Escrito às vésperas do golpe militar de 1964, este romance modelar se constrói em três partes autônomas, interligadas por personagens comuns: prostitutas, boêmios, vigaristas, a comunidade notívaga de Salvador, com suas leis e valores próprios: o culto à cachaça, o ódio à polícia, o horror ao trabalho. Na primeira parte, o cabo Martim, craque dos baralhos marcados e dos dados viciados, sedutor cobiçado, aparece com companheira fixa e planos de constituir um lar. A notícia cai como uma bomba entre os pastores da noite. A segunda narrativa trata do batizado do filho de Massu, negro musculoso que ganha a vida fazendo pequenos fretes. O padrinho do menino é o próprio Ogum, e assim o batizado mobiliza a noite da cidade, embaralhando candomblé e catolicismo. Na última parte, a ocupação do morro do Mata Gato por desabrigados desencadeia um conflito social e político. O dono do terreno recorre à polícia, mas entram em cena outras forças e interesses: autoridades governamentais, imprensa corrupta, banqueiros do jogo do bicho. O romance foi levado ao cinema em 1976 pelo francês Marcel Camus, e em 1995 a segunda parte do livro virou a minissérie de tevê O compadre de Ogum.
RESENHA
Os Pastores da Noite é um livro do escritor brasileiro Jorge Amado, publicado em 1964. O livro é composto por três narrativas independentes, mas interligadas pelos mesmos personagens, que são os habitantes da noite de Salvador, na Bahia. São prostitutas, boêmios, vigaristas, capoeiristas, pais-de-santo, que vivem à margem da sociedade, mas com suas próprias leis e valores. O livro retrata a cultura popular, o sincretismo religioso, a luta de classes, o racismo, a violência e o erotismo que marcam a vida desses personagens.
O estilo de Jorge Amado é marcado pelo realismo, pelo regionalismo e pela crítica social. O autor utiliza uma linguagem coloquial, rica em expressões típicas da Bahia, e uma narrativa envolvente, que mistura humor, ironia, drama e poesia. O autor também faz uso de recursos como a metalinguagem, a intertextualidade e a oralidade, que aproximam o leitor do universo ficcional. Jorge Amado é considerado um dos maiores representantes da literatura brasileira, tendo sido traduzido para mais de 30 idiomas e adaptado para o cinema e a televisão.
O livro Os Pastores da Noite pode ser lido como uma homenagem de Jorge Amado à sua terra natal, à sua gente e à sua cultura. O livro também pode ser visto como uma denúncia das injustiças sociais, das opressões políticas e das desigualdades econômicas que afetam o povo brasileiro. O livro é uma obra que celebra a vida, a alegria, a amizade, o amor e a resistência dos pastores da noite, que, apesar de todas as dificuldades, mantêm a esperança e a fé em seus orixás.
Algumas citações da obra que ilustram esses aspectos são:
- “A noite é o dia dos pastores da noite, dos que vivem da noite e para a noite, dos que amam a noite e nela se escondem, dos que têm medo do dia e dele fogem, dos que odeiam o dia e o amaldiçoam.” (p. 9)
- “A noite é a mãe dos pastores da noite, ela os protege e os alimenta, ela lhes dá alegria e tristeza, ela lhes dá amor e ódio, ela lhes dá vida e morte.” (p. 10)
- “A noite é a festa dos pastores da noite, dos que cantam e dançam, dos que bebem e jogam, dos que riem e choram, dos que amam e sofrem, dos que vivem e morrem.” (p. 11)
O livro Os Pastores da Noite foi escrito em um período histórico marcado pelo golpe militar de 1964, que instaurou uma ditadura no Brasil, que durou até 1985. Jorge Amado, que era comunista e militante político, foi perseguido, exilado e teve seus livros censurados pelo regime. O livro, portanto, reflete a situação de repressão, violência e censura que o autor e o país viviam na época.
A importância e a relevância cultural do livro Os Pastores da Noite são inegáveis. O livro é uma obra-prima da literatura brasileira, que retrata com maestria a realidade e a diversidade do povo baiano e brasileiro. O livro é uma fonte de conhecimento, de entretenimento, de emoção e de reflexão para os leitores de todas as épocas e lugares. O livro é um patrimônio cultural da humanidade, que merece ser lido, relido, estudado e divulgado.
Jorge Amado foi um escritor brasileiro, nascido em Itabuna, Bahia, em 1912, e falecido em Salvador, Bahia, em 2001. Foi um dos maiores nomes da literatura brasileira e mundial, autor de mais de 30 livros, entre romances, contos, crônicas, memórias, biografias e poemas. Foi também jornalista, advogado, deputado federal, membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa. Foi casado com a escritora Zélia Gattai, com quem teve dois filhos, João Jorge e Paloma. Recebeu diversos prêmios, títulos e homenagens, nacionais e internacionais, por sua obra e sua trajetória.
Os Pastores da Noite é um livro que me encantou e me emocionou. É um livro que me fez viajar pela noite de Salvador, pela cultura baiana, pela história do Brasil. É um livro que me fez conhecer personagens inesquecíveis, que me fizeram rir, chorar, torcer, admirar, aprender. É um livro que me fez pensar sobre a vida, a sociedade, a política, a religião, o amor, a morte. É um livro que me fez sentir a beleza, a força, a magia, a poesia da literatura de Jorge Amado. É um livro que me fez amar a noite, os pastores da noite, o povo da noite. É um livro que eu recomendo a todos os leitores que apreciam uma boa leitura.
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