem ser”), “Relógios partidos” é influenciado pelas obras de autoras que conversam com o insólito e o terror, como Mariana Enriquez, Lygia Fagundes Telles, Silvina Ocampo e Socorro Acioli. 


“O tempo sempre foi uma ideia fascinante para mim, desde pequena. Sempre amei histórias de viagem no tempo, com as suas intrincadas regras de funcionamento e os seus paradoxos”, conta Luiza. Em “Relógios partidos”, o tempo pode ser medido pelas noites passadas em claro desejando um bibelô, os anos lamentando escolhas não feitas, as badaladas defeituosas de um sino, os vagões de um trem, as horas dedicadas a construir uma máquina do tempo ou a duração de uma jornada para um destino desconhecido. “Acho incrível que consigamos dar formas ao futuro, algo que ainda não existe”, explica, justificando a temática escolhida. “E que tenhamos um passado coletivo compartilhado que nos impacta mesmo que não o tenhamos vivido.” 


“Relógios partidos” nasceu de uma oficina de escrita de contos ministrada por Leonardo Villa-Forte. O processo de escrita e reescrita foi atravessado por duras perdas na vida da autora: primeiro o pai, depois a mãe. No livro, a morte aparece como um catalisador de transformações internas e externas nas personagens. “O livro traz uma mensagem de não conformismo, tanto de um ponto de vista individual, de romper com os papéis que somos obrigados a performar socialmente, com o que é esperado de nós; quanto coletivamente de ruptura com o status quo”, define a escritora, frisando que a obra sustenta algo que lhe é muito caro artisticamente. “A ideia de que a arte deve causar algum tipo de incômodo, de desconforto, de deslocamento, porque isso gera reflexão e investigação”, aponta.


Processos de escrita e projetos futuros


Nascida no Rio de Janeiro em 1989, Luiza é formada em Letras — Português e Russo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e trabalhou no mercado editorial por dez anos. Mas desde cedo soube que queria escrever: “Sempre adorei ler, e já pequena veio essa vontade de contar as histórias que surgiam na minha cabeça. Escrevi meu primeiro livrinho aos 9 anos. Mas foi com 13, depois de ler ‘Crime e Castigo’ [de Fiódor Dostoiévski], que a ideia de ser escritora de fato surgiu”, recorda. Entre os autores que inspiram sua escrita, a autora vai de clássicos, passando pela ficção científica e o realismo mágico latino-americano, citando Machado de Assis, Jorge Luis Borges, William Faulkner, Sylvia Plath, Clarice Lispector, Adolfo Bioy Casares, Ursula K. Le Guin e Isaac Asimov. 


Luiza trocou o mercado editorial pelo audiovisual aos 27 anos, área em que atua até hoje. Como roteirista, trabalhou nas séries “Sem filtro” (Netflix), “Vai que cola” (Multishow) e “Detetives do prédio azul” (Gloob), e é coautora do longa “Jogada ensaiada” (Vitrine Filmes), vencedor do Prêmio Cabíria na categoria Argumento de longa infantojuvenil em 2021. 


O futuro de Luiza Conde está cheio de estreias. Ela também pretende começar a escrever seu primeiro romance, “A Hóspede”, em breve, além de lançar uma nova coletânea de contos fantásticos, dessa vez com a temática dos labirintos. Em 2025, estreia a primeira peça que assina como dramaturga, “Memórias da superfície”, uma sátira sobre influenciadores e a nossa relação com redes sociais.


Confira um trecho do livro (pág. 69):


“Sou capaz de jurar de pés juntos que o monstro que vivia debaixo da minha cama era bastante amigável. Mas na primeira noite em que eu dormi sozinha na casa, sua aparição provocou em mim uma reação bastante insensata, e até (tenho vergonha de admitir agora depois de tantos anos) um pouco ridícula.”


Adquira “Relógios partidos”, de Luiza Conde, no site da Editora Litteralux: https://www.editoralitteralux.com.br/loja/relogios-partidos?utm_source=IGShopping&utm_medium=Social 

Veronica Botelho lança “Inverno”, uma reflexão sobre os relacionamentos que moldam a personalidade a partir de uma família inter-racial

Acervo Pessoal / Divulgação / Comtato

Fruto de uma relação interracial, mas criada unicamente pela parte branca da família, Isabel é uma mulher em busca de sua própria identidade. A piauiense Veronica Botelho (@verobotelho) apresenta Inverno” (e-Galáxia, 178 págs.), seu novo livro de “As Estações”, série não sequencial que começou com o romance “Verão”, publicado em 2023. 


