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10 motivos para ler "Althusser e o materialismo aleatório"

1. Compreender a última fase do pensamento de Louis Althusser

O livro "Althusser e o materialismo aleatório" se debruça sobre a última fase da obra deste influente filósofo marxista, explorando os desdobramentos de suas reflexões sobre encontro, forma e materialismo aleatório na década de 1980. Entender essa etapa final do pensamento althusseriano é fundamental para acompanhar a evolução de suas ideias e sua contínua relevância para o debate marxista contemporâneo.


2. Analisar a relação entre encontro e forma na política e no direito

Um dos eixos centrais da obra é a investigação da relação entre encontro e forma, que perpassa a produção de Althusser e atinge seu ápice em textos como "A corrente subterrânea do materialismo do encontro". Os autores demonstram como essa temática ilumina questões cruciais da política e do direito, revelando a importância da forma jurídica para a compreensão da sociabilidade capitalista.


3. Compreender a crítica althusseriana à noção de gênese

Ao explorar os conceitos de encontro, conjunção e ausência determinada introduzidos por Althusser, a obra evidencia sua contundente crítica à noção de gênese, que pressupõe uma teleologia e um sujeito unificado da história. Essa problematização revela-se fundamental para pensar as transições entre os modos de produção de maneira não linear.


4. Dialogar com o debate da derivação do Estado e do marxismo jurídico

As análises desenvolvidas no livro estabelecem um profícuo diálogo com os debates da derivação do Estado, representados por autores como Joachim Hirsch, bem como com a tradição do marxismo jurídico, exemplificada pela obra de Evguiéni Pachukanis. Essa interlocução evidencia a atualidade do pensamento althusseriano para a compreensão crítica das formas políticas e jurídicas.


5. Acompanhar a trajetória interpretativa de Vittorio Morfino

O segundo capítulo do livro apresenta um minucioso exame da própria trajetória interpretativa de Vittorio Morfino sobre o "materialismo aleatório" de Althusser. Essa retrospectiva permite ao leitor acompanhar o desenvolvimento das leituras deste importante comentador, revelando as nuances e tensões presentes nos escritos althusserianos dos anos 1980.


6. Refletir sobre as tendências lucreciana e escatológica nos textos de Althusser

A partir da hipótese interpretativa de Morfino, o livro identifica a presença de duas tendências distintas nos escritos de Althusser na década de 1980: uma de inspiração lucreciana, proveniente dos anos 1960, e outra de caráter escatológico ou messiânico. Essa constatação abre caminho para uma compreensão mais aprofundada da evolução do pensamento althusseriano.


7. Compreender a articulação entre determinação e acaso na constituição das formas sociais

O livro demonstra como Althusser, ao explorar a temática do encontro e do aleatório, consegue pensar a constituição das formas sociais para além de qualquer teleologia ou determinismo. Essa abordagem revela-se fundamental para a análise crítica do capitalismo e de suas contradições.


8. Situar o pensamento de Althusser no contexto do "novo marxismo"

As reflexões apresentadas no livro dialogam diretamente com a distinção proposta por Ingo Elbe entre o "velho" e o "novo" marxismo. Nesse sentido, a obra permite compreender a contribuição de Althusser para a emergência de novas perspectivas teóricas no campo marxista, superando os limites do "marxismo ocidental".


9. Estabelecer conexões entre a obra de Althusser e autores contemporâneos

O livro insere-se em um movimento mais amplo de resgate e atualização do legado althusseriano, estabelecendo diálogos com trabalhos de pesquisadores como Ingo Elbe, Márcio Bilharinho Naves, Celso Naoto Kashiura Júnior e Stefano Pippa. Essa rede de interlocuções evidencia a relevância do pensamento de Althusser para os debates teóricos e políticos contemporâneos.


10. Aprofundar a compreensão do capitalismo e das formas de subjetivação

Ao explorar a articulação entre encontro, forma e direito, a obra de Mascaro e Morfino oferece ferramentas teóricas valiosas para a análise crítica da sociabilidade capitalista e das formas de subjetivação que lhe são inerentes. Trata-se de uma contribuição fundamental para aqueles interessados em compreender os desafios do presente a partir de uma perspectiva marxista.

10 Razões para Ler "Ossada Perpétua", de Anna Kuzminska


1. Exploração Profunda do Luto e da Perda

"Ossada Perpétua" mergulha de forma visceral no processo de luto, explorando a maneira como a ausência de um ente querido afeta cada membro da família. A narrativa cativa o leitor ao apresentar uma perspectiva íntima e comovente sobre a dor da perda e a busca por significado após a morte.


2. Estrutura Narrativa Inovadora

O livro apresenta uma estrutura não linear e fragmentada, intercalando trechos de prosa poética com fragmentos de diários de quarentena. Essa abordagem não convencional desafia o leitor a construir sua própria compreensão da história, tornando a experiência de leitura ainda mais envolvente.


3. Linguagem Bela e Evocativa

A escrita de Anna Kuzminska é marcada por uma beleza poética e uma riqueza de imagens metafóricas. A prosa lírica e introspectiva transporta o leitor para o universo emocional dos personagens, criando uma experiência sensorial e profunda.


4. Reflexões sobre Isolamento 

O isolamento dos personagens e a dificuldade de se conectar com os outros são temas centrais na obra. Essa exploração do silêncio e da falta de entendimento mútuo ressoa de forma potente, especialmente em um contexto pós-pandêmico.


5. Questionamento das Fronteiras entre Vida e Morte

A crença da mãe de que o pai falecido precisa ser resgatado desafia as noções convencionais sobre a finitude da existência. Essa premissa convida o leitor a refletir sobre a natureza da realidade e a possibilidade de uma conexão transcendental entre os vivos e os mortos.


6. Perspectiva Intimista 

As seções de diários de quarentena oferecem uma visão íntima e confessional da autora, permitindo que o leitor se aproxime de seus pensamentos e sentimentos. Essa abordagem adiciona uma camada de autenticidade e vulnerabilidade à narrativa.


7. Exploração da Identidade 

A obra aborda a jornada de autoconhecimento da narradora, enquanto ela luta para encontrar um significado em meio à perda e ao isolamento. Essa exploração da identidade e da busca por propósito ressoará com muitos leitores.


8. Representação Única da Experiência Familiar

A dinâmica familiar retratada em "Ossada Perpétua" é complexa e autêntica, refletindo as nuances das relações entre irmãos, pais e filhos. A forma como a autora captura essas interações íntimas é profundamente comovente.


9. Relevância Contemporânea

Embora a narrativa não esteja diretamente ligada à pandemia de COVID-19, os temas de isolamento, adaptação e a relação com a morte ressoam de forma poderosa em um contexto pós-pandêmico, tornando a obra particularmente relevante para os leitores de hoje.


10. Experiência de Leitura Transformadora

Ao mergulhar na narrativa de "Ossada Perpétua", o leitor é convidado a refletir sobre suas próprias experiências de luto, conexão e busca de significado. A obra tem o potencial de provocar uma transformação emocional e intelectual, deixando uma marca duradoura.

"Ossada Perpétua" de Anna Kuzminska é uma obra literária extraordinária que transcende os limites do gênero. Com sua estrutura inovadora, linguagem poética e exploração profunda de temas universais, este livro oferece uma experiência de leitura única e memorável. Seja você um leitor apaixonado por ficção ou simplesmente alguém em busca de uma narrativa que desafia e enriquece, "Ossada Perpétua" é uma leitura imperdível.

Resenha: Althusser e o materialismo aleatório, de Alysson Leandro Mascaro


O livro "Althusser e o materialismo aleatório" reúne as contribuições de dois destacados intérpretes do pensamento de Louis Althusser, Alysson Leandro Mascaro e Vittorio Morfino, em um profícuo diálogo sobre a última fase da obra deste influente filósofo marxista. A obra se estrutura em dois capítulos, nos quais os autores exploram diferentes aspectos da temática do encontro e da forma social, central para a compreensão do materialismo althusseriano dos anos 1980.

No primeiro capítulo, intitulado "Encontro e forma: política e direito", Alysson Leandro Mascaro aborda a relação entre encontro e forma, que perpassa a produção de Althusser e alcança seu ápice em textos da década de 1980, como "A corrente subterrânea do materialismo do encontro". O autor argumenta que essa temática, que já se fazia presente nos escritos althusserianos sobre ideologia e reprodução social nas décadas de 1960 e 1970, encontra no campo do direito um terreno fértil para ser explorada. 

Mascaro demonstra que a forma jurídica, derivada da forma mercadoria, revela-se fundamental para a compreensão da articulação entre determinação e acaso na constituição das relações sociais capitalistas. Ao analisar a transição entre os modos de produção, o autor evidencia como o encontro e o aleatório assumem papel decisivo, contrapondo-se a qualquer teleologia ou motor intrínseco da história. Nesse sentido, a forma política estatal e a forma de subjetividade jurídica, embora derivadas da forma mercadoria, guardam particularidades próprias e se relacionam apenas de modo secundário, rompendo com a tradição liberal ou juspositivista que concebe o Estado e o direito como mutuamente constitutivos.

Essa leitura de ascaro dialoga diretamente com os debates da derivação do Estado, cujo expoente mais importante é Joachim Hirsch, bem como com a tradição do marxismo jurídico, representada por Evguiéni Pachukanis. Ao situar a forma jurídica como chave para a compreensão da ideologia e da subjetividade no capitalismo, o autor estabelece um paralelo profícuo entre o horizonte althusseriano e as reflexões de Bernard Edelman e Nicole-Edith Thévenin sobre a materialidade da ideologia jurídica.

