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[RESENHA #726] Capitães da areia, de Jorge Amado

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Desde o seu lançamento, em 1937, Capitães da Areia causou escândalo: inúmeros exemplares do livro foram queimados em praça pública, por determinação do Estado Novo. Ao longo de sete décadas a narrativa não perdeu viço nem atualidade, pelo contrário: a vida urbana dos meninos pobres e infratores ganhou contornos trágicos e urgentes. Várias gerações de brasileiros sofreram o impacto e a sedução desses meninos que moram num trapiche abandonado no areal do cais de Salvador, vivendo à margem das convenções sociais. Verdadeiro romance de formação, o livro nos torna íntimos de suas pequenas criaturas, cada uma delas com suas carências e suas ambições: do líder Pedro Bala ao religioso Pirulito, do ressentido e cruel Sem-Pernas ao aprendiz de cafetão Gato, do sensato Professor ao rústico sertanejo Volta Seca. Com a força envolvente da sua prosa, Jorge Amado nos aproxima desses garotos e nos contagia com seu intenso desejo de liberdade.

RESENHA

"Capitães da Areia" é um romance moderno de denúncia social escrito por Jorge Amado e publicado em 1937. A história se passa em Salvador, Bahia, e gira em torno de um grupo de meninos de rua que vivem em um trapiche abandonado no cais do porto. O grupo é liderado por Pedro Bala, um garoto loiro que possui uma cicatriz no rosto por lutar com o ex-líder. A rotina do grupo era andar pela cidade pedindo dinheiro ou roubando algo para comerem. Visto que furtavam cotidianamente, eles aterrorizaram grande parte da população. Assim, eram procurados pela polícia, mas pela idade não podiam ser presos. Quando capturados, seriam enviados para o reformatório, um local fechado para menores infratores. No entanto, eles preferiam viver nas ruas e serem livres. O livro é uma crítica aos dogmas cristãos e ao descaso dos ricos para com os pobres. A obra foi censurada pelo governo de Getúlio Vargas e Jorge Amado foi preso durante o período da Ditadura Militar. Por esse motivo, muitos livros (cerca de 1000 exemplares) foram queimados em praça pública na capital baiana: Salvador. O livro é uma leitura obrigatória para quem quer entender a realidade social do Brasil na década de 1930.

Capitães da Areia é um romance modernista de denúncia social escrito por Jorge Amado e publicado em 1937. A obra é ambientada em Salvador, Bahia, e retrata a vida de um grupo de menores abandonados que vivem nas ruas da cidade, sobrevivendo através de furtos e roubos. O livro é considerado um marco na literatura brasileira por ser o primeiro a abordar de maneira panfletária o problema dos menores abandonados e infratores, que desafiavam a polícia e a sociedade. A narrativa é fortemente vinculada às transformações políticas, sociais e econômicas do período, e traz à tona a problemática desses meninos que não tiveram a felicidade de ter uma família ou ser acolhidos pelo Estado que tinha a obrigação de defendê-los de qualquer tipo de marginalização. O livro foi censurado pelo governo de Getúlio Vargas e Jorge Amado foi preso durante o período da Ditadura Militar. Por esse motivo, muitos livros foram queimados em praça pública na capital baiana: Salvador. A narrativa inicia-se com uma sequência de Cartas à Redação do Jornal da Tarde – Carta do Secretário do Chefe de Polícia; Carta do doutor Juiz de Menores; Carta de uma Mãe Costureira; Carta do Padre José Pedro; Carta do Diretor do Reformatório – a fim de debater as questões referentes a crianças que viviam do furto e infestavam a cidade. São apresentados, logo em seguida, três capítulos: “Sob a lua num velho trapiche abandonado”; “Noite de grande paz, da grande paz dos teus olhos”; Canção da Bahia, “Canção da Liberdade”.

No primeiro capítulo do livro "Capitães da Areia", o leitor é apresentado ao universo dos meninos, suas tristes figuras e suas histórias de vida. As principais personagens são: Pedro Bala, um menino de quinze anos, que ganhou o direito de liderança após uma "briga de foice". Loiro, com uma cicatriz no rosto, passou a ser uma espécie de pai para os garotos. Tinha a autoridade necessária para liderar o grupo, agilidade e, acima de tudo, tornou-se um exemplo para aqueles meninos. O Professor era uma luz na escuridão... era ele quem lia histórias de marinheiros, de aventuras... trazia para a realidade daqueles meninos a fantasia, que só a literatura poderia proporcionar. Gato era o malandro, usava sua esperteza para conseguir "se dar bem na vida", é o explorador de mulheres. Sem-pernas era o ódio em pessoa. Desde pequeno aprendera a odiar a tudo e a todos, até mesmo quando amava. Fingia-se de órfão desamparado e se aproveitava de suas vítimas para roubá-las. João Grande era o "negro bom" como dizia Pedro Bala. Pirulito, a fé. No segundo capítulo, o leitor é apresentado à personagem Dora e ao irmão, que após perderem os pais, vítimas da varíola, vão fazer parte dos Capitães da Areia. No terceiro capítulo, após a morte de Dora, o leitor se depara com grandes transformações. Dora partiu o coração de todos aqueles meninos. A vida, no Trapiche, nunca mais seria a mesma. A vida precisava seguir seu curso, alguns sonhos se concretizaram, outros foram, estupidamente, interrompidos. Pedro Bala, embora perseguido pela polícia de cinco Estados como organizador de greves, como dirigente de partidos ilegais, como perigoso inimigo da ordem estabelecida, transformou-se em herói de sua classe.

