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[RESENHA #755] Os Velhos Marinheiros ou o Capitão de Longo Curso, de Jorge Amado

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Num belo dia de 1929, chega à estação de trem de Periperi - um pacato vilarejo de veraneio na periferia de Salvador - um personagem singular, vestindo túnica de oficial da marinha mercante: comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão-de-longo-curso. Aos sessenta anos, ele se declara cansado de navegar mundo afora e diz que veio para ficar.

Logo se torna figura de destaque na comunidade local, composta quase exclusivamente de aposentados, encantando a todos com seus relatos de aventuras românticas e exóticas. Ou a quase todos. Um grupo de cidadãos enciumados com o prestígio do recém-chegado questiona a veracidade das histórias e até mesmo sua condição de comandante.

O fiscal aposentado Chico Pacheco, líder dos questionadores, empreende uma investigação implacável em Salvador e volta com a bombástica notícia de que Aragão é uma fraude: não passa de um velho boêmio, que torrou nos bordéis e cabarés o patrimônio do avô português, comerciante de secos e molhados. Seu título de capitão-de-longo-curso fora obtido por meio de corrupção e malandragem.

Quem estará com a razão? O comandante ou seus detratores? O tira-teima definitivo se apresenta na forma de uma última missão para a qual o comandante é convocado: levar ao porto de chegada um navio cujo capitão morrera em alto-mar.

O romance foi publicado originalmente em 1961, no volume Os velhos marinheiros - Duas histórias do cais da Bahia, que incluía a novela A morte e a morte de Quincas Berro Dágua.

RESENHA

Uma possível resenha sobre o livro Os Velhos Marinheiros ou o Capitão de Longo Curso, de Jorge Amado, é a seguinte:

O livro, publicado em 1961, é um romance modernista que mistura narração e crônica para contar a história de Vasco Moscoso de Aragão, um órfão que herda uma fortuna do avô e se torna um falso capitão de longo curso. A obra é dividida em duas partes: a primeira, intitulada “Os velhos marinheiros”, narra a chegada de Vasco à pequena cidade litorânea de Periperi, onde ele encanta os moradores com suas histórias fantásticas de aventuras pelo mar; a segunda, intitulada “O capitão de longo curso”, revela o passado de Vasco e as circunstâncias que o levaram a assumir a identidade de um marinheiro experiente.

O estilo de Jorge Amado é marcado pelo humor, pela ironia, pela crítica social e pela valorização da cultura popular baiana. O autor utiliza uma linguagem coloquial, repleta de expressões regionais, e cria personagens pitorescos e caricaturais, que representam os diversos tipos humanos da sociedade baiana do início do século XX. Entre os principais personagens, além do protagonista Vasco, estão: Carol, a ex-prostituta que se torna sua esposa e confidente; Dondosa, a viúva fogosa que se apaixona por ele; Soraia, a dançarina de cabaré que o seduz; e Chico Pacheco, o fiscal aposentado que desconfia de suas mentiras e investiga sua vida.

O livro traz ensinamentos sobre a importância da imaginação, da fantasia e da arte de contar histórias como formas de resistir à monotonia, à opressão e ao conformismo da vida cotidiana. O autor mostra que a verdade não é uma categoria absoluta, mas relativa e subjetiva, que depende do ponto de vista de quem a conta e de quem a ouve. O livro também explora temas como o amor, a amizade, a solidariedade, a liberdade, a identidade e a memória.

Algumas citações da obra:

  • “O capitão de longo curso era um homem de muitas histórias, todas elas extraordinárias, todas elas verdadeiras, ainda que nem todas tivessem acontecido.” (p. 13)
  • “A vida é uma coisa muito séria, muito triste, muito amarga, muito dura. É preciso inventar alguma coisa para suportá-la, para torná-la menos pesada, menos trágica. A arte de contar histórias é uma dessas coisas.” (p. 87)
  • “A verdade é uma coisa muito relativa, meu caro. Cada um tem a sua, e todas são boas, desde que não façam mal a ninguém.” (p. 123)
  • “O amor é uma coisa muito bonita, muito rara, muito difícil de encontrar. Mas quando se encontra, não se pode deixar escapar, nem por orgulho, nem por medo, nem por nada. O amor é a única coisa que dá sentido à vida, que faz valer a pena viver.” (p. 178)

O período histórico em que se passa a obra é o início do século XX, uma época de transformações políticas, sociais, econômicas e culturais no Brasil e no mundo. O autor retrata o contraste entre o progresso e o atraso, entre o urbano e o rural, entre o moderno e o tradicional, entre o nacional e o estrangeiro, que marcavam a realidade brasileira da época. O autor também faz referências a acontecimentos históricos, como a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa, a Semana de Arte Moderna e a Revolta da Chibata.

A importância e a relevância cultural da obra são inegáveis, pois se trata de um dos romances mais representativos da literatura brasileira do século XX, que revela a genialidade e a originalidade de Jorge Amado, um dos maiores escritores da nossa história. A obra é considerada um clássico da literatura modernista, que rompeu com os padrões estéticos e ideológicos do passado e inaugurou uma nova forma de expressão artística, mais livre, mais crítica, mais criativa e mais brasileira. A obra também é um exemplo de como a literatura pode ser ao mesmo tempo divertida e profunda, popular e erudita, realista e fantástica, local e universal.