Desse modo, Mascaro argumenta que a relação entre encontro e forma pode ser mais bem pensada nos campos econômico e político a partir da perspectiva da forma de subjetividade jurídica. Como esta é derivada da forma mercadoria, que por sua vez determina também uma forma política estatal, a investigação sobre encontro e forma poderá revelar entrecruzamentos e concretudes históricas incontornáveis para a análise da sociabilidade capitalista.

No segundo capítulo, intitulado "Um ou dois materialismos aleatórios?", Vittorio Morfino realiza um minucioso exame da trajetória de sua própria interpretação sobre o "materialismo aleatório" de Althusser, desde a organização da coletânea "Sul materialismo aleatorio" até seus escritos mais recentes. O autor identifica a presença de duas tendências distintas nos textos althusserianos dos anos 1980: uma de inspiração lucreciana, proveniente dos anos 1960, e outra de caráter escatológico ou messiânico, que emerge na segunda metade dessa década.

Morfino demonstra como Althusser introduz, já nos anos 1960, conceitos como encontro, conjunção e ausência determinada, com o objetivo de superar os impasses da teoria da causalidade estrutural e da noção de gênese. Essa reelaboração teórica, articulada com referências a autores como Maquiavel, Espinosa e Darwin, teria prosseguido nos escritos da década seguinte, embora tensionada por uma tendência messiânica que enfatiza o primado do vazio e a transformação das margens em centro.

Ao analisar essa transição, Morfino estabelece um paralelo com a distinção proposta por Ingo Elbe entre o "velho" e o "novo" marxismo. Assim como Althusser representaria, para Elbe, a passagem do "marxismo ocidental" para o "novo marxismo", seus escritos dos anos 1980 evidenciariam uma reelaboração da teoria da causalidade estrutural, com a introdução de novos conceitos que buscam pensar a constituição das formas sociais a partir do encontro e do aleatório.

Nesse sentido, a hipótese interpretativa sugerida por Morfino, que propõe uma periodização mais precisa dos textos althusserianos dos anos 1980, identificando uma predominância da tendência lucreciana em 1982 e da tendência escatológica em 1985-1986, revela-se um interessante ponto de partida para futuras investigações sobre a última fase do pensamento de Althusser.

Ao final, a obra "Althusser e o materialismo aleatório" oferece uma leitura aprofundada e rigorosa sobre a última fase do pensamento de Althusser, destacando sua relevância para a compreensão do capitalismo e da política contemporânea. As análises de Mascaro e Morfino evidenciam a riqueza teórica desses escritos, bem como sua capacidade de iluminar questões centrais do marxismo e do direito.

Nesse sentido, a obra se insere em um movimento mais amplo de resgate e atualização do legado althusseriano, que vem ganhando força nas últimas décadas, com trabalhos como os de Ingo Elbe, Márcio Bilharinho Naves, Celso Naoto Kashiura Júnior e Stefano Pippa. Trata-se de um esforço coletivo de repensar o marxismo a partir das contribuições de Althusser, em diálogo com os desafios teóricos e políticos do presente.

Assim, "Althusser e o materialismo aleatório" se apresenta como uma importante referência para aqueles interessados em compreender as nuances do pensamento de Althusser, bem como sua relevância para a análise crítica da sociabilidade capitalista e das formas de subjetivação que lhe são inerentes. A articulação entre encontro, forma e direito, desenvolvida por Mascaro, e a identificação das tendências lucreciana e escatológica nos escritos dos anos 1980, proposta por Morfino, constituem aportes significativos para o aprofundamento dos estudos sobre a última fase da obra deste influente filósofo marxista.

Resenha: Castelo: a marcha para a ditadura, de Lira Neto

APRESENTAÇÃO

Primeiro presidente da ditadura instaurada em 1964, Humberto de Alencar Castello Branco é um personagem-chave da história do Brasil contemporâneo. Seu curto mandato ainda hoje enseja reavaliações e revisionismos. Exercendo com habilidade e discrição o poder quase absoluto, Castello lançou as bases do regime de força que atormentou o país durante duas décadas. Ora visto como monstruoso e implacável, ora como tolerante e sensato, o estrategista do golpe civil-militar continua a levantar polêmicas, mas, contraditoriamente, sua trajetória tem sido pouco estudada. Em sua primeira grande biografia, agora em nova edição, Lira Neto apresenta uma visão abrangente e equilibrada sobre o homem, o militar e o político, munido da mais completa documentação já reunida sobre Castello. O autor da aclamada trilogia Getúlio investiga em profundidade a vida e as lutas do general franzino que, sem disparar um tiro, derrotou inimigos e aliados na guerra sem quartel pelo poder máximo da República.

RESENHA

"Castelo: a marcha para a ditadura", de Lira Neto, é uma biografia detalhada do general Humberto de Alencar Castello Branco, primeiro presidente do regime militar que governou o Brasil a partir de 1964. A obra traça um retrato minucioso da trajetória de Castello Branco, desde sua infância no Nordeste até sua ascensão ao poder durante o golpe de 1964. O livro se destaca por sua riqueza documental e por revelar os bastidores da conspiração que levou à derrubada do governo democrático de João Goulart.

O primeiro capítulo da obra narra a infância e juventude de Castello Branco, destacando sua origem humilde e a influência de sua família marcada pela tradição militar. Nascido no Ceará em 1897, o jovem Castello enfrentou dificuldades desde cedo, sendo alvo de chacota devido à sua aparência física pouco atraente. No entanto, ele se destacou por sua dedicação aos estudos, especialmente após ingressar no Colégio Militar de Porto Alegre, onde desenvolveu uma personalidade reservada e disciplinada.

O livro descreve a ascensão de Castello Branco na carreira militar, sua participação na Escola Militar de Realengo e seu desempenho durante a Segunda Guerra Mundial, quando integrou a Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália. Nesse período, Castello Branco se consolidou como um oficial rigoroso e legalista, distanciando-se dos movimentos tenentistas que agitavam os quartéis nas décadas de 1920 e 1930.

O ponto alto da narrativa é a descrição detalhada da conspiração que levou ao golpe de 1964 e à ascensão de Castello Branco à presidência da República. O autor revela os bastidores dessa articulação, destacando o papel de Castello Branco como um dos principais articuladores do movimento, apesar de sua imagem pública de militar legalista. A obra também analisa a atuação de outros personagens-chave, como os generais Góis Monteiro e Ernesto Geisel, e a influência dos Estados Unidos nesse processo.

"Castelo: a marcha para a ditadura" se destaca como uma obra de fôlego que contribui significativamente para a compreensão do golpe de 1964 e do período da ditadura militar no Brasil. Através da minuciosa investigação de Lira Neto, o leitor tem acesso a uma narrativa densa e reveladora sobre os bastidores da conspiração que levou Castello Branco ao poder. A obra se torna, assim, leitura obrigatória para aqueles que buscam entender as origens e a consolidação do regime autoritário instaurado no país a partir de 1964.

Em suma, "Castelo: a marcha para a ditadura" é uma obra fundamental para o estudo da história política brasileira do século XX. Ao traçar a trajetória de Humberto de Alencar Castello Branco, Lira Neto desvenda os meandros da conspiração que desembocou no golpe de 1964 e na instauração da ditadura militar no Brasil. A riqueza documental e a abordagem minuciosa do autor conferem à obra um caráter incontornável para aqueles interessados em compreender esse período sombrio da história nacional.

Resenha: Vence-demanda: Educação e Descolonização, De Luiz Rufino

APRESENTAÇÃO

A educação como ferramenta de insubordinação contra o assombro colonial, como instrumento de transgressão das hierarquias do poder. Este pode ser um breve resumo do que Luiz Rufino apresenta nesta coletânea de artigos sobre educação e descolonização. Pensada não para gerar conformidade, mas divergência, a educação é a força que possibilita o processo de descolonização. A partir dessas premissas Rufino levanta discussões relevantes e atuais sobre o processo educacional, além de apontar caminhos.

Nos sete artigos que compõe a obra, o autor traz para o centro do debate a descolonização como tarefa da educação, fala da importância da “desaprendizagem”, da educação como prática da liberdade, realiza o encontro entre Exu e Paulo Freire, fala da gira descolonial como uma contínua batalha do colonizado na tentativa de deslocar a ordem vigente, da escola do sonho, aquela que deve ser habitada pelo conflito, pelo questionamento e finaliza lembrando que brincadeira é coisa séria.

RESENHA

O livro "Vence-demanda: Educação e Descolonização" de Luiz Rufino se configura como uma importante contribuição para os debates acerca da relação entre educação e descolonização no contexto brasileiro. Rufino, professor e pesquisador da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), constrói nesta obra uma elaborada reflexão sobre o papel da educação como ferramenta de enfrentamento do legado colonial.

A obra se estrutura em sete capítulos que articulam diferentes perspectivas teóricas e experiências práticas na construção de uma visão da educação como "radical da vida" e "prática de liberdade". Ao longo do texto, Rufino dialoga com autores como Frantz Fanon, Paulo Freire, bell hooks e Ailton Krenak, estabelecendo um diálogo profícuo entre distintas matrizes de pensamento.

O primeiro capítulo, "Qual é a tarefa da educação?", apresenta uma crítica contundente à concepção hegemônica de educação, entendida como mera preparação para o mundo ou acesso a uma agenda curricular vigente. Rufino argumenta que a educação não pode se limitar à conformidade e a devaneios universalistas, devendo, ao contrário, ser compreendida como um "radical vivo" que possibilita o enfrentamento dos ditames da agenda colonial.

