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[RESENHAS #757] Morangos mofados, de Caio Fernando Abreu

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Em sua obra mais célebre, publicada em 1982, quando tinha trinta e quatro anos, Caio Fernando Abreu faz transbordar de cada página a angústia, o desassossego e o estilo confessional que o consolidaram como uma das vozes mais combativas e radicais de sua época. A prosa visceral dos dezoito contos de Morangos mofados ― potencializada pela hesitação coletiva de um país que vislumbrava a redemocratização ante a falência incipiente do regime militar ― traduziu as inconstâncias humanas mais profundas e continua, ainda hoje, arrebatando leitores de todas as gerações. Para José Castello, que assina o posfácio desta edição, embora seja um livro de narrativas curtas, “a obra mantém uma férrea unidade, em torno da coragem de se despir, da fidelidade aos sentimentos mais íntimos e mesmo os mais terríveis, e ainda à dificuldade de ser”.

RESENHA

Morangos mofados é uma coletânea de contos do escritor brasileiro Caio Fernando Abreu, publicada em 1982. Considerada sua obra-prima, a obra retrata a vida urbana, a angústia, a solidão, o sexo, a morte e a busca por sentido de personagens marginalizados ou excluídos pela sociedade. A obra é dividida em duas partes: O Mofo e Os Morangos, que representam respectivamente a decadência e a esperança, a opressão e a liberdade, o desespero e a redenção.

O estilo de Caio Fernando Abreu é marcado pela economia de palavras, pela linguagem coloquial, pela ironia, pelo lirismo e pela intertextualidade. O autor utiliza referências literárias, musicais, cinematográficas e históricas para compor seus contos, que são influenciados por autores como Clarice Lispector, Jorge Luis Borges, Julio Cortázar e Edgar Allan Poe. Os contos de Morangos mofados são narrados em primeira ou terceira pessoa, com foco nos sentimentos e nas sensações dos personagens, que muitas vezes se confundem com o próprio autor.

Os personagens de Morangos mofados são em sua maioria jovens, homossexuais, artistas, intelectuais, drogados, alcoólatras, suicidas ou doentes. Eles vivem em grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro ou Porto Alegre, e sofrem com a violência, a repressão, o preconceito, a falta de amor e de perspectivas. Eles também buscam escapar da realidade através da arte, da música, da literatura, do cinema, do sonho, da fantasia, da religião ou da magia. Alguns dos contos mais emblemáticos da obra são: Sargento Garcia, que narra o encontro entre um militar e um travesti; Dama da Noite, que apresenta o monólogo de uma drag queen; O Queijo e os Vermes, que conta a história de um homem que se transforma em um queijo; e Os Sobreviventes, que descreve o cotidiano de um grupo de amigos que convivem com a AIDS.

A obra Morangos Mofados, de Caio Fernando Abreu, é uma coletânea de contos que retrata a vida urbana, a angústia, a solidão, o sexo, a morte e a busca por sentido de personagens marginalizados ou excluídos pela sociedade. A obra é dividida em duas partes: O Mofo e Os Morangos, que representam respectivamente a decadência e a esperança, a opressão e a liberdade, o desespero e a redenção.

A simbologia da obra está relacionada ao contraste entre o mofo e os morangos, que são imagens que remetem à deterioração e à vitalidade, à podridão e à doçura, à infecção e à cura. O mofo é o símbolo da geração que viveu sob a ditadura militar, que teve seus sonhos frustrados, sua liberdade cerceada, sua identidade negada. Os morangos são o símbolo da possibilidade de resistir, de criar, de amar, de se reinventar. A obra mostra que, mesmo em meio ao mofo, é possível encontrar morangos, ou seja, motivos para viver e esperar.

Algumas frases marcantes da obra:

- "Já li tudo, cara, já tentei macrobiótica psicanálise drogas acunpuntura suicídio ioga dança natação cooper astrologia patins marxismo candomblé boate gay ecologia, sobrou só esse nó no peito, agora faço o quê?" (Os Sobreviventes)

- "Tem uma coisa dentro de mim que continua dormindo quando eu acordo, lá longe de mim." (Pera, uva ou maçã?)

- "Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra." (Aqueles dois)

- "Oficializar o já acontecido: perdi um pedaço, tem tempo. E nem morri." (Morangos Mofados)

Alguns personagens da obra são:

- O narrador de Os Sobreviventes, que é um jovem homossexual que convive com a AIDS e com a falta de sentido da vida.
- A mulher de Caixinha de música, que é uma pianista que se isola do mundo e se refugia na arte.
- Raul e Saul de Aqueles dois, que são dois colegas de trabalho que se apaixonam e sofrem com o preconceito e a violência dos outros.
- A mulher de Morangos Mofados, que é uma ex-militante que se separa do marido e tenta recomeçar a vida.

A obra de Caio Fernando Abreu reflete o contexto histórico e social do Brasil nos anos 70 e 80, marcado pela ditadura militar, pela censura, pela violação dos direitos humanos, pela crise econômica, pela abertura política, pela redemocratização, pela epidemia da AIDS e pela emergência dos movimentos sociais, como o feminismo, o negro e o LGBT. A obra também dialoga com questões universais, como o amor, a morte, a identidade, a liberdade, a felicidade e o sentido da vida.

A importância e a relevância cultural de Morangos mofados se deve ao fato de que a obra é um retrato fiel e sensível de uma geração que viveu sob o signo da fragmentação, da incerteza, da rebeldia e da resistência. A obra também é um testemunho da vida e da obra de Caio Fernando Abreu, um dos maiores escritores brasileiros de sua época, que se destacou por sua coragem, sua originalidade, sua criatividade e sua sensibilidade. A obra é considerada um clássico da literatura brasileira contemporânea e foi adaptada para o teatro, o cinema e a televisão.

Caio Fernando Abreu nasceu em Santiago, no Rio Grande do Sul, em 1948. Desde criança, demonstrou interesse pela literatura e publicou seu primeiro conto aos 18 anos. Estudou letras e artes cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas não concluiu os cursos. Trabalhou como jornalista em diversas revistas e jornais, como Veja, Manchete, Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo. Foi perseguido pela ditadura militar e se exilou na Europa por um ano. Voltou ao Brasil em 1974 e se dedicou à literatura, escrevendo contos, romances, crônicas, poemas, peças de teatro e roteiros de cinema. Foi premiado três vezes com o Prêmio Jabuti e uma vez com o Prêmio Molière. Morreu em 1996, aos 47 anos, vítima de complicações decorrentes da AIDS.

Morangos mofados é uma obra que merece ser lida, relida e apreciada por todos os que se interessam pela literatura, pela história, pela cultura e pela vida. A obra é um convite à reflexão, à emoção, à imaginação e à transformação. A obra é um espelho, uma janela, uma porta e uma ponte. A obra é um grito, um sussurro, um silêncio e uma canção. A obra é um mofo, um morango, um veneno e um antídoto. A obra é um desafio, uma surpresa, uma revelação e uma inspiração. A obra é um presente, um passado, um futuro e um eterno. A obra é um livro, uma obra, uma vida e uma arte. A obra é Caio Fernando Abreu.


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