[RESENHA #738] O amor do soldado, de Jorge Amado

Escrita em 1944 por encomenda de Bibi Ferreira, o atormentado e trágico romance entre Castro Alves e a atriz portuguesa Eugênia Câmara é o tema desta única obra de teatro de Jorge Amado. O texto não chegou a ser encenado na época, uma vez que a companhia de Bibi Ferreira se dissolveu, mas foi publicado em livro três anos depois, em homenagem ao centenário do nascimento do poeta dos escravos. A ação se concentra na última parte da breve vida de Castro Alves (1847-71), entre 1866 e 1870, em Recife, São Paulo e Rio de Janeiro. Em cenas rápidas e diálogos inflamados, alternados com versos célebres de combate, vemos um poeta que divide sua energia e sua inspiração entre duas paixões exigentes: Eugênia Câmara e a luta pela libertação dos escravos e pela instauração da República. Moderno para a época, o texto inclui peças dentro da peça e um narrador que fala diretamente ao público, além de traçar paralelos entre o movimento abolicionista e a luta contra o nazifascismo no século XX. Pressupõe ainda uma encenação ousada, com atores misturados à plateia.

RESENHA

O amor do soldado é a única peça de teatro escrita por Jorge Amado, um dos maiores nomes da literatura brasileira. Publicada em 1947, em homenagem ao centenário de nascimento de Castro Alves, a obra narra a história de amor entre o poeta abolicionista e a atriz portuguesa Eugênia Câmara, que se conheceram em Recife, em 1866. A peça mostra os conflitos que cercaram o casal, que tinha que escolher entre o amor e a arte, entre a liberdade e a paixão.

A obra é dividida em um prólogo, três atos e um epílogo, e apresenta uma estrutura inovadora para a época, com peças dentro da peça e um narrador que fala diretamente ao público. Jorge Amado intervém em diversos momentos para explicar passagens da vida de Castro Alves e o contexto histórico em que se passa a ação. O amor do soldado faz, assim, um elogio ao poeta que, como um lutador na frente de batalha pela abolição e pela República, combinou lirismo e atuação social.

A peça também retrata a diversidade cultural do Brasil, mostrando personagens de diferentes origens e classes sociais, como negros, índios, portugueses, sírios, italianos, entre outros. A cultura afro-brasileira, especialmente o candomblé, tem um papel importante na obra, como fonte de inspiração e resistência para os personagens. Jorge Amado, que foi um defensor da cultura negra e um militante comunista, aproveita a peça para criticar o preconceito racial, a exploração dos trabalhadores e a opressão do regime imperial.

O amor do soldado é uma obra que revela a genialidade de Jorge Amado, que soube criar uma peça teatral envolvente, poética e crítica, baseada na vida de um dos maiores poetas brasileiros. A obra se insere na fase realista do autor, que se caracteriza pela denúncia social e pela valorização da cultura popular. A peça dialoga com outras obras de Jorge Amado, como Capitães da areia, Terras do sem-fim e Gabriela, cravo e canela, que também retratam a Bahia, o povo brasileiro e a luta pela liberdade.

O amor do soldado é, portanto, uma obra que merece ser lida e apreciada, não só pela sua qualidade literária, mas também pela sua importância histórica e cultural. A peça é um testemunho da vida e da obra de Castro Alves, um poeta que marcou a literatura brasileira com sua voz engajada e romântica. A peça é também uma homenagem de Jorge Amado à cultura brasileira, que ele soube retratar com maestria e sensibilidade.

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O AUTOR

Jorge Amado (1912-2001) foi um escritor brasileiro, um dos maiores representantes da ficção regionalista que marcou o Segundo Tempo Modernista. Sua obra é baseada na exposição e análise realista dos cenários rurais e urbanos da Bahia. Traduzido para mais de trinta idiomas e detentor de inúmeros e importantes prêmios, o escritor teve vários de seus trabalhos adaptados para a televisão e o cinema, entre eles, "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Gabriela Cravo e Canela".