Nesse sentido, a principal tarefa da educação é a descolonização, entendida como um processo de luta e libertação da dominação de modos de existir, conceber e praticar o mundo. Trata-se de uma ação tática que desautoriza o ser e o saber que se quer único, confrontando as dimensões de poder do projeto colonial.

O capítulo "Desaprender do cânone" aprofunda essa discussão, ressaltando a necessidade de uma "desaprendizagem" que problematize e interrogue o que se coloca como o único saber possível ou como saber maior em relação a outros modos. Essa desaprendizagem é compreendida como um ato político e poético diante daquilo que se veste como única verdade, confrontando o cânone e a política de esquecimento promovida pelo colonialismo.

O terceiro capítulo, "Descolonizar é um ato educativo", articula a noção de descolonização com a dimensão da cura, compreendendo-a como um enfrentamento da guerra colonial que não se limita ao campo bélico, mas se estende às esferas cognitiva, espiritual e existencial. Nesse sentido, a educação emerge como um "radical educativo" que possibilita a recuperação de sonhos, a ampliação de subjetividades e a reativação de memórias e saberes subalternizados.

Essa perspectiva é aprofundada no capítulo "Exu e Paulo Freire", no qual Rufino estabelece um diálogo entre a cosmogonia de Exu e o pensamento de Paulo Freire, compreendendo a educação como um campo de batalha em que se disputa a descolonização. Nesse jogo, Exu é entendido como um princípio explicativo de mundo que confronta a lógica colonial, enquanto Freire é lido como um "caboclo" que, em sua práxis educativa, mobiliza energias transgressoras.

Os últimos três capítulos do livro se dedicam à reflexão sobre o papel da escola nesse processo de descolonização. Em "A escola dos sonhos", Rufino argumenta que a escola, apesar de suas limitações, deve ser compreendida como um tempo e espaço de disputa por experimentações e pela defesa de um mundo plural.

Nessa perspectiva, a "escola palmeira" é apresentada como uma metáfora para uma educação que valoriza a diversidade de saberes, a capacidade de fazer perguntas e a liberdade do corpo em sua experimentação do mundo. Trata-se de uma escola "mais que humana", que reconhece a agência de outros seres e práticas de conhecimento não hegemônicas.

O capítulo "Guerrilha brincante" aprofunda essa discussão, ressaltando a importância da brincadeira e do jogo como dimensões fundamentais de uma educação descolonizadora. Rufino argumenta que a brincadeira, entendida como "libertação da regulação" imposta pelo modelo colonial, constitui uma estratégia de remontagem das esferas de memória, cognição, cultura e comunidade.

Por fim, o livro se encerra com o capítulo "A gira descolonial", no qual Rufino retoma a noção de "gira" como uma metáfora para a descolonização entendida como uma "batalha e cura" que convoca as presenças subalternas a partir de seus saberes e tecnologias ancestrais. Nesse sentido, a descolonização não se resume a um giro epistemológico, mas demanda uma "gira" que mobilize múltiplas dimensões da existência.

Em síntese, "Vence-demanda: Educação e Descolonização" se configura como uma obra fundamental para se pensar a educação como um campo de disputa política e poética, em que se reivindicam outras formas de ser, saber e estar no mundo. Ao articular distintas matrizes teóricas e experiências práticas, Rufino apresenta uma proposta de educação como "radical da vida" e "prática de liberdade", capaz de confrontar o legado colonial e construir caminhos de descolonização.

Resenha:Flores de Alvenaria, de Sérgio Vaz



APRESENTAÇÃO

Como poeta e morador da periferia, Sérgio Vaz sabe, como ninguém, transmitir a alma das ruas. Em  Flores de alvenaria  o autor nos lança nas calçadas do subúrbio e descortina um universo muitas vezes invisível por meio de textos, ora em verso, ora em prosa, sobre os mais variados temas: educação, negritude, liberdade, sexo, empatia.

Com apresentação do cantor e compositorChico César , a obra traz diálogos, relembra a situação da periferia em outras épocas e conta com poemas que costumam ser declamados na Cooperifa , evento criado pelo poeta que transformou um bar de Taboão da Serra em um evento cultural.

RESENHA

A obra "Flores de Alvenaria" do poeta Sérgio Vaz é uma importante contribuição para a literatura brasileira contemporânea, principalmente no que diz respeito à poesia produzida nas periferias urbanas. Vaz, que é um dos principais expoentes do movimento cultural da Periferia de São Paulo, apresenta neste livro uma coletânea de poemas, crônicas e textos que revelam a riqueza e a diversidade da produção literária emergente das comunidades marginalizadas. 

Ao longo desta resenha, buscaremos analisar os principais aspectos formais e temáticos da obra, bem como sua relevância no contexto sociocultural em que está inserida. Para tanto, dividiremos a discussão em três eixos principais: 1) A construção poética e a linguagem utilizada por Vaz; 2) As temáticas abordadas e sua relação com a realidade da periferia; 3) O papel da obra como manifestação cultural e política de resistência.

Um dos aspectos mais notáveis da obra de Sérgio Vaz é sua construção poética singular, marcada por uma linguagem que rompe com os padrões convencionais da poesia canônica. Ao longo de "Flores de Alvenaria", o autor emprega uma dicção coloquial, permeada por gírias, expressões populares e ritmos próprios da oralidade. Essa opção estética não se dá de forma aleatória, mas reflete uma clara intencionalidade do poeta em dar voz a uma perspectiva marginal, que se distancia das normas cultas da língua.

Nesse sentido, a obra de Vaz pode ser compreendida como uma espécie de "deglutição" dos cânones literários, em que a tradição é reelaborada a partir de uma ótica periférica. Tal estratégia se revela, por exemplo, na maneira como o autor reinterpreta clássicos da literatura brasileira, como os poemas de Castro Alves e as canções de Cartola, ressignificando-os em chave contemporânea e popular.

Além disso, a construção formal dos poemas também se destaca pela experimentação com diferentes gêneros e estruturas, transitando entre versos livres, prosa poética, letras de música e até mesmo a dramaticidade de diálogos. Essa heterogeneidade formal reflete a própria diversidade da expressão artística da periferia, que não se limita a modelos pré-estabelecidos.

Outro aspecto central da obra de Sérgio Vaz diz respeito às temáticas abordadas, que se encontram profundamente enraizadas na realidade da periferia urbana. Temas como a violência, a desigualdade social, o racismo, a precariedade das condições de vida e a luta pela sobrevivência permeiam grande parte dos textos, revelando um olhar atento e engajado do poeta em relação aos problemas que afetam diretamente as comunidades marginalizadas.

Nesse sentido, a obra de Vaz pode ser compreendida como uma espécie de "crônica poética" da vida nas periferias, em que a linguagem artística se torna um meio de denúncia e de reivindicação de direitos. Ao retratar o cotidiano de privações, lutas e resistências, o autor confere visibilidade a uma realidade muitas vezes invisibilizada ou distorcida nos discursos hegemônicos.

Além disso, a obra também se destaca pela representação de experiências e subjetividades que desafiam os estereótipos comumente associados à periferia. Personagens como o "poeta das ruas", a "Maria fodida" e o "vira-lata" são construídos com profundidade psicológica, revelando a complexidade das vivências individuais e coletivas nesse contexto.

Ao analisarmos a obra de Sérgio Vaz sob uma perspectiva mais ampla, é possível compreendê-la também como uma importante manifestação cultural e política de resistência. Inserida no contexto do movimento cultural da Periferia de São Paulo, "Flores de Alvenaria" se configura como uma expressão artística que busca afirmar a voz e a agência das comunidades marginalizadas.

Nesse sentido, a própria trajetória de Vaz como poeta e agitador cultural, fundador da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), é emblemática. Sua atuação na organização de saraus, eventos literários e ações comunitárias demonstra um claro engajamento em prol da democratização do acesso à cultura e da valorização das manifestações artísticas periféricas.

Além disso, a obra em si se apresenta como uma forma de resistência simbólica, na medida em que subverte os cânones literários e dá visibilidade a narrativas e perspectivas historicamente silenciadas. Ao reclamar o direito de dizer a sua própria história, Vaz e outros autores periféricos contribuem para a construção de uma nova hegemonia cultural, pautada na diversidade e no protagonismo das vozes marginais.

Em síntese, a obra "Flores de Alvenaria" de Sérgio Vaz se destaca pela sua relevância no contexto da literatura brasileira contemporânea, especialmente no que diz respeito à poesia produzida nas periferias urbanas. Através de uma linguagem singular, marcada pela oralidade e pela experimentação formal, o autor aborda temáticas intimamente ligadas à realidade das comunidades marginalizadas, conferindo visibilidade a experiências e subjetividades historicamente invisibilizadas.

Além disso, a obra de Vaz pode ser compreendida como uma manifestação cultural e política de resistência, na medida em que se insere em um movimento mais amplo de afirmação da voz e da agência das periferias. Nesse sentido, a trajetória do poeta e sua atuação como organizador de eventos literários e ações comunitárias também se revelam como importantes elementos de análise.

Portanto, a leitura e a análise de "Flores de Alvenaria" nos permitem não apenas apreciar a riqueza estética da produção literária periférica, mas também compreender sua relevância enquanto ferramenta de transformação social e cultural. Trata-se, assim, de uma obra fundamental para o entendimento da complexidade e da diversidade da literatura brasileira contemporânea.

