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[RESENHA #731] Terras do Sem-Fim, de Jorge Amado

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Durante a guerra pela posse da terra na região cacaueira do sul da Bahia, os irmãos Badaró enfrentam o coronel Horácio da Silveira. A luta pela subsistência se entrelaça com intrigas políticas, relações amorosas, crimes passionais. Dois romances improváveis se destacam em meio aos tiroteios e tocaias: o do jovem advogado Virgílio e Ester, esposa do coronel Horácio, amor condenado a um desfecho sangrento, e o de Don'Ana, a valente filha de Sinhô Badaró, e o "capitão" João Magalhães, um embusteiro que se faz passar por engenheiro militar. Publicado em 1943, quando Jorge Amado tinha apenas trinta anos, Terras do sem-fim se tornaria um marco do seu "ciclo do cacau", que inclui Gabriela, cravo e canela, Cacau e Tocaia Grande, entre outros.

RESENHA

"Eu vou contar uma história, uma história de espantar.” É com essa epígrafe, extraída do romanceiro popular, que Jorge Amado inicia "Terras do Sem Fim", concluída durante seu exílio em Montevidéu, em agosto de 1942, e publicada no ano seguinte. O romance, de proporções épicas, narra a formação da zona cacaueira da Bahia, que abrange a região de Ilhéus e Itabuna, com seus conflitos e paixões. Centrada nas disputas entre proprietários rurais pelas terras ainda devolutas do sul da Bahia, a obra faz parte do chamado "ciclo do cacau”, e é uma das mais expressivas do ficcionista baiano. Ao contrário de "Gabriela, Cravo e Canela", em que a crítica social aparece camuflada na crônica de costumes, Amado denuncia claramente aqui o patriarcalismo, o clientelismo e a violência do sertão, baseado na lei do mais forte e na demonstração do poder, evidenciando com isso, sem tom panfletário, a injustiça social e a exploração do trabalhador, vítima da ambição dos coronéis sertanejos.

A história começa com um navio que se aproxima de Ilhéus, trazendo a bordo pessoas ambiciosas e obcecadas com a promessa de enriquecimento fácil na região, até então improdutiva. Os passageiros da embarcação em breve desbravariam a mata a ferro, fogo e sangue para cultivar o cacau. Sequeiro Grande, um trecho da mata ainda intacto, passa a ser o alvo da cobiça dos coronéis, que lutam entre si com todas as armas de que dispõem para conquistá-lo. Advogados eram muito bem-vindos à região. Os coronéis os contratavam para que redigissem um documento falso ("caxixe”) que atestava a posse de determinado pedaço de terra até então pertencente a algum pequeno lavrador. Quando impunha alguma resistência à expulsão, o camponês em geral era perseguido e morto por jagunços tocaiados nas estradas solitárias.

Em “Terras do Sem Fim”, Jorge Amado demonstra sua habilidade em mesclar o realismo bruto com certo romantismo, narrando uma história real com lirismo poético. O escritor Antonio Carlos Villaça afirmou que “O poder descritivo de Jorge Amado penetra fundo na alma da gente. Porque há nele um sentido cósmico. O romancista tem um amor pegajoso à terra, a uma terra determinada, à terra do cacau. A terra está no centro de sua obra: a terra com o homem e com o mar” . Há uma espécie de humanismo natural, quase telúrico, em que se evidencia a capacidade do romancista em expor seus ideais políticos na busca de soluções para o problema social.

“Terras do Sem Fim” é o primeiro livro de Jorge Amado que pôde ser vendido livremente, após seis anos de censura, e foi lançado poucos meses depois de o autor ter sido preso (por três meses) por seu envolvimento com o Partido Comunista Brasileiro e pela oposição que fazia ao Estado Novo de Getúlio Vargas. A obra obteve grande sucesso; virou peça de teatro, filme, novela de rádio e de televisão, e quadrinhos. Também foi editada em Portugal e publicada em outras 23 línguas.

A obra é inspirada na vida do pai do autor. Vindo da Paraíba, o pai de Jorge Amado participou das lutas pela conquista e posse das terras cacaueiras no sul da Bahia, e plantou a fazenda Auricina onde nasceu o escritor. Quando menino, Jorge Amado testemunhou uma tocaia em que seu pai foi ferido gravemente .

Desde cedo, Jorge Amado se preocupou com os problemas humanos dos trabalhadores das roças de cacau. Posteriormente, convivendo com o povo baiano, em Salvador, testemunhou as injustiças e dramas originados do preconceito social e racial.

Em “Terra do Sem Fim”, Jorge Amado apresenta um legítimo bangue-bangue à brasileira. A obra narra a disputa entre dois poderosos proprietários rurais, os Badarós e Horácio Silveira, pela última reserva de mata nativa onde estão as terras mais férteis para o plantio de cacau na região de Tabocas, atual Itabuna. A disputa ocorre na Justiça, na política e nas armas. Em meio à violência dos confrontos abertos das tocaias e das disputas judiciais, também os casos amorosos continuaram causando escândalos, dissensões e mortes. Ester, mulher de Horácio, encontra nos braços de Virgílio o amor delicado e cavalheiresco que seu marido nunca lhe dera. Margot, amante de Virgílio, encontra em Juca Badaró um consolo para o amor traído. Horácio, depois de mandar matar Juca por causa dos negócios e de conseguir a posse e o domínio da mata de Sequeira Grande, manda matar Virgílio seu aliado, amigo e advogado para lavar a honra de marido traído. Virgílio, mesmo sabendo do perigo, escolhe morrer para ficar perto de Ester.

Terras do Sem Fim é o segundo livro do ciclo do cacau do escritor baiano Jorge Amado (1912-2001), que compreende quase meio século de escrita sobre o tema do cacau. Nos romances Cacau, Terras do Sem Fim e São Jorge dos Ilhéus, as relações sociais no universo cacaueiro, com os donos da terra, os coronéis e as suas esposas e amantes, os trabalhadores, as meretrizes, os conflitos e tocaias ganham um caráter épico e histórico, ultrapassando os limites do realismo socialista. O romance, de proporções épicas, narra a formação da zona cacaueira da Bahia, que abrange a região de Ilhéus e Itabuna, com seus conflitos e paixões. Centrada nas disputas entre proprietários rurais pelas terras ainda devolutas do sul da Bahia, a obra faz parte do chamado “ciclo do cacau” e é uma das mais expressivas do ficcionista baiano. Ao contrário de “Gabriela, Cravo e Canela“, em que a crítica social aparece camuflada na crônica de costumes, Amado denuncia claramente aqui o patriarcalismo, o clientelismo e a violência do sertão, baseado na lei do mais forte e na demonstração do poder, evidenciando com isso, sem tom panfletário, a injustiça social e a exploração do trabalhador, vítima da ambição dos coronéis sertanejos .

 

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O AUTOR
Jorge Amado (1912-2001) foi um escritor brasileiro, um dos maiores representantes da ficção regionalista que marcou o Segundo Tempo Modernista. Sua obra é baseada na exposição e análise realista dos cenários rurais e urbanos da Bahia. Traduzido para mais de trinta idiomas e detentor de inúmeros e importantes prêmios, o escritor teve vários de seus trabalhos adaptados para a televisão e o cinema, entre eles, "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Gabriela Cravo e Canela".

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