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[RESENHA #740] ABC de Castro Alves, de Jorge Amado

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Neste ABC de Castro Alves, que define como uma "louvação", Jorge Amado mostra que sua relação com o "poeta dos escravos" não é apenas de admiração literária, mas de profunda identificação pessoal, tanto no plano estético como no político e ético. O autor não se limita a reconstituir, com talento e imaginação de ficcionista, a vida pública e privada do retratado, mas busca também fazer reverberar a potência de sua poesia, cujos motivos centrais são o amor e a liberdade. Jorge Amado nos mostra que há uma coerência entre a biografia do poeta e sua poesia. Seus amores intensos, sua ativa militância em prol da Abolição e da República, sua personalidade arrebatadora, tudo isso se traduz na veemência de seus versos. Escrevendo em 1941, momento crítico da Segunda Guerra, quando o Brasil ainda não entrara no conflito, o autor chama a atenção para o caráter engajado e libertário de Castro Alves. Nesse contexto se explicam as diatribes de Jorge Amado, nas notas, contra Machado de Assis e Mário de Andrade, vistos por ele como artistas que se esquivaram da luta política. Circunstâncias históricas à parte, ecoam nessas páginas as palavras mais calorosas do poeta que amou intensamente e conflagrou as ruas de Salvador, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo antes de morrer precocemente, aos 24 anos.

RESENHA

ABC de Castro Alves é uma obra biográfica escrita por Jorge Amado em 1941, que homenageia o poeta baiano Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871), considerado o maior representante da terceira geração romântica no Brasil. O livro, que o autor define como uma “louvação”, não se limita a reconstituir os fatos da vida do poeta, mas busca também fazer reverberar a potência de sua poesia, cujos motivos centrais são o amor e a liberdade.

Jorge Amado mostra que há uma coerência entre a biografia do poeta e sua poesia, que expressa sua indignação contra a escravidão, sua paixão pela atriz portuguesa Eugênia Câmara, sua personalidade arrebatadora e sua morte precoce, aos 24 anos, vítima de tuberculose. O autor utiliza uma linguagem simples e envolvente, misturando dados históricos, citações poéticas e comentários pessoais, que revelam sua admiração e identificação com Castro Alves.

O livro é dividido em 26 capítulos, cada um iniciado por uma letra do alfabeto, seguindo a forma dos ABCs da literatura de cordel, muito popular no Nordeste brasileiro. Essa estrutura confere ao texto um ritmo ágil e dinâmico, que prende a atenção do leitor. Além disso, o livro é ilustrado por Iberê Camargo, que retrata com sensibilidade e expressividade as cenas da vida e da obra do poeta.

ABC de Castro Alves é uma obra que se insere no contexto histórico da Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil ainda não havia entrado no conflito, e da ditadura do Estado Novo, que censurou e queimou vários livros do autor. Nesse sentido, o livro pode ser visto como um manifesto pela liberdade, pela democracia e pela justiça social, valores que também nortearam a poesia de Castro Alves e a militância política de Jorge Amado.

A obra se destaca na produção literária de Jorge Amado, que é mais conhecido por seus romances de ficção, ambientados na Bahia, que retratam com humor e sensualidade a cultura e o povo baiano. ABC de Castro Alves é um dos poucos livros do autor que se dedicam ao gênero biográfico, junto com O Cavaleiro da Esperança, sobre a vida de Luís Carlos Prestes, e Navegação de Cabotagem, sobre suas memórias pessoais.

ABC de Castro Alves é, portanto, um livro que merece ser lido e apreciado, tanto pela qualidade literária quanto pela importância histórica e cultural. É um livro que resgata e celebra a figura e a obra de um dos maiores poetas brasileiros, que soube cantar o amor e a liberdade com beleza e emoção. É também um livro que revela a admiração e a afinidade de Jorge Amado com Castro Alves, que o considerava seu mestre e seu guia. 

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O AUTOR
Jorge Amado (1912-2001) foi um escritor brasileiro, um dos maiores representantes da ficção regionalista que marcou o Segundo Tempo Modernista. Sua obra é baseada na exposição e análise realista dos cenários rurais e urbanos da Bahia. Traduzido para mais de trinta idiomas e detentor de inúmeros e importantes prêmios, o escritor teve vários de seus trabalhos adaptados para a televisão e o cinema, entre eles, "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Gabriela Cravo e Canela".
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