O racismo desde o ambiente familiar é o ponto de partida da história de Isabel. Longe de ser apenas um artifício ficcional, o preconceito em famílias inter-raciais é uma realidade presente em muitas casas brasileiras. A psicóloga social Lia Vainer Schucman, especialista em estudos de branquitude, investiga as tensões entre cor e amor a partir da ideologia do embranquecimento que aponta branco como “melhor” ou superior e determina também a hierarquia do indíviduo negro no ambiente familiar.


Em “Inverno”, Isabel sente na pele essas tensões. Na relação com avó branca, por exemplo, que condiciona o afeto que destina a garota ao “apesar” de sua cor. Mesmo na interação Madalena, mãe amorosa de Isabel, o racismo aparece em pequenos elementos do cotidiano, como a própria defesa da avó racista.


Apesar de ser uma história totalmente independente, “Inverno” se passa no mesmo universo de “Verão”. Rebecca, protagonista do primeiro livro, é personagem também na nova história — a amiga próxima de Isabel desempenha um papel central no processo de autodescoberta e os conflitos resultantes desse relacionamento. 



Comtato / Divulgação / Acervo Pessoal


Uma mulher a procura de si


Isabel cresceu com a família materna em Maceió (AL), em um lar marcado por tensões raciais e silêncios que desvalorizam seu esforço em se encaixar. Criada pela mãe Madalena, sem saber quase nada sobre a origem do pai, a única referência que tem do mesmo é o relato de um abandono paterno, enfatizado constantemente pelo racismo da própria avó.


A personagem inicia sua jornada de autodescoberta a partir da revelação de cartas escritas pelo pai que contradizem a narrativa de sua origem que a acompanha desde o nascimento. A jornada de se aproximar do pai Renato e, principalmente, da tia Clotilde, transforma-se em um mergulho em suas raízes e na descoberta de sua ancestralidade, que foi sempre negada ao viver em um lar predominantemente branco. 


Nesse processo, Isabel se muda para Aracaju (SE) e posteriormente para a Itália, onde, na companhia de Rebecca e outras amigas, busca entender quem realmente é, enquanto lida com a solidão, o peso da expectativa familiar e a descoberta de sua sexualidade. 


Por vezes a solidão é o principal antagonista de Isabel, uma personagem com dificuldade de expressar-se livremente e entender seus próprios sentimentos. Nesse contexto, a personagem se envolve com Regina, uma mulher tão fascinante quanto complicada que interfere diretamente no amadurecimento de Isabel e também nas relações que ela estabelece a partir disso. 


A tensão dos relacionamentos familiares, de amor e amizade estão no centro da história de “Inverno”. Passando por inúmeros episódios onde o afeto se torna uma ferramenta abusiva e limitadora, Isabel precisa entender qual é o seu próprio caminho independente das pessoas que a cercam.


Da psicologia à escrita: conheça Veronica Botelho


Natural de Floriano, no Piauí, Veronica Botelho é licenciada em Psicologia Social e das Organizações pela Universidade de Florença,  e atualmente cursa mestrado em Psicologia e Neurociência da Saúde Mental no King’s College London. Seu primeiro livro de ensaios, “Meias Verdades”, foi publicado em 2016. A autora viveu no Brasil, Costa do Marfim, Inglaterra, Bolívia, Argentina, Espanha, Itália e Catalunha, onde teve experiência na atenção e inclusão de pessoas portadoras de diferentes transtornos mentais, e voluntariado com pessoas  refugiadas. 


Os estudos de Veronica sempre foram direcionados a entender as diferenças, inicialmente com foco no universo acadêmico. “O que escrevia, estudava, tinha um único intuito: como podemos conviver pacificamente aceitando as nossas diferenças”, explica. O primeiro livro da autora, “Meias Verdades” é um compilado de crônicas que refletem sobre o tempo, amor, racismo, xenofobia e ética política.


A autora lembra de sempre ter escrito muito para si mesma. “Minha avó dizia que eu escrevi a minha primeira poesia quando tinha 4 anos”, recorda-se. Ela passou por agendas e diários, chegou a escrever peças de teatro na escola, além de participar de um jornal escolar. Morando fora, o hábito de enviar cartas para família e amigos também compôs sua experiência na escrita.


