[RESENHA #735] A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água, de Jorge Amado

"Saí da leitura dessa extraordinária novela [...] com a mesma sensação que tive, e que nunca mais se repetiu, ao ler os grandes romances e novelas dos mestres russos do século XIX", declarou Vinicius de Moraes. Escrita em 1959, esta pequena obra-prima de concisão narrativa e poética é tida por muitos como uma das mais extraordinárias novelas da nossa língua. Numa prosa inebriante, que tangencia o fantástico sem perder o olhar aguçado para as particularidades da sociedade baiana, Jorge Amado narra a história das várias mortes de Joaquim Soares da Cunha, vulgo Quincas Berro Dágua, cidadão exemplar que a certa altura da vida decide abandonar a família e a reputação ilibada para juntar-se à malandragem da cidade. Algum tempo depois, Quincas é encontrado sem vida em seu quarto imundo. Sua envergonhada família tenta restituir-lhe a compostura, vesti-lo e enterrá-lo com decência; mas, no velório, os amigos de copo e farra dão-lhe cachaça, despem-no dos trajes formais e fazem-no voltar a ser o bom e velho Quincas Berro Dágua. Levado ao Pelourinho, o finado Quincas joga capoeira, abraça meretrizes, canta, ri e segue a farra em direção à sua segunda e agora apoteótica morte.

RESENHA

A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água é uma novela do escritor brasileiro Jorge Amado, publicada em 1961. A obra conta a história de Joaquim Soares da Cunha, um funcionário público que, aos cinquenta anos, abandona sua família e sua vida respeitável para se tornar um boêmio conhecido como Quincas Berro d'Água. A narrativa se concentra nas circunstâncias de sua morte e nas diferentes versões que sua família e seus amigos dão ao fato.

A novela é uma sátira à sociedade baiana da época, que valoriza as aparências e os preconceitos de classe. Jorge Amado retrata com humor e ironia o contraste entre o mundo dos ricos e o mundo dos pobres, entre o moralismo e a liberdade, entre a vida e a morte. O autor também explora o tema da identidade, mostrando como Quincas Berro d'Água se reinventa ao romper com as convenções sociais e se entregar à vadiagem.

A obra é considerada uma das mais originais e divertidas de Jorge Amado, que utiliza uma linguagem coloquial e rica em expressões populares. O narrador é onisciente e participa da história, comentando os fatos e as atitudes dos personagens. A novela também apresenta elementos do realismo mágico, como a ambiguidade entre a vida e a morte de Quincas e as situações fantásticas que ocorrem na noite em que seus amigos o levam para um passeio.

A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água é uma obra que celebra a alegria de viver, a amizade e a resistência dos marginalizados. É uma crítica à hipocrisia e à opressão da sociedade, que tenta impor um modelo de comportamento e de felicidade. É também uma homenagem à cultura popular e à diversidade do povo brasileiro, que se expressa na música, na dança, na comida e na bebida. É, enfim, uma obra que nos faz refletir sobre o sentido da vida e da morte, e sobre a importância de sermos fiéis a nós mesmos.

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O AUTOR

Jorge Amado (1912-2001) foi um escritor brasileiro, um dos maiores representantes da ficção regionalista que marcou o Segundo Tempo Modernista. Sua obra é baseada na exposição e análise realista dos cenários rurais e urbanos da Bahia. Traduzido para mais de trinta idiomas e detentor de inúmeros e importantes prêmios, o escritor teve vários de seus trabalhos adaptados para a televisão e o cinema, entre eles, "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Gabriela Cravo e Canela".