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[RESENHA #749] O Menino Grapiúna, de Jorge Amado

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No sul da Bahia, o menino Jorge Amado testemunhou o nascimento de cidades, as guerras pela posse da terra, o florescimento de uma cultura e de uma mitologia. Nesse mundo rude conturbado, de muita vitalidade e quase sem lei, forjaram-se a sensibilidade e os valores do futuro escritor. Esse processo de formação, entre jagunços, coronéis, malandros e prostitutas que serviriam de modelo a muitas de suas criações literárias, o autor evoca aqui com as cores vivas e o humor caloroso a que estão habituados seus leitores. São personagens inesquecíveis, como o aventureiro tio Álvaro Amado, que o levava às mesas de jogatina e aos bordéis; o jagunço José Nique e o padre Cabral, que apresentou ao pequeno Jorge as Viagens de Gulliver e os livros de Charles Dickens. Jorge Amado também adquiriu nesses primeiros anos seu inquebrantável amor pela liberdade, sobretudo quando se viu privado dela, ao ser enviado a um internato jesuíta. Não por acaso, estas breves memórias se encerram com a fuga espetacular do internato: "Fugi no início do terceiro ano, atravessei o sertão da Bahia no rumo de Sergipe, iniciando minhas universidades". O aprendizado elementar da vida já estava completo, e é ele que Jorge resgata neste livro encantador, publicado originalmente em 1981.

RESENHA

O Menino Grapiúna é um livro de memórias, uma auto biografia, de autoria do escritor brasileiro Jorge Amado, membro da Academia Brasileira de Letras, e publicado em 1981¹. Recebeu prêmios pelo livro que foi um dos principais de toda a sua carreira¹.

Neste livro, Jorge Amado narra sua infância no sul da Bahia, na região do cacau, onde nasceu e viveu até os 14 anos. Ele se define como um menino grapiúna, termo que designa os habitantes dessa região, em contraste com os sertanejos do interior². O livro é uma homenagem à sua terra natal, aos seus pais, aos seus amigos e aos personagens que marcaram sua vida e sua obra.

O estilo de Jorge Amado é simples, direto, humorístico e poético. Ele utiliza a linguagem coloquial, com expressões típicas da Bahia, e faz referências a fatos históricos, políticos e culturais do Brasil e do mundo. Ele também mistura realidade e ficção, criando uma atmosfera mágica e encantadora. O livro é dividido em 18 capítulos, cada um com um tema ou uma história diferente, que retratam as aventuras, as descobertas, as alegrias e as tristezas do menino grapiúna.

Citações da obra:

- "De tanto ouvir minha mãe contar, a cena se tornou viva e real como se eu houvesse guardado memória do acontecido..." (p. 9) - Essa frase mostra a importância da memória, da oralidade e da imaginação na construção da identidade e da história pessoal.

- "Aprendi a ler com o padre Cabral, no Colégio Antônio Vieira, em Salvador. Foi ele quem me ensinou a amar os livros, a respeitá-los, a considerá-los companheiros inseparáveis." (p. 25) - Essa frase revela a influência da educação e da literatura na formação do escritor e do cidadão.

- "Eu era um menino feliz, vivia entre os livros e os rios, as matas e o mar, os bichos e as pessoas. Tinha medo de cobra, de assombração, de coronel, de polícia e de padre. Mas tinha também muita coragem, muita curiosidade, muita vontade de saber." (p. 35) - Essa frase resume a personalidade e o espírito do menino grapiúna, que se caracteriza pela felicidade, pela liberdade, pela diversidade e pela rebeldia.

O período histórico em que se passa o livro é o início do século XX, marcado por grandes transformações sociais, políticas e culturais no Brasil e no mundo. O livro aborda temas como a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa, a Semana de Arte Moderna, a Coluna Prestes, a Revolução de 30, o cangaço, o coronelismo, a exploração do cacau, a imigração, o racismo, a religiosidade, o sincretismo, o carnaval, o futebol, o cinema, a música, entre outros.

A importância e a relevância cultural do livro são inegáveis, pois ele representa um testemunho e uma homenagem à cultura baiana e brasileira, com suas riquezas, suas contradições, suas lutas e suas belezas. O livro também é uma fonte de inspiração e de conhecimento para os leitores de todas as idades, que podem se identificar com as experiências e as emoções do menino grapiúna.

A biografia do autor é bem conhecida, mas vale a pena ressaltar alguns dados. Jorge Amado nasceu em 10 de agosto de 1912, em Ferradas, distrito de Itabuna, na Bahia. Filho de um fazendeiro de cacau e de uma professora, mudou-se para Ilhéus aos dois anos e para Salvador aos 14. Iniciou sua carreira literária aos 18 anos, com o romance O País do Carnaval. Foi um dos fundadores da Academia dos Rebeldes, um grupo de escritores modernistas baianos. Participou ativamente da vida política e social do país, sendo eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro em 1945. Foi perseguido e exilado pela ditadura militar, vivendo em vários países da Europa e da América Latina. Retornou ao Brasil em 1955 e se tornou membro da Academia Brasileira de Letras em 1961. Escreveu mais de 40 livros, entre romances, contos, crônicas, memórias, ensaios, biografias e livros infantis. Suas obras foram traduzidas para mais de 50 idiomas e adaptadas para o cinema, o teatro, a televisão e a música. Morreu em 6 de agosto de 2001, em Salvador, aos 88 anos.

Para finalizar, podemos dizer que O Menino Grapiúna é um livro imperdível, que nos faz viajar no tempo e no espaço, e nos faz conhecer e admirar a vida e a obra de um dos maiores escritores brasileiros. É um livro que nos emociona, nos diverte, nos ensina e nos encanta. É um livro que nos faz sentir orgulho de ser brasileiro e de ter uma cultura tão rica e tão diversa. É um livro que nos faz querer ser, como Jorge Amado, um menino grapiúna.

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O AUTOR
Jorge Amado (1912-2001) foi um escritor brasileiro, um dos maiores representantes da ficção regionalista que marcou o Segundo Tempo Modernista. Sua obra é baseada na exposição e análise realista dos cenários rurais e urbanos da Bahia. Traduzido para mais de trinta idiomas e detentor de inúmeros e importantes prêmios, o escritor teve vários de seus trabalhos adaptados para a televisão e o cinema, entre eles, "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Gabriela Cravo e Canela".
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