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Se "O Predador: A Caçada" (Prey, 2022) salvou a franquia ao desconstruí-la até o osso — um combate primitivo no século XVIII —, "Predador: Terras Selvagens" (Badlands) ousa ao expandi-la para uma complexidade futurista. Dan Trachtenberg retorna à cadeira de diretor não para repetir a fórmula, mas para subvertê-la completamente. Desta vez, o filme aposta em uma premissa arriscada que dividiu a crítica, mas conquistou os fãs do lore: transformar o Yautja (o Predador) no verdadeiro protagonista da narrativa.
Direção e Narrativa: O Ponto de Vista do Monstro
A decisão criativa mais audaciosa de Trachtenberg é a mudança de perspectiva. Durante grande parte do primeiro ato, a câmera segue o Predador, não os humanos. O diretor utiliza uma linguagem visual que humaniza a criatura sem domesticá-la. Vemos o ritual, a preparação do armamento e, surpreendentemente, uma certa honra melancólica na caçada.
A narrativa situa-se em um futuro próximo (ou uma realidade alternativa distópica), onde a tecnologia humana avançou o suficiente para oferecer resistência, mas não para garantir a sobrevivência. Trachtenberg mantém a tensão característica, mas troca o horror de sobrevivência intimista de Prey por um sci-fi de ação tática que remete a Aliens (1986) e O Exterminador do Futuro. A direção de ação é límpida; não há cortes rápidos para esconder a coreografia. Cada golpe tem peso, e a física das armas de plasma e das lanças retráteis é sentida pelo público.
Atuação: O Desafio Duplo de Elle Fanning
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Elle Fanning carrega o lado humano da história com uma performance magnética e fisicamente exigente. Fugindo de seus papéis etéreos habituais, Fanning entrega uma personagem endurecida pelo ambiente hostil das "Terras Selvagens". O roteiro exige que ela atue, em muitos momentos, sozinha ou contracenando com uma criatura muda (ou com telas verdes), e ela ancora o filme com um olhar de determinação feroz.
Há um elemento de dualidade na performance de Fanning (cujos detalhes específicos entram em território de spoilers da trama, envolvendo inteligência artificial e identidade) que adiciona uma camada filosófica ao filme. Ela não é apenas uma "final girl" correndo pela floresta; ela é um espelho temático para o próprio Predador — ambos são produtos de um mundo onde apenas a eficiência letal garante o amanhã.
Design de Produção e Efeitos: O Futuro Enferrujado
A estética de Badlands é um triunfo do design de produção. Afastando-se das selvas verdes da América Central (1987) ou das Grandes Planícies (2022), este filme nos joga em um ambiente árido, tecnológico e decadente. As locações na Nova Zelândia foram transformadas digitalmente para criar um terreno alienígena e hostil.
O design da criatura recebeu uma atualização significativa. O Predador de Badlands usa uma armadura mais pesada e tecnologicamente integrada do que o "Feral Predator" de Prey. A equipe de efeitos práticos (novamente com consultoria da KNB EFX Group) construiu um traje animatrônico que permite uma expressividade facial inédita, essencial já que a criatura ocupa tanto tempo de tela. A mistura de efeitos práticos para o corpo da criatura com CGI para a camuflagem e armamentos de energia é, na maior parte do tempo, perfeita, embora algumas sequências de perseguição em alta velocidade mostrem um leve "peso digital" artificial.
Roteiro e Temática: Caçador ou Guardião?
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O roteiro de Patrick Aison e Trachtenberg aprofunda o código de honra dos Yautja. O filme questiona o que acontece quando o Predador encontra uma presa que não apenas luta de volta, mas que ele passa a "respeitar" de uma maneira distorcida.
A crítica do The Hollywood Reporter observou que o filme sofre levemente no segundo ato, onde a exposição do mundo futurista desacelera o ritmo da caçada. Ao tentar construir uma mitologia maior, o filme perde um pouco da urgência visceral de seu antecessor. No entanto, o terceiro ato compensa com uma sequência de batalha clímax que é, sem dúvida, uma das mais criativas da franquia, utilizando o ambiente futurista e armadilhas tecnológicas de forma genial.
Recepção e Veredito
"Predador: Terras Selvagens" foi recebido com entusiasmo pela crítica especializada em gênero (Bloody Disgusting, Empire), que elogiou a coragem de não fazer apenas "Prey 2". No entanto, o público geral mostrou-se um pouco mais dividido em relação à complexidade sci-fi e ao foco na criatura, com alguns sentindo falta do mistério simples de "homem vs. monstro na mata".
É um filme tecnicamente impecável que solidifica Dan Trachtenberg como o principal arquiteto do renascimento desta franquia. Ele prova que o Predador é um personagem versátil o suficiente para transitar entre o horror histórico e a ficção científica futurista sem perder sua essência.
Nota: 4/5 estrelas (Uma expansão ousada, visualmente deslumbrante, ancorada por uma Elle Fanning surpreendente).
Ficha Técnica:
Direção: Dan Trachtenberg
Roteiro: Dan Trachtenberg e Patrick Aison
Elenco: Elle Fanning
Estúdio: 20th Century Studios
Status: Em cartaz (Novembro 2025)



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