Resenha: Forte como a Morte de Otto Leopoldo Winck


A obra "Forte como a Morte" de Otto Leopoldo Winck é uma narrativa complexa e multifacetada que entrelaça três histórias distintas em uma trama. O romance se destaca pela riqueza de suas referências teológicas, filosóficas e literárias, tecendo uma intrincada rede de significados que convida o leitor a uma jornada de reflexão e interpretação. O livro é estruturado de forma não linear, com as três narrativas principais - a de Rosália menina, a de Rosália mãe e a do reencontro do narrador com a personagem Betina - intercaladas em doze partes. Essa estrutura fragmentada, à primeira vista, pode parecer desafiadora, mas revela-se uma escolha narrativa deliberada, que evoca a imagem de uma rosácea, com seus padrões complexos e significados multifacetados.

A narrativa principal acompanha a jovem Rosália Klossosky, uma adolescente que apresenta estigmas semelhantes aos de Cristo, em uma pequena comunidade rural no sul do Brasil. Essa história é permeada por referências à teologia da libertação, à mística cristã e a questões sociais e políticas, como a luta pela reforma agrária. Paralelamente, a narrativa do narrador-padre, que reencontra uma antiga conhecida, Betina, no último Natal, traz à tona reflexões sobre a crise de fé, o papel do sacerdócio e a solidão do indivíduo.

Um dos aspectos mais notáveis da obra é sua abordagem teológica. Winck demonstra profundo conhecimento da tradição cristã, explorando conceitos como a kênosis (esvaziamento divino), a Shekinah (presença divina no mundo) e a relação entre fé, razão e mistério. A narrativa evoca a teologia da libertação, com sua ênfase na opção preferencial pelos pobres e na luta por justiça social, bem como a mística cristã, com suas noções de sofrimento, sacrifício e transcendência.

Além disso, o romance dialoga com a filosofia, especialmente com as ideias de Wittgenstein e Kierkegaard, que questionam a capacidade da linguagem e da razão de apreender plenamente a realidade. Essa abordagem filosófica contribui para a construção de uma narrativa que se recusa a fornecer respostas definitivas, deixando espaço para a ambiguidade e o mistério.

"Forte como a Morte" é uma obra de grande riqueza e complexidade, que desafia o leitor a mergulhar em uma trama intrincada de referências teológicas, filosóficas e literárias. Winck habilmente tece uma narrativa que questiona noções de fé, razão e mistério, convidando o leitor a uma jornada de reflexão e interpretação. Trata-se de um romance que se destaca pela sua abordagem erudita e pela sua capacidade de suscitar profundas indagações sobre a condição humana.

Resenha: Umbandas: uma história do Brasil, de Luiz Antonio Simas

 APRESENTAÇÃO

O historiador Luiz Antonio Simas frequenta terreiros de umbanda desde a mais tenra idade. Balizado pela história do Brasil e amparado pela própria trajetória, Simas elabora aqui um estudo inédito, original, que se propõe a contar a história do país à luz das umbandas — de tão brasileira que é, a umbanda se torna plural. Por isso, já no título deste livro a palavra não vem no singular. A diversidade do país, segundo o autor, se manifesta nas várias umbandas existentes, que se multiplicaram em histórias como a de sua avó, alagoana criada em Pernambuco e que se mudou para o Rio de Janeiro carregando consigo suas crenças e ritos.

RESENHA

O livro "Umbandas: uma história do Brasil", de Luiz Antonio Simas, propõe uma reflexão sobre as umbandas e sua profunda imbricação com a formação histórica e social do Brasil. Dividido em duas partes, a obra transita entre a "poética do encantamento" e a "política do encantamento", explorando as diversas manifestações religiosas afro-brasileiras, seus mitos, ritos e personagens, bem como os processos de cooptação, repressão e legitimação institucional dessas práticas.

Na primeira parte do livro, intitulada "Poéticas do Encantamento", Simas nos apresenta um panorama das raízes ancestrais das umbandas, remetendo-nos às santidades indígenas, aos calundus e danças de tunda, às pajelanças e catimbós, aos cultos aos orixás, caboclos e exus. Essa seção do livro destaca a riqueza e a diversidade das sabenças encantadas que se entrecruzam nas umbandas, enfatizando a noção de que esses cultos constituem um "ecossistema encantado", marcado pela interação entre o visível e o invisível, o humano e a natureza.

Ao explorar os mitos e ritos das santidades indígenas, dos calundus e das danças de tunda, Simas revela a complexidade e a dinamicidade dessas práticas religiosas, que se caracterizam pela fusão de elementos africanos, indígenas e cristãos. A figura do pajé, por exemplo, é apresentada como um xamã que atua como mediador entre o mundo material e os outros mundos espirituais, utilizando-se do poder terapêutico das plantas, do transe e da crença na existência de mundos paralelos.

Da mesma forma, o autor discorre sobre as bolsas de mandinga, os patuás e os ritos de fechamento dos corpos, evidenciando como essas tecnologias de cura e proteção incorporam saberes de diversas origens, numa constante reelaboração e adaptação às realidades locais. Nesse sentido, Simas destaca a noção de que os corpos são suportes de manifestações de encantamentos, sendo ritualmente preparados e transformados para abrigar as conexões entre o visível e o invisível.

Na segunda parte do livro, intitulada "Políticas do Encantamento", Simas aborda os processos de codificação e legitimação das umbandas, com foco no I Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda, realizado em 1941. Nesse contexto, o autor analisa as disputas em torno da definição da origem e da "pureza" da umbanda, contrastando as perspectivas de uma "umbanda branca", mais próxima do espiritismo kardecista e do cristianismo, com a de uma umbanda afro-brasileira, representada pela corrente do omolokô.

Ao explorar essa tensão, Simas revela como o projeto de construção da identidade nacional, marcado pela ideologia da mestiçagem, também se fez presente no campo das umbandas. Enquanto alguns buscavam afastar as práticas afro-brasileiras, em nome de uma suposta "pureza" e "civilidade", outros, como Tancredo da Silva Pinto e a corrente do omolokô, defendiam a valorização das raízes africanas e indígenas da umbanda, contestando os esforços de desafricanização do culto.

Essa seção do livro também aborda a relação entre as umbandas e a repressão e intolerância religiosa enfrentadas pelos cultos afro-brasileiros. Simas destaca como a legislação brasileira, ao mesmo tempo em que aparentemente garantia a liberdade religiosa, criava subterfúgios legais que permitiam a perseguição aos terreiros, enquadrando suas práticas como "curandeirismo" e "perturbação da ordem pública".

Nesse contexto, o autor discorre sobre o embate entre as umbandas e as igrejas neopentecostais, especialmente a Igreja Universal do Reino de Deus, que têm sistematicamente atuado na destruição de terreiros e na demonização das religiosidades afro-brasileiras. Essa disputa pelo "mercado da fé" revela as profundas raízes do racismo estrutural brasileiro, que se manifesta na desqualificação e na aniquilação dos saberes e práticas não brancos.

Ao longo do livro, Luiz Antonio Simas adota uma abordagem multidisciplinar, transitando entre a História, a Antropologia, a Sociologia e a Filosofia, de modo a compreender as umbandas em sua complexidade e dinamismo. Sua escrita poética e envolvente convida o leitor a mergulhar nesse universo encantado, revelando as sutilezas, contradições e belezas que permeiam as práticas religiosas afro-brasileiras e sua relação com a formação do Brasil.

Ao explorar tanto a "poética do encantamento" quanto a "política do encantamento", Simas nos apresenta uma obra que transcende os limites da mera descrição etnográfica ou histórica. Seu texto é uma convocação à compreensão das umbandas como manifestações vivas de uma "brasilidade forjada nas miudezas da nossa gente", que insistem na beleza espantosa presente em rituais de afirmação da vida, em contraposição à lógica colonial de aniquilação e morte.

Referências

SIMAS, Luiz Antonio. Umbandas: uma história do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2021.

Resenha: Senhor Cão, de Flávio Ilha

A obra "Senhor Cão" do autor Flávio Ilha é uma narrativa complexa e multifacetada que explora temas profundos da condição humana, como a solidão, a busca pela identidade, os conflitos familiares e as consequências das escolhas individuais. Publicado em 2024 pela editora Aboio, o romance se destaca pela sua estrutura fragmentada, pela riqueza de personagens e pela abordagem poética da linguagem.

O romance "Senhor Cão" é composto por nove capítulos, cada um deles com um título que evoca uma temática central da obra. A narrativa é construída de forma não linear, com saltos temporais e espaciais que desafiam o leitor a acompanhar o fluxo de consciência dos personagens. Essa estrutura fragmentada reflete a própria condição existencial dos protagonistas, que se encontram em constante busca por respostas e sentido para suas vidas.

Ao longo da obra, o leitor é apresentado a uma diversidade de personagens, cada um com sua própria história e perspectiva. Destaca-se a figura de Pedro Flávio Póvoa, o protagonista, cuja trajetória é marcada por uma série de escolhas e ações que o levam a um profundo isolamento e conflito interno. Outros personagens, como Dona Leda, Eulália e Quim, também ganham destaque, revelando as complexas dinâmicas familiares e as consequências das ações de Pedro.