Desde a escrita de “Verão”, sua primeira incursão pela ficção, Veronica já sabia que faria uma tetralogia. “As histórias se interconectam. São histórias que se encaixam, sem serem sequenciais”, explica, apontando que suas personagens também têm muito em comum com suas próprias experiências. Como Rebecca, protagonista de “Verão”, a autora perdeu o pai na infância. Aborda também sua experiência de imigração, “bilinguismo”, retratada em “Inverno”.


Do Inverno ao florescer de Isabel


Frisando a importância das amizades e das conexões, Veronica acredita que “Inverno” tem como mensagem os relacionamentos que nos moldam e como o passado faz parte da construção do presente. Com seu estilo de escrita intimista e reflexivo, a autora entrega uma narrativa fragmentada que se usa da não linearidade para transitar em diferentes tempos e espaços. 


Como primeiro romance,  a escrita de “Verão” começou quase como uma brincadeira, sugestão do parceiro da autora. “Escrevê-lo foi uma das experiências mais fascinantes da minha vida”, conta Veronica, que chegava a passar sete ou oito horas escrevendo sem parar. “Entrava em estado de flow. Aquele hic et nunc onde os insights surgem, se interconectam, e a arte nasce.”


A autora descreve esse estado como hipnótico e destaca a importância de respirar literatura nesse processo: “Quando não estava escrevendo o livro, estava lendo”. Veronica levou apenas dois meses e meio para escrever “Verão”, durante o inverno na cidade província de Girona na Espanha, parte da comunidade autônoma da Catalunha. A escrita de “Inverno” é uma curiosa resposta ao primeiro livro, que escreveu durante o verão na mesma cidade.


Veronica conta que suas influências são diversas, seja na arte ou nas conversas que escuta dentro de ônibus, bares, etc., em seu dia a dia. Na literatura, reconhece que sua iniciação foi marcada por homens brancos. “Luis Fernando Veríssimo por muitos anos foi o meu maior ídolo. Li praticamente tudo o que ele publicou”, comenta, citando outros nomes de referência, como Nelson Rodrigues e Caio Fernando de Abreu. Mas a autora também pontua a importância de escritoras como Clarice Lispector, Rosamunde Pilcher e Isabel Allende.


Atualmente consumindo bastante literatura contemporânea brasileira, a escritora destaca autores como Giovana Madalosso, Jeovanna Vieira, Carla Madeira, Julia Dantas, Tiago Ferro e Nara Vidal em sua prateleira. A experiência no exterior também marcou sua formação com a descoberta de autoras como Toni Morrison, Maya Angelou e Chimamanda Adichie.



Confira um trecho do livro:

“Naquele instante, Isabel se viu como o piso da sua avó, os tecidos da sua tia, e aquele vaso de Florença: pedaços de muitos lugares, algumas cicatrizes que eram apenas marcas que a tinham feito mais forte, e outras que se abriam em carne viva, como as goteiras do teto da casa de sua mãe.”


Adquira “Inverno ” pelo site da editora:

https://e-galaxia.com.br/produto/inverno/ 


Escritor mineiro Breno Ribeiro retrata em “thriller familiar” as dores da perda de um filho em meio à desigualdade social


Duas famílias distintas. Uma de classe média alta e outra de periferia. Em uma delas, um casal de elite com seus dois filhos, a típica família perfeita para os que veem de fora. Na outra, um casal de periferia que luta para conseguir pagar os medicamentos da mãe de um deles. Este é o ponto de partida do breve romance “cicatriz” (112 págs.), do escritor mineiro Breno Ribeiro, recém-lançado pela Caravana Editorial. 


Atualmente vivendo no Rio de Janeiro, o autor é formado em Letras e professor de Língua Inglesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com mestrado em Estudos da Linguagem na PUC-Rio e um curso livre de Formação em Roteiro pela Academia Internacional de Cinema do Rio. Breno traz em seu segundo romance uma história que reúne três dos mais imponentes sentimentos humanos: a justiça, a vingança e a culpa. Através da história de poucos mas inesquecíveis personagens, retrata um quadro não incomum em nossa sociedade. 


