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[RESENHA #728] Tieta do agreste, de Jorge Amado

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Fogosa pastora de cabras e namoradora de homens, a adolescente Tieta é surrada pelo pai e expulsa de Santana do Agreste graças à delação de suas aventuras eróticas por parte da irmã mais velha, a pudica e reprimida Perpétua. Um quarto de século depois, rica quarentona, Tieta retorna em triunfo ao vilarejo, no interior da Bahia. Com dinheiro e influência política, ajuda a família e traz benefícios à comunidade, entre eles a luz elétrica. Para os parentes e amigos de Agreste, Tieta enriqueceu no sul ao se casar com um industrial e comendador. Mas aos poucos o narrador vai plantando no leitor a dúvida, o descrédito, até revelar a história oculta da protagonista: Tieta se prostituíra e virara cafetina em São Paulo, razão de sua riqueza e de seu trânsito entre os poderosos. Nesse acerto de contas com o passado, ela acaba se envolvendo na acirrada disputa em torno do futuro do lugarejo. Publicado em 1977, o romance foi adaptado com sucesso para a televisão e o cinema. A narrativa descontínua, feita de avanços, recuos e mudanças do ponto de vista, atesta a maturidade literária de Jorge Amado e mantém até hoje o impacto e o frescor.

RESENHA


O livro Tieta do Agreste de Jorge Amado, publicado em 1977, apresenta uma situação dramática clássica: a de uma adolescente que é denunciada por sua irmã Perpétua a seu pai, Zé Esteves, por conta de suas aventuras e liberdade. Recebe uma surra de cajado, e é escorraçada de casa pelo pai. Depois de mais de 25 anos, ela volta rica e poderosa para a cidade de Sant'Ana do Agreste. A sua volta estão típicos representantes do interior baiano, lutando pela sobrevivência, defendendo ou resistindo a preconceitos, almejando pequenas ambições, um microcosmo do conservadorismo brasileiro que compõe um painel vivo dos conflitos e consequências provincianos que antecedem a chegada de sinais de mudanças entendido como 'progresso'.

Jorge Amado publicou em 1977 o livro Tieta do Agreste, que se tornou uma de suas obras mais famosas. O romance aborda a pobreza do sertão nordestino, o preconceito e moralismo das pessoas de bem, a vida de aparência, o corporativismo, pedofília, estupro, machismo e feminismo em meio a muito humor e situações das mais absurdas. O autor utiliza um linguajar bastante carregado de regionalismos e numa estrutura onde o próprio autor se transforma em personagem. 

Tieta, a protagonista, foi pastora de cabras na adolescência, subindo e descendo as dunas de Santana do Agreste. Ela perdeu a virgindade ao ser estuprada por um mascate, dando início à uma agitada vida sexual. Tieta se tornou a mais admirada e desejada pelos homens da cidade, causando a inveja de sua irmã mais velha, Perpétua, que a denunciou ao pai, Zé Esteves. Ele a escorraçou e expulsou Tieta de casa, passando humilhação pública, apanhando de cajado na rua e desaparecendo do mapa.

Um ponto que já fica bastante visível no estilo do autor de narrar os fatos é a sua liberdade, sem papas na língua, como ao citar o estupro logo no início: “conheceu o gosto de homem, mistura de mar e suor, de areia e vento. Quando o mascate a arrombou, igual a cabrita horas atrás, ela berrou. De dor e contentamento“. Tieta, longe do Agreste, cresce como uma das maiores cafetinas de São Paulo, dona de um randevu frequentado pelos maiores políticos do país. E apesar de nunca ter voltado à sua cidade natal, passados 25 anos ela continua ajudando a família enviando cheques e presentes todos os meses, tomando conhecimento de como estão Perpétua, agora viúva e mãe de dois filhos – o moleque Peto e o coroinha Ricardo -, a irmã caçula Elisa, pobre e bem casada, e de Carmosina, a Agente dos Correios e Telégrafos, outrora sua melhor amiga. 

Tieta, uma mulher rica e poderosa, é vista como uma irmã digna em Agreste, que esqueceu e perdoou o pai, ajuda a família e tem um excelente marido. Quando as cartas e o cheque que Tieta envia todos os meses atrasam, uma comoção toma conta do lugar. Perpétua, sempre agourenta, acredita que tenha morrido e, não tendo filho, tem certeza de que seus próprios filhos, Peto e Ricardo, serão herdeiros de sua fortuna. Dá-se início, inclusive, de missa para o descanso da alma da defunta. Tudo é interrompido com uma carta que Carmosina lê e anuncia: Tieta não só está viva, como viúva e vindo para Santana do Agreste, trazendo a afilhada Leonora!

O retorno de Tieta à cidade é quase uma apoteose, um verdadeiro evento. Enquanto todos a esperam vestida de luto, ela desce estonteante da marinete de Jairo, encarando familiares e amigos, todos de preto no calor do sertão. Na porta, sobre o degrau, majestosa, Antonieta Esteves - Antonieta Esteves Cantarelli, faça o favor, exige Perpétua. Deslumbrante, alta e fornida de carnes, a longa cabeleira loira sobrando do turbante vermelho. O autor não economiza nos detalhes do corpo da musa, para reviver a inveja da irmã e causar rebuliço nos homens: vermelho igual à blusa esporte, de malha, simples e elegante, marcando a firmeza dos seios volumosos. A calça Lee azul colada às coxas e à bunda, valorizando volumes e reentrâncias. 

Leia outras resenhas de livros do mesmo autor:

o gato malhado e a andorinha sinhá
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Tenda dos milagres
Terra do sem-fim
Cacau
Dona Flor e seus dois maridos
Tieta do Agreste
Jubiabá
Capitães da Areia
Tereza Batista cansada de guerra


O AUTOR

Jorge Amado (1912-2001) foi um escritor brasileiro, um dos maiores representantes da ficção regionalista que marcou o Segundo Tempo Modernista. Sua obra é baseada na exposição e análise realista dos cenários rurais e urbanos da Bahia. Traduzido para mais de trinta idiomas e detentor de inúmeros e importantes prêmios, o escritor teve vários de seus trabalhos adaptados para a televisão e o cinema, entre eles, "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Gabriela Cravo e Canela".
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