A linguagem utilizada por Flávio Ilha em "Senhor Cão" é marcada por uma riqueza poética e metafórica. O autor faz uso de uma prosa lírica e introspectiva, que permite uma imersão profunda nos pensamentos e emoções dos personagens. Essa abordagem estilística contribui para a construção de um ambiente sombrio e introspectivo, refletindo o estado de espírito dos protagonistas.

As temáticas centrais da obra giram em torno da solidão, da busca pela identidade, dos conflitos familiares e das consequências das escolhas individuais. O romance explora a forma como a ausência de figuras paternas e a fragilidade dos laços familiares afetam profundamente a vida dos personagens. Além disso, a obra também aborda questões relacionadas à moralidade, à violência e à culpa.

Análise Crítica

"Senhor Cão" se destaca como uma obra literária de grande complexidade e profundidade. O autor, Flávio Ilha, consegue criar uma narrativa que desafia o leitor a refletir sobre temas universais da condição humana, sem, no entanto, oferecer respostas definitivas. A estrutura fragmentada e a linguagem poética contribuem para uma experiência de leitura imersiva e envolvente.

Um dos aspectos mais notáveis da obra é a forma como Ilha retrata a solidão e a busca pela identidade dos personagens. Pedro Flávio Póvoa, em particular, é um protagonista complexo e multifacetado, cuja trajetória é marcada por uma série de escolhas e ações que o levam a um profundo isolamento. Essa representação da solidão humana é uma das principais forças do romance, ressoando com o leitor de maneira profunda.

Outro aspecto relevante é a abordagem de Ilha em relação aos conflitos familiares. A dinâmica entre os personagens, marcada por ausências, traições e incompreensões, revela a fragilidade dos laços afetivos e as consequências devastadoras que esses conflitos podem ter. Essa representação da família como um espaço de tensão e desafios é uma forte crítica social presente na obra.

Em suma, "Senhor Cão" de Flávio Ilha é uma obra literária de grande riqueza e complexidade. Através de uma narrativa fragmentada e uma linguagem poética, o autor consegue explorar temas universais da condição humana, como a solidão, a busca pela identidade e os conflitos familiares. A obra desafia o leitor a refletir sobre suas próprias escolhas e a forma como elas podem impactar sua vida e a vida daqueles ao seu redor.

Ao final, "Senhor Cão" se destaca como uma contribuição importante para a literatura contemporânea, oferecendo uma perspectiva profunda e emocionante sobre a complexidade da existência humana.

Resenha: Literatura, pão e poesia, de Sérgio Vaz


 APRESENTAÇÃO

A voz das ruas é o guia da instigante literatura de Sérgio Vaz. Suas palavras não fazem concessões com aqueles que procuram nos colocar medo todos os dias, nem com os que promovem a promessa barata de que a felicidade está ao alcance de todos. Com a mente repleta de sonhos e pesadelos, o poeta dispõe à nossa frente todas as faces que capta da realidade cotidiana.

Nesse livro, Vaz joga sua rede no mundo das crônicas, e pesca o que há de esperança e desesperança na vida. Como observador das marés, de nossas tormentas e maremotos, ele mergulha fundo na alma dos invisíveis, dos desterrados, dos sem-nome, dos sem-lugar, dos sem aquilo que um dia foi prometido a todos, mas que acabou sendo apenas permitido a uma pequena parcela da humanidade: a plena cidadania.

RESENHA

Literatura, pão e poesia, do escritor Sérgio Vaz, é uma obra que transcende os limites da simples crônica literária, apresentando-se como um testemunho vivo da efervescência cultural e poética que emerge das periferias brasileiras. Neste livro, Vaz nos convida a adentrar um universo em que a palavra se torna arma de empoderamento e resistência, onde a poesia se ergue como farol iluminando os caminhos de uma comunidade historicamente marginalizada.

Desde o primeiro texto, intitulado "Novos dias", Vaz estabelece o tom combativo e engajado que permeia toda a obra. Nele, o autor interpela o leitor a não abrir mão dos sonhos e da poesia, mas a enfrentá-los com "punhos cerrados" - uma clara alusão à necessidade de uma postura ativa e combativa diante das adversidades. Essa premissa se desdobra ao longo do livro, revelando a literatura como um instrumento de transformação social.

Vaz nos apresenta sua definição da "nova literatura da periferia", destacando sua íntima relação com a grande tradição literária, ao mesmo tempo em que reivindica seu caráter insurgente e subversivo. Essa estratégia de diálogo com o cânone literário se repete em outros textos, como em "A poesia dos deuses inferiores", em que o autor constrói uma espécie de "catálogo" da literatura marginal, evidenciando sua legitimidade e relevância.

Um dos aspectos mais interessantes da obra é a maneira como Vaz articula a dimensão poética e a dimensão geográfica. Textos como "Como nasce um taboanense", "Taboão dos Palmares" e "Taboão, suor e lágrimas" demonstram que o território da periferia não é apenas cenário, mas personagem ativo na construção dessa literatura. Vaz nos apresenta um lugar vivo, pulsante, que se transforma em protagonista, gerando uma fala própria e uma identidade singular.

Essa imbricação entre poesia e espaço físico se estende para uma reflexão sobre a relação entre centro e periferia na cidade de São Paulo, como evidenciado no texto "Mil graus na terra da garoa". Aqui, o autor problematiza as políticas culturais e urbanísticas que tendem a marginalizar as expressões artísticas periféricas, convocando-as a "aranharem os céus da cidade".

Ao longo do livro, Vaz também se debruça sobre figuras emblemáticas da periferia, como o catador de papel Zagatti, o "palhaço da loja de sapatos", e a "fina flor da malandragem" - personagens que encarnam a resiliência e a dignidade de uma comunidade que se recusa a ser subjugada. Essas crônicas revelam uma perspectiva humanizada e empática, distante de julgamentos simplistas.

Destaca-se ainda o "Manifesto da Antropofagia Periférica", uma releitura periférica e atualizada do Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade. Nele, Vaz convoca os artistas a se colocarem a serviço da comunidade, rejeitando a "arte domingueira que defeca em nossa sala" e reivindicando uma produção artística engajada na transformação social.

Em Literatura, pão e poesia, Sérgio Vaz nos apresenta uma poética da periferia que vai muito além da denúncia ou do lamento. Sua escrita é marcada por um profundo compromisso com a dignidade e a emancipação de seu povo, revelando uma literatura que se faz arma de luta e instrumento de empoderamento. Ao entrelaçar a dimensão poética com a dimensão geográfica e social, Vaz nos convida a repensar os caminhos da arte e da cultura no Brasil, desafiando-nos a enxergar a periferia não apenas como objeto, mas como sujeito da história.


Referências


VAZ, Sérgio. Literatura, pão e poesia. São Paulo: Global, 2011.


BRUM, Eliane. Posfácio. In: VAZ, Sérgio. Literatura, pão e poesia. São Paulo: Global, 2011.

Resenha: O negro no mundo dos brancos, de Florestan Fernandes



APRESENTAÇÃO

A década de 1960 ficou assinalada pelo incremento dos estudos sobre o negro brasileiro. Durante muitos anos, analisada em um ou outro livro ou artigo esporádico, a participação do descendente de africano no Brasil começou a ser reavaliada (segundo alguns de maneira um tanto idealizada) por Gilberto Freyre, em Casa- grande & Senzala (1933). Nos anos seguintes, os estudiosos assumiram posições mais realistas, pondo de lado velhos chavões como a inexistência de preconceito racial no país. Buscaram-se enfoques inéditos de abordagem do problema, analisaram-se aspectos ainda não avaliados, sempre amparados em pesquisa de campo e levantamento minucioso de dados. O Negro no Mundo dos Brancos, do professor Florestan Fernandes, reflete essas tendências através de seus quatorze ensaios, centrados na preocupação com a supremacia da "raça branca" e o controle do poder que ela exerce em nossa sociedade, fazendo do Brasil um mundo social modelado pelo branco e para o branco. Estudando a situação do negro e do mulato na sociedade brasileira, vista a partir de São Paulo, Florestan Fernandes levanta os caminhos sinuosos assumidos pelo preconceito, os seus disfarces e o processo de segregação racial, sem agravar ou atenuar o problema. Sua visão é de que o equilíbrio racial na sociedade brasileira "procede do modo pelo qual os dois polos se articulam com um mínimo de fricção", padrão de equilíbrio que é a própria base da desigualdade racial. O livro aborda ainda outros assuntos mais heterogêneos e fortuitos, como o significado das pesquisas sobre relações raciais, a presença do negro "em nosso folclore e nos quadros da religião popular", todos eles se comunicando entre si, ajudando a desvendar a situação real do negro na sociedade brasileira, mas também afirmando as "preocupações morais e políticas" do autor.

RESENHA

A obra "O negro no mundo dos brancos", de autoria do renomado sociólogo brasileiro Florestan Fernandes, é uma importante contribuição para a compreensão das relações raciais no Brasil. Publicado originalmente em 1972, este livro reúne uma série de ensaios escritos entre 1965 e 1969, com alguns textos elaborados ainda na década de 1940.

O principal objetivo da obra é analisar a situação do negro e do mulato na sociedade brasileira, com ênfase especial na cidade de São Paulo. Essa escolha se justifica pelo fato de São Paulo ter se tornado o principal centro urbano-industrial do país, representando um lócus privilegiado para a observação das transformações sociais e das dinâmicas das relações raciais no contexto da emergência da ordem social competitiva.

Organizada em três partes, a obra aborda diferentes aspectos do "dilema racial brasileiro", desde as raízes históricas da desigualdade racial até as perspectivas futuras de democratização das relações entre brancos, negros e mulatos. Nesta resenha, serão destacados os principais argumentos e contribuições apresentados por Florestan Fernandes em cada uma das seções do livro.

