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[RESENHA #743] Farda, Fardão, Camisola de Dormir, de Jorge Amado

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Quando o Estado Novo de Getúlio Vargas ainda flerta com o eixo nazifascista, a morte súbita e prematura do poeta Antônio Bruno abre uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Quem prontamente se candidata é o coronel Sampaio Pereira, chefe da repressão política do regime e simpatizante do nazismo. Alarmados com a possibilidade de ver um inimigo da cultura ocupar a cadeira do boêmio, sedutor e gaiato Bruno, alguns veteranos acadêmicos articulam a anticandidatura de outro militar, de oposição, o general reformado Waldomiro Moreira. Segue-se então uma memorável e imprevisível campanha eleitoral na Academia. Misturando personagens fictícios a figuras históricas, Jorge Amado reconstitui neste romance de maturidade - escrito em 1979, momento declinante de outra ditadura -, o ambiente político e cultural dos tempos do Estado Novo, em especial no Rio de Janeiro. De vetustos eruditos a operários comunistas, de refinadas damas da sociedade a sórdidos torturadores, os mais variados tipos sociais desfilam por estas páginas, configurando um painel vívido e colorido do Brasil da época.

RESENHA


O livro Farda, Fardão, Camisola de Dormir, publicado em 1979, é um romance do escritor brasileiro Jorge Amado, um dos maiores representantes da ficção regionalista que marcou o Segundo Tempo Modernista. A obra é uma sátira ao mundo da Academia Brasileira de Letras (ABL) e à política brasileira na época do Estado Novo, o regime autoritário de Getúlio Vargas.

O autor, que nasceu na Bahia em 1912 e faleceu em 2001, teve uma vida marcada pelo engajamento político e social. Foi militante do Partido Comunista Brasileiro, deputado federal, exilado político e defensor das causas populares. Sua obra é baseada na exposição e análise realista dos cenários rurais e urbanos da Bahia, com destaque para a cultura afro-brasileira, o candomblé, o carnaval, a sensualidade e o humor.

No livro, Jorge Amado narra a disputa por uma vaga na ABL, após a morte do poeta Antônio Bruno, que vivia em Paris e era contrário ao nazifascismo. O candidato oficial é o coronel Sampaio Pereira, chefe da repressão política do Estado Novo e simpatizante do eixo nazifascista. Para impedir que ele ocupe a cadeira do boêmio e gaiato Bruno, alguns acadêmicos articulam a candidatura do general Waldomiro Moreira, um militar da reserva e opositor do regime.

A partir daí, o autor cria uma trama cheia de intrigas, traições, paixões, reviravoltas e personagens pitorescos, que retratam a sociedade carioca e baiana da época. Entre eles, estão as esposas dos candidatos, as musas do poeta morto, o presidente da ABL, o último membro vivo dos 40 originais, o cientista Pérsio Menezes, o desembargador Lisandro Leite, o diplomata Francelino Almeida, a estudante de direito Pru, o jornalista Claudionor Sabença e o escritor Evandro Nunes dos Santos, que é o narrador da história.

O estilo de Jorge Amado é marcado pela linguagem coloquial, pela ironia, pela crítica social e pela valorização da cultura popular. O autor utiliza recursos como a metalinguagem, o intertexto, a paródia, a caricatura e o folhetim para compor sua obra. Além disso, ele faz referências a fatos e personagens históricos, como a Segunda Guerra Mundial, o golpe de 1937, o Estado Novo, Getúlio Vargas, Carlos Lacerda, Graciliano Ramos, Monteiro Lobato, entre outros.

O livro é uma fábula para acender uma esperança, como diz o subtítulo, pois mostra a resistência dos intelectuais e dos artistas contra o autoritarismo e a opressão. É também uma homenagem à literatura brasileira e aos seus autores, que são citados e elogiados ao longo da narrativa. É uma obra divertida, envolvente e inteligente, que revela o talento e a criatividade de Jorge Amado.

Algumas citações do livro:

- "A Academia Brasileira de Letras é uma instituição que não serve para nada, mas que é muito divertida." (p. 13)

- "A literatura é uma arte perigosa, meu caro, sobretudo quando se trata de poesia. Os poetas são os mais perigosos de todos os escritores, os mais subversivos, os mais revolucionários.\" (p. 29)

- "O amor é a coisa mais importante da vida. Sem amor, não há vida. O amor é a razão de tudo. O amor é a força que move o mundo." (p. 77)

- "A política é uma arte difícil, meu caro, uma arte que exige muita habilidade, muita astúcia, muita paciência. A política é a arte de enganar os outros, de iludir as massas, de manipular as opiniões." (p. 115)

- "A Academia Brasileira de Letras é uma instituição que tem uma grande responsabilidade, meu caro, uma grande responsabilidade. A Academia é a guardiã da língua portuguesa, a guardiã da cultura nacional, a guardiã da memória literária." (p. 163)

A obra Farda, Fardão, Camisola de Dormir é uma das mais importantes e originais de Jorge Amado, pois mostra o seu domínio da arte narrativa, o seu senso de humor, o seu compromisso com a realidade brasileira e o seu amor pela literatura. É um livro que merece ser lido e apreciado por todos os que gostam de uma boa história, de uma boa crítica e de uma boa diversão.

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O AUTOR
Jorge Amado (1912-2001) foi um escritor brasileiro, um dos maiores representantes da ficção regionalista que marcou o Segundo Tempo Modernista. Sua obra é baseada na exposição e análise realista dos cenários rurais e urbanos da Bahia. Traduzido para mais de trinta idiomas e detentor de inúmeros e importantes prêmios, o escritor teve vários de seus trabalhos adaptados para a televisão e o cinema, entre eles, "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Gabriela Cravo e Canela".
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