O padre José Pedro é um dos amigos do grupo e tenta ajudar os meninos à sua maneira. Como Pirulito é dado às coisas da Igreja, o padre quer conseguir um lugar em um seminário para ele. Por influência do sacerdote, o garoto muda sua conduta e perde a “fama de ser um dos mais malvados do grupo”.

Os Capitães da Areia usam Sem-Pernas para conquistar a confiança da dona Ester, no intuito de roubar sua casa. Sem-Pernas busca enternecer a mulher, dizendo: “Não tenho ninguém no mundo, sou aleijado, não posso trabalhar muito, faz dois dias que não vejo de comer e não tenho onde dormir”.

Como dona Ester perdeu um filho que tinha a idade do Sem-Pernas, ela transfere seu afeto de mãe para ele. Abriga Sem-Pernas, que, pela primeira vez, sente o conforto de pertencer a uma família. É tratado com carinho pela mulher, como se fosse realmente seu filho, e não quer abandonar aquela vida.

Porém, dias depois, Pedro Bala aparece, e Sem-Pernas se vê na obrigação de cumprir o combinado. Mas é com muito sofrimento que ele trai a sua nova mãe, volta para o trapiche, e alguns integrantes do grupo, entre eles Pedro Bala, invadem a casa e roubam objetos de ouro e de prata.

ANÁLISE GERAL

“Capitães da Areia” é um romance que reflete o engajamento social de Jorge Amado na década de 1930. O livro apresenta um painel de situações sociais comuns ao universo literário criado pelo autor, e foi publicado em 1937. A obra retrata a situação de um grupo de jovens em situação de abandono nas ruas da capital baiana, jovens embalsamados pelo determinismo de suas condições desde o nascimento, a crescer pelas ruas da cidade cometendo delitos para garantir a sobrevivência numa selva urbana ainda em formatação. O livro é um retrato ágil e interessante da situação desses meninos, que são relegados ao abandono e à miséria. Violentos e acoplados num trapiche onde estabelecem as suas próprias regras de convívio, os capitães soteropolitanos amargam diante de suas histórias, mas também almejam um futuro melhor. O texto radiografa os perfis dos jovens, permitindo que dados da época gravitem em torno destas descrições, permitindo ao leitor um assertivo processo imersivo num Brasil imaginado, mas com pé na realidade de fome e miséria. Pedro Bala, chefe do grupo, é o rapaz loiro e filho de um grevista morto num local próximo ao cais. Ele posiciona-se como líder, tendo parado nas ruas aos cinco anos de idade, uma figura que precisou se adaptar ao que a vida lhe propôs. Em seu meio, convivem os seguintes personagens: Gato, um jovem que era muito bonito e cheio de aspirações, mas se encontra solapado pelas questões de abandono e descaso social; Professor, um rapaz que lê frequentemente para os demais garotos e cria também as suas próprias histórias; Sem Pernas, um rapaz com problemas de mobilidade na perna, por isso, considerado um “aleijado” pelos demais; Pirulito, jovem que depois de um tempo abandona a vida de roubos, comprometendo-se com outras causas; Volta Seca, uma divertida figura que se achava filho de Lampião, uma espécie de figura simbólica em sua trajetória forjada pela grande imaginação; João Grande, respeitado por ser robusto e causar medo por seu físico avantajado; Boa Vida, rapaz sempre insatisfeito com suas condições, dentre outros. O livro é uma obra-prima da literatura brasileira, que retrata de forma sensível e realista a vida dos meninos de rua em Salvador.

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O AUTOR
Jorge Amado (1912-2001) foi um escritor brasileiro, um dos maiores representantes da ficção regionalista que marcou o Segundo Tempo Modernista. Sua obra é baseada na exposição e análise realista dos cenários rurais e urbanos da Bahia. Traduzido para mais de trinta idiomas e detentor de inúmeros e importantes prêmios, o escritor teve vários de seus trabalhos adaptados para a televisão e o cinema, entre eles, "Dona Flor e Seus Dois Maridos" e "Gabriela Cravo e Canela".

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