Na primeira parte, intitulada "As barreiras da Cor", Fernandes analisa como a desagregação do regime escravista e a consequente transição para a ordem social competitiva não resultaram em uma efetiva democratização das relações raciais no Brasil. Ao contrário, o autor demonstra que a abolição da escravidão não foi acompanhada de medidas que garantissem a integração do negro e do mulato na nova estrutura social.

Nesse sentido, Fernandes argumenta que a Abolição significou, na prática, uma "última espoliação" do ex-escravo, que se viu desprovido de qualquer amparo ou assistência para enfrentar as exigências do trabalho livre e da economia de mercado. Assim, o negro e o mulato foram "expulsos para a periferia da ordem social competitiva", relegados a ocupações precárias e marginalizados dos principais canais de mobilidade social ascendente.

Essa dinâmica é evidenciada pela análise dos dados censitários, que revelam a persistência da concentração racial da renda, do prestígio social e do poder nas mãos da população branca. Fernandes demonstra, por exemplo, que, em 1950, apenas 2,5% dos empregadores em São Paulo eram negros ou mulatos, apesar de estes representarem 11,16% da população total do estado.

Além disso, o autor identifica a existência de um "preconceito de não ter preconceito" na sociedade brasileira, em que o reconhecimento formal da igualdade racial convive com a manutenção de práticas discriminatórias e de um sistema de relações assimétricas herdado do período escravista. Nesse contexto, a "democracia racial" se revela mais um mito do que uma realidade efetiva.

Na segunda parte, intitulada "O Impasse Racial no Brasil Moderno", Fernandes aprofunda a análise das dinâmicas que perpetuam a desigualdade racial no país, explorando as conexões entre a estrutura da ordem social competitiva e a persistência de padrões tradicionais de relações raciais.

O autor argumenta que a imigração europeia, ao se inserir privilegiadamente no mercado de trabalho urbano-industrial em expansão, contribuiu para a marginalização ainda maior do negro e do mulato, que se viram excluídos das melhores oportunidades econômicas e sociais. Essa situação, somada à falta de preparo desses grupos para as exigências do trabalho livre e da vida nas cidades, levou a uma profunda desorganização social e a uma "desmoralização coletiva" no "meio negro".

Fernandes também analisa os movimentos sociais organizados pela população negra e mulata, especialmente em São Paulo, durante as décadas de 1920 a 1940. Embora esses movimentos tenham representado uma importante tentativa de afirmação da identidade racial e de reivindicação por igualdade, o autor demonstra que eles acabaram sendo neutralizados pela indiferença e pela incompreensão da sociedade inclusiva, incapaz de absorver as demandas por democratização das relações raciais.

Nesse cenário, Fernandes identifica a persistência de um "padrão tradicionalista e assimétrico de relação racial", em que o preconceito e a discriminação continuam a operar, mesmo após a abolição formal da escravidão. Essa situação, por sua vez, acaba por perpetuar a concentração racial da renda, do prestígio social e do poder, comprometendo as possibilidades de uma efetiva democratização das estruturas sociais.

Na terceira e última parte, intitulada "Em Busca da Democracia Racial", Fernandes discute as perspectivas futuras para a superação do "dilema racial brasileiro". O autor reconhece a existência de potencialidades favoráveis à democratização das relações raciais no país, como a gradual inserção do negro e do mulato no sistema de classes e a expansão de uma "classe média de cor".

No entanto, Fernandes também identifica fatores que dificultam essa transição, como a persistência de estruturas sociais arcaicas na esfera das relações raciais e a dificuldade de mobilização coletiva da população negra e mulata, em um contexto marcado pela indiferença e omissão do segmento branco da sociedade.

Nesse sentido, o autor argumenta que a concretização de uma autêntica democracia racial no Brasil depende de uma "ruptura profunda com o passado", exigindo não apenas a transformação das estruturas sociais, mas também uma mudança radical na consciência social e nos valores predominantes na sociedade brasileira. Fernandes defende, assim, a necessidade de políticas públicas e de um engajamento efetivo da sociedade na superação das desigualdades raciais, sob pena de a "democracia racial" permanecer como um mito, sem se concretizar na prática.

A obra "O negro no mundo dos brancos" representa uma contribuição fundamental para a compreensão das relações raciais no Brasil. Ao analisar a situação do negro e do mulato no contexto da transição do regime escravista para a ordem social competitiva, Florestan Fernandes desvenda os mecanismos que perpetuam a desigualdade racial, mesmo após a abolição formal da escravidão.

Sua abordagem sociológica, amparada em uma vasta pesquisa empírica, permite revelar as contradições entre os ideais de igualdade e democracia racial e a realidade concreta de exclusão e marginalização vivenciada pela população negra e mulata. Nesse sentido, o livro se constitui como um importante marco na produção acadêmica sobre as relações raciais no Brasil, contribuindo para a desmistificação da noção de "democracia racial" e apontando caminhos para a sua efetiva construção.

Ao mesmo tempo, a obra de Fernandes suscita reflexões fundamentais sobre o papel da ciência social na compreensão e na transformação da realidade social. Ao desvelar os impasses e as contradições da situação racial brasileira, o autor demonstra a importância de uma postura engajada do cientista social, comprometido não apenas com a produção de conhecimento, mas também com a superação das desigualdades e a construção de uma sociedade mais justa e democrática.


Referências

FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1972.

IANNI, Octavio. Raças e classes sociais no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.

MAIO, Marcos Chor. A história do projeto Unesco: estudos raciais e ciências sociais no Brasil. Tese de doutorado, IUPERJ, 1997.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

Resenha: Pra tudo começar na quinta-feira, de Luiz Antonio Simas e Fábio Fabato



APRESENTAÇÃO

Este é um trabalho com um recorte temático e espacial: ele versa sobre os enredos das escolas de samba do Rio de Janeiro e os seus criadores. A primeira parte aborda a conexão que existe entre os enredos das agremiações e os respectivos contextos históricos em que foram apresentados. A segunda parte apresenta e analisa a biografia profissional e a contribuição dos maiores carnavalescos, criadores de enredos, para o crescimento e transformação das escolas de samba do Rio de Janeiro desde 1960, quando a influência desses personagens passa a ser decisiva (e polêmica) para os rumos da festa.

RESENHA

O livro "Pra tudo começar na quinta-feira: o enredo dos enredos", de Luiz Antonio Simas e Fábio Fabato, apresenta uma profunda e instigante análise sobre a evolução dos enredos das escolas de samba do Rio de Janeiro ao longo do tempo. Os autores se debruçam sobre essa importante manifestação cultural, explorando suas conexões com os contextos históricos, sociais e políticos em que se inserem.

O trabalho se divide em duas partes principais. Na primeira, os autores abordam a relação entre os enredos das agremiações e os respectivos períodos históricos em que foram apresentados, mostrando como as escolas de samba foram influenciadas em suas escolhas temáticas pela conjuntura de determinados momentos. Ao mesmo tempo, destacam que as escolas, dotadas de notável capacidade de assimilação e transformação, acabam por influenciar essa mesma conjuntura, não sendo meras vítimas passivas do contexto ou condicionadas acriticamente por ele, mas agentes ativas da história, interferindo dinamicamente no tempo e no espaço em que estão inseridas.

Na segunda parte, os autores apresentam e analisam a biografia profissional e a contribuição dos maiores carnavalescos, criadores de enredos, para o crescimento e a transformação das escolas de samba do Rio de Janeiro a partir da década de 1960, quando a influência desses personagens passa a ser decisiva (e polêmica) para os rumos da festa.

Ao longo da obra, Simas e Fabato adotam uma abordagem interdisciplinar, transitando entre a história, a sociologia, a antropologia e os estudos culturais, o que lhes permite uma compreensão ampla e multifacetada do objeto de estudo. Sua escrita é fluida e acessível, evitando o rigor acadêmico excessivo, o que torna a leitura agradável e envolvente.

Um dos aspectos mais relevantes do livro é a forma como os autores lidam com a questão da memória. Eles reconhecem que não há uma memória objetiva, uma vez que a reconstrução de uma experiência sempre pressupõe distintas interpretações e ressignificações do que foi vivido. Dessa maneira, o mundo do samba é apresentado como um espaço ricamente povoado de relatos épicos, mitos e personagens lendários, em que mito e história, realidade e fábula, se entrelaçam constantemente.

Outro ponto forte da obra é a atenção dedicada aos carnavalescos, figuras centrais no desenvolvimento das escolas de samba. Simas e Fabato traçam um panorama histórico da ascensão desses profissionais, destacando sua importância na reconfiguração estética e temática dos desfiles. Ao mesmo tempo, evidenciam as tensões e os conflitos entre esses artistas e o poder público, bem como a maneira como eles negociaram e se adaptaram às demandas impostas pelos patrocinadores e pela indústria do entretenimento.

No que se refere aos enredos, os autores identificam duas tendências principais ao longo do tempo: a dos temas que versam sobre efemérides oficiais e personagens históricos, e a dos enredos que abordam a mitologia e a cultura afro-brasileira. Eles demonstram como essas duas vertentes se relacionam com as conjunturas políticas e sociais de determinados períodos, refletindo tanto os interesses do Estado quanto as reivindicações e a resistência das comunidades marginalizadas.

