Protagonismo de personagens femininas, fortes e determinadas, é um ponto comum na obra de Machado de Assis, como se pode ver nesta coletânea de contos. Em " A cartomante" , uma italiana de olhos esbugalhados e grandes, magra e misteriosa, não se importa em mentir para agradar a seus clientes. Cegos por suas paixões, os ingênuos Rita e Camila, além do vingativo Viela, não percebem como se tornaram vitimas da inconsequência dessa vidente. Já em " Pai contra mãe', os injustos costumes causados pela estrutura escravista põem em conflito aqueles cujo único objetivo é garantir a sobrevivência de seus filhos. Outro relato, irônico e marcado por intensões e sentidos sutis, está em "Capítulo de chapéus ". Nesse, o leitor vai sendo conduzido pela exímia escrita do maior nome da literatura nacional até rir da sociedade , de suas regras sem sentido e dos traços mais estranhos da personalidade humana.
A cartomante é um conto publicado em 1884, que faz parte da coletânea Várias Histórias, de Machado de Assis, um dos maiores escritores da literatura brasileira. O conto narra a história de um triângulo amoroso formado por Camilo, Rita e Vilela, que termina de forma trágica e surpreendente. O conto é uma obra realista, que critica a hipocrisia, a falsidade e a ilusão da sociedade burguesa do século XIX.
Camilo e Vilela são amigos de infância, mas Camilo se torna amante de Rita, a esposa de Vilela. Camilo é um funcionário público, cético e descrente, que não acredita em nada sobrenatural. Rita é uma mulher bonita, inteligente e apaixonada, que busca na cartomante uma forma de aliviar sua angústia e sua culpa. Vilela é um advogado, que descobre a traição da esposa e planeja uma vingança sangrenta.
O conto se desenvolve em torno da consulta à cartomante, que é o elemento que dá título e sentido à obra. A cartomante é uma personagem secundária, mas fundamental, que representa a superstição, a fé e a esperança dos personagens principais. Ela também é uma figura irônica, que contrasta com a racionalidade e o ceticismo de Camilo. A cartomante faz previsões otimistas para Rita e Camilo, mas elas se revelam falsas e enganosas.
O conto é narrado em terceira pessoa, por um narrador onisciente e irônico, que conhece os pensamentos e os sentimentos dos personagens, mas também os julga e os ridiculariza. O narrador utiliza uma linguagem culta e elegante, mas também coloquial e humorística, criando um efeito de contraste e de ironia. O narrador também faz uso de recursos estilísticos, como a metáfora, a antítese, a alusão e a intertextualidade, para enriquecer e complexificar o texto.
O conto se passa no Rio de Janeiro, no final do século XIX, e retrata os costumes, as convenções e os conflitos da época. O conto também faz referências a lugares, personagens e fatos históricos, como a Guerra do Paraguai, a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República. O conto também mostra a influência da cultura francesa, que era muito valorizada pela elite brasileira.
O conto tem uma estrutura circular, que começa e termina com a cartomante. O conto também tem uma estrutura simétrica, que divide a narrativa em duas partes, correspondentes às consultas de Rita e de Camilo. O conto também tem uma estrutura dramática, que cria um clima de suspense e de expectativa, culminando com o desfecho trágico e inesperado.
O conto A cartomante é uma obra-prima de Machado de Assis, que demonstra a sua capacidade de criar uma narrativa envolvente, crítica e original, que desafia o leitor a refletir sobre a condição humana e a sociedade brasileira. O conto é considerado um dos melhores exemplos do Realismo na literatura brasileira, e uma das obras mais representativas do autor.
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