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[RESENHA #734] O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de Jorge Amado

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O temperamento do Gato Malhado não era nada bom: bastava aparecer no parque para todos fugirem às pressas. E ele não se importava mesmo com os outros, ia tocando a vida com a indiferença habitual. Até que, chegada certa primavera, o Gato nota que a Andorinha Sinhá não tem receio algum dele. Foi o suficiente para que dali nascesse a amizade dos dois, que se aprofunda com o tempo. No outono, os bichos já viam o Gato com outros olhos, achando que talvez ele não fosse tão ruim e perigoso, uma vez que passara toda a primavera e o verão sem aprontar. Durante esse tempo, até soneto o Gato escreveu. E confessou à Andorinha: "Se eu não fosse um gato, te pediria para casares comigo". Mas o amor entre os dois é proibido, não só porque o Gato é visto com desconfiança, mas também porque a Andorinha está prometida ao Rouxinol. Jorge Amado colheu a história desse amor impossível de uma trova do poeta Estêvão da Escuna, que a costumava recitar no Mercado das Sete Portas, em Salvador, e a colocou no papel com o tom fabular dos contos infanto-juvenis em 1948, quando vivia em Paris. Não era uma história para ser publicada em livro, mas um presente para o filho, João Jorge, que completava um ano de idade. Guardado entre as coisas do menino, o texto só foi reencontrado em 1976. João Jorge entregou então a narrativa a Carybé, que ilustrou as páginas datilografadas. Jorge Amado deu-se por vencido: o livro foi publicado no mesmo ano. O texto foi adaptado mais tarde para teatro e balé. Esta nova edição preserva as ilustrações magníficas de Carybé, que foram inseridas em novo projeto gráfico de Kiko Farkas. A escritora Tatiana Belinky, grande fã de Jorge Amado assim como deste livro, foi convidada para escrever o posfácio.

RESENHA

“O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá” é uma história de amor inusitada escrita por Jorge Amado e publicada em 1948. O livro conta a história de um gato malhado que se apaixona por uma andorinha sinhá, causando estranheza em todos os outros animais que habitavam uma floresta. A andorinha está prometida ao rouxinol, mas, ao mesmo tempo, incentiva o amor do gato. Acontecem juras, o gato escreve poemas, eles passeiam juntos enquanto os outros personagens condenam o amor impossível. Com grande lirismo, Jorge Amado narra a história do amor de um gato mau por uma adorável andorinha. Com ilustrações aquareladas do artista plástico Carybé, a narrativa mostra como duas criaturas bem diferentes podem não apenas conviver em paz como mudar a maneira que cada um tem de ver o mundo.

É uma história de amor escrita em 1948, em Paris, onde o autor residia com sua esposa, Zélia Gattai, e seu filho João Jorge, que completou um ano de idade na época. O autor não tinha intenção de publicá-la quando a escreveu, e o texto foi colocado junto aos pertences de João Jorge. O manuscrito ficou perdido até 1976, quando João o reencontrou e finalmente tomou conhecimento de sua existência.

O livro "O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá", escrito por Jorge Amado, é uma história de amor que se desenvolve ao longo das estações do ano. O romance começa na Primavera, onde os amantes enfrentam preconceitos e a má fama do Gato Malhado, que quase todos no Parque diziam ser responsável por inúmeros crimes não solucionados. Os capítulos que abordam a Primavera compõem um terço do livro e descrevem o início do romance e como os animais do Parque viam essa relação. A avó do gato saiu correndo querendo matar a Andorinha, pois ela não gostava da amizade deles. Isso ocorre num deserto Sara no século XII. O capítulo do Verão é curtíssimo, com apenas uma página, e tem uma razão clara descrita: "O Verão dura pouco, assim como a felicidade dos amantes".

O capítulo do Outono é uma análise feita pelo próprio Gato Malhado sobre os últimos acontecimentos, no qual ele escreve um soneto. Dá-se o início da queda do romance com uma carta escrita pela Andorinha Sinhá e entregue pelo Pombo-Correio, na qual ela jurava nunca mais o ver.

O capítulo da estação do Inverno é curto e conta o casamento da Andorinha Sinhá com o Rouxinol.

O último capítulo relata o fim do Gato Malhado, que tomou a direção dos estreitos caminhos que conduzem à encruzilhada do mundo, a última lágrima derramada pela Andorinha Sinhá e a rosa azul que o Tempo deu para a Manhã.

O livro pode ser interpretado como uma metáfora para as diversas relações e situações socioculturais que existiram e ainda existem não só na Bahia, mas também no Brasil e no mundo durante a primeira metade do século XX e até mesmo antes dessa época. O autor usa o Elevador Lacerda como uma metáfora para a divisão e união entre o Alto e o Baixo da cidade de Salvador. O Gato, que vive no plano baixo, não pode voar e se dar a certos luxos, enquanto a Andorinha, que vive acima dos demais animais, tem um privilégio dado pelo berço, seu lugar de origem.

O livro é uma obra-prima que retrata de forma poética e sensível as relações sociais e culturais da Bahia e do Brasil durante a primeira metade do século XX. A metáfora do Elevador Lacerda é uma maneira inteligente de ilustrar a divisão e união entre as classes sociais, enquanto a história do Gato e da Andorinha é uma reflexão sobre a origem e o privilégio. A escrita do autor é envolvente e cativante, e a mensagem do livro é atemporal e universal. Espero que mais pessoas possam ler e apreciar essa obra-prima da literatura brasileira.

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Tereza Batista cansada de guerra


O AUTOR
Jorge Amado (1912-2001) foi um escritor brasileiro, um dos maiores representantes da ficção regionalista que marcou o Segundo Tempo Modernista. Sua obra é baseada na exposição e análise realista dos cenários rurais e urbanos da Bahia. Traduzido para mais de trinta idiomas e detentor de inúmeros e importantes prêmios, o escritor teve vários de seus trabalhos adaptados para a televisão e o cinema, entre eles, "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Gabriela Cravo e Canela".

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