Além disso, os autores dedicam atenção especial à emergência dos enredos patrocinados nas últimas décadas, explorando as implicações dessa nova realidade para a festa. Eles argumentam que essa tendência tem levado à padronização e à uniformização dos desfiles, com as escolas sendo encaradas como potenciais veículos de propaganda de massas e indução ao consumo.

Em suma, "Pra tudo começar na quinta-feira" se configura como uma obra fundamental para a compreensão do carnaval carioca e de sua importância como manifestação cultural e política. Ao articular de forma brilhante a relação entre os enredos e os contextos históricos, sociais e econômicos, os autores contribuem significativamente para o avanço dos estudos sobre essa celebração tão rica e complexa.

Resenha: História Medieval, de Marcelo Cândido da Silva



APRESENTAÇÃO

A Idade Média abrange um período de cerca de dez séculos, compreendido entre o final da Antiguidade e o início da época moderna. Diferentes formas de expansão, de poder e de sociedade foram forjadas durante esses mil anos. Enquanto os chamados bárbaros conquistavam territórios, o poder da Igreja crescia e o cristianismo se tornava uma ferramenta eficaz de integração (muitas vezes forçada). Outra característica marcante do período é a dominação senhorial: controle econômico, jurídico, político e militar dos camponeses por parte da aristocracia.Nesta obra introdutória, o professor da Universidade de São Paulo Marcelo Cândido da Silva se dedica a apresentar e discutir as principais características desse período, dando ênfase a seus contrastes: a fome, a peste e as guerras se alternando com tempos de paz e prosperidade; o universalismo do papado convivendo com os particularismos senhoriais e com as monarquias em vias de centralização. Com este livro, o leitor tem em mãos uma obra atualizada e palpitante sobre a História Medieval.

RESENHA

O livro "História Medieval" de Marcelo Cândido da Silva é uma obra abrangente e atualizada sobre o período medieval europeu, compreendido entre os séculos V e XV. O autor, professor titular da Universidade de São Paulo e pesquisador renomado na área, apresenta uma análise cuidadosa e equilibrada dos principais temas e debates historiográficos referentes à Idade Média.

Ao longo de seis capítulos, o livro percorre as transformações políticas, econômicas, sociais e culturais que marcaram essa longa e complexa etapa da história europeia. Longe de uma visão simplista ou determinista, a narrativa de Cândido da Silva demonstra a riqueza e a diversidade dos fenômenos medievais, buscando relativizar interpretações consagradas e incorporar os avanços da pesquisa histórica mais recente.

O primeiro capítulo aborda a transição da Antiguidade Tardia para o período medieval, enfocando o processo de integração dos povos bárbaros no Império Romano e a formação dos reinos bárbaros subsequentes. O autor problematiza a noção de "invasões bárbaras", mostrando como esses grupos, longe de serem meros conquistadores, adaptaram-se e assimilaram diversos elementos da cultura e das instituições romanas.

Cândido da Silva também discute a construção historiográfica da ideia de "germanidade" e de identidades étnicas, destacando como essas categorias foram forjadas principalmente a partir do século XIX, em meio aos nacionalismos europeus. Nesse sentido, a análise das "leis bárbaras" revela a complexidade das relações entre romanos e bárbaros, bem como a gradual consolidação de uma dominação aristocrática sobre o campesinato.

O segundo capítulo é dedicado à emergência e ao apogeu do Senhorio territorial, forma de organização socioeconômica que caracterizou grande parte da Europa Ocidental medieval. O autor examina a estrutura bipartida do Grande Domínio, com sua reserva senhorial e tenências camponesas, bem como a dinâmica de concentração fundiária e de hierarquização social que marcaram os séculos XI-XIII.

Cândido da Silva problematiza o conceito de "Feudalismo", preferindo utilizar o termo "dominação senhorial" para abarcar a complexidade das relações de poder e de exploração que se estabeleceram entre a aristocracia e o campesinato. Nesse contexto, são analisados os processos de espacialização do domínio senhorial, a ascensão da Cavalaria e as tensões entre senhores e comunidades urbanas.

O terceiro capítulo aborda o papel central desempenhado pela Igreja Católica na configuração das sociedades medievais. O autor demonstra como o cristianismo, por meio de suas normas, ritos e instituições, forjou diversos traços fundamentais da Cristandade Ocidental, desde a organização do espaço e do tempo até a legitimação do poder político.

Cândido da Silva também discute a afirmação da autoridade papal, os conflitos entre Papado e Império, bem como a emergência de movimentos considerados heréticos e a construção da "sociedade persecutória" a partir do século XII. Nesse contexto, a Inquisição é analisada como um instrumento de poder da monarquia pontifícia.

O quarto capítulo examina os séculos XIV e XV, período marcado por profundas transformações e crises, como a Grande Fome, a Peste Negra e a Guerra dos Cem Anos. Longe de uma visão catastrófica, o autor demonstra que tais fenômenos não implicaram necessariamente o colapso da economia e da sociedade medievais.

Cândido da Silva destaca a capacidade de resiliência das sociedades europeias, que responderam à depressão demográfica e à instabilidade política com inovações técnicas, comerciais e administrativas. Nesse sentido, a emergência dos Estados modernos e a expansão ultramarina são compreendidas como processos enraizados na dinâmica tardomedieval.

No último capítulo, o livro aborda a construção historiográfica da noção de "Idade Média", analisando os usos políticos, culturais e identitários desse conceito ao longo dos séculos XIX e XX. O autor examina como a imagem do período medieval foi moldada por diferentes correntes interpretativas, desde o Iluminismo até o Romantismo e a Nova História.

Cândido da Silva problematiza a rigidez das periodizações tradicionais, bem como a instrumentalização da Idade Média por parte de movimentos nacionalistas e regimes autoritários. Nesse sentido, a obra demonstra a atualidade e a relevância do debate sobre a Idade Média, que continua a suscitar interpretações diversas e, por vezes, conflitantes.

"História Medieval" de Marcelo Cândido da Silva se destaca pela abordagem abrangente e equilibrada do período, evitando simplificações e incorporando os avanços da pesquisa histórica mais recente. O autor transita com maestria por uma ampla gama de temas, articulando questões políticas, econômicas, sociais e culturais de forma coerente e didática.

A obra se apresenta como leitura obrigatória para estudantes, pesquisadores e interessados no período medieval, oferecendo uma visão atualizada e crítica sobre esse momento fundamental da história europeia. Ao mesmo tempo, o livro contribui para a desconstrução de mitos e estereótipos comumente associados à Idade Média, promovendo uma compreensão mais nuançada e complexa desse fascinante período.

Resenha: A Consulta, de Katharina Volckmer


 APRESENTAÇÃO

No consultório de um certo dr. Seligman, em Londres, uma jovem realiza um procedimento sobre o qual temos apenas pistas. A paciente está de pernas para o alto enquanto narra em detalhes sua vida e seus desejos, em especial as lutas que trava com a própria identidade sexual, de gênero e nacional. Nascida e criada na Alemanha, ela vive na Inglaterra há vários anos, determinada a libertar-se de suas origens familiares e do fardo de pertencer a uma pátria assombrada pelas atrocidades cometidas na guerra. A morte recente do avô e uma herança inesperada, entretanto, deixam claro que não se pode fugir facilmente à própria vergonha, seja ela física, familiar, histórica, pátria, ou todas as opções anteriores. Ou será que pode? Com a ajuda do dr. Seligman, é o que procura descobrir nossa narradora. Nesta espécie de O complexo de Portnoy às avessas, ela confessa ao médico judeu seu fascínio pelas vítimas do Holocausto, ao mesmo tempo em que admite a profundidade das feridas por ele abertas: “nunca estivemos de luto; no máximo, interpretamos uma nova versão de nós mesmos, histericamente não racista sob qualquer perspectiva, e negando qualquer diferença sempre que possível.” Num monólogo que retoma a melhor tradição do romance neurótico, ela nos conduz por uma jornada verborrágica que vai de mães controladoras e fantasias sexuais com Hitler até as propriedades medicinais da cauda do esquilo, passando pela inusitada ideia de que as mudanças anatômicas podem servir de reparação histórica. Hilário e mordaz, implacável e profundamente honesto, A consulta é uma estreia literária audaciosa, que desafia nossas noções do que é fluido e do que é imutável, provocando-nos a pensar sobre as formas de fazer as pazes com os outros e conosco no século 21.

RESENHA

"A Consulta" (2020), o romance de estreia da escritora alemã Katharina Volckmer, apresenta ao leitor uma narrativa fascinante e complexa que se desenrola durante uma sessão de terapia. A protagonista, uma mulher alemã sem nome, relata ao seu terapeuta, o Dr. Seligman, suas experiências de vida marcadas por conflitos identitários, sexualidade reprimida e uma profunda solidão. Ao longo da consulta, a narradora expõe suas memórias, fantasias e obsessões, revelando uma psique tortuosa e multifacetada. 

O enredo de "A Consulta" é essencialmente construído em torno dessa sessão terapêutica, na qual a protagonista compartilha com o Dr. Seligman uma série de relatos autobiográficos, memórias e devaneios. Desde o início, fica claro que a narradora luta com questões profundas relacionadas à sua identidade de gênero, sexualidade e lugar no mundo. Ela revela ter tido sonhos perturbadores nos quais se identifica com a figura de Adolf Hitler, refletindo uma complexa relação com a história alemã e sua própria imagem corporal.

