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[RESENHA #756] Seara Vermelha, de Jorge Amado

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Escrito em 1946, quando Jorge Amado era deputado federal pelo Partido Comunista, Seara vermelha narra a luta dos sertanejos do Nordeste contra a fome e pela dignidade humana. Na primeira parte o romance descreve a penosa retirada rumo ao sul de uma família de lavradores pobres, expulsos da roça pelo novo latifundiário da região. Na caminhada pela inóspita caatinga, comandados pelo patriarca Jerônimo, vários vão ficando pelo caminho: uns morrem de fome, outros de doença; a irmã de Jerônimo junta-se aos seguidores de um profeta do apocalipse, o jovem Agostinho e sua prima ficam numa fazenda para trabalhar e casar, outra se prostitui. Poucos concluem a longa jornada até as terras míticas de São Paulo. Na segunda metade do livro, conta-se a história dos três filhos de Jerônimo que saíram de casa antes mesmo do grande êxodo: Jão vira soldado de polícia, José se torna o temido cangaceiro Zé Trevoada, e Juvêncio engaja-se na luta revolucionária. A ação se desloca do sertão nordestino aos confins da selva amazônica, do Mato Grosso ao Rio de Janeiro e São Paulo. Acontecimentos cruciais da história do país, como a Revolução Constitucionalista de 32 e sobretudo o Levante Comunista de 35, sem falar do cangaço e das revoltas místicas, são retratados de modo vivo e pulsante neste romance de amplo fôlego, que é também uma narrativa de extrema e dolorosa atualidade.

RESENHA

Seara Vermelha, de Jorge Amado, é um romance publicado em 1946, que narra a saga de uma família de camponeses nordestinos que é expulsa de suas terras pelo latifúndio e decide migrar para o sul do país, em busca de melhores condições de vida. A obra é considerada um dos grandes épicos da literatura brasileira, pois retrata com realismo e sensibilidade a situação dos retirantes, vítimas da seca, da fome, da violência e da exploração.

O estilo de Jorge Amado é marcado pela linguagem coloquial, pelo humor, pela ironia, pela crítica social e pela valorização da cultura popular. O autor pertence à geração de 1930 do modernismo brasileiro, que se caracteriza pela ficção regionalista, com enfoque nos problemas sociais e políticos do país. Jorge Amado foi um escritor engajado, que militou no Partido Comunista Brasileiro e defendeu as causas dos trabalhadores, dos negros, dos índios e das mulheres.

Os principais personagens de Seara Vermelha são Jerônimo, o patriarca da família de retirantes, sua esposa Jucundina, seus filhos Jão, Zé e Juvêncio, e seus netos Agostinho, Marta e Ernesto. Cada um deles representa um aspecto da realidade nordestina, como o cangaço, o misticismo, a revolução, o trabalho escravo, a prostituição e a morte. Além deles, há outros personagens secundários que compõem o cenário da obra, como o coronel Horácio, o latifundiário que expulsa os camponeses, o profeta Sebastião, o líder religioso que promete o fim do mundo, o cangaceiro Zé Trovoada, o filho rebelde de Jerônimo, e o cabo Juvêncio, o filho revolucionário que participa da Intentona Comunista de 1935.

A obra ensina ao leitor sobre a história, a geografia, a cultura e a sociedade do Nordeste brasileiro, mostrando as contradições, os conflitos, as tradições e as esperanças desse povo sofrido e resistente. Além disso, a obra também ensina sobre os valores humanos, como a solidariedade, a coragem, a fé, o amor e a liberdade. Algumas citações da obra que ilustram esses ensinamentos são:

"A seca não é uma coisa, é um estado. Um estado de espírito, um estado de alma, um estado de vida. A seca é a morte, a morte de tudo, a morte de todos."

"O povo é como o mar, às vezes calmo, às vezes bravo, mas sempre forte, sempre poderoso, sempre vencedor."

"Não há nada mais bonito do que a liberdade. A liberdade é a coisa mais bonita do mundo. A liberdade é a vida."

O período histórico em que se passa a obra é o da Primeira República (1889-1930), marcado pela hegemonia dos coronéis, pelos movimentos sociais e pelas crises econômicas. A obra também aborda acontecimentos posteriores, como a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder, e a Intentona Comunista de 1935, que foi uma tentativa fracassada de derrubar o governo.

A importância e a relevância cultural de Seara Vermelha são inegáveis, pois a obra é um dos maiores clássicos da literatura nacional, reconhecida pela crítica e pelo público, tanto no Brasil quanto no exterior. A obra foi traduzida para vários idiomas e adaptada para o cinema, em 1963, pelo diretor Alberto D’Aversa. A obra também influenciou outros escritores, como Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz e João Cabral de Melo Neto, que também retrataram o drama dos retirantes em suas obras.

Jorge Amado foi um dos mais importantes e populares escritores brasileiros, autor de mais de 30 livros, entre romances, contos, crônicas, poemas e memórias. Sua obra é rica em diversidade, abrangendo temas como o candomblé, o carnaval, o erotismo, a política, a história e a cultura baiana. Entre seus livros mais famosos, além de Seara Vermelha, estão Capitães da Areia, Jubiabá, Terras do Sem-Fim, Tieta do Agreste, Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tenda dos Milagres. Jorge Amado foi membro da Academia Brasileira de Letras, recebeu vários prêmios e homenagens, e foi indicado ao Nobel de Literatura. Ele morreu em 6 de agosto de 2001, em Salvador, aos 88 anos.

Seara Vermelha é uma obra que merece ser lida, relida e apreciada por todos os que se interessam pela literatura e pela realidade brasileira. É uma obra que emociona, que informa, que questiona e que inspira. É uma obra que revela a alma e a arte de Jorge Amado, um dos maiores escritores de todos os tempos.

Leia outras resenhas de livros do mesmo autor:

o gato malhado e a andorinha sinhá
Gabriela, Cravo e Canela
Tenda dos milagres
Terra do sem-fim
Cacau
Dona Flor e seus dois maridos
Tieta do Agreste
Jubiabá
Capitães da Areia
Tereza Batista cansada de guerra
ABC de Castro Alves
Bahia de todos os santos
O amor do soldado
Mar morto (romance)
Brandão entre o mar e o amor
A morte e a morte de Quincas Berro Dágua

O AUTOR
Jorge Amado (1912-2001) foi um escritor brasileiro, um dos maiores representantes da ficção regionalista que marcou o Segundo Tempo Modernista. Sua obra é baseada na exposição e análise realista dos cenários rurais e urbanos da Bahia. Traduzido para mais de trinta idiomas e detentor de inúmeros e importantes prêmios, o escritor teve vários de seus trabalhos adaptados para a televisão e o cinema, entre eles, "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Gabriela Cravo e Canela".
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