Jorge Amado nasceu em 1912, na fazenda Auricídia, em Ferradas, distrito de Itabuna, na Bahia. Filho de fazendeiros de cacau, estudou em Salvador, onde iniciou sua carreira literária e sua militância política. Foi um dos fundadores da Academia dos Rebeldes, um grupo de jovens escritores que contestava o academicismo e o regionalismo da época. Em 1931, publicou seu primeiro romance, O país do carnaval, que causou polêmica por sua abordagem crítica da sociedade brasileira. Em 1933, lançou Cacau, que retratava a vida dos trabalhadores rurais da Bahia. Em 1935, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e participou da Aliança Nacional Libertadora (ANL), uma frente de oposição ao governo de Getúlio Vargas. Em 1936, publicou Jubiabá, que consagrou seu estilo regionalista e social. Em 1937, lançou Capitães da areia, que foi apreendido e queimado pela polícia, por ser considerado subversivo. Em 1941, publicou Terras do sem-fim, que denunciava os conflitos entre os coronéis do cacau. Em 1942, publicou São Jorge dos Ilhéus, que continuava a saga dos personagens do livro anterior. Em 1945, foi eleito deputado federal pelo PCB, mas teve seu mandato cassado em 1948, quando o partido foi colocado na ilegalidade. Em 1947, publicou Seara vermelha, que narrava a saga dos retirantes nordestinos. Em 1951, publicou O mundo da paz, que relatava suas impressões sobre a União Soviética. Em 1954, publicou Gabriela, cravo e canela, que marcou uma mudança em sua obra, com a introdução do humor, da sensualidade e da crônica de costumes. Em 1956, publicou Os pastores da noite, que explorava o universo dos malandros e dos marginalizados de Salvador. Em 1958, publicou Dona Flor e seus dois maridos, que se tornou um dos seus maiores sucessos, com uma história de amor e erotismo. Em 1961, publicou Os velhos marinheiros ou o capitão de longo curso, que misturava narração e crônica para contar a história de um falso marinheiro. Em 1964, publicou A morte e a morte de Quincas Berro Dágua, que era uma sátira aos rituais fúnebres. Em 1966, publicou Tenda dos milagres, que era uma homenagem à cultura afro-brasileira. Em 1969, publicou Teresa Batista cansada de guerra, que era uma ode à liberdade feminina. Em 1971, publicou Tieta do Agreste, que era uma crítica ao moralismo e ao conservadorismo. Em 1979, publicou Tocaia grande, que era uma recriação da formação das cidades do cacau. Em 1981, publicou O menino grapiúna, que era uma autobiografia de sua infância. Em 1984, publicou O gato Malhado e a andorinha Sinhá, que era uma fábula infantil. Em 1988, publicou O sumiço da santa, que era uma sátira à exploração da fé popular. Em 1992, publicou Navegação de cabotagem, que era uma coletânea de memórias e crônicas. Em 1994, publicou A descoberta da América pelos turcos, que era uma paródia da história oficial. Em 1997, publicou O milagre dos pássaros, que era uma reunião de contos. Jorge Amado morreu em 2001, em Salvador, aos 88 anos, deixando uma obra vasta, diversa e rica, que lhe rendeu inúmeros prêmios, honrarias e reconhecimentos, tanto no Brasil quanto no exterior.

A crítica positiva que se pode fazer sobre o livro é que se trata de um romance modernista, que rompeu com os padrões estéticos e ideológicos do passado e inaugurou uma nova forma de expressão artística, mais livre, mais crítica, mais criativa e mais brasileira. O livro é considerado um clássico da literatura brasileira do século XX, que revela a genialidade e a originalidade de Jorge Amado, um dos maiores escritores da nossa história. O livro é uma obra-prima da literatura brasileira, que merece ser lida, relida e apreciada por todos os amantes da boa literatura.

Leia outras resenhas de livros do mesmo autor:

o gato malhado e a andorinha sinhá
Gabriela, Cravo e Canela
Tenda dos milagres
Terra do sem-fim
Cacau
Dona Flor e seus dois maridos
Tieta do Agreste
Jubiabá
Capitães da Areia
Tereza Batista cansada de guerra
ABC de Castro Alves
Bahia de todos os santos
O amor do soldado
Mar morto (romance)
Brandão entre o mar e o amor
A morte e a morte de Quincas Berro Dágua

O AUTOR
Jorge Amado (1912-2001) foi um escritor brasileiro, um dos maiores representantes da ficção regionalista que marcou o Segundo Tempo Modernista. Sua obra é baseada na exposição e análise realista dos cenários rurais e urbanos da Bahia. Traduzido para mais de trinta idiomas e detentor de inúmeros e importantes prêmios, o escritor teve vários de seus trabalhos adaptados para a televisão e o cinema, entre eles, "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Gabriela Cravo e Canela".
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