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[RESENHA] Muito além da gramática, de Irandé Antunes


O livro “ Muito Além da Gramática por um ensino de línguas sem pedras no caminho” oferece a todos, um entendimento mais especifico e relevante em relação ao uso da língua, inclusive esclarece que a gramática não deve ser vista como uma propriedade apenas dos linguistas, onde só eles escrevem e falam corretamente, mas também como pertencentes a todos os falantes. A gramática, na verdade, está incorporada a fala do indivíduo desde muito cedo, é notório que desde criança, qualquer um tem consigo a habilidade da fala e essa por sua vez acompanha sua própria gramática, ou seja uma gramática interiorizada. Por outro lado a gramática também não deve ser visada como única fonte de pesquisa, do que seria a língua, e como devemos nos comportar em relação as suas metodologias.


A língua é muito mais que isso tudo. É parte de nós mesmos, de nossa identidade cultural, histórica, social. É por meio dela que nos socializamos, que interagimos, que desenvolvemos nosso sentimento de pertencimento a um grupo, a uma comunidade.( ANTUNES p.23 )

A autora nos mostra com essa citação que a língua está intimamente ligada a cada um. Baseando se nessa afirmativa pode se analisar que ninguém jamais conseguiria falar sem gramática, portanto alguns simplistas afirmam que apenas os falantes da norma culta utilizam se das normas gramaticais, por isso os frequentadores, principalmente os iniciantes das escolas, sentem tanta dificuldade ao se deparar com essas regras impostas, pelos professores, na tentativa referenciar essa tal norma padrão. Segundo Antunes no segundo capítulo do livro, ao falar em gramática pode se compreender como: “conjunto de regras que definem o funcionamento de determinada língua, como em “ a gramática do português” (p. 29), fica explícito que neste sentido refere se a todas as regras gramaticais onde envolve toda particularidade da língua desde as regras mais simples até as mais complexas; “ conjunto de normas que regulam o uso da norma culta” (p.30) onde a gramática é vista de uma forma distinta ou seja não faz uso dela de acordo com o contexto histórico de cada um, levando se em conta apenas a norma culta da língua. “Uma perspectiva de estudo dos fatos da linguagem” (p. 31) nesse sentido o termo gramática é designado para nomear aspectos científicos. “ Uma disciplina de estudo” (p.32) essa estabelece a prática da gramática, à exemplo disso são os ensinos da gramática em sala de aula. “ Um compêndio descritivo-normativo sobre a língua” (p.33) refere –se a própria gramática em forma de um livro normativo, que contém sínteses, é um compêndio gramatical.
No terceiro e quarto capítulo desse livro a autora afirma que ao contrário do que muita gente pensa a gramática e a língua não são unívocas, esse olhar onde acredita se que a língua é construída apenas a partir da gramática não procede, pois uma língua é uma atividade interativa, e um indivíduo pode aprender uma língua sem aprender sua gramática, tomamos como exemplo: se uma pessoa interage com uma outra de língua diferente da sua, por um determinado período, ele consegue assimilar e aprender muito daquela língua determinada estrangeira. A língua é constituída a partir de dois componentes: um léxico que é o vocabulário da língua e uma gramática que são as regras ou seja a norma padrão. Partindo desse ponto pode se dizer que a gramática da língua tem funções ela detalha a formação de palavras até a formação de frases. Não basta apenas entender a gramática para aprender a fala. A língua é um instrumento da fala que adapta se as regras que ao longo do tempo vai configurando se na sua língua, ou seja o estudo da gramática. É considerável afirmar que esta última é vista como a única que parece mais importante, quando na verdade não existe uma sem a outra.

Na prática, nos esquecemos de que uma língua, além de uma gramática, tem também um léxico, quer dizer um conjunto relativamente extenso de palavras, á disposição dos falantes, as quais constituem as unidades de base com que construímos o sentido de nossos enunciados. (ANTUNES p.42)

No quinto capítulo Antunes atenta para a ideia de que a gramática é essencial para o auxílio de funções como a produção textual, mas para isso deve haver também um domínio prévio como: conhecimento dos recursos de textualização, conhecimento de mundo e domínio de normas sociais. O nosso vocabulário é enriquecido com a ajuda dessas aquisições acima citada por isso não só a gramática basta pra que saibamos lidar com a produção textual. Antunes ainda enfatiza, no próximo capítulo, sobre o estudo da exploração de nomenclaturas e classificações, que essa é apenas uma forma de marcar, de tornar mais formal, o que na verdade serve apenas para confundir o que na prática deveria ser bem mais simples, pois esse não deveria ser um estudos envolvendo regras para decifrar como funciona a gramática de uma língua, e sim esclarecer que as regras gramaticais são normas que colocam em destaque o uso da língua em seus diferentes âmbitos, elas apenas possibilitam uma melhor compreensão no estudo da linguagem mas estimula a desenvoltura do ato de ler e escrever. Olhando assim a escola precisa introduzir o estudo gramatical apenas como paliativo, com relevância, mas nunca deixando, de levar em conta todas aquelas aquisições citada no capitulo quarto desse livro.

