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[RESENHA #748] O País do Carnaval, de Jorge Amado

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Romance de estreia, escrito quando Jorge Amado tinha dezoito anos, O país do Carnaval (1931) é, apesar do título irônico, mais sombrio e introspectivo que a maioria dos livros que fizeram dele o ficcionista mais popular da literatura brasileira. A narrativa começa no navio que traz de volta ao Brasil o jovem filho de fazendeiro Paulo Rigger, depois de sete anos em Paris, onde cursara direito e absorvera comportamentos e ideias modernas. Nos primeiros dias que passa no Rio de Janeiro, Rigger tenta compreender um país onde já não se sente em casa, um país que tenta timidamente superar seu atraso oligárquico e ingressar na era industrial e urbana. De volta a Salvador, ele participa de um grupo de poetas fracassados e jornalistas corruptos que giram em torno do cético Pedro Ticiano, cronista veterano. Todos se sentem insatisfeitos e buscam um sentido para a existência: no amor, no dinheiro, na política, na vida burguesa ou na religião. Nesse romance de geração, as dúvidas e angústias dos personagens espelham a situação do país, que naquele momento passava pela Revolução de 30 e procurava redefinir seus rumos.

RESENHA

O País do Carnaval é o primeiro romance de Jorge Amado, um dos maiores escritores brasileiros do século XX. Publicado em 1931, quando o autor tinha apenas 18 anos, o livro faz um retrato crítico e investigativo da imagem festiva e contraditória do Brasil, a partir do olhar do personagem Paulo Rigger, um brasileiro que não se identifica com o país.

Paulo Rigger é filho de um rico produtor de cacau, que volta ao Brasil depois de sete anos estudando direito em Paris. Desembarcando no Rio de Janeiro em pleno carnaval, ele se contagia com a alegria do povo, mas também se depara com as desigualdades sociais, as disputas políticas e os conflitos culturais que marcam a nação. Em busca de um sentido para sua existência, ele viaja para a Bahia, sua terra natal, onde reencontra sua família, seus amigos e seus amores. Porém, ele não consegue se adaptar à realidade brasileira, nem encontrar a felicidade que tanto almeja.

O estilo de Jorge Amado neste romance é marcado pela linguagem coloquial, pelo humor irônico, pela descrição realista e pela crítica social. O autor retrata o Brasil da década de 1930, um período de transição entre a República Velha e a Era Vargas, em que o país enfrentava uma crise econômica, uma instabilidade política e uma efervescência cultural. O livro também reflete as influências do modernismo brasileiro, do regionalismo nordestino e do comunismo, ideologia que o autor abraçou na juventude.

Citações da obra:

- "Este é o país do carnaval. O carnaval é a expressão mais alta da nossa civilização. O carnaval é a nossa maior contribuição à cultura universal. O carnaval é a nossa filosofia, a nossa religião, a nossa política, a nossa arte, a nossa vida." (p. 25)

- "O Brasil é um país de paradoxos. Um país que tem tudo para ser grande, mas que se contenta em ser pequeno. Um país que tem um povo alegre, mas que sofre. Um país que tem uma natureza exuberante, mas que a destrói. Um país que tem uma cultura rica, mas que a ignora. Um país que tem uma história gloriosa, mas que a esquece." (p. 87)

- "O que é a felicidade? É uma coisa que não existe. É uma ilusão, uma quimera, uma utopia. A felicidade é um sonho que nunca se realiza. A felicidade é uma mentira que nos contam desde crianças. A felicidade é uma armadilha que nos prende na roda da vida. A felicidade é uma dor que nos consome por dentro." (p. 154)

O País do Carnaval é uma obra importante e relevante para a cultura brasileira, pois revela o talento precoce de Jorge Amado, que se tornaria um dos maiores nomes da literatura nacional e internacional. O livro também é um testemunho histórico e social de uma época marcante para o Brasil, em que o país buscava se definir como nação. Além disso, o livro é uma reflexão profunda e atual sobre a identidade, a diversidade e a contradição do povo brasileiro, que vive entre a alegria e a tristeza, entre o sonho e a realidade, entre o carnaval e a quarta-feira de cinzas.

A biografia de Jorge Amado pode ser resumida da seguinte forma: Jorge Amado de Faria nasceu na fazenda Auricídia, em Ferradas, município de Itabuna, Bahia, no dia 10 de agosto de 1912. Filho de João Amado de Faria e Eulália Leal Amado, fazendeiros de cacau, ele passou parte da infância em Ilhéus, onde começou a estudar. Aos 11 anos, foi para Salvador, onde estudou em colégios internos e trabalhou em jornais. Aos 18 anos, publicou seu primeiro romance, O País do Carnaval. Em 1930, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde cursou direito, mas nunca exerceu a profissão. Em 1933, casou-se com Matilde Garcia Rosa, com quem teve uma filha, Lila. Em 1935, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), o que lhe trouxe problemas com a ditadura de Getúlio Vargas. Em 1941, separou-se de Matilde e casou-se com Zélia Gattai, com quem teve dois filhos, João Jorge e Paloma. Em 1945, foi eleito deputado federal pelo PCB, mas teve seu mandato cassado em 1948, quando o partido foi colocado na ilegalidade. Em 1947, viajou para a União Soviética, onde recebeu o Prêmio Stalin da Paz. Em 1950, foi preso pela polícia política e depois exilou-se na Europa e na América Latina, onde viveu até 1952. Nesse período, escreveu alguns de seus livros mais famosos, como Gabriela, Cravo e Canela e Dona Flor e Seus Dois Maridos. Em 1955, voltou ao Brasil e se estabeleceu em Salvador, onde continuou sua carreira literária e sua militância política. Em 1961, foi eleito novamente deputado federal pelo PCB, mas renunciou ao mandato em 1963, em protesto contra a cassação de seus colegas de partido. Em 1964, após o golpe militar, teve seus direitos políticos suspensos e seus livros censurados. Em 1969, viajou novamente para o exterior, onde permaneceu até 1972. Nesse ano, retornou ao Brasil e se reconciliou com o regime militar, que lhe devolveu seus direitos políticos e permitiu a publicação de seus livros. Em 1980, desfiliou-se do PCB e apoiou a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). Em 1984, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL). Em 1987, recebeu o Prêmio Camões, o mais importante da literatura de língua portuguesa. Em 1994, foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura, mas não foi o vencedor. Jorge Amado morreu em Salvador, no dia 6 de agosto de 2001, aos 88 anos, devido a uma parada cardiorrespiratória.

A crítica positiva que se pode fazer sobre o livro O País do Carnaval é que se trata de uma obra que, apesar de ser a primeira de Jorge Amado, já demonstra a sua genialidade como escritor, capaz de criar personagens marcantes, cenários envolventes e narrativas envolventes. O livro também é uma obra que, apesar de ter sido escrita há quase um século, ainda mantém a sua atualidade, pois aborda temas universais, como a busca pelo sentido da vida, a identidade nacional e a diversidade cultural. O livro é, portanto, uma leitura obrigatória para quem quer conhecer a literatura brasileira e a realidade do Brasil.

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O AUTOR
Jorge Amado (1912-2001) foi um escritor brasileiro, um dos maiores representantes da ficção regionalista que marcou o Segundo Tempo Modernista. Sua obra é baseada na exposição e análise realista dos cenários rurais e urbanos da Bahia. Traduzido para mais de trinta idiomas e detentor de inúmeros e importantes prêmios, o escritor teve vários de seus trabalhos adaptados para a televisão e o cinema, entre eles, "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Gabriela Cravo e Canela".
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