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[RESENHA #719] Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis

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Brás Cubas está morto. Mas isso não o impede de relatar em seu livro os acontecimentos de sua existência e de sua grande ideia fixa: lançar o Emplasto Brás Cubas. Deus te livre, leitor, de uma ideia fixa. O medicamento anti-hipocondríaco torna-se o estopim de uma série de lembranças, reminiscências e digressões da vida do defunto autor.

Publicado em 1881, escrito com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, Memórias Póstumas de Brás Cubas é, possivelmente, o mais importante romance brasileiro de todos os tempos. Inovador, irônico, rebelde, toca no que há de mais profundo no ser humano. Mas vale avisar: há na alma desse livro, por mais risonho que pareça, um sentimento amargo e áspero.

A edição da Antofágica conta com 88 ilustrações de um dos expoentes da arte no Brasil, Candido Portinari, que chegam pela primeira vez ao grande público e dão uma nova camada de interpretação ao clássico.

O livro traz ainda com notas inéditas e posfácio de Rogério Fernandes dos Santos, especialista na obra

RESENHA

Memórias póstumas de Brás Cubas é um romance que inaugura o Realismo no Brasil, publicado em 1881 pelo escritor Machado de Assis. A obra se destaca pela originalidade e ousadia da narrativa, que é feita em primeira pessoa por um defunto, Brás Cubas, que decide contar as suas memórias após a morte. O livro é dividido em 160 capítulos curtos e intitulados, que misturam episódios da vida do protagonista com reflexões filosóficas, críticas sociais e digressões irônicas. O narrador não segue uma ordem cronológica, mas sim uma lógica associativa, que lhe permite saltar do passado para o presente, do real para o imaginário, do sério para o cômico.

Brás Cubas nasceu em uma família rica e influente do Rio de Janeiro do século XIX. Desde criança, mostrou-se mimado, caprichoso e egoísta, tratando mal os escravos e os amigos. Na juventude, apaixonou-se por uma cortesã, Marcela, que o explorou financeiramente. Depois, foi estudar Direito em Coimbra, onde se formou sem brilho. De volta ao Brasil, envolveu-se com a política e com o jornalismo, mas sem grande sucesso. Tentou casar-se com Virgília, uma moça bonita e ambiciosa, mas ela preferiu Lobo Neves, um político em ascensão. Brás Cubas tornou-se então amante de Virgília, vivendo um romance clandestino e perigoso. Mais tarde, cogitou em casar-se com Nhã-Loló, uma jovem ingênua e doente, mas ela morreu antes do noivado. Por fim, dedicou-se à invenção de um remédio milagroso, o emplasto Brás Cubas, que pretendia curar todas as doenças, mas acabou morrendo de pneumonia, sem concluir o projeto.

Brás Cubas não deixou descendentes, nem obras relevantes, nem amigos sinceros. Sua vida foi uma sucessão de fracassos, frustrações e ilusões. No entanto, ele não se arrepende nem se lamenta, mas se orgulha de ter escapado da "transmissão da miséria" que seria gerar um filho. Ele encara a sua existência com sarcasmo e desprendimento, sem se importar com a opinião alheia nem com os valores morais. Ele é um personagem complexo, contraditório e fascinante, que representa a crise de identidade e de valores da sociedade brasileira do final do século XIX.

Memórias póstumas de Brás Cubas é um livro que revela a genialidade de Machado de Assis, que soube criar uma obra inovadora, crítica e divertida, que desafia o leitor a questionar as convenções literárias e sociais da sua época. O livro é considerado um dos maiores clássicos da literatura brasileira e universal, e uma das obras-primas do autor.

Memórias Póstumas de Brás Cubas é um romance de Machado de Assis, escrito inicialmente como folhetim, de março a dezembro de 1880, na Revista Brasileira, para, no ano seguinte, ser publicado como livro, pela então Tipografia Nacional como Memorias Posthumas de Braz Cubas.

O livro se destaca por um tom irônico e novo estilo na obra de Machado de Assis, bem como ousadia e inovação temática no cenário literário nacional, que o fez receber, à época, resenhas perplexas. Confessando adotar a "forma livre" de Laurence Sterne em seu Tristram Shandy (1759–67), ou de Xavier de Maistre, em Memórias Póstumas rompe com a narração linear e objetivista de autores proeminentes da época, como Flaubert e Zola, para retratar o Rio de Janeiro e sua época em geral com pessimismo, ironia e indiferença — um dos fatores que fizeram com que fosse amplamente considerada a obra que iniciou o Realismo no Brasil, ainda que com elementos livres e próprios a Machado de Assis.

Memórias Póstumas de Brás Cubas retrata a escravidão, as classes sociais, o cientificismo e o positivismo da época, chegando a criar, inclusive, uma nova filosofia — mais bem desenvolvida posteriormente em Quincas Borba (1891) — o humanitismo, sátira à lei do mais forte do "darwinismo social". Críticos e escritores também atestam que, com esse romance, Machado de Assis antecipou e precedeu uma série de elementos de vanguarda que só seriam ampliados e assimilados no século seguinte, sejam do modernismo e da Semana de 22, da Poesia Concreta, da literatura fantástica e do realismo mágico de autores como Jorge Luis Borges, Julio Cortázar e brasileiros, e, de fato, alguns chamam-na "primeira narrativa fantástica do Brasil", ainda que o fantástico seja apenas um traço de humor para retratar a realidade sem pudores. O livro influencia e influenciou gerações de escritores como John Barth, Donald Barthelme e Ciro dos Anjos, e é notado como uma das obras mais revolucionárias e inovadoras da literatura brasileira. Mesmo depois de mais de um século de sua publicação original, ainda tem recebido inúmeros estudos e interpretações, adaptações para diversas mídias e traduções para outras línguas. Em 2020, por exemplo, uma nova tradução para o inglês esgotou em um dia após seu lançamento nos Estados Unidos.

Narrado em primeira pessoa, seu autor é Brás Cubas, um "defunto-autor", isto é, um homem que já morreu e que deseja escrever a sua autobiografia. Filho de uma típica família da elite carioca do século XIX, do túmulo o morto escreve suas memórias póstumas começando com uma "Dedicatória": Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas. Seguido da dedicatória, no outro capítulo, "Ao Leitor", o próprio narrador explica o estilo de seu livro, enquanto o próximo, "Óbito do Autor", começa realmente com a narrativa, explicando seus funerais e em seguida a causa mortis, uma pneumonia contraída enquanto inventava o "emplastro Brás Cubas", panaceia medicamentosa que foi sua última obsessão e que lhe "garantiria a glória entre os homens". No Capítulo VII, "O Delírio", narra o que antecedeu ao óbito.

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