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[RESENHA #737] Mar Morto (romance), de Jorge Amado

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Na beira do cais de Salvador, entrelaçam-se várias histórias de pescadores, marinheiros, prostitutas e malandros. No centro desse mundo que parece parado no tempo, isolado da história, comandado pelo mito de Iemanjá, desenvolve-se a trajetória de Guma, jovem mestre de saveiro.

Nenhum outro livro sintetizou tão bem quanto Mar morto o mundo pulsante do cais de Salvador, com a rica mitologia em torno de Iemanjá, a rainha do mar. Personagens como o jovem mestre de saveiro Guma parecem prisioneiros de um destino traçado há muitas gerações: o dos homens que saem para o mar e que um dia serão levados por Iemanjá, deixando mulher e filhos a esperar, resignados.

Mas nesse mundo aparentemente parado no tempo há forças transformadoras em gestação. O médico Rodrigo e a professora Dulce, não por acaso dois forasteiros, procuram despertar a consciência da gente do cais contra o marasmo e a opressão.

Esse contraste entre o tempo do mito e o da história move Mar morto, envolvendo-nos desde a primeira página na escrita calorosa de Jorge Amado.

RESENHA

A obra Mar Morto, de Jorge Amado, é um romance publicado em 1936, que retrata a vida dos homens do mar no cais da Bahia. O autor, que nasceu em Itabuna, Bahia, em 1912, e faleceu em Salvador, Bahia, em 2001, foi um dos maiores representantes da literatura brasileira modernista, com uma obra marcada pelo regionalismo e pela denúncia social¹².

O romance narra a história de Guma, um mestre de saveiro que vive entre o amor de Lívia, uma moça da cidade, e a paixão de Esmeralda, a mulher de seu amigo Rufino. Guma também enfrenta os perigos do mar, as disputas com os marinheiros estrangeiros e as tentações do contrabando. Em meio a esses conflitos, o autor descreve o cotidiano, as crenças, as festas, as lendas e os costumes do povo do cais, que tem em Iemanjá, a rainha do mar, sua protetora e guia.

A importância e a relevância cultural da obra de Jorge Amado estão na forma como ele retrata a diversidade e a riqueza da cultura baiana e brasileira, valorizando as raízes africanas, indígenas e portuguesas que compõem a identidade nacional. O autor também mostra a realidade social e econômica do país, denunciando as desigualdades, as injustiças, a exploração e a violência que afetam os trabalhadores e os marginalizados. Além disso, o autor utiliza uma linguagem oralizada, coloquial e poética, que aproxima o leitor do universo dos personagens e da musicalidade da fala popular.

A importância na literatura mundial da obra de Jorge Amado está no fato de que ele foi um dos escritores brasileiros mais traduzidos e lidos em todo o mundo, tendo suas obras adaptadas para o cinema, o teatro e a televisão. O autor recebeu diversos prêmios e homenagens, tanto no Brasil quanto no exterior, e foi membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa. Sua obra influenciou e inspirou outros escritores, como Gabriel García Márquez, Mario Vargas Llosa e Carlos Fuentes.

Algumas das citações mais conhecidas da obra Mar Morto são:

- "O mar é bonito, mas é traiçoeiro. Quem vive dele sabe que a qualquer hora pode morrer." (Capítulo I - Tempestade)
- "O amor é sempre doce e bom, mesmo quando a morte está próxima." (Capítulo XXV - A morte de Guma)
- "O cais da Bahia é um mundo. Um mundo de negro, de branco, de mestiço, de gente de todas as cores e de todas as raças." (Capítulo XXVI - O cais da Bahia)

Algumas das semelhanças com outros enredos do autor:

- A presença de personagens femininas fortes, sensuais e independentes, como Gabriela, Dona Flor e Tieta.
- A mistura de realismo e fantasia, com elementos do folclore, do candomblé e do cordel.
- A crítica ao racismo, ao machismo, ao colonialismo e ao capitalismo, com uma visão humanista e solidária.

A biografia do autor pode ser resumida em etapas:

- Jorge Amado nasceu em uma fazenda de cacau na Bahia, em 1912, e mudou-se para Salvador, onde iniciou sua carreira literária e jornalística.
- Em 1930, foi para o Rio de Janeiro, onde se formou em Direito, mas nunca exerceu a profissão. Publicou seu primeiro romance, O País do Carnaval, em 1931.
- Em 1935, foi preso por sua militância comunista e exilado em vários países da América Latina e da Europa. Casou-se duas vezes, com Matilde Garcia Rosa e Zélia Gattai, com quem teve três filhos.
- Em 1945, voltou ao Brasil e foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro. Em 1955, afastou-se da política e dedicou-se à literatura. Em 1961, ingressou na Academia Brasileira de Letras.
- Em 1987, recebeu o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa. Em 1994, recebeu o Prêmio do Ministério da Cultura da França. Em 1995, recebeu o Prêmio Jabuti de Personalidade Literária do Ano.
- Jorge Amado morreu em Salvador, em 2001, aos 88 anos, deixando uma obra de mais de 30 livros, entre romances, contos, crônicas, memórias e literatura infantil.

Mar Morto é uma obra-prima da literatura brasileira, que revela a alma e a arte do povo baiano, com suas alegrias e tristezas, suas lutas e esperanças, sua fé e sua rebeldia. Jorge Amado cria personagens inesquecíveis, que nos emocionam e nos fazem refletir sobre a condição humana, em meio à beleza e à crueldade do mar. É um livro que nos encanta e nos ensina, que nos diverte e nos comove, que nos faz sonhar e nos faz pensar. É um livro que nos faz amar a vida e a literatura.

Leia outras resenhas de livros do mesmo autor:

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Tereza Batista cansada de guerra
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O AUTOR
Jorge Amado (1912-2001) foi um escritor brasileiro, um dos maiores representantes da ficção regionalista que marcou o Segundo Tempo Modernista. Sua obra é baseada na exposição e análise realista dos cenários rurais e urbanos da Bahia. Traduzido para mais de trinta idiomas e detentor de inúmeros e importantes prêmios, o escritor teve vários de seus trabalhos adaptados para a televisão e o cinema, entre eles, "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Gabriela Cravo e Canela".
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