Estruturada em três partes,“cicatriz” acompanha duas histórias paralelas: de um lado, a família de Júlia e Humberto, com seus filhos Ana Lúcia e Pedro. De classe alta, a família passa por desentendimentos de ordem sociopolítica: o pai, de extrema-direita, não aceita a filha lésbica, enquanto o filho, recém admitido na universidade, passa a ser o foco de atenção do casal. Do outro lado, Pietro e Fabiana são um casal de periferia que esperam um filho enquanto precisam lidar com a doença da mãe de Pietro. Diante da gravidade do caso, Pietro se vê praticando pequenos crimes para conseguir pagar os remédios e a internação da mãe. 


Perante os dilemas éticos que vivem as personagens, “cicatriz” traça um panorama bastante complexo do sistema judiciário brasileiro, em que justiça nem sempre significa reparação dos danos causados e a prisão não é capaz sequer de aplacar os desejos de vingança das classes privilegiadas. Segundo Breno, o senso de justiça sempre esteve presente em sua vida. Certa vez, lendo uma notícia sobre um crime grave cometido contra uma família, o autor se deparou com uma advogada que havia trabalhado no caso se utilizando do conceito de justiça restaurativa. 


“Pensei muito sobre o conceito de justiça restaurativa e em como ele requer certa maturidade das partes envolvidas. Pensei também que, a depender do caso, isso não seria possível, esse perdão, essa quase elevação espiritual do absolver. Então me veio a vontade de escrever sobre isso, sobre essa impossibilidade do perdão e, por outro lado, a fervura da culpa”, completa.


Diante deste cenário que oscila entre sofrimentos, lágrimas, traumas e cicatrizes, Breno apresenta importantes reflexões, como na página 89: “Um mundo melhor não é um mundo sem crime, mãe, isso é uma utopia. Um mundo melhor é um mundo onde as pessoas cometam erros e possam ter a chance de crescer a partir deles. É nisso que eu acredito”.


Do thriller policial para um quase “thriller familiar”: as faces da escrita de Breno Ribeiro


Influenciado por autores clássicos como Machado de Assis, Mary Shelley e Gustave Flaubert, Breno nasceu em Juiz de Fora (MG), cresceu na cidade de Iguaba Grande, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro. Hoje, com 35 anos, mora no Rio, e leciona Língua Inglesa pela UFRJ. Em 2021, em plena pandemia, lançou seu primeiro romance em formato digital, o thriller policial “O Príncipe de Hugo Porto”.


Em seu segundo romance, “cicatriz”, o autor percebe os passos de amadurecimento em relação à sua carreira e vê a mudança de gênero literário como um motor para sua criatividade. “Esse livro representa um amadurecimento da minha escrita em relação ao meu primeiro romance, talvez pela mudança de gênero. A escrita desse livro me transformou. De certa forma, me permiti arriscar mais literariamente a tocar em pontos que não necessariamente fazem parte da minha experiência de vida”, analisa. A obra é fortemente influenciada pela literatura nacional contemporânea, por nomes como Andrea Del Fuego, Natalia Timerman e Jeferson Tenório, que trazem ambientes mais urbanos para o centro da narrativa.


Após “cicatriz”, o autor já pensa em escrever seu próximo livro, que vai se chamar “Limbo”, que conta a história de um casal que se separa, mas, por questões presentes no capitalismo tardio, são obrigados a morar juntos por um tempo até cada um ir para o seu canto. “O romance narrará os dois meses entre o término e a mudança de casas, quando cada um segue seu rumo”, revela. 



Confira alguns trechos de “Cicatriz”:

Talvez tenha sido na terceira via da favela que encontrou Fabiana – ela, assim, como ele, não se encaixava em nenhum dos estereótipos da comunidade.” (pág. 27)

“Não o abandonou porque sabia que ele era um homem bom: tudo aquilo que porventura a atingia eram os estilhaços do autoflagelo de Pietro.” (pág. 58)

Como no mito grego, Pietro estava eternamente condenado a empurrar sua culpa para o topo da absolvição apenas para vê-la rolar para baixo sempre que ele se distraía. (pág. 68)

“Um mundo melhor não é um mundo sem crime, mãe, isso é uma utopia. Um mundo melhor é um mundo onde as pessoas cometam erros e possam ter a chance de crescer a partir deles. É nisso que eu acredito. (pág. 89)


Compre o livro através do link:
https://caravanagrupoeditorial.com.br/produto/cicatriz/ 