À medida que a narrativa avança, a protagonista aborda temas como seu relacionamento conturbado com os pais, especialmente a mãe, e sua frustração com os padrões de beleza e feminilidade impostos pela sociedade. Ela também relata sua breve, porém intensa, relação com um artista enigmático chamado K., que a levou a explorar sua própria sexualidade de maneiras não convencionais. Esses episódios são narrados de forma não linear, com a narradora transitando livremente entre memórias, fantasias e reflexões sobre sua condição existencial.

Um aspecto notável do enredo é a maneira como a protagonista se posiciona em relação à sua herança alemã e ao legado do Holocausto. Ela expressa uma profunda ambivalência, oscilando entre sentimentos de culpa, repulsa e desejo de redenção. Essa tensão é evidenciada em sua fascinação por um homem judeu imaginário, chamado Shlomo, com quem ela fantasiava ter um relacionamento que a ajudaria a superar o fardo do passado alemão.

Ao longo da consulta, a narradora também revela sua obsessão por um método não convencional de lidar com sua solidão e insatisfação sexual: a aquisição de um robô sexual projetado por um inventor japonês. Essa ideia é explorada de maneira complexa, refletindo suas ansiedades sobre a desumanização e a perversão da sexualidade.

A estrutura do romance é marcada pela alternância entre os relatos da protagonista e os comentários e intervenções do Dr. Seligman. Essa estrutura dialógica cria uma dinâmica intrigante, na qual o leitor é convidado a acompanhar não apenas a narrativa da personagem, mas também as reações e questionamentos do terapeuta.

O estilo narrativo de Volckmer é denso, introspectivo e repleto de divagações filosóficas. A narradora se expressa de maneira eloquente, com uma prosa rica em imagens poéticas e reflexões profundas sobre a condição humana. Sua voz é marcada por um tom confessional, que confere autenticidade e vulnerabilidade à narrativa.

O enredo de "A Consulta" é uma jornada introspectiva e perturbadora, na qual a protagonista confronta seus conflitos identitários, sexualidade reprimida e solidão existencial. Ao longo da sessão terapêutica, a narradora revela camadas complexas de sua psique, desafiando os limites da normalidade e explorando temas universais como a busca pela identidade, a luta contra os padrões sociais e a necessidade de conexão humana. O resultado é um romance profundamente enraizado na experiência humana, que convida o leitor a mergulhar na psique de uma personagem singularmente complexa.

Resenha: História da beleza no Brasil, de Denise Bernuzzi de Sant'Anna



APRESENTAÇÃO

Há séculos, a beleza distingue e desperta invejas. Ela é objeto de desejo, instrumento de poder e moeda de troca em diferentes sociedades. No último século, o corpo transformou-se em algo tão importante, complexo e sensível quanto outrora fora a alma. Esta obra, que combina trabalho rigoroso e linguagem saborosa, mostra o que se faz para buscar a beleza – e como esse conceito muda com o tempo. Desde o garbo e a elegância nos primeiros anos da República até a atual banalização das cirurgias plásticas, História da beleza no Brasil trata das transformações ligadas aos padrões estéticos e aos cuidados com o corpo, mas também do martírio causado pela feiura e da tumultuada luta para driblar o envelhecimento, a solidão e o fracasso.

RESENHA

O livro "História da beleza no Brasil", de Denise Bernuzzi de Sant'Anna, é uma obra abrangente e minuciosa que traça a evolução dos cuidados com a aparência física no Brasil ao longo do século XX. A autora realiza uma análise detalhada das transformações nos padrões estéticos, nas técnicas de embelezamento e nos significados atribuídos à beleza, revelando como essa temática se tornou cada vez mais central na sociedade brasileira.

O livro inicia com uma breve contextualização sobre as expectativas em relação ao futuro do país no início do século XX, contrastando as projeções feitas em 1900 com as realidades contemporâneas. Essa introdução serve como ponto de partida para a autora explorar as mudanças nos cuidados com a aparência física ao longo do período estudado.

Um dos principais eixos do enredo é a gradual banalização e valorização do embelezamento, que deixa de ser um tema secundário e passa a ocupar um espaço central na imprensa, na publicidade e no imaginário social. Denise Sant'Anna demonstra como, ao longo do século, a beleza se transformou em uma preocupação comum a homens e mulheres, de diferentes idades, classes sociais e orientações sexuais, deixando de ser um privilégio de uma elite.

Outro aspecto fundamental do enredo é a análise das técnicas e produtos utilizados para o embelezamento, desde os antigos artifícios caseiros até a emergência de uma indústria cosmética cada vez mais sofisticada. A autora acompanha a evolução dos cuidados com a pele, os cabelos, a maquiagem, as roupas e os acessórios, mostrando como esses elementos foram gradualmente se tornando centrais na construção das identidades.

Ao longo do livro, Denise Sant'Anna também explora as ambiguidades e contradições presentes nesse processo, como a persistência de preconceitos em relação à beleza, a medicalização dos cuidados estéticos e a emergência de novos padrões de beleza que, por vezes, reforçam desigualdades de gênero e raça. Questões como a valorização da magreza, a expansão das cirurgias plásticas e a sexualização dos corpos são analisadas de forma crítica.

Em síntese, "História da beleza no Brasil" é uma obra fundamental para compreender as transformações nos padrões de beleza e nos cuidados com a aparência física no país ao longo do século XX. Através de uma abordagem histórica e interdisciplinar, a autora revela como a busca pela beleza se tornou um fenômeno cada vez mais central, complexo e ambíguo, refletindo ansiedades, desejos e disputas sociais em constante evolução. O livro é uma referência indispensável para estudiosos das áreas de história, sociologia, antropologia e estudos de gênero interessados em compreender as dinâmicas socioculturais em torno da aparência física no Brasil contemporâneo.

Resenha: Stalingrado, de Alexander Werth

APRESENTAÇÃO

Era a batalha do tudo ou nada: se os nazistas conquistassem Stalingrado, provavelmente venceriam a Segunda Guerra Mundial. Acuados, os soviéticos pagaram caro pela resistência encarniçada. Milhares de vidas foram ceifadas no trágico embate. De julho de 1942 até fevereiro do ano seguinte, o mundo acompanhou como pôde o encontro dos dois grandes exércitos. O autor Alexander Werth, um dos pouquíssimos jornalistas estrangeiros a cobrir a frente oriental, teve um olhar privilegiado. Assim que os alemães capitularam, Werth chega a uma Stalingrado ainda traumatizada e nos relata com vivacidade tudo o que observa. Além de ser testemunha ocular, entrevistou oficiais, especialistas militares e teve acesso a documentos originais. Stalingrado continua sendo o livro mais importante publicado sobre uma das mais sangrentas e decisivas batalhas da Segunda Guerra Mundial.

RESENHA

O livro Stalingrado, escrito por Alexander Werth e publicado originalmente em 2012, é uma obra que se destaca pela sua riqueza de detalhes e profundidade de análise sobre um dos episódios mais marcantes da Segunda Guerra Mundial - a Batalha de Stalingrado. Trata-se de uma obra de grande relevância histórica, que nos permite compreender não apenas os aspectos militares desse conflito, mas também as suas implicações políticas, sociais e culturais.

A narrativa se inicia com a descrição da Batalha de Stalingrado como um "ponto nevrálgico" da guerra, uma vez que a sua resolução poderia determinar o curso de todo o conflito. Werth explora de maneira detalhada as duas fases da batalha: a fase defensiva, que durou até 19 de novembro de 1942, e a fase ofensiva, que levou ao cerco das forças alemãs na cidade.

Durante a fase defensiva, Werth destaca a importância da resistência dos soldados soviéticos, que conseguiram adaptar-se às condições de combate em ambiente urbano e explorar as debilidades das forças alemãs. Ele também analisa o papel fundamental desempenhado pelo alto-comando soviético, que soube aproveitar a batalha para preparar a grande ofensiva que resultaria no cerco das tropas alemãs.

Já na fase ofensiva, Werth descreve com riqueza de detalhes as manobras estratégicas realizadas pelos generais soviéticos, bem como a determinação dos soldados em eliminar as forças inimigas cercadas em Stalingrado. Ele também aborda a tentativa fracassada do marechal Von Manstein de romper o cerco, bem como a deterioração das condições de vida dos soldados alemães sitiados na cidade.

Ao longo da obra, Werth enfatiza a importância da Batalha de Stalingrado para o curso da guerra. Ele argumenta que a vitória soviética nessa batalha marcou uma virada decisiva no conflito, pois não apenas eliminou uma das melhores forças da Wehrmacht, como também solapou a iniciativa estratégica dos alemães.

Além disso, Werth destaca o impacto psicológico da vitória soviética, que fortaleceu a confiança do Exército Vermelho e da população civil em relação à capacidade de vencer a guerra. Ele também aponta como a Batalha de Stalingrado elevou o prestígio internacional da União Soviética, transformando-a em um ator de peso no cenário político mundial.

Em suma, a obra de Alexander Werth sobre a Batalha de Stalingrado se destaca por sua abordagem abrangente e minuciosa do tema. Ao combinar uma análise detalhada das operações militares com uma compreensão profunda das implicações políticas, sociais e culturais desse conflito, o autor nos apresenta uma visão ampla e complexa de um dos episódios mais decisivos da Segunda Guerra Mundial.

Sua riqueza de detalhes, aliada à utilização de uma diversidade de fontes primárias e à experiência pessoal do autor, conferem a esta obra um caráter de referência indispensável para aqueles que desejam compreender em profundidade a Batalha de Stalingrado e seu impacto no curso da história.

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