As nomenclaturas gramaticais, como o próprio nome indica, dizem respeito aos nomes que as unidades da gramática têm. Funcionam como rótulos, como expressão de designação, para que a gente possa, quando necessário, falar de todas elas chamando-as por seus nomes embora também expressem determinada visão dos fatos que designam (ANTUNES p. 78)

No sétimo capítulo a autora abre uma discussão sobre a norma gramatical como uma norma valorizada socialmente não é a única norma válida, ela nomeia alguns termos e conceitua as normas no intuito de trazer clareza ao ponto onde quer chegar, cita Antunes “ Em síntese, a norma culta é um requisito linguístico-social próprio para situações comunicativas formais, sobretudo para aquelas atividades ligadas à escrita”(p. 88), esse conceito mostra que essa é a norma que é acessada apenas pelos letrados, ela comenta ainda sobre outras distinções de norma culta: a norma culta real aquelas que são concretamente realizadas em um determinado grupo como: cronista, cientista, comentaristas e etc. A norma culta ideal é àquela que distingui uma idealização, é uma norma pensada que representa a utilização do uso da língua culta, a norma padrão foi projetada da sociedade letrada para garantir uma certa uniformidade da língua. O livro aborda que a língua é um fenômeno heterogêneo por isso não existe uma forma única de falar uma língua, é relevante pensar também nas variações linguísticas
O livro, inserido no contexto do que é certo e do que é errado na língua, enfoca no capitulo oito que nem toda atuação verbal deve conter as regras da norma culta ou norma padrão, isso é apenas uma predileção da norma em todos os sentidos de um modo absolutamente geral. Dependendo da situação, do lugar, e muitas outras ocasiões, a língua pode ser automaticamente adaptada a autora cita que: “ Existem situações sociais diferentes; logo deve haver também padrões de uso da língua deferentes.” (p.104), esses padrões deveriam respeitar as variações da língua, observando o mundo e suas singularidades, obedecendo suas culturas variadas e entender o conhecimento de mundo, a contextualização e a normatividade da realidade da língua de cada grupo.
A gramática não pode ser considerada como a única forma de pesquisa para as questões linguísticas, assim é o que transmite a autora, ao expor suas ideias no capítulo nove a dez. Por muito tempo a gramática ditou as regras literalmente falando, e de forma passiva todos foram adaptando se a seguir um manual que conduzia a língua como se essa viesse a existir depois dele, sem deixar de valorizar à sua importância, deve se pensar na gramática também como um dos suportes para a aquisição da aprendizagem. A falta de conhecimento do que é uma língua, como ela funciona, quais componentes apresentam, quais implicações sociais e políticas estão envolvidas em seus usos, são alguns questionamento feitos pela autora em que as respostas apontam onde estão os erros que deixaram a desejar nesses requisitos importantes para o bom desempenho de uma língua que hoje se torna um drama para os alunos e para todos os que fazem o seu uso, digo em relação a norma padrão ou seja a tão temida gramática. Uma característica fundamental que não deveria faltar em termos de línguas, seria a boa formação de textual, essa infelizmente foi esquecida, e atualmente presenciamos o triste fato de que alunos desde o ensino fundamental ao nível superior encontram dificuldades em escrever textos coerentes, o aluno por toda sua vida escolar foi treinado apenas para questões gramaticais e muito pouco tiveram acesso a produções textuais.

É evidente que a concentração do ensino da gramática em tópicos de sua nomenclatura não pode ser vista como o único fator responsável pelos problemas do ensino de línguas. Mas, é evidente também que esse tratamento tem tido um peso muito grande, pois propiciou uma visão superficial do ensino de línguas, além de ter tirado a oportunidade de que outras questões- como aquelas concernentes à ampliação do léxico e à composição de textos coesos, relevantes e coerentes – sejam devidamente exploradas (ANTUNES p. 125)

Atentando para a citação acima, observa se que a autora é sempre enfática, tanto nesse capítulo onze como nos anteriores, ao afirmar incansavelmente que não é o uso de nomenclaturas e classificações de palavras entre outros fatores que vão construir um bom escritor, embora o manual gramatical tenha seu papel importante, diga se de passagem, na organização das ideias, das palavras, apesar da sua fórmula um tanto quanto sistemática de dividir e configurar a língua. Explorar o texto nas atividades escolares, é o que propõe Antunes, de uma forma mais detalhada, e esses textos deverão ser voltados condizentes com o mundo pertencente ao contexto que envolve a vida do aluno, isso com certeza será muito significativo para a sua aprendizagem. Antunes adiciona também no capítulo doze, algumas propostas de atividades interessantes, para a exploração de textos como o poema por exemplo, com criatividade professores podem e devem encontrar uma forma de se livrar das rotineiras atividades ultrapassadas e que em nada acumulam conhecimento, como também um posicionamento crítico, sendo que eles precisarão desse domínio, para redigir bons textos coesos e coerentes como também saber fazer interpretações textuais.
Inserido também no mesmo contexto que os capítulos anteriores, os capítulos doze, treze e quatorze, emitem entre outros fatos, a opinião da autora, no sentido de que a idealização de novos programas de ensino que concedam ao aluno, ir muito além da gramática, isso com certeza seria um marco, um ponto de recomeço, talvez muito considerável, em toda história da língua, Antunes, ainda, presentei a todos os professores e àqueles se se interessam com vários exemplos de atividades que servem como sugestões de um programa de gramática. Antunes relata em sue livro que os professores devem conhecer bem a gramática: “ Não, necessariamente para ensina-la a todo custo aos seus alunos. Mas para usá-la como instrumento analítico e explicativo da linguagem de seus próprios alunos” Antunes aprud Franchi (2006: 32). Franchi com sua citação nos lembra muitas das manifestações que neste livro foram abordadas. Finalizando, essa obra estimula o pensamento voltado para toda a problemática do ensino, levando a acreditar que sempre existe uma solução, por mais que pareça impossível a criatividade, a inovação ainda é a melhor forma de guiar o ensino.

Resenhado por Jocilene de Jesus, Curso Letras/Inglês. CAMPUS V- 2º semestre, Universidade do Estado da Bahia.

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