“Diário de Amélia”, livro fruto da Aldeia Literária, pretende ser um farol para adolescentes que cresceram em ambientes tóxicos

Foto: Comtato / Acervo Pessoal / Divulgação

A personagem-título de “O Diário de Amélia” (109 pág), mais recente livro da escritora e empreendedora paulista Camila Veloso, compartilha com outras jovens da mesma idade os dramas dessa fase da vida, como a escolha profissional, interesses amorosos e questões familiares. Antenada com o linguajar, as práticas e dilemas dos adolescentes dessa nova geração, a autora apresenta uma obra que funciona também como guia prático para problemas do mundo adulto e rota de fuga de ambientes tóxicos. 


A obra é fruto da Aldeia Literária, negócio idealizado pela autora, que fomenta a formação de uma nova geração de escritores, utilizando a Cohort Learning Method, uma metodologia a base de mentorias e jornadas coletivas de aprendizado. Os encontros online oferecem acompanhamento do processo criativo e conversas com especialistas na área literária. Já passaram pelo processo cerca de 400 pessoas de novembro de 2023 até agora. 



Por dentro do “Diário de Amélia”


Amélia é uma garota recém saída da adolescência que divide o dia a dia com amigos do cursinho pré-vestibular. O livro inicia com o relato da jovem sobre um crush, uma paixonite, por um dos rapazes desse grupo. Há, no entanto, uma série de barreiras que impedem o sonho de virar realidade. Entre elas a amiga da protagonista, que está de olho no mesmo carinha, as diferenças sociais entre ambos, Amélia é da classe média baixa, o rapaz é riquíssimo, e ainda, a prática religiosa dos pais de moça que a proíbe de namorar alguém de fora da comunidade a que pertencem. 


Movida pelo desejo juvenil de dar passos para fora dessa redoma em que era mantida, a protagonista coloca-se em uma série de situações às quais não tinha sido preparada para lidar e pouco a pouco vai descobrir, com auxílio de amigos que faz nessa jornada, como enfrentar os problemas do mundo real. “É por isso que a personagem principal ouve sobre como tomar vacina de HPV no SUS, como abrir um MEI, e como sair de casa através das universidades públicas”, explica a autora. 


Camila confessa que há muito da própria experiência no livro. “Nasci num lar ultraconservador e sendo artista e mulher sempre recebi uma dose extra de repressão, portanto era um instinto natural me rebelar, e trouxe muito disso para a minha arte”, revela. A escrita começou cedo, aos 11 anos, e com o intuito de transformar as dores do mundo exterior em prosa e poesia. “Escrever me dava privacidade porque as pessoas tinham preguiça de ler (descobri isso cedo) e eu podia colocar no papel o que quisesse”.


Antes de “O Diário de Amélia”, Camila publicou “Traumas de uma Grande Gostosa”, “Cartas ao Sol” e “Encontrei um Pote com Tempo Dentro”.  Todos voltados para o público juvenil,  publicados de forma independente e disponíveis para compra online no site Amazon. A obra mais recente conta com avaliações positivas e comentários elogiosos na loja virtual.  Um dos leitores escreveu: “Nesse mundo doido que vivemos, conhecer realidades que podem estar tão próximas da gente nos permite entender que precisamos estar prontos a nos ajudar”, e completa: “Esse livro nos ajuda a ter empatia, mas pode ser um refúgio e um pequeno guia para que as pessoas consigam ver uma luz numa situação difícil”. 


A autora conta que a obra demorou dois anos para ser finalizada pois era preciso encontrar o tom certo para o livro e ao mesmo cuidar dos próprios traumas relacionados às experiências vivenciadas numa educação extremamente rígida. Ainda assim, assume que escreveu uma história divertida, apesar do tema pesado. “Não queria que o livro fosse sobre ódio, mas sobre acolhimento”. 


Trecho da obra “O Diário de Amélia”: 


“Olho a rua, e todas aquelas pessoas andando, e vivendo seu próprio caos, e talvez a vida de todo mundo seja assim. Ou a de mais alguém, pois, se tenho o apoio de tantas mulheres, se todas elas estavam com as armaduras prontas quando precisei de ajuda, é porque não sou a única.”


Adquira o novo livro de Camila Veloso pelo site da Amazon:

“O Diário de Amélia”

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